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4 - UM “RELATÓRIO” SOBRE A SEXUALIDADE HUMANA
Os resultados publicados pelo biólogo norte americano Alfred C. Kinsey entre 1948 e
1953, sobre o comportamento sexual de homens e mulheres, o famigerado Relatório
Kinsey (), contribuíram muito para desencadear a chamada “revolução sexual” que se
deu a partir dos anos 60
() Convencionou-se chamar de “Relatório Kinsey” o conteúdo dos livros: KINSEY,
Alfred C., POMEROY, Wardell B. e MARTIN, Clyde E. Sexual Behavior in the Human
Male, W.B. Saunders Co., PhiladelphiaLondon, 1948 e KINSEY, Alfred C., POMEROY,
Wardell B., MARTIN, Clyde E. e GEBHARD, Paul H. Sexual Behavior in the Human
Female,
W.B.
Saunders
Co.,
PhiladelphiaLondon,
1953.

Kinsey defendeu que todos os comportamentos sexuais considerados anômalos são
na verdade normais, e ao mesmo tempo afirmou que ser exclusivamente
heterossexual é anormal: é fruto de inibições culturais e de condicionamentos sociais,
contrários à natureza do homem. Ele compartilhava a opinião dos que afirmam que os
cristãos herdaram o comportamento sexual quase paranóico dos judeus.
Após 40 anos, durante os quais deu-se um crédito quase absoluto aos dados
publicados por Kinsey – com terríveis conseqüências morais e intelectuais para a
Sociedade –, cientistas de vários países demonstraram a falsidade das conclusões do
“relatório” e o seu escasso rigor científico. Para dar um exemplo disso, podemos
mencionar o recente estudo intitulado “Sexo na América: uma pesquisa definitiva”
<Sex in América: a Definitive Survey, Warner Books, 1995>, dos pesquisadores norteamericanos John H. Gagnon, Robert T. Michael e Edward O. Laumann, da
Universidade de Chicago, e da repórter do The New York Times, Gina Kolata, que
desfez grande parte dos mitos criados pelo relatório do biólogo.
Os dados estatísticos de Kinsey parecem ter sido manipulados, já que a amostra era
claramente viciada (era alto o percentual de presidiários, exibicionistas, pedófilos e
“turistas” sexuais) e a metodologia incluía maus-tratos e estimulação sexual de
crianças e até de bebês de poucos meses por parte de adultos <2>.
Kinsey e seus colaboradores pretenderam mudar os valores morais tradicionais
empregando
a
seguinte
estratégia:
a) Defender a idéia de que a bissexualidade é a orientação sexual própria de pessoas
normais e desinibidas. Isso encorajaria pessoas heterossexuais a praticarem atos
homossexuais, já que a heterossexualidade seria apenas mais uma opção num amplo
leque de condutas sexuais. Assim seria alterada a norma da sexualidade
heterossexual, e com ela a estrutura familiar tradicional, os valores e os padrões de
comportamento sexual convencionais.
b) Propor um plano para que as crianças fossem educadas na bissexualidade e
treinadas por membros da geração precedente. Essas teorias tiveram influência na
Sociedade e na Ciência, contribuindo decisivamente para que a homossexualidade
desaparecesse do catálogo de patologias mentais, salvo o caso de distonia (caso em
que a pessoa com inclinações homossexuais sente-se mal por isso).
2

Por outro lado, é importante assinalar que até mesmo cientistas da escola de Kinsey,
apesar de manifestarem abertamente que a conduta homossexual é normal e
plenamente aceitável, dizem que “é de importância vital que todos os profissionais no
campo da saúde mental tenham presente que o homem ou a mulher homossexual é
homem ou mulher por determinação genética e tem tendências homossexuais por
preferência adquirida” <3>. Isso corroboraria a hipótese de que as inclinações
homossexuais não são inatas no indivíduo. O psiquiatra L. J. Hatterer chega até a
afirmar rotundamente: “Os psiquiatras chegaram finalmente à conclusão de que os
fatores genéticos, hereditários, constitucionais, glandulares e hormonais não têm
nenhuma
importância
como
causa
da
homossexualidade”
<4>.
Cada dia é maior o número de especialistas que não renunciaram à terapia de
restauração da identidade sexual, considerando a inclinação homossexual como um
transtorno psíquico de tipo neurótico – adquirido ao longo da infância ou da
adolescência
–
que
pode
ser
tratado
<5>.
Além do mais, Kinsey utilizou o termo dependência para referir-se às relações maritais
que preservam a fidelidade da união conjugal, como se ser fiel ao cônjuge fosse
alguma
espécie
de
vício.
Infelizmente, as conclusões de Kinsey continuam sendo levadas em conta quando se
tomam decisões sobre políticas de saúde sexual e/ou reprodutiva, e constituem boa
parte do conteúdo dos programas educativos em matéria de sexualidade em todo o
mundo.
As

conseqüências

mais

diretas

de

tais

divulgações

científicas

foram:

– a separação (que se tenta justificar eticamente) entre a atividade sexual e a
procriação;
– o exercício da sexualidade fora do matrimônio (o chamado “amor livre”);
–

e

SEXO,

a

separação

entre

PROCRIAÇÃO

a

atividade

sexual

E

e

o

amor.

FAMÍLIA

Com o rápido surgimento dos primeiros métodos anticoncepcionais nos anos 60 e com
a adoção de um conceito antinatural de Planejamento Familiar por parte dos órgãos
oficiais de Saúde Pública, a fertilidade – entendida como dimensão constitutiva da
sexualidade e como capacidade de procriação – começou a ser encarada como uma
ameaça
à
Humanidade.
Diante dessa crítica situação, o Papa Paulo VI apresentou em 1968 a sua profética
Encíclica Humanae Vitae sobre o amor humano e sobre a “paternidade responsável”,
na qual opunha-se valentemente à já mencionada visão deformada da sexualidade e à
utilização de métodos anticoncepcionais que impeçam a reta regulação da fertilidade.
Paulo VI desenvolve nesse texto um belo projeto sobre a decisão e realização da
procriação, respeitando a dignidade dos esposos e a vocação à doação própria do
amor esponsal. Ele exortou os cientistas a esforçarem-se por encontrar, dentro do
âmbito da sua competência, soluções para os problemas nessa matéria, convencidos
de que não pode haver contradição entre a Ciência e a Fé <6>.
No fim da década de 70, em defesa do direito de decidir sobre a capacidade de
3

procriação, foram desenvolvidas e implantadas as técnicas de Reprodução Assistida,
que envolvem a separação entre a procriação e a sexualidade (procriação sem
atividade sexual). Em 1978, obteve-se o nascimento do primeiro bebê de proveta (com
a transferência do embrião) e nos anos 80 a técnica – conhecida como FIVET
(Fertilization In Vitro with Embryo Transference) – foi aperfeiçoada. O passo mais
recente
é
a
clonagem,
desenvolvida
já
nos
anos
90.
Nos últimos anos – dentro de um processo que poderíamos chamar de gradual
desestruturação cultural e humana da instituição familiar –, vem sendo proposta a
separação entre identidade sexual e gênero: Ser homem ou mulher não estaria
determinado
fundamentalmente
pelo
sexo,
mas
pela
cultura.
Tal mentalidade ataca as próprias bases da família e das relações interpessoais. Se a
questão do gênero é cultural e se a pessoa não se identifica com o sexo à hora de
projetar-se como masculina ou feminina, então porque a mãe não pode fazer o papel
de
pai
e
vice-versa?
Neste início do novo milênio, uma profunda crise da paternidade em todos os níveis –
biológico, ontológico, educativo e funcional – levou a Sociedade a aceitar como normal
a separação entre procriação e paternidade. O pai já não é mais necessário para
procriar. Está sendo estudada até mesmo a reprodução a partir de duas mulheres. A
Sociedade ideal deveria conduzir à indiferenciação sexual. As pessoas com
inclinações homossexuais teriam amparo jurídico e social para as suas situações
sexuais
e
os
filhos
perderiam
definitivamente
a
figura
do
pai.
O pai desaparece quando o que se pretende é que o filho dependa unicamente da
decisão individual da mulher, às vezes até de maneira homossexual, em nome de uma
biologização solitária da filiação. O pai é afinal privado do seu filho e destituído da sua
função. As conseqüências de tudo isso pertencem ao campo da Ética e, portanto, da
Bioética,
já
que
estamos
falando
da
vida
do
Homem.
Como diz o Professor Anatrella, não basta apenas fabricar carne humana: a filiação
deve ser estabelecida partindo da diferença de sexo entre pai e mãe e da sucessão de
gerações, e deve ser instituída de modo a poder desenvolver-se e reproduzir-se na
História. Uma Antropologia que negue essa realidade – e que portanto sirva de base
para uma Ética e para uma Bioética igualmente distorcidas – contradiz a verdade
sobre o Homem <7>. As palavras do Papa João Paulo II, ditas há 20 anos na
Familiaris Consortio, foram realmente proféticas: “é necessário esforçar-se para que
se recupere socialmente a convicção de que o lugar e a tarefa do pai na e pela família
são
de
importância
única
e
insubstituível”
<8>.

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  • 1. 1 http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=65&cat=12 4 - UM “RELATÓRIO” SOBRE A SEXUALIDADE HUMANA Os resultados publicados pelo biólogo norte americano Alfred C. Kinsey entre 1948 e 1953, sobre o comportamento sexual de homens e mulheres, o famigerado Relatório Kinsey (), contribuíram muito para desencadear a chamada “revolução sexual” que se deu a partir dos anos 60 () Convencionou-se chamar de “Relatório Kinsey” o conteúdo dos livros: KINSEY, Alfred C., POMEROY, Wardell B. e MARTIN, Clyde E. Sexual Behavior in the Human Male, W.B. Saunders Co., PhiladelphiaLondon, 1948 e KINSEY, Alfred C., POMEROY, Wardell B., MARTIN, Clyde E. e GEBHARD, Paul H. Sexual Behavior in the Human Female, W.B. Saunders Co., PhiladelphiaLondon, 1953. Kinsey defendeu que todos os comportamentos sexuais considerados anômalos são na verdade normais, e ao mesmo tempo afirmou que ser exclusivamente heterossexual é anormal: é fruto de inibições culturais e de condicionamentos sociais, contrários à natureza do homem. Ele compartilhava a opinião dos que afirmam que os cristãos herdaram o comportamento sexual quase paranóico dos judeus. Após 40 anos, durante os quais deu-se um crédito quase absoluto aos dados publicados por Kinsey – com terríveis conseqüências morais e intelectuais para a Sociedade –, cientistas de vários países demonstraram a falsidade das conclusões do “relatório” e o seu escasso rigor científico. Para dar um exemplo disso, podemos mencionar o recente estudo intitulado “Sexo na América: uma pesquisa definitiva” <Sex in América: a Definitive Survey, Warner Books, 1995>, dos pesquisadores norteamericanos John H. Gagnon, Robert T. Michael e Edward O. Laumann, da Universidade de Chicago, e da repórter do The New York Times, Gina Kolata, que desfez grande parte dos mitos criados pelo relatório do biólogo. Os dados estatísticos de Kinsey parecem ter sido manipulados, já que a amostra era claramente viciada (era alto o percentual de presidiários, exibicionistas, pedófilos e “turistas” sexuais) e a metodologia incluía maus-tratos e estimulação sexual de crianças e até de bebês de poucos meses por parte de adultos <2>. Kinsey e seus colaboradores pretenderam mudar os valores morais tradicionais empregando a seguinte estratégia: a) Defender a idéia de que a bissexualidade é a orientação sexual própria de pessoas normais e desinibidas. Isso encorajaria pessoas heterossexuais a praticarem atos homossexuais, já que a heterossexualidade seria apenas mais uma opção num amplo leque de condutas sexuais. Assim seria alterada a norma da sexualidade heterossexual, e com ela a estrutura familiar tradicional, os valores e os padrões de comportamento sexual convencionais. b) Propor um plano para que as crianças fossem educadas na bissexualidade e treinadas por membros da geração precedente. Essas teorias tiveram influência na Sociedade e na Ciência, contribuindo decisivamente para que a homossexualidade desaparecesse do catálogo de patologias mentais, salvo o caso de distonia (caso em que a pessoa com inclinações homossexuais sente-se mal por isso).
  • 2. 2 Por outro lado, é importante assinalar que até mesmo cientistas da escola de Kinsey, apesar de manifestarem abertamente que a conduta homossexual é normal e plenamente aceitável, dizem que “é de importância vital que todos os profissionais no campo da saúde mental tenham presente que o homem ou a mulher homossexual é homem ou mulher por determinação genética e tem tendências homossexuais por preferência adquirida” <3>. Isso corroboraria a hipótese de que as inclinações homossexuais não são inatas no indivíduo. O psiquiatra L. J. Hatterer chega até a afirmar rotundamente: “Os psiquiatras chegaram finalmente à conclusão de que os fatores genéticos, hereditários, constitucionais, glandulares e hormonais não têm nenhuma importância como causa da homossexualidade” <4>. Cada dia é maior o número de especialistas que não renunciaram à terapia de restauração da identidade sexual, considerando a inclinação homossexual como um transtorno psíquico de tipo neurótico – adquirido ao longo da infância ou da adolescência – que pode ser tratado <5>. Além do mais, Kinsey utilizou o termo dependência para referir-se às relações maritais que preservam a fidelidade da união conjugal, como se ser fiel ao cônjuge fosse alguma espécie de vício. Infelizmente, as conclusões de Kinsey continuam sendo levadas em conta quando se tomam decisões sobre políticas de saúde sexual e/ou reprodutiva, e constituem boa parte do conteúdo dos programas educativos em matéria de sexualidade em todo o mundo. As conseqüências mais diretas de tais divulgações científicas foram: – a separação (que se tenta justificar eticamente) entre a atividade sexual e a procriação; – o exercício da sexualidade fora do matrimônio (o chamado “amor livre”); – e SEXO, a separação entre PROCRIAÇÃO a atividade sexual E e o amor. FAMÍLIA Com o rápido surgimento dos primeiros métodos anticoncepcionais nos anos 60 e com a adoção de um conceito antinatural de Planejamento Familiar por parte dos órgãos oficiais de Saúde Pública, a fertilidade – entendida como dimensão constitutiva da sexualidade e como capacidade de procriação – começou a ser encarada como uma ameaça à Humanidade. Diante dessa crítica situação, o Papa Paulo VI apresentou em 1968 a sua profética Encíclica Humanae Vitae sobre o amor humano e sobre a “paternidade responsável”, na qual opunha-se valentemente à já mencionada visão deformada da sexualidade e à utilização de métodos anticoncepcionais que impeçam a reta regulação da fertilidade. Paulo VI desenvolve nesse texto um belo projeto sobre a decisão e realização da procriação, respeitando a dignidade dos esposos e a vocação à doação própria do amor esponsal. Ele exortou os cientistas a esforçarem-se por encontrar, dentro do âmbito da sua competência, soluções para os problemas nessa matéria, convencidos de que não pode haver contradição entre a Ciência e a Fé <6>. No fim da década de 70, em defesa do direito de decidir sobre a capacidade de
  • 3. 3 procriação, foram desenvolvidas e implantadas as técnicas de Reprodução Assistida, que envolvem a separação entre a procriação e a sexualidade (procriação sem atividade sexual). Em 1978, obteve-se o nascimento do primeiro bebê de proveta (com a transferência do embrião) e nos anos 80 a técnica – conhecida como FIVET (Fertilization In Vitro with Embryo Transference) – foi aperfeiçoada. O passo mais recente é a clonagem, desenvolvida já nos anos 90. Nos últimos anos – dentro de um processo que poderíamos chamar de gradual desestruturação cultural e humana da instituição familiar –, vem sendo proposta a separação entre identidade sexual e gênero: Ser homem ou mulher não estaria determinado fundamentalmente pelo sexo, mas pela cultura. Tal mentalidade ataca as próprias bases da família e das relações interpessoais. Se a questão do gênero é cultural e se a pessoa não se identifica com o sexo à hora de projetar-se como masculina ou feminina, então porque a mãe não pode fazer o papel de pai e vice-versa? Neste início do novo milênio, uma profunda crise da paternidade em todos os níveis – biológico, ontológico, educativo e funcional – levou a Sociedade a aceitar como normal a separação entre procriação e paternidade. O pai já não é mais necessário para procriar. Está sendo estudada até mesmo a reprodução a partir de duas mulheres. A Sociedade ideal deveria conduzir à indiferenciação sexual. As pessoas com inclinações homossexuais teriam amparo jurídico e social para as suas situações sexuais e os filhos perderiam definitivamente a figura do pai. O pai desaparece quando o que se pretende é que o filho dependa unicamente da decisão individual da mulher, às vezes até de maneira homossexual, em nome de uma biologização solitária da filiação. O pai é afinal privado do seu filho e destituído da sua função. As conseqüências de tudo isso pertencem ao campo da Ética e, portanto, da Bioética, já que estamos falando da vida do Homem. Como diz o Professor Anatrella, não basta apenas fabricar carne humana: a filiação deve ser estabelecida partindo da diferença de sexo entre pai e mãe e da sucessão de gerações, e deve ser instituída de modo a poder desenvolver-se e reproduzir-se na História. Uma Antropologia que negue essa realidade – e que portanto sirva de base para uma Ética e para uma Bioética igualmente distorcidas – contradiz a verdade sobre o Homem <7>. As palavras do Papa João Paulo II, ditas há 20 anos na Familiaris Consortio, foram realmente proféticas: “é necessário esforçar-se para que se recupere socialmente a convicção de que o lugar e a tarefa do pai na e pela família são de importância única e insubstituível” <8>.