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Indicadores ambientais
para uma globalização
sustentável
                                                        Mas nem os registros administrativos, nem
                                                     empresas, nem cidadãos estão preparados para
                                                     responder sobre impactos causados ao meio
                                                     ambiente e, ao perguntarmos aos ecossistemas
                                                     sobre estes impactos, eles nos oferecem
                                                     respostas em sua própria “linguagem” que
                                                     ainda estamos distantes de saber ouvir e
                                                     compreender adequadamente.
   Passados dez anos da Rio-92, o debate acerca         Todo indicador, toda informação estatística
de indicadores ambientais parece ainda tão           constitui, antes de tudo, uma síntese de grande
vigoroso quanto inconcluso. Não foram pequenos       abstração. E são abstrações na forma de cifras
os esforços de cada país participante e da           cuja inteligibilidade e, logo, utilidade, depende
comunidade internacional como um todo, no            de familiaridade com o fenômeno mensurado e
sentido de definir e produzir informações            com o modo e escala em que é medido. Um
adequadas a orientar ações relativas ao meio         indicador que agrega, por exemplo, a produção
                                                     social medida em unidades monetárias, é algo
ambiente e ao desenvolvimento sustentável, e os
                                                     absolutamente abstrato, mas muito objetivo,
avanços foram consideráveis. Ocorre que a
                                                     passados centenas de anos das sociedades
perspectiva de ação imposta pelos problemas
                                                     monetizadas. Mas é objetivo também por se
ambientais sugere uma abordagem ampla e
                                                     referir a mercadorias normalmente comerciali-
extremamente diversificada e um horizonte tem-
                                                     zadas. Coisa muito diversa é medir e construir
poral de referência absolutamente inauditos.
                                                     indicadores sintéticos que incorporem paisa-
Assim, o tamanho e a complexidade da tarefa
                                                     gem, qualidade de ar, reservas naturais, danos
faz com que as conquistas pareçam sempre
                                                     ambientais, saúde e outros que tais. Trata-se de
menores que os desafios (re)colocados.
                                                     justapor, condensar e integrar aspectos que são
   Afinal, o que se requer são informações que, ao   objeto de múltiplas disciplinas, que muitas vezes
mesmo tempo, retratem praticamente toda a ativi-     utilizam diferentes sistemas de medida e que,
dade humana e seu impacto sobre condições de         principalmente, ainda são de valoração social
ambiência nos seus múltiplos aspectos. Mais que      extremamente difícil por conta tanto da
isso, as informações devem ainda permitir inferên-   ignorância humana sobre a dinâmica ecológica
cias sobre as necessidades das gerações futuras.     como do fato de estarmos ainda nos primórdios
   As dificuldades tornam-se ainda maiores           do processo histórico (econômico, social e
porque, no caso das estatísticas sociais, as prin-   político) que definirá a extensão e a profundi-
cipais fontes são os registros administrativos e     dade do compromisso com as gerações humanas
as pesquisas domiciliares, onde o informante         do futuro.
responde às perguntas do entrevistador, enquan-         Enquanto o universo da produção de
to no caso das estatísticas econômicas as            estatísticas econômicas e sociais dispõe de um
principais fontes são, novamente, os registros       aparato conceitual, metodológico e de melhores
administrativos e as respostas das empresas,         práticas desenvolvido ao longo de décadas e
unidades produtivas ou órgãos públicos.              objeto de um trabalho mundial de harmonização


                                                                                                         29
com vistas à maior comparabilidade, as defini-     nível além do qual a depleção não deve ser
     ções conceituais, viabilidade, aplicabilidade e    permitida. É evidente que não há consenso
     funcionalidade dos inúmeros indicadores ambi-      sobre quais níveis críticos considerar.
     entais e do desenvolvimento sustentável propos-        Também a disputa entre mensurações físicas
     tos são reiteradamente criticados, revistos e      e sócio-econômicas admite uma posição
     postos à prova. Nesse sentido são todos novos,     intermediária. Embora seja evidente a dificul-
     como nova é a temática do meio ambiente e, por     dade em integrar ambos os aspectos, trata-se de
     isso, pagam tributo à imprecisão e fluidez do      uma construção (mais do que técnica, histórica)
     próprio conceito de desenvolvimento sustentável.   indispensável. Assim, cabe avançar tanto o
        Tornou-se ponto de controvérsia a própria       desenvolvimento de indicadores e índices
     idéia de valoração de recursos naturais e          ambientais quanto o desenvolvimento de contas
     serviços ambientais e, logo, a ênfase em           físicas e ambientais e sistemas integrados,
     mensurações físicas ou a elaboração de medidas     consolidando, através de aplicações práticas as
     monetárias. A discussão se desdobra ainda entre    alternativas mais úteis e viáveis. Nos trabalhos
     privilegiar indicadores associados ao que se       para a elaboração do novo manual da ONU
     denominou sustentabilidade fraca ou aqueles        sobre contas ambientais (SEEA) é proposta
     associados a sustentabilidade forte. Na hipótese   uma contabilidade ambiental híbrida, confron-
     fraca da sustentabilidade admite-se uma grande     tando informações física sobre o uso dos
     capacidade de substituição entre “capital          recursos com informações em termos físicos e
     natural” e manufaturado de maneira que os          monetárias sobre o processo econômico de
     recursos naturais podem ser valorados confor-      produção.
     me se manifesta a preferencia do consumidor.
                                                            Cabe lembrar que quaisquer que sejam as
     Em outras palavras, supõe-se que qualquer uso
                                                        abordagens conceituais e os métodos seguidos, é
     dos recursos naturais possa ser reposto por
                                                        necessária a coleta e sistematização de um
     fontes alternativas de igual valor. Na hipótese
                                                        vasto conjunto de informações. E sua produção
     forte da sustentabilidade, considera-se a
                                                        não pode prescindir da colaboração de diversas
     substituição limitada e, com base em pesquisas
                                                        instituições. Algumas em razão da sua
     ecológicas, avaliam-se os custos relativos a
     “padrões de uso” ou de “sustentabilidade” de       competência específica e outras historicamente
     diferentes “funções ambientais” e os custos        engajadas no estudo das questões ambientais.
     para troca ou reformulação das atividades              O Brasil tem participado ativamente deste
     econômicas, de sorte que se evite a depleção ou    esforço, quer internamente, através de orga-
     degradação do meio.                                nismos públicos, universidades, instituições
        Muitos autores tomam posição entre os dois      privadas e organizações não governamentais,
     extremos das hipóteses fraca e forte de            quer externamente, colaborando com diversas
     sustentabilidade. Aceitam que na prática as        iniciativas e organismos internacionais.
     economias no presente dependem de consumir             O Instituto Brasileiro de Geografia e
     algum nível de recursos não renováveis. Por        Estatística – IBGE, na qualidade de instituição
     outro lado, permitir que todas as fontes não       oficial de estatística, tem procurado responder
     renováveis sejam consumidas rapidamente seria      às funções que lhe são atribuídas neste campo,
     irresponsável. A alternativa conceitual tem sido   inclusive no sentido da construção de um
     trabalhar com a idéia de um certo “nível           sistema nacional voltado a organização e
     crítico” de recursos ambientais, ou seja, um       consolidação de informações ambientais.



30
De fato, enquanto em todo o mundo,               científico da biodiversidade original, informa-
Instituições Nacionais de Estatística buscam        ção indispensável para construção de muitos
aproximação com a cartografia em função das         indicadores de impacto ambiental.
possibilidades abertas pelo desenvolvimento da         O IBGE tem participado também dos
tecnologia de geo-referenciamento de dados e        trabalhos da Comunicação Nacional Brasileira
da geografia, ciências biológicas, física e         de Gases de Efeito Estufa, coordenado pelo
química, em função das demandas colocadas           Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e
pela produção de informações ambientais, o          assumiu a responsabilidade de ser o depositário
Brasil conta, desde 1936 quando foi criado o        das informações do inventário brasileiro das
IBGE, com essas atribuições reunidas numa           emissões de gases do efeito estufa.
única instituição que tradicionalmente dedica-se       Coordena também a coleta, revisão e
ao conhecimento da realidade físico-ambiental       atualização da base de dados sobre estatísticas
do território. Além das atividades básicas de       ambientais que o grupo de trabalho formado
geodesia e cartografia oficial, desenvolvidas       pelo IBGE, Instituto de Pesquisas Espaciais
pelo IBGE desde então, destaca-se, a incor-         (INPE), Instituto de Pesquisa Ambiental da
poração, em 1986, do acervo e Projeto               Amazônia (IPAM), Banco de Dados da
RADAMBRASIL, ampliando a atenção aos                Amazônia da Secretaria da Amazônia do Minis-
temas de geologia, geomorfologia, solos, vege-      tério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro de
tação, uso potencial da terra.                      Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
   Particularmente para a Amazônia Legal, que       Renováveis (IBAMA) produz para dar suporte
representa mais de 50% do Território Nacional,      ao Relatório Perspectivas do Meio Ambiente no
mediante Contrato firmado entre o IBGE e a          Brasil, o Geo Brasil, que está sendo elaborado
Comissão de Implantação do Sistema de               pelo MMA e o IBAMA, em parceria com o Pro-
Controle do Espaço Aéreo – CISCEA / Sistema         grama das Nações Unidas para o Meio
de Vigilância da Amazônia – SIVAM, já se en-        Ambiente (PNUMA) com vistas à divulgação
contram armazenadas, em banco de dados geo-         durante a Conferência Mundial de Meio
referenciados, informações inerentes a 204 car-     Ambiente e Desenvolvimento – Rio +10, em
tas (escala 1:250 000), compreendendo os temas      Johannesburgo.
geologia, geomorfologia, solos e vegetação.            Mais recentemente o IBGE, valendo-se
   Ainda no que concerne aos estudos dos            também de seu patrimônio de informações e
recursos naturais, o IBGE desenvolve pesquisas      pesquisas econômicas e sociais, vem desenvol-
voltadas à área de Fauna e Flora. Nestes, des-      vendo juntamente com o Ministério do Meio
taca-se o trabalho de levantamento básico rea-      Ambiente o Projeto Indicadores de Desenvolvi-
lizado pelos herbários IBGE (Brasília e             mento Sustentável. Ele tenta contribuir para
Salvador) na mais absoluta harmonia com insti-      avaliações abrangentes da realidade brasileira,
tuições congêneres do Brasil e do exterior e com    incluindo a perspectiva ambiental, sob a ótica
grande integração com as atividades de mapea-       da compatibilização das diversas dimensões do
mento de vegetação e coleta de material botânico.   desenvolvimento, com a intenção de sistema-
   As coleções científicas do IBGE constituem       tizar e acompanhar a situação nacional no que
um valioso patrimônio à disposição da Insti-        diz respeito ao desenvolvimento sustentável.
tuição e da comunidade científica, pois são,           A preocupação com indicadores de
como importante testemunho histórico-               sustentabilidade foi colocada pela Agenda 21



                                                                                                       31
nos capítulos que tratam da relação entre meio        A visão de desenvolvimento sustentável da
     ambiente, desenvolvimento sustentável e            interpretação neoclássica tende a cair, na nossa
     informações para a tomada de decisões. A           opinião, na armadilha do que poderíamos
     idéia central da Conferência Rio-92 foi a de       chamar de utopia da razão técnica e supor que
     dotar os países signatários dos instrumentos       a sustentabilidade da aventura civilizatória
     adequados para medir e avaliar as políticas        humana pode ser alcançada exclusivamente
     públicas voltadas para o desenvolvimento           através do aumento da eficiência econômica e
     sustentável.                                       da adoção de tecnologias mais limpas. Nesse
        O projeto toma como referência a                caso, estaríamos frente à uma versão extremista
     metodologia proposta pela Comissão para o          da hipótese fraca da sustentabilidade, que
     Desenvolvimento Sustentável elaborada em           admite a exaustão de qualquer riqueza natural
     1996, intitulada. “Indicators of Sustentainable    desde que seu valor possa ser reposto por outro
     Development Framework and Methodologics”           ativo de igual valor, propondo um modelo que
     conhecido como “Livro Azul” e as recomenda-        ignora completamente as incertezas envolvidas
     ções adicionais que o sucederam, como é o caso     nessa troca e representa muito mal a realidade
     dos resultados do “International Expert            do processo de produção.
     Meeting on Information for Decision - Making          Em outra posição estariam não apenas os
     and Participation”, em setembro de 2000, no        adeptos da hipótese forte da sustentabilidade
     Canadá. Assim, trata de temas como Saúde,          como também aqueles que ao se situarem entre
     Educação, Habitação, População, Atmosfera,         os dois extremos (na forma apresentada no
     Terra, Oceanos/Mares e Costas, Água, Biodiver-     início deste artigo) chamam a atenção para a
     sidade, Padrões de consumo e produção, etc.        necessidade de definir o recorte territorial dos
        Com o objetivo de fornecer uma avaliação        ecossistemas cuja sustentabilidade deseja-se
     mais adequada quanto ao processo de desenvol-      preservar e a abrangência temporal do
     vimento, cada indicador será apresentado numa      compromisso com as futuras gerações.
     perspectiva evolutiva através de série histórica      Se o que pode estar sob ameaça, numa escala
     de dados para Brasil, tomando como base o ano      de tempo à qual não estamos habituados e é
     de 1992. Além disso, quando possível, será ado-    impossível ao mercado “enxergar”, é o
     tado o nível de agregação espacial das unidades    ecossistema planetário na sua forma atual e,
     da Federação o que permite o exame da diver-       portanto, a própria sobrevivência da espécie
     sidade de situações existentes no país.            humana, como atribuir valor àquilo que afeta,
        O esforço que o IBGE vem realizando com         positiva ou negativamente, a sustentabilidade
     este projeto pretende disponibilizar um conjunto   do desenvolvimento?
     de indicadores que posteriormente poderá e            Em posição oposta à razão tecnicista,
     deverá ser adaptado, ampliado e aprimorado e       portanto, estariam aqueles que, ainda que
     que, certamente, contribui para ampliar o          considerando desejável e indispensável o aumen-
     debate das questões ambientais na sociedade        to da eficiência econômica e tecnológica, pen-
     brasileira.                                        sam ser necessária a constituição de vontades e
        Acreditamos que é importante, contudo, não      mecanismos democráticos globais que se sobre-
     minimizar as dificuldades existentes na defini-    ponham à orientação de mercado (eficiente na
     ção e no aprofundamento do conceito de desen-      alocação dos recursos produtivos mas cega e
     volvimento sustentável.                            surda à quaisquer outros valores que não os da


32
acumulação de capital) fazendo prevalecer os       econômicos e sociais e a própria biodiversidade
princípios da sustentabilidade ambiental e ética   atual do planeta, inclusive a sobrevivência da
da humanidade. Para isso é preciso estar aberto    espécie humana.
à discussão dos padrões de                                              Para dimensionar o im-
produção,      circulação    e         Desenvolvimento               pacto das atividades humanas
consumo de mercadorias e sustentável é um conceito e sobre essas funções, entre-
admitir que os recursos natu-
rais do planeta constituem       um processo histórico em tanto, é territorial, definir o
                                                                     recorte
                                                                              necessário
                                                                                           determi-
ativos cujos valores não serão construção que pressupõe nando se os impactos são
determinados de         forma    uma dimensão espacial e locais, regionais ou globais.
intrínseca pelo mercado na
sua forma atual, mas sim          uma dimensão temporal. Questões locais tem a ver com
                                                                     qualidade do ar, fornecimento
construídos historicamente       Ambas exigem definições de água limpa, a remoção e
por uma humanidade progres-       concretas e consistentes disposição do lixo sólido e dos
sivamente mais consciente.                                           efluentes líquidos, limpeza
   Os trabalhos preparatórios
                                             entre si.               das ruas, etc.
para o novo manual da ONU                                               Questões regionais são
sobre contas ambientais                                              causadas       principalmente
(SEEA 2000) definem três                                             pelos automóveis, produção
“funções” do meio ambiente sobre a economia:       de energia e indústria pesada. Afetam as
1) funções de recursos (recursos naturais          grandes cidades e áreas circunvizinhas, bacias
   colocados à disposição para conversão em        hidrográficas e até extensões além das fron-
   bens ou serviços);                              teiras nacionais, como a “chuva ácida”
2) funções de serviços (provêem as condições       decorrente das emissões de dióxidos de enxofre
   necessárias para a manutenção da vida) e        e de nitrogênio.
3) funções de absorção (diz respeito à absorção       A terceira categoria de questões são as
   dos resíduos da produção e do consumo).         globais e suas conseqüências mais conhecidas
                                                   são o aquecimento global, a crise de
   Para nossos propósitos, podemos considerar      biodiversidade, a destruição da camada de
secundária a questão da disponibilidade de         ozônio e a degradação dos oceanos. É provável
recursos naturais para o processo de produção e    que a escassez de recursos hídricos e o aumento
consumo porque ela é muito mais sensível à         da desertificação exijam, também, uma
evolução tecnológica e porque para um recurso      aproximação global, além da regional.
fundamental (a energia) existe enorme e               Desenvolvimento sustentável é um conceito e
constante oferta externa ao planeta, o que não     um processo histórico em construção que
ocorre para as outras duas funções.                pressupõe uma dimensão espacial (o território)
   A diminuição da quantidade e qualidade das      e uma dimensão temporal (a extensão do com-
funções de serviço e o inegável uso das funções    promisso com as gerações futuras). Ambas exi-
de absorção muito além das suas capacidades        gem definições concretas e consistentes entre si.
de assimilação dos resíduos da produção e do          Assim, a preservação de um determinado
consumo, contudo, podem (e o estão fazendo)        ecossistema poderia ser definida, em função da
ameaçar severamente a qualidade de vida das        abrangência de seu território, como um
populações mais desfavorecidas em termos           problema local ou regional. A avaliação da


                                                                                                       33
sustentabilidade do desenvolvimento de uma        dinâmica democrática global, construa os
     nação, ou grupos de nações, uma questão           mercados e os sistemas de regulação que
     regional. Os processos globais são, como vimos,   tornarão possível atribuir valores aos ativos
     aqueles que afetam a sustentabilidade do desen-   importantes para a sustentabilidade da vida tal
     volvimento e da vida humana no planeta.           qual a conhecemos. O melhor exemplo contem-
        Quanto à dimensão temporal, a escala de        porâneo são as negociações no âmbito da ONU
     tempo que envolve a sustentabilidade de um        para o enfrentamento do aquecimento global,
     ambiente local ou regional é medida em            que através do Protocolo de Kioto e acordos
     décadas, o que já configura um horizonte muito    subseqüentes viabilizaram o surgimento de um
     mais dilatado do que aquele à que estamos         mercado global para toneladas de carbono que
     (instituições e mercado) habituados.              deixem de ser acumulados na atmosfera.
        A agressão ao ecossistema global,                 Do ponto de vista da elaboração de
     entretanto, exige da humanidade capacidade de     indicadores de Desenvolvimento Sustentável
     pensar e agir em um tempo histórico ainda mais    isso significa, também, que é preciso tomar
     amplo, mensurável em séculos. Isso diz respeito   extremo cuidado para não confundir os
     não apenas ao futuro (apenas como exemplo,        indicadores que iluminem a agressão humana
     gases de efeito estufa permanecem séculos na      ao ecossistema planetário com o conjunto de
     atmosfera e essa também é a unidade para          informações que cada sociedade produz e utiliza
     medir a dilatação das águas dos oceanos,          em seu território com vistas à avaliar a
     decorrente do aquecimento global e causa          sustentabilidade de seu desenvolvimento e à
     principal da elevação do nível dos mares) mas     melhoria de suas políticas públicas.
     também ao passado, na medida em que por              Em outras palavras, não é a agregação dos
     detrás da noção de “responsabilidades comuns      Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
     porém diferenciadas”, consagrada na Rio-92,       que cada país produz, com seu caráter embri-
     está a consciência de que entre as nações do      onário anteriormente exposto e suas dificul-
     mundo existem responsabilidades históricas        dades para obterem uma territorialização que
     distintas pelos processos em andamento.           reflita a realidade dos ecossistemas, que poderia
        Paradoxalmente, essa dilatada escala de        constituir-se numa informação adequada da
     tempo torna fundamental e coloca na agenda a      sustentabilidade do desenvolvimento global.
     exigência de urgência para a produção das         Tampouco esses indicadores se prestam à
     informações físicas que permitam acompanhar       hierarquizações que não teriam qualquer
     os processos de poluição que ocorrem em escala    consistência espacial ou temporal com a
     global. Isto por duas razões. Em primeiro lugar   sustentabilidade do planeta.
     porque como é grande o desconhecimento sobre         Ainda que os indicadores globais possam ser
     a dinâmica ecológica do planeta, o princípio da   harmonizados e definidos como um subconjunto
     precaução exige o uso equilibrado dos recursos    dos indicadores de desenvolvimento sustentável
     e serviços do meio ambiente de forma a prevenir   que cada país deveria produzir, sabemos que o
     danos irreparáveis à sua sustentabilidade. Em     estágio em que as nações do mundo se encon-
     segundo lugar, porque é o conhecimento            tram na produção de estatísticas econômicas,
     científico dos processos em andamento e das       sociais, e, principalmente, ambientais, é bas-
     suas conseqüências que fornecerá o suporte        tante heterogêneo e que a definição das prio-
     para que a sociedade humana, através de uma       ridades nos programas de trabalho estatístico


34
de cada país decorre de sua própria vida social                   Para isso seria necessária a concentração de
e é assunto autônomo dos Institutos Nacionais                  esforços nesses processos (Mudança Global do
de Estatística.                                                Clima, Crise de Biodiversidade, Redução da
   Desse ponto de vista, parece-nos que, sem                   Camada de Ozônio, degradação dos oceanos,
prejuízo dos esforços conduzidos pela Comissão                 desertificação e crise de recursos hídricos). A
Estatística das Nações Unidas na produção de                   criação de um sistema de monitoramento da
                                                               sustentabilidade do desenvolvimento mundial
estatísticas ambientais e de contas ambientais
                                                               exigiria dos países desenvolvidos amplos
associadas às contas nacionais e pela Comissão
                                                               investimentos no conhecimento científico e
de Desenvolvimento Sustentável das Nações
                                                               acompanhamento da biosfera, da atmosfera,
Unidas através dos indicadores do desenvol-
                                                               dos oceanos e dos continentes; na realização de
vimento sustentável do Livro Azul, que
                                                               seus próprios levantamentos nacionais e no
propiciam às sociedades elementos para avaliar                 apoio à ONU e instituições multilaterais na
aspectos da sustentabilidade de seu desenvol-                  mobilização de recursos para harmonizar
vimento, deveria ser considerado objetivo                      metodologias e viabilizar a execução dos
prioritário a elaboração de Indicadores do                     levantamentos dos países menos desenvolvidos.
Desenvolvimento Sustentável Global que                         A experiência da definição de metodologia pelo
retratem fisicamente os processos de agressão                  Painel Intergovernamental sobre Mudança do
global ao ecossistema planetário, tornando                     Clima (IPCC) e o sistema construído para
possível prevenir eventos irreparáveis e                       apoiar a realização das comunicações nacionais
fornecendo o suporte necessário para a                         para a Convenção Quadro das Nações Unidas
construção dos mercados que serão responsá-                    sobre Mudança do Clima poderia ser
veis pela valoração dos ativos naturais.                       aproveitada como modelo.




Sérgio Besserman Vianna
Presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Guido Gelli
Diretor de Geociências do IBGE



                                                                                                                 35

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Indicadores ambientais para uma globalização sustentavel

  • 1.
  • 2. Indicadores ambientais para uma globalização sustentável Mas nem os registros administrativos, nem empresas, nem cidadãos estão preparados para responder sobre impactos causados ao meio ambiente e, ao perguntarmos aos ecossistemas sobre estes impactos, eles nos oferecem respostas em sua própria “linguagem” que ainda estamos distantes de saber ouvir e compreender adequadamente. Passados dez anos da Rio-92, o debate acerca Todo indicador, toda informação estatística de indicadores ambientais parece ainda tão constitui, antes de tudo, uma síntese de grande vigoroso quanto inconcluso. Não foram pequenos abstração. E são abstrações na forma de cifras os esforços de cada país participante e da cuja inteligibilidade e, logo, utilidade, depende comunidade internacional como um todo, no de familiaridade com o fenômeno mensurado e sentido de definir e produzir informações com o modo e escala em que é medido. Um adequadas a orientar ações relativas ao meio indicador que agrega, por exemplo, a produção social medida em unidades monetárias, é algo ambiente e ao desenvolvimento sustentável, e os absolutamente abstrato, mas muito objetivo, avanços foram consideráveis. Ocorre que a passados centenas de anos das sociedades perspectiva de ação imposta pelos problemas monetizadas. Mas é objetivo também por se ambientais sugere uma abordagem ampla e referir a mercadorias normalmente comerciali- extremamente diversificada e um horizonte tem- zadas. Coisa muito diversa é medir e construir poral de referência absolutamente inauditos. indicadores sintéticos que incorporem paisa- Assim, o tamanho e a complexidade da tarefa gem, qualidade de ar, reservas naturais, danos faz com que as conquistas pareçam sempre ambientais, saúde e outros que tais. Trata-se de menores que os desafios (re)colocados. justapor, condensar e integrar aspectos que são Afinal, o que se requer são informações que, ao objeto de múltiplas disciplinas, que muitas vezes mesmo tempo, retratem praticamente toda a ativi- utilizam diferentes sistemas de medida e que, dade humana e seu impacto sobre condições de principalmente, ainda são de valoração social ambiência nos seus múltiplos aspectos. Mais que extremamente difícil por conta tanto da isso, as informações devem ainda permitir inferên- ignorância humana sobre a dinâmica ecológica cias sobre as necessidades das gerações futuras. como do fato de estarmos ainda nos primórdios As dificuldades tornam-se ainda maiores do processo histórico (econômico, social e porque, no caso das estatísticas sociais, as prin- político) que definirá a extensão e a profundi- cipais fontes são os registros administrativos e dade do compromisso com as gerações humanas as pesquisas domiciliares, onde o informante do futuro. responde às perguntas do entrevistador, enquan- Enquanto o universo da produção de to no caso das estatísticas econômicas as estatísticas econômicas e sociais dispõe de um principais fontes são, novamente, os registros aparato conceitual, metodológico e de melhores administrativos e as respostas das empresas, práticas desenvolvido ao longo de décadas e unidades produtivas ou órgãos públicos. objeto de um trabalho mundial de harmonização 29
  • 3. com vistas à maior comparabilidade, as defini- nível além do qual a depleção não deve ser ções conceituais, viabilidade, aplicabilidade e permitida. É evidente que não há consenso funcionalidade dos inúmeros indicadores ambi- sobre quais níveis críticos considerar. entais e do desenvolvimento sustentável propos- Também a disputa entre mensurações físicas tos são reiteradamente criticados, revistos e e sócio-econômicas admite uma posição postos à prova. Nesse sentido são todos novos, intermediária. Embora seja evidente a dificul- como nova é a temática do meio ambiente e, por dade em integrar ambos os aspectos, trata-se de isso, pagam tributo à imprecisão e fluidez do uma construção (mais do que técnica, histórica) próprio conceito de desenvolvimento sustentável. indispensável. Assim, cabe avançar tanto o Tornou-se ponto de controvérsia a própria desenvolvimento de indicadores e índices idéia de valoração de recursos naturais e ambientais quanto o desenvolvimento de contas serviços ambientais e, logo, a ênfase em físicas e ambientais e sistemas integrados, mensurações físicas ou a elaboração de medidas consolidando, através de aplicações práticas as monetárias. A discussão se desdobra ainda entre alternativas mais úteis e viáveis. Nos trabalhos privilegiar indicadores associados ao que se para a elaboração do novo manual da ONU denominou sustentabilidade fraca ou aqueles sobre contas ambientais (SEEA) é proposta associados a sustentabilidade forte. Na hipótese uma contabilidade ambiental híbrida, confron- fraca da sustentabilidade admite-se uma grande tando informações física sobre o uso dos capacidade de substituição entre “capital recursos com informações em termos físicos e natural” e manufaturado de maneira que os monetárias sobre o processo econômico de recursos naturais podem ser valorados confor- produção. me se manifesta a preferencia do consumidor. Cabe lembrar que quaisquer que sejam as Em outras palavras, supõe-se que qualquer uso abordagens conceituais e os métodos seguidos, é dos recursos naturais possa ser reposto por necessária a coleta e sistematização de um fontes alternativas de igual valor. Na hipótese vasto conjunto de informações. E sua produção forte da sustentabilidade, considera-se a não pode prescindir da colaboração de diversas substituição limitada e, com base em pesquisas instituições. Algumas em razão da sua ecológicas, avaliam-se os custos relativos a “padrões de uso” ou de “sustentabilidade” de competência específica e outras historicamente diferentes “funções ambientais” e os custos engajadas no estudo das questões ambientais. para troca ou reformulação das atividades O Brasil tem participado ativamente deste econômicas, de sorte que se evite a depleção ou esforço, quer internamente, através de orga- degradação do meio. nismos públicos, universidades, instituições Muitos autores tomam posição entre os dois privadas e organizações não governamentais, extremos das hipóteses fraca e forte de quer externamente, colaborando com diversas sustentabilidade. Aceitam que na prática as iniciativas e organismos internacionais. economias no presente dependem de consumir O Instituto Brasileiro de Geografia e algum nível de recursos não renováveis. Por Estatística – IBGE, na qualidade de instituição outro lado, permitir que todas as fontes não oficial de estatística, tem procurado responder renováveis sejam consumidas rapidamente seria às funções que lhe são atribuídas neste campo, irresponsável. A alternativa conceitual tem sido inclusive no sentido da construção de um trabalhar com a idéia de um certo “nível sistema nacional voltado a organização e crítico” de recursos ambientais, ou seja, um consolidação de informações ambientais. 30
  • 4. De fato, enquanto em todo o mundo, científico da biodiversidade original, informa- Instituições Nacionais de Estatística buscam ção indispensável para construção de muitos aproximação com a cartografia em função das indicadores de impacto ambiental. possibilidades abertas pelo desenvolvimento da O IBGE tem participado também dos tecnologia de geo-referenciamento de dados e trabalhos da Comunicação Nacional Brasileira da geografia, ciências biológicas, física e de Gases de Efeito Estufa, coordenado pelo química, em função das demandas colocadas Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e pela produção de informações ambientais, o assumiu a responsabilidade de ser o depositário Brasil conta, desde 1936 quando foi criado o das informações do inventário brasileiro das IBGE, com essas atribuições reunidas numa emissões de gases do efeito estufa. única instituição que tradicionalmente dedica-se Coordena também a coleta, revisão e ao conhecimento da realidade físico-ambiental atualização da base de dados sobre estatísticas do território. Além das atividades básicas de ambientais que o grupo de trabalho formado geodesia e cartografia oficial, desenvolvidas pelo IBGE, Instituto de Pesquisas Espaciais pelo IBGE desde então, destaca-se, a incor- (INPE), Instituto de Pesquisa Ambiental da poração, em 1986, do acervo e Projeto Amazônia (IPAM), Banco de Dados da RADAMBRASIL, ampliando a atenção aos Amazônia da Secretaria da Amazônia do Minis- temas de geologia, geomorfologia, solos, vege- tério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro de tação, uso potencial da terra. Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Particularmente para a Amazônia Legal, que Renováveis (IBAMA) produz para dar suporte representa mais de 50% do Território Nacional, ao Relatório Perspectivas do Meio Ambiente no mediante Contrato firmado entre o IBGE e a Brasil, o Geo Brasil, que está sendo elaborado Comissão de Implantação do Sistema de pelo MMA e o IBAMA, em parceria com o Pro- Controle do Espaço Aéreo – CISCEA / Sistema grama das Nações Unidas para o Meio de Vigilância da Amazônia – SIVAM, já se en- Ambiente (PNUMA) com vistas à divulgação contram armazenadas, em banco de dados geo- durante a Conferência Mundial de Meio referenciados, informações inerentes a 204 car- Ambiente e Desenvolvimento – Rio +10, em tas (escala 1:250 000), compreendendo os temas Johannesburgo. geologia, geomorfologia, solos e vegetação. Mais recentemente o IBGE, valendo-se Ainda no que concerne aos estudos dos também de seu patrimônio de informações e recursos naturais, o IBGE desenvolve pesquisas pesquisas econômicas e sociais, vem desenvol- voltadas à área de Fauna e Flora. Nestes, des- vendo juntamente com o Ministério do Meio taca-se o trabalho de levantamento básico rea- Ambiente o Projeto Indicadores de Desenvolvi- lizado pelos herbários IBGE (Brasília e mento Sustentável. Ele tenta contribuir para Salvador) na mais absoluta harmonia com insti- avaliações abrangentes da realidade brasileira, tuições congêneres do Brasil e do exterior e com incluindo a perspectiva ambiental, sob a ótica grande integração com as atividades de mapea- da compatibilização das diversas dimensões do mento de vegetação e coleta de material botânico. desenvolvimento, com a intenção de sistema- As coleções científicas do IBGE constituem tizar e acompanhar a situação nacional no que um valioso patrimônio à disposição da Insti- diz respeito ao desenvolvimento sustentável. tuição e da comunidade científica, pois são, A preocupação com indicadores de como importante testemunho histórico- sustentabilidade foi colocada pela Agenda 21 31
  • 5. nos capítulos que tratam da relação entre meio A visão de desenvolvimento sustentável da ambiente, desenvolvimento sustentável e interpretação neoclássica tende a cair, na nossa informações para a tomada de decisões. A opinião, na armadilha do que poderíamos idéia central da Conferência Rio-92 foi a de chamar de utopia da razão técnica e supor que dotar os países signatários dos instrumentos a sustentabilidade da aventura civilizatória adequados para medir e avaliar as políticas humana pode ser alcançada exclusivamente públicas voltadas para o desenvolvimento através do aumento da eficiência econômica e sustentável. da adoção de tecnologias mais limpas. Nesse O projeto toma como referência a caso, estaríamos frente à uma versão extremista metodologia proposta pela Comissão para o da hipótese fraca da sustentabilidade, que Desenvolvimento Sustentável elaborada em admite a exaustão de qualquer riqueza natural 1996, intitulada. “Indicators of Sustentainable desde que seu valor possa ser reposto por outro Development Framework and Methodologics” ativo de igual valor, propondo um modelo que conhecido como “Livro Azul” e as recomenda- ignora completamente as incertezas envolvidas ções adicionais que o sucederam, como é o caso nessa troca e representa muito mal a realidade dos resultados do “International Expert do processo de produção. Meeting on Information for Decision - Making Em outra posição estariam não apenas os and Participation”, em setembro de 2000, no adeptos da hipótese forte da sustentabilidade Canadá. Assim, trata de temas como Saúde, como também aqueles que ao se situarem entre Educação, Habitação, População, Atmosfera, os dois extremos (na forma apresentada no Terra, Oceanos/Mares e Costas, Água, Biodiver- início deste artigo) chamam a atenção para a sidade, Padrões de consumo e produção, etc. necessidade de definir o recorte territorial dos Com o objetivo de fornecer uma avaliação ecossistemas cuja sustentabilidade deseja-se mais adequada quanto ao processo de desenvol- preservar e a abrangência temporal do vimento, cada indicador será apresentado numa compromisso com as futuras gerações. perspectiva evolutiva através de série histórica Se o que pode estar sob ameaça, numa escala de dados para Brasil, tomando como base o ano de tempo à qual não estamos habituados e é de 1992. Além disso, quando possível, será ado- impossível ao mercado “enxergar”, é o tado o nível de agregação espacial das unidades ecossistema planetário na sua forma atual e, da Federação o que permite o exame da diver- portanto, a própria sobrevivência da espécie sidade de situações existentes no país. humana, como atribuir valor àquilo que afeta, O esforço que o IBGE vem realizando com positiva ou negativamente, a sustentabilidade este projeto pretende disponibilizar um conjunto do desenvolvimento? de indicadores que posteriormente poderá e Em posição oposta à razão tecnicista, deverá ser adaptado, ampliado e aprimorado e portanto, estariam aqueles que, ainda que que, certamente, contribui para ampliar o considerando desejável e indispensável o aumen- debate das questões ambientais na sociedade to da eficiência econômica e tecnológica, pen- brasileira. sam ser necessária a constituição de vontades e Acreditamos que é importante, contudo, não mecanismos democráticos globais que se sobre- minimizar as dificuldades existentes na defini- ponham à orientação de mercado (eficiente na ção e no aprofundamento do conceito de desen- alocação dos recursos produtivos mas cega e volvimento sustentável. surda à quaisquer outros valores que não os da 32
  • 6. acumulação de capital) fazendo prevalecer os econômicos e sociais e a própria biodiversidade princípios da sustentabilidade ambiental e ética atual do planeta, inclusive a sobrevivência da da humanidade. Para isso é preciso estar aberto espécie humana. à discussão dos padrões de Para dimensionar o im- produção, circulação e Desenvolvimento pacto das atividades humanas consumo de mercadorias e sustentável é um conceito e sobre essas funções, entre- admitir que os recursos natu- rais do planeta constituem um processo histórico em tanto, é territorial, definir o recorte necessário determi- ativos cujos valores não serão construção que pressupõe nando se os impactos são determinados de forma uma dimensão espacial e locais, regionais ou globais. intrínseca pelo mercado na sua forma atual, mas sim uma dimensão temporal. Questões locais tem a ver com qualidade do ar, fornecimento construídos historicamente Ambas exigem definições de água limpa, a remoção e por uma humanidade progres- concretas e consistentes disposição do lixo sólido e dos sivamente mais consciente. efluentes líquidos, limpeza Os trabalhos preparatórios entre si. das ruas, etc. para o novo manual da ONU Questões regionais são sobre contas ambientais causadas principalmente (SEEA 2000) definem três pelos automóveis, produção “funções” do meio ambiente sobre a economia: de energia e indústria pesada. Afetam as 1) funções de recursos (recursos naturais grandes cidades e áreas circunvizinhas, bacias colocados à disposição para conversão em hidrográficas e até extensões além das fron- bens ou serviços); teiras nacionais, como a “chuva ácida” 2) funções de serviços (provêem as condições decorrente das emissões de dióxidos de enxofre necessárias para a manutenção da vida) e e de nitrogênio. 3) funções de absorção (diz respeito à absorção A terceira categoria de questões são as dos resíduos da produção e do consumo). globais e suas conseqüências mais conhecidas são o aquecimento global, a crise de Para nossos propósitos, podemos considerar biodiversidade, a destruição da camada de secundária a questão da disponibilidade de ozônio e a degradação dos oceanos. É provável recursos naturais para o processo de produção e que a escassez de recursos hídricos e o aumento consumo porque ela é muito mais sensível à da desertificação exijam, também, uma evolução tecnológica e porque para um recurso aproximação global, além da regional. fundamental (a energia) existe enorme e Desenvolvimento sustentável é um conceito e constante oferta externa ao planeta, o que não um processo histórico em construção que ocorre para as outras duas funções. pressupõe uma dimensão espacial (o território) A diminuição da quantidade e qualidade das e uma dimensão temporal (a extensão do com- funções de serviço e o inegável uso das funções promisso com as gerações futuras). Ambas exi- de absorção muito além das suas capacidades gem definições concretas e consistentes entre si. de assimilação dos resíduos da produção e do Assim, a preservação de um determinado consumo, contudo, podem (e o estão fazendo) ecossistema poderia ser definida, em função da ameaçar severamente a qualidade de vida das abrangência de seu território, como um populações mais desfavorecidas em termos problema local ou regional. A avaliação da 33
  • 7. sustentabilidade do desenvolvimento de uma dinâmica democrática global, construa os nação, ou grupos de nações, uma questão mercados e os sistemas de regulação que regional. Os processos globais são, como vimos, tornarão possível atribuir valores aos ativos aqueles que afetam a sustentabilidade do desen- importantes para a sustentabilidade da vida tal volvimento e da vida humana no planeta. qual a conhecemos. O melhor exemplo contem- Quanto à dimensão temporal, a escala de porâneo são as negociações no âmbito da ONU tempo que envolve a sustentabilidade de um para o enfrentamento do aquecimento global, ambiente local ou regional é medida em que através do Protocolo de Kioto e acordos décadas, o que já configura um horizonte muito subseqüentes viabilizaram o surgimento de um mais dilatado do que aquele à que estamos mercado global para toneladas de carbono que (instituições e mercado) habituados. deixem de ser acumulados na atmosfera. A agressão ao ecossistema global, Do ponto de vista da elaboração de entretanto, exige da humanidade capacidade de indicadores de Desenvolvimento Sustentável pensar e agir em um tempo histórico ainda mais isso significa, também, que é preciso tomar amplo, mensurável em séculos. Isso diz respeito extremo cuidado para não confundir os não apenas ao futuro (apenas como exemplo, indicadores que iluminem a agressão humana gases de efeito estufa permanecem séculos na ao ecossistema planetário com o conjunto de atmosfera e essa também é a unidade para informações que cada sociedade produz e utiliza medir a dilatação das águas dos oceanos, em seu território com vistas à avaliar a decorrente do aquecimento global e causa sustentabilidade de seu desenvolvimento e à principal da elevação do nível dos mares) mas melhoria de suas políticas públicas. também ao passado, na medida em que por Em outras palavras, não é a agregação dos detrás da noção de “responsabilidades comuns Indicadores de Desenvolvimento Sustentável porém diferenciadas”, consagrada na Rio-92, que cada país produz, com seu caráter embri- está a consciência de que entre as nações do onário anteriormente exposto e suas dificul- mundo existem responsabilidades históricas dades para obterem uma territorialização que distintas pelos processos em andamento. reflita a realidade dos ecossistemas, que poderia Paradoxalmente, essa dilatada escala de constituir-se numa informação adequada da tempo torna fundamental e coloca na agenda a sustentabilidade do desenvolvimento global. exigência de urgência para a produção das Tampouco esses indicadores se prestam à informações físicas que permitam acompanhar hierarquizações que não teriam qualquer os processos de poluição que ocorrem em escala consistência espacial ou temporal com a global. Isto por duas razões. Em primeiro lugar sustentabilidade do planeta. porque como é grande o desconhecimento sobre Ainda que os indicadores globais possam ser a dinâmica ecológica do planeta, o princípio da harmonizados e definidos como um subconjunto precaução exige o uso equilibrado dos recursos dos indicadores de desenvolvimento sustentável e serviços do meio ambiente de forma a prevenir que cada país deveria produzir, sabemos que o danos irreparáveis à sua sustentabilidade. Em estágio em que as nações do mundo se encon- segundo lugar, porque é o conhecimento tram na produção de estatísticas econômicas, científico dos processos em andamento e das sociais, e, principalmente, ambientais, é bas- suas conseqüências que fornecerá o suporte tante heterogêneo e que a definição das prio- para que a sociedade humana, através de uma ridades nos programas de trabalho estatístico 34
  • 8. de cada país decorre de sua própria vida social Para isso seria necessária a concentração de e é assunto autônomo dos Institutos Nacionais esforços nesses processos (Mudança Global do de Estatística. Clima, Crise de Biodiversidade, Redução da Desse ponto de vista, parece-nos que, sem Camada de Ozônio, degradação dos oceanos, prejuízo dos esforços conduzidos pela Comissão desertificação e crise de recursos hídricos). A Estatística das Nações Unidas na produção de criação de um sistema de monitoramento da sustentabilidade do desenvolvimento mundial estatísticas ambientais e de contas ambientais exigiria dos países desenvolvidos amplos associadas às contas nacionais e pela Comissão investimentos no conhecimento científico e de Desenvolvimento Sustentável das Nações acompanhamento da biosfera, da atmosfera, Unidas através dos indicadores do desenvol- dos oceanos e dos continentes; na realização de vimento sustentável do Livro Azul, que seus próprios levantamentos nacionais e no propiciam às sociedades elementos para avaliar apoio à ONU e instituições multilaterais na aspectos da sustentabilidade de seu desenvol- mobilização de recursos para harmonizar vimento, deveria ser considerado objetivo metodologias e viabilizar a execução dos prioritário a elaboração de Indicadores do levantamentos dos países menos desenvolvidos. Desenvolvimento Sustentável Global que A experiência da definição de metodologia pelo retratem fisicamente os processos de agressão Painel Intergovernamental sobre Mudança do global ao ecossistema planetário, tornando Clima (IPCC) e o sistema construído para possível prevenir eventos irreparáveis e apoiar a realização das comunicações nacionais fornecendo o suporte necessário para a para a Convenção Quadro das Nações Unidas construção dos mercados que serão responsá- sobre Mudança do Clima poderia ser veis pela valoração dos ativos naturais. aproveitada como modelo. Sérgio Besserman Vianna Presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Guido Gelli Diretor de Geociências do IBGE 35