1. 6 Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
O GLOBO
OPINIÃO
Não há alternativa à aplicação da Lei
A
presidente Dilma Rousseff se disse do cometidos por quem é pago para evitá- liciais e bombeiros insubordinados, puni- Agrava o quadro a atuação na crise de po-
estarrecida com as gravações, fei- los, um crime em si inominável. E com im- dos por infringir a legislação nos três anos líticos oportunistas. Uma das gravações
tas com autorização da Justiça, de plicações políticas sérias devido ao contex- anteriores. O presidente, movido por co- ouvidas por Dilma registra a deputada esta-
conversas de líderes da greve de to em que podem ter sido praticados. Em nhecidos pendores ideológicos sindicalis- dual do PSOL Janira Rocha em contato com
PMs baianos. Divulgados pelo “Jornal Naci- tudo isso, e não apenas na Ba- tas, passou por cima da legisla- o cabo bombeiro Benevenuto Daciolo. Este,
onal” de quarta-feira, os diálogos são escla- hia, há uma inaceitável afron- ção e assim estimulou novos em Salvador, aonde fora apoiar e manter
recedores sobre os caminhos perigosos ta ao Estado e à ordem jurídi- movimentos ilegais. Não foi contato com o comando grevista, é estimu-
que este movimento de policiais e bombei- ca, para muito além da ques- Táticas usadas considerada sequer a Consti- lado por Janira a fazer o possível para evi-
ros, de alcance nacional, tem percorrido. tão do soldo dos PMs. tuição, em que há proibição ex- tar qualquer acordo na Bahia, a fim de a gre-
Em um dos trechos, o líder do motim na É mesmo de estarrecer, co- por grevistas na plícita a paralisações de forças ve ser mantida e, assim, potencializar uma
Bahia, Marco Prisco, preso na retomada da mo afirmou a presidente. E, militares, como a PM e corpo- paralisação no Rio de Janeiro. Ao desem-
Assembleia Legislativa baiana pelo poder com acerto, Dilma afirmou ser Bahia equivalem rações de bombeiros. No ano barcar no Galeão, Daciolo foi preso, como
público, convoca mais policiais grevistas contra anistiar policiais gre- seguinte, viria a inconcebível deveria. Os amotinados têm, ainda, conta-
para Salvador, e estimula que a Rio-Bahia, vistas baianos. “Por reivindi- a atos de invasão do quartel geral dos tos no Congresso, conforme outra das gra-
estrada federal de ligação Nordeste-Sul, se- cações, as pessoas não podem Bombeiros no Rio, também vações, em que Daciolo conversa com al-
ja fechada por atos de vandalismo. O inter- ser presas nem condenadas. terrorismo com apoio de PMs. E mais uma guém “importantíssimo” sobre a PEC-300, a
locutor diz que irá “queimar duas carretas” Agora, por atos ilícitos, por vez o esquema político por emenda constitucional para permitir a cria-
na via, com a concordância de Prisco — crimes contra a pessoa e a or- trás desses motins conseguiu ção de um piso nacional de PMs e bombei-
“Fecha a BR aí, meu irmão”. O nome disso é dem pública, não podem ser aprovar nova anistia no Con- ros, proposta inexequível.
terrorismo. Fica, então, mais sólida a sus- anistiadas.” gresso. Sentindo-se protegido, o movimen- Não há alternativa aos governos a não ser
peita de que assassinatos ocorridos em Sal- Mas foram, e mais de uma vez. Em janeiro to passou a agir com táticas terroristas, aplicar a lei com rigor. A insubordinação foi
vador durante a paralisação possam ter si- de 2010, Lula sancionou lei de anistia de po- aplicadas na Bahia. longe demais.
Cinismo russo e chinês na crise síria
O
ditador sírio Bashar Assad conti- milhares de pessoas? E só há uma coisa e falar grosso com o Ocidente pode render de agir. Até a China resolve enviar um diplo-
nua se aproveitando do veto de mais desvalorizada no mercado hoje que os muitos votos na Rússia, às custas das vidas mata para contatos com a oposição síria.
Rússia e China à ação do Conse- títulos da Grécia: as promessas de Assad. de milhares de sírios que ele finge defen- A comunidade internacional deve imple-
lho de Segurança da ONU para ar- Rússia e China parecem mo- der. mentar da forma mais eficiente possível as
rasar a cidade de Homs com bombardeio vidos por velhas noções da A diplomacia se movimenta. sanções contra Damasco, ao mesmo tempo
pesado, atacando homens, mulheres e cri- Guerra Fria, felizmente já se- Os Estados Unidos, imobiliza- em que insiste com Moscou e Pequim para
anças sob o pretexto de reprimir os que lu- pultadas. Por trás dos princí- População paga dos pelo veto russo-chinês no que modifiquem sua posição e convençam
tam contra seu regime. Os Assad estão no pios diplomáticos de Putin es- Conselho de Segurança, Bashar Assad a deixar o poder. É patente
poder há 31 anos. tá o desejo de manter vestígi- com vidas propõem a criação do grupo que nem o Kremlin nem Pequim se sentem à
Rússia e China agiram movidas por la- os de poder da União Soviéti- dos Amigos da Síria para reto- vontade com primaveras árabes ou de ou-
mentável cinismo ao vetar uma versão já ca em antigas áreas de influên- inação da mar a iniciativa. A União Euro- tra natureza. Multidões nas ruas e praças
desidratada de um plano da Liga Árabe, cia, como o Oriente Médio. A peia estuda novas sanções ao pedindo a cabeça de ditadores não lhes fa-
apoiado pelo Conselho de Segurança, com Rússia herdou da URSS a única comunidade regime de Assad. A Liga Árabe zem bem. Temem o efeito contágio.
objetivo de deter a carnificina. O presiden- base naval em “mares quen- anuncia que reenviará sua mis- Mas será imperdoável que ambos conti-
te da Rússia, Vladimir Putin, diz considerar tes”, no Mediterrâneo, em Tar- internacional são à Síria, e o secretário-geral nuem bloqueando uma missão que, mesmo
inadmissível a interferência em assuntos tus, na Síria. Há motivos mais da ONU, Ban Ki-moon, concor- com seu apoio, é extremamente complexa:
internos de outro país e oferece as garanti- cínicos: o atual regime sírio é da em torná-la conjunta. A Tur- impedir que um ditador que nem desejava
as obtidas por seu chanceler em Damasco um grande comprador de ar- quia diz que não pode mais fi- o cargo — assumiu com a morte do pai por-
de que Assad vai parar com o banho de san- mas russas, um cliente que Moscou não car apenas observando a carnificina e des- que seu irmão mais velho, Basel, morrera
gue. É o caso de se perguntar: o que vale quer perder. Putin, atual premier russo, es- loca seu chanceler, Ahmet Davutoglu, para num acidente de automóvel — prossiga
mais, um princípio diplomático ou a vida de tá em campanha para voltar à presidência, discutir com a Casa Branca a melhor forma martirizando a população síria.
Para acabar o banho de sangue Marcelo
RASHEED ABOU-ALSAMH quando Hafez al-Assad veio ao poder Slaughter, que é a ex-diretora de pla-
A
por um golpe militar. Todos seus ad- nejamento do Departamento de Esta-
violência incessante que se versários foram mortos, encarcera- do americano, acredita que seguindo
alastra na Síria desde março dos e torturados, ou despachados a doutrina de “responsabilidade para
do ano passado, com mani- para o exílio no estrangeiro. Uma re- proteger”, que foi usado em 1999
festantes pedindo mais li- de de informantes através do país in- quando a Otan bombardeou a antiga
berdade sendo violentamente repri- culcou um medo de criticar qualquer Iugoslávia para pôr fim ao genocídio
midos pelas forças do governo, nos medida governamental ou líder em dos mulçumanos em Kosovo, uma in-
últimos dias tem atingindo níveis ina- público. Esse mês marca os 30 anos vasão da Síria para proteger os civis
ceitáveis na cidade de Homs. Cente- do massacre de Hama, que ocorreu sendo brutalmente mortos lá poderia
nas de homens, mulheres e crianças em fevereiro de 1982, quando Hafez ser defendida na ONU.
estão sendo brutalmente assassina- mandou o exército pôr fim a um mo- É verdade que não há muito estô-
dos por bandos de milícias pró-go- vimento islamita naquela cidade. mago no momento nos EUA e na Grã-
verno, ou vítimas dos bombardeios A cidade inteira foi demolida por Bretanha para mais uma campanha
implacáveis da força aérea que deixa- um bombardeio brutal que matou até aérea como foi feito na Líbia . Mas é
ram mais de 200 bombas cair sobre a 40.000 pessoas. Infelizmente, os es- justamente aqui que os países ricos
cidade na segunda-feira em somente querdistas de plantão no Ocidente fi- como a Arábia Saudita e o Catar po-
quatro horas. Depois do veto da Rús- caram encantados por Bashar e sua dem entrar com dinheiro para finan-
sia e da China no Conselho de Segu- mulher Asma em 2000, quando ele ciar tal campanha militar na Síria, e
rança das Nações Unidas, em Nova herdou o poder do pai depois da mor- também com seus aviões caça de ulti-
York, no domingo, de uma resolução te dele, seduzidos pelos dois jovens ma geração comprados do Ocidente.
que condenava o governo sírio pela profissionais, aparentemente boni- A Síria forma um eixo de amigos xii-
violência no país e que exigia o come- tos, charmosos, educados em Lon- tas começando no Irã, passando pelo
ço de um diálogo com a oposição, os dres e de perspectiva secular e mo- com os levantes da Primavera Árabe argumentam que uma força compos- Iraque e terminado no Líbano com o
apoiadores da resolução derrotada derna. Muitos na Síria tinham espe- varrendo a região, a Síria não ficou ta por tropas dos países do CCG, da Hezbollah. Tirar o Bashar do poder ia
foram reduzidos a xingar as duas po- ranças que Assad filho ia mudar as imune à onda revolucionária, e aqui Jordânia e da Turquia deveria invadir enfraquecer essa aliança xiita, que
tências orientais. Os EUA fecharam coisas no país, abrindo a economia e estamos quase um ano depois dos a Síria pelo sul e norte para estabele- ameaça os interesses políticos e eco-
sua embaixada em Damasco, e a Grã- deixando um espaço para a oposição primeiros confrontos entre manifes- cer zonas liberadas onde forças do nômicos do CCG e do Ocidente. A Sí-
Bretanha e a França, entre outros, na política. E ele abriu a economia tantes e os apoiadores de Bashar, Exército Livre da Síria (ELS) e refugia- ria e o mundo seriam lugares muito
chamaram seus embaixadores de mesmo, deixando a vizinha Turquia com 6.000 sírios mortos e o país nu- dos de cidades sob ataque do gover- melhores sem o “monstro” Bashar al-
volta para consultas. Os seis países investir em muitas áreas, uma mu- ma guerra civil brutal e possivelmen- no, como Homs e Hama, poderiam Assad. Nós não podemos deixar as
do Conselho de Cooperação do Gol- dança radical do passado em que a te longa. O dilema que confrontamos procurar refúgio. A Otan (da qual a forças dele continuarem a matar mi-
fo, liderado pela Arábia Saudita, reti- economia era centralizada e do esta- é esse: devemos invadir a Síria para Turquia é membro) e os EUA iam aju- lhares de inocentes sírios, que estão
raram seus enviados na Síria e expul- do, um legado da era quando a antiga pôr fim ao massacre covarde de civis dar com seu poder aéreo para des- clamando por mais liberdade, e ficar-
saram todos os diplomatas sírios nos União Soviética era a grande aliada inocentes em Homs, ou temos que truir os sistemas de defesa aérea do mos de braços cruzados esperando
seus territórios. da Síria. O problema aqui é que a mai- perseguir a diplomacia? Eu acho que governo sírio, e manter uma zona de que a diplomacia os salve. A hora de
O presidente sírio Bashar al-Assad, oria dos contratos foi para seus alia- está mais do que claro que a hora exclusão aérea sobre o país inteiro. É agir é agora.
que herdou o dom sádico e violento dos alawitas, seguidores da mesma chegou de usar força contra Bashar, claro que os invasores iam ter que
do seu pai, o sangrento Hafez, faz dis- vertente obscura da ala xiita do islã, porque falar com ele não levou a na- entrar na Síria com metas claras e pú- RASHEED ABOU-ALSAMH é jornalista,
cursos acusando os manifestantes da qual Bashar faz parte. da, e lhe deu a oportunidade de ma- blicas de somente proteger civis, e colaborador do "Al-Ahram Weekly" (Egito)
de serem espiões estrangeiros, mobi- Por muito tempo a Síria se conside- tar mais dos seus compatriotas. criar um espaço seguro para a oposi- e do site Tehran Bureau (EUA), foi
lizados para arruinar o país. Na men- rou o líder do nacionalismo árabe, es- Em um artigo muito interessante ção poder negociar a saída do Bashar colunista e editor do "Arab News" (Arábia
te dele é tudo um complô para acabar pecialmente por causa do seu forte publicado no “The National”, de Abu do poder e a transição para um futu- Saudita) e do "The National" (Emirados
com seu reino como ditador implacá- ódio por Israel, um vizinho para o Dhabi, no dia 5 de fevereiro, um ana- ro democrático com eleições hones- Árabes).
vel. Na verdade, a Síria já tinha virado qual perdeu as Colinas de Golan na lista militar dos Emirados Árabes, tas e abertas para tudo mundo. A aca- Blog: http://www.rasheedsworld.com.
um estado de polícia desde 1970 Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mas, Ahmed Al Attar, e William J. Maloney dêmica americana Anne-Marie Twitter: @RasheedsWorld.
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