SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
ENGENHARIA: AME-A OU DEIXE-A.
Eng. Elysio R. F. Ruggeri
Furnas Centrais Elétricas SA
Departamento de Apoio e Controle Técnico - DCT.C
Não sendo conhecedor de todas as profissões, não tenho o direito de dizer que a engenharia é a
mais bela das profissões (mas deve ser séria candidata a esse título). Sou um engenheiro com 35 anos de
prática profissional e estudioso dos ramos da engenharia em que ela muito se aproxima da Física. Nestes
ramos estão presentes apenas alguns poucos materiais (isoladamente ou associados): os naturais, como os
solos, as rochas, a água e as madeiras; e os artificiais, como: os concretos e os aços. Na prática, a
diversidade e a quantidade de novos materiais aumentam a uma velocidade tal que minha capacidade e
vivência não conseguem entender de forma sequer razoável. Mas não posso ter essa pretensão porque a
Engenharia, que amo, ainda mal entende o real comportamento dos solos e das rochas (nem tanto os
concretos), os materiais do nosso “dia a dia” com os quais construímos barragens, túneis, estradas, pontes,
torres e outras belas obras.
Mas sou, a cada dia passado, mais apaixonado pela Engenharia, especialmente pela “engenharia da
concepção de engenhos” com seu incrível, absolutamente necessário e, por vezes, incompreendido poder
de previsão de comportamento e operação do engenho a construir. De outro lado está a “engenharia de
construção dos engenhos”, por vezes emocionante e empolgante, cujos problemas relevantes são, em boa
dose, diferentes dos anteriores. Nem sempre lembrada existe, ainda, a “engenharia de operação e
auscultação dos engenhos”, que, a rigor, inicia suas atividades já durante a construção dos mesmos. A
Engenharia só é maravilhosa, e gloriosa, quando essas três facetas conseguem se completar de fato.
Nestas três facetas de atividades da Engenharia devem ser reconhecidos e perseguidos, até a exaustão, os
princípios relacionados com: funcionalidade, estética (ou arte), sustentabilidade do ambiente construído e
segurança, todos judiciosamente maximizados pelo critério do menor custo final. Será que existe desafio
maior do que este?
Esta mensagem, a meu ver, deveria ser a de boas vindas aos candidatos a engenheiro, já nos
primeiros dias dos bons cursos de graduação (tal como aprendi na minha Escola de Minas de Ouro Preto),
pois é a partir desta “primeira vista” que deve iniciar-se o amor pela Engenharia. É necessário que estes
candidatos entendam, sintam e comecem a temer a grandiosidade do desafio que se lhes vai antepor.
Depois, tudo passa a ser uma questão de foro íntimo, uma questão de consciência. Ao estudante devemos
lembrar que existem outras belas profissões e uma destas poderia revelar suas aptidões. Aos portadores de
carteira profissional, que não conseguiram repelir o pronunciamento de um juramento hipócrita, ou o
fizeram em espírito de manada, cabe ainda a chance da atitude nobre da desistência e a caça às suas reais
habilidades.
A verdadeira Engenharia não é de simples ensinamento, nem de fácil entendimento. Se você não é
capaz de amá-la e entendê-la, deixe-a, pois é menos inglório. Teus pais e a sociedade, em nome da vida
especialmente, te agradecerão e te respeitarão por esta atitude nobre. E por me poupares alguma
desventura profissional no futuro, eu também te agradeço.
Paz e amor.
Goiânia 17 de janeiro de 2007

Mais conteúdo relacionado

Mais de elysioruggeri

Os novos alquimistas1
Os novos alquimistas1Os novos alquimistas1
Os novos alquimistas1elysioruggeri
 
Manifesto de um professor
Manifesto de um professorManifesto de um professor
Manifesto de um professorelysioruggeri
 
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012elysioruggeri
 
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetr
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetrDetdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetr
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetrelysioruggeri
 
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistas
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistasA impossivel-pretensao-dos-quaternionistas
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistaselysioruggeri
 
A geom ocultanasleisfisicas
A geom ocultanasleisfisicasA geom ocultanasleisfisicas
A geom ocultanasleisfisicaselysioruggeri
 
Polyadic formulation of linear physical laws
Polyadic formulation of linear physical lawsPolyadic formulation of linear physical laws
Polyadic formulation of linear physical lawselysioruggeri
 
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenharia
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenhariaO calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenharia
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenhariaelysioruggeri
 
Notas sobre a Geometria Diferencial
Notas sobre a Geometria DiferencialNotas sobre a Geometria Diferencial
Notas sobre a Geometria Diferencialelysioruggeri
 
Aimpossivelpretensaodosquaternionistas
AimpossivelpretensaodosquaternionistasAimpossivelpretensaodosquaternionistas
Aimpossivelpretensaodosquaternionistaselysioruggeri
 
Lições tomo i - vol. i - 28 mar 2013 com remissivo revisto
Lições   tomo i - vol. i -  28 mar 2013 com remissivo revistoLições   tomo i - vol. i -  28 mar 2013 com remissivo revisto
Lições tomo i - vol. i - 28 mar 2013 com remissivo revistoelysioruggeri
 
Licoes calculo-poliadico-tomo-1
Licoes calculo-poliadico-tomo-1Licoes calculo-poliadico-tomo-1
Licoes calculo-poliadico-tomo-1elysioruggeri
 
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013elysioruggeri
 

Mais de elysioruggeri (17)

Os novos alquimistas1
Os novos alquimistas1Os novos alquimistas1
Os novos alquimistas1
 
Manifesto de um professor
Manifesto de um professorManifesto de um professor
Manifesto de um professor
 
Corpo rigido
Corpo rigidoCorpo rigido
Corpo rigido
 
Tensoesinsitu3 d
Tensoesinsitu3 dTensoesinsitu3 d
Tensoesinsitu3 d
 
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012
Tensoesinsitu3 dmodificado em 26 06 2012
 
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetr
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetrDetdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetr
Detdoscampos3 ddetempedeslocemestrmassdeconcrmassafrescocomelemfinitostetr
 
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistas
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistasA impossivel-pretensao-dos-quaternionistas
A impossivel-pretensao-dos-quaternionistas
 
A geom ocultanasleisfisicas
A geom ocultanasleisfisicasA geom ocultanasleisfisicas
A geom ocultanasleisfisicas
 
Polyadic formulation of linear physical laws
Polyadic formulation of linear physical lawsPolyadic formulation of linear physical laws
Polyadic formulation of linear physical laws
 
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenharia
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenhariaO calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenharia
O calculo-poliadico-para-cientistas-da-engenharia
 
Metodo gradiente
Metodo gradienteMetodo gradiente
Metodo gradiente
 
Notas sobre a Geometria Diferencial
Notas sobre a Geometria DiferencialNotas sobre a Geometria Diferencial
Notas sobre a Geometria Diferencial
 
Aimpossivelpretensaodosquaternionistas
AimpossivelpretensaodosquaternionistasAimpossivelpretensaodosquaternionistas
Aimpossivelpretensaodosquaternionistas
 
Aula de Gibbs
Aula de GibbsAula de Gibbs
Aula de Gibbs
 
Lições tomo i - vol. i - 28 mar 2013 com remissivo revisto
Lições   tomo i - vol. i -  28 mar 2013 com remissivo revistoLições   tomo i - vol. i -  28 mar 2013 com remissivo revisto
Lições tomo i - vol. i - 28 mar 2013 com remissivo revisto
 
Licoes calculo-poliadico-tomo-1
Licoes calculo-poliadico-tomo-1Licoes calculo-poliadico-tomo-1
Licoes calculo-poliadico-tomo-1
 
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013
Livro intr. campos tensoriais em 31 jan 2013
 

Engenharia: ame-a ou deixe-a

  • 1. ENGENHARIA: AME-A OU DEIXE-A. Eng. Elysio R. F. Ruggeri Furnas Centrais Elétricas SA Departamento de Apoio e Controle Técnico - DCT.C Não sendo conhecedor de todas as profissões, não tenho o direito de dizer que a engenharia é a mais bela das profissões (mas deve ser séria candidata a esse título). Sou um engenheiro com 35 anos de prática profissional e estudioso dos ramos da engenharia em que ela muito se aproxima da Física. Nestes ramos estão presentes apenas alguns poucos materiais (isoladamente ou associados): os naturais, como os solos, as rochas, a água e as madeiras; e os artificiais, como: os concretos e os aços. Na prática, a diversidade e a quantidade de novos materiais aumentam a uma velocidade tal que minha capacidade e vivência não conseguem entender de forma sequer razoável. Mas não posso ter essa pretensão porque a Engenharia, que amo, ainda mal entende o real comportamento dos solos e das rochas (nem tanto os concretos), os materiais do nosso “dia a dia” com os quais construímos barragens, túneis, estradas, pontes, torres e outras belas obras. Mas sou, a cada dia passado, mais apaixonado pela Engenharia, especialmente pela “engenharia da concepção de engenhos” com seu incrível, absolutamente necessário e, por vezes, incompreendido poder de previsão de comportamento e operação do engenho a construir. De outro lado está a “engenharia de construção dos engenhos”, por vezes emocionante e empolgante, cujos problemas relevantes são, em boa dose, diferentes dos anteriores. Nem sempre lembrada existe, ainda, a “engenharia de operação e auscultação dos engenhos”, que, a rigor, inicia suas atividades já durante a construção dos mesmos. A Engenharia só é maravilhosa, e gloriosa, quando essas três facetas conseguem se completar de fato. Nestas três facetas de atividades da Engenharia devem ser reconhecidos e perseguidos, até a exaustão, os princípios relacionados com: funcionalidade, estética (ou arte), sustentabilidade do ambiente construído e segurança, todos judiciosamente maximizados pelo critério do menor custo final. Será que existe desafio maior do que este? Esta mensagem, a meu ver, deveria ser a de boas vindas aos candidatos a engenheiro, já nos primeiros dias dos bons cursos de graduação (tal como aprendi na minha Escola de Minas de Ouro Preto), pois é a partir desta “primeira vista” que deve iniciar-se o amor pela Engenharia. É necessário que estes candidatos entendam, sintam e comecem a temer a grandiosidade do desafio que se lhes vai antepor. Depois, tudo passa a ser uma questão de foro íntimo, uma questão de consciência. Ao estudante devemos lembrar que existem outras belas profissões e uma destas poderia revelar suas aptidões. Aos portadores de carteira profissional, que não conseguiram repelir o pronunciamento de um juramento hipócrita, ou o fizeram em espírito de manada, cabe ainda a chance da atitude nobre da desistência e a caça às suas reais habilidades. A verdadeira Engenharia não é de simples ensinamento, nem de fácil entendimento. Se você não é capaz de amá-la e entendê-la, deixe-a, pois é menos inglório. Teus pais e a sociedade, em nome da vida especialmente, te agradecerão e te respeitarão por esta atitude nobre. E por me poupares alguma desventura profissional no futuro, eu também te agradeço. Paz e amor. Goiânia 17 de janeiro de 2007