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        PROSA & VERSO                                                                               O GLOBO                                                                                 Sábado, 7 de janeiro de 2012
.




    E
            ntre os 18 contos reunidos em
            “Enquanto água”, novo livro
                                                                                                                                      que dá no mesmo) a multiplica.
                                                                                                                                         É com essas modificações e trans-
                                                                                                                                                                                            LANÇAMENTOS
            de Altair Martins (Record),                                                                                               figurações que a literatura, toda lite-
            um me causa uma perturba-                                                                                                 ratura, joga. Mesmo o mais realista
    ção mais intensa: “O núcleo das estre-
    las”. É um conto espantoso. O jogo in-
    telectual oscila entre a erudição e a
    ironia. Entre a angústia e a coragem.
                                                  JOSÉ CASTELLO                                                                       dos escritores se move em mundos
                                                                                                                                      paralelos, onde nossas regras de es-
                                                                                                                                      timação se despedaçam e nossos
                                                                                                                                      contornos se apagam. Daí a força da
    Relata a história de um professor que                                                                                             ficção: ela consegue expandir o que,
    vive estranhas experiências senso-                                                                                                sem ela, é pura repetição e monoto-
                                                                                                                              Cruz
    riais. Talvez sejam efeitos neurológi-                                                                                            nia. Ela transfigura um mundo que, na
    cos. A epígrafe, atribuída ao médico                                                                                              modorra do cotidiano, nos parece
    italiano Constanzo Varólio (1543-                                                                                                 imóvel.
    1675), sugere isso. Ela se refere à Pon-                                                                                             Acompanhado da esposa, o profes-
    te de Varólio, estrutura condutora do                                                                                             sor vai a um casamento. Estranha-
    tronco cerebral.                                                                                                                  mente, não são só os noivos que se
       Diz a epígrafe: “Porque é, de fato, en-                                                                                        casam, mas todos os presentes, in-
    tre outras, a percepção do contorno                                                                                               cluindo o padre! Há nessa experiên-
                                                                                                                                                                                            O mundo fora de prumo
    uma das mais nobres funções da Ponte                                                                                              cia, como ele mesmo constata, “uma
                                                                                                                                                                                            — Transformação
    de Varólio”. O problema do persona-                                                                                               expansão do homem tão oposta ao
                                                                                                                                                                                            social e teoria política
    gem de Altair, um professor de semió-                                                                                             humanismo”. Talvez já nem seja pos-
                                                                                                                                                                                            em Shakespeare, de José
                                                                                                                                                                                            Garcez Ghirardi • Editora
    tica, é justamente este: os contornos                                                                                             sível, mais, falar em homem, mas ape-
                                                                                                                                                                                            Almedina, 224 pgs • R$ 39
    de sua percepção entraram em pane. A                                                                                              nas em borras humanas. Sujeitos que
    realidade, em consequência, se dissol-                                                                                            se misturam, que se dissolvem uns
    ve diante de seus olhos. Pode ser, tam-                                                                                           nos outros e que sobrevivem em uma                    ● Doutor e mestre em

    bém, um delírio. Até um pesadelo. Para                                                                                            aflitiva, mas bela interdependência.                  literatura inglesa pela
    além de todas as hipóteses médicas, é                                                                                                Há ainda, como define o professor, a               USP, Ghirardi analisa a
    um evento literário, que o escritor gaú-                                                                                          experiência do “fluxo perpétuo”. Como                 sociedade
    cho manobra com grande habilidade e                                                                                               se ele desembarcasse no coração de                    contemporânea a partir
    ousadia.                                                                                                                          uma estrela. Penso em Sirius, a mais                  da visão do dramaturgo,
       Altair me empurra para a web, em                                                                                               brilhante das estrelas observadas em                  que colocou em cena
    busca de pistas para ler sua ficção.                                                                                              nosso planeta. Nessa bola de plasma                   sentimentos e tensões
    Toda ficção faz de nós, leitores, aven-                                                                                           contida apenas pela gravidade, Altair                 ainda hoje vividos no
    tureiros. Em minha navegação, chego                                                                                               avança em direção ao núcleo, de onde                  cotidiano.



                                                    Altair em Sirius
    a um artigo do neurologista Afonso                                                                                                — por efeito da fusão nuclear — pro-
    Neves que trata da história do sono.                                                                                              vém seu brilho. Ali, naquele miolo, a
    Relata o autor: na Grécia Antiga, no                                                                                              estrela pulsa. É no núcleo, ponto em
    Templo de Asclépio, o deus grego da                                                                                               que todas as formas nascem e ganham
    medicina, os pacientes eram levados                                                                                               seus contornos, que não só a vida, mas
    a dormir, para que, durante o sono,                                                                                               a ficção se decide.
    recebessem a visita de seu deus, que         esses eventos longínquos, ele con- se dissolve. Mas é só quando abri-                   Também ao personagem de Altair,
    lhes ditava a cura. Ao acordarem, os         clui, quando seus contornos vazam. mos as portas de nosso pequeno Eu                 postado em seu núcleo, “não lhe as-
    tratamentos ditados em sonhos eram           Neste momento, “a massa corporal e entramos em contato com os ou-                    sombram as ideias penadas, que tei-
    informados aos sacerdotes, que os            derrete, e todos adquirem, num dizer tros que a realidade se alarga. Eis a           mam aparições”. Em outras pala-
    registravam em um códice.                    menos intuitivo que técnico, a beleza experiência básica da literatura: sem          vras: já não há lugar para o fantas-
       Por que penso no sono? Penso nele         da chama”. Ele pensa,                             um leitor que devore a             ma modorrento da repetição. Não:
    porque o estado do personagem de             então, em um “sol agua-                           escrita, escrita não há.           no núcleo, só existe o nascimento.
    Altair se assemelha à experiência no-        do de Onetti” — referên-                             A ideia da vacuidade é          Ele é o ponto primeiro a que cada
    turna. Refere-se, ainda, à necessidade       cia ao escritor uruguaio A literatura exige muito boa para compre-                   escritor retorna quando começa a
    de conexões diurnas (laços, afetos),         Juan Carlos Onetti —,                             ender o conto de Altair.           escrever. Espécie de ponto zero, no                   Educação,
    sem os quais os objetos não existem,         estrela que, em sua ple-     dos escritores       Segundo ela, todas as              qual todas as forças são possíveis,                   contraideologia e
    isto é, caem nas trevas. O próprio           nitude, empresta às pes-                          coisas existem por de-             no qual todos os contornos podem                      cultura — Desafios e
    narrador cita o filósofo judeu Martim        soas “fome e fosfores-      ousadia. E isso, pendência ou interde-                   ser traçados, e isso porque não exis-                 perspectivas, de Carlos
    Buber, segundo quem não existe exis-         cência”.                                          pendência, e não por si            te contorno algum.                                    Guilherme Mota • Editora
    tência sem diálogo, ou vínculos. Em             De que trata, afinal, o      a ousadia,        mesmas. Fora disso, o                 O conto de Altair Martins pode ser                 Globo, 512 pgs • R$ 59,90
    consequência, os objetos não exis-           enigmático conto de Al-                           vazio. Portanto: a reali-          lido (assim eu o leio) como uma enig-
    tem se não estiverem conectados a            tair Martins? A ficção          não falta a       dade só se configura               mática metáfora a respeito da origem                  ● Terceiro volume da
    ideias. Um objeto sozinho, distancia-        lhe dá a possibilidade                            quando abandonamos                 dos escritores. É naquele lugar fer-
                                                                                                                                                                                            coleção que reúne os
    do de uma mente que lhe dê contor-           de promover uma ex-          Altair Martins       nossos casulos pes-                vente em que todas as fronteiras se
                                                                                                                                                                                            textos do historiador —
    no, nada é.                                  plosão dos contornos                              soais. Um mundo de su-             quebram, ali onde todos os contor-
                                                                                                                                                                                            prêmio Machado de
       Vejam por que pensamentos estra-          clássicos que definem                             jeitos encapsulados se-            nos fracassam, que um escritor con-
                                                                                                                                                                                            Assis, da Academia
    nhos a ficção nos leva! O fluido per-        não só o gênero, conto,                           ria um deserto. É quan-            segue, de fato, começar a escrever.
                                                                                                                                                                                            Brasileira de Letras, em
    sonagem de Altair se interessa, por          mas a própria realidade. A experiên- do o professor volta da universidade            Daí que a literatura exija dos escrito-
                                                                                                                                                                                            2011, pelo conjunto da
    sua vez, por uma notícia veiculada na        cia nervosa leva o personagem a en- que os contornos começam a falhar.               res ousadia. E isso, a ousadia, não fal-
                                                                                                                                                                                            obra — o livro traz
    internet, que fala de uma estrela que        trar em contato com “a vacuidade de No banho, “está além do chuveiro,                ta a Altair Martins.
                                                                                                                                                                                            artigos publicados
    havia morrido milhares de anos-luz           cada indivíduo e uma fuga incessan- porque já se sente em três peças da
                                                                                                                                                                                            entre 1974 e 2009.
    antes de sua percepção pelos huma-           te de cada linha que torna as pes- casa”. A ausência de contornos, por-              Email: josegcastello@gmail.com. Leia mais textos do
    nos. As pessoas só dão importância a         soas muito distintas entre si”. O Eu tanto, anula a noção de espaço, ou (o           colunista em www.oglobo.com.br/blogs/literatura




[FICÇÃO][FICÇÃO][FICÇÃO][FICÇÃO]



Paixão em espaço e tempos distintos
Em novo romance, Tatiana Salem Levy volta a explorar narrativas marcadas pela memória
                                                                                                                 Divulgação
                                                                                                                                                   que vivem os momentos des-
                                                                                                                                                                                            Ascensão e queda do
                                                                                                                              TATIANA                                                       comunismo, de Archie
Dois rios, de Tatiana Salem                                                                                                                        sa paixão em geografias e
Levy. Editora Record, 224 páginas                                                                                             SALEM LEVY:          tempos diferentes.
                                                                                                                                                                                            Brown. Tradução de Bruno
R$ 34,90                                                                                                                                                                                    Casotti • Editora Record,
                                                                                                                              a escritora faz         “Dois rios”, além do nome
                                                                                                                                                                                            854 páginas • R$ 89,90
           Haron Gamal                                                                                                                             do livro e do lugarejo onde
                                                                                                                              uso de dois




N
                                                                                                                                                   acontece boa parte da história,
          as mãos de autores                                                                                                                       serve também como referência             ● Embasado por quatro
                                                                                                                              personagens-
          que já antecipavam a                                                                                                                     aos dois irmãos, porque, na              décadas de estudo, o
                                                                                                                              narradores com       verdade, eles deságuam na                cientista político e
          modernidade, o per-
          sonagem-narrador                                                                                                    vozes muito          mesma foz: Marie-Ange.                   historiador britânico
tornou-se componente eficaz,                                                                                                                          O leitor de romances, mes-            Archie Brown conta e
                                                                                                                              semelhantes          mo ao negar sua face conserva-           analisa minuciosamente
produzindo na maioria das ve-
zes artifícios que acabaram                                                                                                                        dora, normalmente gosta de,              a trajetória do
por se tornar uma das ques-                                                                                                                        no fim da leitura, ver equacio-          comunismo desde suas
tões fundamentais dos roman-                                                                                                                       nadas algumas das tensões que            raízes no século XIX até
ces. A literatura brasileira                                                                                                                       lhe desfilaram durante a narra-          sua expansão e declínio
apresenta numerosos exem-                                                                                                                          tiva. O livro de Tatiana nos re-         ao longo do século XX.
plos nesse sentido, que podem                                                                                                                      vela um ponto certeiro. Ambos,
ser constatados ainda no ro-                                                                                                                       irmão e irmã, concluem que, fi-
mantismo e, mais adiante, no                                                                                                                       cando ou partindo, estarão
nosso principal clássico, Ma-                                                                                                                      sempre na mais completa soli-
chado de Assis, sobretudo em                                                                                                                       dão. O surgimento da francesa
“Memórias póstumas de Brás                                                                                                                         ajudou cada um a superar o nó
Cubas”, “Dom Casmurro” e                                                                                                                           que os impedia de viver com
“Memorial de Aires”. Na con-                                                                                                                       mais plenitude. Joana deixa de
temporaneidade, temos dois                                                                                                                         lado a culpa e a mãe, e começa
exemplos de autores que sou-          deles, logicamente elas não po-   mulher fica (ao menos tempo-       cia, a saudade pelo que se foi,         a viver a própria vida; Antônio,
beram tirar o máximo proveito         deriam ser as mesmas. Numa        rariamente) e acaba tendo de       o amor e a promessa de eterna           que sempre fugiu dos proble-
desse personagem: Milton Ha-          leitura mais apurada, o que se    cuidar da mãe, que pouco a         união entre os dois irmãos              mas da pequena família, retor-
toum, em “Relatos de um certo         pode constatar é que os dois      pouco vai enlouquecendo. Um        permeiam muitos momentos                na para encará-los de frente.
oriente” e Bernardo Carvalho,         personagens-narradores são        segmento da narrativa am-          do texto. Mais à frente, no en-            Um episódio, no entanto,
em “Nove noites”. Tatiana Sa-         muito semelhantes,                             bientado à época      tanto, com a adolescência e a           mostra-se incoerente. A se-
lem Levy entra pelo mesmo             senão os mesmos.                               da ditadura militar   idade adulta, haverá a separa-          gunda parte do livro ocorre              Os sete enforcados, de
atalho, tentando dar aos narra-          O romance, divi-                            colore o romance      ção e o amor por outra pes-             num período de tempo quase               Leonid Andreiev. Tradução
dores de “Dois rios” o fôlego         dido em duas par-                              com tintas fortes,    soa. A descrição de paisagens           simultâneo ao da primeira,               de Eliana Sabino • Editora
necessário para levar sua his-        tes, apresenta na                              não deixando de       marítimas e imagens noturnas            mas há um momento em que                 Rocco, 168 pgs • R$ 24,50
tória até o fim.                      primeira uma mu-                               lado o cinzento pe-   revelam momentos de intensa             se situa à sua frente. Nela, Ba-
   Mas a empreitada, aqui, tor-       lher chamada Joa-                              ríodo da História     beleza da narrativa.                    tistine, avó de Marie-Ange,              ● A morte é o principal
na-se arriscada. Construir um         na. Ela relata sua                             do Brasil.                                                    morre, fato que é narrado por            personagem desta obra
romance em primeira pessoa            vida e o passado                                 “Dois rios”, se-      Entre chegadas e partidas,            Antônio. Quando Joana viaja              do autor russo, que
com dois narradores implica           da família. Na se-                             gundo romance de            a completa solidão                com a francesa, num momento              discute o sentido da vida
dois problemas. O primeiro é o        gunda, um ho-                                  Tatiana, segue, em       Uma terceira personagem,             posterior à volta do irmão,              a partir de uma história
sacrifício de um arrojo poético       mem, mais preci-                               parte, o mesmo te-    a francesa Marie-Ange, mes-             ambas encontram a persona-               sobre condenados à
maior em prol da objetividade         samente seu irmão                              ma do primeiro, “A    mo sem querer, acaba por                gem ainda viva. Talvez a trans-          forca. Com organização e
do que cada um tem a dizer. O         gêmeo, Antônio, se põe a nar-     chave de casa”, que é a memó-      unir as duas pontas do que se           gressão temporal sirva para              apresentação de
segundo é que isso exigiria mui-      rar parte dos mesmos fatos,       ria. Claro que, quando se trata    havia rompido, a ligação en-            mostrar que descober tas                 Fernando Sabino, o livro
to do escritor, porque se as pa-      acrescidos de outros que vi-      de romance, o que predomina        tre os dois irmãos. Joana e An-         prescindem de cronologia. ■              integra a coleção Novelas
lavras desses narradores te-          veu longe da irmã. Apenas um      é a ficção. Mas o retorno cons-    tônio, após a morte do pai,                                                      Imortais, idealizada por
riam de insinuar a psicologia e       acontecimento os diferencia:      tante ao passado, o trágico e      tornaram-se inimigos. Ambos             HARON GAMAL é doutor em                  ele para jovens leitores.
as idiossincrasias de cada um         o homem parte, enquanto a         inesperado término da infân-       se apaixonam pela mulher, só            literatura brasileira pela UFRJ

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  • 1. 4 ● PROSA & VERSO O GLOBO Sábado, 7 de janeiro de 2012 . E ntre os 18 contos reunidos em “Enquanto água”, novo livro que dá no mesmo) a multiplica. É com essas modificações e trans- LANÇAMENTOS de Altair Martins (Record), figurações que a literatura, toda lite- um me causa uma perturba- ratura, joga. Mesmo o mais realista ção mais intensa: “O núcleo das estre- las”. É um conto espantoso. O jogo in- telectual oscila entre a erudição e a ironia. Entre a angústia e a coragem. JOSÉ CASTELLO dos escritores se move em mundos paralelos, onde nossas regras de es- timação se despedaçam e nossos contornos se apagam. Daí a força da Relata a história de um professor que ficção: ela consegue expandir o que, vive estranhas experiências senso- sem ela, é pura repetição e monoto- Cruz riais. Talvez sejam efeitos neurológi- nia. Ela transfigura um mundo que, na cos. A epígrafe, atribuída ao médico modorra do cotidiano, nos parece italiano Constanzo Varólio (1543- imóvel. 1675), sugere isso. Ela se refere à Pon- Acompanhado da esposa, o profes- te de Varólio, estrutura condutora do sor vai a um casamento. Estranha- tronco cerebral. mente, não são só os noivos que se Diz a epígrafe: “Porque é, de fato, en- casam, mas todos os presentes, in- tre outras, a percepção do contorno cluindo o padre! Há nessa experiên- O mundo fora de prumo uma das mais nobres funções da Ponte cia, como ele mesmo constata, “uma — Transformação de Varólio”. O problema do persona- expansão do homem tão oposta ao social e teoria política gem de Altair, um professor de semió- humanismo”. Talvez já nem seja pos- em Shakespeare, de José Garcez Ghirardi • Editora tica, é justamente este: os contornos sível, mais, falar em homem, mas ape- Almedina, 224 pgs • R$ 39 de sua percepção entraram em pane. A nas em borras humanas. Sujeitos que realidade, em consequência, se dissol- se misturam, que se dissolvem uns ve diante de seus olhos. Pode ser, tam- nos outros e que sobrevivem em uma ● Doutor e mestre em bém, um delírio. Até um pesadelo. Para aflitiva, mas bela interdependência. literatura inglesa pela além de todas as hipóteses médicas, é Há ainda, como define o professor, a USP, Ghirardi analisa a um evento literário, que o escritor gaú- experiência do “fluxo perpétuo”. Como sociedade cho manobra com grande habilidade e se ele desembarcasse no coração de contemporânea a partir ousadia. uma estrela. Penso em Sirius, a mais da visão do dramaturgo, Altair me empurra para a web, em brilhante das estrelas observadas em que colocou em cena busca de pistas para ler sua ficção. nosso planeta. Nessa bola de plasma sentimentos e tensões Toda ficção faz de nós, leitores, aven- contida apenas pela gravidade, Altair ainda hoje vividos no tureiros. Em minha navegação, chego avança em direção ao núcleo, de onde cotidiano. Altair em Sirius a um artigo do neurologista Afonso — por efeito da fusão nuclear — pro- Neves que trata da história do sono. vém seu brilho. Ali, naquele miolo, a Relata o autor: na Grécia Antiga, no estrela pulsa. É no núcleo, ponto em Templo de Asclépio, o deus grego da que todas as formas nascem e ganham medicina, os pacientes eram levados seus contornos, que não só a vida, mas a dormir, para que, durante o sono, a ficção se decide. recebessem a visita de seu deus, que esses eventos longínquos, ele con- se dissolve. Mas é só quando abri- Também ao personagem de Altair, lhes ditava a cura. Ao acordarem, os clui, quando seus contornos vazam. mos as portas de nosso pequeno Eu postado em seu núcleo, “não lhe as- tratamentos ditados em sonhos eram Neste momento, “a massa corporal e entramos em contato com os ou- sombram as ideias penadas, que tei- informados aos sacerdotes, que os derrete, e todos adquirem, num dizer tros que a realidade se alarga. Eis a mam aparições”. Em outras pala- registravam em um códice. menos intuitivo que técnico, a beleza experiência básica da literatura: sem vras: já não há lugar para o fantas- Por que penso no sono? Penso nele da chama”. Ele pensa, um leitor que devore a ma modorrento da repetição. Não: porque o estado do personagem de então, em um “sol agua- escrita, escrita não há. no núcleo, só existe o nascimento. Altair se assemelha à experiência no- do de Onetti” — referên- A ideia da vacuidade é Ele é o ponto primeiro a que cada turna. Refere-se, ainda, à necessidade cia ao escritor uruguaio A literatura exige muito boa para compre- escritor retorna quando começa a de conexões diurnas (laços, afetos), Juan Carlos Onetti —, ender o conto de Altair. escrever. Espécie de ponto zero, no Educação, sem os quais os objetos não existem, estrela que, em sua ple- dos escritores Segundo ela, todas as qual todas as forças são possíveis, contraideologia e isto é, caem nas trevas. O próprio nitude, empresta às pes- coisas existem por de- no qual todos os contornos podem cultura — Desafios e narrador cita o filósofo judeu Martim soas “fome e fosfores- ousadia. E isso, pendência ou interde- ser traçados, e isso porque não exis- perspectivas, de Carlos Buber, segundo quem não existe exis- cência”. pendência, e não por si te contorno algum. Guilherme Mota • Editora tência sem diálogo, ou vínculos. Em De que trata, afinal, o a ousadia, mesmas. Fora disso, o O conto de Altair Martins pode ser Globo, 512 pgs • R$ 59,90 consequência, os objetos não exis- enigmático conto de Al- vazio. Portanto: a reali- lido (assim eu o leio) como uma enig- tem se não estiverem conectados a tair Martins? A ficção não falta a dade só se configura mática metáfora a respeito da origem ● Terceiro volume da ideias. Um objeto sozinho, distancia- lhe dá a possibilidade quando abandonamos dos escritores. É naquele lugar fer- coleção que reúne os do de uma mente que lhe dê contor- de promover uma ex- Altair Martins nossos casulos pes- vente em que todas as fronteiras se textos do historiador — no, nada é. plosão dos contornos soais. Um mundo de su- quebram, ali onde todos os contor- prêmio Machado de Vejam por que pensamentos estra- clássicos que definem jeitos encapsulados se- nos fracassam, que um escritor con- Assis, da Academia nhos a ficção nos leva! O fluido per- não só o gênero, conto, ria um deserto. É quan- segue, de fato, começar a escrever. Brasileira de Letras, em sonagem de Altair se interessa, por mas a própria realidade. A experiên- do o professor volta da universidade Daí que a literatura exija dos escrito- 2011, pelo conjunto da sua vez, por uma notícia veiculada na cia nervosa leva o personagem a en- que os contornos começam a falhar. res ousadia. E isso, a ousadia, não fal- obra — o livro traz internet, que fala de uma estrela que trar em contato com “a vacuidade de No banho, “está além do chuveiro, ta a Altair Martins. artigos publicados havia morrido milhares de anos-luz cada indivíduo e uma fuga incessan- porque já se sente em três peças da entre 1974 e 2009. antes de sua percepção pelos huma- te de cada linha que torna as pes- casa”. A ausência de contornos, por- Email: josegcastello@gmail.com. Leia mais textos do nos. As pessoas só dão importância a soas muito distintas entre si”. O Eu tanto, anula a noção de espaço, ou (o colunista em www.oglobo.com.br/blogs/literatura [FICÇÃO][FICÇÃO][FICÇÃO][FICÇÃO] Paixão em espaço e tempos distintos Em novo romance, Tatiana Salem Levy volta a explorar narrativas marcadas pela memória Divulgação que vivem os momentos des- Ascensão e queda do TATIANA comunismo, de Archie Dois rios, de Tatiana Salem sa paixão em geografias e Levy. Editora Record, 224 páginas SALEM LEVY: tempos diferentes. Brown. Tradução de Bruno R$ 34,90 Casotti • Editora Record, a escritora faz “Dois rios”, além do nome 854 páginas • R$ 89,90 Haron Gamal do livro e do lugarejo onde uso de dois N acontece boa parte da história, as mãos de autores serve também como referência ● Embasado por quatro personagens- que já antecipavam a aos dois irmãos, porque, na décadas de estudo, o narradores com verdade, eles deságuam na cientista político e modernidade, o per- sonagem-narrador vozes muito mesma foz: Marie-Ange. historiador britânico tornou-se componente eficaz, O leitor de romances, mes- Archie Brown conta e semelhantes mo ao negar sua face conserva- analisa minuciosamente produzindo na maioria das ve- zes artifícios que acabaram dora, normalmente gosta de, a trajetória do por se tornar uma das ques- no fim da leitura, ver equacio- comunismo desde suas tões fundamentais dos roman- nadas algumas das tensões que raízes no século XIX até ces. A literatura brasileira lhe desfilaram durante a narra- sua expansão e declínio apresenta numerosos exem- tiva. O livro de Tatiana nos re- ao longo do século XX. plos nesse sentido, que podem vela um ponto certeiro. Ambos, ser constatados ainda no ro- irmão e irmã, concluem que, fi- mantismo e, mais adiante, no cando ou partindo, estarão nosso principal clássico, Ma- sempre na mais completa soli- chado de Assis, sobretudo em dão. O surgimento da francesa “Memórias póstumas de Brás ajudou cada um a superar o nó Cubas”, “Dom Casmurro” e que os impedia de viver com “Memorial de Aires”. Na con- mais plenitude. Joana deixa de temporaneidade, temos dois lado a culpa e a mãe, e começa exemplos de autores que sou- deles, logicamente elas não po- mulher fica (ao menos tempo- cia, a saudade pelo que se foi, a viver a própria vida; Antônio, beram tirar o máximo proveito deriam ser as mesmas. Numa rariamente) e acaba tendo de o amor e a promessa de eterna que sempre fugiu dos proble- desse personagem: Milton Ha- leitura mais apurada, o que se cuidar da mãe, que pouco a união entre os dois irmãos mas da pequena família, retor- toum, em “Relatos de um certo pode constatar é que os dois pouco vai enlouquecendo. Um permeiam muitos momentos na para encará-los de frente. oriente” e Bernardo Carvalho, personagens-narradores são segmento da narrativa am- do texto. Mais à frente, no en- Um episódio, no entanto, em “Nove noites”. Tatiana Sa- muito semelhantes, bientado à época tanto, com a adolescência e a mostra-se incoerente. A se- lem Levy entra pelo mesmo senão os mesmos. da ditadura militar idade adulta, haverá a separa- gunda parte do livro ocorre Os sete enforcados, de atalho, tentando dar aos narra- O romance, divi- colore o romance ção e o amor por outra pes- num período de tempo quase Leonid Andreiev. Tradução dores de “Dois rios” o fôlego dido em duas par- com tintas fortes, soa. A descrição de paisagens simultâneo ao da primeira, de Eliana Sabino • Editora necessário para levar sua his- tes, apresenta na não deixando de marítimas e imagens noturnas mas há um momento em que Rocco, 168 pgs • R$ 24,50 tória até o fim. primeira uma mu- lado o cinzento pe- revelam momentos de intensa se situa à sua frente. Nela, Ba- Mas a empreitada, aqui, tor- lher chamada Joa- ríodo da História beleza da narrativa. tistine, avó de Marie-Ange, ● A morte é o principal na-se arriscada. Construir um na. Ela relata sua do Brasil. morre, fato que é narrado por personagem desta obra romance em primeira pessoa vida e o passado “Dois rios”, se- Entre chegadas e partidas, Antônio. Quando Joana viaja do autor russo, que com dois narradores implica da família. Na se- gundo romance de a completa solidão com a francesa, num momento discute o sentido da vida dois problemas. O primeiro é o gunda, um ho- Tatiana, segue, em Uma terceira personagem, posterior à volta do irmão, a partir de uma história sacrifício de um arrojo poético mem, mais preci- parte, o mesmo te- a francesa Marie-Ange, mes- ambas encontram a persona- sobre condenados à maior em prol da objetividade samente seu irmão ma do primeiro, “A mo sem querer, acaba por gem ainda viva. Talvez a trans- forca. Com organização e do que cada um tem a dizer. O gêmeo, Antônio, se põe a nar- chave de casa”, que é a memó- unir as duas pontas do que se gressão temporal sirva para apresentação de segundo é que isso exigiria mui- rar parte dos mesmos fatos, ria. Claro que, quando se trata havia rompido, a ligação en- mostrar que descober tas Fernando Sabino, o livro to do escritor, porque se as pa- acrescidos de outros que vi- de romance, o que predomina tre os dois irmãos. Joana e An- prescindem de cronologia. ■ integra a coleção Novelas lavras desses narradores te- veu longe da irmã. Apenas um é a ficção. Mas o retorno cons- tônio, após a morte do pai, Imortais, idealizada por riam de insinuar a psicologia e acontecimento os diferencia: tante ao passado, o trágico e tornaram-se inimigos. Ambos HARON GAMAL é doutor em ele para jovens leitores. as idiossincrasias de cada um o homem parte, enquanto a inesperado término da infân- se apaixonam pela mulher, só literatura brasileira pela UFRJ