Correio popular - Campinas região do conhecimento [14 de julho de 2012]
Degradação centro cp 19-ago - matéria
1. A16 CORREIO POPULAR CIDADES
Campinas, domingo, 19 de agosto de 2012
200
PESSOAS
95
MIL
75
COLEÇÕES
576
PEÇAS
76
ANOS
190
MIL
Utilizam todos os dias Pessoas, em média, Compõem o acervo fotográfico Fazem parte do acervo Foi o tempo que demorou a Pessoas vivem na região
o banheiro da Catedral circulam pela do Museu da Imagem do Museu de Arte Sacra construção da Catedral central, que inclui também
por falta de opção pública. Rua 13 de Maio e do Som de Campinas. de Campinas. Metropolitana de Campinas. Cambuí e Botafogo.
Érica Dezonne/AAN
Cecília Polycarpo
Gláucia Santinello
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
cecilia.cebalho@rac.com.br Especialista
glaucia.santinello@rac.com.br
defende meios
Sem opções culturais ou de
lazer, as vias históricas da re- de requalificar
gião Central de Campinas
servem apenas como rota de toda a região
passagem nos finais de sema-
na. A reportagem do Correio A solução para a ocupação da
percorreu as ruas centrais no área Central de Campinas não
Dia dos Pais e nem mesmo o deve ser encarada como algo
céu azul e o calor de 28ºC ani- pontual, na visão de João Ver-
maram as famílias campinei- de, professor da Faculdade de
ras a saírem de casa para pas- Arquitetura e Urbanismo da
sear no Centro. Os poucos Pontifícia Universidade Católi-
que circulavam, andavam a ca de Campinas (PUC-Campi-
passos rápidos pela região nas) e presidente da Associa-
que concentra prédios histó- ção Regional de Escritórios de
ricos e que, a cada dia, tem Arquitetura de Campinas
visto os seus equipamentos (Area). Ele defende uma requa-
coletivos mais esvaziados. lificação da área, e não apenas
a revitalização.
Quem se aventura Um dos caminhos, diz, é a
requalificação da legislação e,
a passar pelo local depois, as ações. Verde citou o
tem medo de assaltos exemplo da Rua 13 de Maio.
Comerciantes tiveram que fa-
As poucas pessoas que cir- zer modificações na fachada
culavam pela Regente Feijó dos prédios. “Tenho críticas ao
tinham motivo para estarem projeto, mas não pode-se ne-
apressadas: a rua do Museu gar que a legislação das facha-
da Imagem e do Som (MIS) das fez com que os diferentes ti-
— que estava fechado — é to- pos de construção pudessem
mada por traficantes e usuá- ser vistos”, disse.
rios de drogas em finais de O arquiteto ministra na fa-
semana. “Não, não posso fa- culdade curso de História de
lar com você agora, moça. É Campinas em que na parte prá-
perigoso ficar parado aqui”, tica circula pelo Centro Históri-
disse um homem que anda- co . Ele diz perceber falta de
va com o filho no colo e foi manutenção dos equipamen-
abordado pela reportagem. tos públicos. “A começar pelas
Pouco depois, o receio se ruas e calçadas. É necessário
mostrou assertivo. Uma mo- cuidado com a mobilidade ur-
radora de rua ameaçou agre- bana”. Além desta manuten-
dir a equipe de reportagem ção, o professor pede um entro-
com uma barra de metal. samento com ações dse um cir-
Situado desde 2004 no Pa- cuito cultural, mas não focado
lácio dos Azulejos, prédio Exemplos de resistência contra o descaso do poder público: meninas utilizam o espaço em frente à Catedral Metropolitana para passear apenas em roteiros. (GS/AAN)
tombado patrimônio nacio-
nal pelo Instituto do Patrimô- ÀS MOSCAS ||| DESPERDÍCIO
nio Histórico e Artístico Na-
Centro fica deserto sem
cional (Iphan), o MIS abre
durante a semana e aos sába-
dos, mas só até 16h. Em agos- Secretária
to, o local sedia uma exposi-
ção fotográfica e um curso, cita ação
na Estação
opções de lazer e cultura
pago, de meditação, além de
exibir três filmes por sema-
na.
“É muito pouco para um Cultura
prédio desse tamanho”, afir-
mou Gilberto Guimarães A secretária de Cultura de
Friedenreich, de 52 anos, pro- Campinas, Renata Sunega,
dutor cultural. Morador da
Rua Regente Feijó, Frieden-
Área ainda espera por projeto de revitalização para atrair movimento que reassumiu o cargo na últi-
ma semana, reconhece o “es-
reich diz que o local virou Rodrigo Zanotto/Especial para AAN vaziamento” da região central
um “elefante branco”. “Não e diz que não existe no mo-
existe promoção cultural ou mento nenhuma previsão de
qualquer tipo de evento de realização de eventos frequen-
qualidade para a população tes nos espaços do Centro, es-
no Centro. Sei porque moro pecialmente pela questão orça-
e circulo muito por aqui. Há mentária. No entanto, uma
alguns anos, a Prefeitura não projeto imediato que está sob
promove mais nada de quali- seu comando é promover
dade aqui”, disse. ações para ocupação da Esta-
Outro morador do Centro ção Cultura, que completou
há 37 anos, o jornalista An- dez anos em estado de aban-
dré Luís Sorruge, de 41 anos, dono, conforme mostrou re-
afirma que era frequentador portagem do Correio. O local,
assíduo de shows no Largo que já foi palco de inúmeras
do Rosário e na Estação Cul- atrações e atraiu milhares de
tura. Hoje, acha que falta in- pessoas, está hoje esvaziado.
centivo à cultura. “É uma pe- “Esta ação irá influenciar
na que meu filho adolescen- na reocupação da área cen-
te não possa curtir o Centro tral. O movimento cultural
como eu já curti. O lazer dele que pretendemos irá atrair
é em shoppings e nos bares um público ao entorno da Es-
do Cambuí”, disse Sorruge. tação, com quantidade maior
Na Catedral Metropolita- de pessoas que se tem hoje”,
na de Campinas, que abriga disse. Renata acredita que esta
um museu de arte sacra e po- ação seja um “chamamento
deria fazer parte de um cir- público” para que o espaço se
cuito religioso na cidade, ape- torne dinâmico e vivo nova-
nas três fiéis rezavam no do- mente. “O importante é que
mingo do Dia dos Pais. A es- existe demanda, os grupos ar-
cadaria da Catedral estava to- tísticos nos procuram e pode-
mada por moradores de rua mos iniciar a vida cultural da
— uns dormiam, outros solta- cidade com a reocupação.”
vam frases desconexas para A ideia não é apenas ofere-
quem passava próximo. cer atividades aos finais de se-
“É uma pena ver tudo tão Rua 13 de Maio praticamente vazia durante a noite: espaço poderia ser aproveitado de diversas formas e, assim, promover a redução do crime mana. Renata diz que existem
degradado. Sou de uma épo- grupos de teatro, por exem-
ca em que todo o final de se- plo, que buscam o espaço pa-
mana tinha show no Largo “É uma pena ver tudo tão degradado. “O importante é que existe demanda; ra ensaios. E a secretaria espe-
do Rosário e no Centro de ra por projetos. “Todas as pro-
Convivência. Trabalho com Sou de uma época em que todo os grupos artísticos nos procuram e postas serão analisadas”, afir-
eventos e hoje é uma buro- mou. Em relação à queixa do
cracia propor qualquer festa o final de semana tinha podemos iniciar a vida cultural produtor cultural Carlos
para a Prefeitura, mesmo Eduardo Farias de Oliveira, de
com patrocínio”, afirmou show no Largo do Rosário e da cidade com a reocupação (da restrição à música eletrônica
Carlos Eduardo Farias de Oli- pela existência de algum regi-
veira, que passeava com a fi- no Centro de Convivência.” região central).” mento que proíbe este tipo de
lha Laura, de 3 anos, pela pra- evento, Renata afirma não se
ça da Catedral. lembrar de ter negado algo
CARLOS EDUARDO FARIAS DE OLIVEIRA RENATA SUNEGA
Oliveira disse já ter levado por este motivo.
à Secretaria de Cultura vá- Promotor de eventos Secretária de Cultura “Aconselho o produtor a en-
rios projetos de festas com viar novamente o projeto. A
música eletrônica, porém, rinho são raros”, completou. cesso de revitalização. Mu- Cultura de Campinas, Rena- do de reverter o quadro. No minha intenção é que as pro-
diz, as ideias são vetadas. danças na legislação e cuida- ta Sunega, que assumiu o car- entanto, uma ação imediata postas cheguem e se, por ven-
“Acho que existe algum regi- Soluções dos com os equipamentos e go na última semana, afirma que está sob o seu comando tura, houver algum tipo de res-
mento municipal que proíbe Especialistas ouvidos pelo a mobilidade urbana estão que tem consciência do esva- assim que reassumiu a pasta trição em alguma delas, tenta-
o município de fazer festas Correio defendem uma re- entre os primeiros passos su- ziamento da região do Cen- é promover ações para a ocu- remos adaptar. Tudo pode ser
eletrônicas. Mas mesmo sho- qualificação da área como geridos (veja texto ao lado). tro e que não há, no momen- pação da Estação Cultura adaptável. Há flexibilidade e
ws de música clássica ou cho- forma de um início de pro- A secretária municipal de to, qualquer projeto no senti- (leia texto ao lado). podemos avaliar”. (GS/AAN).