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Chico Buarque
Músicas que eu gosto
Geni E O Zepelim
• De tudo que é nego torto
Do mangue, do cais, do porto
Ela já foi namorada
• O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
• Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
• É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
• E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
• Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
• Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
• Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
• Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
• A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
• Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: Mudei de idéia
• Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
• Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
• Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
• Mas de fato, logo ela
Tão coitada, tão singela
Cativara o forasteiro
Vai passar
• Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
• Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
• Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
• Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
• Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral
Vai passar
Morena Dos Olhos D'água
• Morena, dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
• Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar
Mas que tem abraço estreito, morena
Com jeito de lhe agradar
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei
Vem saber quantas vitórias, morena
Por mares que só eu sei
• Morena, dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
• Seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora, morena
De partir ou de voltar
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também
Mas meu canto 'inda lhe implora, morena
Agora, morena, vem
• Morena, dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
• Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
Samba e Amor
• Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã
• De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar
• No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
• Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?
• Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

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  • 2. Geni E O Zepelim • De tudo que é nego torto Do mangue, do cais, do porto Ela já foi namorada • O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada • Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato • É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato • E também vai amiúde Com os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir • Ela é um poço de bondade E é por isso que a cidade Vive sempre a repetir • Joga pedra na Geni Joga pedra na Geni Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni • Um dia surgiu, brilhante Entre as nuvens, flutuante Um enorme zepelim • Pairou sobre os edifícios Abriu dois mil orifícios Com dois mil canhões assim • A cidade apavorada Se quedou paralisada Pronta pra virar geléia • Mas do zepelim gigante Desceu o seu comandante Dizendo: Mudei de idéia • Quando vi nesta cidade Tanto horror e iniquidade Resolvi tudo explodir • Mas posso evitar o drama Se aquela formosa dama Esta noite me servir • Essa dama era Geni Mas não pode ser Geni Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni • Mas de fato, logo ela Tão coitada, tão singela Cativara o forasteiro
  • 3. Vai passar • Vai passar Nessa avenida um samba popular Cada paralelepípedo Da velha cidade Essa noite vai Se arrepiar Ao lembrar Que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pés Que aqui sambaram nossos ancestrais • Num tempo Página infeliz da nossa história Passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia A nossa pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações • Seus filhos Erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal Tinham direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia Que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval (Vai passar) • Palmas pra ala dos barões famintos O bloco dos napoleões retintos E os pigmeus do bulevar Meu Deus, vem olhar Vem ver de perto uma cidade a cantar A evolução da liberdade Até o dia clarear • Ai, que vida boa, olerê Ai, que vida boa, olará O estandarte do sanatório geral vai passar Ai, que vida boa, olerê Ai, que vida boa, olará O estandarte do sanatório geral Vai passar
  • 4. Morena Dos Olhos D'água • Morena, dos olhos d'água Tira os seus olhos do mar Vem ver que a vida ainda vale O sorriso que eu tenho Pra lhe dar • Descansa em meu pobre peito Que jamais enfrenta o mar Mas que tem abraço estreito, morena Com jeito de lhe agradar Vem ouvir lindas histórias Que por seu amor sonhei Vem saber quantas vitórias, morena Por mares que só eu sei • Morena, dos olhos d'água Tira os seus olhos do mar Vem ver que a vida ainda vale O sorriso que eu tenho Pra lhe dar • Seu homem foi-se embora Prometendo voltar já Mas as ondas não tem hora, morena De partir ou de voltar Passa a vela e vai-se embora Passa o tempo e vai também Mas meu canto 'inda lhe implora, morena Agora, morena, vem • Morena, dos olhos d'água Tira os seus olhos do mar Vem ver que a vida ainda vale O sorriso que eu tenho Pra lhe dar • Vem ver que a vida ainda vale O sorriso que eu tenho Pra lhe dar
  • 5. Samba e Amor • Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito sono de manhã Escuto a correria da cidade, que arde E apressa o dia de amanhã • De madrugada a gente 'inda se ama E a fábrica começa a buzinar O trânsito contorna a nossa cama, reclama Do nosso eterno espreguiçar • No colo da bem-vinda companheira No corpo do bendito violão Eu faço samba e amor a noite inteira Não tenho a quem prestar satisfação • Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito mais o que fazer Escuto a correria da cidade, que alarde Será que é tão difícil amanhecer? • Não sei se preguiçoso ou se covarde Debaixo do meu cobertor de lã Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito sono de manhã