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ELZA DIAS PACHECO




     Carla Daniela Rabelo Rodrigues, Carolina
     Escobar, Paula Hernandes Barrozo, Renata
     Yumi Shimabukuro




                                            3
Sumário



1) Introdução...................................................................................pág. 03

2) Idéia Força .................................................................................pág. 04

3) Trajetória ....................................................................................pág. 06

4) Criação do LAPIC.......................................................................pág. 10

5) Televisão, criança e imaginário..................................................pág.12
         5.1) Metodologia..................................................................pág.13
         5.2) Conclusões e Resultados..............................................pág.14


6) O desenho animado na Tevê: mitos, símbolos e metáforas.........pág.15
         6.1) Metodologia...................................................................pág.15
         6.2) Os cinco desenhos mais citados....................................pág.16
         6.3) Conclusão: a criança e a noção de violência..................pág.17


7) Lapic e NCE.................................................................................pág.19


8) O Lapic hoje ................................................................................pág.23


9) Orientandos..................................................................................pág.24


10) Considerações Finais..................................................................pág.27


11) Referências.................................................................................pág.29




                                                                                                            4
1) INTRODUÇÃO

       Para percorrer a história acadêmica e profissional da Professora Elza
Dias Pacheco é preciso, antes de tudo, reconhecer – com a pesquisadora – a
condição de sujeito atribuída à criança, com identidade formada, para, somente
então, desvendar, sem pré-julgamentos, o universo infantil: “Para conhecer a
criança não adianta lermos livros de Psicologia, de Psicanálise, ou de qualquer
das outras ciências humanas. Precisamos, antes, conhecê-la nos vários
lugares onde se encontra, em seus vários espaços, os mais diferentes
possíveis, nos vários tempos de sua vida”, comenta Pacheco no vídeo “O
LAPIC conta a sua história”1. Esta idéia, na verdade, passou a representar a
essência do trabalho da fonoaudióloga, pedagoga, psicóloga, comunicadora e,
por que não dizer também, educomunicadora!

       Buscamos, neste trabalho, traçar a trajetória de uma pesquisadora
determinada, que trouxe muitas contribuições para os estudos sobre a infância
que qualquer outro pesquisador da ECA-USP. A elaboração deste artigo teve
sua base estabelecida em algumas de seus depoimentos e publicações e,
principalmente, nas palavras do professor Claudemir Edson Viana2, seu
orientando no mestrado e no doutorado.

2) IDÉIA FORÇA

        Dentre os temas de pesquisa na área hoje denominada de
educomunicação, no programa de pós-graduação da ECA/USP, destaca-se o
pioneirismo da professora Dra. Elza Dias Pacheco ao tratar da recepção
infantil, trazendo a criança e sua programação favorita, em especial os
1
  Vídeo produzido em VHS pelo LAPIC no ano de 2004, a fim de preservar a memória do núcleo de
pesquisas.
2
  - Após a aposentadoria da Profa. Elza Pacheco, seus orientandos, preocupados em dar seguimento às
pesquisas iniciadas pelo LAPIC (Laboratório de pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação),
trabalham voluntariamente para a manutenção do núcleo e na prestação de serviços a professores da rede
pública de ensino e a ONGS ligadas à questão da infância. Na Entrevista que nos concedeu, com o
consentimento da Profa. Elza, Claudemir Viana enfatiza toda a trajetória acadêmica de Pacheco, através
de suas produções, a fundação do núcleo de pesquisa, a relação com o NCE (Núcleo de Comunicação e
Educação), as metodologias das pesquisas desenvolvidas, e, por fim, a relação com a Educomunicação.
Viana, além das formações em História e Pedagogia, começou a atuar na área de comunicação quando
iniciou sua terceira graduação, em Rádio e TV na ECA/ USP. Na época, já atuava como professor de
história para o Ensino Fundamental e Médio. A experiência no âmbito escolar foi um fator importante
para que recebesse o convite de Elza Dias Pacheco para integrar o núcleo de pesquisa como projeto de
iniciação científica. Na época, o LAPIC precisava de um pesquisador apto para analisar 700 falas de
crianças sobre a televisão e a maneira como o meio atuava junto ao imaginário delas. O envolvimento na
primeira pesquisa integrada do núcleo, “Televisão, Criança e Imaginário: contribuições para a integração
escola, universidade e sociedade”, em 1996, o levou a trancar o curso de graduação em Rádio e TV e se
candidatar a uma vaga de mestrado sob a orientação da Professora Elza, na linha de pesquisa em
Comunicação e Educação. Nesse mesmo campo, desenvolveu seu doutorado – “O lúdico e a
aprendizagem na cibercultura: jogos digitais e internet no cotidiano infantil“ - concluído em 2005.
Claudemir é autor da primeira dissertação de mestrado que trabalha o conceito de Educomunicação no
Brasil, sob o título: “O Processo Educomunicacional: a mídia na escola”, defendida em 2000.
Atualmente, Viana é diretor da Faculdade Montessori (FAMEC) e ministra palestras em nome do LAPIC,
como forma de divulgar o trabalho iniciado pela professora Elza Dias Pacheco. Nesse sentido, traçou um
painel do pensamento da profa. Elza e de sua trajetória profissional, destacando seu papel no
desenvolvimento de trabalhos cujo tema central é a relação da criança com o conteúdo televisivo.



                                                                                                      5
desenhos animados, para o centro das discussões acadêmicas sobre mídia e
educação.

       Contrária ao senso comum habituado a subestimar a capacidade de
discernimento da criança diante da televisão, Pacheco foi precursora ao
considerar a criança um sujeito com vontade própria, consciente da
programação que escolhe para assistir e totalmente pronta para re-elaborar os
conteúdos televisivos dirigidos a ela ou não. Esta foi sua idéia-força. Segundo
Viana, Pacheco considera que “a criança recria os significados segundo seus
desejos e necessidades, assim como segundo os interesses de conhecimento
que ela tenha no momento da recepção. A criança sabe se defender. Ela
mesma sabe o que fazer, escondendo, por exemplo, o rosto, sempre que a
programação for incompatível com a motivação que ela tenha para continuar
assistindo a programação. A criança é mais sábia do que nós. Ela sabe o que
assiste, por que assiste, e para que assiste, o que ela retira e o que ela recria
de tudo que assiste”. Para Claudemir Viana, foi com esta segurança que a
Profa Elza Pacheco, fundou o LAPIC – Laboratório de Pesquisa sobre Infância,
Imaginário e Comunicação, em 1994, contribuindo não só para o início, mas
principalmente com a continuidade dos estudos sobre a relação entre criança e
televisão.


3) TRAJETÓRIA

       Elza Dias Pacheco nasceu na cidade de São Paulo, no dia 29 de
dezembro de 1928. Iniciou-se na leitura com o livro “O patinho feio”,
descobrindo, assim, ainda menina, a literatura infantil. Estudou para ser
professora primária na Escola da Praça. Foi lá que ocorreu seu primeiro
contato com crianças e o início de seus primeiros questionamentos sobre sua
identidade, seu lugar no mundo e sua própria carreira.

       Nos anos 50, Pacheco ingressou no serviço público, prestou concurso
para trabalhar como Jardineira3 e como Recreacionista4 em parque infantil. E
foi aprovada nos dois, mas preferiu ser Jardineira por causa de seu maior
interesse por crianças pequenas.
       Como não queria abandonar seus filhos, pois estava acostumada a ver
no parque infantil como as crianças sofriam com a ausência da mãe, Pacheco
adiou o início de sua carreira acadêmica. Mas nada a impediu que, nos anos
60, fizesse especialização em Educação de Excepcionais e em
Fonoaudiologia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e,
ainda na mesma universidade, concluísse a graduação em Pedagogia.

       Envolvida cada vez mais com o universo infantil, montou um consultório
cujo foco passou a ser o tratamento da Dislexia. Um tipo de distúrbio de
linguagem, que se manifesta tanto na linguagem oral quanto na linguagem
escrita. E foi exatamente a paixão pelo estudo da Dislexia que a levou a
defender, em 1974, a tese de mestrado intitulada “Incidência de erros
disortográficos em crianças alfabetizadas por diferentes métodos”,
3
    Jardineira era a profissional que tomava conta das crianças de um a sete anos de idade.
4
    Recreacionista era a profissional que tomava conta das crianças de sete a oito anos.


                                                                                              6
introduzindo-a inclusive na área da Psicologia Social. Em paralelo, mais
especificamente de 1973 a 1974, trabalhou como professora adjunta da
graduação em Psicologia, na Universidade Presbiteriana Mackenzie,
ministrando a disciplina Psicologia da Administração.

       Professora nata, antes mesmo de concluir o mestrado, Pacheco JÁ
ministrava aulas de Psicologia da Comunicação na graduação da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Por ser uma das
primeiras professoras da graduação e do programa de pós-graduação, recebeu
um Voto de Louvor, em 1985, por parte Conselho do Departamento de
Comunicações e Artes da ECA-USP.

       No início de sua carreira, simultaneamente à atuação acadêmica,
Pacheco continuou com o atendimento a crianças em seu consultório particular
que funcionava mais como um laboratório que a possibilitava observar e
aprender mais do relacionamento com as crianças. E foi exatamente em seu
consultório que começou a perceber o crescente interesse das crianças pela
televisão, mais precisamente pelos desenhos animados: “As crianças queriam
falar do Pica-pau, do Tom & Jerry e eu não conhecia essas figuras. Achava que
era uma falha minha. Foi assim que decidi fazer a tese de doutorado sobre
aquilo que as crianças gostavam”.

      Na verdade, a própria Pacheco ficou inquieta ao definir seu objeto de
pesquisa: “Eu fiquei contente quando o Pica-Pau foi escolhido pelas crianças,
porque eu pensava que era ‘O sítio do Pica-Pau amarelo´, e não era. Era o
Pica-Pau bichinho malandro. E por que elas gostavam? Porque o Pica-Pau é
malvado, pica todo mundo. Então, as crianças gostam do Pica-Pau, porque o
Pica-Pau é mal em defesa da sua propriedade, do que é seu. Ele luta com
unhas dentes para defender o que é seu. É um pensamento típico da
sociedade capitalista”. Por isso, sua tese de doutorado - na época, tema de
estudo ainda inédito no Brasil -, chamou-se “Pica-pau: herói ou vilão?
Representação social da criança e reprodução da ideologia dominante”.

        Além do pioneirismo do tema, é importante chamar a atenção para os
outros dois aspectos inovadores da tese de doutorado defendida, em 1981,
pela profa. Elza: a pesquisa foi considerada o primeiro estudo de recepção
televisiva tendo como alvo o público infantil desenvolvida no Brasil e também
revolucionou na questão do método ao valorizar a criança como fonte de
informação ao percebê-la como sujeito.

       Para se ter uma idéia da importância deste trabalho na vida de Elza Dias
Pacheco, ela mesma garante que, tanto a criação da linha de pesquisa
“Comunicação e Educação” no programa de pós da ECA quanto outros
trabalhos e observações sobre a relação TV e criança elaborados por outros
autores foram resultados práticos de sua pesquisa de doutorado.

       Em fins da década de 80, por sempre manter suas preocupações
advindas do estudo da psicologia e da pedagogia, Elza assumiu trabalhos
internos com os estudantes da graduação. Assim surgiu o LAPEG - Laboratório
de Apoio Pedagógico aos Estudantes de Comunicação, que deu origem à sua


                                                                             7
Livre-Docência na ECA-USP, intitulada “A ECA por dentro e por fora – escola e
trabalho: o poder SER e o poder FAZER dos jovens”, que se constituiu em uma
denúncia sobre a realidade acadêmica.

       Em 1990, coordenou o curso de extensão “Comunicação, educação e
arte na cultura infanto-juvenil”, para um público de 300 pessoas. Esse evento
gerou a publicação do livro de mesmo nome. Como conseqüência da grande
repercussão, Elza organizou um segundo curso de extensão com a mesma
temática, para o qual se inscreveram 600 profissionais de várias áreas do
conhecimento.

       Em 1991, recebeu uma bolsa do CNPq de Pós-Doutorado, com duração
de um ano, para o desenvolvimento da pesquisa "TV e criança: produção
cultural, recepção e sociedade", na Universidad Complutense de Madrid –
Espanha. Essa pesquisa tinha como objetivo estabelecer um paralelo cultural
sobre a relação TV/criança na Espanha e no Brasil: “Fui para Europa para
analisar como era o intervalo das crianças de lá, se eles assistiam televisão ou
não. E conversando com as crianças das escolas espanholas, descobri que
assistiam os mesmos desenhos animados que as brasileiras e os preferidos
delas eram os mesmos. A única diferença é que eles assistiam mais desenhos
japoneses. Não sei por que também, uma vez que a resposta delas era: porque
gostamos”.

      Até 1996, coordenou na INTERCOM o grupo de trabalho sobre o
Imaginário Infantil. E desde então, presta consultoria na área de Ciências da
Comunicação para dois importantes órgãos: o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ e o Ministério da Educação
e do Desporto – MEC.
      Quando professora livre-docente de dedicação exclusiva à Universidade
de São Paulo, ministrava as seguintes disciplinas na pós-graduação da ECA:
TV/Criança: uma cultura de lazer ou de alienação?; Infância, Cotidiano e
Imaginário Infantil; Meios de Comunicação, Infância e Educação:
representações e imaginário social.

       Atualmente, Pacheco está aposentada, finalizando apenas algumas
orientações de doutorado. Sua aposentadoria ocorreu em dezembro de 1998.
Porém, neste período ela ainda deu continuidade à coordenação da segunda
pesquisa do LAPIC “O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e
Metáforas”, cuja conclusão ocorreu em dezembro de 2000, o que a fez
continuar atuando oficialmente na ECA até esta data.

       Segundo o professor Claudemir Viana, a visão “apocalíptica” da
professora Elza sobre os efeitos da TV sobre a criança, apresentada em sua
tese de doutorado, foi mudando a partir da sua prática como docente da ECA.
Neste momento, ela se debruçou sobre uma série de questões em torno da
psicologia da comunicação, estudos pontuais sobre a programação televisiva,
sobre o caso do filme “O Pequeno Príncipe”, sobre a literatura infantil,
avançando nos estudos sobre a relação entre a criança e a cultura infantil.




                                                                              8
Lança, então, um livro sobre a cultura e a arte no público infanto-juvenil.
Organiza seminários na ECA sobre esses assuntos; promove cursos de
extensão cultural de muito sucesso na rede pública, chegando a lotar auditórios
e tendo que realizar sessões extras para atender ao público. Assim, a própria
decisão de formar o LAPIC dez anos depois, demonstra uma grande mudança
de visão, bem mais ampla sobre a relação criança e mídia.

4) CRIAÇÃO DO LAPIC

       No final dos anos 90, a ECA passou por uma reestruturação
departamental. O Departamento de Comunicações e Artes (CCA) sofreu
reformulação nos seus cursos de graduação, pós e extensão. Um dos
resultados dessas mudanças foi o aumento do apoio às pesquisas,
possibilitando a criação de novos Núcleos de Pesquisa.

        Dentro desse contexto surgiu, em 1994, o LAPIC - Laboratório de
Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação – idealizado e organizado
pela professora Elza, e que aglutina, até hoje, pesquisadores de várias
instituições de ensino.

       O LAPIC foi o segundo núcleo/projeto aprovado, após a Revista
“Comunicação e Educação”. A proposta da professora Elza foi a de transformar
o LAPEG - Laboratório de Apoio Pedagógico aos Estudantes de Comunicação,
de caráter mais pedagógico de apoio aos estudantes, em LAPIC - Laboratório
de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação, que ia ao encontro de
seus ideais do doutorado sobre a relação criança e mídia.

      Os principais objetivos do LAPIC, extraídas de seus estatutos são:

       - Realizar pesquisas que visem à produção de novos conhecimentos e o
desenvolvimento de novos paradigmas para o estudo das mediações no
processo de recepção, da leitura crítica e na análise de conteúdo da produção
cultural para a infância, com a participação integrada de pesquisadores de
várias instituições acadêmicas;

       - Colaborar na formação de novos pesquisadores na área de
Comunicação/Educação e Tecnologia, a partir de alunos bolsistas de Iniciação
Científica;

        - Desenvolver grupos de estudos avançados com especialistas que já
tenham produzido trabalhos sobre representações da infância, a fim de abrir
espaço para a discussão acadêmica e a sistematização de temas conjunturais
relevantes para a integração Universidade/Escola/Sociedade: "Mais do que
integrar academia, escola e sociedade, o LAPIC discute a necessidade do
professor - através da Comunicação Social, de seus recursos midiáticos, das
novas linguagens e da mídia eletrônica - trabalhar as disciplinas curriculares a
partir de eixos temáticos globalizados e que fazem parte do cotidiano de uma
sociedade plural, considerando temas como: SAÚDE, que inclui a qualidade do
desenvolvimento físico, emocional, sexual, intelectual, moral e social;
CULTURA, que inclui o conhecimento e respeito pela diversidade cultural


                                                                                9
(incluindo etnias, religiões, ideologia...); EDUCAÇÃO, que não inclui apenas o
direito ao ingresso e permanência na escola (educação democrática), mas o
amor e respeito por tudo que é nosso e do outro, como a cidade, o bairro, a
escola, o clube, as instituições públicas e privadas, as matas (...); TRABALHO,
que sem opressão, permita a satisfação das necessidades básicas; LAZER,
não apenas para o descanso dos fins de semana, mas para o desenvolvimento
da criatividade. Só uma educação, formal ou informal, que considere esses
eixos temáticos, como "fins" e como "meios", estará possibilitando a formação
do cidadão consciente e crítico dos seus direitos e responsabilidades,
permitindo-lhes assim, a análise crítica da realidade para que seja co-
participante das transformações sociais" (Pacheco, 1998:10).

       Segundo Claudemir Viana, o LAPIC surge como proposta, mostrando
uma visão ampliada da professora Elza Dias Pacheco dez anos depois do seu
doutorado, desse percurso dela como docente, pesquisadora e orientadora.
       Trata-se uma visão dentro de um outro contexto acadêmico: o do próprio
departamento, que havia criado uma linha de pesquisa chamada Comunicação
e Educação. Esse contexto deve ser entendido como próprio da época, porém,
com seus enfoques, objetivos e limitações. Foi o caso de destacar a televisão
como o meio em questão na análise da primeira pesquisa, o que trouxe uma
série de inovações na recepção infantil, enquanto pesquisa integrada.

       O LAPIC foi pioneiro no Brasil em pesquisas sobre crianças envolvendo
a comunicação e o imaginário infantil. O núcleo vem colaborando com o
processo educomunicativo da criança com a mídia, através do enfoque na
recepção infantil, um diferencial. Há ONGs que dirigem suas preocupações ao
aspecto mercadológico, ao conteúdo voltado para as crianças ou
desenvolvidos por elas, aos espaços na mídia dedicados ao universo infantil;
mas sempre através da análise do conteúdo ou da produção - casos da ANDI e
da Midiativa. Por isso, os estudos realizados pelo LAPIC relacionados à
recepção e ao imaginário infantil têm atraído o interesse de pesquisadores de
todo o país e também do exterior.


5) "TELEVISÃO, CRIANÇA E IMAGINÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A
INTEGRAÇÃO ESCOLA/UNIVERSIDADE/SOCIEDADE"

       Seqüencialmente, a pesquisadora formou um grupo para elaborar a
proposta da primeira pesquisa integrada, a fim de conseguir financiamento
público para o seu desenvolvimento. De 1994 a 1997, o LAPIC, com a
subvenção do CNPq, realizou a Pesquisa "Televisão, Criança e Imaginário:
contribuições para a Integração Escola/Universidade/Sociedade".

      A pesquisa necessitava de uma grande verba, por sua longa duração
(04 anos), pela quantidade de crianças a serem pesquisadas (mais de 700), e
pelo grande número de bolsistas. Conseguir financiamento não foi tarefa fácil,
pois nos anos 90 havia uma maior valorização das pesquisas das ciências
exatas e biológicas, além do fato do CNPQ não estar tão habituado a financiar
pesquisas integradas. Contudo, o tema foi considerado de grande importância
na época devido à estruturação da proposta de pesquisa.


                                                                            10
Por conta desse primeiro trabalho, o LAPIC durante muito tempo
desenvolveu mais pesquisas voltadas ao estudo da relação das crianças com a
televisão. Assim, em 1995, o CNPQ autorizou um financiamento de apoio de
estrutura (02 salas no prédio principal da ECA, 02 computadores e em torno de
12 bolsistas). Ocorreu então um aumento do núcleo: além da coordenadora
geral, professora Elza, havia uma coordenadora auxiliar, profa. Dra. Lígia
Assumpção Amaral (da área de psicologia da USP), um grupo grande de
aperfeiçoamento (com bolsistas graduados) e outro de iniciação científica (com
estudantes de graduação da ECA).

5.1) Metodologia

        Essa primeira pesquisa foi bastante formal, baseada em questionário
semi-aberto. O mapeamento da recepção infantil se deu através do estudo
histórico da cultura de todos os bairros nos quais as escolas pesquisadas
estavam localizadas. Só assim seria possível entender como a TV, durante
esse processo de urbanização, tornou-se importante dentro do contexto lúdico
da criança.

       Foi levantada a história da cultura religiosa dos bairros, da cultura rural e
de como essa cultura foi se transformando com o processo de urbanização.
Dentre os bairros estudados destacam-se: Brás, Mooca, Bexiga, Ipiranga,
Butantã, Lapa e Barra Funda, desde o século XVII até o século XX. Essa
pesquisa trouxe uma série de resultados, convivendo com vários empecilhos
financeiros e burocráticos. Resultou em três volumes com mais de 900
páginas, com todo o contexto histórico e cultural da cidade, das escolas, das
famílias das crianças, principalmente da terceira idade para fazer um resgate
oral de como era o lúdico e as brincadeiras naquele bairro, e uma
sistematização inicial da fala das crianças sobre suas preferências televisivas.

       Na verdade, essa primeira pesquisa não se aprofundou na análise da
fala da criança ou da produção televisiva para a criança, mas se preocupou,
essencialmente, em fazer um grande mapeamento sobre quem é essa criança,
como se torna sujeito frente à programação televisiva, e o que é a televisão
como um meio de exercício lúdico para a criança, em razão de um contexto
sócio-urbano, sempre levando em consideração a cultura que a envolvia.

5.2) Conclusões e Resultados

      A escolha da televisão como principal objeto das pesquisas posteriores
do LAPIC foi resultado dessa primeira pesquisa. Através desses instrumentos,
o LAPIC constatou que A TV é o meio mais presente no cotidiano infantil.
Antigamente o rádio já dispensava alguma atenção ao público infantil, mas foi a
TV o primeiro grande meio de comunicação de massa que obteve importância
para a vida da criança, e ela própria manifesta isso. Esse dado também era
evidente tanto na tese de doutorado da profa. Elza, quanto durante os
atendimentos a crianças em sua época de fonoaudióloga.

      Dentre as conclusões alcançadas estão a desmistificação de
estereótipos de que a criança assistia somente uma programação destinada a


                                                                                 11
ela; a prova de que a criança em idade escolar tem, sim, opinião a respeito da
TV, e que ela sabe, sim, distinguir ficção de realidade. Além de comprovar que
a criança considera a programação televisiva como um espaço lúdico,
relacionando o conteúdo apresentado com diversos outros elementos,
expressando isso fisicamente e verbalmente ao brincar, sendo o sujeito da
interação, recriando os seus sentidos a partir do seu próprio contexto.

       O principal resultado de todo esse complexo trabalho foi um ensaio
destinado aos professores da rede pública sobre a televisão e a criança. Foi
um subproduto da pesquisa, financiado pelo CNPQ, distribuído gratuitamente
durante as palestras organizadas pelo LAPIC. Esse ensaio mostra ao professor
como utilizar os programas televisivos, separados em diferentes gêneros, no
ensino de diversos conteúdos.




6) “O DESENHO ANIMADO NA TEVÊ: MITOS, SÍMBOLOS E METÁFORAS”.

       Iniciada em 1998, a segunda pesquisa integrada do LAPIC se propôs a
analisar a representação infantil por meio dos desenhos animados. Enquanto a
primeira objetivou um mapeamento das preferências do público infantil no que
concerne à programação televisiva, esta fez o recorte de gênero e procurou
entender as razões pelas quais um determinado desenho alcançava
popularidade entre as crianças. O interesse principal era desvendar o papel do
desenho animado no desenvolvimento do imaginário infantil.

       Nesse sentido, o LAPIC inovou ao trazer referenciais teóricos da
psicanálise para os estudos de recepção, pois se fazia necessário interpretar o
discurso das crianças no que diz respeito ao conteúdo de cada desenho
analisado. O resultado da pesquisa só foi alcançado devido ao fato de ter sido
feita uma análise de conteúdo minuciosa dos cinco desenhos mais citados
pelas crianças, antes de interpretar o significado de suas falas e entender as
mediações implicadas no processo de recepção.

6.1) Metodologia

      Para alcançar as metas e comprovar a hipótese de que o desenho
animado traz uma série de mitos, símbolos e metáforas que possibilitam
entender sua atuação junto ao desenvolvimento infantil, o LAPIC formou um
grupo heterogêneo de pesquisadores, composto por estudantes de Teatro,
Pedagogia, Rádio, TV e Ciências Sociais, responsável por um método de
pesquisa de campo considerado inovador pelo fato de unir as especialidades
de cada um objetivando a coleta de dados.

       O método, de corte educomunicativo, consistia em abordar as crianças
em lugares informais, em que elas sentissem liberdade para se expressarem
de maneira natural. Para isso, foram escolhidos cinco parques públicos em
diferentes regiões da cidade de São Paulo: Ipiranga, Aclimação, Água Branca,



                                                                            12
Ibirapuera e Parque da Previdência. A coleta era realizada aos domingos, dia
de maior movimento nestes locais.

       A equipe de pesquisadores entrava no parque, parte vestida de palhaço,
parte portando instrumentos musicais ou registrando o trabalho com uma
filmadora. Cantavam músicas infantis populares de modo a atrair as crianças
para a encenação dos palhaços que dialogavam entre si e interagiam com a
platéia que se formava. Um dos palhaços se referia ao momento de lazer que
todos tinham naquele momento no parque, mas o outro dizia que apesar de
gostar do lugar, preferia estar em casa assistindo a desenhos animados. E
interagia então com a platéia, perguntando se alguém havia assistido um
determinado desenho animado.

       Ao chegar este momento, a equipe se dirigia a seu público com
gravadores de mão e aplicava um questionário que consistia basicamente em
saber o nome e a idade da criança, se esta assistia televisão, se gostava de
desenhos animados, quais os preferidos, a razão pela preferência e se gostaria
de falar algo a respeito deste desenho.
       Este procedimento resultou em 311 falas utilizáveis, que foram
transcritas e categorizadas de acordo com idade, sexo e desenho animado.


6.2) Os cinco desenhos mais citados

      Dentre os 176 desenhos mencionados durante a pesquisa de campo, os
cinco mais citados passaram por uma análise de conteúdo. A equipe de
pesquisadores foi surpreendida pelo fato de o “Pica-Pau” continuar o preferido
das crianças, passados 17 anos do doutorado da Professora Elza Dias
Pacheco, defendido em 1981 e publicado em 1985.

       Os outros desenhos mais citados foram nesta ordem: “Pernalonga”,
“Pateta”, “O Máskara”, deixando em quinto lugar uma outra surpresa para os
pesquisadores: “Yu Yu Hakusho”, desenho animado japonês, na época exibido
pela extinta TV Manchete, que segue uma outra linha estética e de narrativa.

       Estes cinco desenhos foram submetidos a uma detalhada análise da
narratividade, levando-se em conta elementos das linguagens cinematográfica,
do desenho animado norte-americano e do desenho animado japonês.
Aspectos das culturas norte-americana e japonesa foram estudados para que
fosse possível entender os recursos utilizados na linguagem cinematográfica
de cada um.

      Após a análise de conteúdo dos desenhos, passou-se à análise de
conteúdo das falas das crianças, por meio de referenciais teóricos não só da
comunicação, mas também da psicanálise, como Freud e Jung.
      Feito o estudo do meio e do sujeito, a última fase da pesquisa
caracteriza-se pela análise de recepção propriamente dita: o cruzamento do
conteúdo com a interpretação da criança sobre o mesmo.




                                                                           13
6.3) Conclusão – A criança e a noção de violência

       “O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e Metáforas” revelou
que a criança reelabora todo e qualquer conteúdo. Nem sempre o significado
atribuído a um determinado conteúdo é o que ele realmente expressa e nem
sempre atribui o mesmo sentido que o adulto no que se refere a determinados
elementos veiculados.

        Um exemplo desta conclusão é o significado da violência. O que para
um adulto pode ser considerado conteúdo violento, pode ter um outro
significado para a criança. Isso fica claro ao contrapor o conteúdo do desenho
animado “Yu Yu Hakusho” à fala das crianças. O que para os pesquisadores
era algo violento, para as crianças era um exemplo de heroísmo, pois a
narrativa central da atração é a história de um grupo de jovens da Terra com
poderes sobrenaturais que utilizavam estes poderes para se defender de um
outro grupo de jovens que ameaçavam o planeta.

       O mito do herói foi identificado em quase todas as narrativas de
preferência das crianças. Por esse motivo, os desenhos trazem algo essencial
para a construção da personalidade e da identidade infantil: Trata-se da
confiança em si mesmo. É se projetando em histórias, principalmente em
personagens do bem, que vencem o mal, que as crianças aprendem a lidar
com seus instintos. Segundo Viana, “a pesquisa verificou que as problemáticas
abordadas se relacionavam com processos da psiquê humana, dentre as
quais, a evolução dos instintos. O indivíduo ao nascer, passa por um processo
de conscientização da existência destes instintos para aprender a lidar com
eles. Passa também por um processo inconsciente de canalizar essa energia
própria e aplicá-la em situações socialmente aceitas. É o caso do ato de
brincar, que nada mais é do que uma forma que a criança tem de perceber a
realidade, lidando com seus instintos. Logo, ela também é violenta, tal como o
adulto, pois a violência é inerente ao ser humano”.

       O resultado desta pesquisa trouxe à discussão um tema recorrente na
mídia e no discurso escolar conservador: a hipótese de que a exposição a um
conteúdo violento pode transformar uma criança em um adulto violento. Nesse
sentido, “O desenho animado na tevê: mitos, símbolos e metáforas”,
desmistifica tal discurso do senso comum ao mostrar que o ser humano,
independentemente dos meios de comunicação, sempre teve, em seu
processo de desenvolvimento, que aprender a lidar com seus instintos de
violência.

       O desenho animado pode, portanto, servir como catarse de uma
violência natural que a criança tenta compreender. De acordo com o estudo,
somente a recepção de um conteúdo midiático não torna uma pessoa violenta.
Há que se analisar o contexto sócio-cultural de cada um. São as mediações.

       A pesquisa também ajudou a explicar as razões pelas quais o desenho
“Pica-Pau”, faz sucesso por gerações. Segundo o Professor Claudemir Viana,
este programa oferece uma narrativa que facilita a projeção da criança no
personagem principal, um ser aparentemente frágil que, ao se sentir


                                                                           14
ameaçado, utiliza a astúcia para escapar da situação-problema: “Para o adulto,
o Pica-Pau é vilão, pois o adulto tem uma visão moralista. Para a criança, é o
herói, pois faz o que toda criança gostaria de fazer: defender-se da violência de
seu próprio contexto”, diz, referindo-se não somente à violência física, mas
também a simbólica, como as imposições e repreensões dos pais.

7) LAPIC e NCE

       Em outubro de 2001, houve um incêndio na ECA, fato que impossibilitou
o funcionamento do NCE no espaço que ocupava no prédio central da Escola.
O acidente veio, contudo, aproximar o Núcleo de outro organismo de pesquisa
da unidade, o LAPIC, levando em conta que a administração definiu que a
melhor solução diante das dificuldades de espaço seria ambos ocuparem uma
mesma sala, no Bloco 9, um dos barracões existentes no espaço em frente à
ECA, do lado oposto da Rua Prof. Lucio Martins Rodrigues.

        A principal atividade conjunta entre o NCE e o LAPIC ocorreu através da
participação de pesquisadores do Laboratório num dos projetos que o NCE
dava início, na ocasião, o Educom.rádio. Foi desta forma que – com a anuência
da Profa Elza - os pesquisadores Claudemir Viana, Jurema Brasil e Milada
Tornarelli aceitaram convite do Prof. Ismar de Oliveira Soares para integrar a
equipe que assumiria a primeira fase do Educom.

       Esse projeto tinha como objetivo colaborar com a Prefeitura de São
Paulo no sentido de reduzir os índices de violência nas escolas públicas
através da formação de um grupo de 25 docentes, alunos e membros das
comunidades educativas, em cada uma das 455 escolas do ensino
fundamental, mediante a implantação de procedimentos educomunicativos. A
linguagem radiofônica foi a escolhida para que as equipes pudessem dominar
um dos recursos da comunicação que em projetos desenvolvidos em outros
países, como a África do Sul, e mesmo no Brasil, vinha demonstrando seu
potencial no sentido de aumentar a auto-estima e a confiança dos jovens,
garantindo condições para um diálogo com seus professores e pais.

       Ainda que a proposta estivesse clara na mente de seu idealizador, o
Prof.Ismar de Oliveira Soares, bem como da equipe que o acompanhou, no
primeiro momento, especialmente de suas orientandas Patrícia Horta e Grácia
Lopes, não contava, o NCE, com uma equipe com autonomia suficiente para
implementar um trabalho de tamanha envergadura. É preciso lembrar que,
somente na primeira fase do projeto (segundo semestre de 2001) estariam
sendo envolvidas no projeto um total de 26 escolas, o que significava um
público de 312 professores, 260 alunos e 78 membros das comunidades
educativas, para o que o NCE necessitava contar com aproximadamente 40
capacitadores.

       Foi neste momento que o trio gestor do projeto (Professor Ismar, Patrícia
e Grácia) entenderam a importância de contar com pesquisadores experientes
no trabalho pedagógico, o que era o caso dos pesquisadores orientados pela
Profa Elza Pacheco.


                                                                              15
Claudemir Viana recorda-se deste início, explicando: “Alguns desafios
foram lançados, pois era um projeto de grandes proporções e necessitava de
diversos elementos tanto técnicos quanto humanos. Alguns problemas foram
surgindo como a falta de materiais para montar as rádios ou pelo menos a
captação de som. Estes equipamentos foram prometidos pela prefeitura, porém
não chegaram durante a realização do curso, obrigando a equipe a improvisar
através do uso de gravadores de mão. Mesmo assim, os trabalhos foram
aumentando e o projeto ganhou proporção, estruturando-se. A falta de recursos
já não era um grande problema para a continuação dos trabalhos e o
conhecimento da equipe sobre Educomunicação foi sendo modelado durante a
realização do projeto, levando em conta que todo o trabalho realizado dava-se
de modo integrado, e os promotores (mediadores) dedicavam parte substancial
de seu tempo em reuniões de formação, na própria ECA”5.

       O Professor Claudemir manteve-se fiel ao Educom.rádio em todas as
sete fases do projeto (do segundo semestre de 2001 ao final do segundo
semestre de 2004), oferecendo, inicialmente, sua contribuição como
“Articulador”, ou coordenador de um dos pólos em que a capacitação ocorria,
aos sábados e, a partir da quinta fase, como um dos coordenadores de
formação das equipes, com parceria com Ana Marotto.

       Claudemir fala com entusiasmo do projeto: “Foi criado um Conselho
Gestor formado pelos coordenadores das várias áreas do projeto: formação e
capacitação da equipe de mediadores, comunicação, memória audiovisual,
administração do site, finanças. Uma das tarefas dos coordenadores
pedagógicos, solicitada pelo Prof. Ismar, foi a elaboração de um planejamento
antecipado. Nesse sentido, os articuladores e mediadores, recebiam no início
do semestre a seqüência das atividades a serem desenvolvidas a cada
sábado. Sob a coordenação geral de Patrícia Horta, foi formado um mutirão
para produzir todos os materiais que serviriam como suporte para o trabalho
das equipes. Foi assim que as teorias ligadas ao tema Educomunicação
ganharam força junto à equipe. Todos do NCE trabalharam demasiadamente
com encontros aos sábados para treinamento de equipes e sua capacitação.
Foram formados e-groups para cada uma das 17 turmas de formadores, uma
novidade na época, permitindo que todos os formadores se conversassem
durante a semana visando a otimização do processo das aulas. Assim, os
encontros passaram a permitir vivências das propostas. Essa produção coletiva
gerou os Simpósios de Educomunicação, realizados ao final de cada semestre,
mantendo todas as equipes do projeto sintonizadas com um mesmo tema”.

      Claudmir lembra que o Educom.Rádio chegou a ser matéria do Jornal da
Globo, em meados de 2004, em que a repórter Sandra Moreyra afirmava:
“Nesta escola (EMEF Carlos Pasquale), 10 jovens educomunicadores
formaram outros, que formaram outros, e agora são 400 especialistas em rádio,
educação e cidadania”.



5
 - A cada semestre os integrantes da equipe dedicavam 100 horas de trabalho para atender os cursistas,
nos pólos, aos sábados, durante 8 horas. Dedicavam outras 60 horas para sua auto-formação, na ECA, o
que incluía três horas semanais para avaliação e preparação das ações em desenvolvimento.


                                                                                                     16
Segundo o que testemunha Claudemir, é possível concluir que a
Educomunicação acabou sendo incorporada à rotina do LAPIC, que, por sua
vez, através de três de seus integrantes, ofereceu uma rica contribuição ao
trabalho do NCE.


8) O LAPIC hoje

       O LAPIC sempre representou um modo de continuar as pesquisas
propostas ou orientadas pela professora Elza Dias Pacheco. Mesmo com sua
aposentadoria, em 2000, ela continuou atuando indiretamente no núcleo como
orientadora de dois últimos doutorandos e dando seu aval para os projetos
desenvolvidos por seus ex-orientandos Claudemir Viana, Luri Yanaze, Jurema
Xavier, Paulo Vasconcelos, entre outros.

       Esses pesquisadores são voluntários já que, devido à aposentadoria da
fundadora, os financiamentos através de órgãos de pesquisas ficaram
praticamente inviabilizados. Mesmo assim, essa atuação garante as novas
produções do LAPIC, como um vídeo sobre o núcleo e cursos rápidos de
capacitação de alunos nas escolas, existindo inclusive atendimento ao público,
vendas de ensaios, bem como algumas publicações.

       Além disso, o LAPIC está propondo um curso de extensão cultural de
20h sobre “Criança e Mídia”, com 8 encontros. Com vários temas, cada
encontro seria ministrado por um integrante do núcleo. A abordagem será a
relação Criança e Mídia, em diversos segmentos como Psicologia, Sociologia,
entre outros campos. Esse projeto está em tramitação como curso de
aprimoramento ou aperfeiçoamento. O Laboratório pretende, ainda, transformar
seu site e publicar o livro “O cotidiano infantil violento”, resultado dos últimos
seminários promovidos pelo LAPIC.

      Com isso, o Prof. Claudemir e os demais ex-orientando da Profa Alza
pretendem continuar oferecendo uma contribuição específica ao
desenvolvimento dos estudos sobre a relação entre a criança e os meios de
comunicação, alimentando, com      os resultados de suas pesquisas a
perspectiva educomunicativa do trabalho de seu maior aliado na Escola, o
NCE.


9) ORIENTANDOS

       Foram diversas orientações de Mestrado e Doutorado nesse longo
percurso como atuante pesquisadora e livre-docente. A professora Elza Dias
Pacheco sempre propôs um diálogo com outras áreas visando o alto grau da
compreensão crítica aos problemas encontrados no universo infantil. Extraído
de seu currículo lattes, segue relação com nomes de seus orientandos e as
áticas de pesquisas trabalhadas.




                                                                               17
Mestrado:

       - Milada Tornarelli. “Panorama da Comunicação através dos contos de
fadas: A Bela Adormecida”. 2004. 176 f. Dissertação.
       - Jurema Brasil Xavier. “A relação entre Tecnologias da Comunicação e
Educação na Perspectiva da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos” -
1944/1994. 2002. Dissertação.
       - Márcia Aparecida Giuzi Mareuse. “50 Anos de Desenho Animado na
Televisão Brasileira”. 2002. Dissertação.
       - Alexandre Dias Paza. “A Infância Capturada: o mito de Mid(í)as”.
2002. Dissertação.
       - Raimundo Nonato Silva Câmara. “A Inserção do Programa Castelo
Ra-Tim-Bum, nos propósitos da TV Cultura, a partir de sua produção, estrutura
e conteúdo”. 2001. Dissertação.
       - Claudemir Edson Viana. “O Processo Educomunicacional a Mídia na
Escola”. 2000. Dissertação
       - Carla Rosa Loureiro. “Representação Social dos Professores
Capacitandos do Programa de Educação Continuada (PEC) sob a luz da LDB
9394/96”. 2000. Dissertação.
       - Paulo Alexandre Cordeiro Vasconcelos. “Uma Abordagem
Piagetiana do Jogo”. 1994. Dissertação.
       - Rita de Cassia S.L. Vasquez. “Análise do Conteúdo de Programas
Infanto-Juvenis quanto a Influência de Ídolos e Mitos no Comportamento em
geral”. 1994. Dissertação
       - Sophia C. de Covo. “Comunicação, Arte e Educação: A Magia da
Descoberta dos Sons e das Imagens”. 1991.
       - Sonia C. Castaneda. “A Análise do Papel Social da Mulher e Sua
Evolução No Desenho Animado”. 1990. Dissertação.
       - Sylene Castejon Guerra Vieira. “Os Nove Heróis da Tapeçaria:
Prática Social Com Mulheres da Periferia. 1990”. Dissertação.
       - Sara Rosenberg. “Criança e Seu Espaço de Brincar”. 1990.
Dissertação.
       - Doris Fagundes Haussen. “Rádio e Criança: Um estudo sobre a
ausência de programação infantil nas emissoras de Porto Alegre. 1989.
Dissertação.

      Doutorado:

       - Claudemir Edson Viana. “O lúdico e a aprendizagem na cibercultura:
jogos digitais e internet no cotidiano infantil”. 2005.
       - Liriam Luri Yamaguchi Yanaze. “As representações Sociais do
receptor infantil de duas escolas da cidade de São Paulo, a partir dos
comerciais de TV”. 2005. 476 f. Tese
       - José Luiz Cecherello. “A utilização da Multimídia como ferramenta de
expressão da ficção do Lúdico e do Imaginário”. 1998. Tese
       - Paulo Alexandre Vasconcelos. “Jean Baudrillard - Comunicação e
Psicanálise, uma contribuição aos estudos de comunicação”. 1995. Tese.
       - Cleide Marly Nebias. “Ciclo Básico e Democratização do Ensino: do
Discurso dos Programas às Representações”. 1990. Tese.



                                                                          18
- Maria Ângela Barbato Carneiro. “Estratégias Alternativas e Criativas
em sala de aula”. 1990. Tese
      - Sideney Carlos Aznar. “Vinheta: do Pergaminho ao Vídeo”. 1990.
Tese

10) Considerações finais

       A partir da investigação da trajetória da vida pessoal, acadêmica e
profissional da Professora Elza Dias Pacheco foi possível identificar referências
à Educomunicação, sem que ela se apropriasse claramente do termo em suas
pesquisas, obras e estudos.

       Uma primeira aproximação importante com o termo acontece quando,
em sua tese de doutorado, passa a trabalhar como a criança recebe as
informações transmitidas pela televisão. Ou seja, a partir do momento em que
Pacheco, como mãe, educadora e psicóloga, começa a se preocupar não só
com a influência da televisão no desenvolvimento da criança, mas, sobretudo,
quando começa a questionar de que forma a televisão poderá ser trabalhada a
favor da sua própria aprendizagem.

       Um forte exemplo dessa preocupação foi a elaboração do ensaio
“Televisão, criança e imaginário: contribuições para a integração escola-
universidade-sociedade”, destinado aos professores da rede pública. Este
trabalho foi resultado da pesquisa integrada, realizada no LAPIC, juntamente
com o Departamento de Tecnologia do Centro de Educação da PUC/SP, sob
financiamento do CNPQ, no período de março de 1994 até fevereiro de 1997.

        O ensaio apresenta uma caracterização concisa de 12 programas
televisivos indicados pelas crianças, nos quais as verbalizações e as estruturas
dos mesmos são analisadas conforme os gêneros televisivos a que pertencem.
A seguir os que gêneros que foram utilizados: telenovela, programas infantis e
desenhos animados.

       A finalidade principal do ensaio foi a de sensibilizar os profissionais da
área da Educação sobre a importância de trabalhar a televisão na sala de aula
a fim de ampliar e motivar o trabalho educacional. Afirmava, na ocasião,
Pacheco: “Considero que a televisão é muito importante na escola,
importantíssima para o currículo escolar. Mas você não precisa
necessariamente ter na escola o aparelho televisão, porque não tem criança
que não assista televisão em casa. Você pode chegar na escola e perguntar
para turma toda o que assistiram ontem. É capaz de todo mundo ter assistido a
mesma coisa, por possuírem a mesma faixa etária. A televisão serve de
referência para o professor desenvolver a sua aula de português, geografia etc.
Mas eu penso que Educação é responsabilidade minha, do pai e da mãe. Não
é responsabilidade da televisão, ela põe no ar o que dá ibope, o que dá ibope é
porcaria”.

      Enfim, durante a realização desse trabalho sobre a profa. Elza, o que
mais transpareceu foi que ela não faz distinção entre o uso do termo
Comunicação e Educação e Educomunicação. Para ela, o mais importante é


                                                                              19
que essa relação se estabeleça de alguma forma, já que os meios de
comunicação, em especial a televisão, mantêm uma comunicação com a
criança que não pode ser ignorada tanto no que diz respeito ao processo de
aprendizagem como enquanto recurso para que o professor atue melhor na
sala de aula.

       Assim, entendemos que a Educomunicação está a serviço das
pesquisas de Recepção e vice-versa, já que em um é possível esclarecer a
construção do discurso midiático, enquanto noutro é possível visualizar os
efeitos e possíveis impactos causados pela mídia.


Referências bibliográficas

PACHECO, E.D. Televisão, Criança, Imaginário e Educação: Dilemas e
Diálogos. "Paper" apresentado no "Salão Internacional do Livro de São Paulo,
1999, Expo Center Norte, Brasil. Disponível em:
http://www.aurora.ufsc.br/artigos/artigos_alfabeto_TV.htm.

 PACHECO, E. D. Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas e
diálogos. Campinas, Papyrus, 1998.

 PACHECO, E. D. O Pica-pau: herói ou vilão: representação social da criança e
reprodução da ideologia dominante. São Paulo, Loyola, 1985.

“O LAPIC conta a sua história”, 2004. Em VHS. Vídeo que conta a trajetória do
LAPIC.




                                                                           20

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Elza dias pacheco, 14 nov 2006 b

  • 1. ELZA DIAS PACHECO Carla Daniela Rabelo Rodrigues, Carolina Escobar, Paula Hernandes Barrozo, Renata Yumi Shimabukuro 3
  • 2. Sumário 1) Introdução...................................................................................pág. 03 2) Idéia Força .................................................................................pág. 04 3) Trajetória ....................................................................................pág. 06 4) Criação do LAPIC.......................................................................pág. 10 5) Televisão, criança e imaginário..................................................pág.12 5.1) Metodologia..................................................................pág.13 5.2) Conclusões e Resultados..............................................pág.14 6) O desenho animado na Tevê: mitos, símbolos e metáforas.........pág.15 6.1) Metodologia...................................................................pág.15 6.2) Os cinco desenhos mais citados....................................pág.16 6.3) Conclusão: a criança e a noção de violência..................pág.17 7) Lapic e NCE.................................................................................pág.19 8) O Lapic hoje ................................................................................pág.23 9) Orientandos..................................................................................pág.24 10) Considerações Finais..................................................................pág.27 11) Referências.................................................................................pág.29 4
  • 3. 1) INTRODUÇÃO Para percorrer a história acadêmica e profissional da Professora Elza Dias Pacheco é preciso, antes de tudo, reconhecer – com a pesquisadora – a condição de sujeito atribuída à criança, com identidade formada, para, somente então, desvendar, sem pré-julgamentos, o universo infantil: “Para conhecer a criança não adianta lermos livros de Psicologia, de Psicanálise, ou de qualquer das outras ciências humanas. Precisamos, antes, conhecê-la nos vários lugares onde se encontra, em seus vários espaços, os mais diferentes possíveis, nos vários tempos de sua vida”, comenta Pacheco no vídeo “O LAPIC conta a sua história”1. Esta idéia, na verdade, passou a representar a essência do trabalho da fonoaudióloga, pedagoga, psicóloga, comunicadora e, por que não dizer também, educomunicadora! Buscamos, neste trabalho, traçar a trajetória de uma pesquisadora determinada, que trouxe muitas contribuições para os estudos sobre a infância que qualquer outro pesquisador da ECA-USP. A elaboração deste artigo teve sua base estabelecida em algumas de seus depoimentos e publicações e, principalmente, nas palavras do professor Claudemir Edson Viana2, seu orientando no mestrado e no doutorado. 2) IDÉIA FORÇA Dentre os temas de pesquisa na área hoje denominada de educomunicação, no programa de pós-graduação da ECA/USP, destaca-se o pioneirismo da professora Dra. Elza Dias Pacheco ao tratar da recepção infantil, trazendo a criança e sua programação favorita, em especial os 1 Vídeo produzido em VHS pelo LAPIC no ano de 2004, a fim de preservar a memória do núcleo de pesquisas. 2 - Após a aposentadoria da Profa. Elza Pacheco, seus orientandos, preocupados em dar seguimento às pesquisas iniciadas pelo LAPIC (Laboratório de pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação), trabalham voluntariamente para a manutenção do núcleo e na prestação de serviços a professores da rede pública de ensino e a ONGS ligadas à questão da infância. Na Entrevista que nos concedeu, com o consentimento da Profa. Elza, Claudemir Viana enfatiza toda a trajetória acadêmica de Pacheco, através de suas produções, a fundação do núcleo de pesquisa, a relação com o NCE (Núcleo de Comunicação e Educação), as metodologias das pesquisas desenvolvidas, e, por fim, a relação com a Educomunicação. Viana, além das formações em História e Pedagogia, começou a atuar na área de comunicação quando iniciou sua terceira graduação, em Rádio e TV na ECA/ USP. Na época, já atuava como professor de história para o Ensino Fundamental e Médio. A experiência no âmbito escolar foi um fator importante para que recebesse o convite de Elza Dias Pacheco para integrar o núcleo de pesquisa como projeto de iniciação científica. Na época, o LAPIC precisava de um pesquisador apto para analisar 700 falas de crianças sobre a televisão e a maneira como o meio atuava junto ao imaginário delas. O envolvimento na primeira pesquisa integrada do núcleo, “Televisão, Criança e Imaginário: contribuições para a integração escola, universidade e sociedade”, em 1996, o levou a trancar o curso de graduação em Rádio e TV e se candidatar a uma vaga de mestrado sob a orientação da Professora Elza, na linha de pesquisa em Comunicação e Educação. Nesse mesmo campo, desenvolveu seu doutorado – “O lúdico e a aprendizagem na cibercultura: jogos digitais e internet no cotidiano infantil“ - concluído em 2005. Claudemir é autor da primeira dissertação de mestrado que trabalha o conceito de Educomunicação no Brasil, sob o título: “O Processo Educomunicacional: a mídia na escola”, defendida em 2000. Atualmente, Viana é diretor da Faculdade Montessori (FAMEC) e ministra palestras em nome do LAPIC, como forma de divulgar o trabalho iniciado pela professora Elza Dias Pacheco. Nesse sentido, traçou um painel do pensamento da profa. Elza e de sua trajetória profissional, destacando seu papel no desenvolvimento de trabalhos cujo tema central é a relação da criança com o conteúdo televisivo. 5
  • 4. desenhos animados, para o centro das discussões acadêmicas sobre mídia e educação. Contrária ao senso comum habituado a subestimar a capacidade de discernimento da criança diante da televisão, Pacheco foi precursora ao considerar a criança um sujeito com vontade própria, consciente da programação que escolhe para assistir e totalmente pronta para re-elaborar os conteúdos televisivos dirigidos a ela ou não. Esta foi sua idéia-força. Segundo Viana, Pacheco considera que “a criança recria os significados segundo seus desejos e necessidades, assim como segundo os interesses de conhecimento que ela tenha no momento da recepção. A criança sabe se defender. Ela mesma sabe o que fazer, escondendo, por exemplo, o rosto, sempre que a programação for incompatível com a motivação que ela tenha para continuar assistindo a programação. A criança é mais sábia do que nós. Ela sabe o que assiste, por que assiste, e para que assiste, o que ela retira e o que ela recria de tudo que assiste”. Para Claudemir Viana, foi com esta segurança que a Profa Elza Pacheco, fundou o LAPIC – Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação, em 1994, contribuindo não só para o início, mas principalmente com a continuidade dos estudos sobre a relação entre criança e televisão. 3) TRAJETÓRIA Elza Dias Pacheco nasceu na cidade de São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1928. Iniciou-se na leitura com o livro “O patinho feio”, descobrindo, assim, ainda menina, a literatura infantil. Estudou para ser professora primária na Escola da Praça. Foi lá que ocorreu seu primeiro contato com crianças e o início de seus primeiros questionamentos sobre sua identidade, seu lugar no mundo e sua própria carreira. Nos anos 50, Pacheco ingressou no serviço público, prestou concurso para trabalhar como Jardineira3 e como Recreacionista4 em parque infantil. E foi aprovada nos dois, mas preferiu ser Jardineira por causa de seu maior interesse por crianças pequenas. Como não queria abandonar seus filhos, pois estava acostumada a ver no parque infantil como as crianças sofriam com a ausência da mãe, Pacheco adiou o início de sua carreira acadêmica. Mas nada a impediu que, nos anos 60, fizesse especialização em Educação de Excepcionais e em Fonoaudiologia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e, ainda na mesma universidade, concluísse a graduação em Pedagogia. Envolvida cada vez mais com o universo infantil, montou um consultório cujo foco passou a ser o tratamento da Dislexia. Um tipo de distúrbio de linguagem, que se manifesta tanto na linguagem oral quanto na linguagem escrita. E foi exatamente a paixão pelo estudo da Dislexia que a levou a defender, em 1974, a tese de mestrado intitulada “Incidência de erros disortográficos em crianças alfabetizadas por diferentes métodos”, 3 Jardineira era a profissional que tomava conta das crianças de um a sete anos de idade. 4 Recreacionista era a profissional que tomava conta das crianças de sete a oito anos. 6
  • 5. introduzindo-a inclusive na área da Psicologia Social. Em paralelo, mais especificamente de 1973 a 1974, trabalhou como professora adjunta da graduação em Psicologia, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, ministrando a disciplina Psicologia da Administração. Professora nata, antes mesmo de concluir o mestrado, Pacheco JÁ ministrava aulas de Psicologia da Comunicação na graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Por ser uma das primeiras professoras da graduação e do programa de pós-graduação, recebeu um Voto de Louvor, em 1985, por parte Conselho do Departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP. No início de sua carreira, simultaneamente à atuação acadêmica, Pacheco continuou com o atendimento a crianças em seu consultório particular que funcionava mais como um laboratório que a possibilitava observar e aprender mais do relacionamento com as crianças. E foi exatamente em seu consultório que começou a perceber o crescente interesse das crianças pela televisão, mais precisamente pelos desenhos animados: “As crianças queriam falar do Pica-pau, do Tom & Jerry e eu não conhecia essas figuras. Achava que era uma falha minha. Foi assim que decidi fazer a tese de doutorado sobre aquilo que as crianças gostavam”. Na verdade, a própria Pacheco ficou inquieta ao definir seu objeto de pesquisa: “Eu fiquei contente quando o Pica-Pau foi escolhido pelas crianças, porque eu pensava que era ‘O sítio do Pica-Pau amarelo´, e não era. Era o Pica-Pau bichinho malandro. E por que elas gostavam? Porque o Pica-Pau é malvado, pica todo mundo. Então, as crianças gostam do Pica-Pau, porque o Pica-Pau é mal em defesa da sua propriedade, do que é seu. Ele luta com unhas dentes para defender o que é seu. É um pensamento típico da sociedade capitalista”. Por isso, sua tese de doutorado - na época, tema de estudo ainda inédito no Brasil -, chamou-se “Pica-pau: herói ou vilão? Representação social da criança e reprodução da ideologia dominante”. Além do pioneirismo do tema, é importante chamar a atenção para os outros dois aspectos inovadores da tese de doutorado defendida, em 1981, pela profa. Elza: a pesquisa foi considerada o primeiro estudo de recepção televisiva tendo como alvo o público infantil desenvolvida no Brasil e também revolucionou na questão do método ao valorizar a criança como fonte de informação ao percebê-la como sujeito. Para se ter uma idéia da importância deste trabalho na vida de Elza Dias Pacheco, ela mesma garante que, tanto a criação da linha de pesquisa “Comunicação e Educação” no programa de pós da ECA quanto outros trabalhos e observações sobre a relação TV e criança elaborados por outros autores foram resultados práticos de sua pesquisa de doutorado. Em fins da década de 80, por sempre manter suas preocupações advindas do estudo da psicologia e da pedagogia, Elza assumiu trabalhos internos com os estudantes da graduação. Assim surgiu o LAPEG - Laboratório de Apoio Pedagógico aos Estudantes de Comunicação, que deu origem à sua 7
  • 6. Livre-Docência na ECA-USP, intitulada “A ECA por dentro e por fora – escola e trabalho: o poder SER e o poder FAZER dos jovens”, que se constituiu em uma denúncia sobre a realidade acadêmica. Em 1990, coordenou o curso de extensão “Comunicação, educação e arte na cultura infanto-juvenil”, para um público de 300 pessoas. Esse evento gerou a publicação do livro de mesmo nome. Como conseqüência da grande repercussão, Elza organizou um segundo curso de extensão com a mesma temática, para o qual se inscreveram 600 profissionais de várias áreas do conhecimento. Em 1991, recebeu uma bolsa do CNPq de Pós-Doutorado, com duração de um ano, para o desenvolvimento da pesquisa "TV e criança: produção cultural, recepção e sociedade", na Universidad Complutense de Madrid – Espanha. Essa pesquisa tinha como objetivo estabelecer um paralelo cultural sobre a relação TV/criança na Espanha e no Brasil: “Fui para Europa para analisar como era o intervalo das crianças de lá, se eles assistiam televisão ou não. E conversando com as crianças das escolas espanholas, descobri que assistiam os mesmos desenhos animados que as brasileiras e os preferidos delas eram os mesmos. A única diferença é que eles assistiam mais desenhos japoneses. Não sei por que também, uma vez que a resposta delas era: porque gostamos”. Até 1996, coordenou na INTERCOM o grupo de trabalho sobre o Imaginário Infantil. E desde então, presta consultoria na área de Ciências da Comunicação para dois importantes órgãos: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ e o Ministério da Educação e do Desporto – MEC. Quando professora livre-docente de dedicação exclusiva à Universidade de São Paulo, ministrava as seguintes disciplinas na pós-graduação da ECA: TV/Criança: uma cultura de lazer ou de alienação?; Infância, Cotidiano e Imaginário Infantil; Meios de Comunicação, Infância e Educação: representações e imaginário social. Atualmente, Pacheco está aposentada, finalizando apenas algumas orientações de doutorado. Sua aposentadoria ocorreu em dezembro de 1998. Porém, neste período ela ainda deu continuidade à coordenação da segunda pesquisa do LAPIC “O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e Metáforas”, cuja conclusão ocorreu em dezembro de 2000, o que a fez continuar atuando oficialmente na ECA até esta data. Segundo o professor Claudemir Viana, a visão “apocalíptica” da professora Elza sobre os efeitos da TV sobre a criança, apresentada em sua tese de doutorado, foi mudando a partir da sua prática como docente da ECA. Neste momento, ela se debruçou sobre uma série de questões em torno da psicologia da comunicação, estudos pontuais sobre a programação televisiva, sobre o caso do filme “O Pequeno Príncipe”, sobre a literatura infantil, avançando nos estudos sobre a relação entre a criança e a cultura infantil. 8
  • 7. Lança, então, um livro sobre a cultura e a arte no público infanto-juvenil. Organiza seminários na ECA sobre esses assuntos; promove cursos de extensão cultural de muito sucesso na rede pública, chegando a lotar auditórios e tendo que realizar sessões extras para atender ao público. Assim, a própria decisão de formar o LAPIC dez anos depois, demonstra uma grande mudança de visão, bem mais ampla sobre a relação criança e mídia. 4) CRIAÇÃO DO LAPIC No final dos anos 90, a ECA passou por uma reestruturação departamental. O Departamento de Comunicações e Artes (CCA) sofreu reformulação nos seus cursos de graduação, pós e extensão. Um dos resultados dessas mudanças foi o aumento do apoio às pesquisas, possibilitando a criação de novos Núcleos de Pesquisa. Dentro desse contexto surgiu, em 1994, o LAPIC - Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação – idealizado e organizado pela professora Elza, e que aglutina, até hoje, pesquisadores de várias instituições de ensino. O LAPIC foi o segundo núcleo/projeto aprovado, após a Revista “Comunicação e Educação”. A proposta da professora Elza foi a de transformar o LAPEG - Laboratório de Apoio Pedagógico aos Estudantes de Comunicação, de caráter mais pedagógico de apoio aos estudantes, em LAPIC - Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação, que ia ao encontro de seus ideais do doutorado sobre a relação criança e mídia. Os principais objetivos do LAPIC, extraídas de seus estatutos são: - Realizar pesquisas que visem à produção de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novos paradigmas para o estudo das mediações no processo de recepção, da leitura crítica e na análise de conteúdo da produção cultural para a infância, com a participação integrada de pesquisadores de várias instituições acadêmicas; - Colaborar na formação de novos pesquisadores na área de Comunicação/Educação e Tecnologia, a partir de alunos bolsistas de Iniciação Científica; - Desenvolver grupos de estudos avançados com especialistas que já tenham produzido trabalhos sobre representações da infância, a fim de abrir espaço para a discussão acadêmica e a sistematização de temas conjunturais relevantes para a integração Universidade/Escola/Sociedade: "Mais do que integrar academia, escola e sociedade, o LAPIC discute a necessidade do professor - através da Comunicação Social, de seus recursos midiáticos, das novas linguagens e da mídia eletrônica - trabalhar as disciplinas curriculares a partir de eixos temáticos globalizados e que fazem parte do cotidiano de uma sociedade plural, considerando temas como: SAÚDE, que inclui a qualidade do desenvolvimento físico, emocional, sexual, intelectual, moral e social; CULTURA, que inclui o conhecimento e respeito pela diversidade cultural 9
  • 8. (incluindo etnias, religiões, ideologia...); EDUCAÇÃO, que não inclui apenas o direito ao ingresso e permanência na escola (educação democrática), mas o amor e respeito por tudo que é nosso e do outro, como a cidade, o bairro, a escola, o clube, as instituições públicas e privadas, as matas (...); TRABALHO, que sem opressão, permita a satisfação das necessidades básicas; LAZER, não apenas para o descanso dos fins de semana, mas para o desenvolvimento da criatividade. Só uma educação, formal ou informal, que considere esses eixos temáticos, como "fins" e como "meios", estará possibilitando a formação do cidadão consciente e crítico dos seus direitos e responsabilidades, permitindo-lhes assim, a análise crítica da realidade para que seja co- participante das transformações sociais" (Pacheco, 1998:10). Segundo Claudemir Viana, o LAPIC surge como proposta, mostrando uma visão ampliada da professora Elza Dias Pacheco dez anos depois do seu doutorado, desse percurso dela como docente, pesquisadora e orientadora. Trata-se uma visão dentro de um outro contexto acadêmico: o do próprio departamento, que havia criado uma linha de pesquisa chamada Comunicação e Educação. Esse contexto deve ser entendido como próprio da época, porém, com seus enfoques, objetivos e limitações. Foi o caso de destacar a televisão como o meio em questão na análise da primeira pesquisa, o que trouxe uma série de inovações na recepção infantil, enquanto pesquisa integrada. O LAPIC foi pioneiro no Brasil em pesquisas sobre crianças envolvendo a comunicação e o imaginário infantil. O núcleo vem colaborando com o processo educomunicativo da criança com a mídia, através do enfoque na recepção infantil, um diferencial. Há ONGs que dirigem suas preocupações ao aspecto mercadológico, ao conteúdo voltado para as crianças ou desenvolvidos por elas, aos espaços na mídia dedicados ao universo infantil; mas sempre através da análise do conteúdo ou da produção - casos da ANDI e da Midiativa. Por isso, os estudos realizados pelo LAPIC relacionados à recepção e ao imaginário infantil têm atraído o interesse de pesquisadores de todo o país e também do exterior. 5) "TELEVISÃO, CRIANÇA E IMAGINÁRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO ESCOLA/UNIVERSIDADE/SOCIEDADE" Seqüencialmente, a pesquisadora formou um grupo para elaborar a proposta da primeira pesquisa integrada, a fim de conseguir financiamento público para o seu desenvolvimento. De 1994 a 1997, o LAPIC, com a subvenção do CNPq, realizou a Pesquisa "Televisão, Criança e Imaginário: contribuições para a Integração Escola/Universidade/Sociedade". A pesquisa necessitava de uma grande verba, por sua longa duração (04 anos), pela quantidade de crianças a serem pesquisadas (mais de 700), e pelo grande número de bolsistas. Conseguir financiamento não foi tarefa fácil, pois nos anos 90 havia uma maior valorização das pesquisas das ciências exatas e biológicas, além do fato do CNPQ não estar tão habituado a financiar pesquisas integradas. Contudo, o tema foi considerado de grande importância na época devido à estruturação da proposta de pesquisa. 10
  • 9. Por conta desse primeiro trabalho, o LAPIC durante muito tempo desenvolveu mais pesquisas voltadas ao estudo da relação das crianças com a televisão. Assim, em 1995, o CNPQ autorizou um financiamento de apoio de estrutura (02 salas no prédio principal da ECA, 02 computadores e em torno de 12 bolsistas). Ocorreu então um aumento do núcleo: além da coordenadora geral, professora Elza, havia uma coordenadora auxiliar, profa. Dra. Lígia Assumpção Amaral (da área de psicologia da USP), um grupo grande de aperfeiçoamento (com bolsistas graduados) e outro de iniciação científica (com estudantes de graduação da ECA). 5.1) Metodologia Essa primeira pesquisa foi bastante formal, baseada em questionário semi-aberto. O mapeamento da recepção infantil se deu através do estudo histórico da cultura de todos os bairros nos quais as escolas pesquisadas estavam localizadas. Só assim seria possível entender como a TV, durante esse processo de urbanização, tornou-se importante dentro do contexto lúdico da criança. Foi levantada a história da cultura religiosa dos bairros, da cultura rural e de como essa cultura foi se transformando com o processo de urbanização. Dentre os bairros estudados destacam-se: Brás, Mooca, Bexiga, Ipiranga, Butantã, Lapa e Barra Funda, desde o século XVII até o século XX. Essa pesquisa trouxe uma série de resultados, convivendo com vários empecilhos financeiros e burocráticos. Resultou em três volumes com mais de 900 páginas, com todo o contexto histórico e cultural da cidade, das escolas, das famílias das crianças, principalmente da terceira idade para fazer um resgate oral de como era o lúdico e as brincadeiras naquele bairro, e uma sistematização inicial da fala das crianças sobre suas preferências televisivas. Na verdade, essa primeira pesquisa não se aprofundou na análise da fala da criança ou da produção televisiva para a criança, mas se preocupou, essencialmente, em fazer um grande mapeamento sobre quem é essa criança, como se torna sujeito frente à programação televisiva, e o que é a televisão como um meio de exercício lúdico para a criança, em razão de um contexto sócio-urbano, sempre levando em consideração a cultura que a envolvia. 5.2) Conclusões e Resultados A escolha da televisão como principal objeto das pesquisas posteriores do LAPIC foi resultado dessa primeira pesquisa. Através desses instrumentos, o LAPIC constatou que A TV é o meio mais presente no cotidiano infantil. Antigamente o rádio já dispensava alguma atenção ao público infantil, mas foi a TV o primeiro grande meio de comunicação de massa que obteve importância para a vida da criança, e ela própria manifesta isso. Esse dado também era evidente tanto na tese de doutorado da profa. Elza, quanto durante os atendimentos a crianças em sua época de fonoaudióloga. Dentre as conclusões alcançadas estão a desmistificação de estereótipos de que a criança assistia somente uma programação destinada a 11
  • 10. ela; a prova de que a criança em idade escolar tem, sim, opinião a respeito da TV, e que ela sabe, sim, distinguir ficção de realidade. Além de comprovar que a criança considera a programação televisiva como um espaço lúdico, relacionando o conteúdo apresentado com diversos outros elementos, expressando isso fisicamente e verbalmente ao brincar, sendo o sujeito da interação, recriando os seus sentidos a partir do seu próprio contexto. O principal resultado de todo esse complexo trabalho foi um ensaio destinado aos professores da rede pública sobre a televisão e a criança. Foi um subproduto da pesquisa, financiado pelo CNPQ, distribuído gratuitamente durante as palestras organizadas pelo LAPIC. Esse ensaio mostra ao professor como utilizar os programas televisivos, separados em diferentes gêneros, no ensino de diversos conteúdos. 6) “O DESENHO ANIMADO NA TEVÊ: MITOS, SÍMBOLOS E METÁFORAS”. Iniciada em 1998, a segunda pesquisa integrada do LAPIC se propôs a analisar a representação infantil por meio dos desenhos animados. Enquanto a primeira objetivou um mapeamento das preferências do público infantil no que concerne à programação televisiva, esta fez o recorte de gênero e procurou entender as razões pelas quais um determinado desenho alcançava popularidade entre as crianças. O interesse principal era desvendar o papel do desenho animado no desenvolvimento do imaginário infantil. Nesse sentido, o LAPIC inovou ao trazer referenciais teóricos da psicanálise para os estudos de recepção, pois se fazia necessário interpretar o discurso das crianças no que diz respeito ao conteúdo de cada desenho analisado. O resultado da pesquisa só foi alcançado devido ao fato de ter sido feita uma análise de conteúdo minuciosa dos cinco desenhos mais citados pelas crianças, antes de interpretar o significado de suas falas e entender as mediações implicadas no processo de recepção. 6.1) Metodologia Para alcançar as metas e comprovar a hipótese de que o desenho animado traz uma série de mitos, símbolos e metáforas que possibilitam entender sua atuação junto ao desenvolvimento infantil, o LAPIC formou um grupo heterogêneo de pesquisadores, composto por estudantes de Teatro, Pedagogia, Rádio, TV e Ciências Sociais, responsável por um método de pesquisa de campo considerado inovador pelo fato de unir as especialidades de cada um objetivando a coleta de dados. O método, de corte educomunicativo, consistia em abordar as crianças em lugares informais, em que elas sentissem liberdade para se expressarem de maneira natural. Para isso, foram escolhidos cinco parques públicos em diferentes regiões da cidade de São Paulo: Ipiranga, Aclimação, Água Branca, 12
  • 11. Ibirapuera e Parque da Previdência. A coleta era realizada aos domingos, dia de maior movimento nestes locais. A equipe de pesquisadores entrava no parque, parte vestida de palhaço, parte portando instrumentos musicais ou registrando o trabalho com uma filmadora. Cantavam músicas infantis populares de modo a atrair as crianças para a encenação dos palhaços que dialogavam entre si e interagiam com a platéia que se formava. Um dos palhaços se referia ao momento de lazer que todos tinham naquele momento no parque, mas o outro dizia que apesar de gostar do lugar, preferia estar em casa assistindo a desenhos animados. E interagia então com a platéia, perguntando se alguém havia assistido um determinado desenho animado. Ao chegar este momento, a equipe se dirigia a seu público com gravadores de mão e aplicava um questionário que consistia basicamente em saber o nome e a idade da criança, se esta assistia televisão, se gostava de desenhos animados, quais os preferidos, a razão pela preferência e se gostaria de falar algo a respeito deste desenho. Este procedimento resultou em 311 falas utilizáveis, que foram transcritas e categorizadas de acordo com idade, sexo e desenho animado. 6.2) Os cinco desenhos mais citados Dentre os 176 desenhos mencionados durante a pesquisa de campo, os cinco mais citados passaram por uma análise de conteúdo. A equipe de pesquisadores foi surpreendida pelo fato de o “Pica-Pau” continuar o preferido das crianças, passados 17 anos do doutorado da Professora Elza Dias Pacheco, defendido em 1981 e publicado em 1985. Os outros desenhos mais citados foram nesta ordem: “Pernalonga”, “Pateta”, “O Máskara”, deixando em quinto lugar uma outra surpresa para os pesquisadores: “Yu Yu Hakusho”, desenho animado japonês, na época exibido pela extinta TV Manchete, que segue uma outra linha estética e de narrativa. Estes cinco desenhos foram submetidos a uma detalhada análise da narratividade, levando-se em conta elementos das linguagens cinematográfica, do desenho animado norte-americano e do desenho animado japonês. Aspectos das culturas norte-americana e japonesa foram estudados para que fosse possível entender os recursos utilizados na linguagem cinematográfica de cada um. Após a análise de conteúdo dos desenhos, passou-se à análise de conteúdo das falas das crianças, por meio de referenciais teóricos não só da comunicação, mas também da psicanálise, como Freud e Jung. Feito o estudo do meio e do sujeito, a última fase da pesquisa caracteriza-se pela análise de recepção propriamente dita: o cruzamento do conteúdo com a interpretação da criança sobre o mesmo. 13
  • 12. 6.3) Conclusão – A criança e a noção de violência “O Desenho Animado na Tevê: Mitos, Símbolos e Metáforas” revelou que a criança reelabora todo e qualquer conteúdo. Nem sempre o significado atribuído a um determinado conteúdo é o que ele realmente expressa e nem sempre atribui o mesmo sentido que o adulto no que se refere a determinados elementos veiculados. Um exemplo desta conclusão é o significado da violência. O que para um adulto pode ser considerado conteúdo violento, pode ter um outro significado para a criança. Isso fica claro ao contrapor o conteúdo do desenho animado “Yu Yu Hakusho” à fala das crianças. O que para os pesquisadores era algo violento, para as crianças era um exemplo de heroísmo, pois a narrativa central da atração é a história de um grupo de jovens da Terra com poderes sobrenaturais que utilizavam estes poderes para se defender de um outro grupo de jovens que ameaçavam o planeta. O mito do herói foi identificado em quase todas as narrativas de preferência das crianças. Por esse motivo, os desenhos trazem algo essencial para a construção da personalidade e da identidade infantil: Trata-se da confiança em si mesmo. É se projetando em histórias, principalmente em personagens do bem, que vencem o mal, que as crianças aprendem a lidar com seus instintos. Segundo Viana, “a pesquisa verificou que as problemáticas abordadas se relacionavam com processos da psiquê humana, dentre as quais, a evolução dos instintos. O indivíduo ao nascer, passa por um processo de conscientização da existência destes instintos para aprender a lidar com eles. Passa também por um processo inconsciente de canalizar essa energia própria e aplicá-la em situações socialmente aceitas. É o caso do ato de brincar, que nada mais é do que uma forma que a criança tem de perceber a realidade, lidando com seus instintos. Logo, ela também é violenta, tal como o adulto, pois a violência é inerente ao ser humano”. O resultado desta pesquisa trouxe à discussão um tema recorrente na mídia e no discurso escolar conservador: a hipótese de que a exposição a um conteúdo violento pode transformar uma criança em um adulto violento. Nesse sentido, “O desenho animado na tevê: mitos, símbolos e metáforas”, desmistifica tal discurso do senso comum ao mostrar que o ser humano, independentemente dos meios de comunicação, sempre teve, em seu processo de desenvolvimento, que aprender a lidar com seus instintos de violência. O desenho animado pode, portanto, servir como catarse de uma violência natural que a criança tenta compreender. De acordo com o estudo, somente a recepção de um conteúdo midiático não torna uma pessoa violenta. Há que se analisar o contexto sócio-cultural de cada um. São as mediações. A pesquisa também ajudou a explicar as razões pelas quais o desenho “Pica-Pau”, faz sucesso por gerações. Segundo o Professor Claudemir Viana, este programa oferece uma narrativa que facilita a projeção da criança no personagem principal, um ser aparentemente frágil que, ao se sentir 14
  • 13. ameaçado, utiliza a astúcia para escapar da situação-problema: “Para o adulto, o Pica-Pau é vilão, pois o adulto tem uma visão moralista. Para a criança, é o herói, pois faz o que toda criança gostaria de fazer: defender-se da violência de seu próprio contexto”, diz, referindo-se não somente à violência física, mas também a simbólica, como as imposições e repreensões dos pais. 7) LAPIC e NCE Em outubro de 2001, houve um incêndio na ECA, fato que impossibilitou o funcionamento do NCE no espaço que ocupava no prédio central da Escola. O acidente veio, contudo, aproximar o Núcleo de outro organismo de pesquisa da unidade, o LAPIC, levando em conta que a administração definiu que a melhor solução diante das dificuldades de espaço seria ambos ocuparem uma mesma sala, no Bloco 9, um dos barracões existentes no espaço em frente à ECA, do lado oposto da Rua Prof. Lucio Martins Rodrigues. A principal atividade conjunta entre o NCE e o LAPIC ocorreu através da participação de pesquisadores do Laboratório num dos projetos que o NCE dava início, na ocasião, o Educom.rádio. Foi desta forma que – com a anuência da Profa Elza - os pesquisadores Claudemir Viana, Jurema Brasil e Milada Tornarelli aceitaram convite do Prof. Ismar de Oliveira Soares para integrar a equipe que assumiria a primeira fase do Educom. Esse projeto tinha como objetivo colaborar com a Prefeitura de São Paulo no sentido de reduzir os índices de violência nas escolas públicas através da formação de um grupo de 25 docentes, alunos e membros das comunidades educativas, em cada uma das 455 escolas do ensino fundamental, mediante a implantação de procedimentos educomunicativos. A linguagem radiofônica foi a escolhida para que as equipes pudessem dominar um dos recursos da comunicação que em projetos desenvolvidos em outros países, como a África do Sul, e mesmo no Brasil, vinha demonstrando seu potencial no sentido de aumentar a auto-estima e a confiança dos jovens, garantindo condições para um diálogo com seus professores e pais. Ainda que a proposta estivesse clara na mente de seu idealizador, o Prof.Ismar de Oliveira Soares, bem como da equipe que o acompanhou, no primeiro momento, especialmente de suas orientandas Patrícia Horta e Grácia Lopes, não contava, o NCE, com uma equipe com autonomia suficiente para implementar um trabalho de tamanha envergadura. É preciso lembrar que, somente na primeira fase do projeto (segundo semestre de 2001) estariam sendo envolvidas no projeto um total de 26 escolas, o que significava um público de 312 professores, 260 alunos e 78 membros das comunidades educativas, para o que o NCE necessitava contar com aproximadamente 40 capacitadores. Foi neste momento que o trio gestor do projeto (Professor Ismar, Patrícia e Grácia) entenderam a importância de contar com pesquisadores experientes no trabalho pedagógico, o que era o caso dos pesquisadores orientados pela Profa Elza Pacheco. 15
  • 14. Claudemir Viana recorda-se deste início, explicando: “Alguns desafios foram lançados, pois era um projeto de grandes proporções e necessitava de diversos elementos tanto técnicos quanto humanos. Alguns problemas foram surgindo como a falta de materiais para montar as rádios ou pelo menos a captação de som. Estes equipamentos foram prometidos pela prefeitura, porém não chegaram durante a realização do curso, obrigando a equipe a improvisar através do uso de gravadores de mão. Mesmo assim, os trabalhos foram aumentando e o projeto ganhou proporção, estruturando-se. A falta de recursos já não era um grande problema para a continuação dos trabalhos e o conhecimento da equipe sobre Educomunicação foi sendo modelado durante a realização do projeto, levando em conta que todo o trabalho realizado dava-se de modo integrado, e os promotores (mediadores) dedicavam parte substancial de seu tempo em reuniões de formação, na própria ECA”5. O Professor Claudemir manteve-se fiel ao Educom.rádio em todas as sete fases do projeto (do segundo semestre de 2001 ao final do segundo semestre de 2004), oferecendo, inicialmente, sua contribuição como “Articulador”, ou coordenador de um dos pólos em que a capacitação ocorria, aos sábados e, a partir da quinta fase, como um dos coordenadores de formação das equipes, com parceria com Ana Marotto. Claudemir fala com entusiasmo do projeto: “Foi criado um Conselho Gestor formado pelos coordenadores das várias áreas do projeto: formação e capacitação da equipe de mediadores, comunicação, memória audiovisual, administração do site, finanças. Uma das tarefas dos coordenadores pedagógicos, solicitada pelo Prof. Ismar, foi a elaboração de um planejamento antecipado. Nesse sentido, os articuladores e mediadores, recebiam no início do semestre a seqüência das atividades a serem desenvolvidas a cada sábado. Sob a coordenação geral de Patrícia Horta, foi formado um mutirão para produzir todos os materiais que serviriam como suporte para o trabalho das equipes. Foi assim que as teorias ligadas ao tema Educomunicação ganharam força junto à equipe. Todos do NCE trabalharam demasiadamente com encontros aos sábados para treinamento de equipes e sua capacitação. Foram formados e-groups para cada uma das 17 turmas de formadores, uma novidade na época, permitindo que todos os formadores se conversassem durante a semana visando a otimização do processo das aulas. Assim, os encontros passaram a permitir vivências das propostas. Essa produção coletiva gerou os Simpósios de Educomunicação, realizados ao final de cada semestre, mantendo todas as equipes do projeto sintonizadas com um mesmo tema”. Claudmir lembra que o Educom.Rádio chegou a ser matéria do Jornal da Globo, em meados de 2004, em que a repórter Sandra Moreyra afirmava: “Nesta escola (EMEF Carlos Pasquale), 10 jovens educomunicadores formaram outros, que formaram outros, e agora são 400 especialistas em rádio, educação e cidadania”. 5 - A cada semestre os integrantes da equipe dedicavam 100 horas de trabalho para atender os cursistas, nos pólos, aos sábados, durante 8 horas. Dedicavam outras 60 horas para sua auto-formação, na ECA, o que incluía três horas semanais para avaliação e preparação das ações em desenvolvimento. 16
  • 15. Segundo o que testemunha Claudemir, é possível concluir que a Educomunicação acabou sendo incorporada à rotina do LAPIC, que, por sua vez, através de três de seus integrantes, ofereceu uma rica contribuição ao trabalho do NCE. 8) O LAPIC hoje O LAPIC sempre representou um modo de continuar as pesquisas propostas ou orientadas pela professora Elza Dias Pacheco. Mesmo com sua aposentadoria, em 2000, ela continuou atuando indiretamente no núcleo como orientadora de dois últimos doutorandos e dando seu aval para os projetos desenvolvidos por seus ex-orientandos Claudemir Viana, Luri Yanaze, Jurema Xavier, Paulo Vasconcelos, entre outros. Esses pesquisadores são voluntários já que, devido à aposentadoria da fundadora, os financiamentos através de órgãos de pesquisas ficaram praticamente inviabilizados. Mesmo assim, essa atuação garante as novas produções do LAPIC, como um vídeo sobre o núcleo e cursos rápidos de capacitação de alunos nas escolas, existindo inclusive atendimento ao público, vendas de ensaios, bem como algumas publicações. Além disso, o LAPIC está propondo um curso de extensão cultural de 20h sobre “Criança e Mídia”, com 8 encontros. Com vários temas, cada encontro seria ministrado por um integrante do núcleo. A abordagem será a relação Criança e Mídia, em diversos segmentos como Psicologia, Sociologia, entre outros campos. Esse projeto está em tramitação como curso de aprimoramento ou aperfeiçoamento. O Laboratório pretende, ainda, transformar seu site e publicar o livro “O cotidiano infantil violento”, resultado dos últimos seminários promovidos pelo LAPIC. Com isso, o Prof. Claudemir e os demais ex-orientando da Profa Alza pretendem continuar oferecendo uma contribuição específica ao desenvolvimento dos estudos sobre a relação entre a criança e os meios de comunicação, alimentando, com os resultados de suas pesquisas a perspectiva educomunicativa do trabalho de seu maior aliado na Escola, o NCE. 9) ORIENTANDOS Foram diversas orientações de Mestrado e Doutorado nesse longo percurso como atuante pesquisadora e livre-docente. A professora Elza Dias Pacheco sempre propôs um diálogo com outras áreas visando o alto grau da compreensão crítica aos problemas encontrados no universo infantil. Extraído de seu currículo lattes, segue relação com nomes de seus orientandos e as áticas de pesquisas trabalhadas. 17
  • 16. Mestrado: - Milada Tornarelli. “Panorama da Comunicação através dos contos de fadas: A Bela Adormecida”. 2004. 176 f. Dissertação. - Jurema Brasil Xavier. “A relação entre Tecnologias da Comunicação e Educação na Perspectiva da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos” - 1944/1994. 2002. Dissertação. - Márcia Aparecida Giuzi Mareuse. “50 Anos de Desenho Animado na Televisão Brasileira”. 2002. Dissertação. - Alexandre Dias Paza. “A Infância Capturada: o mito de Mid(í)as”. 2002. Dissertação. - Raimundo Nonato Silva Câmara. “A Inserção do Programa Castelo Ra-Tim-Bum, nos propósitos da TV Cultura, a partir de sua produção, estrutura e conteúdo”. 2001. Dissertação. - Claudemir Edson Viana. “O Processo Educomunicacional a Mídia na Escola”. 2000. Dissertação - Carla Rosa Loureiro. “Representação Social dos Professores Capacitandos do Programa de Educação Continuada (PEC) sob a luz da LDB 9394/96”. 2000. Dissertação. - Paulo Alexandre Cordeiro Vasconcelos. “Uma Abordagem Piagetiana do Jogo”. 1994. Dissertação. - Rita de Cassia S.L. Vasquez. “Análise do Conteúdo de Programas Infanto-Juvenis quanto a Influência de Ídolos e Mitos no Comportamento em geral”. 1994. Dissertação - Sophia C. de Covo. “Comunicação, Arte e Educação: A Magia da Descoberta dos Sons e das Imagens”. 1991. - Sonia C. Castaneda. “A Análise do Papel Social da Mulher e Sua Evolução No Desenho Animado”. 1990. Dissertação. - Sylene Castejon Guerra Vieira. “Os Nove Heróis da Tapeçaria: Prática Social Com Mulheres da Periferia. 1990”. Dissertação. - Sara Rosenberg. “Criança e Seu Espaço de Brincar”. 1990. Dissertação. - Doris Fagundes Haussen. “Rádio e Criança: Um estudo sobre a ausência de programação infantil nas emissoras de Porto Alegre. 1989. Dissertação. Doutorado: - Claudemir Edson Viana. “O lúdico e a aprendizagem na cibercultura: jogos digitais e internet no cotidiano infantil”. 2005. - Liriam Luri Yamaguchi Yanaze. “As representações Sociais do receptor infantil de duas escolas da cidade de São Paulo, a partir dos comerciais de TV”. 2005. 476 f. Tese - José Luiz Cecherello. “A utilização da Multimídia como ferramenta de expressão da ficção do Lúdico e do Imaginário”. 1998. Tese - Paulo Alexandre Vasconcelos. “Jean Baudrillard - Comunicação e Psicanálise, uma contribuição aos estudos de comunicação”. 1995. Tese. - Cleide Marly Nebias. “Ciclo Básico e Democratização do Ensino: do Discurso dos Programas às Representações”. 1990. Tese. 18
  • 17. - Maria Ângela Barbato Carneiro. “Estratégias Alternativas e Criativas em sala de aula”. 1990. Tese - Sideney Carlos Aznar. “Vinheta: do Pergaminho ao Vídeo”. 1990. Tese 10) Considerações finais A partir da investigação da trajetória da vida pessoal, acadêmica e profissional da Professora Elza Dias Pacheco foi possível identificar referências à Educomunicação, sem que ela se apropriasse claramente do termo em suas pesquisas, obras e estudos. Uma primeira aproximação importante com o termo acontece quando, em sua tese de doutorado, passa a trabalhar como a criança recebe as informações transmitidas pela televisão. Ou seja, a partir do momento em que Pacheco, como mãe, educadora e psicóloga, começa a se preocupar não só com a influência da televisão no desenvolvimento da criança, mas, sobretudo, quando começa a questionar de que forma a televisão poderá ser trabalhada a favor da sua própria aprendizagem. Um forte exemplo dessa preocupação foi a elaboração do ensaio “Televisão, criança e imaginário: contribuições para a integração escola- universidade-sociedade”, destinado aos professores da rede pública. Este trabalho foi resultado da pesquisa integrada, realizada no LAPIC, juntamente com o Departamento de Tecnologia do Centro de Educação da PUC/SP, sob financiamento do CNPQ, no período de março de 1994 até fevereiro de 1997. O ensaio apresenta uma caracterização concisa de 12 programas televisivos indicados pelas crianças, nos quais as verbalizações e as estruturas dos mesmos são analisadas conforme os gêneros televisivos a que pertencem. A seguir os que gêneros que foram utilizados: telenovela, programas infantis e desenhos animados. A finalidade principal do ensaio foi a de sensibilizar os profissionais da área da Educação sobre a importância de trabalhar a televisão na sala de aula a fim de ampliar e motivar o trabalho educacional. Afirmava, na ocasião, Pacheco: “Considero que a televisão é muito importante na escola, importantíssima para o currículo escolar. Mas você não precisa necessariamente ter na escola o aparelho televisão, porque não tem criança que não assista televisão em casa. Você pode chegar na escola e perguntar para turma toda o que assistiram ontem. É capaz de todo mundo ter assistido a mesma coisa, por possuírem a mesma faixa etária. A televisão serve de referência para o professor desenvolver a sua aula de português, geografia etc. Mas eu penso que Educação é responsabilidade minha, do pai e da mãe. Não é responsabilidade da televisão, ela põe no ar o que dá ibope, o que dá ibope é porcaria”. Enfim, durante a realização desse trabalho sobre a profa. Elza, o que mais transpareceu foi que ela não faz distinção entre o uso do termo Comunicação e Educação e Educomunicação. Para ela, o mais importante é 19
  • 18. que essa relação se estabeleça de alguma forma, já que os meios de comunicação, em especial a televisão, mantêm uma comunicação com a criança que não pode ser ignorada tanto no que diz respeito ao processo de aprendizagem como enquanto recurso para que o professor atue melhor na sala de aula. Assim, entendemos que a Educomunicação está a serviço das pesquisas de Recepção e vice-versa, já que em um é possível esclarecer a construção do discurso midiático, enquanto noutro é possível visualizar os efeitos e possíveis impactos causados pela mídia. Referências bibliográficas PACHECO, E.D. Televisão, Criança, Imaginário e Educação: Dilemas e Diálogos. "Paper" apresentado no "Salão Internacional do Livro de São Paulo, 1999, Expo Center Norte, Brasil. Disponível em: http://www.aurora.ufsc.br/artigos/artigos_alfabeto_TV.htm. PACHECO, E. D. Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas e diálogos. Campinas, Papyrus, 1998. PACHECO, E. D. O Pica-pau: herói ou vilão: representação social da criança e reprodução da ideologia dominante. São Paulo, Loyola, 1985. “O LAPIC conta a sua história”, 2004. Em VHS. Vídeo que conta a trajetória do LAPIC. 20