SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
COMITÊ DE SOLIDARIEDADE À LUTA PELA TERRA – COMSOLUTE
FUNDADO EM 13 DE DEZEMBRO DE 2023
EM PLENO CARNAVAL, POLÍCIA CUMPRE FUNÇÃO DE CAPATAZ DO
LATIFÚNDIO EM JUNCO DO MARANHÃO
Na tarde do dia de hoje (10/2), por volta das 13h, três viaturas com um contingente de
seis policiais militares, sob comando do Sargento Lélis, oriundos dos municípios de Boa
Vista do Gurupi, Maracaçumé e Junco do Maranhão, armados de fuzis e pistolas,
dirigiram-se à Gleba Campina (Junco do Maranhão) com o objetivo expresso de prender
os camponeses que ali trabalhavam em mutirão nos seus lotes... E, de maneira
escandalosa, os policiais estavam acompanhados do “gerente” da fazenda, Claudemir
Moreira, o “Bill”: sujeito que é apontado pelos pistoleiros, em depoimento coletado pela
polícia civil, como um dos mandantes da milícia armada encabeçada por Adilson Secco,
que tem destruído as benfeitorias dos camponeses na Gleba Campina.
Como a tentativa restou frustrada, dirigiram-se para a residência de uma das lideranças
da comunidade Vilela, conforme se comprova em imagens recebidas pelo
COMSOLUTE, com o propósito de intimidar os moradores para que "não retornem à
gleba", pois, em desrespeito e confronto à decisão judicial, afirmaram que a área “tem
dono”.
Durante a tentativa de intimidação da líder camponesa, disseram que estavam a mando
do Tenente-Coronel Lenine e que este último recebera uma ligação dos supostos "donos
da terra" – i.e., os reconhecidos grileiros das áreas dos camponeses, fato extensivamente
documentado, anexado aos autos processuais e denunciado à sociedade. Na referida
diligência, avisaram, sem nenhuma formalidade que justificasse sua ação arbitrária, que
a ordem ilegal do comando era para que a polícia fosse na área "proteger a construção de
uma estrada" no meio dos lotes dos moradores.
Um verdadeiro acinte, com a polícia se colocando como mero "ajudante de ordens" do
latifúndio, como seus capangas, ombro a ombro!
Por mais que exista a denúncia de todos os tipos de crimes cometidos no conflito em
questão, desde fraude cartorária até assassinatos, nunca a Polícia Militar do Estado do
Maranhão, diante de tantos fatos incontestes, fez qualquer “visita” intimidatória aos
grileiros; no entanto, basta apenas um par de telefonemas para que ela rapidamente se
mobilize para aterrorizar trabalhadores.
No carnaval, enquanto parte da polícia militar do Maranhão é humilhada pelo governador
para proteger balões de propaganda, a outra parte é liberada para cumprir a mais
tradicional função, como braço do latifúndio, de acossar camponeses que querem colocar
suas roças para delas poderem viver dignamente!
O COMSOLUTE reitera que não existe reintegração de posse marcada contra a
comunidade; que esta nem ao menos poderia ser autorizada, pois a sentença judicial
desfavorável aos camponeses está suspensa por ordem do desembargador; para além dos
documentos da fazenda estarem bloqueados judicialmente devido a fortes indícios de
irregularidade. Os fatos ocorridos hoje só podem nos levar a interpretar esta ação como
abuso de autoridade puro e simples, ilegalidade cometida em nome dos interesses dos
grileiros da região, numa atitude de reprimenda à realização da exitosa assembleia
camponesa no domingo passado, onde a comunidade reafirmou o caminho da luta!
Camponeses fazem mutirão na Gleba Campina no dia 9/2, com grande entusiasmo e coragem.
Queremos uma vez mais responsabilizar o Governador do Estado, o Comando Geral da
Polícia Militar e o Secretário de Segurança por mais esse abuso de autoridade cometido
pela polícia militar contra os camponeses da Gleba Campina. Denunciamos ao Ministério
Público do Maranhão, que tome as providências cabíveis, e à Ouvidoria Geral da Polícia
Militar, para que adote as providências necessárias a fim de investigar essa ação. O
COMSOLUTE convoca toda a sociedade, entidades e figuras democráticas para fazer
frente a esse tipo de intimidação, que tem se tornado prática comum e rotineira contra
camponeses, ribeirinhos, quilombolas e suas lideranças.
Toda solidariedade à luta camponesa pela Terra!
10 de fevereiro de 2024
ADENDO À NOTA DO DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2024
Comunicamos através deste adendo que, embora o Sargento Lélis de Junco do Maranhão
estivesse “comandando” em campo a ação policial denunciada em nossa nota do dia 10
de fevereiro de 2024, o verdadeiro comandante da operação foi o Sargento Arlan, de
Boa Vista do Gurupi.
Esta informação, a qual só tivemos acesso nesse momento, acrescenta uma camada a mais
à nossa denúncia; uma vez que o Sr. Sargento Arlan é conhecido pessoal, de longa data,
do falecido grileiro Nestor Osvaldo Finger e de sua família. Podemos comprovar isto em
foto publicada nas redes sociais: Arlan está a esquerda, com camisa do Flamengo, e
Nestor e sua viúva, Carla Storch, ao centro.
Com esse novo fato, a denúncia torna-se ainda mais grave: a ação policial, além de ser
ilegal, é carregada de possíveis razões escusas, intermediadas por uma relação entre
grilagem e as instituições públicas, construídas ao longo dos anos. A forma na qual estas
relações são expostas em redes sociais, com bastante naturalidade, demonstram a
presunção de impunidade dos indivíduos em questão.
Esta é mais uma prova que a mobilização de policiais de várias regiões em incursões
constantes está no âmbito de interesses pessoais e ilegais, em benefício de ladrões de
terras, tudo isto com a utilização da máquina pública e seus recursos Enquanto isto, os
camponeses da Gleba Campina, que cumprem a Constituição Federal, o Código Civil, o
Estatuto da Terra e a Lei de Reforma Agrária, estão sendo perseguidos e diuturnamente
humilhados por “insistirem” em viver e trabalhar numa terra que é deles de fato e de
direito.
Toda solidariedade à luta camponesa pela Terra!
16 de fevereiro de 2024
Luiz Vila Nova
Presidente
Jorge Moreno
Secretário Geral
OAB/MA 4.520
e-mail: comsolute@proton.me

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Nota COMSOLUTE 10-2 (com adendo em 16-2).pdf

Ação dos soldados da PM contra O Blog
Ação dos soldados da PM contra O BlogAção dos soldados da PM contra O Blog
Ação dos soldados da PM contra O BlogMarcelo Auler
 
Inconfidência nº 199‏
Inconfidência nº 199‏Inconfidência nº 199‏
Inconfidência nº 199‏Lucio Borges
 
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieira
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieiraEldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieira
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieiraLucas Schuab Vieira
 
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!comsolute
 
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015Fabricio Rocha
 
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MA
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MATodo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MA
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MAcomsolute
 

Semelhante a Nota COMSOLUTE 10-2 (com adendo em 16-2).pdf (11)

Ação dos soldados da PM contra O Blog
Ação dos soldados da PM contra O BlogAção dos soldados da PM contra O Blog
Ação dos soldados da PM contra O Blog
 
Inconfidência nº 199‏
Inconfidência nº 199‏Inconfidência nº 199‏
Inconfidência nº 199‏
 
Jn 14 05
Jn 14 05Jn 14 05
Jn 14 05
 
O Cangaço em Fogo Morto
O Cangaço em Fogo MortoO Cangaço em Fogo Morto
O Cangaço em Fogo Morto
 
Jornal @verdade ed389 qui-12-05-16 . DELFIM ANACLETO
Jornal @verdade ed389 qui-12-05-16 . DELFIM ANACLETOJornal @verdade ed389 qui-12-05-16 . DELFIM ANACLETO
Jornal @verdade ed389 qui-12-05-16 . DELFIM ANACLETO
 
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieira
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieiraEldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieira
Eldorado dos carajás (17 04-1996)- lucas schuab vieira
 
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!
NOTA COMSOLUTE 13/3/24 - Viva o Tribunal Popular!
 
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015
Relatório Final da CPI das milícias - Belém-Pará - 2014-2015
 
Coluna janeiro
Coluna janeiroColuna janeiro
Coluna janeiro
 
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MA
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MATodo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MA
Todo apoio aos camponeses de Barra do Corda/MA
 
Nota delegado de bom jesus go
Nota delegado de bom jesus goNota delegado de bom jesus go
Nota delegado de bom jesus go
 

Nota COMSOLUTE 10-2 (com adendo em 16-2).pdf

  • 1. COMITÊ DE SOLIDARIEDADE À LUTA PELA TERRA – COMSOLUTE FUNDADO EM 13 DE DEZEMBRO DE 2023 EM PLENO CARNAVAL, POLÍCIA CUMPRE FUNÇÃO DE CAPATAZ DO LATIFÚNDIO EM JUNCO DO MARANHÃO Na tarde do dia de hoje (10/2), por volta das 13h, três viaturas com um contingente de seis policiais militares, sob comando do Sargento Lélis, oriundos dos municípios de Boa Vista do Gurupi, Maracaçumé e Junco do Maranhão, armados de fuzis e pistolas, dirigiram-se à Gleba Campina (Junco do Maranhão) com o objetivo expresso de prender os camponeses que ali trabalhavam em mutirão nos seus lotes... E, de maneira escandalosa, os policiais estavam acompanhados do “gerente” da fazenda, Claudemir Moreira, o “Bill”: sujeito que é apontado pelos pistoleiros, em depoimento coletado pela polícia civil, como um dos mandantes da milícia armada encabeçada por Adilson Secco, que tem destruído as benfeitorias dos camponeses na Gleba Campina. Como a tentativa restou frustrada, dirigiram-se para a residência de uma das lideranças da comunidade Vilela, conforme se comprova em imagens recebidas pelo COMSOLUTE, com o propósito de intimidar os moradores para que "não retornem à gleba", pois, em desrespeito e confronto à decisão judicial, afirmaram que a área “tem dono”. Durante a tentativa de intimidação da líder camponesa, disseram que estavam a mando do Tenente-Coronel Lenine e que este último recebera uma ligação dos supostos "donos da terra" – i.e., os reconhecidos grileiros das áreas dos camponeses, fato extensivamente documentado, anexado aos autos processuais e denunciado à sociedade. Na referida diligência, avisaram, sem nenhuma formalidade que justificasse sua ação arbitrária, que a ordem ilegal do comando era para que a polícia fosse na área "proteger a construção de uma estrada" no meio dos lotes dos moradores. Um verdadeiro acinte, com a polícia se colocando como mero "ajudante de ordens" do latifúndio, como seus capangas, ombro a ombro! Por mais que exista a denúncia de todos os tipos de crimes cometidos no conflito em questão, desde fraude cartorária até assassinatos, nunca a Polícia Militar do Estado do Maranhão, diante de tantos fatos incontestes, fez qualquer “visita” intimidatória aos
  • 2. grileiros; no entanto, basta apenas um par de telefonemas para que ela rapidamente se mobilize para aterrorizar trabalhadores. No carnaval, enquanto parte da polícia militar do Maranhão é humilhada pelo governador para proteger balões de propaganda, a outra parte é liberada para cumprir a mais tradicional função, como braço do latifúndio, de acossar camponeses que querem colocar suas roças para delas poderem viver dignamente! O COMSOLUTE reitera que não existe reintegração de posse marcada contra a comunidade; que esta nem ao menos poderia ser autorizada, pois a sentença judicial desfavorável aos camponeses está suspensa por ordem do desembargador; para além dos documentos da fazenda estarem bloqueados judicialmente devido a fortes indícios de irregularidade. Os fatos ocorridos hoje só podem nos levar a interpretar esta ação como abuso de autoridade puro e simples, ilegalidade cometida em nome dos interesses dos grileiros da região, numa atitude de reprimenda à realização da exitosa assembleia camponesa no domingo passado, onde a comunidade reafirmou o caminho da luta! Camponeses fazem mutirão na Gleba Campina no dia 9/2, com grande entusiasmo e coragem. Queremos uma vez mais responsabilizar o Governador do Estado, o Comando Geral da Polícia Militar e o Secretário de Segurança por mais esse abuso de autoridade cometido pela polícia militar contra os camponeses da Gleba Campina. Denunciamos ao Ministério Público do Maranhão, que tome as providências cabíveis, e à Ouvidoria Geral da Polícia Militar, para que adote as providências necessárias a fim de investigar essa ação. O COMSOLUTE convoca toda a sociedade, entidades e figuras democráticas para fazer frente a esse tipo de intimidação, que tem se tornado prática comum e rotineira contra camponeses, ribeirinhos, quilombolas e suas lideranças. Toda solidariedade à luta camponesa pela Terra! 10 de fevereiro de 2024
  • 3. ADENDO À NOTA DO DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2024 Comunicamos através deste adendo que, embora o Sargento Lélis de Junco do Maranhão estivesse “comandando” em campo a ação policial denunciada em nossa nota do dia 10 de fevereiro de 2024, o verdadeiro comandante da operação foi o Sargento Arlan, de Boa Vista do Gurupi. Esta informação, a qual só tivemos acesso nesse momento, acrescenta uma camada a mais à nossa denúncia; uma vez que o Sr. Sargento Arlan é conhecido pessoal, de longa data, do falecido grileiro Nestor Osvaldo Finger e de sua família. Podemos comprovar isto em foto publicada nas redes sociais: Arlan está a esquerda, com camisa do Flamengo, e Nestor e sua viúva, Carla Storch, ao centro. Com esse novo fato, a denúncia torna-se ainda mais grave: a ação policial, além de ser ilegal, é carregada de possíveis razões escusas, intermediadas por uma relação entre grilagem e as instituições públicas, construídas ao longo dos anos. A forma na qual estas relações são expostas em redes sociais, com bastante naturalidade, demonstram a presunção de impunidade dos indivíduos em questão. Esta é mais uma prova que a mobilização de policiais de várias regiões em incursões constantes está no âmbito de interesses pessoais e ilegais, em benefício de ladrões de terras, tudo isto com a utilização da máquina pública e seus recursos Enquanto isto, os camponeses da Gleba Campina, que cumprem a Constituição Federal, o Código Civil, o Estatuto da Terra e a Lei de Reforma Agrária, estão sendo perseguidos e diuturnamente humilhados por “insistirem” em viver e trabalhar numa terra que é deles de fato e de direito. Toda solidariedade à luta camponesa pela Terra! 16 de fevereiro de 2024
  • 4. Luiz Vila Nova Presidente Jorge Moreno Secretário Geral OAB/MA 4.520 e-mail: comsolute@proton.me