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AVALIAÇÃO EXTRA-HOSPITALAR DO PACIENTE COM
SUSPEITA DE AVC/AVE AGUDO
*Daniel Valente Batista

       O AVC é a 3 maior causa de morte no mundo, matando cerca de 6 milhões de
pessoas/ano, segundo a OMS. No Brasil, está entidade também é a maior causa de
mortes e deixa cerca de 50% dos sobreviventes em total incapacidade laboral.
Contribuindo, assim, para grandes perdas econômicas.

        O Atendimento ao paciente com suspeita de Acidente Vascular Cerebral deve
ser feito o mais rápido e dirigido possível. Devido a possibilidade do uso da trombólise,
nos casos de AVC isquêmico, deve-se perder o menor tempo possível na avaliação do
doente na cena de atendimento haja vista que o delta T máximo entre o início do quadro
e a trombólise química não deverá ser superior a 3 a 4 horas.

      Ao se deparar com um paciente com suspeita de AVC/AVE agudo tente seguir
um sequência lógica que englobe:

1) Avaliação Inicial:

- Inicie o ABCD da vida e intervenha conforme a necessidade em cada item

- Determine o nível de consciência e a Escala de Glasgow (vide ao fim do texto)

- Afira sinais vitais com frequência

2) Histórico dirigido:

- Identifique a hora dos inícios do sintomas ou o momento em que o doente foi visto
normal pela última vez. Por exemplo, se a vítima acorda pela manhã com queixas
sugestivas de AVC a hora considerada como início do quadro é o momento em que ela
se deitou para dormir.

Se o paciente tem sintomas leves que vão piorando progressivamente, consideramos o
horário do primeiro sintoma

- Pergunte sobre convulsão

- Determine se houve algum AVC prévio, doença prévia, história de Trauma Crânio
Encefálico (TCE), história de hemorragia ou procedimento cirúrgico. Essas perguntas,
dentre outras coisas, servem para saber se o paciente será, ou não, elegível para
tratamento com rtPA



        *Médico Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
Oficial Médico do Serviço de Saúde do Exército Brasileiro. Ex-integrante da Liga do Coração
FaMed -UFC
3) Exame físico dirigido:

- Ausculta Cardiopulmonar e carótidas

- Pressão Arterial, Frequência Cardíaca e Respiratória

- Nível de Glicose Sanguínea, pode-se utilizar uma glicemia capilar inicialmente

- Observe se há sinais de trauma

- Faça o exame neurológico que inclua:

       - Glasgow, Força, Sensibilidade, Pares Cranianos, Sinais Meningeos

       - Faça triagem pré-hospitalar de cincinnati (vide ao fim do texto)

4) Após as medidas, se identificado possível AVC/AVE:

- Trie para Hospital especializado em AVE mais próximo. No nosso caso, o único
hospital da rede pública apto pelo Ministério da Saúde a realizar atendimento
específico, inclusive com possibilidade de trombólise química, é o Hospital Geral de
Fortaleza.

- Leve sempre um membro da família ou testumnha consigo, se possível



Normar gerais para o tratamento do Paciente com AVC agudo

1) Fluidos: Evite usar soluções gliocasas e excesso de reposição hídrica

2) Glicemia: exerça um controle glicêmico rigoroso. Faça Bolus de Glicose a 50% se o
paciente estiver hipoglicêmico e insulina se Glicemia maior que 185 mg/dl.
Obviamente, os valores de ponto de corte poderão variar conforme o protocolo e as
condições de trabalho da equipe.

3) Faça monitorização de Frequência Cardíaca, Saturação de O2, Pressão Arterial e
Eletrocardiográfica

4) Oxigênio: Forneça 02 acessório em todos com Sat 02< 94%

5) Faça controle de temperatura com analgésicos tipo paracetamol ou dipirona,
preferencialmente de maneira endovenosa.

6) Avalie a deglutição do paciente antes de liberar qualquer tipo de dieta
ESCALA PRÉ-HOSPITALAR DE CINCINNATI PARA AVC – LAPPS
ESCALA DE COMA DE GLASGOW                 Escore
                                          Máximo 15
ABERTURA DOS OLHOS
Espontânea                                4
Resposta ao pedido verbal                 3
Resposta a Dor                            2
Nenhuma                                   1
MELHOR RESPOSTA VERBAL
Conversa Orientada                        5
Conversa Confusa                          4
Palavras Inapropriadas                    3
Sons Incompreensíveis                     2
Nenhuma                                   1
MELHOR RESPOSTA MOTORA
Obedece a comando                         6
Localiza a dor                            5
Localiza a retirada da dor                4
Flexão Anormal                            3
Extensão Anormal                          2
Nenhuma                                   1


Interpretação da Escala de Coma de Glasgow

Escore de 14 a 15: disfunção leve

Escore de 11 a 13: disfunção moderada a grave

Escore ≤ 10: disfunção grave



BIBLIOGRAFIA

1) Projeto Nacional de Atendimento a Doença Vascular Aguda – Projeto Acidente
Vascular Cerebral Parte 1- Atendimento a Fase Aguda – Ministério da Saúde, acessado
em                 Março                 de               2012                  em:
http://pwweb2.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/redebrasilavc/usu_doc/projetonacionalavc2
009.pdf

2) Manual de Atendimento Cardiovascular de Emergência e Urgência para Profissionais
de Saúde. American Heart Association. 2010 ISBN 978-1-61669-000-7

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  • 1. AVALIAÇÃO EXTRA-HOSPITALAR DO PACIENTE COM SUSPEITA DE AVC/AVE AGUDO *Daniel Valente Batista O AVC é a 3 maior causa de morte no mundo, matando cerca de 6 milhões de pessoas/ano, segundo a OMS. No Brasil, está entidade também é a maior causa de mortes e deixa cerca de 50% dos sobreviventes em total incapacidade laboral. Contribuindo, assim, para grandes perdas econômicas. O Atendimento ao paciente com suspeita de Acidente Vascular Cerebral deve ser feito o mais rápido e dirigido possível. Devido a possibilidade do uso da trombólise, nos casos de AVC isquêmico, deve-se perder o menor tempo possível na avaliação do doente na cena de atendimento haja vista que o delta T máximo entre o início do quadro e a trombólise química não deverá ser superior a 3 a 4 horas. Ao se deparar com um paciente com suspeita de AVC/AVE agudo tente seguir um sequência lógica que englobe: 1) Avaliação Inicial: - Inicie o ABCD da vida e intervenha conforme a necessidade em cada item - Determine o nível de consciência e a Escala de Glasgow (vide ao fim do texto) - Afira sinais vitais com frequência 2) Histórico dirigido: - Identifique a hora dos inícios do sintomas ou o momento em que o doente foi visto normal pela última vez. Por exemplo, se a vítima acorda pela manhã com queixas sugestivas de AVC a hora considerada como início do quadro é o momento em que ela se deitou para dormir. Se o paciente tem sintomas leves que vão piorando progressivamente, consideramos o horário do primeiro sintoma - Pergunte sobre convulsão - Determine se houve algum AVC prévio, doença prévia, história de Trauma Crânio Encefálico (TCE), história de hemorragia ou procedimento cirúrgico. Essas perguntas, dentre outras coisas, servem para saber se o paciente será, ou não, elegível para tratamento com rtPA *Médico Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Oficial Médico do Serviço de Saúde do Exército Brasileiro. Ex-integrante da Liga do Coração FaMed -UFC
  • 2. 3) Exame físico dirigido: - Ausculta Cardiopulmonar e carótidas - Pressão Arterial, Frequência Cardíaca e Respiratória - Nível de Glicose Sanguínea, pode-se utilizar uma glicemia capilar inicialmente - Observe se há sinais de trauma - Faça o exame neurológico que inclua: - Glasgow, Força, Sensibilidade, Pares Cranianos, Sinais Meningeos - Faça triagem pré-hospitalar de cincinnati (vide ao fim do texto) 4) Após as medidas, se identificado possível AVC/AVE: - Trie para Hospital especializado em AVE mais próximo. No nosso caso, o único hospital da rede pública apto pelo Ministério da Saúde a realizar atendimento específico, inclusive com possibilidade de trombólise química, é o Hospital Geral de Fortaleza. - Leve sempre um membro da família ou testumnha consigo, se possível Normar gerais para o tratamento do Paciente com AVC agudo 1) Fluidos: Evite usar soluções gliocasas e excesso de reposição hídrica 2) Glicemia: exerça um controle glicêmico rigoroso. Faça Bolus de Glicose a 50% se o paciente estiver hipoglicêmico e insulina se Glicemia maior que 185 mg/dl. Obviamente, os valores de ponto de corte poderão variar conforme o protocolo e as condições de trabalho da equipe. 3) Faça monitorização de Frequência Cardíaca, Saturação de O2, Pressão Arterial e Eletrocardiográfica 4) Oxigênio: Forneça 02 acessório em todos com Sat 02< 94% 5) Faça controle de temperatura com analgésicos tipo paracetamol ou dipirona, preferencialmente de maneira endovenosa. 6) Avalie a deglutição do paciente antes de liberar qualquer tipo de dieta
  • 3. ESCALA PRÉ-HOSPITALAR DE CINCINNATI PARA AVC – LAPPS
  • 4. ESCALA DE COMA DE GLASGOW Escore Máximo 15 ABERTURA DOS OLHOS Espontânea 4 Resposta ao pedido verbal 3 Resposta a Dor 2 Nenhuma 1 MELHOR RESPOSTA VERBAL Conversa Orientada 5 Conversa Confusa 4 Palavras Inapropriadas 3 Sons Incompreensíveis 2 Nenhuma 1 MELHOR RESPOSTA MOTORA Obedece a comando 6 Localiza a dor 5 Localiza a retirada da dor 4 Flexão Anormal 3 Extensão Anormal 2 Nenhuma 1 Interpretação da Escala de Coma de Glasgow Escore de 14 a 15: disfunção leve Escore de 11 a 13: disfunção moderada a grave Escore ≤ 10: disfunção grave BIBLIOGRAFIA 1) Projeto Nacional de Atendimento a Doença Vascular Aguda – Projeto Acidente Vascular Cerebral Parte 1- Atendimento a Fase Aguda – Ministério da Saúde, acessado em Março de 2012 em: http://pwweb2.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/redebrasilavc/usu_doc/projetonacionalavc2 009.pdf 2) Manual de Atendimento Cardiovascular de Emergência e Urgência para Profissionais de Saúde. American Heart Association. 2010 ISBN 978-1-61669-000-7