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ORAÇÃO DOS DESESPERADOS
                      .
      Dói no povo a dor do universo
           chibata, faca, corte,
             miséria e morte
            sob o olhar irônico
         de um Deus de gravata.
          Uma dor que tem cor
   escorre na pele e na boca se cala.
      Uma gente livre para o amor,
     mas os pés fincados na senzala.
              Dor que mata.
       Chaga que paralisa o mundo
  e sob o olhar de um deus de gravata
doença, fome, esgoto, inferno profundo.
 Dor que humilha e alimenta cegueira.
    Trevas, violência, tiro no escuro,
     pedaços de paus, lar sem muro,
 paraíso do mal e castelos de madeiras.
  Oh, senhores! Deuses das máquinas,
     das teclas, das perdidas almas,
         do destino e do coração!
Escuta o homem que nasce das lágrimas,
     do suor, do sangue e do pranto.
            Escuta este canto,
          (que lindo este povo!
          quilombo este povo!)
  que vem a galope com voz de trovão.
       Pois ele se apega nas armas
       quando se cansa das páginas
            do livro da oração.
                      .
                      .
                 Sérgio Vaz

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