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História do Mundo Contemporâneo – Larissa Costard – 2013.2
O filme “Os mestres loucos” (1958), do cineasta francês Jean Rouch, narra o
cotidiano da população da então Costa do Ouro, na África, durante os anos 1950.
Narra, porque não há sequer uma única vez em que o africano fale. Todo o
documentário é narrado. O antropólogo vai significando as coisas e não dá a
possibilidade de os africanos falarem. Só com os offs, o documentário fica
absolutamente desumanizado. Passa a impressão de que o colonizado não tem a
capacidade de se representar, comunicar; ele é infantilizado.
Ainda que não seja o discurso tão explícito da teoria racionalista, há a relação de
objeto de estudo, como se os caras estivessem ali para serem observados. Apesar de
no início e no fim, eles escreverem que tentam retratar uma cultura.
Parte do documentário se dedica a mostrar os rituais de uma seita religiosa. Nos cultos
da Haouka, mostra-se os praticantes passando pelo rito de possessão. Os colonizados
cospem saliva, tremem, num comportamento tido como não civilizado, e devoram um
cão no fim das atividades. Essa situação pode ser encarada pelos colonizadores como
algo louco, atrasado. Durante todo o ritual, as pessoas são retratadas como se fossem
bestas. A narrativa conduz como o momento do anormal, do exótico.
Além disso, vê-se que as empresas de exploração imperialistas são europeias,
mostrando mais uma vez a ideia da superioridade, do avanço da Europa. E mais:
todos sorriem nas imagens do trabalho nas empresas britânicas. O documento francês
reforça, portanto, os estereótipos de barbárie, primitivismo, selvageria, a relação com
religiões e o exotismo.
O gênero do filme, documentário, é mais um agravante. Normalmente, quando se
escolhe esse gênero, o público tende a levar o conteúdo como verdade, sem pensar
que houve seleção de imagens e uma série de escolhas que levaram àquele filme.
Já o filme “La Noire de” (1966), do diretor senegalês Ousmane Sembene, tem outro
tipo de abordagem, pois há diálogo, apesar de ter toda a narrativa da personagem. Ela
não fala muito bem francês, então parte entra como pensamento dela. Ela é uma
personagem que passa por um processo de transformação. Tudo se passa pela visão
dela, do colonizado.
A personagem começa deslumbrada, pois achou trabalho e vai para a França. Neste
momento, nota-se a diferença entre a aldeia em que ela vive e a cidade onde procura
emprego. A aldeia é um monte de barracas, um região sem qualquer infraestrutura,
pior do que muitas favelas do Rio. A cidade aonde ela vai para arrumar emprego já
tem prédios, transporte, organização. Enquanto na aldeia todos são negros, as pessoas
que abrem porta, quando ela procura emprego, são brancas. Quando ela consegue
emprego é uma francesa branca que a escolhe na praça-dos-que-querem-emprego.
Depois, já na França, ela se questiona: quem sou eu, o que faço aqui e qual é o meu
papel. Servindo jantar, limpando a casa, atendendo aos chamados da patroa. Na
reunião do casal anfitrião com convidados, eles discutem a situação no Senegal e,
logicamente, passam uma visão exótica sobre o local. Acordando com os berros – e
exigências - da francesa, sem a família por perto ou uma vida melhor, a personagem
entra em crise.
O processo de libertação vem mais tarde, quando ela pega a máscara de volta, um
presente que ela tinha dado ao casal francês quando eles oferecem o emprego. A
personagem acaba se suicidando na banheira do apartamento do casal na França, e o
empregador volta para o Senegal com o objetivo de dar a notícia e algum dinheiro à
família. Neste filme, o processo de dominação é uma tragédia, e ela acaba se
matando. Ou seja, a relação entre colonizado e colonizador é trágica.
No fim, ninguém da família aceita o dinheiro e só querem que ele saia dali.
Percebemos esse desejo, pois o filho da personagem, um menino de uns 6 anos, passa
a perseguir o empregador com a máscara, tornando-se uma figura curiosa.
Vale lembrar que, antes de partir, além da família de sangue, a personagem se
encontrava com o namorado senegalês, um militante que tinha uma bandeira
pendurada no quarto. Uma vida que ela deixou para trás, acreditando que conseguiria
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