Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Como combater o terrorismo e construir um mundo de paz
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COMO COMBATER O TERRORISMO E CONSTRUIR UM MUNDO DE PAZ
Fernando Alcoforado*
Terroristas encapuzados mataram a tiros de fuzil 12 pessoas e feriram 11 no dia 7 de
janeiro passado na redação do jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris. Foi o atentado
com maior número de mortes na Europa desde 2005, quando bombas explodiram no
metrô e em um ônibus em Londres, com 52 vítimas. Entre os mortos estão oito
jornalistas do semanário francês, sendo quatro cartunistas --incluindo o diretor do
jornal, Stéphane Charbonnier e Georges Wolinski, expoente do gênero no país--, e dois
policiais. Em seguida à ação, os atiradores gritaram: "Nós vingamos o profeta Maomé".
Desde 2006, quando passou a publicar cartuns do profeta fundador do islamismo, o
"Charlie Hebdo" sofre ameaças e atentados de extremistas. Este atentado terrorista
praticado por fundamentalistas islâmicos coloca em xeque a convivência entre a
comunidade islâmica residente na Europa e os povos europeus.
Um estudo divulgado pela União Europeia alerta para a crescente onda de "islamofobia"
na Europa - de discriminações sofridas no trabalho e nas ruas a ataques violentos contra
muçulmanos e seus descendentes nascidos no continente. Realizado pelo Centro de
Monitoramento Europeu de Racismo e Xenofobia (EUMC, na sigla em inglês), o
documento "Muçulmanos na União Europeia: Discriminação e Islamofobia", de 118
páginas, mostra que, em 2004, 50% dos europeus viam todos os muçulmanos como um
suspeito de ser terrorista (Ver o artigo
Estudo mostra crescimento da "islamofobia", publicado no website
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1912200612.htm>). Cabe observar que o
fundamentalismo islâmico ascendeu no cenário político do Oriente Médio a partir da
Revolução Xiita no Irã, em 1979. O Movimento dos aiatolás foi visto como uma grande
mobilização das energias islâmicas adormecidas pela presença da modernidade. A sua
repentina aparição deveu-se em grande parte pelo fracasso político dos estados seculares
árabes em dar um combate eficiente ao Estado de Israel que é visto como o grande
inimigo político e teológico e retirar seus países da situação de imobilismo econômico.
Da mesma forma que os fundamentalistas cristãos que defendem a Bíblia com extremo
fervor, os islâmicos consideram como sua política básica o retorno às leis do Alcorão,
ao espírito das leis das Sagradas Escrituras do profeta Maomé. Os fundamentalistas
islâmicos consideram que os costumes ocidentais resultam da perversão, a modernidade
é o império de Satã ao utilizar instrumentos sedutores como a música, a bebida, as boas
roupas, os automóveis caros, etc. como uma maneira de envilecer a pureza dos
verdadeiros muçulmanos. O ideal político dos fundamentalistas islâmicos é a
implantação de uma República Islâmica, um regime teocrático que seja a tradução
literal das antigas leis inspiradas diretamente na vontade do profeta Maomé. Quanto aos
costumes, os fundamentalistas islâmicos advogam o radical e urgente rompimento com
tudo o que lhes pareça “ocidental”. As mulheres devem voltar a usar o chador ou o
burka, não devem receber instrução, nem serem atendidas por médicos homens. O
ensino em qualquer nível deve priorizar o religioso e as leis comuns devem acolher as
regras corânicas (açoite ou lapidação para os adúlteros, execuções publicas
acompanhadas de chibatadas, etc.).
Para combater a liberdade de expressão, não reconhecida no direito islâmico, os chefes
religiosos islâmicos lançam mão da fatwa (uma sentença religiosa) que pode condenar a
morte o infrator. O intelectual ou escritor que redigir uma novela ou algo considerado
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blasfemo ou herético está sujeito a ser morto por qualquer seguidor da fé. Este estará
seguro de não ter cometido um crime porque ele foi feito em nome da pureza do Islã.
Centenas de jornalistas, intelectuais e pensadores leigos, especialmente no Egito e na
Argélia, estão com suas vidas ameaçadas devido a pena da fatwa. O caso mais exemplar
é o que foi aplicado contra o escritor inglês Selman Rushdie, que tem há dez anos sua
cabeça a prêmio.
Cabe observar que o terrorismo como é o caso do atentado de Paris é utilizado por
organizações como um meio para alcançar um fim. O terrorismo difere da guerrilha
quanto aos alvos a atingir em suas ações. Enquanto a guerrilha escolhe alvos militares,
as forças do adversário, sua logística, os depósitos de munições, o terrorismo procura
atingir alvos civis e militares indiscriminadamente. O terrorismo não busca o ataque
seletivo, mas sim o ataque em massa. Segundo François Geré (La Nouvelle
Géopolitique. IME à Baume-les-Dames, 2012), um movimento terrorista pode, em
função da correlação de forças, utilizar simultaneamente ou separadamente terrorismo,
guerrilha e operações militares clássicas desde que disponha da capacidade suficiente.
Este é o caso do denominado Estado Islâmico que surgiu recentemente no Oriente
Médio
No momento atual, o terrorismo alcançou grande dimensão no Oriente Médio com o
surgimento do denominado Estado Islâmico que tem como objetivo expandir seu
califado por todo o Oriente Médio, que se pautaria pela Sharia, a Lei Islâmica
interpretada a partir do Alcorão, estabelecendo conexões na Europa e outras regiões do
mundo com o propósito de realizar atentados que lhes possam conferir autoridade
através do terror. Em 29 de agosto de 2014, o grupo terrorista sunita Estado Islâmico –
que já foi denominado também como Estado Islâmico no Iraque e na Síria
(EIIS) e Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) – conhecido também pela
sigla EI, anunciou que seu líder, Abu A-Bagdhadi, havia se autoproclamado califa da
região situada ao noroeste do Iraque e em parte da região central da Síria.
A história do grupo terrorista Estado Islâmico está relacionada com o processo de crise
política que se desencadeou no Iraque após a guerra iniciada em 2003. Como sabemos,
a Guerra do Iraque se deu dois anos após os atentados terroristas de 11 de setembro de
2001 em Nova Iorque, chefiados por membros da organização Al-Qaeda, então liderada
por Osama Bin Laden. A Al-Qaeda possuía grande espaço de atuação no território
iraquiano e em parte da Síria. O grupo Estado Islâmico nasceu como uma derivação da
Al-Qaeda fundamentado nos mesmos princípios desta organização. Contudo, as ações
do EI ficaram gradativamente mais radicais, até mesmo para os padrões da Al-Qaeda, o
que provocou a separação entre as duas organizações terroristas.
O terrorismo como o praticado recentemente em Paris e o surgimento do Estado
Islâmico no Oriente Médio fazem com que se torne um imperativo a criação de uma
nova superestrutura jurídica e política internacional para tratar dessas novas questões,
isto é, a estruturação de um governo mundial haja vista que nenhuma grande potência
será capaz de derrotá-lo por mais poderosa que seja ou atue em coalizão com outras
grandes potências. A preservação da paz é a primeira missão de toda nova forma de
governo mundial. Ele teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta
compatibilizando-o com os interesses de cada nação. O governo mundial trabalharia
também no sentido de mediar os conflitos internacionais e construir o consenso entre
todos os Estados nacionais, fazer com que cada Estado nacional respeite os direitos de
seus cidadãos, além de buscar impedir a propagação dos riscos sistêmicos mundiais.
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Ações para constituir uma governança mundial foi objeto do Concerto das Nações em
1815, da Liga das Nações em 1920 e da Organização das Nações Unidas em 1945 que
foram em vão porque as grandes potências não abriram mão de impor suas vontades no
plano mundial.
Até o surgimento de um governo mundial, as relações internacionais serão regidas pela
lei do mais forte. E este é o pior cenário porque nenhum país por mais poderoso que
seja terá capacidade de construir a paz mundial nem solucionar os problemas do planeta.
As crises econômica, financeira, ecológica, social e política, o desenvolvimento de
atividades ilegais e criminosas atuais e o avanço do terrorismo mostram que elas são
insolúveis sem a existência de um governo mundial. É preciso entender que os
problemas que afetam a economia mundial e o meio ambiente global e contribuem para o
avanço do terrorismo só poderão ser solucionados com a existência de um governo
mundial verdadeiramente democrático representativo de todos os povos do mundo. O
Direito Internacional não pode ser aplicado e respeitado sem a presença de um governo
mundial que seja aceito por todos os países e assegure sua governabilidade.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.