A Bahia encantada: conheça Salvador, a capital festeira
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O que é que a Bahia
tem? Além de muita
festa, a capital do
estado, cheia de
personalidade, já está
em ritmo de verão. Ali
há um pouco de tudo:
praias, história, bons
museus, restaurantes
sofisticados e muito
sincretismo religioso.
Embarque nesse
roteiro mágico!
• por Ana Paula Garrido
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SALVADOR!
Vista aérea de Salvador, uma das capitais mais festeiras
do país, que já entra em ritmo de verão e se aquece para o Carnaval
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E
sse trecho da música de Mo-
raes Moreira, eternizada por
Dodô e Osmar, criadores do
trio elétrico e precursores do que vi-
ria a ser o maior festival a céu aber-
to do mundo, define bem como é a
Bahia, principalmente sua capital,
Salvador. Alegria nessa terra é um
estado de espírito e é difícil não se en-
cantar com essa energia. As pessoas
são felizes e festeiras, adoram rece-
ber o turista e se orgulham em mos-
trar toda a beleza que a cidade tem.
Já na saída do aeroporto, um
cheiro de azeite de dendê desper-
ta o olfato e atrai o olhar para um
tabuleiro de uma baiana vestida
de branco que, sorridente, o con-
vida a experimentar a iguaria mais
famosa da Bahia. “Vai um acarajé
aí, meu rei”? E assim, já contagiado
pela informalidade e alegria sote-
ropolitana, degustando a culinária
típica, você começa a desvendar os
encantos da cidade.
Salvador é uma das maiores ci-
dades no Brasil, mas ainda guarda
traços provincianos e costumes de
uma vila antiga que parece ter con-
gelado no tempo. O roteiro esco-
lhido é uma seleção de locais para
uma primeira impressão do que a
Bahia tem de melhor.
PÔRDOSOLNOFAROL
Para conhecer as belezas dessa
cidade litorânea sem perder as atra-
ções históricas, comece o tour por um
dos ângulos mais deslumbrantes de
Salvador. Do bairro de Ondina em di-
reção à Barra, passando pelo morro
do Cristo, um lindo cenário se abre
com um mar ora azul, ora verde, com
ondas na maré cheia ou deliciosas
piscinas naturais na maré vazia. Em
frente, o Farol da Barra, construído
no século 17 em local estratégico na
entrada da baía, servia como forte de
proteção de possíveis ataques inva-
sores, enquanto que o farol, consi-
derado o mais antigo do continente,
até hoje auxilia as embarcações na
entrada e saída da cidade.
Além da torre de 22 metros de
altura, também estão abertos para a
O pôr do sol, no Farol da Barra, costuma arrancar aplausos de baianos e visitantes
O acarajé, um dos símbolos da culinária local
“Ah,imaginasó
Queloucuraéessamistura
Alegria,alegriaoestado
quechamamosBahia
Detodosossantos,
encantoseaxé
Sagradoeprofano,o
baianoéCarnaval!”
visitação pública o museu náutico e
as dependências do forte. Mas é no
fundo do Farol, olhando na direção
da ilha de Itaparica, que você terá
uma experiência inesquecível: as-
sistir a um pôr do sol no mar. De tão
bonito, o espetáculo costuma arran-
car aplausos da plateia no final.
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Continue o passeio pela orla em
direção ao Porto da Barra, uma pe-
quena e charmosa praia entre os
Fortes Santa Maria e São Diego. Suas
águas são calmas e cristalinas e, com
sorte, você ainda pode encontrar
Caetano Veloso ou outros artistas
que, quando pousam na terra, pas-
sam por lá para beber uma água de
coco ou renovar as energias no mar.
Subindo a Ladeira da Barra,
tem a linda igreja de Santo Antônio
e o tradicional Yate Clube. Para os
privilegiados sócios, além de uma
marina e enorme piscina, o clube
oferece praia particular e até um
flutuador para os que preferem se
bronzear no mar. Para os que não
são sócios, o restaurante envidraça-
do é uma boa alternativa para curtir
a vista da Baía de Todos os Santos.
CORREDORLUXUOSO
O próximo trecho é o Corredor
da Vitória, uma avenida cheia de ár-
vores centenárias, onde antigamen-
te estavam os belos casarões da aris-
tocracia baiana, alguns deles ainda
preservados, como os que abrigam o
Museus de Arte da Bahia, o Geológi-
co e o belíssimo Carlos Costa Pinto.
Hoje, o bairro é um dos metros
quadrados mais caros da cidade, com
luxuosos edifícios à beira-mar que
têm acesso exclusivo a píeres, onde
os moradores podem sair dos aparta-
mentos direto para suas lanchas.
No fim da Vitória, fica a pra-
ça do Campo Grande onde está o
teatro Castro Alves e o antigo Ho-
tel da Bahia, que já teve suas me-
moráveis festas e hospedou muita
gente famosa. Esse trecho é tam-
bém conhecido como o início do
circuito tradicional do Carnaval.
Praia da Barra, uma das mais bem frequentadas da capital baiana
Descendo a avenida Contorno
em direção à Cidade Baixa, surge
outra paisagem fantástica do mar
e da parte antiga da cidade. Está
ali o Solar do Unhão, belíssima
construção do século 17, composta
por casa-grande, senzala, capela e
alambique, cercado por um belís-
simo gradil de ferro, projetado por
Carybé. Hoje abriga o Museu de
Arte Moderna com mais de 2 mil
obras de pintores, como Di Caval-
canti, Tarsila do Amaral e Portinari,
e também o Parque das Esculturas,
que exibe obras a céu aberto de ar-
tistas como Mario Cravo Neto, Tatti
Moreno e Bel Borba. Além disso, aos
sábados no horário do pôr do sol,
há o jam session no MAM, agradável
show com público descolado.
É também nesse trecho que se
nota a divisão da Cidade Baixa e da
Cidade Alta, como Salvador foi ini-
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da prefeitura e, ao fundo, o antigo
Paço Municipal que abriga hoje a
Câmara de Vereadores. Faça uma
pausa na Cubana, uma das sorvete-
rias mais antigas da cidade, e cur-
ta a vista da balautrada, programa
descolado dos anos 30, quando a
praça e adjacências eram um dos
locais preferidos da elite baiana.
Seguindo em direção ao Pelou-
rinho pelo Terreiro de Jesus, aprecie
a beleza da construção da primeira
faculdade de medicina do Brasil, ao
lado da Catedral de Salvador e da
imponente igreja de São Francisco,
uma das mais ricas e espetaculares
em estilo barroco, com seu interior
coberto de ouro.
O Pelourinho e seus arredores
são um capítulo à parte. Ali está a
alma da antiga Bahia refletida nos
casarões, becos e igrejas repletas de
história e de simbologias da cultura
baiana e do Brasil Colônia. Foi tam-
bém o local onde os escravos eram
castigados no meio da praça e em
que os primeiros casarões da aristo-
cracia foram erguidos. Vale a visita
às igrejas, aos museus, às galerias, à
cialmente construída. Pouco a pou-
co revitalizada, com construções
mais novas como a Marina, uma
das mais modernas do Brasil, com
badalados bares e restaurantes com
varandas à beira-mar, como o Soho,
Lafayette e o Acqua, sempre cheios
e bem frequentados. A vista para a
Baía de Todos os Santos é sensacio-
nal e chama a atenção o Forte São
Marcelo, pela localização e origina-
lidade da construção circular, a es-
cultura de Mario Cravo, a bela sede
da Marinha e a igreja da Conceição
da Praia, toda em pedra sabão.
Outra atração da região é o
Mercado Modelo, com o melhor do
artesanato baiano, esculturas de
santos e orixás, carrancas, comi-
das típicas etc. Também é lá que se
pode assistir a uma roda de capoei-
ra, sempre acompanhada pelo som
dos berimbaus, encontrados em di-
ferentes materiais e tamanhos por
todo o mercado.
CIDADEALTA
Suba o Elevador Lacerda até a
praça Municipal, onde o governa-
dor-geral Tomé de Sousa escolheu
para construir os primeiros prédios
da administração pública do Brasil.
De um lado, está o belíssimo palácio
Rio Branco, em frente à sede atual
Vista do Solar do Unhão, uma construção do século 17
A Cidade Baixa com a marina, à esquerda, e o Mercado Modelo, no centro
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Fundação Jorge Amado e, claro, não
saia de lá sem ouvir ao menos algum
batuque, de preferência do Olodum.
Dizem que Salvador tem 365
igrejas, uma para cada dia do ano,
mas lenda ou não, o que chama a
atenção é o sincretismo religioso.
Igrejas católicas e terreiros de can-
domblé convivem na mais perfeita
harmonia. Seus santos e entidades,
mesmo não cultuados por uma
maioria, são respeitados por todos.
O sagrado e o profano se confun-
dem e estão presentes nas manifes-
tações populares e até mesmo nos
seus monumentos, como os vistos
no Dique do Tororó, local onde está
o reformado estádio da Fonte Nova,
que receberá os jogos da Copa do
Mundo. A lagoa, único manancial
O Carnaval é o evento mais es-
perado do ano, onde milhares de
foliões invadem as ruas para ver
seus ídolos, como o furacão Ivete
Sangalo, o divertido Durval Lelys e
o irreverente Carlinhos Brown que,
do alto dos trios elétricos, arrastam
multidões no meio da rua e fazem a
cidade inteira dançar. Outra ótima
experiência é ver os desfiles dos blo-
cos afros, como o lindo Ilê Aiyê e o
tapete branco que se forma na ave-
nida com a passagem dos Filhos de
Gandhy. A festa carnavalesca dura
sete dias, intensos, até a quarta-
-feira de cinzas. Somente na quinta,
segundo os baianos, é quando final-
mente começa o ano na cidade.
RIOVERMELHO
Diariamente, o boêmio Rio Ver-
melho, bairro onde moraram Jorge
Amado e Zélia Gattai, recebe cente-
nas de pessoas que lotam as mesas
dos bares da praça na happy hour,
para beber cerveja gelada acompa-
nhada dos acarajés mais disputa-
dos da cidade, os das baianas Regi-
na, Cira e Dinha.
Mas é no dia 2 de fevereiro
que o bairro vira uma grande festa
para comemorar o dia de Yeman-
já. Baianos e turistas, filhos e mães
de santo, babalorixás e gente de to-
das as tribos reverenciam a rainha
O Elevador
Lacerda, marco da
arquitetura local
Performances de blocos afros no Pelourinho
natural da cidade, cercada de ár-
vores e espaço para a prática de es-
portes, tem 12 orixás, obra do artis-
ta Tatti Moreno, que flutuam sobre
as águas, consideradas sagradas
para os praticantes do candomblé.
EMRITMODEESQUENTA
É entre dezembro e fevereiro
que Salvador ferve em festas, mui-
tas delas religiosas e conhecidas
como festas de largo, onde mis-
sas e procissões misturam-se com
música, dança e muita animação.
Também começam os ensaios de
verão, shows semanais das grandes
bandas de axé que servem de ter-
mômetro para o Carnaval, com as
músicas, danças e ritmos que farão
sucesso na temporada de verão.
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do mar, levando flores, perfumes e
oferendas, colocados em grandes
balaios de palha e levados pelos
pescadores em um cortejo.
Muitos já conhecem as famo-
sas e coloridas fitinhas do Bonfim,
cada cor representando um santo
ou orixá, que são amarradas no
pulso com direito a três pedidos. O
que poucos sabem é que, Senhor do
Bonfim para os católicos e Oxalá,
para os adeptos do candomblé, é
o padroeiro da cidade. E é na festa
da Lavagem do Bonfim que se vê a
maior expressão do sincretismo re-
ligioso desse povo, quando os devo-
tos seguem a pé por cerca de 8 qui-
lômetros, acompanhando o cortejo
de baianas que, com suas saias ro-
dadas e jarros de flores na cabeça,
sobem a Colina Sagrada para lavar
as escadarias da igreja.
É nessa parte da cidade, onde
fica o templo sagrado, que se tem
a sensação que a Bahia parou no
tempo. Vale um passeio por seus
arredores para conhecer a Ribeira e
se refrescar com os saborosos sor-
vetes de frutas tropicais da antiga
sorveteira que leva o nome do bair-
ro. Siga para a Ponta de Humaitá,
onde há uma igreja e um pequeno
farol, com uma vista incrível para
o lado da agitada Salvador que não
parou. Ali, ao contrário, parece a
pacata Bahia do início do século.
Uns barquinhos no mar, pescado-
res com tarrafas tentando pescar o
almoço do dia, mulheres pegando
marisco na praia, bares com mesas
e cadeiras nas calçadas da orla e
gente sem pressa admirando o mar
calmo e a tranquilidade de uma ci-
dade provinciana.
SEMPRESSA
Que tal tirar um dia inteiro para
conhecer as praias? Mudando a
rota e seguindo em direção ao lito-
ral norte, faça um passeio pela orla
para conhecer as praias, passando
pelo Jardim de Alá, Jaguaribe, Ale-
luia, Stella Maris até o Farol de Ita-
poã, e as dunas da lagoa do Abaeté,
locais cantados em prosa e verso
por Vinícius de Moraes e Caymmi.
Sem pressa, siga pelo litoral norte,
na Estrada do Coco, e conheça ou-
tras praias gostosas, como Ipitanga,
Jauá, Villas, Guarajuba, e algumas
quase desertas, como Arembepe e
Tacimirim. Encerre a visita na Praia
do Forte. Entre um mergulho e ou-
tro, não deixe de conhecer a caipi-
rinha de mangaba e o bolinho de
peixe do bar do Souza para fechar o
dia com chave de ouro!
CIRCUITODASILHAS
Tem mais um tempinho? Alu-
gue uma lancha ou escuna e faça
um passeio nas águas tranquilas
da Baía de Todos os Santos. Além
de ver a cidade pelo mar, explore as
ilhas próximas e surpreenda-se com
os locais paradisíacos da região.
Distante apenas 30 minutos de
lancha, ou 50 minutos de ferryboat,
ou ainda 275 km pela estrada, Itapa-
rica, a maior ilha da baía, tem praias
paradisíacas. Completam o cenário
um conservado centro histórico, en-
cantadoras pracinhas, ruas de pa-
ralelepípedos bem arborizadas, ca-
O Dique do Tororó com as imagens flutuantes de 12 orixás
Igreja de São Francisco, em estilo barroco e folheada a ouro
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sinhas antigas, onde os moradores
e veranistas colocam suas cadeiras
nas portas para conversar com os
vizinhos, em um clima bucólico. A
ilha, que já foi palco de lutas histó-
ricas da Bahia, também é famosa
pela fonte de água mineral. Segun-
do os moradores locais, “a água é
fina e faz véia virar menina”. Quem
não quer experimentar?
A 270 km de Salvador e também
acessada por barco pela baía, vizinha
à ilha de Itaparica, está o municí-
pio de Salinas das Margaridas, com
praias deliciosas. Anualmente, pro-
move o Festival do Marisco, oportuni-
dadededegustaraamelhorculinária
típica da região. Outra ilha é Madre
de Deus. Além da culinária, organiza
um festival de música no verão, que
vem atraindo mais turistas.
NORECÔNCAVO
Da Baía de Todos os Santos, su-
bindo o leito do rio Paraguaçu em
direção ao Recôncavo Baiano, está
Maragogipe, cidade situada em
uma área de manguezais, no en-
contro das águas do rio Guaí e Pa-
raguaçu. Ali ainda são construídos
saveiros, embarcações muito utili-
zadas para transporte de mercado-
rias pela baía. Mas, a cidade ficou
conhecida principalmente pela tra-
dicional arte em cerâmicas, a maior
atividade econômica da região.
São Felix e Cachoeira, também
no Recôncavo, foram muito im-
portantes para a economia baiana.
Consideradas cidades irmãs e sepa-
radas pelo rio Paraguaçu, tiveram
seu apogeu entre os séculos 18 e
19, quando escoava de seus portos
a riqueza da produção agrícola da
região, principalmente o açúcar e o
fumo. O charuto até hoje movimen-
ta a economia local. Com status de
“Cidade Monumento Nacional” teve
sua identidade cultural preservada
e ainda hoje é possível apreciar a
arquitetura do Brasil Império em
suas casas e monumentos.
E, para finalizar, uma visita a
Salvador não estaria completa sem
conhecer as delícias do tabuleiro de
uma baiana. Acarajé com vatapá,
camarão seco, abará, cocada, boli-
nho de estudante, lelê, mingau de
mungunzá e cuscuz de tapioca. E o
que dizer de outras iguarias, como
sarapatel, moqueca de siri mole e
xinxim de galinha? O verão está
chegando, os tambores já tocam e
todos os santos estão chamando! Vá
descobrir e se surpreender com toda
essa magia. A gente se vê por lá!
A Praia do Forte, uma das mais famosas da linha verde do litoral norte
MELHORESENDEREÇOS
Clima
Temperatura média anual é de
25°. Nos meses de verão pode
superar 30°. Chuva nos meses de
junho e julho. A Bahia não aderiu
ao horário de verão.
BARES,RESTAURANTES e CAFÉS
Sofisticados e com vista
Amado, Pereira e Yate Clube,
Soho, Lafayette, Acqua (na
Marina)
Culinária típica
Yemanjá, Bargaço, Sorriso da
Dadá,
Alternativo
Paraíso Tropical, Boteco do
França, Boca de Galinha
Acarajé
Das baianas Cira, Dinha e Regina
Bar pé na areia
Barraca do Lôro, na praia de
Aleluia Souza, na Praia do Forte
Caranguejo da Cely
Lambreta do Papito
Café com cultura
Palacete das Arte e Museu Carlos
Costa Pinto
Ensaios de Carnaval
Alavontê: com Ricardo Chaves,
Durval Lelys, Manno Goes,
Magary Lord, Ramon Cruz e
Jonga Cunha, todas as terças até
o Carnaval, no bar Red River, Rio
Vermelho
Ensaio do Harém: com Tuca
Fernandes, no Alto do Andú
Terreiros de Candomblé: Gantois,
da Mãe Menininha, Casa Branca
e o Ilê Axé Opô Afonjá, de Mãe
Stella de Oxossi.