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RELATÓRIO
DO SERVIÇO
DE DRUG
CHECKING DA
KOSMICARE
NOVEMBRO 2020 - NOVEMBRO 2021
2
Este relatório foi produzido pela Kosmicare e apresenta os
dados da análise de amostras recolhidas no âmbito das
atividades do serviço de drug checking entre
Novembro de 2020 e Novembro de 2021.
A Kosmicare é uma associação sem fins lucrativos
fundada em 2016 com o objetivo de promover atividades
de intervenção, investigação e advocacy que favoreçam
a adoção de padrões de consumo de substâncias mais
seguros e informados, o design e implementação de
serviçosbaseadosnaevidênciacientíficaeimplementação
de políticas de drogas mais pragmáticas e compreensivas.
Nesse sentido, apesar do seu foco temático ser o
consumo de drogas, o seu objeto social é mais amplo ao
visionar a promoção da saúde e o bem-estar comunitário,
assentes na promoção dos valores da cidadania, direitos
humanos e na igualdade. O serviço de informação e
análise da composição das substâncias (Drug Checking)
da Kosmicare funciona ao abrigo do regime geral das
políticas de prevenção e redução de riscos e minimização
de danos, aprovado pelo Decreto-Lei nº 183/2001, de 21
de junho, nomeadamente do seu artigo 31º.
Reconhecemos que o caráter binário e neutro da língua
Portuguesa contribui para a invisibilização histórica,
institucional e estrutural de mulheres e pessoas com
identidades de género não-binárias.
Sendo a transversalidade de género, os Direitos Humanos
e a justiça social princípios basilares à intervenção da
Kosmicare, neste relatório fazemos um uso intencional
dos pronomes femininos para destacar a presença, o
estatuto e o papel das mulheres e das pessoas com
identidades não binárias na sociedade.
Co-financiamento
Apoio
Recomendação de citação
Kosmicare (2022), Relatório do serviço de
análise de substâncias - Novembro 2020 a
Novembro 2021, Publicações Kósmicas
Associação Kosmicare
Rua Cesário Verde 17b,
1170-223
Lisboa
911 185 758
contact@kosmicare.org
www.kosmicare.org
NextGenerationEU
3
PREFÁCIO
A análise de substâncias psicoativas ou drug checking é definida como um serviço que
permite que utilizadoras possam analisar quimicamente substâncias psicoativas e receber
aconselhamento especializado. Os primeiros serviços de drug checking de base comunitária
surgiram nos anos 1960’s e foram uma resposta à vaga adulteração consequente da proibição
de substâncias psicoativas mandatada pelas Nações Unidas através da Convenção Única de
1961 sobre Estupefacientes. Muitos países do mundo têm disponível serviços de Drug Checking,
sendo que na Europa estes serviços estão conectados pela rede T.E.D.I - Trans-European Drug
Information.
Atualmente considera-se que os serviços de drug checking têm duas valências
principais que se podem destacar. A monitorização de mercados informais de drogas, que
permite obter informações sobre a introdução de novas substâncias ou novas formulações
(p.e. pastilhas com elevada dosagem) nos mercados mas também reunir informação sobre
novas formas de consumo ou contextos onde os consumos decorrem. Por exemplo, quando se
trata de dados obtidos através de apreensões ou da análise de águas residuais não é possível
associar as substâncias detetadas às substâncias que as pessoas que consomem pretendiam
adquirir, impossibilitando a deteção de padrões de adulteração o e falsas apresentações
(substâncias com a identidade trocada). Assim, o drug checking em conjunto com outros
mecanismos de monitorização, como questionários à população, análise de águas residuais
ou análise de produtos apreendidos representa uma ferramenta essencial na compreensão
e estudo das alterações dos mercados de drogas, assim como no desenho de intervenções e
campanhas de promoção da saúde mais eficazes. Recentemente o Observatório Europeu das
Drogas e Toxicodependência (OEDT) referiu que a “farmacovigilância através dos sistemas de
drug checking permite emitir alertas de forma atempada e direcionados a grupos de risco
específicos, transmitindo um nível de profissionalismo que é bem recebido pelas pessoas que
consomem substâncias” (Brunt, 2017, pp.17). Outra das valências fundamentais dos serviços
de drug checking é o seu potencial enquanto ferramenta de intervenção em redução de riscos.
Um dos principais objetivos dos serviços de drug checking é a prevenção do consumo de
substâncias perigosas e/ou muito adulteradas assim como a promoção da decisão informada.
Tal como outras intervenções preventivas, o serviço de análise de substâncias tenta influenciar
o comportamento das pessoas que usam drogas fornecendo informações precisas sobre a
composição das substâncias, assim como estratégias específicas. A equipa da Kosmicare têm-
se dedicado a estudar de que forma a provisão deste tipo de informação pode influenciar os
comportamentos de consumo (Martins et al., 2017; Valente et al., 2019) sendo que os dados
indicam que uma percentagem muito elevada das pessoas que obtém um resultado de “não
esperado” ou “substância muito adulterada” reporta que não irá consumir aquela substância.
Não menos importante, muitas das pessoas que utilizam o serviço, implementam estratégias
de redução de riscos, após receberem aconselhamento especializado, mesmo quando obtêm o
resultado que estavam à espera (Valente et al., no prelo).
4
DESAFIOS E CONQUISTAS EM 2021
A pandemia de COVID-19 veio requerer um esforço adicional aos serviços de intervenção
comunitária e redução de riscos. Como resposta a esta situação a Kosmicare reforçou a
sua intervenção online, divulgando os resultados mensais das análises efetuadas no serviço
de drug checking e mantendo sempre a comunicação com o seu público-alvo. Se durante a
primeira vaga de COVID-19, em março e abril de 2019, a recolha de amostras se fez mediante a
marcação prévia, em 2020 e 2021 as regulamentações para serviços de saúde já se encontravam
definidas, permitindo a manutenção do serviço nos seus horários de funcionamento. Contudo,
no decorrer deste segundo ano de serviço vivemos vários períodos de isolamento social o que
se refletiu no número de amostras submetidas para análise, não havendo aumento face ao
ano anterior. A recolha presencial de amostras manteve-se ao longo de 2021, seguindo todas
as recomendações e normas em vigor para serviços de saúde em funcionamento. Contudo,
durante os períodos de confinamento mais intensos, notou-se uma quebra considerável de
afluência ao serviço. Com a abertura dos estabelecimentos de lazer noturno em Outubro de
2021 o número de amostras submetidas aumentou notavelmente, e é expectável que com o
retorno progressivo dos contextos festivos e abertura de espaços de lazer noturno o número
de amostras continue a aumentar.
Uma das prioridades da Kosmicare, durante o ano de 2021, foi iniciar o plano de expansão
do serviço de drug checking direcionado a pessoas que usam drogas (PUD) em contextos de
maior vulnerabilidade.
Com o apoio financeiro da Open Society Foundation (OSF) foi possível o investimento
numa unidade móvel que permite a deslocação do serviço de Drug Checking, acautelando
a problemática da proximidade com a comunidade. Paralelamente, com apoio financeiro do
SICAD, a Kosmicare adquiriu um espectrofotómetro de infravermelho por transformada de
Fourier (FTIR), que em conjunto com outros métodos analíticos, possibilita a disponibilização
de uma resposta mais adaptada às necessidades específicas desta população. O trabalho em
parceria e o acompanhamento no terreno de outras equipas de redução de riscos com vasta
experiência na intervenção de proximidade com pessoas que usam drogas, nomeadamente
Crescer, GAT e Médicos do Mundo, assim como a auscultação de pares PUD, permitiu à equipa
da Kosmicare desenhar uma resposta ajustada a este novo contexto.
Todos estes esforços culminaram na criação do Projeto RIDE - Rede de Informação sobre
Drogas e Educação de Pares, financiado no âmbito do programa Bairros Saudáveis (Resolução
de Conselho de Ministros 52-A/2020, de 1 de julho, a 30 de Outubro de 2021), pelo Plano
de Recuperação e Resiliência. Promovido pela Kosmicare e em parceria com 14 entidades
locais , o RIDE é um projeto piloto, que tem como objetivo principal reduzir, junto de pessoas
que usam drogas em contextos de maior vulnerabilidade, os riscos sociais e para a saúde que
emergem da interseção entre o consumo de drogas ilegais e Covid-19. Com início em outubro
de 2021 e término em setembro de 2022, este projeto piloto pretende implementar, em
Lisboa, um serviço de Drug Checking comunitário em estreita articulação com o Programa de
Consumo Vigiado Móvel, promovido pelo GAT e Médicos do Mundo. Simultaneamente o projeto
integraum programa de educação de pares, formação de profissionais e pretende promover
5
o diálogo entre a comunidade local, as pessoas que usam drogas e as equipas que intervêm
nestes territórios.
Em 2020 foi também detectado a nível europeu um aumento significativo do número
de apreensões de substâncias sintéticas da família de catinonas, em particular 3-MMC
(3-metilmetcaninona) e 3-CMC (3-clorometcaninona), reforçando a necessidade de constante
atualização das técnicas analíticas face às alterações nos mercados não regulamentados.
Enquanto os métodos anteriormente utilizados pela Kosmicare não permitiam a distinção
entre diferentes catinonas, o FTIR permite a sua identificação, em particular do 3-MMC e
4-MMC (4-metilmetcaninona).
Em outubro de 2020 a Kosmicare estabeleceu um protocolo de cooperação com o
Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz por forma a aumentar a sua
capacidade analítica, nomeadamente através de cromatografia gasosa - espectrometria de
massa (GC-MS). Esta parceria foi desenvolvida ao longo de 2021, abrindo novas possibilidades
a nível de técnicas analíticas e respostas do serviço de drug checking.
Durante a pandemia verificou-se na Europa um aumento de preparações vegetais contendo
canabinóides sintéticos vendidos como canábis. A canábis é a droga ilícita mais consumida em
Portugal. Como as técnicas de análise utilizadas até ao momento pela Kosmicare não permitem
a análise de preparações vegetais, temos como objetivo este ano desenvolver e implementar
um método que permita a análise de canabinóides, de forma a monitorizar esta tendência e
permitir a adoção de comportamentos de redução de riscos pelas pessoas que consomem
estas substâncias. Para tal, a Kosmicare iniciou em Novembro de 2021 um crowdfunding
para obter as ferramentas e equipamentos necessários à análise da canábis que circula nos
mercados informais. Os fundos obtidos irão permitir a expansão e manutenção do serviço de
drug checking para este tipo de produtos.
Em 2022 a Kosmicare continua a colaboração com o projeto SCANNER (co-financiado pelo
programa Justice da Comissão Europeia, nº 8621834), no âmbito da análise e monitorização
de Novas Substâncias Psicoativas (NSP). Este projeto está a ser desenvolvido em colaboração
com diversas entidades que trabalham em redução de riscos e drug checking a nível europeu,
como o Energy Control (Espanha), a Faculdade de Medicina da Universidade de Viena (Áustria),
o YODA (Youth Organizations for Drug Action, Polónia) e Drogart (Eslovénia), entre outros.
O próximo ano irá certamente trazer grandes desafios, no entanto Kosmicare mantém-se
comprometida em criar respostas a nível técnico e de intervenção social inovadoras, baseadas
em evidência científica, ajustadas às mudanças nos mercados e comportamentos.
SERVIÇO PERMANENTE DE DRUG CHECKING
	 O serviço permanente de drug checking da Kosmicare funciona, desde outubro de
2019, todas as terças e quartas-feiras em Lisboa. Atualmente, as técnicas que a Kosmicare
utiliza são reagentes colorimétricos, cromatografia em camada fina (CCF), espectrofotometria
ultravioleta, espectrofotometria de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e,
através de um protocolo com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz,
cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa (GC-MS). Para detalhes técnicos
consultar o anexo Materiais e Métodos.
6
Neste relatório vão ser apresentados os resultados das amostras submetidas por utilizadoras
do serviço de forma voluntária e anónima. Serão também apresentados os resultados de análise
a amostras de heroína e cocaína recolhidas através da parceria com outras equipas de redução
de riscos, nomeadamente a Médicos do Mundo e o GAT (Grupo de Ativistas em Tratamento).
Estas análises foram efetuadas na preparação do novo projeto RIDE (Rede de Informação sobre
Drogas e Educação de Pares), que teve início em 30 de outubro de 2021
7
PONTOS-CHAVE
•	 Foram submetidas para análise 240 amostras;
•	 Em 90% das amostras submetidas como MDMA foi apenas detetada a
substância esperada;
•	 A dose média de MDMA encontrado nas pastilhas analisadas foi de 182 mg,
uma dose de MDMA muito acima da recomendada por sessão/noite;
•	 Uma amostra submetidas como LSD continha apenas uma substância da
família dos NBOMes (25(x)-NBOMe). O consumo deste tipo de substâncias
está relacionado com casos graves de intoxicação;
•	 Metade das amostras submetidas como anfetamina estavam adulteradas
com outra substância;
•	 Foi detectado 4-MMC em substâncias vendidas como MDMA;
•	 Foram ainda detetadas várias substâncias da família das catinonas em
circulação, em particular 3-MMC e 3-CMC;
•	 Foi detectado um pó cor-de-rosa vendido como 2C-B, que continha na
realidade Ketamina e MDMA. Esta tendência foi identificada também
noutros países, circulando como “pink tucibi” e com composição variável.
8
RESULTADOS GERAIS
Durante o 2º ano de funcionamento do drop-in da Kosmicare em Lisboa foram submetidas
240 amostras para análise no serviço de drug checking.
Amostras submetidas para
análise (expectativa)
N = 240
MDMA
42,9%
71,%
17,9%
10,4%
3,8%
4,2%
3,3%
Cocaína
LSD
Ketamina
Anfetamina
Outros
Catinonas
2c-B
Gráfico 1. Expectativa das amostras submetidas para análise.
A expectativa das utilizadoras relativamente à identidade das amostras entregues para
análise é um indicador importante de quais as substâncias que as pessoas pretendem consumir.
Estes dados informam o desenho de intervenções direcionadas tendo em consideração as
substâncias mais procuradas. Das 240 amostras recolhidas, 45% foram submetidas como
sendo MDMA, 18% como cocaína, 10% como LSD, 10% como ketamina, 4% como anfetamina,
4% como catinonas e 3% como 2C-B. Os restantes 6% (“outros”) correspondem a amostras de
DMT, mescalina, heroína, diversas triptaminas e outras amostras entregues como substância
desconhecida.
Em 90% das amostras submetidas como sendo MDMA, foi apenas detetado MDMA. Nas
amostras submetidas como LSD, foi detetado apenas LSD em 80% das amostras.
Foram entregues para análise 43 amostras de cocaína, sendo que 16 estavam na forma de
base (crack).
10,4%
9
Gráfico 2. Resumo dos padrões de adulteração das substâncias submetidas para análise.
ANFETAMINA
n=9
KETAMINA
n=25
LSD
n=25
COCAÍNA
n=43
MDMA
n=103
100%
0%
20%
40%
60%
80%
2C-B
n=7
EXPECTATIVA vs RESULTADO DA ANÁLISE
Substância
esperada
Substância
esperada mais
outra(s)
Sem
Substância
esperada
Nas amostras de cocaína (hidrocloreto), em 14 apenas foi detetada cocaína. Em duas
amostras não foi detectada a presença de cocaína. As restantes amostras continham cocaína
com outros adulterantes. Todas as amostras de cocaína base (crack) continham cocaína e
outra(s) substância(s).
Nas 25 amostras submetidas como ketamina, em 19 foi apenas detetada ketamina. Das
9 amostras de anfetamina, mais de metade das amostras continham anfetamina adulterada
com outra(s) substâncias e em duas amostras não foi detetada anfetamina. Das 8 substâncias
entregues como sendo 2C-B, 7 continham apenas a substância esperada.
10
MDMA
96
3
2
1
MDMA + Desconhecido
MDMA + Cafeína
Nenhuma Substância
Encontrada
RESULTADOS DAS ANÁLISES POR SUBSTÂNCIA
MDMA
No último ano, foram submetidas como MDMA 103 amostras. Destas, 60 apresentavam-se
sob a forma de pastilha e 43 como pó/cristal.
Gráfico 3 - Resultados da análise das amostras submetidas como MDMA.
Na maioria das amostras submetidas como MDMA, este foi o único composto detetado.
Nas amostras que continham MDMA com outra substância (representando três das amostras
de MDMA em cristal e duas das amostras de MDMA em pastilha), em duas o adulterante
detectado foi cafeína.
Em três amostras foi detetado MDMA misturado um adulterante não identificado, que se
pode tratar de um sub-produto de síntese ou precursor. Numa amostra submetida como MDMA
em pastilha não foi detectada qualquer substância.
Uma das amostras submetidas recentemente como MDMA em cristal não continha MDMA,
existindo indicação por análise preliminar de ser uma substância da família das catinonas. O
resultado definitivo da identidade desta substância foi confirmado por FTIR em conjunto com
GC-MS, através de colaboração com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas
Moniz, que permitiu identificar a substância em causa como 4-MMC.
Além das análises qualitativas, procedeu-se também à quantificação de pastilhas através
de espectrofotometria UV-Vis. Ao longo do segundo ano de funcionamento do drop-in da
Kosmicare, foram quantificadas 52 pastilhas de MDMA. A dose média foi de 181 mg, com a
dose mínima de 90,4 mg e máxima de 283 mg.
Considerando uma dose máxima recomendada de 125 mg por pessoa numa mesma sessão/
noite, torna-se evidente também na cidade de Lisboa a tendência detetada a nível mundial
Resultados da
análise de MDMA,
n=105
11
Dose máxima
recomendada
por sessão/noite
Dose média
das pastilhas
analisadas
Gráfico 4. Resultados da quantificação de amostras identificadas como MDMA.
300mg
250mg
200mg
150mg
100mg
50mg
0mg 10 20 30 40 50 60
de circulação de pastilhas com elevadas doses de MDMA. Os riscos associados a doses tão
elevadas de MDMA passam por aumento dos efeitos estimulantes, taquicardia, hipertensão
arterial e hipertermia, que podem ser fatais.
No entanto, as doses individuais de MDMA variam por pessoa e por ocasião de consumo.
Factores como peso corporal, sexo (estudos indicam que o MDMA afecta mais intensamente
mulheres cisgénero), uso concomitante de outras substâncias, set e setting podem afetar os
efeito da substância e potenciais riscos tóxicos. A dose de referência de 125 mg de MDMA é
calculada tendo por base um homem branco cisgénero, sem outras condições médicas, com
cerca de 70 kg.
Uma fórmula utilizada para calcular as doses individuais de MDMA tendo em conta o peso
corporal é multiplicar o peso em quilogramas por um factor de 1 a 1.5.
dose individual de MDMA (mg) = [1;1.5] x valor numérico do peso corporal (Kg)
No caso de uma mulher cisgénero de 50 Kg, sem experiência prévia com MDMA, num ambiente
de festa, uma dose individual pode ser de 50 mg. Para esta pessoa, consumir uma pastilha com
183 mg representa mais de três vezes uma dose individual, com um grande aumento dos riscos
associados.
Quantificação de pastilhas de MDMA N=42
12
COCAÍNA
Foram submetidas para análise 27 amostras na forma de pó de cocaína (sob a forma de
hidrocloreto)
Gráfico 5. Resultados da análise das amostras submetidas como cocaína hidrocloreto.
Cocaína
Cocaína + adulterantes
Sem Cocaína
14 11 2
Em 14 amostras submetidas como cocaína (hidrocloreto), foi detetada apenas cocaína. Em
11 das amostras, foi detectada cocaína com outros adulterantes.
Nas amostras que continham cocaína com outros adulterantes, três continham cocaína e
cafeína e outras três continham cocaína e fenacetina, um analgésico e antipirético semelhante
ao paracetamol, que foi retirado do mercado pela sua toxicidade, tendo sido associada a
maior incidência de cancros urológicos. Uma amostra continha cocaína, fenacetina e cafeína.
Uma amostra continha cocaína, fenacetina e
levamisol, um antiparasitário que deixou de ser
utilizadoemhumanospelasuatoxicidadeparao
sistema imunitário e circulatório. Uma amostra
continha cocaína e creatina, um suplemento
alimentar utilizado frequentemente para
fortalecimento muscular e de venda livre. Uma
amostra continha ainda cocaína, lidocaína
(um anestésico local utilizado em dentistas) e
creatina.
Em duas amostras não foi detetada
cocaína, uma delas contendo anfetamina,
cafeína e paracetamol. Na outra amostra em
que não foi detetada cocaína foi detetado
um composto que após análise por GC-MS
foi possível identificar como possível produto
de degradação do metamizol, um composto
analgésico e antipirético.
Cocaína (hidrocloreto) n=27
Adulterantes presentes
nas amostras n=11
Cafeína
Fenacetina
Lidocaína
Levamisol
Creatina
Metamizol
4
5
1
2
1
1
Gráfico 6. Adulterantes presentes nas amostras
submetidas como cocaína, que revelaram conter
cocaína e um ou mais adulterantes
13
Gráfico 7. Resultados da análise das amostras submetidas como LSD
LSD
Desconhecido
LSD + Desconhecido
25x-NBOMe
Nenhuma substância
encontrada
LSD
Das 25 amostras submetidas como LSD, esta substância foi a única detetada em 20
das amostras. Numa das amostras foi detetado LSD e outra substância não identificada,
provavelmente um produto de degradação do próprio LSD. Em duas amostras a substância
não foi identificada, não se tratando de LSD nem dos seus adulterantes mais comuns. Devido à
quantidade de amostra ser insuficiente não foi possível fazer mais testes. Foi também analisada
uma amostra vendida como LSD onde não foi detetada qualquer substância.
Foi ainda analisada uma amostra submetida com LSD contendo um composto do género
25(x)-NBOMe. Os 25(x)-NBOMe são compostos derivados das feniletilaminas (assim como a
mescalina, o MDMA ou a anfetamina), existindo variantes consoante pequenas variações na sua
estrutura (x=Bromo, 25B-NBOMe; x= Iodo, 25I-NBOMe; x=Cloro, 25C-NBOMe. Estes compostos
começaram a aparecer em circulação no início dos anos 2000, tendo como base da sua estrutura
química os 2C-(x), cuja síntese, doses e duração dos efeitos foram extensivamente descritos
por Ann e Alexander Shulgin no livro PIHKAL (Shulgin & Shulgin, 1991). Por serem ativos em
doses tão baixas como 1 mg, estas substâncias podem ser distribuídas em blotters (papel
mata-borrão) ou gotas. Os efeitos que provocam são psicadélicos, mas com maior estimulação
física que o LSD. Em doses altas, são frequentes episódios de grande agitação psicomotora
e experiências intensas, difíceis de gerir psicologicamente, principalmente em situações de
consumo não intencional. Ao contrário do LSD, é potencialmente fatal em doses pouco acima
das doses recreativas comuns, tendo sido registadas mundialmente várias overdoses associadas
a 25(x)-NBOMes.
20
2
1 1
1
LSD n=25
14
KETAMINA
Das 19 amostras submetidas como ketamina, em 18 foi apenas detectada a presença de
ketamina. Numa das amostras foi detetada ketamina com outra substância possivelmente de
uma impureza derivada da síntese de ketamina.
ANFETAMINA
Das nove amostras submetidas como anfetamina, em cinco foi detetada anfetamina e
cafeína. Este é um padrão de adulteração bastante comum em amostras desta substância.
Em duas das amostras apenas foi detetada anfetamina. Duas das amostras não continham
de todo anfetamina. Numa delas foi detectada cafeína e na outra não foi detetada nenhuma
substância.
Das 25 amostras submetidas como ketamina, em 19 foi apenas detectada a presença de
ketamina. Em cinco amostras foi detetada ketamina com outra substância, identificada como
impureza A da Ketamina, possivelmente de uma impureza derivada da sua síntese.
Uma das amostras não continha ketamina, tendo sido detetada apenas anfetamina.
Ketamina
Anfetamina + Cafeina
Ketamina + Outro
Anfetamina
Cafeina
Nenhuma substância
encontrada
Gráfico 8. Resultados da análise das amostras submetidas como LSD.
Gráfico 9. Resultados da análise de amostras submetidas como anfetamina (n=9).
2
5 1
1
1
18
Ketamina
n=19
Anfetamina
n=9
15
2C-B
Foram analisadas sete amostras submetidas como 2C-B. Destas, seis eram pastilhas.
Em todas foi apenas detetado 2C-B. As doses das cinco pastilhas quantificadas por
espectrofotometria UV-Vis encontravam-se entre 12.5 mg e 15.3 mg.
Uma das amostras submetidas como 2C-B era um pó cor-de-rosa ques na realidade continha
ketamina e MDMA. Nos últimos anos, a venda de um pó cor-de-rosa sob o nome 2C-B, “tucibi”
ou “pink cocaine” tem sido detectada noutros países. Geralmente contém uma mistura
variável de substâncias, que não 2C-B. Os riscos criados pela mistura de várias substâncias
são aumentados pela potencial interação entre elas, principalmente quando os seus efeitos e
duração são diferentes dos expectados pelas utilizadoras.
SUBSTÂNCIAS DA FAMíLIA DAS CATINONAS
As substâncias da família das catinonas sintéticas surgiram inicialmente como alternativas
não legalmente controladas a estimulantes e empatogéneos “clássicos”, como a cocaína, a
anfetamina e o MDMA. Por sucessivas alterações da sua estrutura química, foram surgindo ao
longo dos anos diversas novas catinonas sintéticas, contornando assim as leis que regulavam
o seu acesso e utilização. No entanto, o 4-MMC (4-metilmetcatinona ou mefedrona),
assim como outras catinonas, ganhou popularidade e mercado próprio, sendo procurado
intencionalmente pelo seu perfil de efeitos. Atualmente em Portugal tanto o 4-MMC como o
4-CMC (4-clorometcatinona) encontram-se incluídos na Tabela ii-A anexa ao Decreto-Lei n.º
15/93, de 22 de janeiro (juntamente com substâncias como o MDMA e LSD) proibindo a sua
utilização, que inclui também os seus isómeros, pelo que o 3-MMC (3-metilmetcatinona ou
metafedrona) e o 3-CMC (3-clorometcatinona) ficam possivelmente incluídos.
No entanto, devido a legislações diferentes noutros países, é possível que o efeito da
proibição do 4-MMC antes da proibição do 3-MMC (tenha resultado na utilização do 3-MMC
em substituição de 4-MMC.
De notar que de acordo com o relatório preliminar de avaliação de risco do 3-MMC, elaborado
pelo OEDT (2021) durante o ano de 2020 ocorreu um aumento significativo nas apreensões
de catinonas sintéticas na Europa, que estava em declínio desde 2016, tendo atingido o nível
mais baixo durante 2019. Destas apreensões, cerca de um quarto era 3-MMC e outro 3-CMC.
16
Foram analisadas onze amostras submetidas como diversas catinonas sintéticas.
Destas, cinco foram submetidas como 3-MMC. O 3-MMC é um isómero posicional do 4-MMC.
Isómeros são moléculas com a mesma composição química, mas com pequenas alterações na
forma como os seus átomos estão organizados. Devido à grande semelhança entre as suas
características químicas, na CCF não é possível distingui-los. No entanto, é possível distingui-
los utilizando o FTIR e também por GC-MS. Em duas das amostras submetidas como 3-MMC, foi
detetada uma outra catinona sintética, 3-CMC.
Nas restantes três amostras submetidas como 3-MMC apenas foi detetado 3-MMC. Duas
amostras foram submetidas como 4-MMC (mefedrona). Uma delas continha na realidade
3-MMC e a outra 3-MMC e cafeína.
Foram submetidas ainda 3 amostras submetidas como catinonas sintéticas, ou seja,
sabia-se que era uma catinona mas não especificamente qual. Uma delas continha 3-FPM
(3-fluorofenmetrazina), cafeína e benzocaína; outra 3-MMC e cafeína e outra n-etil-hexedrona
e cafeína. A 3-FPM não é uma catinona, sendo quimicamente semelhante a fenmetrazina (um
medicamento introduzido nos anos 1950 como supressor do apetite; sendo posteriormente
retirado do mercado).
A n-etil-hexedrona é uma catinona sintética, e tal como o 3-FPM tem um efeito estimulante
no sistema nervoso central.
As doses recreativas de 3-FPM e de n-etil-hexedrona são mais baixas que as de 3-MMC e
4-MMC, podendo representar um risco adicional o seu consumo se forem equiparadas a estas.
Tal como com a 3-MMC e 4-MMC, os riscos adicionais específicos a estas substâncias são
desconhecidos.
Houve ainda uma amostra submetida como MDxx, sendo que não era conhecido o composto
exato, que acabou por revelar-se MDPHP (3’,4’-Methylenedioxy-α-pyrrolidinohexiophenone),
também uma catinona sintética.
Sem a substância esperada
Só a substância esperada
Substância esperada + outros
Gráfico 10. Resultado da análise das amostras submetidas como catinonas.
5 3 3
Catinonas
n=11
17
Gráfico 11. Composição detectada nas amostras submetidas como crack (cocaína base)
Cocaína + fenacetina
Cocaína + fenacetina + desconhecido
Amostras de material de consumo injetável recolhido
por outras equipas de redução de riscos no âmbito da
intervenção em contextos mais vulneráveis
No âmbito da expansão do serviço de drug checking a pessoas que consomem drogas em
contextos de maior vulnerabilidade foram analisadas 19 amostras, submetidas como cocaína
ou heroína.
Nenhuma das 16 amostras submetidas como crack (cocaína base) continha apenas cocaína.
Em todas as amostras foi detetada fenacetina, e em seis amostras ainda outro composto
desconhecido.
O crack consiste em cocaína base, e pode ser
obtido através da mistura de hidrocloreto de
cocaína com bicarbonato de sódio. O bicarbonato
de sódio não é detetado pelas técnicas que são
utilizadas neste contexto, pelo que os resultados
apresentados apenas contemplam a substância
detetada e adulterantes. Nas 16 amostras
submetidas como crack, todas continham
fenacetina, sendo que em 10 destas apenas
foram detetadas cocaína e fenacetina e em 6
foram detetados cocaína, fenacetina e ainda
compostos desconhecidos.
10 6
Crack n=16
Adulterantes Crack
n=16
Desconhecido
Fenacetina
16
6
Gráfico 12. Adulterantes presentes nas amostras
submetidas como crack (cocaína base)
18
Gráfico 13. Composição detectada nas amostras submetidas como heroína
Heroína + cafeína + paracetamol
Heroína + cafeína +
paracetamol + griseofulvina
2 1
Heroína n=3
Adulterantes Heroína
n=3
Paracetamol
Griseofulvina
Cafeína
2
2
1
Gráfico 14. Adulterantes presentes nas amostras
submetidas como heroína
Nas três amostras submetidas como heroína, nenhuma continha apenas heroína. Em duas
foram detetados heroína, cafeína e paracetamol e numa amostra foram detetados heroína,
cafeína, paracetamol e griseofulvina, um medicamento antifúngico.
Estes resultados foram confirmados por
GC-MS no Laboratório de Ciências Forenses e
Psicológicas Egas Moniz. Apesar de se tratar de
um número pequeno de amostras, o diferente
padrão de adulteração é notório, reforçando
a necessidade de alargar o serviço a novas
populações e a diferentes contextos.
OUTRAS AMOSTRAS
Foi analisada uma amostra submetida como DMT (em pó/cristal), onde apenas foi detetado
DMT. Uma amostra foi submetida como 5-MeO-DMT (em cristal), tendo apenas sido detetado
5-MeO-DMT. Numa amostra submetida como n-etil-ketamina foi apenas detetada ketamina.
Numa amostra submetida como heroína através da colaboração com o Instituto Universitário
Egas Moniz, foi possível identificar estes compostos como cafeína, paracetamol e outros
compostos e alcalóides característicos de extractos de Papaverum somniferum.
19
REFERÊNCIAS
•	 Brunt, T. M. (2017). Drug checking as a harm reduction tool for recreational drug users: opportunities
and challenges. Retrieved from EMCDDA, Lisbon: https://www.emcdda.europa.eu/document-library/drug-
checking-pill-testing-harm-reduction-tool-recreational-drug-users-opportunities-and-challenges_en
•	 Martins, D., Barratt, M. J., Pires, C. V., Carvalho, H., Vilamala, M. V., Espinosa, I. F., & Valente, H. (2017).
The detection and prevention of unintentional consumption of DOx and 25x-NBOMe at Portugal’s Boom
Festival. Human Psychopharmacology: Clinical and Experimental, 32(3), e2608-n/a. doi:10.1002/hup.2608
•	 Shulgin, A., & Shulgin, A. (1991). PIHKAL: a chemical love story: Transform Pr.
•	 Valente, H., Martins, D., Carvalho, H., Pires, C. V., Carvalho, M. C., Pinto, M., & Barratt, M. J. (2019). Evaluation
of a drug checking service at a large scale electronic music festival in Portugal. Int J Drug Policy, 73, 88-95.
doi:10.1016/j.drugpo.2019.07.007
•	 European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (2021). EMCDDA initial report on the new
psychoactive substance 2-(methylamino)-1-(3-methylphenyl)propan-1-one (3-methylmethcathinone,
3-MMC).
20
MATERIAIS E MÉTODOS
Reagentes colorimétricos
O reagente marquis (10 mL formaldeído em 90 mL H2SO4) foi principalmente usado para detetar feniletilaminas.
O reagente mecke (1 g ácido selenioso em 100 mL H2SO4) foi usado como confirmação de algumas substâncias.O
reagente p-DMAB (65 mL H2SO4, 35 mL H2O, 125 mg p-dimetilaminobenzaldeído, 450 µL de FeCl3-TS [9g
FeCl3-TS em 100 mL H2O]) foi principalmente usado para detetar triptaminas.O reagente mandelin (1% de
metavanadato de amónio [NH4VO3] em 100 mL H2SO4) foi principalmente usado para detecção de ketamina.
O reagent Scott A (2% tiocianato de cobalto em H2O) e o Reagente Scott B (0,02% cloreto de estanho (II) em
H2O) foi principalmente utilizado para a deteção de cocaína.
Cromatografia em Camada Fina
As amostras foram dissolvidas em metanol, perfazendo uma concentração aproximada de 5 mg/mL. As soluções
são aplicadas numa placa de sílica gel com fluorescência a 254 nm. As placas são corridas em cubas com
diferentes eluentes (acetona e metanol para amostras de cocaína ou ketamina e metanol:amónia (58,5:1,5) para
triptaminas, feniletilaminas e opióides).
Quantificação UV-Vis
Foi utilizado o espetofotómetro UV/visible Jenway-7205. Os espetros foram obtidos no intervalo 200-400 nm.
Resumidamente, as amostras são diluídas em 10 mL de metanol e sonicadas por 15 minutos. Uma segunda
diluição em metanol é então feita, 1:10 para MDMA e 1:20 para 2C-B. As amostras de LSD são lidas diretamente
a partir da diluição inicial. Para MDMA e 2C-B em pastilha, a quantificação é dada em mg totais na pastilha. Para
MDMA e 2C-B em pó/cristal a quantificação é dada em percentagem. A quantificação foi feita a partir de um
método desenvolvido pelo Energy Control (Espanha).
FTIR
O equipamento FTIR instrument IRAffinity (Shimadzu, Japan), equipado com IResolution Software (Shimadzu,
version 1.6; parâmetros: Measurement mode: % transmittance; Apodization: Happ-Genzel; No of scans: 25;
Resolution: 16.0; Range (cm-1): Min 700, Max 2000), No of scans: 25; Resolution: 16.0; Range (cm-1): Min 700,
Max 2000). As amostras foram identificadas usando as bibliotecas da Shimadzu, SWGDrugs, uma biblioteca
interna obtida de amostras prévias confirmadas por GC-MS e uma amostra interna cedida pelo The Loop (Reino
Unido).
GC-MS
A análise por GC-MS foi feita no Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz. O equipamento
GC Agilent Technologies 6890N acoplado a espetrometro de massa Agilent 5973N foi usado com o software
Enhanced Chemstation G1701DA, versãoE.02.00.493. As amostras foram solubilizadas em metanol (~5 mg/mL),
injetadas automaticamente em modo split 50:1 com volume de injeção 2 µL e corridas alternadamente com
amostras em branco de metanol.
Uma coluna de baixa polaridade foi usada (5%-phenyl; 95% methylpolysiloxane, 250 µm, 0,25µm, 30 m).
A análise cromatográfica foi feita nas seguintes condições: Modo constant flow 0,7 mL/min Hélio com injetor
a 280ºC. Tempo inicial de 2min@90ºC; rampa de 20ºC/min até 315ºC; 5min@315ºC, MSD transfer line 280ºC.
As condições de MS foram as seguintes: energia de ionização 70eV; aquisição feita em modo scan de 40-450
m/z. Os espetros obtidos foram comparados utilizando padrões analíticos, e as bibliotecas da NIST, Cayman (C.
Cayman Spectral Library, vol. v08302018), SWDrug e uma biblioteca interna.
21
AGRADECIMENTOS
Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz:
Alexandre Quintas, Mário Dias, Carla Ferreira, Ricardo Santiago
SICAD
Câmara de Lisboa
GAT
Médicos do Mundo
Crescer
The Loop:
Guy Jones
Energy Control
Steve Chapman

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Relatório do Serviço de Drug Checking da Kosmicare

  • 1. RELATÓRIO DO SERVIÇO DE DRUG CHECKING DA KOSMICARE NOVEMBRO 2020 - NOVEMBRO 2021
  • 2. 2 Este relatório foi produzido pela Kosmicare e apresenta os dados da análise de amostras recolhidas no âmbito das atividades do serviço de drug checking entre Novembro de 2020 e Novembro de 2021. A Kosmicare é uma associação sem fins lucrativos fundada em 2016 com o objetivo de promover atividades de intervenção, investigação e advocacy que favoreçam a adoção de padrões de consumo de substâncias mais seguros e informados, o design e implementação de serviçosbaseadosnaevidênciacientíficaeimplementação de políticas de drogas mais pragmáticas e compreensivas. Nesse sentido, apesar do seu foco temático ser o consumo de drogas, o seu objeto social é mais amplo ao visionar a promoção da saúde e o bem-estar comunitário, assentes na promoção dos valores da cidadania, direitos humanos e na igualdade. O serviço de informação e análise da composição das substâncias (Drug Checking) da Kosmicare funciona ao abrigo do regime geral das políticas de prevenção e redução de riscos e minimização de danos, aprovado pelo Decreto-Lei nº 183/2001, de 21 de junho, nomeadamente do seu artigo 31º. Reconhecemos que o caráter binário e neutro da língua Portuguesa contribui para a invisibilização histórica, institucional e estrutural de mulheres e pessoas com identidades de género não-binárias. Sendo a transversalidade de género, os Direitos Humanos e a justiça social princípios basilares à intervenção da Kosmicare, neste relatório fazemos um uso intencional dos pronomes femininos para destacar a presença, o estatuto e o papel das mulheres e das pessoas com identidades não binárias na sociedade. Co-financiamento Apoio Recomendação de citação Kosmicare (2022), Relatório do serviço de análise de substâncias - Novembro 2020 a Novembro 2021, Publicações Kósmicas Associação Kosmicare Rua Cesário Verde 17b, 1170-223 Lisboa 911 185 758 contact@kosmicare.org www.kosmicare.org NextGenerationEU
  • 3. 3 PREFÁCIO A análise de substâncias psicoativas ou drug checking é definida como um serviço que permite que utilizadoras possam analisar quimicamente substâncias psicoativas e receber aconselhamento especializado. Os primeiros serviços de drug checking de base comunitária surgiram nos anos 1960’s e foram uma resposta à vaga adulteração consequente da proibição de substâncias psicoativas mandatada pelas Nações Unidas através da Convenção Única de 1961 sobre Estupefacientes. Muitos países do mundo têm disponível serviços de Drug Checking, sendo que na Europa estes serviços estão conectados pela rede T.E.D.I - Trans-European Drug Information. Atualmente considera-se que os serviços de drug checking têm duas valências principais que se podem destacar. A monitorização de mercados informais de drogas, que permite obter informações sobre a introdução de novas substâncias ou novas formulações (p.e. pastilhas com elevada dosagem) nos mercados mas também reunir informação sobre novas formas de consumo ou contextos onde os consumos decorrem. Por exemplo, quando se trata de dados obtidos através de apreensões ou da análise de águas residuais não é possível associar as substâncias detetadas às substâncias que as pessoas que consomem pretendiam adquirir, impossibilitando a deteção de padrões de adulteração o e falsas apresentações (substâncias com a identidade trocada). Assim, o drug checking em conjunto com outros mecanismos de monitorização, como questionários à população, análise de águas residuais ou análise de produtos apreendidos representa uma ferramenta essencial na compreensão e estudo das alterações dos mercados de drogas, assim como no desenho de intervenções e campanhas de promoção da saúde mais eficazes. Recentemente o Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência (OEDT) referiu que a “farmacovigilância através dos sistemas de drug checking permite emitir alertas de forma atempada e direcionados a grupos de risco específicos, transmitindo um nível de profissionalismo que é bem recebido pelas pessoas que consomem substâncias” (Brunt, 2017, pp.17). Outra das valências fundamentais dos serviços de drug checking é o seu potencial enquanto ferramenta de intervenção em redução de riscos. Um dos principais objetivos dos serviços de drug checking é a prevenção do consumo de substâncias perigosas e/ou muito adulteradas assim como a promoção da decisão informada. Tal como outras intervenções preventivas, o serviço de análise de substâncias tenta influenciar o comportamento das pessoas que usam drogas fornecendo informações precisas sobre a composição das substâncias, assim como estratégias específicas. A equipa da Kosmicare têm- se dedicado a estudar de que forma a provisão deste tipo de informação pode influenciar os comportamentos de consumo (Martins et al., 2017; Valente et al., 2019) sendo que os dados indicam que uma percentagem muito elevada das pessoas que obtém um resultado de “não esperado” ou “substância muito adulterada” reporta que não irá consumir aquela substância. Não menos importante, muitas das pessoas que utilizam o serviço, implementam estratégias de redução de riscos, após receberem aconselhamento especializado, mesmo quando obtêm o resultado que estavam à espera (Valente et al., no prelo).
  • 4. 4 DESAFIOS E CONQUISTAS EM 2021 A pandemia de COVID-19 veio requerer um esforço adicional aos serviços de intervenção comunitária e redução de riscos. Como resposta a esta situação a Kosmicare reforçou a sua intervenção online, divulgando os resultados mensais das análises efetuadas no serviço de drug checking e mantendo sempre a comunicação com o seu público-alvo. Se durante a primeira vaga de COVID-19, em março e abril de 2019, a recolha de amostras se fez mediante a marcação prévia, em 2020 e 2021 as regulamentações para serviços de saúde já se encontravam definidas, permitindo a manutenção do serviço nos seus horários de funcionamento. Contudo, no decorrer deste segundo ano de serviço vivemos vários períodos de isolamento social o que se refletiu no número de amostras submetidas para análise, não havendo aumento face ao ano anterior. A recolha presencial de amostras manteve-se ao longo de 2021, seguindo todas as recomendações e normas em vigor para serviços de saúde em funcionamento. Contudo, durante os períodos de confinamento mais intensos, notou-se uma quebra considerável de afluência ao serviço. Com a abertura dos estabelecimentos de lazer noturno em Outubro de 2021 o número de amostras submetidas aumentou notavelmente, e é expectável que com o retorno progressivo dos contextos festivos e abertura de espaços de lazer noturno o número de amostras continue a aumentar. Uma das prioridades da Kosmicare, durante o ano de 2021, foi iniciar o plano de expansão do serviço de drug checking direcionado a pessoas que usam drogas (PUD) em contextos de maior vulnerabilidade. Com o apoio financeiro da Open Society Foundation (OSF) foi possível o investimento numa unidade móvel que permite a deslocação do serviço de Drug Checking, acautelando a problemática da proximidade com a comunidade. Paralelamente, com apoio financeiro do SICAD, a Kosmicare adquiriu um espectrofotómetro de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), que em conjunto com outros métodos analíticos, possibilita a disponibilização de uma resposta mais adaptada às necessidades específicas desta população. O trabalho em parceria e o acompanhamento no terreno de outras equipas de redução de riscos com vasta experiência na intervenção de proximidade com pessoas que usam drogas, nomeadamente Crescer, GAT e Médicos do Mundo, assim como a auscultação de pares PUD, permitiu à equipa da Kosmicare desenhar uma resposta ajustada a este novo contexto. Todos estes esforços culminaram na criação do Projeto RIDE - Rede de Informação sobre Drogas e Educação de Pares, financiado no âmbito do programa Bairros Saudáveis (Resolução de Conselho de Ministros 52-A/2020, de 1 de julho, a 30 de Outubro de 2021), pelo Plano de Recuperação e Resiliência. Promovido pela Kosmicare e em parceria com 14 entidades locais , o RIDE é um projeto piloto, que tem como objetivo principal reduzir, junto de pessoas que usam drogas em contextos de maior vulnerabilidade, os riscos sociais e para a saúde que emergem da interseção entre o consumo de drogas ilegais e Covid-19. Com início em outubro de 2021 e término em setembro de 2022, este projeto piloto pretende implementar, em Lisboa, um serviço de Drug Checking comunitário em estreita articulação com o Programa de Consumo Vigiado Móvel, promovido pelo GAT e Médicos do Mundo. Simultaneamente o projeto integraum programa de educação de pares, formação de profissionais e pretende promover
  • 5. 5 o diálogo entre a comunidade local, as pessoas que usam drogas e as equipas que intervêm nestes territórios. Em 2020 foi também detectado a nível europeu um aumento significativo do número de apreensões de substâncias sintéticas da família de catinonas, em particular 3-MMC (3-metilmetcaninona) e 3-CMC (3-clorometcaninona), reforçando a necessidade de constante atualização das técnicas analíticas face às alterações nos mercados não regulamentados. Enquanto os métodos anteriormente utilizados pela Kosmicare não permitiam a distinção entre diferentes catinonas, o FTIR permite a sua identificação, em particular do 3-MMC e 4-MMC (4-metilmetcaninona). Em outubro de 2020 a Kosmicare estabeleceu um protocolo de cooperação com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz por forma a aumentar a sua capacidade analítica, nomeadamente através de cromatografia gasosa - espectrometria de massa (GC-MS). Esta parceria foi desenvolvida ao longo de 2021, abrindo novas possibilidades a nível de técnicas analíticas e respostas do serviço de drug checking. Durante a pandemia verificou-se na Europa um aumento de preparações vegetais contendo canabinóides sintéticos vendidos como canábis. A canábis é a droga ilícita mais consumida em Portugal. Como as técnicas de análise utilizadas até ao momento pela Kosmicare não permitem a análise de preparações vegetais, temos como objetivo este ano desenvolver e implementar um método que permita a análise de canabinóides, de forma a monitorizar esta tendência e permitir a adoção de comportamentos de redução de riscos pelas pessoas que consomem estas substâncias. Para tal, a Kosmicare iniciou em Novembro de 2021 um crowdfunding para obter as ferramentas e equipamentos necessários à análise da canábis que circula nos mercados informais. Os fundos obtidos irão permitir a expansão e manutenção do serviço de drug checking para este tipo de produtos. Em 2022 a Kosmicare continua a colaboração com o projeto SCANNER (co-financiado pelo programa Justice da Comissão Europeia, nº 8621834), no âmbito da análise e monitorização de Novas Substâncias Psicoativas (NSP). Este projeto está a ser desenvolvido em colaboração com diversas entidades que trabalham em redução de riscos e drug checking a nível europeu, como o Energy Control (Espanha), a Faculdade de Medicina da Universidade de Viena (Áustria), o YODA (Youth Organizations for Drug Action, Polónia) e Drogart (Eslovénia), entre outros. O próximo ano irá certamente trazer grandes desafios, no entanto Kosmicare mantém-se comprometida em criar respostas a nível técnico e de intervenção social inovadoras, baseadas em evidência científica, ajustadas às mudanças nos mercados e comportamentos. SERVIÇO PERMANENTE DE DRUG CHECKING O serviço permanente de drug checking da Kosmicare funciona, desde outubro de 2019, todas as terças e quartas-feiras em Lisboa. Atualmente, as técnicas que a Kosmicare utiliza são reagentes colorimétricos, cromatografia em camada fina (CCF), espectrofotometria ultravioleta, espectrofotometria de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e, através de um protocolo com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz, cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa (GC-MS). Para detalhes técnicos consultar o anexo Materiais e Métodos.
  • 6. 6 Neste relatório vão ser apresentados os resultados das amostras submetidas por utilizadoras do serviço de forma voluntária e anónima. Serão também apresentados os resultados de análise a amostras de heroína e cocaína recolhidas através da parceria com outras equipas de redução de riscos, nomeadamente a Médicos do Mundo e o GAT (Grupo de Ativistas em Tratamento). Estas análises foram efetuadas na preparação do novo projeto RIDE (Rede de Informação sobre Drogas e Educação de Pares), que teve início em 30 de outubro de 2021
  • 7. 7 PONTOS-CHAVE • Foram submetidas para análise 240 amostras; • Em 90% das amostras submetidas como MDMA foi apenas detetada a substância esperada; • A dose média de MDMA encontrado nas pastilhas analisadas foi de 182 mg, uma dose de MDMA muito acima da recomendada por sessão/noite; • Uma amostra submetidas como LSD continha apenas uma substância da família dos NBOMes (25(x)-NBOMe). O consumo deste tipo de substâncias está relacionado com casos graves de intoxicação; • Metade das amostras submetidas como anfetamina estavam adulteradas com outra substância; • Foi detectado 4-MMC em substâncias vendidas como MDMA; • Foram ainda detetadas várias substâncias da família das catinonas em circulação, em particular 3-MMC e 3-CMC; • Foi detectado um pó cor-de-rosa vendido como 2C-B, que continha na realidade Ketamina e MDMA. Esta tendência foi identificada também noutros países, circulando como “pink tucibi” e com composição variável.
  • 8. 8 RESULTADOS GERAIS Durante o 2º ano de funcionamento do drop-in da Kosmicare em Lisboa foram submetidas 240 amostras para análise no serviço de drug checking. Amostras submetidas para análise (expectativa) N = 240 MDMA 42,9% 71,% 17,9% 10,4% 3,8% 4,2% 3,3% Cocaína LSD Ketamina Anfetamina Outros Catinonas 2c-B Gráfico 1. Expectativa das amostras submetidas para análise. A expectativa das utilizadoras relativamente à identidade das amostras entregues para análise é um indicador importante de quais as substâncias que as pessoas pretendem consumir. Estes dados informam o desenho de intervenções direcionadas tendo em consideração as substâncias mais procuradas. Das 240 amostras recolhidas, 45% foram submetidas como sendo MDMA, 18% como cocaína, 10% como LSD, 10% como ketamina, 4% como anfetamina, 4% como catinonas e 3% como 2C-B. Os restantes 6% (“outros”) correspondem a amostras de DMT, mescalina, heroína, diversas triptaminas e outras amostras entregues como substância desconhecida. Em 90% das amostras submetidas como sendo MDMA, foi apenas detetado MDMA. Nas amostras submetidas como LSD, foi detetado apenas LSD em 80% das amostras. Foram entregues para análise 43 amostras de cocaína, sendo que 16 estavam na forma de base (crack). 10,4%
  • 9. 9 Gráfico 2. Resumo dos padrões de adulteração das substâncias submetidas para análise. ANFETAMINA n=9 KETAMINA n=25 LSD n=25 COCAÍNA n=43 MDMA n=103 100% 0% 20% 40% 60% 80% 2C-B n=7 EXPECTATIVA vs RESULTADO DA ANÁLISE Substância esperada Substância esperada mais outra(s) Sem Substância esperada Nas amostras de cocaína (hidrocloreto), em 14 apenas foi detetada cocaína. Em duas amostras não foi detectada a presença de cocaína. As restantes amostras continham cocaína com outros adulterantes. Todas as amostras de cocaína base (crack) continham cocaína e outra(s) substância(s). Nas 25 amostras submetidas como ketamina, em 19 foi apenas detetada ketamina. Das 9 amostras de anfetamina, mais de metade das amostras continham anfetamina adulterada com outra(s) substâncias e em duas amostras não foi detetada anfetamina. Das 8 substâncias entregues como sendo 2C-B, 7 continham apenas a substância esperada.
  • 10. 10 MDMA 96 3 2 1 MDMA + Desconhecido MDMA + Cafeína Nenhuma Substância Encontrada RESULTADOS DAS ANÁLISES POR SUBSTÂNCIA MDMA No último ano, foram submetidas como MDMA 103 amostras. Destas, 60 apresentavam-se sob a forma de pastilha e 43 como pó/cristal. Gráfico 3 - Resultados da análise das amostras submetidas como MDMA. Na maioria das amostras submetidas como MDMA, este foi o único composto detetado. Nas amostras que continham MDMA com outra substância (representando três das amostras de MDMA em cristal e duas das amostras de MDMA em pastilha), em duas o adulterante detectado foi cafeína. Em três amostras foi detetado MDMA misturado um adulterante não identificado, que se pode tratar de um sub-produto de síntese ou precursor. Numa amostra submetida como MDMA em pastilha não foi detectada qualquer substância. Uma das amostras submetidas recentemente como MDMA em cristal não continha MDMA, existindo indicação por análise preliminar de ser uma substância da família das catinonas. O resultado definitivo da identidade desta substância foi confirmado por FTIR em conjunto com GC-MS, através de colaboração com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz, que permitiu identificar a substância em causa como 4-MMC. Além das análises qualitativas, procedeu-se também à quantificação de pastilhas através de espectrofotometria UV-Vis. Ao longo do segundo ano de funcionamento do drop-in da Kosmicare, foram quantificadas 52 pastilhas de MDMA. A dose média foi de 181 mg, com a dose mínima de 90,4 mg e máxima de 283 mg. Considerando uma dose máxima recomendada de 125 mg por pessoa numa mesma sessão/ noite, torna-se evidente também na cidade de Lisboa a tendência detetada a nível mundial Resultados da análise de MDMA, n=105
  • 11. 11 Dose máxima recomendada por sessão/noite Dose média das pastilhas analisadas Gráfico 4. Resultados da quantificação de amostras identificadas como MDMA. 300mg 250mg 200mg 150mg 100mg 50mg 0mg 10 20 30 40 50 60 de circulação de pastilhas com elevadas doses de MDMA. Os riscos associados a doses tão elevadas de MDMA passam por aumento dos efeitos estimulantes, taquicardia, hipertensão arterial e hipertermia, que podem ser fatais. No entanto, as doses individuais de MDMA variam por pessoa e por ocasião de consumo. Factores como peso corporal, sexo (estudos indicam que o MDMA afecta mais intensamente mulheres cisgénero), uso concomitante de outras substâncias, set e setting podem afetar os efeito da substância e potenciais riscos tóxicos. A dose de referência de 125 mg de MDMA é calculada tendo por base um homem branco cisgénero, sem outras condições médicas, com cerca de 70 kg. Uma fórmula utilizada para calcular as doses individuais de MDMA tendo em conta o peso corporal é multiplicar o peso em quilogramas por um factor de 1 a 1.5. dose individual de MDMA (mg) = [1;1.5] x valor numérico do peso corporal (Kg) No caso de uma mulher cisgénero de 50 Kg, sem experiência prévia com MDMA, num ambiente de festa, uma dose individual pode ser de 50 mg. Para esta pessoa, consumir uma pastilha com 183 mg representa mais de três vezes uma dose individual, com um grande aumento dos riscos associados. Quantificação de pastilhas de MDMA N=42
  • 12. 12 COCAÍNA Foram submetidas para análise 27 amostras na forma de pó de cocaína (sob a forma de hidrocloreto) Gráfico 5. Resultados da análise das amostras submetidas como cocaína hidrocloreto. Cocaína Cocaína + adulterantes Sem Cocaína 14 11 2 Em 14 amostras submetidas como cocaína (hidrocloreto), foi detetada apenas cocaína. Em 11 das amostras, foi detectada cocaína com outros adulterantes. Nas amostras que continham cocaína com outros adulterantes, três continham cocaína e cafeína e outras três continham cocaína e fenacetina, um analgésico e antipirético semelhante ao paracetamol, que foi retirado do mercado pela sua toxicidade, tendo sido associada a maior incidência de cancros urológicos. Uma amostra continha cocaína, fenacetina e cafeína. Uma amostra continha cocaína, fenacetina e levamisol, um antiparasitário que deixou de ser utilizadoemhumanospelasuatoxicidadeparao sistema imunitário e circulatório. Uma amostra continha cocaína e creatina, um suplemento alimentar utilizado frequentemente para fortalecimento muscular e de venda livre. Uma amostra continha ainda cocaína, lidocaína (um anestésico local utilizado em dentistas) e creatina. Em duas amostras não foi detetada cocaína, uma delas contendo anfetamina, cafeína e paracetamol. Na outra amostra em que não foi detetada cocaína foi detetado um composto que após análise por GC-MS foi possível identificar como possível produto de degradação do metamizol, um composto analgésico e antipirético. Cocaína (hidrocloreto) n=27 Adulterantes presentes nas amostras n=11 Cafeína Fenacetina Lidocaína Levamisol Creatina Metamizol 4 5 1 2 1 1 Gráfico 6. Adulterantes presentes nas amostras submetidas como cocaína, que revelaram conter cocaína e um ou mais adulterantes
  • 13. 13 Gráfico 7. Resultados da análise das amostras submetidas como LSD LSD Desconhecido LSD + Desconhecido 25x-NBOMe Nenhuma substância encontrada LSD Das 25 amostras submetidas como LSD, esta substância foi a única detetada em 20 das amostras. Numa das amostras foi detetado LSD e outra substância não identificada, provavelmente um produto de degradação do próprio LSD. Em duas amostras a substância não foi identificada, não se tratando de LSD nem dos seus adulterantes mais comuns. Devido à quantidade de amostra ser insuficiente não foi possível fazer mais testes. Foi também analisada uma amostra vendida como LSD onde não foi detetada qualquer substância. Foi ainda analisada uma amostra submetida com LSD contendo um composto do género 25(x)-NBOMe. Os 25(x)-NBOMe são compostos derivados das feniletilaminas (assim como a mescalina, o MDMA ou a anfetamina), existindo variantes consoante pequenas variações na sua estrutura (x=Bromo, 25B-NBOMe; x= Iodo, 25I-NBOMe; x=Cloro, 25C-NBOMe. Estes compostos começaram a aparecer em circulação no início dos anos 2000, tendo como base da sua estrutura química os 2C-(x), cuja síntese, doses e duração dos efeitos foram extensivamente descritos por Ann e Alexander Shulgin no livro PIHKAL (Shulgin & Shulgin, 1991). Por serem ativos em doses tão baixas como 1 mg, estas substâncias podem ser distribuídas em blotters (papel mata-borrão) ou gotas. Os efeitos que provocam são psicadélicos, mas com maior estimulação física que o LSD. Em doses altas, são frequentes episódios de grande agitação psicomotora e experiências intensas, difíceis de gerir psicologicamente, principalmente em situações de consumo não intencional. Ao contrário do LSD, é potencialmente fatal em doses pouco acima das doses recreativas comuns, tendo sido registadas mundialmente várias overdoses associadas a 25(x)-NBOMes. 20 2 1 1 1 LSD n=25
  • 14. 14 KETAMINA Das 19 amostras submetidas como ketamina, em 18 foi apenas detectada a presença de ketamina. Numa das amostras foi detetada ketamina com outra substância possivelmente de uma impureza derivada da síntese de ketamina. ANFETAMINA Das nove amostras submetidas como anfetamina, em cinco foi detetada anfetamina e cafeína. Este é um padrão de adulteração bastante comum em amostras desta substância. Em duas das amostras apenas foi detetada anfetamina. Duas das amostras não continham de todo anfetamina. Numa delas foi detectada cafeína e na outra não foi detetada nenhuma substância. Das 25 amostras submetidas como ketamina, em 19 foi apenas detectada a presença de ketamina. Em cinco amostras foi detetada ketamina com outra substância, identificada como impureza A da Ketamina, possivelmente de uma impureza derivada da sua síntese. Uma das amostras não continha ketamina, tendo sido detetada apenas anfetamina. Ketamina Anfetamina + Cafeina Ketamina + Outro Anfetamina Cafeina Nenhuma substância encontrada Gráfico 8. Resultados da análise das amostras submetidas como LSD. Gráfico 9. Resultados da análise de amostras submetidas como anfetamina (n=9). 2 5 1 1 1 18 Ketamina n=19 Anfetamina n=9
  • 15. 15 2C-B Foram analisadas sete amostras submetidas como 2C-B. Destas, seis eram pastilhas. Em todas foi apenas detetado 2C-B. As doses das cinco pastilhas quantificadas por espectrofotometria UV-Vis encontravam-se entre 12.5 mg e 15.3 mg. Uma das amostras submetidas como 2C-B era um pó cor-de-rosa ques na realidade continha ketamina e MDMA. Nos últimos anos, a venda de um pó cor-de-rosa sob o nome 2C-B, “tucibi” ou “pink cocaine” tem sido detectada noutros países. Geralmente contém uma mistura variável de substâncias, que não 2C-B. Os riscos criados pela mistura de várias substâncias são aumentados pela potencial interação entre elas, principalmente quando os seus efeitos e duração são diferentes dos expectados pelas utilizadoras. SUBSTÂNCIAS DA FAMíLIA DAS CATINONAS As substâncias da família das catinonas sintéticas surgiram inicialmente como alternativas não legalmente controladas a estimulantes e empatogéneos “clássicos”, como a cocaína, a anfetamina e o MDMA. Por sucessivas alterações da sua estrutura química, foram surgindo ao longo dos anos diversas novas catinonas sintéticas, contornando assim as leis que regulavam o seu acesso e utilização. No entanto, o 4-MMC (4-metilmetcatinona ou mefedrona), assim como outras catinonas, ganhou popularidade e mercado próprio, sendo procurado intencionalmente pelo seu perfil de efeitos. Atualmente em Portugal tanto o 4-MMC como o 4-CMC (4-clorometcatinona) encontram-se incluídos na Tabela ii-A anexa ao Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro (juntamente com substâncias como o MDMA e LSD) proibindo a sua utilização, que inclui também os seus isómeros, pelo que o 3-MMC (3-metilmetcatinona ou metafedrona) e o 3-CMC (3-clorometcatinona) ficam possivelmente incluídos. No entanto, devido a legislações diferentes noutros países, é possível que o efeito da proibição do 4-MMC antes da proibição do 3-MMC (tenha resultado na utilização do 3-MMC em substituição de 4-MMC. De notar que de acordo com o relatório preliminar de avaliação de risco do 3-MMC, elaborado pelo OEDT (2021) durante o ano de 2020 ocorreu um aumento significativo nas apreensões de catinonas sintéticas na Europa, que estava em declínio desde 2016, tendo atingido o nível mais baixo durante 2019. Destas apreensões, cerca de um quarto era 3-MMC e outro 3-CMC.
  • 16. 16 Foram analisadas onze amostras submetidas como diversas catinonas sintéticas. Destas, cinco foram submetidas como 3-MMC. O 3-MMC é um isómero posicional do 4-MMC. Isómeros são moléculas com a mesma composição química, mas com pequenas alterações na forma como os seus átomos estão organizados. Devido à grande semelhança entre as suas características químicas, na CCF não é possível distingui-los. No entanto, é possível distingui- los utilizando o FTIR e também por GC-MS. Em duas das amostras submetidas como 3-MMC, foi detetada uma outra catinona sintética, 3-CMC. Nas restantes três amostras submetidas como 3-MMC apenas foi detetado 3-MMC. Duas amostras foram submetidas como 4-MMC (mefedrona). Uma delas continha na realidade 3-MMC e a outra 3-MMC e cafeína. Foram submetidas ainda 3 amostras submetidas como catinonas sintéticas, ou seja, sabia-se que era uma catinona mas não especificamente qual. Uma delas continha 3-FPM (3-fluorofenmetrazina), cafeína e benzocaína; outra 3-MMC e cafeína e outra n-etil-hexedrona e cafeína. A 3-FPM não é uma catinona, sendo quimicamente semelhante a fenmetrazina (um medicamento introduzido nos anos 1950 como supressor do apetite; sendo posteriormente retirado do mercado). A n-etil-hexedrona é uma catinona sintética, e tal como o 3-FPM tem um efeito estimulante no sistema nervoso central. As doses recreativas de 3-FPM e de n-etil-hexedrona são mais baixas que as de 3-MMC e 4-MMC, podendo representar um risco adicional o seu consumo se forem equiparadas a estas. Tal como com a 3-MMC e 4-MMC, os riscos adicionais específicos a estas substâncias são desconhecidos. Houve ainda uma amostra submetida como MDxx, sendo que não era conhecido o composto exato, que acabou por revelar-se MDPHP (3’,4’-Methylenedioxy-α-pyrrolidinohexiophenone), também uma catinona sintética. Sem a substância esperada Só a substância esperada Substância esperada + outros Gráfico 10. Resultado da análise das amostras submetidas como catinonas. 5 3 3 Catinonas n=11
  • 17. 17 Gráfico 11. Composição detectada nas amostras submetidas como crack (cocaína base) Cocaína + fenacetina Cocaína + fenacetina + desconhecido Amostras de material de consumo injetável recolhido por outras equipas de redução de riscos no âmbito da intervenção em contextos mais vulneráveis No âmbito da expansão do serviço de drug checking a pessoas que consomem drogas em contextos de maior vulnerabilidade foram analisadas 19 amostras, submetidas como cocaína ou heroína. Nenhuma das 16 amostras submetidas como crack (cocaína base) continha apenas cocaína. Em todas as amostras foi detetada fenacetina, e em seis amostras ainda outro composto desconhecido. O crack consiste em cocaína base, e pode ser obtido através da mistura de hidrocloreto de cocaína com bicarbonato de sódio. O bicarbonato de sódio não é detetado pelas técnicas que são utilizadas neste contexto, pelo que os resultados apresentados apenas contemplam a substância detetada e adulterantes. Nas 16 amostras submetidas como crack, todas continham fenacetina, sendo que em 10 destas apenas foram detetadas cocaína e fenacetina e em 6 foram detetados cocaína, fenacetina e ainda compostos desconhecidos. 10 6 Crack n=16 Adulterantes Crack n=16 Desconhecido Fenacetina 16 6 Gráfico 12. Adulterantes presentes nas amostras submetidas como crack (cocaína base)
  • 18. 18 Gráfico 13. Composição detectada nas amostras submetidas como heroína Heroína + cafeína + paracetamol Heroína + cafeína + paracetamol + griseofulvina 2 1 Heroína n=3 Adulterantes Heroína n=3 Paracetamol Griseofulvina Cafeína 2 2 1 Gráfico 14. Adulterantes presentes nas amostras submetidas como heroína Nas três amostras submetidas como heroína, nenhuma continha apenas heroína. Em duas foram detetados heroína, cafeína e paracetamol e numa amostra foram detetados heroína, cafeína, paracetamol e griseofulvina, um medicamento antifúngico. Estes resultados foram confirmados por GC-MS no Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz. Apesar de se tratar de um número pequeno de amostras, o diferente padrão de adulteração é notório, reforçando a necessidade de alargar o serviço a novas populações e a diferentes contextos. OUTRAS AMOSTRAS Foi analisada uma amostra submetida como DMT (em pó/cristal), onde apenas foi detetado DMT. Uma amostra foi submetida como 5-MeO-DMT (em cristal), tendo apenas sido detetado 5-MeO-DMT. Numa amostra submetida como n-etil-ketamina foi apenas detetada ketamina. Numa amostra submetida como heroína através da colaboração com o Instituto Universitário Egas Moniz, foi possível identificar estes compostos como cafeína, paracetamol e outros compostos e alcalóides característicos de extractos de Papaverum somniferum.
  • 19. 19 REFERÊNCIAS • Brunt, T. M. (2017). Drug checking as a harm reduction tool for recreational drug users: opportunities and challenges. Retrieved from EMCDDA, Lisbon: https://www.emcdda.europa.eu/document-library/drug- checking-pill-testing-harm-reduction-tool-recreational-drug-users-opportunities-and-challenges_en • Martins, D., Barratt, M. J., Pires, C. V., Carvalho, H., Vilamala, M. V., Espinosa, I. F., & Valente, H. (2017). The detection and prevention of unintentional consumption of DOx and 25x-NBOMe at Portugal’s Boom Festival. Human Psychopharmacology: Clinical and Experimental, 32(3), e2608-n/a. doi:10.1002/hup.2608 • Shulgin, A., & Shulgin, A. (1991). PIHKAL: a chemical love story: Transform Pr. • Valente, H., Martins, D., Carvalho, H., Pires, C. V., Carvalho, M. C., Pinto, M., & Barratt, M. J. (2019). Evaluation of a drug checking service at a large scale electronic music festival in Portugal. Int J Drug Policy, 73, 88-95. doi:10.1016/j.drugpo.2019.07.007 • European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (2021). EMCDDA initial report on the new psychoactive substance 2-(methylamino)-1-(3-methylphenyl)propan-1-one (3-methylmethcathinone, 3-MMC).
  • 20. 20 MATERIAIS E MÉTODOS Reagentes colorimétricos O reagente marquis (10 mL formaldeído em 90 mL H2SO4) foi principalmente usado para detetar feniletilaminas. O reagente mecke (1 g ácido selenioso em 100 mL H2SO4) foi usado como confirmação de algumas substâncias.O reagente p-DMAB (65 mL H2SO4, 35 mL H2O, 125 mg p-dimetilaminobenzaldeído, 450 µL de FeCl3-TS [9g FeCl3-TS em 100 mL H2O]) foi principalmente usado para detetar triptaminas.O reagente mandelin (1% de metavanadato de amónio [NH4VO3] em 100 mL H2SO4) foi principalmente usado para detecção de ketamina. O reagent Scott A (2% tiocianato de cobalto em H2O) e o Reagente Scott B (0,02% cloreto de estanho (II) em H2O) foi principalmente utilizado para a deteção de cocaína. Cromatografia em Camada Fina As amostras foram dissolvidas em metanol, perfazendo uma concentração aproximada de 5 mg/mL. As soluções são aplicadas numa placa de sílica gel com fluorescência a 254 nm. As placas são corridas em cubas com diferentes eluentes (acetona e metanol para amostras de cocaína ou ketamina e metanol:amónia (58,5:1,5) para triptaminas, feniletilaminas e opióides). Quantificação UV-Vis Foi utilizado o espetofotómetro UV/visible Jenway-7205. Os espetros foram obtidos no intervalo 200-400 nm. Resumidamente, as amostras são diluídas em 10 mL de metanol e sonicadas por 15 minutos. Uma segunda diluição em metanol é então feita, 1:10 para MDMA e 1:20 para 2C-B. As amostras de LSD são lidas diretamente a partir da diluição inicial. Para MDMA e 2C-B em pastilha, a quantificação é dada em mg totais na pastilha. Para MDMA e 2C-B em pó/cristal a quantificação é dada em percentagem. A quantificação foi feita a partir de um método desenvolvido pelo Energy Control (Espanha). FTIR O equipamento FTIR instrument IRAffinity (Shimadzu, Japan), equipado com IResolution Software (Shimadzu, version 1.6; parâmetros: Measurement mode: % transmittance; Apodization: Happ-Genzel; No of scans: 25; Resolution: 16.0; Range (cm-1): Min 700, Max 2000), No of scans: 25; Resolution: 16.0; Range (cm-1): Min 700, Max 2000). As amostras foram identificadas usando as bibliotecas da Shimadzu, SWGDrugs, uma biblioteca interna obtida de amostras prévias confirmadas por GC-MS e uma amostra interna cedida pelo The Loop (Reino Unido). GC-MS A análise por GC-MS foi feita no Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz. O equipamento GC Agilent Technologies 6890N acoplado a espetrometro de massa Agilent 5973N foi usado com o software Enhanced Chemstation G1701DA, versãoE.02.00.493. As amostras foram solubilizadas em metanol (~5 mg/mL), injetadas automaticamente em modo split 50:1 com volume de injeção 2 µL e corridas alternadamente com amostras em branco de metanol. Uma coluna de baixa polaridade foi usada (5%-phenyl; 95% methylpolysiloxane, 250 µm, 0,25µm, 30 m). A análise cromatográfica foi feita nas seguintes condições: Modo constant flow 0,7 mL/min Hélio com injetor a 280ºC. Tempo inicial de 2min@90ºC; rampa de 20ºC/min até 315ºC; 5min@315ºC, MSD transfer line 280ºC. As condições de MS foram as seguintes: energia de ionização 70eV; aquisição feita em modo scan de 40-450 m/z. Os espetros obtidos foram comparados utilizando padrões analíticos, e as bibliotecas da NIST, Cayman (C. Cayman Spectral Library, vol. v08302018), SWDrug e uma biblioteca interna.
  • 21. 21 AGRADECIMENTOS Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz: Alexandre Quintas, Mário Dias, Carla Ferreira, Ricardo Santiago SICAD Câmara de Lisboa GAT Médicos do Mundo Crescer The Loop: Guy Jones Energy Control Steve Chapman