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A besta de Apocalipse 17: uma
sugestão
Ekkehardt mueller, D. Min. e Ph.D.
Diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Ma-
ryland, EUA



   Resumo: A ênfase deste artigo se con-           Livro da Vida desde a fundação do mundo,
centra num estudo teológico e estrutural           se admirarão, vendo a besta que era e não
do Apocalipse 17, uma seção da literatura          é, mas aparecerá.” Informações adicionais
bíblica considerada um crux teológico.             sobre a besta são fornecidas no restante de
Precisamente por seu caráter e linguagem           Apocalipse 17.
enigmáticos, a besta aqui descrita tem
sugerido uma enorme variedade de alter-            Os pontos em debate
nativas interpretativas. O autor apresenta            Antes de estudarmos mais deta-lhada-
a sugestão que ele considera uma “opção            mente Apocalipse 17, algumas perguntas
viável”, uma vez que ela “segue os prin-           básicas precisam ser respondidas: (1) É a
cípios de interpretação encontrados nas            besta que subiu do mar de Apocalipse 13
próprias Escrituras”.                              idêntica à besta de Apocalipse 17 ou a besta
                                                   de Apocalipse 17 representa um poder dife-
    Abstract: This article deals with the          rente? (2) Qual é a disposição de tempo da
theology and structure of Revelation 17, a         visão? Descreve João os eventos partindo
section of the biblical literature considered      de uma perspectiva do primeiro século d.C.,
a theological crux. Precisely as a result of       ou o ponto de referência a ser encontrado é
its enigmatic character and language, the          posterior e João é colocado ali em espírito?
beast described here has generated an enor-        (3) É a descrição da besta de Apocalipse
mous variety of interpretation. The author         17:8 – “era e não é, e há de emergir do abis-
presents his interpretative suggestion, whi-       mo, e caminha para a destruição” – paralela
ch he considers an “viable option”, since          à descrição dos chifres do verso 10, que diz
                                                   “caíram cinco, um existe, e o outro ainda
it “follows principles of interpretation that
                                                   não chegou”, ou estes diferentes estágios
are found in Scriptures”.                          da besta não coincidem diretamente com
                                                   a subdivisão das cabeças?2 (4) Como as
Introdução                                         cabeças devem ser interpretadas? Volver-
    Apocalipse 17 é um dos capítulos mais          nos-emos brevemente para estas perguntas
difíceis do Novo Testamento e tem rece-            e proporemos algumas respostas.
bido muitas interpretações diferentes.1 O             A besta de Apocalipse 17, bem como
presente artigo considera a besta sobre a          as cabeças, têm sido compreendidas dife-
qual está montada a prostituta babilônica.         rentemente por eruditos bíblicos dentro da
Apocalipse 17:7-8: “O anjo, porém, me              Igreja Adventista. O The Seventh-day Ad-
disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o           ventist Bible Commentary enumera várias
mistério da mulher e da besta que tem as           opiniões, mas não é dogmático acerca de
sete cabeças e os dez chifres e que leva a         nenhuma delas: (1) Alguns adventistas
mulher: a besta que viste, era e não é, está       sustentam que a fase “era” da besta re-
para emergir do abismo e caminha para a            presenta Roma pagã, a fase “não é”, o
destruição. E aqueles que habitam sobre a          ínterim entre Roma pagã e Roma papal,
terra, cujos nomes não foram escritos no
32 / Parousia - 1º semestre de 2005

e a fase “aparecerá”, Roma papal.3 (2)         também importantes diferenças. Os ele-
“Outros equiparam o período ‘era’ com          mentos em comum são: ambas têm sete
aquele representado pela besta e suas sete     cabeças e dez chifres (Ap 13:1; 17:7). A
cabeças; o período ‘não é’ com o intervalo     besta que subiu do mar tem “uma boca que
entre o ferimento da sétima cabeça e o         profere... blasfêmias” (Ap 13:5), enquanto
reavivamento da besta como ‘o oitavo’;         que a outra besta está “repleta de nomes de
e o período ‘ainda é’ com o reavivamento       blasfêmia” (Ap 17:3). Ambas são poderes
da besta quando ela se tornar ‘o oitavo.’”.4   que se opõem a Deus, a Jesus e aos santos
Neste caso o período “era” provavelmente       (Ap 13:6-8; 17:14). As diferenças também
representaria Roma papal e a fase “apare-      são notáveis: a besta que subiu do mar tem
cerá” simboliza a sua restauração após a       diademas sobre seus chifres (Ap 13:1); já
cura da ferida mortal.                         a besta de Apocalipse 17 não tem nenhum
                                               diadema. A cor da besta que subiu do mar
    As cabeças são compreendidas por           não é mencionada, mas a cor da outra besta
alguns como “toda oposição política ao         é escarlate (Ap 17:3). A besta que subiu
povo e à causa de Deus”.5 Uma outra su-        do mar sai do mar (Ap 13:1), mas a besta
gestão é interpretar as cinco cabeças como     sobre a qual Babilônia se assenta sobe do
os animais de Daniel 7 mais o chifre pe-       abismo (Ap 17:8). Isto sugere que estas
queno, isto é, os impérios desde Babilônia     bestas simbolizam entidades diferentes,
ao papado, sendo a sexta cabeça a besta        embora elas partilhem algumas caracterís-
que sobe do abismo (Ap 11), ou seja, a         ticas e persigam objetivos semelhantes. É
Revolução Francesa, e a sétima cabeça, a       necessário ter em mente que há elementos
besta que subiu da terra (Ap 13), a saber,     comuns entre o dragão de Apocalipse 12
os Estados Unidos da América. Ainda ou-        e a besta de Apocalipse 17, como as sete
tra proposta considera as cinco primeiras      cabeças e os dez chifres (Ap 12:3; 17:7),
cabeças como os impérios Egito, Assíria,       uma cor semelhante (Ap 12:3; 17:3) e a
Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia; a sexta       oposição a Jesus e a seu povo (Ap 12:4-
cabeça como Roma pagã; e a sétima como         17; 17:14), e não apenas entre a besta que
Roma papal.6 A diferença entre a segunda       sobe do mar de Apocalipse 13 e a besta de
e a terceira opinião sobre as cabeças é que    Apocalipse 17.
a segunda coloca a sexta cabeça no ano de
1798 d.C., ao passo que no terceiro ponto          A descrição da besta de Apocalipse 17
de vista, a sexta cabeça representa o tem-     como “era e não é, está para emergir” relem-
po em que João vivia, ou seja, o primeiro      bra ao estudante do Apocalipse de Deus o Pai,
século. Essas sugestões compreendem as         que é chamado como “aquele que era, que
sete cabeças como sendo grandes poderes,       é e que há de vir” (Ap 4:8, cf. 1:4, 8) assim
mas outros expositores as tomam como           como em relação a Jesus que vez após outra
governantes individuais.7 Outros autores       prometeu que retornaria (cf. Ap 22:12). Isso
- especialmente adventistas8 - comentam        retrata a besta de Apocalipse 17 como uma
que as cabeças/reis/montanhas (Ap 17:9)        contrafação, paródia e oposição a Deus.11
representam reinos e não reis individuais.9    “A besta aspira ser como Deus...”.12 Ao
Esse é o caso do livro de Daniel. “As qua-     final ela não perdurará, mas será derrotada.
tro bestas de Daniel 7 são mancionadas         Cristo e seus seguidores triunfarão.
como representando quatro reis (Dn 7:17)
quando, mais precisamente, Daniel qier         O abismo
dizer que sejam reinos sobre os quais eles
governam”10.                                      No Apocalipse, o abismo do qual a
                                               besta sobe é mencionado sete vezes: (1) Em
   Outro assunto é a íntima semelhan-          Apocalipse 9:1 a estrela que cai do céu tem
ça entre a besta de Apocalipse 13 e 17.        a chave do abismo. (2) Em Apocalipse 9:2
Conquanto a besta que subiu do mar de          essa estrela abriu o poço do abismo. (3) Em
Apocalipse 13 e a besta de Apocalipse 17       Apocalipse 9:11 o rei dos gafanhotos é o
tenham alguns elementos em comum, há           anjo do abismo chamado Apoliom. (4) Em
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 33

Apocalipse 11:7 a besta que sobe do abismo          Satanás.16 Não há nenhuma razão para se
mata as duas testemunhas. (5) De acordo             ligar o abismo de Apocalipse 11, parte da
com Apocalipse 17:8 a besta sobre a qual            mesma visão das trombetas, com outra
a grande prostituta se assenta “era e não           pessoa.
é, está para emergir do abismo, e caminha
                                                       Todavia, em Apocalipse 20:1-3 ocorre
para a destruição”. (6) Em Apocalipse 20:1
                                                    a grande inversão. O poder de Satanás para
um anjo desce do céu com a chave do abis-
                                                    abrir o abismo lhe é tirado. Esse poder lhe fora
mo. (7) Finalmente, em Apocalipse 20:3
                                                    dado por Deus (Ap 9:1) que está sempre no
esse anjo amarra Satanás no abismo por mil
                                                    controle. Agora o próprio Satanás é amarrado
anos. Depois desse período, Satanás será
                                                    por um anjo e confinado ao abismo por mil
solto. Quatro destas referências pertencem
                                                    anos. Parece que Apocalipse 17:8 aponta
à parte histórica do Apocalipse13, e todas
                                                    para esta mesma situação e que Apocalipse
são encontradas na visão das trombetas (Ap
                                                    20:1-3 esclarece as palavras simbólicas a
8:2-11:18).As quatro primeiras são partes
                                                    respeito da besta de Apocalipse 17. A besta
da visão da trombeta (Ap 8:2-11:18). Por
                                                    que “era e não é, está para emergir do abismo,
outro lado o mar não está ligado ao abismo
                                                    e caminha para a destruição” é Satanás, que
em Apocalipse.14
                                                    em Apocalipse 12 foi apresentado como o
    A estrela cadente mencionada em Apo-            grande dragão vermelho.17
calipse 9:1-2, que é capaz de abrir o poço do
                                                       Evidentemente, todas as referências ao
abismo e produzir calamidade, sofrimento e
                                                    abismo em Apocalipse tem a ver com Sa-
tortura, deve ser identificada como Satanás.
                                                    tanás. O termo é encontrado em dois outros
Em Jó 38:7, os filhos de Deus, seres celes-
                                                    lugares no Novo Testamento. Em Romanos
tiais, são chamados estrelas da manhã. Uma
                                                    10:7, o abismo pode ser o reino dos mortos.
estrela da manhã cadente ocorre em Isaías
                                                    Mas em Lucas 8:31, os demônios pedem a
14:12. Por trás do rei de Babilônia é mencio-
                                                    Jesus para não serem enviados ao abismo.
nado alguém muito superior a ele – Satanás,
                                                    Novamente isso está ligado a instrumentos
a verdadeira estrela da manhã cadente. De
                                                    satânicos. Portanto, sugerimos compreen-
acordo com Lucas 10:18, Jesus viu Satanás
                                                    der a besta sobre a qual Babilônia se assenta
caindo do céu. Em Apocalipse, estrelas,
                                                    como Satanás que opera através de poderes
quando usadas simbolicamente, se referem
                                                    políticos.18
(1) aos anjos das sete igrejas, provavelmente
líderes e ensinadores religiosos (Ap 1:20),
e (2) a seres celestiais, tais como Jesus, a        Contexto e disposição do tempo
resplandecente estrela da manhã (Ap 22:16),         em Apocalipse 17
ou a anjos caídos (12:4, 9). Em Apocalipse
                                                       O livro de Apocalipse pode ser dividido
9:1 ouvimos acerca de uma estrela cadente;
                                                    em duas grandes partes. A primeira parte
segundo Apocalipse 8:10, é uma grande
                                                    (Ap 1-14) consiste de várias séries históricas
estrela cujas ações produzem efeitos negati-
                                                    de eventos que abrangem desde o tempo
vos. Parece melhor compreender essa estrela
                                                    de João até à consumação final. A segunda
como Satanás, que, segundo Apocalipse
                                                    parte (Ap 15-22) lida somente com eventos
12:7-9, foi expulso do Céu.
                                                    do fim do tempos e tem sido chamada de
   Obviamente, o rei dos gafanhotos e anjo          a parte escatológica. Enquanto o dragão e
do abismo de Apocalipse 9:11, também                a besta que subiu do mar são encontrados
chamado Abadom/Apoliom ou destruidor,               na seção histórica do Apocalipse, a besta
é a estrela cadente, Satanás. Seu exército          de Apocalipse 17 pertence à seção do final
demoníaco ataca a humanidade.                       do tempos. Portanto, devem ser esperadas
    Em Apocalipse 11:7, a besta que sobe            diferenças entre estas duas bestas.
do abismo e que por meio da Revolução                   Por outro lado referências recorrentes a
Francesa15 mata temporariamente as duas             certos símbolos encontrados na mesma parte
testemunhas de Deus que representam o               de Apocalipse são especialmente importan-
Antigo e o Novo Testamento, é novamente             tes e esclarecem a sua interpretação.
34 / Parousia - 1º semestre de 2005

    Apocalipse 15 e 16 contêm as sete            Na literatura apocalíptica, tal como
últimas pragas. A sexta praga descreve        Daniel, uma visão é freqüentemente se-
a secagem do rio babilônico Eufrates, a       guida por uma explicação (cf. Dn 7:1-15
vinda dos reis do oriente (a saber, Jesus     e 7:16-28 ou Ap 1:16 e 1:20). Depois de
e Sua hoste celestial) e o Armagedom. A       um discurso angélico inicial no começo
sétima praga descreve o julgamento de         de Apocalipse 17 encontramos duas pe-
Babilônia e o tempo em que ela se divide      quenas visões seguidas por dois discursos
em três partes. De Apocalipse 17 em dian-     mais longos. Em seu discurso inicial, o
te esse juízo é descrito em mais detalhes.    anjo promete a João que o julgamento da
É evidente a conexão das pragas com os        meretriz lhe será revelado. Todavia, as duas
capítulos subseqüentes. Em Apocalipse         breves visões posteriores (Ap 17:3b-5 e
17:1, um dos anjos que tinham as sete         Ap 17:6a) não focalizam o julgamento,
taças apresenta a João o julgamento da        mas apresentam a besta com sete cabeças
meretriz Babilônia, que é descrita nos ca-    e dez chifres. Contudo, os dois discursos
pítulos 17-19, ao passo que o julgamento      angélicos seguintes não apenas explicam os
da besta do abismo que conduz a meretriz      poderes antes mencionados, mas também
segue-se em Apocalipse 20. O outro anjo       fornecem detalhes sobre o julgamento
dos que tinham as sete taças apresenta        mencionado no primeiro discurso angélico.
então a João a noiva do Cordeiro, a Nova      Provêem informação adicional não contida
Jerusalém, de uma maneira mais detalhada      em nenhuma das duas visões. Portanto,
(Ap 21:9-22:6). Apocalipse 17:8-12 deve       estes discursos angélicos não são apenas
ser interpretado neste contexto.              um explicação das visões, mas fornecem
                                              novas idéias.
Esboço de Apocalipse 17                          Existem outras relações entre as visões
   1.	       Narrativa: João é abordado       1 e 2 e os discursos 2 e 3 além da besta,
             por um dos anjos que tinham      suas cabeças e seus chifres. A primeira
             as sete taças (1a)               visão enfatiza a meretriz como “Babilônia,
                                              a Grande”, enquanto que o último discurso
   Discurso do anjo:                          a chama de “a Grande Cidade”. Na segun-
   Discurso 1 (1b-2): Julgamento da me-       da visão os santos são perseguidos e no
            retriz.                           segundo discurso os crentes triunfam com
                                              o Cordeiro.
   2.	       Narrativa: João é levado ao
             deserto (3a)                         As duas visões de Apocalipse 17:3b-
   Visões:                                    6a descrevem a mulher/prostituta e suas
                                              atividades no tempo histórico (cf. 17:4 e
   Visão 1 (3b-5): A prostituta sobre a       14:8), mas não descrevem ainda o clímax
            besta com sete cabeças e dez      escatológico. Por outro lado, nos dis-
            chifres como a mãe das mere-      cursos identificam os diferentes poderes
            trizes, a grande Babilônia.       apresentados no início do capítulo 17 (com
   Visão 2 (6a): A prostituta e os santos.    exceção da besta) e retratam a besta e os
                                              chifres em sua batalha final contra o Cor-
   3.	 Narrativa: João se admira (6b)         deiro, e em sua batalha contra a meretriz,
                                              que é o seu julgamento. Os aliados da
   Discursos do anjo:                         meretriz se voltarão contra ela e a destru-
   Discurso 2 (7-14): A besta, as cabeças,    irão.Assim o julgamento da meretriz não é
            os chifres e sua futura batalha   encontrado nas cenas da visão mas apenas
            contra o Cordeiro e os fiéis.     na apresentação, mencionada no primeiro
                                              discurso e exucutada no último discurso.
   Discurso 3 (15-18): As águas, a batalha
                                              Além disso, o julgamento da besta é indi-
            dos chifres da besta contra a
                                              cado no segundo discurso (17:8 , 11) que
            prostituta, a meretriz como a
                                              nãohavia sido mencionado no primeiro
            grande cidade.
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 35

discurso angélico. As visões referen-se a                        Que viste
eventos anteriores ao julgamento da me-
                                                                 Os chifres são dez reis.
retriz. Após isso os aliados da meretriz se
voltarão contra ela e a destruirão. A besta             2. Terceiro Discurso do Anjo (15-18)
também será destruída. Os três discursos                   a. As águas (15)
tratam de julgamento. No entanto com
relação aos detalhes sobre a besta, está à                       Que viste
parte a descrição da besta que “era”, “não                        As águas são povos, e multi-
é”, e “caminha para a destruição” e que                           dões, e nações, e línguas
não são mencionadas mas reservadas para
o final.                                                   b. Os dez chifres e a besta (16-17)
    Com respeito às atividades do fim do                          Que viste
tempos, há uma ênfase mais forte sobre os                  c. A prostituta (18)
chifres e a besta do que sobre as cabeças. As
cabeças não são diretamente mencionadas                           Que viste
como estando envolvidas na batalha final.                         A prostituta é a grande cida-
Isto pode indicar que as cabeças estão mais                       de.
relacionadas com o fluxo da História e,
talvez, com a própria meretriz, ao passo                 O segundo discurso angélico contém
que os chifres em combinação com a besta             (1) informação a respeito da besta, (2) a
desempenham um papel importante na ba-               identificação das cabeças e informações
talha final contra Jesus e na batalha contra a       adicionais e (3) a identificação dos chifres
meretriz. Parece também evidente quando              e informações adicionais com uma forte
olha-se o uso dos tempos e dos indicadores           ênfase nas atividades futuras. O terceito
em relação a aparência dos chifres. Vários           discurso angélico contém (1) a identifica-
verbos empregando o tempo futuro descre-             ção das águas, (2) a informação sobre as
vem as atividades dos chifres, que irão obter        atividades futuras dos chifres e da besta e
poder apenas no futuro, em colaboração               (3) a identificação da meretriz.
com a besta “por uma hora”. Esses chifres                A meretriz, as águas, as cabeças e os
atingirão o poder no futuro e colaborarão            chifres são identificados. Em cada caso
com a besta “por uma hora”.                          é usada a frase “as (a)... são/é...” A única
   Duas observações adicionais estão em              entidade que não é diretamente identificada
ordem. Todavia, antes de nos volvermos a             é a besta (Ap 17:8-9a). Há uma outra seção
elas, é apresentado o seguinte esboço que            no terceiro discurso angélico que lida com
focaliza os discursos 2 e 3 de uma maneira           a besta e os chifres, em que está faltando
mais detalhada.                                      uma identificação (17:16-17). Mas os
                                                     chifres já foram explicados previamente.
                                                     Portanto, é outra vez a besta que não está
O segundo e o terceiro discursos                     explicada, embora ouçamos sobre suas
angélicos                                            atividades. Esse fato pode ser importante
                                                     para a interpretação da passagem. Enquanto
   1. Segundo discurso do anjo (7-14):               o julgamento da meretriz é descrito com
       Introdução (7)                                numerosos detalhes em Apocalipse 17-19,
                                                     o julgamento da besta é encontrado em
       a. A besta (8-9a)
                                                     Apocalipse 20.
            Que viste
                                                        Enquanto a besta é assinalada como o
      b. As cabeças (9b-11)                          símbolo que não é explicado, as cabeças
              As cabeças são sete montes e           são indicadas de outra maneira. O segundo
              sete reis.                             discurso lida com a besta, as cabeças e os
                                                     chifres; o terceiro com as águas, os chifres,
      c. Os chifres (12-14)                          a besta e a mulher/prostituta. Nestas seis
36 / Parousia - 1º semestre de 2005

seções, cinco vezes é aplicada a frase “que      relacionar-se com a época de João e, por-
viste”. Ela é encontrada em todas as enti-       tanto, com a época passada mais do que
dades, exceto as cabeças. Isto pode ou não       com um evento futuro. Tal conclusão tem
ser uma coincidência. Em qualquer caso,          fundamento? Cremos que não.19 (1) Embo-
quando tentamos identificar os poderes de        ra ambas as frases usem o tempo presente,
Apocalipse 17 em termos específicos, são         é difícil conceber que, ao mesmo tempo, a
as cabeças que formam o ponto de partida.        besta “não é” e uma de suas cabeças “é”.
Falta a fórmula “que viste” e são dessa for-     (2) A besta não está identificada. Declara-
ma diferentes de todas as outras entidades.      ções relacionadas com a besta a retratam
Assim encontraste com a besta, elas são c        da perspectiva do fim do tempo e apontam
aracterizadas por dois simbolos adicionais       para o seu futuro julgamento. Portanto,
(montanhas e reis). Dessa forma, o esboço        a frase “não é” não liga necessariamente
de Apocalipse 17 pode nos mostrar o papel        esse período ao tempo de João. (3) A fase
crucial que as cabeças desempenham ao            “não é” pode ser compreendida como um
se interpretar os símbolos desse capítulo.       desenvolvimento futuro, porque o tempo
Cinco das cabeças já caíram, uma existe.         presente com freqüência representa o futuro
A frase “um existe” de uma maneira ou de         (veja, por exemplo, Apocalipse 17:11-13;
outra deve relacionar-se com João. Há um         16:15). Além disso, a frase “e caminha
tempo específico em que João se encontra         para a destruição” na mesma sentença é
e em que uma das sete cabeças também             também usada no tempo presente, embora
“existe”. Então a questão é se esse tempo        se relacione ao fim da besta. Até mesmo a
é o primeiro século d.C., quando João vivia      frase “está para emergir do abismo” em-
ou se ele se refere ao tempo dos eventos que     prega o tempo presente mesmo tendo sido
lhe foram mostrados em visão.                    traduzida para o português como o tempo
    Como encontramos a frase “um existe”         futuro.20 Que a besta não é identificada
relacionada às cabeças, assim encontramos a      e que as cabeças são assinaladas podem
expressão “e não é” relacionada com a bes-       apontar para o fato de que a besta deve
ta. A besta era, não é, subirá do abismo e irá   ser compreendida principalmente de uma
à perdição. A besta é descrita similarmente      perspectiva futura, ao passo que as cabeças
três vezes em Apocalipse 17:8 e 11:              contêm o segredo para desvendar Apoca-
                                                 lipse 17. (4) A segunda parte de Apocalipse
   1. Era	       E NÃO É                         17:8 parece ligar as fases “não é/aparecerá”
              e está para emergir do abis-       da besta aos habitantes da Terra. Contudo,
              mo                                 este é um desenvolvimento apenas futuro,
                                                 muito provavelmente relacionado com as
              E CAMINHA PARA A DES-              últimas horas deste mundo.21 (5) Como
              TRUIÇÃO                            o Livro de Apocalipse interpreta a futura
   2. Era    E NÃO É                             ascensão da besta do abismo? Resposta:
                                                 ele a descreve em Apocalipse 20 como a
             mas aparecerá                       libertação de Satanás da prisão do abismo.
   3. Era     E NÃO É,                           Em outras palavras, a fase que lida com a
                                                 besta subindo do abismo e sua subseqüente
             e é o oitavo                        destruição retratam eventos posteriores
             e procede dos sete,                 ao milênio. Então a fase “não é” deve ser
                                                 compreendida como o tempo durante o mi-
         	    E C A M I N H A PA R A A           lênio. A primeira fase, descrevendo a besta
              DESTRUIÇÃO                         como “era”, refere-se ao tempo histórico e
   Como “um existe” (a sexta cabeça)             termina com o início do milênio. É o tem-
se relaciona com o tempo de João, quer           po que aponta para a atividade de Satanás
seja no primeiro século, quer seja em um         durante a história humana até a Segunda
tempo posterior na visão, a frase “não é”        Vinda de Cristo. As cabeças basicamente
(usada em relação à besta) poderia também        seriam derrubadas nesse tempo, ao passo
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 37

que os chifres parecem entrar em cena              lipse 17:10, “e são também sete reis, dos
apenas bem no final do tempo. Contudo, o           quais caíram cinco, um existe, e o outro
enfoque especial de João é sobre o julga-          ainda não chegou; e, quando chegar, tem
mento e, assim, sobre eventos que ocorrem          de durar pouco” parece sugerir que no
em combinação com a Segunda Vinda de               tempo em que João escreveu o livro do
Cristo e depois dela.                              Apocalipse, cinco reinos tinham caído e
                                                   o sexto estava reinando.23 As duas visões
A Besta (Ap 17)                                    de Apocalipse 17:3-6 não lidam com essa
                                                   situação, nem nos dizem que João foi
   1. Era.	                                        transportado a um outro tempo durante a
   2. E não é.                                     apresentação dos eventos de Apocalipse
                                                   17:7-18. Obviamente, João viveu durante o
   3. Está para emergir do abismo.                 período da sexta cabeça. Além disso, o livro
   4. E caminha para a destruição.                 do Apocalipse foi primariamente dirigido
                                                   a cristãos que viviam no primeiro século.
                                                   Provavelmente, eles teriam compreendido
Satanás (Ap 20)                                    o verso 10 de tal maneira que a sexta cabeça
   1. Ele existiu e atuou (Ap 12).                 se referisse ao tempo em que eles estavam
                                                   vivendo. Se admitirmos que a sexta cabeça
   2. Ele foi aprisionado no abismo; não po-       não estava reinando quando o Apocalipse
dia mais enganar a ninguém (Ap 20:1-3).            foi escrito e que João foi levado para ou-
   3. Após o milênio, ele é solto, reúne os        tro tempo – mesmo que Apocalipse 17:10
oponentes de Deus ressurretos e ataca a            seja parte de uma apresentação e não de
Cidade Santa (Ap 20:7-9).                          uma visão – então não seremos capazes de
                                                   chegar a qualquer interpretação definitiva
   4. Após o milênio, será lançado no lago
                                                   de Apocalipse 17, porque não há nenhuma
de fogo e perecerá (Ap 20:9-10)
                                                   maneira de determinar em que tempo João
    As sete cabeças são divididas em três          foi transportado, quer seja nos primeiros
segmentos, sendo adicionada uma oitava             séculos d.C., nos tempos medievais, dire-
cabeça: (a) cinco já caíram, (b) um existe,        tamente depois de 1798, ou em um tempo
(c) outro ainda não chegou, e (d) o oitavo         posterior a esses. Mas, então, tal profecia
é a besta. Embora seja tentador associar           contendo declarações cronológicas não
as fases da besta com a divisão das cabe-          faria sentido. Jon Paulien declarou um
ças, o texto não exige tal procedimento.           princípio importante para a interpretação
Se as fases da besta e a subdivisão das            da literatura apocalíptica:
sete cabeças são compreendidas como                      Em uma visão, o profeta pode viajar da Terra
paralelas, então a fase “não é” da besta             ao Céu e vaguear de um lado para outro do passado
corresponderia ao período “um existe”                para o fim do tempo. A visão não está necessa-
das cabeças. Caso seguíssemos a suges-               riamente localizada no tempo e lugar do profeta.
tão acima concernente à besta do abismo,             Mas quando a visão é posteriormente explicada ao
tal abordagem seria impossível, uma vez              profeta, a explicação sempre vem no tempo, lugar
que se o paralelismo fosse requerido, um             e circunstâncias do que tem a visão.24
rei/reino precisaria sobreviver durante o
milênio, a fase durante a qual a besta “não           Segundo este princípio, a explicação das
é”. Mas isto é excluído por Apocalipse 19          cabeças é decisiva. Localiza a sexta cabeça
e 20. Além disso, como poderia a besta             no primeiro século d.C. Escreve Kenneth A.
estar na condição “não é”, enquanto uma            Strand sobre a besta e as cabeças:
de suas cabeças “existe”? Portanto, parece               Procurar um cumprimento na História, por
melhor não tomar as fases da besta e os              exemplo, para a fase ‘não é’ da besta do ca-
segmentos das cabeças como descrições                pítulo 17, quando esta fase é obviamente uma
paralelas.22                                         visão do Julgamento, é ilógico. Ou tratar todo o
                                                     capítulo 17 inteiro como tendo um cumprimento
   Uma compreensão natural de Apoca-                 histórico, ao invés de escatológico, é deixar de
38 / Parousia - 1º semestre de 2005

  compreender o próprio desígnio do capítulo e de       seguem o mesmo padrão das pragas egíp-
  toda a segunda parte do Livro do Apocalipse, no       cias. Portanto, ele fala acerca do “tema do
  qual ele ocorre. Isto não é afirmar, porém, que       êxodo do Egito” em Apocalipse.28 O Egito
  não há absolutamente nenhum reflexo histórico         como um império mundial foi seguido
  no capítulo 17. A explicação das sete cabeças e
                                                        pelos assírios. Depois deles, seguem-se
  dez chifres, por exemplo, deve ser do ponto de
  vista de João e do tempo em que ele escreveu.
                                                        os reinos conhecidos de Daniel 2, 7 e 8.
  Afinal, como pode uma explicação ser dada a não       A sexta cabeça seria o Império Romano
  ser em termos do que existe, mesmo que a própria      e a sétima, o papado. A oitava “procede
  visão seja a partir da perspectiva do julgamento      dos sete”, mas não é “um dos sete”, o que
  ecatológico, quando a besta “não é”? Em outras        indicaria que a besta é relacionada a todas
  palavras, conquanto João veja a visão da fase “não    as sete cabeças, mas não deve necessaria-
  é” (julgamento), as cabeças e chifres são entidades   mente ser identificada como sendo uma
  históricas pertencentes à fase “era”.25               delas. Isso é sustentado pelo fato de as sete
                                                        cabeças serem introduzidas com um artigo
                                                        definido (“as sete”, “as dez”, “o outro”),
Interpretação Sugerida                                  enquanto que para a oitava cabeça falta o
                                                        artigo distinguindo-a das outras. A idéia
A Besta                                                 parece ser de que a oitava cabeça resume
                                                        todas as sete e é o seu clímax, mas não é
    Já havíamos sugerido que a fase “era”               como as outras.29 “Essa besta não é um dos
da besta se refere ao tempo histórico.26 Du-            sete reis/reinos (verso 10), mas personifica
rante esse tempo Satanás estava e está em               a totalidade da maldade delas...”30
atividade por meio de diferentes agentes.
O tempo termina com a Segunda Vinda de                  A sexta cabeça e a brevidade
Jesus Cristo, e, em conexão com ela, Sata-
                                                        do tempo
nás é aprisionado no abismo, entrando na
fase “não é”. Depois do milênio, Satanás é                  É dito da sétima cabeça que deve durar
solto do abismo, e se torna ativo conforme              “pouco”. Alguns têm sugerido que isto
descrito em Apocalipse 20. Como tal, ele                não pode ser aplicado ao papado, porque
é o oitavo e procede dos sete, mas será                 o papado já existe por mais tempo do que
julgado e destruído por Deus.                           vários dos outros reinos combinados.
                                                        A palavra oligos, “pouco”, “pequeno”,
As Cabeças                                              “raro”, “curto”, é encontrada quatro vezes
                                                        em Apocalipse. Nas mensagens às sete
    No tempo de João, cinco cabeças
                                                        igrejas, ela descreve a quantidade de coisas
tinham caído e uma existia. A cabeça
                                                        (Ap 2:14) e pessoas (Ap 3:4), enquanto que
existente era o Império Romano. Os cin-
                                                        em Apocalipse 12:12 e 17:10 ela se refere
co reinos precedentes começaram com o
                                                        ao tempo. Apocalipse 12:12 é interessante
Egito e continuaram com a Assíria, Ba-
                                                        porque o texto declara que depois da bata-
bilônia, Medo-Pérsia e Grécia.27 Embora
                                                        lha entre Miguel e Satanás, com a derrota
isto possa ser deduzido logicamente, uma
                                                        deste, “o diabo desceu a vós, cheio de gran-
vez que o reino existente no tempo de João
                                                        de cólera, sabendo que pouco tempo lhe
é identificado, há informação adicional en-
                                                        resta”. Esse “pouco tempo” iniciado com
contrada em Apocalipse que aponta para o
                                                        a cruz de Cristo, e que ainda permanece, já
Egito como o primeiro império. O Egito é
                                                        dura cerca de dois milênios.31
mencionado nominalmente em Apocalipse
11:8. Conquanto esse Egito seja um Egito                      A extensão de tempo expressa por oligos é
simbólico, porque é dito que ali o Senhor                 dependente daquilo com que o termo é comparado.
foi crucificado, ele ainda nos faz lembrar                Em Apocalipse 12:12 oligos define o período de
                                                          tempo desde a expulsão de Satanás por ocasião
do antigo império dos faraós. É o mais an-
                                                          da crucifixão de Cristo até o final da tirania de
tigo império mencionado em Apocalipse.                    Satanás sobre os habitantes da Terra. Este período
Além disso, Strand mostra que as primeiras                de tempo é descrito como oligos em comparação
cinco trombetas e as primeiras cinco pragas
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 39

  com os mais de 4.000 anos que precederam a        Apocalipse 17 é melhor compreendida
  crucifixão.32                                     como sendo Satanás operando por meio
                                                    de poderes políticos. Ele está ativo ao
    Dessa forma, o “pouco [tempo]” da               longo da história humana, mas a ênfa-
sétima cabeça não exclui o papado de ser            se de Apocalipse 17 é sobre o período
o cumprimento da sétima cabeça.                     final da história humana. (3) As fases
                                                    da besta e a subdivisão das cabeças não
Os Dez Chifres                                      são diretamente paralelas. Enquanto que
   Os dez chifres são poderes políticos             as fases da besta representam o tempo
durante o tempo da sétima cabeça, que               histórico, o tempo durante o milênio
apoiarão a besta (Ap 17:13). “As nações da          e o tempo após o milênio, as cabeças
Terra, representadas pelos dez chifres, aqui        devem ser todas posicionadas no tempo
têm o propósito de se unir com a ‘besta’...         histórico. A sexta cabeça parece referir-
para forçar os habitantes da Terra a beber o        se ao tempo de João, isto é, o primeiro
‘vinho’ de Babilônia..., isto é, unir o mundo       século d.C.35
sob seu controle e eliminar todos os que se             Embora Apocalipse 17 descreva po-
recusam a cooperar....”33                           deres malignos que se encontram muito
                                                    ativos, Deus ainda está no controle. Ele
Um diagrama                                         traz juízo sobre os inimigos do Seu povo
   O diagrama abaixo é adaptado de K.               e livra Seus santos de todas as perple-
Strand,34 e resume nossa discussão, nos aju-        xidades e perseguições. O capítulo traz
dando a ver as relações entre as diferentes         conforto para o povo de Deus. Por outro
fases e entidades da visão.                         lado, “a idéia da iminência é expressa”.36
                                                    Dentro em breve o Senhor virá e intervi-
                                                    rá. “Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o
Resumo                                              Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos
   Sugerimos que: (1) As sete cabeças               senhores e o Rei dos reis; vencerão também
da besta representam reinos em vez de               os chamados eleitos e fiéis que se acham
reis individuais. Esses reinos são Egito,           com ele” (Ap 17:14).
Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Gré-
cia, Roma e o papado. (2) As bestas de
Apocalipse 12, 13 e 17 não representam
exatamente o mesmo poder. A besta de
40 / Parousia - 1º semestre de 2005

Referências                                               se encontram os peixes, os navios, e os marinheiros
                                                          (Ap 8:8, 9; 16:3; 18:17, 19). Estes são os usos mais
     1
       Artigo traduzido do original em inglês por Fran-   freqüentes do termo “mar”. O termo também ocorre
cisco Alves de Pontes e Rita C. Timóteo Soares.           em outros contextos. Você pode jogar uma pedra no
     2
       A fase “era” da besta seria paralela à “caíram     mar (Ap 18:21). As multidões são como a areia do
cinco”; a fase “e não é” correria paralelamente à         mar (Ap 20:8). O mar deu os mortos que nele estavam
“uma existe” das cabeças e a fase “aparecerá” da          (Ap 20:13), e o mar não mais existirá na nova terra
besta combinaria com “outro ainda não chegou”.            (Ap 21:1). Em Apocalipse 12:17 Satanás pôs-se em
     3
       Veja Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day       pé sobre o mar, e em Apocalipse 13:1 a besta emergiu
Adventist Bible Commentary (Washington, DC:               do mar. As duas últimas referências aludem às mul-
Review and Herald, 1957), 7:853.                          tidões associadas com ou representadas pelo termo
     4
       Ibid.                                              “mar” (cf. Ap 17:15, onde, no entanto, “as águas”
     5
       Ibid., 854.                                        são identificadas). Na maioria dos casos é difícil e
     6
       Ibid., 854-856.                                    até mesmo impossível perceber no termo a noção de
     7
        Cf. G. K. Beale, The Book of Revelation, The      um abismo. No entanto, é melhor mantermos os dois
New International Greek Testament Commentary              termos separados.
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), 871-874.
                                                              15
                                                                 Cf. Nichol, 802-803.
     8
        Veja, por exemplo, Ranko Stefanovic, Reve-
                                                              16
                                                                 Cf. Ekkehardt Mueller, “The Two Witnesses of
lation of Jesus Christ: Commentary on the Book of         Revelation 11”, Journal of the Adventist Theological
Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews Univer-          Society, 13/2 (2002), 30-45.
sity Press, 2002), 511-512, 515.
                                                              17
                                                                 Beale, 865, mostra o paralelismo com Apoca-
     9
        Cf. Simon J. Kistemaker, New Testament            lipse 20: “A formula tríplice corresponde à carreira
Commentary: Exposition of the Book of Revelation          de Satanás em Apocalipse 20:1-10”. Ele também
(Grand Rapids, MI: Baker, 2001), 470-472. Ele             afirma na mesma página: “A origem da besta do
afirma que quando a mulher é dita como sentada            abismo tanto aqui [Ap 17:8a] e em 11:7, sugere que
sobre muitas águas (Ap 17:1, 15), sobre a besta (Ap       a origem e poderes demoníacos da besta (como em
17:3) e sobre sete colinas ou montes (Ap 17:9), todos     9:1-2, 11; cf. 20:1-3, 7)”. Mas ele não identifica a
estes três lugares devem ser compreendidos simboli-       besta como sendo Satanás.
camente. Portanto, os sete montes não apontam para
                                                              18
                                                                 Kistemaker, 469, ao tentar identificar a besta
Roma, mas para os poderes mundiais “que têm seu           de Apocalipse 17 parece vacilar entre a besta de
lugar na história” (471). Essa compreensão elimina        Apocalipse 13a e Satanás.
a comum identificação das cabeças com imperadores
                                                              19
                                                                 Contra Kistemaker, 419, e Mounce, 314.
romanos específicos – discutida por Beale, 872-
                                                              20
                                                                 O esquema abaixo mostra que após o imper-
874; Kistemaker, 471-472; Robert H. Mounce, The           feito inicial, apenas tempos presentes são usados no
Book of Revelation, ed. rev., The New International       grego, apontando para uma lacuna entre “era” e o res-
Commentary on the New Testament (Grand Rapids,            to da descrição sugerindo que as outras frases devem
MI: Eerdmans, 1998), 315-317; e Grant R.Osborne,          ser compreendidas como se referindo ao futuro:
Revelation, Baker Exegetical Commentary on the
New Testament (Grand Rapids, MI: Baker, 2002),                A besta...era
617-619. Beale, 868, demonstra que “no Apocalipse             to therion en
ele [o termo grego] sempre significa ‘monte’ e é              imperfeito
usado figurativamente para conotar força... Esse uso          e não é
aponta além de uma referência literal aos ‘montes’ de         kai ouk estin
Roma, e a um significado figurativo como ‘reinos’,            presente
especialmente à luz de 8:8 e 14:1... Que reis que
representam ‘reinos’ são designados é evidente de             e está para emergir do abismo

Daniel 7:17 (os grandes animais ‘são quatro reis’) e          kai mellei anabainein ex te abussou
7:23 (‘o quarto animal será um quarto reino’).”               presente e presente infinito
     10
        George Eldon Ladd, A Commentary on the                e caminha para a destruição
Revelation of John (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
                                                              kai eis apoleian hupagei
1991), 227-228.
                                                              presente
     11
        Cf. Beale, 435-436; Mounce, 314.
     12
        Kistemaker, 469.                                      21
                                                                  “...se admirarão” – tempo futuro
     13
        A parte histórica do Apocalipse termina com       (Apoc.17:8).
o capítulo 14.                                                22
                                                                 Beale, 871, parece associar o fim do período
     14
        O mar é associado com Deus (Ap 4:6; 15:2)         “cinco (das cabeças) caíram” com o período “não é”
ou mencionado em relação com a terra (Ap 5:13;            da besta. No entanto, esse é o período “um existe”
7:1, 2, 3; 10:2, 5, 6, 8; 12:12; 14:7). É o local onde    das cabeças a não ser que uma lacuna seja introdu-
A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 41

zida no texto.                                               a queda de Roma até o império final do anticristo”
     23
        Ver Mounce, 316.                                     (472). Enquanto Beale e Mounce mencionam esta
     24
        Jon Paulien, “The Hermeneutics of Biblical           interpretação em particular, mas seguindo a outros,
Apocaliptic”, dissertação não publicada, 2004, 25.           Kistemaker parece se ater ao apresentado aqui.
     25
        Kenneth A. Strand, Interpreting the Book of              28
                                                                    Cf. K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’
Revelation: Hermeneutical Guidelines, with Brief             Scenes”, Symposium on Revelation: Introductory
Introduction to Literary Analysis (Worthington, OH:          and Exegetical Studies, vol. 1, Daniel and Revelation
Ann Arbor, 1979), 54-55.                                     Committee Series, editado por F. B. Holbrook (Silver
     26
        Beale, 864, observa que “a existência da besta       Spring, MI: Biblical Research Institute, Associação
se estende do princípio ao fim da história...”               Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 1992), 67.
     26
        Cf., K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’            29
                                                                    Nichol, 856, sugere: a ausência no grego de
Scenes in Symposium on Revelation: Introductory              um artigo definido antes da palavra ‘oitavo’ sugere
and Exegetical Studies”, Book 1, Daniel and Reve-            que a própria besta era a real autoridade por trás
lation Committee Series, editado por F. B. Holbrook          das sete cabeças e que, dessa forma, é mais do que
(Silver Springs, MI: Biblical Research Institute,            meramente uma outra cabeça, a oitava na seqüência.
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia,              É a sua conclusão e clímax – a própria besta”. Essa
1992), 67.                                                   observação é sustentada por Kistemaker, 473, e
     27
        Essa opção é mencionada por Beale, 875: “A           Mounce, 318.
tentativa de identificar os sete reis com respectivos            30
                                                                    Kistemaker, 473. Cf. Ladd, 231.
impérios mundiais em particular poderá ter mais su-              31
                                                                    Kistemaker, 432, faz uma observação similar
cesso [do que uma tentativa de identificar as cabeças        declarando que “esse pequeno período não deve ser
com os imperadores romanos], desde que isso tenha            tomado literalmente, mas simbolicamente... Por-
mais a ver com as ‘sete cabeças’ em Daniel 7:3-7,            tanto, o termo pouco tempo é um pequeno período
que representa quatro impérios específicos. Os cinco         cronológico funcionando dentro de um período de
primeiros reis, que ‘caíram’são identificados com o          tempo mais abrangente”. Por outro lado, Beale, 872,
Egito, a Assíria, a Babilônia, a Pérsia e a Grécia;          sugere “que as seis primeiras ‘cabeças’ (= reinos)
Roma é aquela que ‘é’, seguida por um império                duram um longo tempo provavelmente por toda a
ainda desconhecido que há de vir”. Na página 560 ele         história, em contraste com a sétima ‘cabeça’”. Ele
declara: “Assim como os reinos com sete cabeças em           baseia sua sugestão em Apocalipse 20:3, quando
Daniel 7:4-7 atravessam a história da Babilônia até          Satanás é solto por “pouco tempo”. No entanto,
o fim, da mesma forma a besta com sete cabeças de            Apocalipse 20:3 usa uma expressão diferente (mikron
Apocalipse 17 atravessa muitos séculos e, da mesma           chronon) e, dessa forma, não é realmente comparável
forma, toda a história...” Osborne, 619, e Mounce,           com Apocalipse 17:10 (oligon) e Apocalipse 12:12
317, relacionam os mesmos impérios. Entretanto,              (oligon kairon).
Mounce mostra que Alford identifica a sétima cabeça              32
                                                                    Nichol, 811.
como “o império cristão iniciado com Constantino”                33
                                                                    Ibid, 857.
(317). Kistemaker, 471, assegura que “as sete colinas            34
                                                                    Strand, Interpreting the Book of Revelation,
apontam para poderes mundiais que têm o seu lugar            56.
na história”. Ele menciona os cinco impérios que já              35
                                                                    De acordo com Apocalipse 17:16, a besta e os
caíram: Babilônia, Assíria, Neo-Babilônia, Medo-             chifres se voltarão contra a prostituta e a atacarão e
Pérsia e Greco-Macedônia. A sexta cabeça é Roma.             destruirão. Neste contexto, as cabeças não são men-
A sétima são “todos os governos anti-cristãos desde          cionadas, somente a besta e os chifres. Se as cabeças
                                                             são principalmente entidades passadas – como
                                                             sugerido acima – isto faz perfeito sentido.
                                                                 36
                                                                    Beale, 871.

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A besta de Apocalipse 17: uma sugestão interpretativa

  • 1. 31 A besta de Apocalipse 17: uma sugestão Ekkehardt mueller, D. Min. e Ph.D. Diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Ma- ryland, EUA Resumo: A ênfase deste artigo se con- Livro da Vida desde a fundação do mundo, centra num estudo teológico e estrutural se admirarão, vendo a besta que era e não do Apocalipse 17, uma seção da literatura é, mas aparecerá.” Informações adicionais bíblica considerada um crux teológico. sobre a besta são fornecidas no restante de Precisamente por seu caráter e linguagem Apocalipse 17. enigmáticos, a besta aqui descrita tem sugerido uma enorme variedade de alter- Os pontos em debate nativas interpretativas. O autor apresenta Antes de estudarmos mais deta-lhada- a sugestão que ele considera uma “opção mente Apocalipse 17, algumas perguntas viável”, uma vez que ela “segue os prin- básicas precisam ser respondidas: (1) É a cípios de interpretação encontrados nas besta que subiu do mar de Apocalipse 13 próprias Escrituras”. idêntica à besta de Apocalipse 17 ou a besta de Apocalipse 17 representa um poder dife- Abstract: This article deals with the rente? (2) Qual é a disposição de tempo da theology and structure of Revelation 17, a visão? Descreve João os eventos partindo section of the biblical literature considered de uma perspectiva do primeiro século d.C., a theological crux. Precisely as a result of ou o ponto de referência a ser encontrado é its enigmatic character and language, the posterior e João é colocado ali em espírito? beast described here has generated an enor- (3) É a descrição da besta de Apocalipse mous variety of interpretation. The author 17:8 – “era e não é, e há de emergir do abis- presents his interpretative suggestion, whi- mo, e caminha para a destruição” – paralela ch he considers an “viable option”, since à descrição dos chifres do verso 10, que diz “caíram cinco, um existe, e o outro ainda it “follows principles of interpretation that não chegou”, ou estes diferentes estágios are found in Scriptures”. da besta não coincidem diretamente com a subdivisão das cabeças?2 (4) Como as Introdução cabeças devem ser interpretadas? Volver- Apocalipse 17 é um dos capítulos mais nos-emos brevemente para estas perguntas difíceis do Novo Testamento e tem rece- e proporemos algumas respostas. bido muitas interpretações diferentes.1 O A besta de Apocalipse 17, bem como presente artigo considera a besta sobre a as cabeças, têm sido compreendidas dife- qual está montada a prostituta babilônica. rentemente por eruditos bíblicos dentro da Apocalipse 17:7-8: “O anjo, porém, me Igreja Adventista. O The Seventh-day Ad- disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o ventist Bible Commentary enumera várias mistério da mulher e da besta que tem as opiniões, mas não é dogmático acerca de sete cabeças e os dez chifres e que leva a nenhuma delas: (1) Alguns adventistas mulher: a besta que viste, era e não é, está sustentam que a fase “era” da besta re- para emergir do abismo e caminha para a presenta Roma pagã, a fase “não é”, o destruição. E aqueles que habitam sobre a ínterim entre Roma pagã e Roma papal, terra, cujos nomes não foram escritos no
  • 2. 32 / Parousia - 1º semestre de 2005 e a fase “aparecerá”, Roma papal.3 (2) também importantes diferenças. Os ele- “Outros equiparam o período ‘era’ com mentos em comum são: ambas têm sete aquele representado pela besta e suas sete cabeças e dez chifres (Ap 13:1; 17:7). A cabeças; o período ‘não é’ com o intervalo besta que subiu do mar tem “uma boca que entre o ferimento da sétima cabeça e o profere... blasfêmias” (Ap 13:5), enquanto reavivamento da besta como ‘o oitavo’; que a outra besta está “repleta de nomes de e o período ‘ainda é’ com o reavivamento blasfêmia” (Ap 17:3). Ambas são poderes da besta quando ela se tornar ‘o oitavo.’”.4 que se opõem a Deus, a Jesus e aos santos Neste caso o período “era” provavelmente (Ap 13:6-8; 17:14). As diferenças também representaria Roma papal e a fase “apare- são notáveis: a besta que subiu do mar tem cerá” simboliza a sua restauração após a diademas sobre seus chifres (Ap 13:1); já cura da ferida mortal. a besta de Apocalipse 17 não tem nenhum diadema. A cor da besta que subiu do mar As cabeças são compreendidas por não é mencionada, mas a cor da outra besta alguns como “toda oposição política ao é escarlate (Ap 17:3). A besta que subiu povo e à causa de Deus”.5 Uma outra su- do mar sai do mar (Ap 13:1), mas a besta gestão é interpretar as cinco cabeças como sobre a qual Babilônia se assenta sobe do os animais de Daniel 7 mais o chifre pe- abismo (Ap 17:8). Isto sugere que estas queno, isto é, os impérios desde Babilônia bestas simbolizam entidades diferentes, ao papado, sendo a sexta cabeça a besta embora elas partilhem algumas caracterís- que sobe do abismo (Ap 11), ou seja, a ticas e persigam objetivos semelhantes. É Revolução Francesa, e a sétima cabeça, a necessário ter em mente que há elementos besta que subiu da terra (Ap 13), a saber, comuns entre o dragão de Apocalipse 12 os Estados Unidos da América. Ainda ou- e a besta de Apocalipse 17, como as sete tra proposta considera as cinco primeiras cabeças e os dez chifres (Ap 12:3; 17:7), cabeças como os impérios Egito, Assíria, uma cor semelhante (Ap 12:3; 17:3) e a Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia; a sexta oposição a Jesus e a seu povo (Ap 12:4- cabeça como Roma pagã; e a sétima como 17; 17:14), e não apenas entre a besta que Roma papal.6 A diferença entre a segunda sobe do mar de Apocalipse 13 e a besta de e a terceira opinião sobre as cabeças é que Apocalipse 17. a segunda coloca a sexta cabeça no ano de 1798 d.C., ao passo que no terceiro ponto A descrição da besta de Apocalipse 17 de vista, a sexta cabeça representa o tem- como “era e não é, está para emergir” relem- po em que João vivia, ou seja, o primeiro bra ao estudante do Apocalipse de Deus o Pai, século. Essas sugestões compreendem as que é chamado como “aquele que era, que sete cabeças como sendo grandes poderes, é e que há de vir” (Ap 4:8, cf. 1:4, 8) assim mas outros expositores as tomam como como em relação a Jesus que vez após outra governantes individuais.7 Outros autores prometeu que retornaria (cf. Ap 22:12). Isso - especialmente adventistas8 - comentam retrata a besta de Apocalipse 17 como uma que as cabeças/reis/montanhas (Ap 17:9) contrafação, paródia e oposição a Deus.11 representam reinos e não reis individuais.9 “A besta aspira ser como Deus...”.12 Ao Esse é o caso do livro de Daniel. “As qua- final ela não perdurará, mas será derrotada. tro bestas de Daniel 7 são mancionadas Cristo e seus seguidores triunfarão. como representando quatro reis (Dn 7:17) quando, mais precisamente, Daniel qier O abismo dizer que sejam reinos sobre os quais eles governam”10. No Apocalipse, o abismo do qual a besta sobe é mencionado sete vezes: (1) Em Outro assunto é a íntima semelhan- Apocalipse 9:1 a estrela que cai do céu tem ça entre a besta de Apocalipse 13 e 17. a chave do abismo. (2) Em Apocalipse 9:2 Conquanto a besta que subiu do mar de essa estrela abriu o poço do abismo. (3) Em Apocalipse 13 e a besta de Apocalipse 17 Apocalipse 9:11 o rei dos gafanhotos é o tenham alguns elementos em comum, há anjo do abismo chamado Apoliom. (4) Em
  • 3. A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 33 Apocalipse 11:7 a besta que sobe do abismo Satanás.16 Não há nenhuma razão para se mata as duas testemunhas. (5) De acordo ligar o abismo de Apocalipse 11, parte da com Apocalipse 17:8 a besta sobre a qual mesma visão das trombetas, com outra a grande prostituta se assenta “era e não pessoa. é, está para emergir do abismo, e caminha Todavia, em Apocalipse 20:1-3 ocorre para a destruição”. (6) Em Apocalipse 20:1 a grande inversão. O poder de Satanás para um anjo desce do céu com a chave do abis- abrir o abismo lhe é tirado. Esse poder lhe fora mo. (7) Finalmente, em Apocalipse 20:3 dado por Deus (Ap 9:1) que está sempre no esse anjo amarra Satanás no abismo por mil controle. Agora o próprio Satanás é amarrado anos. Depois desse período, Satanás será por um anjo e confinado ao abismo por mil solto. Quatro destas referências pertencem anos. Parece que Apocalipse 17:8 aponta à parte histórica do Apocalipse13, e todas para esta mesma situação e que Apocalipse são encontradas na visão das trombetas (Ap 20:1-3 esclarece as palavras simbólicas a 8:2-11:18).As quatro primeiras são partes respeito da besta de Apocalipse 17. A besta da visão da trombeta (Ap 8:2-11:18). Por que “era e não é, está para emergir do abismo, outro lado o mar não está ligado ao abismo e caminha para a destruição” é Satanás, que em Apocalipse.14 em Apocalipse 12 foi apresentado como o A estrela cadente mencionada em Apo- grande dragão vermelho.17 calipse 9:1-2, que é capaz de abrir o poço do Evidentemente, todas as referências ao abismo e produzir calamidade, sofrimento e abismo em Apocalipse tem a ver com Sa- tortura, deve ser identificada como Satanás. tanás. O termo é encontrado em dois outros Em Jó 38:7, os filhos de Deus, seres celes- lugares no Novo Testamento. Em Romanos tiais, são chamados estrelas da manhã. Uma 10:7, o abismo pode ser o reino dos mortos. estrela da manhã cadente ocorre em Isaías Mas em Lucas 8:31, os demônios pedem a 14:12. Por trás do rei de Babilônia é mencio- Jesus para não serem enviados ao abismo. nado alguém muito superior a ele – Satanás, Novamente isso está ligado a instrumentos a verdadeira estrela da manhã cadente. De satânicos. Portanto, sugerimos compreen- acordo com Lucas 10:18, Jesus viu Satanás der a besta sobre a qual Babilônia se assenta caindo do céu. Em Apocalipse, estrelas, como Satanás que opera através de poderes quando usadas simbolicamente, se referem políticos.18 (1) aos anjos das sete igrejas, provavelmente líderes e ensinadores religiosos (Ap 1:20), e (2) a seres celestiais, tais como Jesus, a Contexto e disposição do tempo resplandecente estrela da manhã (Ap 22:16), em Apocalipse 17 ou a anjos caídos (12:4, 9). Em Apocalipse O livro de Apocalipse pode ser dividido 9:1 ouvimos acerca de uma estrela cadente; em duas grandes partes. A primeira parte segundo Apocalipse 8:10, é uma grande (Ap 1-14) consiste de várias séries históricas estrela cujas ações produzem efeitos negati- de eventos que abrangem desde o tempo vos. Parece melhor compreender essa estrela de João até à consumação final. A segunda como Satanás, que, segundo Apocalipse parte (Ap 15-22) lida somente com eventos 12:7-9, foi expulso do Céu. do fim do tempos e tem sido chamada de Obviamente, o rei dos gafanhotos e anjo a parte escatológica. Enquanto o dragão e do abismo de Apocalipse 9:11, também a besta que subiu do mar são encontrados chamado Abadom/Apoliom ou destruidor, na seção histórica do Apocalipse, a besta é a estrela cadente, Satanás. Seu exército de Apocalipse 17 pertence à seção do final demoníaco ataca a humanidade. do tempos. Portanto, devem ser esperadas Em Apocalipse 11:7, a besta que sobe diferenças entre estas duas bestas. do abismo e que por meio da Revolução Por outro lado referências recorrentes a Francesa15 mata temporariamente as duas certos símbolos encontrados na mesma parte testemunhas de Deus que representam o de Apocalipse são especialmente importan- Antigo e o Novo Testamento, é novamente tes e esclarecem a sua interpretação.
  • 4. 34 / Parousia - 1º semestre de 2005 Apocalipse 15 e 16 contêm as sete Na literatura apocalíptica, tal como últimas pragas. A sexta praga descreve Daniel, uma visão é freqüentemente se- a secagem do rio babilônico Eufrates, a guida por uma explicação (cf. Dn 7:1-15 vinda dos reis do oriente (a saber, Jesus e 7:16-28 ou Ap 1:16 e 1:20). Depois de e Sua hoste celestial) e o Armagedom. A um discurso angélico inicial no começo sétima praga descreve o julgamento de de Apocalipse 17 encontramos duas pe- Babilônia e o tempo em que ela se divide quenas visões seguidas por dois discursos em três partes. De Apocalipse 17 em dian- mais longos. Em seu discurso inicial, o te esse juízo é descrito em mais detalhes. anjo promete a João que o julgamento da É evidente a conexão das pragas com os meretriz lhe será revelado. Todavia, as duas capítulos subseqüentes. Em Apocalipse breves visões posteriores (Ap 17:3b-5 e 17:1, um dos anjos que tinham as sete Ap 17:6a) não focalizam o julgamento, taças apresenta a João o julgamento da mas apresentam a besta com sete cabeças meretriz Babilônia, que é descrita nos ca- e dez chifres. Contudo, os dois discursos pítulos 17-19, ao passo que o julgamento angélicos seguintes não apenas explicam os da besta do abismo que conduz a meretriz poderes antes mencionados, mas também segue-se em Apocalipse 20. O outro anjo fornecem detalhes sobre o julgamento dos que tinham as sete taças apresenta mencionado no primeiro discurso angélico. então a João a noiva do Cordeiro, a Nova Provêem informação adicional não contida Jerusalém, de uma maneira mais detalhada em nenhuma das duas visões. Portanto, (Ap 21:9-22:6). Apocalipse 17:8-12 deve estes discursos angélicos não são apenas ser interpretado neste contexto. um explicação das visões, mas fornecem novas idéias. Esboço de Apocalipse 17 Existem outras relações entre as visões 1. Narrativa: João é abordado 1 e 2 e os discursos 2 e 3 além da besta, por um dos anjos que tinham suas cabeças e seus chifres. A primeira as sete taças (1a) visão enfatiza a meretriz como “Babilônia, a Grande”, enquanto que o último discurso Discurso do anjo: a chama de “a Grande Cidade”. Na segun- Discurso 1 (1b-2): Julgamento da me- da visão os santos são perseguidos e no retriz. segundo discurso os crentes triunfam com o Cordeiro. 2. Narrativa: João é levado ao deserto (3a) As duas visões de Apocalipse 17:3b- Visões: 6a descrevem a mulher/prostituta e suas atividades no tempo histórico (cf. 17:4 e Visão 1 (3b-5): A prostituta sobre a 14:8), mas não descrevem ainda o clímax besta com sete cabeças e dez escatológico. Por outro lado, nos dis- chifres como a mãe das mere- cursos identificam os diferentes poderes trizes, a grande Babilônia. apresentados no início do capítulo 17 (com Visão 2 (6a): A prostituta e os santos. exceção da besta) e retratam a besta e os chifres em sua batalha final contra o Cor- 3. Narrativa: João se admira (6b) deiro, e em sua batalha contra a meretriz, que é o seu julgamento. Os aliados da Discursos do anjo: meretriz se voltarão contra ela e a destru- Discurso 2 (7-14): A besta, as cabeças, irão.Assim o julgamento da meretriz não é os chifres e sua futura batalha encontrado nas cenas da visão mas apenas contra o Cordeiro e os fiéis. na apresentação, mencionada no primeiro discurso e exucutada no último discurso. Discurso 3 (15-18): As águas, a batalha Além disso, o julgamento da besta é indi- dos chifres da besta contra a cado no segundo discurso (17:8 , 11) que prostituta, a meretriz como a nãohavia sido mencionado no primeiro grande cidade.
  • 5. A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 35 discurso angélico. As visões referen-se a Que viste eventos anteriores ao julgamento da me- Os chifres são dez reis. retriz. Após isso os aliados da meretriz se voltarão contra ela e a destruirão. A besta 2. Terceiro Discurso do Anjo (15-18) também será destruída. Os três discursos a. As águas (15) tratam de julgamento. No entanto com relação aos detalhes sobre a besta, está à Que viste parte a descrição da besta que “era”, “não As águas são povos, e multi- é”, e “caminha para a destruição” e que dões, e nações, e línguas não são mencionadas mas reservadas para o final. b. Os dez chifres e a besta (16-17) Com respeito às atividades do fim do Que viste tempos, há uma ênfase mais forte sobre os c. A prostituta (18) chifres e a besta do que sobre as cabeças. As cabeças não são diretamente mencionadas Que viste como estando envolvidas na batalha final. A prostituta é a grande cida- Isto pode indicar que as cabeças estão mais de. relacionadas com o fluxo da História e, talvez, com a própria meretriz, ao passo O segundo discurso angélico contém que os chifres em combinação com a besta (1) informação a respeito da besta, (2) a desempenham um papel importante na ba- identificação das cabeças e informações talha final contra Jesus e na batalha contra a adicionais e (3) a identificação dos chifres meretriz. Parece também evidente quando e informações adicionais com uma forte olha-se o uso dos tempos e dos indicadores ênfase nas atividades futuras. O terceito em relação a aparência dos chifres. Vários discurso angélico contém (1) a identifica- verbos empregando o tempo futuro descre- ção das águas, (2) a informação sobre as vem as atividades dos chifres, que irão obter atividades futuras dos chifres e da besta e poder apenas no futuro, em colaboração (3) a identificação da meretriz. com a besta “por uma hora”. Esses chifres A meretriz, as águas, as cabeças e os atingirão o poder no futuro e colaborarão chifres são identificados. Em cada caso com a besta “por uma hora”. é usada a frase “as (a)... são/é...” A única Duas observações adicionais estão em entidade que não é diretamente identificada ordem. Todavia, antes de nos volvermos a é a besta (Ap 17:8-9a). Há uma outra seção elas, é apresentado o seguinte esboço que no terceiro discurso angélico que lida com focaliza os discursos 2 e 3 de uma maneira a besta e os chifres, em que está faltando mais detalhada. uma identificação (17:16-17). Mas os chifres já foram explicados previamente. Portanto, é outra vez a besta que não está O segundo e o terceiro discursos explicada, embora ouçamos sobre suas angélicos atividades. Esse fato pode ser importante para a interpretação da passagem. Enquanto 1. Segundo discurso do anjo (7-14): o julgamento da meretriz é descrito com Introdução (7) numerosos detalhes em Apocalipse 17-19, o julgamento da besta é encontrado em a. A besta (8-9a) Apocalipse 20. Que viste Enquanto a besta é assinalada como o b. As cabeças (9b-11) símbolo que não é explicado, as cabeças As cabeças são sete montes e são indicadas de outra maneira. O segundo sete reis. discurso lida com a besta, as cabeças e os chifres; o terceiro com as águas, os chifres, c. Os chifres (12-14) a besta e a mulher/prostituta. Nestas seis
  • 6. 36 / Parousia - 1º semestre de 2005 seções, cinco vezes é aplicada a frase “que relacionar-se com a época de João e, por- viste”. Ela é encontrada em todas as enti- tanto, com a época passada mais do que dades, exceto as cabeças. Isto pode ou não com um evento futuro. Tal conclusão tem ser uma coincidência. Em qualquer caso, fundamento? Cremos que não.19 (1) Embo- quando tentamos identificar os poderes de ra ambas as frases usem o tempo presente, Apocalipse 17 em termos específicos, são é difícil conceber que, ao mesmo tempo, a as cabeças que formam o ponto de partida. besta “não é” e uma de suas cabeças “é”. Falta a fórmula “que viste” e são dessa for- (2) A besta não está identificada. Declara- ma diferentes de todas as outras entidades. ções relacionadas com a besta a retratam Assim encontraste com a besta, elas são c da perspectiva do fim do tempo e apontam aracterizadas por dois simbolos adicionais para o seu futuro julgamento. Portanto, (montanhas e reis). Dessa forma, o esboço a frase “não é” não liga necessariamente de Apocalipse 17 pode nos mostrar o papel esse período ao tempo de João. (3) A fase crucial que as cabeças desempenham ao “não é” pode ser compreendida como um se interpretar os símbolos desse capítulo. desenvolvimento futuro, porque o tempo Cinco das cabeças já caíram, uma existe. presente com freqüência representa o futuro A frase “um existe” de uma maneira ou de (veja, por exemplo, Apocalipse 17:11-13; outra deve relacionar-se com João. Há um 16:15). Além disso, a frase “e caminha tempo específico em que João se encontra para a destruição” na mesma sentença é e em que uma das sete cabeças também também usada no tempo presente, embora “existe”. Então a questão é se esse tempo se relacione ao fim da besta. Até mesmo a é o primeiro século d.C., quando João vivia frase “está para emergir do abismo” em- ou se ele se refere ao tempo dos eventos que prega o tempo presente mesmo tendo sido lhe foram mostrados em visão. traduzida para o português como o tempo Como encontramos a frase “um existe” futuro.20 Que a besta não é identificada relacionada às cabeças, assim encontramos a e que as cabeças são assinaladas podem expressão “e não é” relacionada com a bes- apontar para o fato de que a besta deve ta. A besta era, não é, subirá do abismo e irá ser compreendida principalmente de uma à perdição. A besta é descrita similarmente perspectiva futura, ao passo que as cabeças três vezes em Apocalipse 17:8 e 11: contêm o segredo para desvendar Apoca- lipse 17. (4) A segunda parte de Apocalipse 1. Era E NÃO É 17:8 parece ligar as fases “não é/aparecerá” e está para emergir do abis- da besta aos habitantes da Terra. Contudo, mo este é um desenvolvimento apenas futuro, muito provavelmente relacionado com as E CAMINHA PARA A DES- últimas horas deste mundo.21 (5) Como TRUIÇÃO o Livro de Apocalipse interpreta a futura 2. Era E NÃO É ascensão da besta do abismo? Resposta: ele a descreve em Apocalipse 20 como a mas aparecerá libertação de Satanás da prisão do abismo. 3. Era E NÃO É, Em outras palavras, a fase que lida com a besta subindo do abismo e sua subseqüente e é o oitavo destruição retratam eventos posteriores e procede dos sete, ao milênio. Então a fase “não é” deve ser compreendida como o tempo durante o mi- E C A M I N H A PA R A A lênio. A primeira fase, descrevendo a besta DESTRUIÇÃO como “era”, refere-se ao tempo histórico e Como “um existe” (a sexta cabeça) termina com o início do milênio. É o tem- se relaciona com o tempo de João, quer po que aponta para a atividade de Satanás seja no primeiro século, quer seja em um durante a história humana até a Segunda tempo posterior na visão, a frase “não é” Vinda de Cristo. As cabeças basicamente (usada em relação à besta) poderia também seriam derrubadas nesse tempo, ao passo
  • 7. A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 37 que os chifres parecem entrar em cena lipse 17:10, “e são também sete reis, dos apenas bem no final do tempo. Contudo, o quais caíram cinco, um existe, e o outro enfoque especial de João é sobre o julga- ainda não chegou; e, quando chegar, tem mento e, assim, sobre eventos que ocorrem de durar pouco” parece sugerir que no em combinação com a Segunda Vinda de tempo em que João escreveu o livro do Cristo e depois dela. Apocalipse, cinco reinos tinham caído e o sexto estava reinando.23 As duas visões A Besta (Ap 17) de Apocalipse 17:3-6 não lidam com essa situação, nem nos dizem que João foi 1. Era. transportado a um outro tempo durante a 2. E não é. apresentação dos eventos de Apocalipse 17:7-18. Obviamente, João viveu durante o 3. Está para emergir do abismo. período da sexta cabeça. Além disso, o livro 4. E caminha para a destruição. do Apocalipse foi primariamente dirigido a cristãos que viviam no primeiro século. Provavelmente, eles teriam compreendido Satanás (Ap 20) o verso 10 de tal maneira que a sexta cabeça 1. Ele existiu e atuou (Ap 12). se referisse ao tempo em que eles estavam vivendo. Se admitirmos que a sexta cabeça 2. Ele foi aprisionado no abismo; não po- não estava reinando quando o Apocalipse dia mais enganar a ninguém (Ap 20:1-3). foi escrito e que João foi levado para ou- 3. Após o milênio, ele é solto, reúne os tro tempo – mesmo que Apocalipse 17:10 oponentes de Deus ressurretos e ataca a seja parte de uma apresentação e não de Cidade Santa (Ap 20:7-9). uma visão – então não seremos capazes de chegar a qualquer interpretação definitiva 4. Após o milênio, será lançado no lago de Apocalipse 17, porque não há nenhuma de fogo e perecerá (Ap 20:9-10) maneira de determinar em que tempo João As sete cabeças são divididas em três foi transportado, quer seja nos primeiros segmentos, sendo adicionada uma oitava séculos d.C., nos tempos medievais, dire- cabeça: (a) cinco já caíram, (b) um existe, tamente depois de 1798, ou em um tempo (c) outro ainda não chegou, e (d) o oitavo posterior a esses. Mas, então, tal profecia é a besta. Embora seja tentador associar contendo declarações cronológicas não as fases da besta com a divisão das cabe- faria sentido. Jon Paulien declarou um ças, o texto não exige tal procedimento. princípio importante para a interpretação Se as fases da besta e a subdivisão das da literatura apocalíptica: sete cabeças são compreendidas como Em uma visão, o profeta pode viajar da Terra paralelas, então a fase “não é” da besta ao Céu e vaguear de um lado para outro do passado corresponderia ao período “um existe” para o fim do tempo. A visão não está necessa- das cabeças. Caso seguíssemos a suges- riamente localizada no tempo e lugar do profeta. tão acima concernente à besta do abismo, Mas quando a visão é posteriormente explicada ao tal abordagem seria impossível, uma vez profeta, a explicação sempre vem no tempo, lugar que se o paralelismo fosse requerido, um e circunstâncias do que tem a visão.24 rei/reino precisaria sobreviver durante o milênio, a fase durante a qual a besta “não Segundo este princípio, a explicação das é”. Mas isto é excluído por Apocalipse 19 cabeças é decisiva. Localiza a sexta cabeça e 20. Além disso, como poderia a besta no primeiro século d.C. Escreve Kenneth A. estar na condição “não é”, enquanto uma Strand sobre a besta e as cabeças: de suas cabeças “existe”? Portanto, parece Procurar um cumprimento na História, por melhor não tomar as fases da besta e os exemplo, para a fase ‘não é’ da besta do ca- segmentos das cabeças como descrições pítulo 17, quando esta fase é obviamente uma paralelas.22 visão do Julgamento, é ilógico. Ou tratar todo o capítulo 17 inteiro como tendo um cumprimento Uma compreensão natural de Apoca- histórico, ao invés de escatológico, é deixar de
  • 8. 38 / Parousia - 1º semestre de 2005 compreender o próprio desígnio do capítulo e de seguem o mesmo padrão das pragas egíp- toda a segunda parte do Livro do Apocalipse, no cias. Portanto, ele fala acerca do “tema do qual ele ocorre. Isto não é afirmar, porém, que êxodo do Egito” em Apocalipse.28 O Egito não há absolutamente nenhum reflexo histórico como um império mundial foi seguido no capítulo 17. A explicação das sete cabeças e pelos assírios. Depois deles, seguem-se dez chifres, por exemplo, deve ser do ponto de vista de João e do tempo em que ele escreveu. os reinos conhecidos de Daniel 2, 7 e 8. Afinal, como pode uma explicação ser dada a não A sexta cabeça seria o Império Romano ser em termos do que existe, mesmo que a própria e a sétima, o papado. A oitava “procede visão seja a partir da perspectiva do julgamento dos sete”, mas não é “um dos sete”, o que ecatológico, quando a besta “não é”? Em outras indicaria que a besta é relacionada a todas palavras, conquanto João veja a visão da fase “não as sete cabeças, mas não deve necessaria- é” (julgamento), as cabeças e chifres são entidades mente ser identificada como sendo uma históricas pertencentes à fase “era”.25 delas. Isso é sustentado pelo fato de as sete cabeças serem introduzidas com um artigo definido (“as sete”, “as dez”, “o outro”), Interpretação Sugerida enquanto que para a oitava cabeça falta o artigo distinguindo-a das outras. A idéia A Besta parece ser de que a oitava cabeça resume todas as sete e é o seu clímax, mas não é Já havíamos sugerido que a fase “era” como as outras.29 “Essa besta não é um dos da besta se refere ao tempo histórico.26 Du- sete reis/reinos (verso 10), mas personifica rante esse tempo Satanás estava e está em a totalidade da maldade delas...”30 atividade por meio de diferentes agentes. O tempo termina com a Segunda Vinda de A sexta cabeça e a brevidade Jesus Cristo, e, em conexão com ela, Sata- do tempo nás é aprisionado no abismo, entrando na fase “não é”. Depois do milênio, Satanás é É dito da sétima cabeça que deve durar solto do abismo, e se torna ativo conforme “pouco”. Alguns têm sugerido que isto descrito em Apocalipse 20. Como tal, ele não pode ser aplicado ao papado, porque é o oitavo e procede dos sete, mas será o papado já existe por mais tempo do que julgado e destruído por Deus. vários dos outros reinos combinados. A palavra oligos, “pouco”, “pequeno”, As Cabeças “raro”, “curto”, é encontrada quatro vezes em Apocalipse. Nas mensagens às sete No tempo de João, cinco cabeças igrejas, ela descreve a quantidade de coisas tinham caído e uma existia. A cabeça (Ap 2:14) e pessoas (Ap 3:4), enquanto que existente era o Império Romano. Os cin- em Apocalipse 12:12 e 17:10 ela se refere co reinos precedentes começaram com o ao tempo. Apocalipse 12:12 é interessante Egito e continuaram com a Assíria, Ba- porque o texto declara que depois da bata- bilônia, Medo-Pérsia e Grécia.27 Embora lha entre Miguel e Satanás, com a derrota isto possa ser deduzido logicamente, uma deste, “o diabo desceu a vós, cheio de gran- vez que o reino existente no tempo de João de cólera, sabendo que pouco tempo lhe é identificado, há informação adicional en- resta”. Esse “pouco tempo” iniciado com contrada em Apocalipse que aponta para o a cruz de Cristo, e que ainda permanece, já Egito como o primeiro império. O Egito é dura cerca de dois milênios.31 mencionado nominalmente em Apocalipse 11:8. Conquanto esse Egito seja um Egito A extensão de tempo expressa por oligos é simbólico, porque é dito que ali o Senhor dependente daquilo com que o termo é comparado. foi crucificado, ele ainda nos faz lembrar Em Apocalipse 12:12 oligos define o período de tempo desde a expulsão de Satanás por ocasião do antigo império dos faraós. É o mais an- da crucifixão de Cristo até o final da tirania de tigo império mencionado em Apocalipse. Satanás sobre os habitantes da Terra. Este período Além disso, Strand mostra que as primeiras de tempo é descrito como oligos em comparação cinco trombetas e as primeiras cinco pragas
  • 9. A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 39 com os mais de 4.000 anos que precederam a Apocalipse 17 é melhor compreendida crucifixão.32 como sendo Satanás operando por meio de poderes políticos. Ele está ativo ao Dessa forma, o “pouco [tempo]” da longo da história humana, mas a ênfa- sétima cabeça não exclui o papado de ser se de Apocalipse 17 é sobre o período o cumprimento da sétima cabeça. final da história humana. (3) As fases da besta e a subdivisão das cabeças não Os Dez Chifres são diretamente paralelas. Enquanto que Os dez chifres são poderes políticos as fases da besta representam o tempo durante o tempo da sétima cabeça, que histórico, o tempo durante o milênio apoiarão a besta (Ap 17:13). “As nações da e o tempo após o milênio, as cabeças Terra, representadas pelos dez chifres, aqui devem ser todas posicionadas no tempo têm o propósito de se unir com a ‘besta’... histórico. A sexta cabeça parece referir- para forçar os habitantes da Terra a beber o se ao tempo de João, isto é, o primeiro ‘vinho’ de Babilônia..., isto é, unir o mundo século d.C.35 sob seu controle e eliminar todos os que se Embora Apocalipse 17 descreva po- recusam a cooperar....”33 deres malignos que se encontram muito ativos, Deus ainda está no controle. Ele Um diagrama traz juízo sobre os inimigos do Seu povo O diagrama abaixo é adaptado de K. e livra Seus santos de todas as perple- Strand,34 e resume nossa discussão, nos aju- xidades e perseguições. O capítulo traz dando a ver as relações entre as diferentes conforto para o povo de Deus. Por outro fases e entidades da visão. lado, “a idéia da iminência é expressa”.36 Dentro em breve o Senhor virá e intervi- rá. “Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Resumo Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos Sugerimos que: (1) As sete cabeças senhores e o Rei dos reis; vencerão também da besta representam reinos em vez de os chamados eleitos e fiéis que se acham reis individuais. Esses reinos são Egito, com ele” (Ap 17:14). Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Gré- cia, Roma e o papado. (2) As bestas de Apocalipse 12, 13 e 17 não representam exatamente o mesmo poder. A besta de
  • 10. 40 / Parousia - 1º semestre de 2005 Referências se encontram os peixes, os navios, e os marinheiros (Ap 8:8, 9; 16:3; 18:17, 19). Estes são os usos mais 1 Artigo traduzido do original em inglês por Fran- freqüentes do termo “mar”. O termo também ocorre cisco Alves de Pontes e Rita C. Timóteo Soares. em outros contextos. Você pode jogar uma pedra no 2 A fase “era” da besta seria paralela à “caíram mar (Ap 18:21). As multidões são como a areia do cinco”; a fase “e não é” correria paralelamente à mar (Ap 20:8). O mar deu os mortos que nele estavam “uma existe” das cabeças e a fase “aparecerá” da (Ap 20:13), e o mar não mais existirá na nova terra besta combinaria com “outro ainda não chegou”. (Ap 21:1). Em Apocalipse 12:17 Satanás pôs-se em 3 Veja Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day pé sobre o mar, e em Apocalipse 13:1 a besta emergiu Adventist Bible Commentary (Washington, DC: do mar. As duas últimas referências aludem às mul- Review and Herald, 1957), 7:853. tidões associadas com ou representadas pelo termo 4 Ibid. “mar” (cf. Ap 17:15, onde, no entanto, “as águas” 5 Ibid., 854. são identificadas). Na maioria dos casos é difícil e 6 Ibid., 854-856. até mesmo impossível perceber no termo a noção de 7 Cf. G. K. Beale, The Book of Revelation, The um abismo. No entanto, é melhor mantermos os dois New International Greek Testament Commentary termos separados. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), 871-874. 15 Cf. Nichol, 802-803. 8 Veja, por exemplo, Ranko Stefanovic, Reve- 16 Cf. Ekkehardt Mueller, “The Two Witnesses of lation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation 11”, Journal of the Adventist Theological Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews Univer- Society, 13/2 (2002), 30-45. sity Press, 2002), 511-512, 515. 17 Beale, 865, mostra o paralelismo com Apoca- 9 Cf. Simon J. Kistemaker, New Testament lipse 20: “A formula tríplice corresponde à carreira Commentary: Exposition of the Book of Revelation de Satanás em Apocalipse 20:1-10”. Ele também (Grand Rapids, MI: Baker, 2001), 470-472. Ele afirma na mesma página: “A origem da besta do afirma que quando a mulher é dita como sentada abismo tanto aqui [Ap 17:8a] e em 11:7, sugere que sobre muitas águas (Ap 17:1, 15), sobre a besta (Ap a origem e poderes demoníacos da besta (como em 17:3) e sobre sete colinas ou montes (Ap 17:9), todos 9:1-2, 11; cf. 20:1-3, 7)”. Mas ele não identifica a estes três lugares devem ser compreendidos simboli- besta como sendo Satanás. camente. Portanto, os sete montes não apontam para 18 Kistemaker, 469, ao tentar identificar a besta Roma, mas para os poderes mundiais “que têm seu de Apocalipse 17 parece vacilar entre a besta de lugar na história” (471). Essa compreensão elimina Apocalipse 13a e Satanás. a comum identificação das cabeças com imperadores 19 Contra Kistemaker, 419, e Mounce, 314. romanos específicos – discutida por Beale, 872- 20 O esquema abaixo mostra que após o imper- 874; Kistemaker, 471-472; Robert H. Mounce, The feito inicial, apenas tempos presentes são usados no Book of Revelation, ed. rev., The New International grego, apontando para uma lacuna entre “era” e o res- Commentary on the New Testament (Grand Rapids, to da descrição sugerindo que as outras frases devem MI: Eerdmans, 1998), 315-317; e Grant R.Osborne, ser compreendidas como se referindo ao futuro: Revelation, Baker Exegetical Commentary on the New Testament (Grand Rapids, MI: Baker, 2002), A besta...era 617-619. Beale, 868, demonstra que “no Apocalipse to therion en ele [o termo grego] sempre significa ‘monte’ e é imperfeito usado figurativamente para conotar força... Esse uso e não é aponta além de uma referência literal aos ‘montes’ de kai ouk estin Roma, e a um significado figurativo como ‘reinos’, presente especialmente à luz de 8:8 e 14:1... Que reis que representam ‘reinos’ são designados é evidente de e está para emergir do abismo Daniel 7:17 (os grandes animais ‘são quatro reis’) e kai mellei anabainein ex te abussou 7:23 (‘o quarto animal será um quarto reino’).” presente e presente infinito 10 George Eldon Ladd, A Commentary on the e caminha para a destruição Revelation of John (Grand Rapids, MI: Eerdmans, kai eis apoleian hupagei 1991), 227-228. presente 11 Cf. Beale, 435-436; Mounce, 314. 12 Kistemaker, 469. 21 “...se admirarão” – tempo futuro 13 A parte histórica do Apocalipse termina com (Apoc.17:8). o capítulo 14. 22 Beale, 871, parece associar o fim do período 14 O mar é associado com Deus (Ap 4:6; 15:2) “cinco (das cabeças) caíram” com o período “não é” ou mencionado em relação com a terra (Ap 5:13; da besta. No entanto, esse é o período “um existe” 7:1, 2, 3; 10:2, 5, 6, 8; 12:12; 14:7). É o local onde das cabeças a não ser que uma lacuna seja introdu-
  • 11. A besta de Apocalipse 17 – uma sugestão / 41 zida no texto. a queda de Roma até o império final do anticristo” 23 Ver Mounce, 316. (472). Enquanto Beale e Mounce mencionam esta 24 Jon Paulien, “The Hermeneutics of Biblical interpretação em particular, mas seguindo a outros, Apocaliptic”, dissertação não publicada, 2004, 25. Kistemaker parece se ater ao apresentado aqui. 25 Kenneth A. Strand, Interpreting the Book of 28 Cf. K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’ Revelation: Hermeneutical Guidelines, with Brief Scenes”, Symposium on Revelation: Introductory Introduction to Literary Analysis (Worthington, OH: and Exegetical Studies, vol. 1, Daniel and Revelation Ann Arbor, 1979), 54-55. Committee Series, editado por F. B. Holbrook (Silver 26 Beale, 864, observa que “a existência da besta Spring, MI: Biblical Research Institute, Associação se estende do princípio ao fim da história...” Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 1992), 67. 26 Cf., K. A. Strand, “‘Victorious-Introduction’ 29 Nichol, 856, sugere: a ausência no grego de Scenes in Symposium on Revelation: Introductory um artigo definido antes da palavra ‘oitavo’ sugere and Exegetical Studies”, Book 1, Daniel and Reve- que a própria besta era a real autoridade por trás lation Committee Series, editado por F. B. Holbrook das sete cabeças e que, dessa forma, é mais do que (Silver Springs, MI: Biblical Research Institute, meramente uma outra cabeça, a oitava na seqüência. Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, É a sua conclusão e clímax – a própria besta”. Essa 1992), 67. observação é sustentada por Kistemaker, 473, e 27 Essa opção é mencionada por Beale, 875: “A Mounce, 318. tentativa de identificar os sete reis com respectivos 30 Kistemaker, 473. Cf. Ladd, 231. impérios mundiais em particular poderá ter mais su- 31 Kistemaker, 432, faz uma observação similar cesso [do que uma tentativa de identificar as cabeças declarando que “esse pequeno período não deve ser com os imperadores romanos], desde que isso tenha tomado literalmente, mas simbolicamente... Por- mais a ver com as ‘sete cabeças’ em Daniel 7:3-7, tanto, o termo pouco tempo é um pequeno período que representa quatro impérios específicos. Os cinco cronológico funcionando dentro de um período de primeiros reis, que ‘caíram’são identificados com o tempo mais abrangente”. Por outro lado, Beale, 872, Egito, a Assíria, a Babilônia, a Pérsia e a Grécia; sugere “que as seis primeiras ‘cabeças’ (= reinos) Roma é aquela que ‘é’, seguida por um império duram um longo tempo provavelmente por toda a ainda desconhecido que há de vir”. Na página 560 ele história, em contraste com a sétima ‘cabeça’”. Ele declara: “Assim como os reinos com sete cabeças em baseia sua sugestão em Apocalipse 20:3, quando Daniel 7:4-7 atravessam a história da Babilônia até Satanás é solto por “pouco tempo”. No entanto, o fim, da mesma forma a besta com sete cabeças de Apocalipse 20:3 usa uma expressão diferente (mikron Apocalipse 17 atravessa muitos séculos e, da mesma chronon) e, dessa forma, não é realmente comparável forma, toda a história...” Osborne, 619, e Mounce, com Apocalipse 17:10 (oligon) e Apocalipse 12:12 317, relacionam os mesmos impérios. Entretanto, (oligon kairon). Mounce mostra que Alford identifica a sétima cabeça 32 Nichol, 811. como “o império cristão iniciado com Constantino” 33 Ibid, 857. (317). Kistemaker, 471, assegura que “as sete colinas 34 Strand, Interpreting the Book of Revelation, apontam para poderes mundiais que têm o seu lugar 56. na história”. Ele menciona os cinco impérios que já 35 De acordo com Apocalipse 17:16, a besta e os caíram: Babilônia, Assíria, Neo-Babilônia, Medo- chifres se voltarão contra a prostituta e a atacarão e Pérsia e Greco-Macedônia. A sexta cabeça é Roma. destruirão. Neste contexto, as cabeças não são men- A sétima são “todos os governos anti-cristãos desde cionadas, somente a besta e os chifres. Se as cabeças são principalmente entidades passadas – como sugerido acima – isto faz perfeito sentido. 36 Beale, 871.