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CURSO: Técnico em Eletromecânica
UC: Tecnologia dos materiais
José Renato de Almeida
Tecnologia dos Materiais
A capacidade de simbolizar e de transformar o meio em que vive (produção de cultura)
torna o homem um ser de linguagem e de trabalho (ação com uma finalidade).
Essas duas características mostram que não somos seres por natureza; pelo contrário,
necessitamos constantemente construir o nosso mundo. É pela simbolização e pelo
trabalho que produzimos cultura.
Nesse processo os materiais são fundamentais, pois são os meios utilizados para
transformar a realidade e satisfazer as nossas necessidades. Utilizamos para isso
instrumentos e ferramentas que nos permitem agir sobre os materiais e construir o
mundo que queremos.
O processo evolutivo do homem desenvolveu sua capacidade de transformar recursos
naturais em bens duráveis. Qualquer cidadão no seu cotidiano utiliza, direta ou
indiretamente, esses produtos como meios para obter uma vida melhor e mais
confortável. Somos seres que pertencemos a “este tempo” e, portanto, somos herdeiros
deste processo construtor.
Materiais Ferrosos 3
Introdução
Historicamente, o desenvolvimento e os avanços das sociedades estão ligados às
habilidades dos seus membros na produção e manipulação de materiais, que
satisfaçam as exigências do meio. De fato, as civilizações antigas foram identificadas
pelo nível de desenvolvimento e utilização de materiais tais como: Idade da Pedra e
Idade do Bronze. Com a evolução do conhecimento também se descobriu que os metais
poderiam ter suas qualidades melhoradas através da adição de outros elementos
químicos formando as ligas metálicas ou ainda pelos tratamentos térmicos.
Os materiais sólidos são convenientemente agrupados em torno de três classificações
básicas: metais, cerâmicos e polímeros.
Essa classificação está baseada principalmente na composição química e na
estruturação atômica dos materiais. A maioria dos materiais se encaixa em um ou outro
grupamento distinto, embora existam alguns materiais intermediários. Estes materiais
intermediários exigiram a criação de outros três grupos adicionais, mas não menos
importantes:
Compósitos, semicondutores e biomatérias.
Materiais Ferrosos 4
Os metálicos, pelas suas características e propriedades, são os principais materiais
sólidos, destacando-se o aço e suas ligas.
No livro Tecnologia Mecânica, Chiaverini escreve:
Dos metais, o ferro é o mais importante, sendo de supor-se que essa posição será
mantida por um espaço de tempo praticamente ilimitado, em face de certas
peculiaridades características desse metal, que o tornam insubstituível para a maioria
dos empregos da indústria mecânica; suas propriedades intrínsecas, sua abundância na
crosta terrestre e seu baixo custo de extração e processamento, principalmente quando
comparado a outros metais importantes (sic) (1986c, p. XVII).
Nesse sentido, o autor destaca a importância das reservas brasileiras. Sendo o minério
de ferro a matéria-prima básica para a produção do aço e possuindo o Brasil enormes
reservas de minério com alto teor de ferro, o país possui condições extremamente
favoráveis para a implantação de um grande parque siderúrgico, destinado não
somente ao consumo interno, como igualmente à exportação (1986c, p. XVII).
Materiais Ferrosos 5
Chamam-se “minério” os minerais dos quais se podem extrair metais. Os minérios, quando em
quantidades suficientes para serem explorados economicamente, formam os “depósitos” ou “jazidas”.
O processo metalúrgico para obtenção das ligas ferrosas, principalmente o aço, é chamado de
siderurgia.
A indústria siderúrgica abrange todas as etapas necessárias para, a partir das matérias-primas,
produzir-se ferro e aço. O processo clássico e mais usado para a redução do minério de ferro é o do
“alto forno” cujo produto consiste numa liga ferro-carbono de alto teor de carbono, denominando
“ferro gusa”, o qual, ainda no estado líquido, é encaminhado à “aciaria”, onde, em fornos adequados,
é transformado em aço. Este é vazado na forma de “lingotes” os quais, por sua vez, são submetidos à
transformação mecânica, por intermédio de laminadores, resultando “blocos”, “tarugos” e “placas”.
Estes, finalmente, ainda por intermédio de laminadores, são transformados em formas estruturais
como “cantoneiras”, “perfis simples e enrijecidos”, etc., e em outros produtos siderúrgicos
importantes, tais como trilhos, chapas, barras etc.
Os materiais metálicos, por tudo o que foi dito e também pela sua facilidade de reciclagem,
constituem o mais importante grupo de materiais de construção e podem ser divididos em dois
grupos: ligas ferrosas e ligas não ferrosas.
Materiais Ferrosos 6
O senso comum chama de “ferro” o que na verdade é o aço (liga de ferro com carbono e outros
elementos químicos em menor quantidade). O ferro é um elemento químico que é obtido a partir
dos minérios de ferro que são encontrados na natureza.
A metalurgia do ferro que é mais conhecida por siderurgia é o processo de obtenção do aço a
partir, principalmente, de minérios de ferro. Os minérios de ferros são os óxidos, sulfetos,
carbonetos e silicatos. Os óxidos (magnetita; hematita; limonita), sob o ponto de vista
siderúrgico, são os mais importantes. Reunindo o minério de ferro com carvão (vegetal ou
mineral) e o calcário resulta o ferro gusa (material de primeira fusão do alto forno).
Materiais Ferrosos 7
Ligas Ferrosas
Ferro gusa
Matérias-primas da indústria siderúrgica
 Minério de ferro – É o principal componente para a obtenção do ferro gusa.
 Carvão – É o combustível do alto-forno podendo ser o mineral (coque) ou o vegetal (de
madeira). O carvão tem três funções principais: fornecer calor para combustão fornecer
carbono para a redução do óxido de ferro e, indiretamente, fornecer o carbono como
principal elemento de liga do ferro gusa.
 Fundente – O calcário (CaCO3) é o principal fundente que, combinando com as
impurezas (ganga) do minério e com os resíduos (cinzas) do carvão, forma o que é
chamado de “escória”.
Materiais Ferrosos 8
Os componentes básicos da indústria siderúrgica que formam suas matérias primas, são
os seguintes:
Alto-forno
O alto-forno é o principal equipamento (aparelho) usado na metalurgia do ferro.
Ele nada mais é do que uma grande estrutura cilíndrica dividida em três partes essenciais:
cadinho, rampa e cuba. No alto-forno são colocados, em proporções adequadas, minério de
ferro, carvão e calcário. A queima do carvão ativada pela insuflação de ar fornece calor e óxido
de carbono necessário à redução do minério. O excesso de carbono combina-se com o ferro,
formando uma liga que, no estado líquido goteja no cadinho. O calcário torna mais fácil a fusão
dos resíduos da reação e, com estes, forma a escória que fica acima na mistura por ser mais
leve
Materiais Ferrosos 9
Definição: A metalurgia do ferro consiste
essencialmente na redução dos óxidos dos
minérios de ferro, mediante o emprego de um
redutor que é um material à base de carbono – o
carvão – que atua igualmente como combustível
e indiretamente, é supridor de carbono para as
ligas ferro-carbono de alto carbono que são os
principais produtos do alto-forno. Chiaverini
(1986c, p.17).
A Figura ao lado mostra a seção transversal
de uma instalação de alto-forno, incluindo
todo o equipamento acessório e auxiliar.
A fabricação do aço ocorre geralmente em duas etapas: primeiramente a obtenção do chamado
ferro gusa, material metálico composto majoritariamente por ferro, porém contendo também
altos teores de carbono (da ordem de 4,5 %) e altos teores de impurezas (enxofre, fósforo e
outros elementos), que é produzido a partir do minério de ferro aglomerado sob a forma de
sínter ou pelotas (obtidos respectivamente nos processos de sinterização e pelotização), ao qual
são adicionados fundentes (cal, sílica e substâncias semelhantes) e o chamado coque
metalúrgico (basicamente o resultado da coqueificação do carvão mineral ou vegetal), a qual é
sucedida pela conversão do ferro gusa em aço na chamada aciaria, onde nos conversores
ocorre basicamente a oxidação do excesso de carbono e das impurezas, que são assim
removidos, resultando numa liga ferrosa com teor de carbono bem mais baixo (em geral inferior
a 1 %) e com baixíssimo nível de impurezas, que pode ser considerado residual.
Materiais Ferrosos 10
A obtenção de ferro gusa geralmente ocorre no chamado alto forno, embora um material
quimicamente semelhante, porém com aspecto esponjoso possa ser obtido pelo processo de
redução direta, e depois utilizado de modo semelhante ao ferro gusa sólido obtido no alto forno.
No alto forno é introduzido o minério de ferro sob a forma de sínter ou pelotas (o minério
inicialmente contendo cerca de 99 % de Fe2O3, que após ser submetido à sinterização ou
pelotização, que reduz o teor de Fe2O3 para cerca de 80 %), é transformado em ferro gusa
líquido com teor de fero da ordem de 95 %. Após a produção no alto forno o ferro gusa é
submetido à conversão em aço na aciaria a oxigênio, que também recebe sucata como parte da
matéria-prima, tendo o teor de ferro elevado pela eliminação de impurezas e grande parte do
carbono. O aço líquido é submetido ao lingotamento contínuo (mais comum atualmente, por
questões de produtividade do que a solidificação em lingoteiras) e assim, solidificado, é
encaminhado aos processos de conformação mecânica, como laminação (inicialmente a quente
e posteriormente a frio) e o forjamento.
Materiais Ferrosos 11
Uma rota alternativa prevê a alimentação de minério de ferro e pelotas numa usina de redução
direta de minério de ferro, constituída por fornos de redução direta, que são retortas verticais
com gás reformado. Por esta rota, ao invés do ferro gusa, é obtido o chamado ferro esponja (no
estado sólido), que junto com sucata é utilizado como matéria-prima nos fornos elétricos, onde é
obtido o aço líquido, solidificado no lingotamento contínuo e depois ás operações de
conformação mecânica do aço sólido, como laminação e forjamento. A redução direta faz parte
do escopo de outro texto deste conjunto de textos sobre a fabricação de aço.
O alto forno produz ferro gusa como seu principal produto, contendo cerca de 4,5 % de carbono,
0,3 a 0,7 % de silício, 0,01 a 0,04 % de enxofre, no máximo 0,1 % de fósforo e cerca de 0,1 5 de
manganês. Além disso, produz escória contendo 30 a 40 % de SiO2, 5 a 15 % de Al2O3, 35 a
45 % de CaO, 5 a 15 % de MgO e 1 a 2 % de enxofre. Recentemente tem crescido o
aproveitamento da escória de alto forno para a fabricação de cimentos e outros materiais
cerâmicos. A basicidade (B) da escória é dada pela razão entre a soma dos teores de CaO e
MgO e a soma dos teores de SiO2 e Al2O3.
Materiais Ferrosos 12
O gás de topo, que escapa do alto forno contém cerca de 22 % de CO, 22 % de CO2 (razão
CO/CO2 praticamente unitária) 3 % de H2, 50 % de N2 e 3 % de H2O. Quando o ar é soprado
no alto forno, o oxigênio, ao entrar em contato com o coque, reage para formar CO e CO2:
 C + O2 = CO2 ; C + 1/2O2 = CO; CO2 + C = CO
 O ar pode estar seco ou úmido. Se estiver úmido, a uma temperatura de cerca de 1300 ºC e
pressão de 4,3 atm H2O é convertida em H2. A pressão de topo é de 2,5 atm.
Os gases CO e H2 assim formados são redutores:
 Fe2O3 → Fe3O4 → FeO (na verdade FexO, onde x é cerca de 0,97.
 FexO é reduzido a ferro líquido, o chamado gusa (em inglês: “pig iron”, devido ao excesso
de impurezas).
Materiais Ferrosos 13
O alto forno é alimentado (inserção de matéria-prima) por guindastes, enquanto o produto (ferro
gusa) é retirado por baixo e transportado por meio de carros torpedos, que o levam diretamente
à aciaria. O cadinho do alto forno apresenta uma base de argila com cerca de 3 metros de
espessura. Os regeneradores são do tipo Cowpers.
A escória é resfriada por jatos d’água, sendo utilizada como matéria-prima para a fabricação de
cimento, principalmente do tipo Portland.
Antes de chegar á aciaria o ferro gusa é armazenado em imensos fornos rotativos, de modo que
a quantidade de gusa não seja superior ao que pode ser processado na aciaria, e nestes fornos
sua temperatura e sua composição química são controladas. O gusa também pode ser
produzido em lingotes para exportação. Quando o baixo teor de enxofre é uma necessidade
muito aguda, utiliza-se o carvão vegetal como parte da matéria-prima. O tempo de vida médio
de um alto forno é de 12 anos aproximadamente.
Materiais Ferrosos 14
O alto forno pode ser divido em três zonas principais:
 A – Trocador químico superior.
 B – Zona de reserva química (FeO).
 C – Trocador químico inferior.
Em A e B ocorre a redução indireta (zona de preparação) e em C a redução direta (zona de
elaboração).
No fundo do alto forno, na região denominada cadinho, deposita-se o ferro gusa, contendo em
elevados teores: C, Si, Mn, P, S e outros elementos. A escória localiza-se sobre o metal líquido,
por ser menos densa. Na interface entre metal e escória ocorre a migração de elementos
químicos entre estes produtos.
Materiais Ferrosos 15
A hematita Fe2O3 é reduzida a magnetita (Fe3O4) e esta a wustita (FeO). Na wustita líquida as
gotas que atravessam a parte inferior do alto forno (“chuva”) são reduzidas (altas temperaturas e
alto potencial redutor).
Na parte inferior do alto forno, na chamada zona de elaboração, o ar é soprado entre 1600 e
2100 ºC. Por cima a escória contém SiO2 e outros óxidos (Fase I), enquanto embaixo o ferro
gusa líquido contém Fe e outros metais (Fase II).
As ventaneiras sopram ar que contém O2, que oxida o C a CO2 em ambiente turbulento, com
muita agitação. As ventaneiras estão localizadas entre a fase I e a fase II, juntas ou separadas e
o sopro atravessa a região de turbulência.
Em outra região ocorre a reação de Boudouard: CO2 + C = 2CO. A válvula do gás de topo
controla as pressões dos gases (princípio Le Chatelier).
Materiais Ferrosos 16
Logo abaixo do sopro contendo oxigênio existe uma atmosfera de gás, mais abaixo a escória e
abaixo desta o metal líquido. Nessa situação o gás não se difunde para o metal, ao contrário do
que corre mais acima.
Fe2O3 e Fe3O4 são reduzidos a FeO líquido, o qual reage com C: FeO + C = FeC, sendo que
este carbeto difunde-se para p Fe líquido. Na verdade o Fe3O4 é um espinélio: FeO.Fe2O3, o
qual é dissociado numa temperatura de cerca de 650 ºC, liberando Fe2O3 e FeO.
De modo semelhante, para o manganês: MnO, Mn2O3, Mn3O4 (Mn2O3.MnO) corre esta reação
com C: MnO + C = MnC, sendo que este carbeto também se difunde para o ferro líquido.
SiO2 + C + SiO , S → SixSy: o óxido e o sulfeto de Si são gases, controlados no topo.
Materiais Ferrosos 17
Cr, Ni, Zn e Cu são importantes elementos de liga. Alguns elementos são particularmente
importantes para o ferro gusa, como Si e Mn: a oxidação destes elementos é exotérmica,
fornecendo calor ao processo. Na aciaria não há outra fonte de calor. Estes elementos devem
ser controlados através das variações de pressão no gás de topo. O S e o P são controlado na
carga: CaCO3 = CaO + O2, sendo que o CaO controla o S: CaO + FeS = CaS + FeO (CaO fica
na escória e FeS no metal). FeO + C = Fe + CO. Como CaS é muito mais estável que FeS,
passa para a escória e permanece nesta (não se reduz).
A estatística operacional de um alto forno com alta produtividade pode ser descrita
genericamente a seguir: para uma produção de 1000 ton/dia, partindo de uma carga com 60 a
40 % de sínter e 40 a 60 % de pelotas, combustível da ordem de 535 kg ton de Fe, sendo o 450
kg de coque e 85 litros de óleo. O cadinho teria 14 m de diâmetro e volume interno de 4373 m3.
A vazão do sopro seria de 8000 m3/min, a pressão do topo seria 2,5 bar, a pressão de sopro 4,3
bar e a temperatura seria 1350 ºC, sendo o teor de oxigênio de até 3 %.
Materiais Ferrosos 18
A matéria-prima, na entrada do alto forno seria composta por: 7820 ton/dia de sínter, 8439
ton/dia de pelotas, 14976 ton/dia de sopro, 4500 ton/dia de coque, 400 ton/doa de calcário e 700
ton/dia de óleo.
O material na saída teria a seguinte composição: 10.000 ton/dia de ferro gusa, 3.000 ton/dia de
escória e 20.966 ton/dia de gás.
Características básicas de operação do alto forno: pressão de topo, que afeta a reação de
Boudouard: 2 a 3 bar, boa distribuição no topo (passagem de gás na ventaneira), alta
temperatura de sopro (cerca de 1350ºC, acima disso não compensa termodinamicamente),
excelente preparação de carga, injeção de O2, quantidades adequadas de óleo, finos de C no
sopro e coque “rate”.
Materiais Ferrosos 19
O alto forno é um reator termicamente eficiente, que funciona em regime de contracorrente: gás-
sólido (coque e minério), efetua queima de coque (produz CO e CO2) e promove a redução do
minério: Fe2O3 → FeO (wustita) → Fe sólido a partir do Fe saturado com C no estado líquido.
O coque sofre amolecimento na altura das ventaneiras, prejudicando a passagem de gás.
Fundentes como CaO e MgO fluidificam o material, reduzindo a tensão superficial, a qual
aumenta com a elevação da proporção de SiO2 e Al2O3, além de promoverem dessulfuração.
O CaCO3 proveniente do calcário e da dolomita decompõe-se em CaO e CO2.
O ferro gusa contém cerca de 4 a 5 % de carbono, 0,3 a 0,7 % de silício e cerca de 0,1 % de
manganês. O teor de enxofre no gusa é da ordem de 0,01 a 0,04 % e o de fósforo em torno de
0,1 %.
A escória contém 30 a 40 % de SiO2, 5 a 15 % de Al2O3, 35 a 45 % de CaO, 5 a 15% de MgO e
1 a 2 % de S (proveniente do CaS e MgS). A basicidade (B) é da ordem de 1,1 a 1,2, definida
como a razão entre a soma dos teores de CaO e MgO e a soma dos teores de SiO2 e Al2O3.
Materiais Ferrosos 20
A reação entre O2 e C do coque é uma combustão perfeita: C coque + O2 = CO2, e posteriormente,
o CO2 formado reage instantaneamente: CO2 + C coque = 2CO. Na zona de fusão existe coque
amolecido e metal e escória fundidos, na cuba (parte inferior do alto forno, em forma de tronco de
cone invertido) , onde mais em cima predomina FeO e ganga sólidos. O ar é soprado por baixo e
logo forma CO.
A reação de Boudouard (CO2 + C coque = 2CO) é endotérmica e acarreta a gasificação do coque. O
CO produzido reage com FeO sólido: CO + FeO sólido = Fe sólido + CO2, a pós as reações de
redução na origem: Fe2O3 → Fe3O4 → FeO. O CO reduz o FeO a Fe, havendo 70 % de CO e 30 %
de CO2, e na reação de Boudouard o CO2 é reduzido a CO (100 % de CO). essas reações ocorrem
a cerca de 927 ºC.
A reação de Boudouard é endotérmica, ou seja, reduz a temperatura, mas a redução de FeO a Fe é
levemente exotérmica, evitando que a temperatura caia abaixo de 927 ºC. Se aumentar a
temperatura de sopro na ventaneira, produz mais CO2, que reage para formar CO, reduzindo a
temperatura. Na temperatura de 927 ºC a razão CO/CO2 é de aproximadamente 2,3. Na redução
direta: FeO + C = CO2 (combustão perfeita), FeO + C = CO: redução indireta (combustão
imperfeita).
Materiais Ferrosos 21
A razão de coque é de 250 kg de coque para cada tonelada de minério. Antigamente era e de 1
tonelada para cada, mas foi reduzida com as melhorias no processo de aglomeração do minério
e também com o pré-aquecimento do ar, assim como também com o uso de moinhos de coque.
A pressão no topo é de 2 a 3 atm: C + CO2 = 2CO (reação de Boudouard). A distribuição da
carga no alto forno é otimizada. A temperatura de sopro do ar é elevada: cerca de 1300 ºC. A
carga deve ser preparada com muito cuidado. Utiliza-se certa injeção de óleo, gás e ar.
O minério extraído das minas é empilhado em pilhas de cerca de 200.000 toneladas com 600 a
700 camadas. É então transportado para a unidade de sinterização, na qual é introduzido com
água, coque e fundentes, resultando no sínter que é transportado para o alto forno.
Materiais Ferrosos 22
 Óxidos:
CO + 3Fe2O3 = 2Fe3O4 + CO2 (exotérmica).
CO + Fe3O4 = 3FeO + CO2 (endotérmica).
A temperatura do gás no topo do alto forno cai devido à reação endotérmica e ao seu encontro
com a carga fria,.
 Reações e comportamento no alto forno:
Na rampa: óxidos (impurezas) são reduzidos, e o Fe absorve C. O Fe líquido reage com C
sólido para formar FexC líquido. Cada gota de metal líquido percola o C sólido do coque e o C
do CO e por difusão e dissolução do C ocorre a absorção deste elemento pelo Fe
Materiais Ferrosos 23
Zona (%) Comportamento químico (m/Wmm2)
Cadinho Saturação do Fe com C, redução final: (CaO)3P2O5, SiO2 e MnO
Ventaneiras Oxidação do C do coque e dos hidrocarbonetos: CO, CO2: primeiro o CO2 e depois o CO.
 Comportamento térmico:
Nas ventaneiras: evolução de calor resultante da combustão. Transporte de calor: o calor do gás
ascendente é transferido para a carga descendente. Então corre fusão da carga: formação e
fusão da escória, redução final do FeO e transporte de calor.
Reações cíclicas: redução do FeO, gaseificação. Ocorre redução da temperatura dos gases
ascendentes. Na metade da cuba encontra-se a zona de residência química: à temperatura de
927 ºC: Fe2O3 + CO = FeO + CO2: no quarto de cuba superior: a hematita se reduz.
 Ventaneiras:
O ar é soprado com temperatura e pressão controladas. Mais próxima à saída das ventaneiras
foram-se a zona de combustão e imediatamente depois a zona de oxidação, até chegar à zona
externa.
Materiais Ferrosos 24
 Na zona de combustão existem os gases: O2, CO, CO2, N2, H2 e H2O, ocorrendo as
reações:
O2 + C + CO e CO2, H2 → H2O e H2O → H2.
Na zona de oxidação existem os gases: CO, CO2, N2, H2 e H2O. O O2 residual reage com C
para formar CO e CO2.
Na região externa existem os gases CO, H2 e N2. As reações que acontecem são:
O2 + C = CO e CO2 + C = 2CO.
As ventaneiras apresentam largura da ordem de 1,5 a 1,7 m, atingem altíssimas temperaturas
com gás (não definido) em circulação.
Materiais Ferrosos 25
 Redução do Silício:
No ferro gusa destinado à aciaria existe silício em proporções significativas. Se a proporção de
silício for insuficiente, acarretará problemas na aciaria, pois a escória se tornará muito básica.
Entretanto, se o teor de silício for muito alto, problema inverso ocorre, a escória será muito ácida
e excessiva, acarretando perdas de metal. Na região das ventaneiras baixas temperaturas
afetam o coque “rate”, enquanto altas temperaturas afetam o comportamento químico. Nesta
região corre redução da SiO2 a Si, MnO a Mn e P2O5 a P, sendo que estes elementos (Si, Mn e
P) são absorvidos pelo ferro líquido, para o qual se difundem.
Se houver condições termodinâmicas favoráveis, podem ser formar silicatos (CaOxSiO2y), que
inviabilizam a redução, por serem muito estáveis termodinamicamente, prejudicando assim todo
o processo.
Na zona de combustão ocorre a formação de SiO e SiS. O SiO é estável em altas temperaturas:
Si + SiO2 = 2SiO.
Na rampa ocorre a transferência de Si e S para gotas de metal líquido e escória. Posteriormente
ocorre a oxidação do Su pelo FeO e MnO na escória: a gota de Fe/Si atravessa a escória
contendo MnO e FeO, formando uma camada de SiO2 em torno da gota de Fe líquido. Do
mesmo modo, a gota de Fe/S atravessa a camada de CaO, formando CaS em torno da gota de
Fe líquido.
Materiais Ferrosos 26
 As reações químicas que ocorrem nestes processos são:
SiO2 = 2[C] = Si + 2CO
MnO + [C] = [Mn] + CO
CaO + [S] + [C] = (CaS) + CO
 A tabela a seguir sumariza os processos:
Na escória formam-se vários óxidos: MnO, SiO2, CaO, Al2O3 e também FeO. As reações entre
a atmosfera do forno, a escória , o metal líquido e o refratário tendem a aumentar a fluidez,
favorecendo reações nas interfaces.
Materiais Ferrosos 27
Zona Composição química (m/Wmm2 Nível de silício (m/Wmm2)
Rampa Fe Bem Baixo
Ventaneiras Ganga transferindo Si para o metal (Fe) 3 a 4 %
Escória
Escória recebendio Si do metal e metal
reagindo com C: Fe + 4 % C
1 a 2 %
 Dessulfuração no Alto Forno
Parte do enxofre está na escória e parte no metal líquido. A reação de sulfetação ocorre do
seguinte modo: [S] + [Me] = (MeS), onde Me = Fe ou Mn.
O diagrama de Ellingham para sulfetos indica que, do ponto termodinâmico, o manganês
apresenta maior afinidade pelo enxofre do que o sódio, magnésio, cálcio e cério (nessa ordem
decrescente).
No Fe líquido: S → [FeS]. No alto forno: 3[Fe] líquido + SiO2 ganga = [FeS] + 2(FeO): na
saturação o FeO se precipita; 2[Fe} líquido + S2 ganga = 2[FeS]. O teor de enxofre do ferro
gusa é menor ou igual a 0,07 % (0,02 a 0,07 %), mas na aciaria o teor de enxofre cai muito
mais.
[S] + (CaO) + [C] = (CaS) + CO gasoso.
Materiais Ferrosos 28
O logaritmo da constante (k) desta reação corresponde ao logaritmo da razão entre a
multiplicação da concentração de CaS pela pressão de CO e a multiplicação das atividades de
S, C e CaO. Normalmente a temperatura atingida é de cerca de 1400 ºC, a pressão de CO é 1
atm e as atividades de CaO, CaS e C são unitárias (1).
No alto forno o chamado ponto de equilíbrio químico (W em inglês “pinch point”) deve ser
evitado, pois nesse caso é difícil reduzir o FeO a Fe. No W há 100 % de FeO, mesmo com alto
consumo de coque, que teria grande impacto econômico desfavorável. Há um determinado
tempo de residência na região das ventaneiras. Mudando a temperatura e a pressão no topo,
modificam-se as posições das zonas no alto forno.
Deve haver controle de: carga (composição e qualidade), sopro (velocidade, temperatura,
pressão e umidade: afetam as reações das zonas das ventaneiras: C → CO2 → CO em função
de delta H).
Em W ocorre dissociação do vapor: consome calor e libera H2 (enriquece o gás como agente
redutor).
Materiais Ferrosos 29
A distribuição da carga no topo influi na descida da carga através da altura do alto forno, mas a
velocidade de decida deve ser controlada. A distribuição de gases revela presença de N2, CO e
CO2 na região inferior da cuba, acima das ventaneiras. As regiões mais controladas são o topo
(parâmetros da carga: massa, composição e sequência de carregamento) e as ventaneiras
(parâmetros do sopro: temperatura, W, pressão e vazão; injeções de óleo, carvão, oxigênio e
gás). Se for utilizada dolomita em vez de calcário, acarreta-se dissociação em condições
diferentes, alterando a posição das zonas dentro do alto forno. Para mantê-las seria necessário
alterar a pressão do gás de topo, a composição do ferro gusa e o carregamento. Na parte de
baixo do alto forno produz-se ferro gusa com controle de composição química, temperatura,
quantidade (massa em toneladas) e teor de silício. O gás de topo, além do controle de pressão,
pode ter outras variáveis controladas como temperatura, % CO, CO2, H2 e N2.
Materiais Ferrosos 30
De um modo geral, na entrada são controladas: a carga, % Fe, W coque; durante o processo: a
demanda de coque (seco), a razão O2 para CO (redutor), a razão O2 para H2 (redutor) e a
razão O2 para C (redutor); e na saída: coque (W) e ferro gusa.
Input: sopro, volume, temperatura, W, O2 e óleo. Processo: combustão de C, calor de fusão,
ferro gusa líquido, escória, redução de MnO, FeO, P2O5 e dissociação da H2O, variação de
entalpia: sopro, coque, carga: redução da SiO2, superaquecimento da escória e gás de entrada.
Dissociação de carbonetos metálicos: MCO3 = MO + CO2 (gás), onde M pode ser: Ca, Mg, Fe,
Mn e outros. No caso da dolomita, composta por uma mistura de MgCO3 e CaCO3,
primeiramente dissocia-se o carbonato de magnésio (MgCO3 a 400ºC) e depois calcário
(CaCO3 a 900ºC). O MgCO3 é mais caro e aumenta a viscosidade
Materiais Ferrosos 31
 Cinética (velocidade/taxa) de dissociação dos carbonatos:
A partícula é formada por um núcleo de MCO3 sobre o qual se forma uma camada de MO, óxido
muito poroso, havendo uma interface entre MCO3 e MO. Calor é transferido para a interface,
permitindo correr a reação de dissociação. CO2 é liberado e migra da interface através da
camada de MO para fora da partícula. Este é o modelo idealizado, topo químico, com
encolhimento (redução ou contração) do núcleo. A partícula possui formato aproximadamente
esférico. Ocorrem: transferência de calor, transporte do gás CO2 e a reação química de MCO3
para MO, com variação de pressão e temperatura. Fenômenos envolvidos: sinterização,
densificação de grãos (que impede o transporte de gás), trincamento e formação de canais
preferenciais. Todo o processo de dissociação dos carbonatos apresenta um período inicial de
incubação.
À medida que a transformação ocorre de fora para dentro, fecham-se os canais para a saída
dos gases, dificultando cada vez mais o prosseguimento da reação.
Materiais Ferrosos 32
Na prática o MCO3 é praticamente puro, a partícula aproximadamente esférica, o volume da
partícula praticamente constante, praticamente não surgem trincas e a sinterização seria
praticamente inexistente se as condições do processo forem muito próximas das condições
ideais.
A taxa de transferência de calor para a interface MCO3/MO é diretamente proporcional à
condutividade térmica efetiva da camada de MO produzida e ao gradiente térmico da superfície
para o interior da partícula, sendo inversamente proporcional à diferença entre os valores
inversos dos raios (dimensões) das camadas, superficial e interna.
Há três possibilidades de controle do processo:
 A) Controle pela interface.
 B) Controle pelo transporte de gás CO2.
 C) Controle pelo transporte de calor.
Materiais Ferrosos 33
O ferro gusa é o produto de primeira fusão do alto-forno. Como tem alto teor de carbono não
pode ser usado diretamente para produção de componentes industriais, necessita antes passar
por um conversor o qual fará a redução do carbono, injetando oxigênio.
A escória é mais um produto do alto-forno. Resulta dos resíduos de carvão que são aglutinados
pelo calcário. Pode ser empregado na fabricação do chamado “cimento metalúrgico”.
Os gases do alto-forno é outro subproduto da metalurgia do ferro. Seu poder calorífico é alto,
podendo ser usado na própria siderurgia no aquecimento de fornos e caldeiras.
Materiais Ferrosos 34
Produtos do alto-forno
O principal produto do alto-forno é o ferro gusa, cuja
utilização é feita nas aciarias, para onde é encaminhado
no estado líquido e transformado em aço; o ferro gusa é
ainda utilizado no estado sólido como principal matéria-
prima das fundições de ferro fundido. (Chiaverini 1986c,
p.27).
Definição e fabricação do aço
Das ligas metálicas o aço é o material de construção mais usado. Podemos classificar como
carbono comum, quando os elementos predominantes são ferro e carbono e liga quando
houver outros elementos na mistura, podendo ser de baixo, médio e altos teores. A definição
de aço não é uma tarefa muito fácil, visto que os aços fabricados não são ligas binárias (ferro
e carbono), mas um composto cujos dois elementos principais são ferro e carbono, além de
outros secundários como o silício (Si), o enxofre (S), o fósforo (P) e o manganês (Mn). Os
compostos secundários são chamados de impurezas pela sua quantidade e por estarem
sempre presentes devido ao processo de fabricação.
Definição proposta por Chiaverini: Aço é a liga ferro-carbono contendo geralmente 0,008% até
aproximadamente 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais, resultantes dos processos de
fabricação. (apud 1988, p.21). O limite inferior a 0,008% corresponde à máxima solubilidade do carbono no
ferro à temperatura ambiente e o limite superior 2,111% corresponde à máxima quantidade de carbono que
se dissolve no ferro e que ocorre a 1148ºC. Essa quantidade máxima de 2,0% (ou 2,115 conforme se verifica
no diagrama de equilíbrio) depende, por outro lado, da presença ou não nos aços de elementos de liga ou da
presença dos elementos residuais em teores superiores aos normais. (1988, p.21).
Materiais Ferrosos 35
Materiais Ferrosos 36
Nessas condições, para se ter uma definição mais precisa, devemos considerar dois tipos
fundamentais de aço:
“Aço-carbono” ou “liga ferro-carbono contendo geralmente 0,008% até aproximadamente
2,11% de carbono, além de certos elementos residuais, resultantes dos processos de
fabricação”.
“Aço-liga” ou “aço-carbono que contém outros elementos de liga ou apresenta os elementos
residuais em teores acima dos que são considerados normais”. (1988, p.21).
A matéria-prima para a produção do aço é o ferro gusa, que Chiaverini assim define:
...uma liga ferro-carbono em que o carbono e as impurezas normais (Si, Mn, P e S, principalmente as
duas primeiras) se encontram em teores elevados, a sua transformação em aço, que é uma liga de mais
baixos teores de C, Si, Mn, P e S, corresponde a um processo de oxidação por intermédio do qual a
porcentagem daqueles elementos é reduzida até os valores desejados. (1986c, p.30).
Materiais Ferrosos 37
Os aços são ligas ferro-carbono que podem conter concentrações apreciáveis de outros
elementos, formando o chamado “aço-liga”. Nesses aços ocorrem concentrações
controladas de elementos que são utilizadas intencionalmente para melhorar as
propriedades. A indústria siderúrgica fabrica aços com elementos de ligas segundo as
necessidades comerciais desses produtos, que servem para atender às exigências dos
projetistas de máquinas e equipamentos. As propriedades mecânicas são sensíveis ao
teor de carbono que normalmente é inferior a 1,0%. A classificação básica dos aços é
definida pelo seu teor de carbono (baixo, médio ou alto teor de C).
A redução do ferro gusa até atingir o teor de carbono necessário para a fabricação do aço
é feita através de adição de agentes oxidantes. Esses agentes podem ser de natureza
gasosa como o ar e o oxigênio (processo pneumáticos) e sólida no caso dos minérios na
forma de óxidos (processo Simens-Martin, elétrico, duplex, etc.).
Na prática é a injeção de oxigênio no ferro gusa que está na fase líquida (fusão), mais ou
menos a 1600°C. Essa temperatura facilita a combinação do oxigênio com o carbono e a
formação do CO2 que é o agente redutor do teor de carbono da mistura, permitindo obter o
aço-carbono comum.
O ferro gusa é processado em conversores onde, por oxidação, os teores de carbono,
silício, manganês, fósforo e enxofre são reduzidos. Os processos de produção do aço
podem ser classificados de acordo com o agente oxidante utilizado:
 Processos Pneumáticos – onde o agente oxidante é o ar ou oxigênio. O processo
pneumático tradicional é o que utiliza o conversor Bessemer, cujo nome é devido ao seu
inventor, em 1847.
 Processos Siemens-Martin – onde o agente oxidante é composto de materiais sólidos
contendo óxidos. Por outro lado, dependendo da composição do ferro gusa e do tipo de
aço desejado, pode-se considerar ainda outra divisão dos
 processos de sua fabricação independentemente do tipo de forno.
 Processos ácidos – tipo de processo em que se pode remover ou reduzir facilmente a
quantidades de carbono, silício e manganês, diferente da forma como acontece com o
fósforo e o enxofre;
 Processos básicos – em que se podem reduzir a valores desejados todos os elementos
citados no item anterior.
Materiais Ferrosos 38
Diagrama de fases ferro-carbono (Fe-C)
De todos os sistemas de ligas binárias, o formado pelo ferro e pelo carbono é o mais importante.
Tanto os aços como os ferros fundidos que são os principais materiais estruturais, são
essencialmente ligas ferro-carbono (Fe-C).
O diagrama de fase ferro-carbono apresenta além da região do aço (até 2,11%C – ponto E) a do
ferro fundido (de 2,11%C até 4,6%C – pontos E a C). Esse diagrama trata das ligas ferro-carbono
(Fe-C) para teores de carbono desde zero até 6,7%. Este último é o valor correspondente à
composição da cementita (Fe3C). Acima de 4,5% de C as ligas ferro-carbono apresentam poucas
aplicações.
O teor de carbono dos aços é de 0,008% até aproximadamente 2,14%. O limite inferior (0,008%)
corresponde ao limite de solubilidade do carbono no ferro à temperatura ambiente. Já o limite
superior corresponde à máxima quantidade de carbono que se dissolve no ferro e, ocorre a 1148°C
(ponto E).
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Na maioria das aplicações industriais, os aços deixam de ser uma liga binária, já que são
adicionados diversos elementos de liga em sua composição. Devido aos processos de obtenção,
sempre há, na composição química, Si, Mn, S e P, os quais, em baixos teores, praticamente não
interferem no diagrama de fases. No entanto, para os aços-liga o diagrama de fases serve apenas
como referência.
Mesmo que o diagrama de equilíbrio esteja baseado na liga binária Fe-C, ele também permite que
se tenha uma ideia das sequências ou transformações alotrópicas de ligas complexas (ou mesmo
para o ferro fundido que, na realidade, é uma liga ternária Fe-C-Si).
O diagrama de fases serve então, para um melhor entendimento dos fenômenos que alteram a
microestrutura dos aços e ferros fundidos. Permite também analisar as transformações alotrópicas
do ferro e a influência do carbono sobre essas transformações.
O ponto S (euteoide), com 0,77% de C que define os aços em: eutetoides, hipoeutetoides ou
hipereutetoides. É o equilíbrio entre as fases líquidas e sólidas da ferrita e austenita.
Nos ferros fundidos, tal como nos aços, temos o ponto C (eutético), com aproximadamente 4,3% de
C que classifica os ferros fundidos em: hipoeutético, eutético e hipereutético. É o ponto de equilíbrio
entre a austenita e a cementita.
Estrutura dos sólidos cristalinos
Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade segundo a qual os
átomos ou íons estão arranjados em relação uns aos outros. Um material cristalino é aquele nos
quais os átomos estão situados em um arranjo que se repete ou que é periódico ao longo de
grandes distâncias atômicas. Quando ocorre a solidificação de um material, os seus átomos se
posicionarão em um padrão tridimensional repetitivo no qual cada átomo está ligado aos seus
vizinhos mais próximos.
Essas estruturas em geral têm a forma cúbica onde em cada um dos vértices há uma molécula
do material. Quando em cada uma das faces tiver também uma molécula central, chamamos de
CFC (cúbico de face centrada) e se no centro do sólido contiver uma molécula, chamamos de
CCC (cúbico de corpo centrado).
Todos os metais, muitos materiais cerâmicos e alguns polímeros formam estruturas cristalinas
sob condições normais de solidificação. Os materiais que não cristalizam são chamados de não
cristalinos ou amorfos.
Materiais Ferrosos 42
Materiais Ferrosos 43
Definição de Cristal: É um sólido no qual os constituintes,
estão organizados num padrão tridimensional bem definido
que se repete no espaço, formando uma estrutura com uma
geometria específica, criando uma estrutura cristalina que se
manifesta macroscopicamente por assumir a forma externa de
um sólido de faces planas regularmente arranjadas, em geral
com elevado grau de simetria tridimensional.
Representação dos tipos de células unitárias dos metais
Algumas propriedades dos sólidos cristalinos dependem da sua estrutura cristalina, ou seja, da
maneira como os seus átomos, íons ou moléculas estão arranjados espacialmente. Existem muitos
tipos de estruturas cristalinas diferentes. Da mesma forma, essas estruturas podem ser bastante
simples (como a dos metais) ou bastante complexas (como as de alguns materiais cerâmicos e
poliméricos).
No intuito de facilitar o entendimento dos arranjos cristalográficos, usa-se uma esfera para
representar os átomos. Para descrever uma estrutura cristalina, é conveniente subdividi-la em
pequenas partes. Essas partes recebem o nome de células unitárias. Estas células unitárias são
formadas por grupos de átomos que se dispõem em posições específicas, formando figuras
geométricas típicas. Essas disposições recebem o nome de reticulado ou retículo cristalino.
Existem sete tipos básicos de reticulados cristalinos: cúbico, hexagonal, tetragonal, romboédrico,
ortorrômbico, monoclínico, triclínico.
Materiais Ferrosos 44
Microestruturas em ligas Fe-C
Considerar-se-á aqui somente o desenvolvimento das microestruturas dos aços, pois no campo
correspondente aos ferros fundidos, sempre existirão maiores quantidades de elementos de
liga, principalmente o Si, tendo-se assim uma liga ternária, enquanto o diagrama Fe-C é
pertence a uma liga binária. As principais fases sólidas presentes no diagrama Fe-Fe3C são:
ferrita-α, austenita (γ), cementita (Fe3C) e Ferrita-δ.
Na Ferrita-α o carbono está dissolvido na estrutura CCC, portanto pouco solúvel, atingindo
solubilidade máxima de 0,02% a 727 °C. Embora o carbono esteja presente em concentrações
relativamente baixas, tem influência significativa nas propriedades mecânicas da ferrita. Esta é
um dos constituintes mais moles e dúcteis dos aços, apresentando dureza de 90 HB (dureza
Brinell) e é magnética até 770°C.
A Austenita (γ) tem estrutura cristalina CFC, sendo a solubilidade do carbono na austenita de
2,08% a 1148°C e 0,8% a 727°C. Apresenta dureza de aproximadamente 300 HB e não é
magnética.
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Cementita (Fe3C) é um composto frágil e duro, possuindo uma composição de 6,67% C e 93,3%
Fe, e apresentando dureza de 700 HB.
Ferrita-δ tem estrutura CCC assim como a ferrita-α. A solubilidade máxima do carbono é de 0,09%
a 465°C.
Outra microestrutura muito importante nos aços é a Martensita, que se forma quando ocorre o
arrefecimento rápido da austenita, processo conhecido pelo nome de têmpera. A dureza e a
resistência mecânica das martensitas estão diretamente relacionadas com o seu teor de carbono e
aumentam quando este teor aumenta. Sua dureza varia de 50 a 68 HRC (dureza Rockwell escala
C). O ferro puro, ao ser aquecido, experimenta duas alterações na sua estrutura cristalina antes de
se fundir. À temperatura ambiente, a forma estável, conhecida por ferrita, ou ferro α, possui uma
estrutura cristalina CCC. A ferrita experimenta uma transformação polimórfica para austenita, com
estrutura cristalina CFC, ou ferro γ, à temperatura de 912°C. Essa austenita persiste até 1394°C,
temperatura em que a austenita CFC reverte novamente para uma fase com estrutura CCC,
conhecida por ferro δ a qual, finalmente se funde a uma temperatura de 1538°C. Todas essas
alterações estão aparentes ao longo do eixo vertical, à esquerda, no diagrama de fases.
A microestrutura define três tipos de aços: hipoeutetoides; eutetoides; hipereutetoides.
Ligas ferrosas
As ligas ferrosas são aquelas onde o ferro é o elemento principal da liga. Essas ligas são
produzidas em maior quantidade do que qualquer outro tipo de metal e são especialmente
importantes como materiais de construção mecânica.
Seu amplo uso é o resultado de três fatores:
 Compostos que contêm ferro, existem em quantidades
abundantes no interior da crosta terrestre.
 O ferro metálico e as ligas de aço podem ser produzidos usando
técnicas de extração, beneficiamento, formação de ligas e
fabricação relativamente econômicas.
 As ligas ferrosas são extremamente versáteis e podem ser
adaptadas para possuir uma ampla variedade de propriedades
mecânicas e físicas.
Materiais Ferrosos 47
A desvantagem principal de muitas ligas ferrosas é a suscetibilidade à corrosão. Como principais ligas
ferrosas têm: os aços, com teor de carbono até 2%; os ferros fundidos com carbono acima de 2% e
raramente superior a 4%.
Ao considerar a presença de elementos de liga, essa classificação é ampliada para:
 Aço-carbono quando o teor de carbono está entre 0,008% e 2,11%, além
de certos elementos residuais (Mn, Si, P e S) que resultam do processo
de fabricação.
 Aço-liga é o aço carbono que contém outros elementos além dos
residuais ou este em quantidades superiores às normais.
Existem também os ferros fundidos (cinzento, branco, mesclado, maleável e nodular) que são liga
ferro-carbono-silício, com carbono acima de 2% e silício entre 1,2% e 3%.
Materiais Ferrosos 48
Teor de carbono e elementos de liga
Os produtos da siderurgia que são denominados “aços”, na maioria das vezes, conhecidos
simplesmente por “ferro”, são na realidade os “aços- carbono comuns”. A adição de quantidades de
outros elementos define os “aços ligas”. Essas ligas podem ser usadas por causa das propriedades
especiais que adquirem pela adição de elementos químicos na mistura ferro-carbono, como
ferramentas para usinagem de materiais. São os chamados “aços rápidos”. Além desses existem
os “aços inoxidáveis” usados como matéria-prima na construção de utensílios para indústria
alimentícia.
Para melhorar as propriedades das ligas ferrosas pode-se alterar a composição química
aumentando as proporções ou mudando seus componentes. Outro modo de se obter melhoria nas
propriedades mecânicas, que é um dos maiores objetivos dos aços, são os tratamentos térmicos e
os termoquímicos. O objetivo dessas mudanças é melhorar a resistência à tração (propriedade
mecânica), a usinabilidade, a dureza, a resistência e a corrosão pelo calor.
Materiais Ferrosos 49
Alguns exemplos de alteração das características em função dos elementos químicos:
- O aumento do teor de carbono (C) aumenta a dureza e a resistência à tração;
- O silício (Si) ajuda a desoxidar;
- O manganês (Mn) também atua como desoxidante e dessulfurante;
- O alumínio (Al) melhora os microconstituintes;
- O fósforo (P) e o enxofre (S) são elementos que aumentam a fragilidade, por isso devem ser
mantidos em baixos teores;
- O cobre (Cu) aumenta a tenacidade e a resistência à corrosão;
- O cromo (Cr) e o níquel (Ni), em geral aumentam a resistência a corrosão e a dureza;
- O cobalto (Co), o molibdênio (Mo), o vanádio (V) e o tugnstênio (W) são elementos que
aumentam a dureza em altas temperaturas melhorando a capacidade de corte.
Materiais Ferrosos 50
Efeitos do teor de carbono
O teor de carbono exerce uma influência muito grande nas propriedades mecânicas dos materiais.
Materiais Ferrosos 51
Esquematização dos efeitos do aumento do teor de carbono
A figura ao lado mostra um esquema do
comportamento das propriedades dos materiais
ferrosos com o aumento da quantidade de
carbono. Vê-se que com o aumento da
quantidade de carbono se ganha-se em dureza,
tensões de escoamento e ruptura; em
contrapartida, perde-se em ductilidade,
tenacidade e soldabilidade.
Influência do teor de carbono nos aços
Materiais Ferrosos 52
Teor de
carbono (%)
Tipo quanto a
dureza
Têmpera Usos
0,05 a 0,15 extra macio
não adquire têmpera
Chapas, fios, parafusos, tubos estirados,
produtos de caldeiraria
0,15 a 0,30 macio
Barras laminadas e perfiladas, peças
comuns de mecânica
0,30 a 0,40 meio macio
apresenta início de
têmpera
Peças especiais de máquinas e motores,
ferramentas para agricultura
0,40 a 0,60 meio duro adquire boa têmpera
Peças de grande dureza, ferramentas de
corte, molas, trilhos
0,60 a 1,50 duro a extra duro adquire têmpera fácil
Peças de grande dureza e resistência,
molas, cabos
Classificação dos aços-carbono e aços de baixa liga
O critério adotado pela ABNT de classificação é o mesmo da SAE e tem na composição química o
seu fundamento. O número indica o tipo de aço, os elementos presentes na liga e os teores de
carbono. Os dois primeiros algarismos indicam o tipo de aço: comum ao carbono (número 10), aço
liga (os demais). Cada elemento é representado por um número. Os dois algarismos finais
mostram o teor de carbono em centésimos. A classificação dos vários aços-carbono e aços-liga
quanto a sua composição química foi estabelecida pela SAE para padronizar e limitar o grande
número de composições dos aços produzidos.
Materiais Ferrosos 53
O Quadro mostra a classificação SAE dos aços, que também foi adotada pelo AISI e pela ABNT.
Materiais Ferrosos 54
Tipo de aço Designação SAE
aço-carbono 1XXX
simples (no máximo 1,00% de Mn) 10XX
ressulfurado 11XX
ressulfurado e refosforado 12XX
com adição de Nb 14XX
simples (Mais de 1% de Mn) 15XX
aços-manganês 13XX
aços-níquel 2XXX
aços-níquel-cromo 3XXX
aços com molibdênio 4XXX
aços-cromo 5XXX
Materiais Ferrosos 55
Tipo de aço Designação SAE
aços-cromo-vanádio 6XXX
aços-tungstênio-cromo 7XXX
aços-níquel-cromo-molibdênio 8XXX
aços-silício-manganês 92XX
aços-níquel-cromo-molibdênio 93XX, 94XX, 97XX, 98XX
aços com boro XXBXX
aços com chumbo XXLXX
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
AISI – American Iron and Steel.
ANSI – American National Standards Institute.
ASTM – American Society for Testing and Materials.
DIN – Deutsches Institut für Normung.
ISO – International Organization for Standardization
SAE – Society of Automotive Engineers
Aços com baixo teor de carbono
De todos os tipos de aço, os de baixo teor de carbono são os que têm maior demanda. Esses aços
possuem, geralmente, menos de 0,25% de C, e não é possível obter tratamento térmico. A
formação da martensita, objetivo da têmpera, não ocorre.
Para aumentar a dureza (resistência), deve ser trabalhado a frio, ou sofrer tratamento
termoquímico. As microestruturas desses aços consistem nos microconstituintes ferrita e perlita.
Como consequência, essas ligas são relativamente moles e fracas, porém possuem ótimas
ductilidade e tenacidade.
Materiais Ferrosos 56
-A ductilidade é a capacidade de um determinado material sofrer
deformação, sem se romper, quando a este é aplicado uma
determinada força.
-Tenacidade é uma medida da coesão de um material, ou seja, a sua
resistência a ser quebrado, esmagado, dobrado ou rasgado.
Aplicações típicas para esses tipos de aço incluem os componentes de carcaças de automóveis,
perfis estruturais e chapas utilizadas em tubulações, edificações, pontes e latas.
Um outro grupo de ligas com baixo teor de carbono são os aços de alta resistência e baixa liga.
Eles contêm outros elementos de liga tais como:
Cobre, vanádio, níquel e molibdênio em concentrações que podem ser tão elevadas, que chegam
a 10%. Possuem maior resistência que aços comuns ao carbono com baixo teor de carbono, assim
como maior resistência à corrosão.
Sua utilização são aplicações onde a resistência estrutural é um fator primordial como em pontes,
torres, colunas estruturais de prédios altos e vasos de pressão.
Materiais Ferrosos 57
Aços com médio teor de carbono
Os aços de médio teor de carbono possuem concentrações de carbono entre aproximadamente
0,25 e 0,60%. Essas ligas podem ser tratadas termicamente por austenitização, têmpera e
revenimento para melhorar as suas propriedades mecânicas. No revenimento ocorre o alívio das
tensões produzidas pelos outros processos (austenitização e tempera) e para evitar a ruptura
brusca do aço quando solicitado por alguns dos esforços mecânicos.
A martensita formada pelo tratamento de endurecimento deve sofrer esse alívio das tensões e
diminuir uma parte da dureza para melhor atender as solicitações mecânicas de tração e
compressão.
Materiais Ferrosos 58
Os aços comuns ao carbono com médio teor de carbono possuem baixa capacidade de
endurecimento e podem ser termicamente tratados com sucesso somente em seções muito
delgadas e com taxas de resfriamento muito rápidas. Adições de cromo, níquel e molibdênio
melhoram a capacidade dessas ligas serem tratadas termicamente, dando origem a uma variedade
de combinações resistência-ductilidade.
Essas ligas termicamente tratadas são mais resistentes do que os aços com baixo teor de carbono,
porém com a perda de ductilidade e tenacidade. As aplicações dos aços ao carbono com médio
teor de carbono incluem as rodas e os trilhos de trens, engrenagens, virabrequins e outras peças
de máquinas e componentes estruturais de alta resistência que exigem uma combinação de
elevada resistência mecânica, resistência à abrasão e tenacidade.
Materiais Ferrosos 59
Aços com alto teor de carbono
Os aços com alto teor de carbono, que possuem normalmente teores de
carbono entre 0,60 e 1,40%, são os mais duros, mais resistentes, porém,
os menos dúcteis dentre todos os aços carbono. Eles são quase sempre
utilizados em uma condição endurecida e revenida e, como tal, são
especialmente resistentes ao desgaste e à abrasão.
Os aços para ferramentas e matrizes são ligas com alto teor de carbono,
contendo geralmente cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio. Esses
elementos de liga combinam-se com o carbono para formar compostos à
base de carbeto (carbonetos), que são muito duros e resistentes ao
desgaste e à abrasão. Esses aços são muito utilizados como ferramentas
de corte e matrizes para modelação e conformação de materiais, bem
como para a fabricação de facas, lâminas de corte, lâminas de serras
para metais, molas e arames com alta resistência.
Materiais Ferrosos 60
Materiais Ferrosos 61
Propriedades dos materiais (aços)
Aços inoxidáveis
Os aços inoxidáveis são altamente resistentes à corrosão (oxidação superficial)
em uma variedade de ambientes, especialmente a atmosfera ambiente. O
principal elemento de liga desses aços é o cromo, em uma concentração de, no
mínimo, 11%. A resistência à corrosão também pode ser melhorada através de
adição de níquel e molibdênio.
Os aços inoxidáveis estão subdivididos em três classificações de acordo com a
fase predominante na sua microestrutura: martensítica, ferrítica e austenítica. Uma
ampla variedade de propriedades mecânicas, combinadas a uma excelente
resistência à corrosão, torna os aços inoxidáveis muito versáteis nas suas
possibilidades de utilização, no Entanto, relativamente caros.
Materiais Ferrosos 62
Os aços inoxidáveis martensíticos são capazes de ser submetidos a tratamentos térmicos
de tal maneira que a martensita seja o seu microconstituinte principal. Os aços inoxidáveis
ferríticos e austeníticos são endurecidos e têm sua resistência mecânica aumentada
mediante deformação plástica a frio, uma vez que não são tratáveis termicamente. Os
austeníticos são os mais resistentes à corrosão, devido aos elevados teores de cromo e
também às adições de níquel. Os martensíticos e os ferríticos são magnéticos; os
austeníticos não.
Materiais Ferrosos 63
Aços Inoxidáveis Endurecimento Magnetizável Corrosão
Austeníticos
Deformação plástica
Não magnéticos Maior resistência
Ferríticos
Magnéticos Resistência normal
Martensíticos Tratamento térmico
Ferro fundido
As ligas ferro-carbono com teor de carbono superior a 2% (mais precisamente 2,14%)
correspondem aos ferros fundidos. Os elementos residuais característicos das ligas ferrosas, são:
 Silício (Si), enxofre (S), fósforo (P) e manganês (Mn)
O elevado teor de carbono dessas ligas e a presença sempre obrigatória do elemento silício
tornam, entretanto, necessário considerá-las como ligas ternárias (Fe-C-Si), de modo que os
fenômenos de transformação da austenita no resfriamento lento são mais complexos, originando
estruturas em que um novo constituinte se apresenta – carbono livre ou grafita – cuja forma,
disposição e quantidade alteram profundamente as propriedades desses materiais (CHIAVERINI,
1986c, p.146).
Materiais Ferrosos 64
Os quatro tipos principais de ferros fundidos
Materiais Ferrosos 65
Tipo de ferro
fundido
Características Aplicações
Cinzento
Fácil moldagem, resistência ao desgaste, bom
amortecimento de vibrações.
Estrutura de máquinas operatrizes, virabrequins,
rotores.
Nodular
Excelente resistência mecânica, tenacidade e
ductilidade.
Peças sujeitas à pressão e que resistam ao
choque.
Branco Alta dureza, alta fragilidade, difícil usinagem.
Estrutura de máquinas operatrizes, virabrequins,
rotores.
Maleável
Melhor usabilidade entre os ferros fundidos, boa
resistência à corrosão, boa ductilidade.
Barras de ligação, engrenagens de transmissão,
conexão de tubulações.
Juntamente com o silício temos o manganês (Mn) que tende a estabilizar a cementita e
também atua como dessulfurante. O fósforo (P) também atua favorecendo a formação
da cementita; o enxofre (S) que na realidade é uma impureza, não possui efeitos
significativos.
Propriedades dos materiais (ferro fundido)
Materiais Ferrosos 66
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Materiais de Construção Mecânica 67

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  • 1. CURSO: Técnico em Eletromecânica UC: Tecnologia dos materiais José Renato de Almeida
  • 3. A capacidade de simbolizar e de transformar o meio em que vive (produção de cultura) torna o homem um ser de linguagem e de trabalho (ação com uma finalidade). Essas duas características mostram que não somos seres por natureza; pelo contrário, necessitamos constantemente construir o nosso mundo. É pela simbolização e pelo trabalho que produzimos cultura. Nesse processo os materiais são fundamentais, pois são os meios utilizados para transformar a realidade e satisfazer as nossas necessidades. Utilizamos para isso instrumentos e ferramentas que nos permitem agir sobre os materiais e construir o mundo que queremos. O processo evolutivo do homem desenvolveu sua capacidade de transformar recursos naturais em bens duráveis. Qualquer cidadão no seu cotidiano utiliza, direta ou indiretamente, esses produtos como meios para obter uma vida melhor e mais confortável. Somos seres que pertencemos a “este tempo” e, portanto, somos herdeiros deste processo construtor. Materiais Ferrosos 3 Introdução
  • 4. Historicamente, o desenvolvimento e os avanços das sociedades estão ligados às habilidades dos seus membros na produção e manipulação de materiais, que satisfaçam as exigências do meio. De fato, as civilizações antigas foram identificadas pelo nível de desenvolvimento e utilização de materiais tais como: Idade da Pedra e Idade do Bronze. Com a evolução do conhecimento também se descobriu que os metais poderiam ter suas qualidades melhoradas através da adição de outros elementos químicos formando as ligas metálicas ou ainda pelos tratamentos térmicos. Os materiais sólidos são convenientemente agrupados em torno de três classificações básicas: metais, cerâmicos e polímeros. Essa classificação está baseada principalmente na composição química e na estruturação atômica dos materiais. A maioria dos materiais se encaixa em um ou outro grupamento distinto, embora existam alguns materiais intermediários. Estes materiais intermediários exigiram a criação de outros três grupos adicionais, mas não menos importantes: Compósitos, semicondutores e biomatérias. Materiais Ferrosos 4
  • 5. Os metálicos, pelas suas características e propriedades, são os principais materiais sólidos, destacando-se o aço e suas ligas. No livro Tecnologia Mecânica, Chiaverini escreve: Dos metais, o ferro é o mais importante, sendo de supor-se que essa posição será mantida por um espaço de tempo praticamente ilimitado, em face de certas peculiaridades características desse metal, que o tornam insubstituível para a maioria dos empregos da indústria mecânica; suas propriedades intrínsecas, sua abundância na crosta terrestre e seu baixo custo de extração e processamento, principalmente quando comparado a outros metais importantes (sic) (1986c, p. XVII). Nesse sentido, o autor destaca a importância das reservas brasileiras. Sendo o minério de ferro a matéria-prima básica para a produção do aço e possuindo o Brasil enormes reservas de minério com alto teor de ferro, o país possui condições extremamente favoráveis para a implantação de um grande parque siderúrgico, destinado não somente ao consumo interno, como igualmente à exportação (1986c, p. XVII). Materiais Ferrosos 5
  • 6. Chamam-se “minério” os minerais dos quais se podem extrair metais. Os minérios, quando em quantidades suficientes para serem explorados economicamente, formam os “depósitos” ou “jazidas”. O processo metalúrgico para obtenção das ligas ferrosas, principalmente o aço, é chamado de siderurgia. A indústria siderúrgica abrange todas as etapas necessárias para, a partir das matérias-primas, produzir-se ferro e aço. O processo clássico e mais usado para a redução do minério de ferro é o do “alto forno” cujo produto consiste numa liga ferro-carbono de alto teor de carbono, denominando “ferro gusa”, o qual, ainda no estado líquido, é encaminhado à “aciaria”, onde, em fornos adequados, é transformado em aço. Este é vazado na forma de “lingotes” os quais, por sua vez, são submetidos à transformação mecânica, por intermédio de laminadores, resultando “blocos”, “tarugos” e “placas”. Estes, finalmente, ainda por intermédio de laminadores, são transformados em formas estruturais como “cantoneiras”, “perfis simples e enrijecidos”, etc., e em outros produtos siderúrgicos importantes, tais como trilhos, chapas, barras etc. Os materiais metálicos, por tudo o que foi dito e também pela sua facilidade de reciclagem, constituem o mais importante grupo de materiais de construção e podem ser divididos em dois grupos: ligas ferrosas e ligas não ferrosas. Materiais Ferrosos 6
  • 7. O senso comum chama de “ferro” o que na verdade é o aço (liga de ferro com carbono e outros elementos químicos em menor quantidade). O ferro é um elemento químico que é obtido a partir dos minérios de ferro que são encontrados na natureza. A metalurgia do ferro que é mais conhecida por siderurgia é o processo de obtenção do aço a partir, principalmente, de minérios de ferro. Os minérios de ferros são os óxidos, sulfetos, carbonetos e silicatos. Os óxidos (magnetita; hematita; limonita), sob o ponto de vista siderúrgico, são os mais importantes. Reunindo o minério de ferro com carvão (vegetal ou mineral) e o calcário resulta o ferro gusa (material de primeira fusão do alto forno). Materiais Ferrosos 7 Ligas Ferrosas Ferro gusa
  • 8. Matérias-primas da indústria siderúrgica  Minério de ferro – É o principal componente para a obtenção do ferro gusa.  Carvão – É o combustível do alto-forno podendo ser o mineral (coque) ou o vegetal (de madeira). O carvão tem três funções principais: fornecer calor para combustão fornecer carbono para a redução do óxido de ferro e, indiretamente, fornecer o carbono como principal elemento de liga do ferro gusa.  Fundente – O calcário (CaCO3) é o principal fundente que, combinando com as impurezas (ganga) do minério e com os resíduos (cinzas) do carvão, forma o que é chamado de “escória”. Materiais Ferrosos 8 Os componentes básicos da indústria siderúrgica que formam suas matérias primas, são os seguintes:
  • 9. Alto-forno O alto-forno é o principal equipamento (aparelho) usado na metalurgia do ferro. Ele nada mais é do que uma grande estrutura cilíndrica dividida em três partes essenciais: cadinho, rampa e cuba. No alto-forno são colocados, em proporções adequadas, minério de ferro, carvão e calcário. A queima do carvão ativada pela insuflação de ar fornece calor e óxido de carbono necessário à redução do minério. O excesso de carbono combina-se com o ferro, formando uma liga que, no estado líquido goteja no cadinho. O calcário torna mais fácil a fusão dos resíduos da reação e, com estes, forma a escória que fica acima na mistura por ser mais leve Materiais Ferrosos 9 Definição: A metalurgia do ferro consiste essencialmente na redução dos óxidos dos minérios de ferro, mediante o emprego de um redutor que é um material à base de carbono – o carvão – que atua igualmente como combustível e indiretamente, é supridor de carbono para as ligas ferro-carbono de alto carbono que são os principais produtos do alto-forno. Chiaverini (1986c, p.17). A Figura ao lado mostra a seção transversal de uma instalação de alto-forno, incluindo todo o equipamento acessório e auxiliar.
  • 10. A fabricação do aço ocorre geralmente em duas etapas: primeiramente a obtenção do chamado ferro gusa, material metálico composto majoritariamente por ferro, porém contendo também altos teores de carbono (da ordem de 4,5 %) e altos teores de impurezas (enxofre, fósforo e outros elementos), que é produzido a partir do minério de ferro aglomerado sob a forma de sínter ou pelotas (obtidos respectivamente nos processos de sinterização e pelotização), ao qual são adicionados fundentes (cal, sílica e substâncias semelhantes) e o chamado coque metalúrgico (basicamente o resultado da coqueificação do carvão mineral ou vegetal), a qual é sucedida pela conversão do ferro gusa em aço na chamada aciaria, onde nos conversores ocorre basicamente a oxidação do excesso de carbono e das impurezas, que são assim removidos, resultando numa liga ferrosa com teor de carbono bem mais baixo (em geral inferior a 1 %) e com baixíssimo nível de impurezas, que pode ser considerado residual. Materiais Ferrosos 10
  • 11. A obtenção de ferro gusa geralmente ocorre no chamado alto forno, embora um material quimicamente semelhante, porém com aspecto esponjoso possa ser obtido pelo processo de redução direta, e depois utilizado de modo semelhante ao ferro gusa sólido obtido no alto forno. No alto forno é introduzido o minério de ferro sob a forma de sínter ou pelotas (o minério inicialmente contendo cerca de 99 % de Fe2O3, que após ser submetido à sinterização ou pelotização, que reduz o teor de Fe2O3 para cerca de 80 %), é transformado em ferro gusa líquido com teor de fero da ordem de 95 %. Após a produção no alto forno o ferro gusa é submetido à conversão em aço na aciaria a oxigênio, que também recebe sucata como parte da matéria-prima, tendo o teor de ferro elevado pela eliminação de impurezas e grande parte do carbono. O aço líquido é submetido ao lingotamento contínuo (mais comum atualmente, por questões de produtividade do que a solidificação em lingoteiras) e assim, solidificado, é encaminhado aos processos de conformação mecânica, como laminação (inicialmente a quente e posteriormente a frio) e o forjamento. Materiais Ferrosos 11
  • 12. Uma rota alternativa prevê a alimentação de minério de ferro e pelotas numa usina de redução direta de minério de ferro, constituída por fornos de redução direta, que são retortas verticais com gás reformado. Por esta rota, ao invés do ferro gusa, é obtido o chamado ferro esponja (no estado sólido), que junto com sucata é utilizado como matéria-prima nos fornos elétricos, onde é obtido o aço líquido, solidificado no lingotamento contínuo e depois ás operações de conformação mecânica do aço sólido, como laminação e forjamento. A redução direta faz parte do escopo de outro texto deste conjunto de textos sobre a fabricação de aço. O alto forno produz ferro gusa como seu principal produto, contendo cerca de 4,5 % de carbono, 0,3 a 0,7 % de silício, 0,01 a 0,04 % de enxofre, no máximo 0,1 % de fósforo e cerca de 0,1 5 de manganês. Além disso, produz escória contendo 30 a 40 % de SiO2, 5 a 15 % de Al2O3, 35 a 45 % de CaO, 5 a 15 % de MgO e 1 a 2 % de enxofre. Recentemente tem crescido o aproveitamento da escória de alto forno para a fabricação de cimentos e outros materiais cerâmicos. A basicidade (B) da escória é dada pela razão entre a soma dos teores de CaO e MgO e a soma dos teores de SiO2 e Al2O3. Materiais Ferrosos 12
  • 13. O gás de topo, que escapa do alto forno contém cerca de 22 % de CO, 22 % de CO2 (razão CO/CO2 praticamente unitária) 3 % de H2, 50 % de N2 e 3 % de H2O. Quando o ar é soprado no alto forno, o oxigênio, ao entrar em contato com o coque, reage para formar CO e CO2:  C + O2 = CO2 ; C + 1/2O2 = CO; CO2 + C = CO  O ar pode estar seco ou úmido. Se estiver úmido, a uma temperatura de cerca de 1300 ºC e pressão de 4,3 atm H2O é convertida em H2. A pressão de topo é de 2,5 atm. Os gases CO e H2 assim formados são redutores:  Fe2O3 → Fe3O4 → FeO (na verdade FexO, onde x é cerca de 0,97.  FexO é reduzido a ferro líquido, o chamado gusa (em inglês: “pig iron”, devido ao excesso de impurezas). Materiais Ferrosos 13
  • 14. O alto forno é alimentado (inserção de matéria-prima) por guindastes, enquanto o produto (ferro gusa) é retirado por baixo e transportado por meio de carros torpedos, que o levam diretamente à aciaria. O cadinho do alto forno apresenta uma base de argila com cerca de 3 metros de espessura. Os regeneradores são do tipo Cowpers. A escória é resfriada por jatos d’água, sendo utilizada como matéria-prima para a fabricação de cimento, principalmente do tipo Portland. Antes de chegar á aciaria o ferro gusa é armazenado em imensos fornos rotativos, de modo que a quantidade de gusa não seja superior ao que pode ser processado na aciaria, e nestes fornos sua temperatura e sua composição química são controladas. O gusa também pode ser produzido em lingotes para exportação. Quando o baixo teor de enxofre é uma necessidade muito aguda, utiliza-se o carvão vegetal como parte da matéria-prima. O tempo de vida médio de um alto forno é de 12 anos aproximadamente. Materiais Ferrosos 14
  • 15. O alto forno pode ser divido em três zonas principais:  A – Trocador químico superior.  B – Zona de reserva química (FeO).  C – Trocador químico inferior. Em A e B ocorre a redução indireta (zona de preparação) e em C a redução direta (zona de elaboração). No fundo do alto forno, na região denominada cadinho, deposita-se o ferro gusa, contendo em elevados teores: C, Si, Mn, P, S e outros elementos. A escória localiza-se sobre o metal líquido, por ser menos densa. Na interface entre metal e escória ocorre a migração de elementos químicos entre estes produtos. Materiais Ferrosos 15
  • 16. A hematita Fe2O3 é reduzida a magnetita (Fe3O4) e esta a wustita (FeO). Na wustita líquida as gotas que atravessam a parte inferior do alto forno (“chuva”) são reduzidas (altas temperaturas e alto potencial redutor). Na parte inferior do alto forno, na chamada zona de elaboração, o ar é soprado entre 1600 e 2100 ºC. Por cima a escória contém SiO2 e outros óxidos (Fase I), enquanto embaixo o ferro gusa líquido contém Fe e outros metais (Fase II). As ventaneiras sopram ar que contém O2, que oxida o C a CO2 em ambiente turbulento, com muita agitação. As ventaneiras estão localizadas entre a fase I e a fase II, juntas ou separadas e o sopro atravessa a região de turbulência. Em outra região ocorre a reação de Boudouard: CO2 + C = 2CO. A válvula do gás de topo controla as pressões dos gases (princípio Le Chatelier). Materiais Ferrosos 16
  • 17. Logo abaixo do sopro contendo oxigênio existe uma atmosfera de gás, mais abaixo a escória e abaixo desta o metal líquido. Nessa situação o gás não se difunde para o metal, ao contrário do que corre mais acima. Fe2O3 e Fe3O4 são reduzidos a FeO líquido, o qual reage com C: FeO + C = FeC, sendo que este carbeto difunde-se para p Fe líquido. Na verdade o Fe3O4 é um espinélio: FeO.Fe2O3, o qual é dissociado numa temperatura de cerca de 650 ºC, liberando Fe2O3 e FeO. De modo semelhante, para o manganês: MnO, Mn2O3, Mn3O4 (Mn2O3.MnO) corre esta reação com C: MnO + C = MnC, sendo que este carbeto também se difunde para o ferro líquido. SiO2 + C + SiO , S → SixSy: o óxido e o sulfeto de Si são gases, controlados no topo. Materiais Ferrosos 17
  • 18. Cr, Ni, Zn e Cu são importantes elementos de liga. Alguns elementos são particularmente importantes para o ferro gusa, como Si e Mn: a oxidação destes elementos é exotérmica, fornecendo calor ao processo. Na aciaria não há outra fonte de calor. Estes elementos devem ser controlados através das variações de pressão no gás de topo. O S e o P são controlado na carga: CaCO3 = CaO + O2, sendo que o CaO controla o S: CaO + FeS = CaS + FeO (CaO fica na escória e FeS no metal). FeO + C = Fe + CO. Como CaS é muito mais estável que FeS, passa para a escória e permanece nesta (não se reduz). A estatística operacional de um alto forno com alta produtividade pode ser descrita genericamente a seguir: para uma produção de 1000 ton/dia, partindo de uma carga com 60 a 40 % de sínter e 40 a 60 % de pelotas, combustível da ordem de 535 kg ton de Fe, sendo o 450 kg de coque e 85 litros de óleo. O cadinho teria 14 m de diâmetro e volume interno de 4373 m3. A vazão do sopro seria de 8000 m3/min, a pressão do topo seria 2,5 bar, a pressão de sopro 4,3 bar e a temperatura seria 1350 ºC, sendo o teor de oxigênio de até 3 %. Materiais Ferrosos 18
  • 19. A matéria-prima, na entrada do alto forno seria composta por: 7820 ton/dia de sínter, 8439 ton/dia de pelotas, 14976 ton/dia de sopro, 4500 ton/dia de coque, 400 ton/doa de calcário e 700 ton/dia de óleo. O material na saída teria a seguinte composição: 10.000 ton/dia de ferro gusa, 3.000 ton/dia de escória e 20.966 ton/dia de gás. Características básicas de operação do alto forno: pressão de topo, que afeta a reação de Boudouard: 2 a 3 bar, boa distribuição no topo (passagem de gás na ventaneira), alta temperatura de sopro (cerca de 1350ºC, acima disso não compensa termodinamicamente), excelente preparação de carga, injeção de O2, quantidades adequadas de óleo, finos de C no sopro e coque “rate”. Materiais Ferrosos 19
  • 20. O alto forno é um reator termicamente eficiente, que funciona em regime de contracorrente: gás- sólido (coque e minério), efetua queima de coque (produz CO e CO2) e promove a redução do minério: Fe2O3 → FeO (wustita) → Fe sólido a partir do Fe saturado com C no estado líquido. O coque sofre amolecimento na altura das ventaneiras, prejudicando a passagem de gás. Fundentes como CaO e MgO fluidificam o material, reduzindo a tensão superficial, a qual aumenta com a elevação da proporção de SiO2 e Al2O3, além de promoverem dessulfuração. O CaCO3 proveniente do calcário e da dolomita decompõe-se em CaO e CO2. O ferro gusa contém cerca de 4 a 5 % de carbono, 0,3 a 0,7 % de silício e cerca de 0,1 % de manganês. O teor de enxofre no gusa é da ordem de 0,01 a 0,04 % e o de fósforo em torno de 0,1 %. A escória contém 30 a 40 % de SiO2, 5 a 15 % de Al2O3, 35 a 45 % de CaO, 5 a 15% de MgO e 1 a 2 % de S (proveniente do CaS e MgS). A basicidade (B) é da ordem de 1,1 a 1,2, definida como a razão entre a soma dos teores de CaO e MgO e a soma dos teores de SiO2 e Al2O3. Materiais Ferrosos 20
  • 21. A reação entre O2 e C do coque é uma combustão perfeita: C coque + O2 = CO2, e posteriormente, o CO2 formado reage instantaneamente: CO2 + C coque = 2CO. Na zona de fusão existe coque amolecido e metal e escória fundidos, na cuba (parte inferior do alto forno, em forma de tronco de cone invertido) , onde mais em cima predomina FeO e ganga sólidos. O ar é soprado por baixo e logo forma CO. A reação de Boudouard (CO2 + C coque = 2CO) é endotérmica e acarreta a gasificação do coque. O CO produzido reage com FeO sólido: CO + FeO sólido = Fe sólido + CO2, a pós as reações de redução na origem: Fe2O3 → Fe3O4 → FeO. O CO reduz o FeO a Fe, havendo 70 % de CO e 30 % de CO2, e na reação de Boudouard o CO2 é reduzido a CO (100 % de CO). essas reações ocorrem a cerca de 927 ºC. A reação de Boudouard é endotérmica, ou seja, reduz a temperatura, mas a redução de FeO a Fe é levemente exotérmica, evitando que a temperatura caia abaixo de 927 ºC. Se aumentar a temperatura de sopro na ventaneira, produz mais CO2, que reage para formar CO, reduzindo a temperatura. Na temperatura de 927 ºC a razão CO/CO2 é de aproximadamente 2,3. Na redução direta: FeO + C = CO2 (combustão perfeita), FeO + C = CO: redução indireta (combustão imperfeita). Materiais Ferrosos 21
  • 22. A razão de coque é de 250 kg de coque para cada tonelada de minério. Antigamente era e de 1 tonelada para cada, mas foi reduzida com as melhorias no processo de aglomeração do minério e também com o pré-aquecimento do ar, assim como também com o uso de moinhos de coque. A pressão no topo é de 2 a 3 atm: C + CO2 = 2CO (reação de Boudouard). A distribuição da carga no alto forno é otimizada. A temperatura de sopro do ar é elevada: cerca de 1300 ºC. A carga deve ser preparada com muito cuidado. Utiliza-se certa injeção de óleo, gás e ar. O minério extraído das minas é empilhado em pilhas de cerca de 200.000 toneladas com 600 a 700 camadas. É então transportado para a unidade de sinterização, na qual é introduzido com água, coque e fundentes, resultando no sínter que é transportado para o alto forno. Materiais Ferrosos 22
  • 23.  Óxidos: CO + 3Fe2O3 = 2Fe3O4 + CO2 (exotérmica). CO + Fe3O4 = 3FeO + CO2 (endotérmica). A temperatura do gás no topo do alto forno cai devido à reação endotérmica e ao seu encontro com a carga fria,.  Reações e comportamento no alto forno: Na rampa: óxidos (impurezas) são reduzidos, e o Fe absorve C. O Fe líquido reage com C sólido para formar FexC líquido. Cada gota de metal líquido percola o C sólido do coque e o C do CO e por difusão e dissolução do C ocorre a absorção deste elemento pelo Fe Materiais Ferrosos 23 Zona (%) Comportamento químico (m/Wmm2) Cadinho Saturação do Fe com C, redução final: (CaO)3P2O5, SiO2 e MnO Ventaneiras Oxidação do C do coque e dos hidrocarbonetos: CO, CO2: primeiro o CO2 e depois o CO.
  • 24.  Comportamento térmico: Nas ventaneiras: evolução de calor resultante da combustão. Transporte de calor: o calor do gás ascendente é transferido para a carga descendente. Então corre fusão da carga: formação e fusão da escória, redução final do FeO e transporte de calor. Reações cíclicas: redução do FeO, gaseificação. Ocorre redução da temperatura dos gases ascendentes. Na metade da cuba encontra-se a zona de residência química: à temperatura de 927 ºC: Fe2O3 + CO = FeO + CO2: no quarto de cuba superior: a hematita se reduz.  Ventaneiras: O ar é soprado com temperatura e pressão controladas. Mais próxima à saída das ventaneiras foram-se a zona de combustão e imediatamente depois a zona de oxidação, até chegar à zona externa. Materiais Ferrosos 24
  • 25.  Na zona de combustão existem os gases: O2, CO, CO2, N2, H2 e H2O, ocorrendo as reações: O2 + C + CO e CO2, H2 → H2O e H2O → H2. Na zona de oxidação existem os gases: CO, CO2, N2, H2 e H2O. O O2 residual reage com C para formar CO e CO2. Na região externa existem os gases CO, H2 e N2. As reações que acontecem são: O2 + C = CO e CO2 + C = 2CO. As ventaneiras apresentam largura da ordem de 1,5 a 1,7 m, atingem altíssimas temperaturas com gás (não definido) em circulação. Materiais Ferrosos 25
  • 26.  Redução do Silício: No ferro gusa destinado à aciaria existe silício em proporções significativas. Se a proporção de silício for insuficiente, acarretará problemas na aciaria, pois a escória se tornará muito básica. Entretanto, se o teor de silício for muito alto, problema inverso ocorre, a escória será muito ácida e excessiva, acarretando perdas de metal. Na região das ventaneiras baixas temperaturas afetam o coque “rate”, enquanto altas temperaturas afetam o comportamento químico. Nesta região corre redução da SiO2 a Si, MnO a Mn e P2O5 a P, sendo que estes elementos (Si, Mn e P) são absorvidos pelo ferro líquido, para o qual se difundem. Se houver condições termodinâmicas favoráveis, podem ser formar silicatos (CaOxSiO2y), que inviabilizam a redução, por serem muito estáveis termodinamicamente, prejudicando assim todo o processo. Na zona de combustão ocorre a formação de SiO e SiS. O SiO é estável em altas temperaturas: Si + SiO2 = 2SiO. Na rampa ocorre a transferência de Si e S para gotas de metal líquido e escória. Posteriormente ocorre a oxidação do Su pelo FeO e MnO na escória: a gota de Fe/Si atravessa a escória contendo MnO e FeO, formando uma camada de SiO2 em torno da gota de Fe líquido. Do mesmo modo, a gota de Fe/S atravessa a camada de CaO, formando CaS em torno da gota de Fe líquido. Materiais Ferrosos 26
  • 27.  As reações químicas que ocorrem nestes processos são: SiO2 = 2[C] = Si + 2CO MnO + [C] = [Mn] + CO CaO + [S] + [C] = (CaS) + CO  A tabela a seguir sumariza os processos: Na escória formam-se vários óxidos: MnO, SiO2, CaO, Al2O3 e também FeO. As reações entre a atmosfera do forno, a escória , o metal líquido e o refratário tendem a aumentar a fluidez, favorecendo reações nas interfaces. Materiais Ferrosos 27 Zona Composição química (m/Wmm2 Nível de silício (m/Wmm2) Rampa Fe Bem Baixo Ventaneiras Ganga transferindo Si para o metal (Fe) 3 a 4 % Escória Escória recebendio Si do metal e metal reagindo com C: Fe + 4 % C 1 a 2 %
  • 28.  Dessulfuração no Alto Forno Parte do enxofre está na escória e parte no metal líquido. A reação de sulfetação ocorre do seguinte modo: [S] + [Me] = (MeS), onde Me = Fe ou Mn. O diagrama de Ellingham para sulfetos indica que, do ponto termodinâmico, o manganês apresenta maior afinidade pelo enxofre do que o sódio, magnésio, cálcio e cério (nessa ordem decrescente). No Fe líquido: S → [FeS]. No alto forno: 3[Fe] líquido + SiO2 ganga = [FeS] + 2(FeO): na saturação o FeO se precipita; 2[Fe} líquido + S2 ganga = 2[FeS]. O teor de enxofre do ferro gusa é menor ou igual a 0,07 % (0,02 a 0,07 %), mas na aciaria o teor de enxofre cai muito mais. [S] + (CaO) + [C] = (CaS) + CO gasoso. Materiais Ferrosos 28
  • 29. O logaritmo da constante (k) desta reação corresponde ao logaritmo da razão entre a multiplicação da concentração de CaS pela pressão de CO e a multiplicação das atividades de S, C e CaO. Normalmente a temperatura atingida é de cerca de 1400 ºC, a pressão de CO é 1 atm e as atividades de CaO, CaS e C são unitárias (1). No alto forno o chamado ponto de equilíbrio químico (W em inglês “pinch point”) deve ser evitado, pois nesse caso é difícil reduzir o FeO a Fe. No W há 100 % de FeO, mesmo com alto consumo de coque, que teria grande impacto econômico desfavorável. Há um determinado tempo de residência na região das ventaneiras. Mudando a temperatura e a pressão no topo, modificam-se as posições das zonas no alto forno. Deve haver controle de: carga (composição e qualidade), sopro (velocidade, temperatura, pressão e umidade: afetam as reações das zonas das ventaneiras: C → CO2 → CO em função de delta H). Em W ocorre dissociação do vapor: consome calor e libera H2 (enriquece o gás como agente redutor). Materiais Ferrosos 29
  • 30. A distribuição da carga no topo influi na descida da carga através da altura do alto forno, mas a velocidade de decida deve ser controlada. A distribuição de gases revela presença de N2, CO e CO2 na região inferior da cuba, acima das ventaneiras. As regiões mais controladas são o topo (parâmetros da carga: massa, composição e sequência de carregamento) e as ventaneiras (parâmetros do sopro: temperatura, W, pressão e vazão; injeções de óleo, carvão, oxigênio e gás). Se for utilizada dolomita em vez de calcário, acarreta-se dissociação em condições diferentes, alterando a posição das zonas dentro do alto forno. Para mantê-las seria necessário alterar a pressão do gás de topo, a composição do ferro gusa e o carregamento. Na parte de baixo do alto forno produz-se ferro gusa com controle de composição química, temperatura, quantidade (massa em toneladas) e teor de silício. O gás de topo, além do controle de pressão, pode ter outras variáveis controladas como temperatura, % CO, CO2, H2 e N2. Materiais Ferrosos 30
  • 31. De um modo geral, na entrada são controladas: a carga, % Fe, W coque; durante o processo: a demanda de coque (seco), a razão O2 para CO (redutor), a razão O2 para H2 (redutor) e a razão O2 para C (redutor); e na saída: coque (W) e ferro gusa. Input: sopro, volume, temperatura, W, O2 e óleo. Processo: combustão de C, calor de fusão, ferro gusa líquido, escória, redução de MnO, FeO, P2O5 e dissociação da H2O, variação de entalpia: sopro, coque, carga: redução da SiO2, superaquecimento da escória e gás de entrada. Dissociação de carbonetos metálicos: MCO3 = MO + CO2 (gás), onde M pode ser: Ca, Mg, Fe, Mn e outros. No caso da dolomita, composta por uma mistura de MgCO3 e CaCO3, primeiramente dissocia-se o carbonato de magnésio (MgCO3 a 400ºC) e depois calcário (CaCO3 a 900ºC). O MgCO3 é mais caro e aumenta a viscosidade Materiais Ferrosos 31
  • 32.  Cinética (velocidade/taxa) de dissociação dos carbonatos: A partícula é formada por um núcleo de MCO3 sobre o qual se forma uma camada de MO, óxido muito poroso, havendo uma interface entre MCO3 e MO. Calor é transferido para a interface, permitindo correr a reação de dissociação. CO2 é liberado e migra da interface através da camada de MO para fora da partícula. Este é o modelo idealizado, topo químico, com encolhimento (redução ou contração) do núcleo. A partícula possui formato aproximadamente esférico. Ocorrem: transferência de calor, transporte do gás CO2 e a reação química de MCO3 para MO, com variação de pressão e temperatura. Fenômenos envolvidos: sinterização, densificação de grãos (que impede o transporte de gás), trincamento e formação de canais preferenciais. Todo o processo de dissociação dos carbonatos apresenta um período inicial de incubação. À medida que a transformação ocorre de fora para dentro, fecham-se os canais para a saída dos gases, dificultando cada vez mais o prosseguimento da reação. Materiais Ferrosos 32
  • 33. Na prática o MCO3 é praticamente puro, a partícula aproximadamente esférica, o volume da partícula praticamente constante, praticamente não surgem trincas e a sinterização seria praticamente inexistente se as condições do processo forem muito próximas das condições ideais. A taxa de transferência de calor para a interface MCO3/MO é diretamente proporcional à condutividade térmica efetiva da camada de MO produzida e ao gradiente térmico da superfície para o interior da partícula, sendo inversamente proporcional à diferença entre os valores inversos dos raios (dimensões) das camadas, superficial e interna. Há três possibilidades de controle do processo:  A) Controle pela interface.  B) Controle pelo transporte de gás CO2.  C) Controle pelo transporte de calor. Materiais Ferrosos 33
  • 34. O ferro gusa é o produto de primeira fusão do alto-forno. Como tem alto teor de carbono não pode ser usado diretamente para produção de componentes industriais, necessita antes passar por um conversor o qual fará a redução do carbono, injetando oxigênio. A escória é mais um produto do alto-forno. Resulta dos resíduos de carvão que são aglutinados pelo calcário. Pode ser empregado na fabricação do chamado “cimento metalúrgico”. Os gases do alto-forno é outro subproduto da metalurgia do ferro. Seu poder calorífico é alto, podendo ser usado na própria siderurgia no aquecimento de fornos e caldeiras. Materiais Ferrosos 34 Produtos do alto-forno O principal produto do alto-forno é o ferro gusa, cuja utilização é feita nas aciarias, para onde é encaminhado no estado líquido e transformado em aço; o ferro gusa é ainda utilizado no estado sólido como principal matéria- prima das fundições de ferro fundido. (Chiaverini 1986c, p.27).
  • 35. Definição e fabricação do aço Das ligas metálicas o aço é o material de construção mais usado. Podemos classificar como carbono comum, quando os elementos predominantes são ferro e carbono e liga quando houver outros elementos na mistura, podendo ser de baixo, médio e altos teores. A definição de aço não é uma tarefa muito fácil, visto que os aços fabricados não são ligas binárias (ferro e carbono), mas um composto cujos dois elementos principais são ferro e carbono, além de outros secundários como o silício (Si), o enxofre (S), o fósforo (P) e o manganês (Mn). Os compostos secundários são chamados de impurezas pela sua quantidade e por estarem sempre presentes devido ao processo de fabricação. Definição proposta por Chiaverini: Aço é a liga ferro-carbono contendo geralmente 0,008% até aproximadamente 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais, resultantes dos processos de fabricação. (apud 1988, p.21). O limite inferior a 0,008% corresponde à máxima solubilidade do carbono no ferro à temperatura ambiente e o limite superior 2,111% corresponde à máxima quantidade de carbono que se dissolve no ferro e que ocorre a 1148ºC. Essa quantidade máxima de 2,0% (ou 2,115 conforme se verifica no diagrama de equilíbrio) depende, por outro lado, da presença ou não nos aços de elementos de liga ou da presença dos elementos residuais em teores superiores aos normais. (1988, p.21). Materiais Ferrosos 35
  • 36. Materiais Ferrosos 36 Nessas condições, para se ter uma definição mais precisa, devemos considerar dois tipos fundamentais de aço: “Aço-carbono” ou “liga ferro-carbono contendo geralmente 0,008% até aproximadamente 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais, resultantes dos processos de fabricação”. “Aço-liga” ou “aço-carbono que contém outros elementos de liga ou apresenta os elementos residuais em teores acima dos que são considerados normais”. (1988, p.21). A matéria-prima para a produção do aço é o ferro gusa, que Chiaverini assim define: ...uma liga ferro-carbono em que o carbono e as impurezas normais (Si, Mn, P e S, principalmente as duas primeiras) se encontram em teores elevados, a sua transformação em aço, que é uma liga de mais baixos teores de C, Si, Mn, P e S, corresponde a um processo de oxidação por intermédio do qual a porcentagem daqueles elementos é reduzida até os valores desejados. (1986c, p.30).
  • 37. Materiais Ferrosos 37 Os aços são ligas ferro-carbono que podem conter concentrações apreciáveis de outros elementos, formando o chamado “aço-liga”. Nesses aços ocorrem concentrações controladas de elementos que são utilizadas intencionalmente para melhorar as propriedades. A indústria siderúrgica fabrica aços com elementos de ligas segundo as necessidades comerciais desses produtos, que servem para atender às exigências dos projetistas de máquinas e equipamentos. As propriedades mecânicas são sensíveis ao teor de carbono que normalmente é inferior a 1,0%. A classificação básica dos aços é definida pelo seu teor de carbono (baixo, médio ou alto teor de C). A redução do ferro gusa até atingir o teor de carbono necessário para a fabricação do aço é feita através de adição de agentes oxidantes. Esses agentes podem ser de natureza gasosa como o ar e o oxigênio (processo pneumáticos) e sólida no caso dos minérios na forma de óxidos (processo Simens-Martin, elétrico, duplex, etc.). Na prática é a injeção de oxigênio no ferro gusa que está na fase líquida (fusão), mais ou menos a 1600°C. Essa temperatura facilita a combinação do oxigênio com o carbono e a formação do CO2 que é o agente redutor do teor de carbono da mistura, permitindo obter o aço-carbono comum.
  • 38. O ferro gusa é processado em conversores onde, por oxidação, os teores de carbono, silício, manganês, fósforo e enxofre são reduzidos. Os processos de produção do aço podem ser classificados de acordo com o agente oxidante utilizado:  Processos Pneumáticos – onde o agente oxidante é o ar ou oxigênio. O processo pneumático tradicional é o que utiliza o conversor Bessemer, cujo nome é devido ao seu inventor, em 1847.  Processos Siemens-Martin – onde o agente oxidante é composto de materiais sólidos contendo óxidos. Por outro lado, dependendo da composição do ferro gusa e do tipo de aço desejado, pode-se considerar ainda outra divisão dos  processos de sua fabricação independentemente do tipo de forno.  Processos ácidos – tipo de processo em que se pode remover ou reduzir facilmente a quantidades de carbono, silício e manganês, diferente da forma como acontece com o fósforo e o enxofre;  Processos básicos – em que se podem reduzir a valores desejados todos os elementos citados no item anterior. Materiais Ferrosos 38
  • 39. Diagrama de fases ferro-carbono (Fe-C) De todos os sistemas de ligas binárias, o formado pelo ferro e pelo carbono é o mais importante. Tanto os aços como os ferros fundidos que são os principais materiais estruturais, são essencialmente ligas ferro-carbono (Fe-C). O diagrama de fase ferro-carbono apresenta além da região do aço (até 2,11%C – ponto E) a do ferro fundido (de 2,11%C até 4,6%C – pontos E a C). Esse diagrama trata das ligas ferro-carbono (Fe-C) para teores de carbono desde zero até 6,7%. Este último é o valor correspondente à composição da cementita (Fe3C). Acima de 4,5% de C as ligas ferro-carbono apresentam poucas aplicações. O teor de carbono dos aços é de 0,008% até aproximadamente 2,14%. O limite inferior (0,008%) corresponde ao limite de solubilidade do carbono no ferro à temperatura ambiente. Já o limite superior corresponde à máxima quantidade de carbono que se dissolve no ferro e, ocorre a 1148°C (ponto E). Materiais Ferrosos 39
  • 41. Materiais Ferrosos 41 Na maioria das aplicações industriais, os aços deixam de ser uma liga binária, já que são adicionados diversos elementos de liga em sua composição. Devido aos processos de obtenção, sempre há, na composição química, Si, Mn, S e P, os quais, em baixos teores, praticamente não interferem no diagrama de fases. No entanto, para os aços-liga o diagrama de fases serve apenas como referência. Mesmo que o diagrama de equilíbrio esteja baseado na liga binária Fe-C, ele também permite que se tenha uma ideia das sequências ou transformações alotrópicas de ligas complexas (ou mesmo para o ferro fundido que, na realidade, é uma liga ternária Fe-C-Si). O diagrama de fases serve então, para um melhor entendimento dos fenômenos que alteram a microestrutura dos aços e ferros fundidos. Permite também analisar as transformações alotrópicas do ferro e a influência do carbono sobre essas transformações. O ponto S (euteoide), com 0,77% de C que define os aços em: eutetoides, hipoeutetoides ou hipereutetoides. É o equilíbrio entre as fases líquidas e sólidas da ferrita e austenita. Nos ferros fundidos, tal como nos aços, temos o ponto C (eutético), com aproximadamente 4,3% de C que classifica os ferros fundidos em: hipoeutético, eutético e hipereutético. É o ponto de equilíbrio entre a austenita e a cementita.
  • 42. Estrutura dos sólidos cristalinos Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade segundo a qual os átomos ou íons estão arranjados em relação uns aos outros. Um material cristalino é aquele nos quais os átomos estão situados em um arranjo que se repete ou que é periódico ao longo de grandes distâncias atômicas. Quando ocorre a solidificação de um material, os seus átomos se posicionarão em um padrão tridimensional repetitivo no qual cada átomo está ligado aos seus vizinhos mais próximos. Essas estruturas em geral têm a forma cúbica onde em cada um dos vértices há uma molécula do material. Quando em cada uma das faces tiver também uma molécula central, chamamos de CFC (cúbico de face centrada) e se no centro do sólido contiver uma molécula, chamamos de CCC (cúbico de corpo centrado). Todos os metais, muitos materiais cerâmicos e alguns polímeros formam estruturas cristalinas sob condições normais de solidificação. Os materiais que não cristalizam são chamados de não cristalinos ou amorfos. Materiais Ferrosos 42
  • 43. Materiais Ferrosos 43 Definição de Cristal: É um sólido no qual os constituintes, estão organizados num padrão tridimensional bem definido que se repete no espaço, formando uma estrutura com uma geometria específica, criando uma estrutura cristalina que se manifesta macroscopicamente por assumir a forma externa de um sólido de faces planas regularmente arranjadas, em geral com elevado grau de simetria tridimensional. Representação dos tipos de células unitárias dos metais
  • 44. Algumas propriedades dos sólidos cristalinos dependem da sua estrutura cristalina, ou seja, da maneira como os seus átomos, íons ou moléculas estão arranjados espacialmente. Existem muitos tipos de estruturas cristalinas diferentes. Da mesma forma, essas estruturas podem ser bastante simples (como a dos metais) ou bastante complexas (como as de alguns materiais cerâmicos e poliméricos). No intuito de facilitar o entendimento dos arranjos cristalográficos, usa-se uma esfera para representar os átomos. Para descrever uma estrutura cristalina, é conveniente subdividi-la em pequenas partes. Essas partes recebem o nome de células unitárias. Estas células unitárias são formadas por grupos de átomos que se dispõem em posições específicas, formando figuras geométricas típicas. Essas disposições recebem o nome de reticulado ou retículo cristalino. Existem sete tipos básicos de reticulados cristalinos: cúbico, hexagonal, tetragonal, romboédrico, ortorrômbico, monoclínico, triclínico. Materiais Ferrosos 44
  • 45. Microestruturas em ligas Fe-C Considerar-se-á aqui somente o desenvolvimento das microestruturas dos aços, pois no campo correspondente aos ferros fundidos, sempre existirão maiores quantidades de elementos de liga, principalmente o Si, tendo-se assim uma liga ternária, enquanto o diagrama Fe-C é pertence a uma liga binária. As principais fases sólidas presentes no diagrama Fe-Fe3C são: ferrita-α, austenita (γ), cementita (Fe3C) e Ferrita-δ. Na Ferrita-α o carbono está dissolvido na estrutura CCC, portanto pouco solúvel, atingindo solubilidade máxima de 0,02% a 727 °C. Embora o carbono esteja presente em concentrações relativamente baixas, tem influência significativa nas propriedades mecânicas da ferrita. Esta é um dos constituintes mais moles e dúcteis dos aços, apresentando dureza de 90 HB (dureza Brinell) e é magnética até 770°C. A Austenita (γ) tem estrutura cristalina CFC, sendo a solubilidade do carbono na austenita de 2,08% a 1148°C e 0,8% a 727°C. Apresenta dureza de aproximadamente 300 HB e não é magnética. Materiais Ferrosos 45
  • 46. Materiais Ferrosos 46 Cementita (Fe3C) é um composto frágil e duro, possuindo uma composição de 6,67% C e 93,3% Fe, e apresentando dureza de 700 HB. Ferrita-δ tem estrutura CCC assim como a ferrita-α. A solubilidade máxima do carbono é de 0,09% a 465°C. Outra microestrutura muito importante nos aços é a Martensita, que se forma quando ocorre o arrefecimento rápido da austenita, processo conhecido pelo nome de têmpera. A dureza e a resistência mecânica das martensitas estão diretamente relacionadas com o seu teor de carbono e aumentam quando este teor aumenta. Sua dureza varia de 50 a 68 HRC (dureza Rockwell escala C). O ferro puro, ao ser aquecido, experimenta duas alterações na sua estrutura cristalina antes de se fundir. À temperatura ambiente, a forma estável, conhecida por ferrita, ou ferro α, possui uma estrutura cristalina CCC. A ferrita experimenta uma transformação polimórfica para austenita, com estrutura cristalina CFC, ou ferro γ, à temperatura de 912°C. Essa austenita persiste até 1394°C, temperatura em que a austenita CFC reverte novamente para uma fase com estrutura CCC, conhecida por ferro δ a qual, finalmente se funde a uma temperatura de 1538°C. Todas essas alterações estão aparentes ao longo do eixo vertical, à esquerda, no diagrama de fases. A microestrutura define três tipos de aços: hipoeutetoides; eutetoides; hipereutetoides.
  • 47. Ligas ferrosas As ligas ferrosas são aquelas onde o ferro é o elemento principal da liga. Essas ligas são produzidas em maior quantidade do que qualquer outro tipo de metal e são especialmente importantes como materiais de construção mecânica. Seu amplo uso é o resultado de três fatores:  Compostos que contêm ferro, existem em quantidades abundantes no interior da crosta terrestre.  O ferro metálico e as ligas de aço podem ser produzidos usando técnicas de extração, beneficiamento, formação de ligas e fabricação relativamente econômicas.  As ligas ferrosas são extremamente versáteis e podem ser adaptadas para possuir uma ampla variedade de propriedades mecânicas e físicas. Materiais Ferrosos 47
  • 48. A desvantagem principal de muitas ligas ferrosas é a suscetibilidade à corrosão. Como principais ligas ferrosas têm: os aços, com teor de carbono até 2%; os ferros fundidos com carbono acima de 2% e raramente superior a 4%. Ao considerar a presença de elementos de liga, essa classificação é ampliada para:  Aço-carbono quando o teor de carbono está entre 0,008% e 2,11%, além de certos elementos residuais (Mn, Si, P e S) que resultam do processo de fabricação.  Aço-liga é o aço carbono que contém outros elementos além dos residuais ou este em quantidades superiores às normais. Existem também os ferros fundidos (cinzento, branco, mesclado, maleável e nodular) que são liga ferro-carbono-silício, com carbono acima de 2% e silício entre 1,2% e 3%. Materiais Ferrosos 48
  • 49. Teor de carbono e elementos de liga Os produtos da siderurgia que são denominados “aços”, na maioria das vezes, conhecidos simplesmente por “ferro”, são na realidade os “aços- carbono comuns”. A adição de quantidades de outros elementos define os “aços ligas”. Essas ligas podem ser usadas por causa das propriedades especiais que adquirem pela adição de elementos químicos na mistura ferro-carbono, como ferramentas para usinagem de materiais. São os chamados “aços rápidos”. Além desses existem os “aços inoxidáveis” usados como matéria-prima na construção de utensílios para indústria alimentícia. Para melhorar as propriedades das ligas ferrosas pode-se alterar a composição química aumentando as proporções ou mudando seus componentes. Outro modo de se obter melhoria nas propriedades mecânicas, que é um dos maiores objetivos dos aços, são os tratamentos térmicos e os termoquímicos. O objetivo dessas mudanças é melhorar a resistência à tração (propriedade mecânica), a usinabilidade, a dureza, a resistência e a corrosão pelo calor. Materiais Ferrosos 49
  • 50. Alguns exemplos de alteração das características em função dos elementos químicos: - O aumento do teor de carbono (C) aumenta a dureza e a resistência à tração; - O silício (Si) ajuda a desoxidar; - O manganês (Mn) também atua como desoxidante e dessulfurante; - O alumínio (Al) melhora os microconstituintes; - O fósforo (P) e o enxofre (S) são elementos que aumentam a fragilidade, por isso devem ser mantidos em baixos teores; - O cobre (Cu) aumenta a tenacidade e a resistência à corrosão; - O cromo (Cr) e o níquel (Ni), em geral aumentam a resistência a corrosão e a dureza; - O cobalto (Co), o molibdênio (Mo), o vanádio (V) e o tugnstênio (W) são elementos que aumentam a dureza em altas temperaturas melhorando a capacidade de corte. Materiais Ferrosos 50
  • 51. Efeitos do teor de carbono O teor de carbono exerce uma influência muito grande nas propriedades mecânicas dos materiais. Materiais Ferrosos 51 Esquematização dos efeitos do aumento do teor de carbono A figura ao lado mostra um esquema do comportamento das propriedades dos materiais ferrosos com o aumento da quantidade de carbono. Vê-se que com o aumento da quantidade de carbono se ganha-se em dureza, tensões de escoamento e ruptura; em contrapartida, perde-se em ductilidade, tenacidade e soldabilidade.
  • 52. Influência do teor de carbono nos aços Materiais Ferrosos 52 Teor de carbono (%) Tipo quanto a dureza Têmpera Usos 0,05 a 0,15 extra macio não adquire têmpera Chapas, fios, parafusos, tubos estirados, produtos de caldeiraria 0,15 a 0,30 macio Barras laminadas e perfiladas, peças comuns de mecânica 0,30 a 0,40 meio macio apresenta início de têmpera Peças especiais de máquinas e motores, ferramentas para agricultura 0,40 a 0,60 meio duro adquire boa têmpera Peças de grande dureza, ferramentas de corte, molas, trilhos 0,60 a 1,50 duro a extra duro adquire têmpera fácil Peças de grande dureza e resistência, molas, cabos
  • 53. Classificação dos aços-carbono e aços de baixa liga O critério adotado pela ABNT de classificação é o mesmo da SAE e tem na composição química o seu fundamento. O número indica o tipo de aço, os elementos presentes na liga e os teores de carbono. Os dois primeiros algarismos indicam o tipo de aço: comum ao carbono (número 10), aço liga (os demais). Cada elemento é representado por um número. Os dois algarismos finais mostram o teor de carbono em centésimos. A classificação dos vários aços-carbono e aços-liga quanto a sua composição química foi estabelecida pela SAE para padronizar e limitar o grande número de composições dos aços produzidos. Materiais Ferrosos 53
  • 54. O Quadro mostra a classificação SAE dos aços, que também foi adotada pelo AISI e pela ABNT. Materiais Ferrosos 54 Tipo de aço Designação SAE aço-carbono 1XXX simples (no máximo 1,00% de Mn) 10XX ressulfurado 11XX ressulfurado e refosforado 12XX com adição de Nb 14XX simples (Mais de 1% de Mn) 15XX aços-manganês 13XX aços-níquel 2XXX aços-níquel-cromo 3XXX aços com molibdênio 4XXX aços-cromo 5XXX
  • 55. Materiais Ferrosos 55 Tipo de aço Designação SAE aços-cromo-vanádio 6XXX aços-tungstênio-cromo 7XXX aços-níquel-cromo-molibdênio 8XXX aços-silício-manganês 92XX aços-níquel-cromo-molibdênio 93XX, 94XX, 97XX, 98XX aços com boro XXBXX aços com chumbo XXLXX ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. AISI – American Iron and Steel. ANSI – American National Standards Institute. ASTM – American Society for Testing and Materials. DIN – Deutsches Institut für Normung. ISO – International Organization for Standardization SAE – Society of Automotive Engineers
  • 56. Aços com baixo teor de carbono De todos os tipos de aço, os de baixo teor de carbono são os que têm maior demanda. Esses aços possuem, geralmente, menos de 0,25% de C, e não é possível obter tratamento térmico. A formação da martensita, objetivo da têmpera, não ocorre. Para aumentar a dureza (resistência), deve ser trabalhado a frio, ou sofrer tratamento termoquímico. As microestruturas desses aços consistem nos microconstituintes ferrita e perlita. Como consequência, essas ligas são relativamente moles e fracas, porém possuem ótimas ductilidade e tenacidade. Materiais Ferrosos 56 -A ductilidade é a capacidade de um determinado material sofrer deformação, sem se romper, quando a este é aplicado uma determinada força. -Tenacidade é uma medida da coesão de um material, ou seja, a sua resistência a ser quebrado, esmagado, dobrado ou rasgado.
  • 57. Aplicações típicas para esses tipos de aço incluem os componentes de carcaças de automóveis, perfis estruturais e chapas utilizadas em tubulações, edificações, pontes e latas. Um outro grupo de ligas com baixo teor de carbono são os aços de alta resistência e baixa liga. Eles contêm outros elementos de liga tais como: Cobre, vanádio, níquel e molibdênio em concentrações que podem ser tão elevadas, que chegam a 10%. Possuem maior resistência que aços comuns ao carbono com baixo teor de carbono, assim como maior resistência à corrosão. Sua utilização são aplicações onde a resistência estrutural é um fator primordial como em pontes, torres, colunas estruturais de prédios altos e vasos de pressão. Materiais Ferrosos 57
  • 58. Aços com médio teor de carbono Os aços de médio teor de carbono possuem concentrações de carbono entre aproximadamente 0,25 e 0,60%. Essas ligas podem ser tratadas termicamente por austenitização, têmpera e revenimento para melhorar as suas propriedades mecânicas. No revenimento ocorre o alívio das tensões produzidas pelos outros processos (austenitização e tempera) e para evitar a ruptura brusca do aço quando solicitado por alguns dos esforços mecânicos. A martensita formada pelo tratamento de endurecimento deve sofrer esse alívio das tensões e diminuir uma parte da dureza para melhor atender as solicitações mecânicas de tração e compressão. Materiais Ferrosos 58
  • 59. Os aços comuns ao carbono com médio teor de carbono possuem baixa capacidade de endurecimento e podem ser termicamente tratados com sucesso somente em seções muito delgadas e com taxas de resfriamento muito rápidas. Adições de cromo, níquel e molibdênio melhoram a capacidade dessas ligas serem tratadas termicamente, dando origem a uma variedade de combinações resistência-ductilidade. Essas ligas termicamente tratadas são mais resistentes do que os aços com baixo teor de carbono, porém com a perda de ductilidade e tenacidade. As aplicações dos aços ao carbono com médio teor de carbono incluem as rodas e os trilhos de trens, engrenagens, virabrequins e outras peças de máquinas e componentes estruturais de alta resistência que exigem uma combinação de elevada resistência mecânica, resistência à abrasão e tenacidade. Materiais Ferrosos 59
  • 60. Aços com alto teor de carbono Os aços com alto teor de carbono, que possuem normalmente teores de carbono entre 0,60 e 1,40%, são os mais duros, mais resistentes, porém, os menos dúcteis dentre todos os aços carbono. Eles são quase sempre utilizados em uma condição endurecida e revenida e, como tal, são especialmente resistentes ao desgaste e à abrasão. Os aços para ferramentas e matrizes são ligas com alto teor de carbono, contendo geralmente cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio. Esses elementos de liga combinam-se com o carbono para formar compostos à base de carbeto (carbonetos), que são muito duros e resistentes ao desgaste e à abrasão. Esses aços são muito utilizados como ferramentas de corte e matrizes para modelação e conformação de materiais, bem como para a fabricação de facas, lâminas de corte, lâminas de serras para metais, molas e arames com alta resistência. Materiais Ferrosos 60
  • 61. Materiais Ferrosos 61 Propriedades dos materiais (aços)
  • 62. Aços inoxidáveis Os aços inoxidáveis são altamente resistentes à corrosão (oxidação superficial) em uma variedade de ambientes, especialmente a atmosfera ambiente. O principal elemento de liga desses aços é o cromo, em uma concentração de, no mínimo, 11%. A resistência à corrosão também pode ser melhorada através de adição de níquel e molibdênio. Os aços inoxidáveis estão subdivididos em três classificações de acordo com a fase predominante na sua microestrutura: martensítica, ferrítica e austenítica. Uma ampla variedade de propriedades mecânicas, combinadas a uma excelente resistência à corrosão, torna os aços inoxidáveis muito versáteis nas suas possibilidades de utilização, no Entanto, relativamente caros. Materiais Ferrosos 62
  • 63. Os aços inoxidáveis martensíticos são capazes de ser submetidos a tratamentos térmicos de tal maneira que a martensita seja o seu microconstituinte principal. Os aços inoxidáveis ferríticos e austeníticos são endurecidos e têm sua resistência mecânica aumentada mediante deformação plástica a frio, uma vez que não são tratáveis termicamente. Os austeníticos são os mais resistentes à corrosão, devido aos elevados teores de cromo e também às adições de níquel. Os martensíticos e os ferríticos são magnéticos; os austeníticos não. Materiais Ferrosos 63 Aços Inoxidáveis Endurecimento Magnetizável Corrosão Austeníticos Deformação plástica Não magnéticos Maior resistência Ferríticos Magnéticos Resistência normal Martensíticos Tratamento térmico
  • 64. Ferro fundido As ligas ferro-carbono com teor de carbono superior a 2% (mais precisamente 2,14%) correspondem aos ferros fundidos. Os elementos residuais característicos das ligas ferrosas, são:  Silício (Si), enxofre (S), fósforo (P) e manganês (Mn) O elevado teor de carbono dessas ligas e a presença sempre obrigatória do elemento silício tornam, entretanto, necessário considerá-las como ligas ternárias (Fe-C-Si), de modo que os fenômenos de transformação da austenita no resfriamento lento são mais complexos, originando estruturas em que um novo constituinte se apresenta – carbono livre ou grafita – cuja forma, disposição e quantidade alteram profundamente as propriedades desses materiais (CHIAVERINI, 1986c, p.146). Materiais Ferrosos 64
  • 65. Os quatro tipos principais de ferros fundidos Materiais Ferrosos 65 Tipo de ferro fundido Características Aplicações Cinzento Fácil moldagem, resistência ao desgaste, bom amortecimento de vibrações. Estrutura de máquinas operatrizes, virabrequins, rotores. Nodular Excelente resistência mecânica, tenacidade e ductilidade. Peças sujeitas à pressão e que resistam ao choque. Branco Alta dureza, alta fragilidade, difícil usinagem. Estrutura de máquinas operatrizes, virabrequins, rotores. Maleável Melhor usabilidade entre os ferros fundidos, boa resistência à corrosão, boa ductilidade. Barras de ligação, engrenagens de transmissão, conexão de tubulações. Juntamente com o silício temos o manganês (Mn) que tende a estabilizar a cementita e também atua como dessulfurante. O fósforo (P) também atua favorecendo a formação da cementita; o enxofre (S) que na realidade é uma impureza, não possui efeitos significativos.
  • 66. Propriedades dos materiais (ferro fundido) Materiais Ferrosos 66