O documento discute uma proposta para reduzir a carga horária de trabalho semanal de 44 para 40 horas e aumentar o valor da hora extra. A proposta gerou debates entre sindicatos de trabalhadores, que acreditam que pode criar novos empregos, e empresários, que temem aumento de custos. A proposta está travada no Congresso desde 1995.

1. GAZETA DO PARANÁ I Domingo I 19 de Outubro de 2014 Mercado Global 3
MERCADO
O projeto de
lei que está
tramitando
além de reduzir
as horas
trabalhadas,
também prevê
a elevação do
valor da hora-
extra de 50%
para 75% sobre
o valor da hora
normal
GRAZIELE RODRIGUES
Colaboração Univel
l O sol nem surge pela fresta da
janela e já estão acordados. Se-
guem para o trabalho e retornam
com o pôr-do-sol. Esta é a rotina
de milhões de brasileiros, que
passam em média 41% das ho-
ras do seu dia no trabalho, 33%
dormindo, 8% no trajeto de ida
e volta do trabalho. Sobram 18%
do seu dia para demais ativida-
des, seja para serviços domésti-
cos, lazer ou estudos.
O professor de administração
FábioSilvadáoconselho:“esfor-
ce-se para conseguir o trabalho
que gosta, assim passará pouco
tempo da sua vida infeliz, ao co-
meçar o seu dia, esperando que
logo ele acabe”.
Trabalha-se para ter acesso
aos bens de consumo, como por
exemplo: Sapato: preto, verme-
lho, azul, dourado. Roupa: da
novela, do cinema, do estilista,
do grupo, do trabalho, da festa.
iPhone: 4, 5, 6. Televisores de
led, de plasma, slim, 3 dimen-
sões, 4 dimensões. Carro: do
ano, de luxo, com direção hi-
dráulica, com ar-condicionado,
com câmbio automático, com
computador de bordo.
O consumo, a economia e o
trabalho estão juntos, gira-se a
economia com o poder de com-
pra, que gera o emprego, que
aumenta o consumo, que gira a
economia, que é... um ciclo.
Segundo o professor e econo-
mista Rui Eduardo São Pedro as
soluções para a melhora econô-
mica do país são três: “produzir,
produzir e produzir”. “Claro,
uma brincadeira para explicar
a necessidade do aumento na
produção do país como forma de
melhora de vida”. E aí entram
duas questões: produzir para ter
melhora de vida no futuro ou ter
mais tempo para o lazer e des-
canso no presente?
A discussão toma como base
a Proposta de Emenda à Cons-
tituição (PEC 231/95), que tem
como objetivo reduzir a carga
horária de trabalho semanal de
44horaspara40horas.Ruiargu-
menta que se for para aumentar
as escalas de trabalho no caso
duasparaocomércioetrêsparaa
indústriacomareduçãodacarga
horária para 6 horas diária para
cada escala, pode-se ter resul-
tados significativos no aumento
de vagas de trabalho e melhor
desempenho na produção, mas
acredita que o mercado não tem
suporte financeiro para este au-
mento.
Já a redução da carga horá-
ria de trabalho conforme a PEC
231/95 que propõe a redução de
44 horas para 40 horas sema-
nais, o que representaria menor
produção, é vista por Rui como
um tiro no pé, pois o país pre-
cisa se desenvolver e ainda não
teríamos este privilégio de re-
duzir a carga horária de trabalho
sem prejudicar a economia e o
bem-estarsocialcomojáfizeram
outros países como o Japão, No-
ruega e os Estados Unidos.
O vice-presidente do Sindica-
to dos Empregados no Comércio
de Cascavel, Osvalcy Pizapio,
acredita que a diminuição da
cargahoráriadetrabalhomelho-
ria o atendimento no comércio e
a qualidade de vida dos funcio-
nários, que teriam mais tempo
para resolver os problemas par-
ticulares e mais tempo para ficar
com a família, mas frisa que o
principal problema e queixa dos
colaboradores é em relação ao
trabalho nos domingos.
“Os colaboradores entram no
trabalho pensado em sair, pois
sua expectativa é de conseguir
outra vaga que não trabalhe aos
domingos. O trabalho aos do-
mingos desmotiva o trabalha-
dor, pois o colaborador não tem
tempo para a convivência fami-
liar,ficamestressadoscomotra-
balho e perde qualidade de vida
e os consumidores não deixarão
de comprar só porque o mercado
não abre aos domingos”.
O assessor do Sindilojas, Bru-
no Reuter (Sindicato dos Lojistas
e Comércio Varejista de Casca-
vel) comenta que a ideia de re-
duzir a carga horária de trabalho
é inaceitável, ruim para os em-
pregados e para os patrões. “O
empregado deve ter mais e ga-
nhar bom salário por isso, nos-
so país prega-se a ociosidade e
issoépéssimoparaaeconomia”,
afirma. Também diz que os em-
pregadores não têm suporte para
o aumento de custos se houver a
diminuição da carga horária.
Os supermercados trabalham
com várias escalas e horários,
alguns com carga horária de 7
horas e 15 minutos com uma ho-
ra de almoço e outros com carga
horária de 6 horas 15 minutos
com intervalo de 15 minutos pa-
ra lanche. Para Lucianir Koeller
gerente de recursos humanos
de um supermercado o processo
de escalas com 6 horas diárias
funciona bem para algumas fun-
ções. “Para os empacotadores e
operadores de caixa, por exem-
plo, pois o atendimento melhora
ediminuiarotatividadedosfun-
cionários.Ocolaboradortemum
desgaste físico e mental menor,
já nos demais cargos como abas-
tecedores e funcionários que não
atendem diretamente o público
não enxerga esta necessidade”,
afirma Lucianir.
Para Joice Oliveira e Marta Va-
lim que são operadoras de cai-
xa, a carga horária de 6 horas,
permite aproveitar melhor o dia
para estudar e fazer outras ativi-
dades que não seriam possíveis
com acargahoráriadeoitohoras
diárias.
Porém um dos problemas da
redução da carga horária de
trabalho apontado por Rui é o
suposto aumento de informali-
dade, pois haverá um impacto
grande nos custos das empresas
que poderão tomar o caminho
da informalidade para as con-
tratações.
Na Agência do Trabalhador de
Cascavel há poucas vagas com
reduzida, no dia em que foi con-
tada para a reportagem, havia
três vagas para vendedores e
uma para auxiliar de cozinha,
com carga horária de seis horas
diária.
A proposta de reduzir a jorna-
da de trabalho surgiu em 1995 e
está sem votação desde então.
A última movimentação ocor-
reu em 2009. Apesar da lentidão
das discussões, a PEC ainda gera
especulações. Os sindicatos de
trabalhadores acreditam que a
medida criará novos postos de
trabalho, por exemplo, em uma
empresa com dez funcionários
que trabalha 44 horas semanais,
se reduzida para 40 horas sema-
nais, precisaria de mais um fun-
cionário para chegar ao mesmo
montante de horas trabalhadas.
O projeto além de reduzir as ho-
ras trabalhadas, também prevê a
elevação do valor da hora-extra
de 50% para 75% sobre o valor
da hora normal.
Esta reportagem é resultado da
oficina Outra Pauta, foi produzida
por acadêmicos de Jornalismo em
umaparceriaentreaGazetadoPa-
raná e a Univel.
Aproposta de reduzir
a jornada de trabalho
surgiu em 1995 e está
semvotação desde
então
“Esforce-se para
conseguiro traba-
lho que gosta,assim
passará pouco tempo
da suavida infeliz,ao
começaro seu dia,
esperando que logo
ele acabe”
Trabalhar engrandece a alma,
mas que tal trabalhar menos?
Carga horária O projeto de lei quer redução da carga horária de trabalho; a proposta prevê
aumento de empregos, mas segue há anos sem definição
OFICINA DE
REPORTAGEM