2. Florescimento
O florescimento das variedades de cana-de-açúcar é conhecido como um
fenômeno que afeta negativamente a produtividade dos canaviais. Devido às
dificuldades que o setor vem enfrentando há alguns anos, o tema tornou-se ainda
mais relevante frente ao receio de novas quedas na produção.
Entre os fatores que afetam o florescimento da cana-de-açúcar podemos
destacar o fotoperíodo (comprimento do dia), a temperatura e a umidade do solo.
Assim, o acompanhamento destes fatores se faz de extrema importância para
que se possa antever a ocorrência deste fenômeno e tomar medidas corretivas
caso necessário.
As condições de fotoperíodo são influenciadas pela latitude, o que afeta a
quantidade de luz que determinada região recebe por dia, influenciando assim o
comprimento do dia e da noite. Melhores condições de florescimento são
encontradas em regiões de latitudes mais baixas (mais próximas à linha do
Equador) e a época crítica para a indução ocorre quando o período de
luminosidade tem duração de 12,5 horas e ocorre por 20 dias. Para que o
florescimento aconteça é necessário que ocorra pelo menos 10 dias ininterruptos
com esta condição. Cabe salientar que o efeito de um dia desfavorável entre
vários dias favoráveis reduz o florescimento, mas não o inibe se o número de dias
favoráveis for significativo.
Em relação à temperatura, as condições ideais são encontradas em
temperaturas, variando entre 18ºC e 32ºC. Por fim, o último fator que também tem
grande influência para a ocorrência deste fenômeno é a umidade do solo. A falta
de água antes e durante o período do início do processo de florescimento reduz
ou inibe sua ocorrência. Caso essa falta de água venha relacionada com altas
temperaturas o efeito de inibição será ainda maior.
Quando o florescimento ocorre, perdas de produção significativas poderão
acontecer na lavoura. O efeito deste fenômeno foi verificado em um experimento
com diferentes variedades de cana, no qual o florescimento foi controlado com o
uso de luz para interrupção do comprimento da noite. Os resultados obtidos
demonstraram uma redução de 6,8% na tonelagem da cana, perda de 3% no
conteúdo de sacarose e diminuição de 9,4% na produtividade de açúcar nas
canas florescidas (Berding e Hurney, 2005).
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3. Condições climáticas para florescimento
no Centro-Sul em 2014 e 2015
Em 2015 vem sendo verificada a ocorrência de florescimento em áreas de
cana-de-açúcar em diversas regiões do Centro-Sul. Além disso, de modo geral,
as condições meteorológicas nesta região do Brasil apresentaram temperaturas
amenas e chuvas abundantes, ideais para a ocorrência de florescimento.
Outra questão relevante com relação às perdas é o tempo em que a
variedade florescida permanece no campo até ser colhida. Quanto mais tempo a
cana ficar no campo, maiores forem as temperaturas e menor for a disponibilidade
de água, maior poderá ser o comprometimento na produtividade de açúcar. Outro
fator que influencia as perdas é o padrão de desenvolvimento da variedade. A
diferença entre as variedades na deterioração da sacarose é considerável e uma
das características relacionadas a essa diferença é a porcentagem de colmos
florescidos. O Programa de Melhoramento Genético do CTC considera a seleção
contra o florescimento em todas as fases do processo de obtenção de uma nova
variedade. A estratégia visa diminuir a ocorrência no campo e consequentemente
as perdas de açúcar que podem ser ocasionadas pelo florescimento. Uma
estratégia adicional adotada pelo CTC é priorizar genitores com florescimento
tardio para a realização de cruzamentos destinados às regiões com maior
incidência de florescimento nas variedades comerciais. Assim, as variedades
CTC, por serem mais modernas e adaptadas as necessidades do setor, são
pouco floríferas.
Além do uso de variedades com baixa tendência ao florescimento, algumas
práticas de manejo podem ser adotadas para controlar o fenômeno, como por
exemplo a utilização de inibidores de florescimento também conhecidos como
reguladores de crescimento. Um que comprovadamente produz esse efeito é o
Ethephon, quando aplicado antes do período de indução. O produto foi capaz de
reduzir em 87% o florescimento, com aumento de 7,5% na tonelagem de cana e
10% na produtividade de açúcar. (Moore e Osgood, 1989). Em um ano onde o
suprimento de água antes do período da indução é elevado e as temperaturas
ficam dentro da faixa adequada, a aplicação do inibidor/regulador torna-se
essencial.
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4. Foram aplicados aos dados obtidos por essas estações os parâmetros
condicionantes ao florescimento apresentados por Moore & Berding (2013), e por
meio da análise dos resultados foi possível verificar que 2015 realmente
apresenta uma tendência de maior favorecimento à ocorrência de florescimento
na cana-de-açúcar em todas as regiões analisadas em comparação a 2014.
Cada ponto analisado apresenta um período específico de dias onde as
condições ideais para o florescimento devem ocorrer. Dentro do período
favorável de cada local, foram considerados os dados de precipitação e
temperaturas diárias máxima e mínima, que não podem ultrapassar o intervalo de
18 a 32°C. Devido à latitude, a região de Goianésia-GO representa o local com
maior número de dias com fotoperíodo adequado e Ourinhos-SP com o menor.
Nos gráficos comparativos abaixo, é possível constatar a diferença em cada
um dos locais analisados dentro dos dias de fotoperíodo adequado específicos
nos anos de 2014 e 2015. As barras verdes representam dias com todas as
condições requeridas ao florescimento. Condições de no mínimo 10 dias
consecutivos de condições favoráveis representa a possibilidade de ocorrência
de florescimento naquele local.
Para analisar esta situação de forma mais concreta e compará-la ao ano
anterior, foram utilizados os dados de 10 estações meteorológicas automáticas
controladas pelo CTC e pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) que
representam diferentes ambientes climáticos do Centro-Sul.
Figura 1 – Distribuição das estações meteorológicas controladas pelo CTC e INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).
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10. Pela análise dos gráficos nota-se que devido às condições de chuvas
dentro do normal para o final de fevereiro e meados de março, houve volume
suficiente e boa distribuição de chuvas em todos os locais e em ambos os anos
analisados. Desta forma, a restrição hídrica não representou um fator limitante ao
florescimento em nenhum dos pontos
Como se pode verificar, todas as localidades estudadas - com exceção de
Rio Brilhante no Mato Grosso do Sul - apresentaram condições climáticas
favoráveis ao florescimento neste ano de 2015. Esta condição é reforçada se
compararmos com os dados de 2014, onde nas localidades com latitudes mais
altas houveram poucos dias subsequentes em condições para florescimento.
Nestes locais, não se chegou à quantidade mínima de dias subsequentes em
condições para o florescimento.
De modo geral, os dados analisados validam a percepção geral nas
diferentes regiões produtoras do Centro-Sul sobre a possível ocorrência de
florescimento nos canaviais em 2015, em especial em regiões que normalmente
esta condição não costuma ser tão frequente nos anos anteriores. Em função da
variedade e do local, o ideal seria a utilização de inibidores/ reguladores para
impedir a ocorrência do florescimento e suas eventuais perdas. Outra alternativa
que pode ser adotada é a antecipação da colheita das variedades florescidas
com o objetivo de diminuir a exposição destas aos fatores que acentuam suas
perdas reduzindo assim os impactos em sua produção final na safra.
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11. Posicionamento Colheita
Variedade Abr Mai
CTC 9001
CTC17
CTC21
CTC25
CTC9003
CTC7
CTC20
CTC15
CTC4
CTC9002
CTC11
CTC24
CTC19
CTC14
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Variedades CTC com baixo risco de perdas em decorrência do florescimento
se manejadas corretamente com relação à época de colheita:
Tabela 1 – Posicionamento de colheita das variedades CTC.
Referências:
Berding, N. (2005). Poor and variable flowering in tropical sugarcane improvement programs: diagnosis and resolution of a major
breeding impediment. Proceedings International Society of Sugar Cane Technologists, 25, 493-501.
Berding, N. & Hurney, A.P. (2005). Flowering and lodging, physiological-based traits affecting cane and sugar yield: what do we
know of their control mechanisms and how do we manage them? Field Crops Research, 92, 261-275.
Moore, P.H. & Berding, N. (2013). Flowering. In: Sugarcane: Physiology, biochemistry and functional biology. First Edition. Edited
by Paul H. Moore and Frederik C. Botha.
Moore, P.H. & Osgood, R.V. (1989). Prevention of flowering and increasing sugar yield of sugarcane by application of ethephon
(2-chloroethylphosphonic acid). Journal of Plant Growth Regulation, 8, 205-210.
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