SlideShare uma empresa Scribd logo
Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem
atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da
montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a
tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário
Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os
acordes do choro-
canção
Traz as cabrochas e a
roda de samba
Dança teu funk, o
rock, forró, pagode, reg
gae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa
Lá não tem moças
douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus
exus
Não tem turistas
Não sai foto nas
revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores
Vai, faz ouvir os
acordes do choro-
canção
Traz as cabrochas e a
roda de samba
Dança teu funk, o
gae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te
sombreia
Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova
Iguaçu
Fala, Paciência...
ESTEREÓTIPOS – O que é isto?
O QUE É SUBÚRBIO – conceito e surgimento
SUBÚRBIO e Literatura: Lima Barreto.
SUBÚRBIO e Literatura: Lima Barreto.
“O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou São
Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central. Para os lados, não se
aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que tenham a sua expansão;
mas, assim mesmo, o subúrbio continua invadindo, com as suas azinhagas e trilhos, charnecas e
morrotes..
(...)
Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas
de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de
fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o
bambu, que não é barato. Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as
árvores e os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para
todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob
a ameaça constante da varíola e, quando ela dá para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo.
(...)
Afastando-nos do eixo da zona suburbana, logo o aspecto das ruas muda. Não há mais gradis de
ferros, nem casas com tendências aristocráticas: há o barracão, a choça e uma ou outra casa que tal.
Tudo isto muito espaçado e separado; entretanto, encontram-se, por vezes, “correres” de pequenas
casas, de duas janelas e porta ao centro, formando o que chamamos "avenida".
(...)
De manhã até à noite, ficam povoadas de toda a espécie de pequenos animais domésticos:
galinhas, patos, marrecos, cabritos, carneiros e porcos, sem esquecer os cães, que, com todos
aqueles, fraternizam. Quando chega a tardinha, de cada portão se ouve o "toque de reunir": "Mimoso"!
É um bode que a dona chama. "Sereia"! É uma leitoa que uma criança faz entrar em casa; e assim por
diante. Carneiros, cabritos, marrecos, galinhas, perus - tudo entra pela porta principal, atravessa a casa
toda e vai se recolher ao quintalejo aos fundos. Se acontece faltar um dos seus "bichos", a dona da
casa faz um barulho de todos os diabos, descompõe os filhos e filhas, atribui o furto à vizinha tal. Esta
vem a saber, e eis um bate-boca formado, que às vezes desanda em pugilato entre os maridos.”
Clara dos Anjos
(trecho)
O QUE É QUE O SUBÚRBIO TEM? – hábitos, lazer, música, infra-estrutura
CONTRASTE – subúrbio x grande Rio
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA PARA O POVO? – o que é popular de verdade
ESTEREÓTIPOS: imagem verdadeira ou não?
-Alice Brum
- Carlos Veríssimo
- Cynthia Salles
- Gabriel Pinheiro
- Jennifer de La Veja
- Juliana Tavares
- Luana Montone
- Marcela Kemp
- Victória Roque

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a G2 subúrbio

O moleque lima barreto
O moleque   lima barretoO moleque   lima barreto
O moleque lima barreto
Jamildo Melo
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
jcmucuge
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
jcmucuge
 
Alguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andradeAlguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andrade
mariliarosa
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1
PeroVaz
 
Corpo do livro
Corpo do livroCorpo do livro
Corpo do livro
Rosa Regis
 
CORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
CORDEL_APRESENTACAO.pdfcccccccccccccccccccCORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
CORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
IedaGoethe
 

Semelhante a G2 subúrbio (20)

O moleque lima barreto
O moleque   lima barretoO moleque   lima barreto
O moleque lima barreto
 
A escrava isaura
A escrava isauraA escrava isaura
A escrava isaura
 
E-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azulE-book de Raul Brandão, A ilha azul
E-book de Raul Brandão, A ilha azul
 
Módulo Didático: Ôxente! Isso aqui é Nordeste: Um passeio entre a Literatura ...
Módulo Didático: Ôxente! Isso aqui é Nordeste: Um passeio entre a Literatura ...Módulo Didático: Ôxente! Isso aqui é Nordeste: Um passeio entre a Literatura ...
Módulo Didático: Ôxente! Isso aqui é Nordeste: Um passeio entre a Literatura ...
 
MarioSette_Arruar.pdf
MarioSette_Arruar.pdfMarioSette_Arruar.pdf
MarioSette_Arruar.pdf
 
Retalhos. mo maie
Retalhos. mo maieRetalhos. mo maie
Retalhos. mo maie
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
 
Alemanha - Conto Folclórico
Alemanha - Conto FolclóricoAlemanha - Conto Folclórico
Alemanha - Conto Folclórico
 
Giovanna
GiovannaGiovanna
Giovanna
 
Alguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andradeAlguma poesia carlos drummond de andrade
Alguma poesia carlos drummond de andrade
 
Capítulo do Livro Escrito na Cal
Capítulo do Livro Escrito na CalCapítulo do Livro Escrito na Cal
Capítulo do Livro Escrito na Cal
 
aquarelas.pdf
aquarelas.pdfaquarelas.pdf
aquarelas.pdf
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1
 
literatura_trovadorismo.ppt
literatura_trovadorismo.pptliteratura_trovadorismo.ppt
literatura_trovadorismo.ppt
 
literatura_trovadorismo.ppt
literatura_trovadorismo.pptliteratura_trovadorismo.ppt
literatura_trovadorismo.ppt
 
Jeca tatu Monteiro Lobato Urupes
Jeca tatu Monteiro Lobato UrupesJeca tatu Monteiro Lobato Urupes
Jeca tatu Monteiro Lobato Urupes
 
Corpo do livro
Corpo do livroCorpo do livro
Corpo do livro
 
Alínea ii o reencontro
Alínea ii o reencontroAlínea ii o reencontro
Alínea ii o reencontro
 
CORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
CORDEL_APRESENTACAO.pdfcccccccccccccccccccCORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
CORDEL_APRESENTACAO.pdfccccccccccccccccccc
 

G2 subúrbio

  • 1.
  • 2.
  • 3.
  • 4. Lá não tem brisa Não tem verde-azuis Não tem frescura nem atrevimento Lá não figura no mapa No avesso da montanha, é labirinto É contra-senha, é cara a tapa Fala, Penha Fala, Irajá Fala, Olaria Fala, Acari, Vigário Geral Fala, Piedade Casas sem cor Ruas de pó, cidade Que não se pinta Que é sem vaidade Vai, faz ouvir os acordes do choro- canção Traz as cabrochas e a roda de samba Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reg gae Teu hip-hop Fala na língua do rap Desbanca a outra A tal que abusa De ser tão maravilhosa Lá não tem moças douradas Expostas, andam nus Pelas quebradas teus exus Não tem turistas Não sai foto nas revistas Lá tem Jesus E está de costas Fala, Maré Fala, Madureira Fala, Pavuna Fala, Inhaúma Cordovil, Pilares Espalha a tua voz Nos arredores Carrega a tua cruz E os teus tambores Vai, faz ouvir os acordes do choro- canção Traz as cabrochas e a roda de samba Dança teu funk, o gae Teu hip-hop Fala na língua do rap Fala no pé Dá uma idéia Naquela que te sombreia Lá não tem claro-escuro A luz é dura A chapa é quente Que futuro tem Aquela gente toda Perdido em ti Eu ando em roda É pau, é pedra É fim de linha É lenha, é fogo, é foda Fala, Penha Fala, Irajá Fala, Encantado, Bangu Fala, Realengo... Fala, Maré Fala, Madureira Fala, Meriti, Nova Iguaçu Fala, Paciência...
  • 5. ESTEREÓTIPOS – O que é isto?
  • 6. O QUE É SUBÚRBIO – conceito e surgimento
  • 7. SUBÚRBIO e Literatura: Lima Barreto.
  • 8. SUBÚRBIO e Literatura: Lima Barreto. “O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se alonga, desde o Rocha ou São Francisco Xavier, até Sapopemba, tendo para eixo a linha férrea da Central. Para os lados, não se aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que tenham a sua expansão; mas, assim mesmo, o subúrbio continua invadindo, com as suas azinhagas e trilhos, charnecas e morrotes.. (...) Há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se possa fincar quatro estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas. Todo o material para essas construções serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e, para as nervuras das paredes de taipa, o bambu, que não é barato. Há verdadeiros aldeamentos dessas barracas, nas coroas dos morros, que as árvores e os bambuais escondem aos olhos dos transeuntes. Nelas, há quase sempre uma bica para todos os habitantes e nenhuma espécie de esgoto. Toda essa população, pobríssima, vive sob a ameaça constante da varíola e, quando ela dá para aquelas bandas, é um verdadeiro flagelo. (...) Afastando-nos do eixo da zona suburbana, logo o aspecto das ruas muda. Não há mais gradis de ferros, nem casas com tendências aristocráticas: há o barracão, a choça e uma ou outra casa que tal. Tudo isto muito espaçado e separado; entretanto, encontram-se, por vezes, “correres” de pequenas casas, de duas janelas e porta ao centro, formando o que chamamos "avenida". (...) De manhã até à noite, ficam povoadas de toda a espécie de pequenos animais domésticos: galinhas, patos, marrecos, cabritos, carneiros e porcos, sem esquecer os cães, que, com todos aqueles, fraternizam. Quando chega a tardinha, de cada portão se ouve o "toque de reunir": "Mimoso"! É um bode que a dona chama. "Sereia"! É uma leitoa que uma criança faz entrar em casa; e assim por diante. Carneiros, cabritos, marrecos, galinhas, perus - tudo entra pela porta principal, atravessa a casa toda e vai se recolher ao quintalejo aos fundos. Se acontece faltar um dos seus "bichos", a dona da casa faz um barulho de todos os diabos, descompõe os filhos e filhas, atribui o furto à vizinha tal. Esta vem a saber, e eis um bate-boca formado, que às vezes desanda em pugilato entre os maridos.” Clara dos Anjos (trecho)
  • 9. O QUE É QUE O SUBÚRBIO TEM? – hábitos, lazer, música, infra-estrutura CONTRASTE – subúrbio x grande Rio
  • 10. MÚSICA POPULAR BRASILEIRA PARA O POVO? – o que é popular de verdade
  • 12. -Alice Brum - Carlos Veríssimo - Cynthia Salles - Gabriel Pinheiro - Jennifer de La Veja - Juliana Tavares - Luana Montone - Marcela Kemp - Victória Roque