1) O documento descreve a vida nas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, destacando a pobreza e ausência de infraestrutura.
2) É mencionado o escritor Lima Barreto, que descreveu a realidade dos subúrbios no início do século XX.
3) O texto defende que a música popular brasileira de fato representa o povo, incluindo os moradores das favelas e subúrbios.
4. Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem
atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da
montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a
tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário
Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os
acordes do choro-
canção
Traz as cabrochas e a
roda de samba
Dança teu funk, o
rock, forró, pagode, reg
gae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa
Lá não tem moças
douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus
exus
Não tem turistas
Não sai foto nas
revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores
Vai, faz ouvir os
acordes do choro-
canção
Traz as cabrochas e a
roda de samba
Dança teu funk, o
gae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te
sombreia
Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova
Iguaçu
Fala, Paciência...
8. SUBÚRBIO e Literatura: Lima Barreto.
“O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou São
Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central. Para os lados, não se
aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que tenham a sua expansão;
mas, assim mesmo, o subúrbio continua invadindo, com as suas azinhagas e trilhos, charnecas e
morrotes..
(...)
Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas
de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de
fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o
bambu, que não é barato. Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as
árvores e os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para
todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob
a ameaça constante da varíola e, quando ela dá para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo.
(...)
Afastando-nos do eixo da zona suburbana, logo o aspecto das ruas muda. Não há mais gradis de
ferros, nem casas com tendências aristocráticas: há o barracão, a choça e uma ou outra casa que tal.
Tudo isto muito espaçado e separado; entretanto, encontram-se, por vezes, “correres” de pequenas
casas, de duas janelas e porta ao centro, formando o que chamamos "avenida".
(...)
De manhã até à noite, ficam povoadas de toda a espécie de pequenos animais domésticos:
galinhas, patos, marrecos, cabritos, carneiros e porcos, sem esquecer os cães, que, com todos
aqueles, fraternizam. Quando chega a tardinha, de cada portão se ouve o "toque de reunir": "Mimoso"!
É um bode que a dona chama. "Sereia"! É uma leitoa que uma criança faz entrar em casa; e assim por
diante. Carneiros, cabritos, marrecos, galinhas, perus - tudo entra pela porta principal, atravessa a casa
toda e vai se recolher ao quintalejo aos fundos. Se acontece faltar um dos seus "bichos", a dona da
casa faz um barulho de todos os diabos, descompõe os filhos e filhas, atribui o furto à vizinha tal. Esta
vem a saber, e eis um bate-boca formado, que às vezes desanda em pugilato entre os maridos.”
Clara dos Anjos
(trecho)
9. O QUE É QUE O SUBÚRBIO TEM? – hábitos, lazer, música, infra-estrutura
CONTRASTE – subúrbio x grande Rio