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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Instituto de Educação à Distância
Centro de Recursos de Nampula
Cristóvão António: 708216871
AS SOCIEDADES MATRILINEARES DE MOÇAMBIQUE
Docente: Lilamo Fátima Pereira
Disciplina: Antropologia Cultural
Curso: Administração Pública. 2º Ano.
Nampula, Agosto de 2022
2
Índice
Introdução……………………………………………………………….……………………2
Diferentes perspectivas sobre a matrilinearidade…………………………………………….3
As sociedades Matrilineares de Moçambique………………………………………………..6
Caracterização da linhagem matrilinear………………………………………………………8
Conclusão……………………………………………………………………………………..9
Referências bibliográficas……………………………………………………..…………….10
3
1. Introdução
O presente trabalho subordinado ao tema as sociedades Matrilineares de Moçambique, visa
mostrar como este tipo de sociedade é apresentada ao nível de Moçambique, em especial no
norte do Zambeze. Portanto, ao falarmos das sociedades matrilineares de Moçambique,
pretendemos fazer uma descrição de como o poder é exercido pela mulher em relação a sua
família.
O trabalho tem como objectivo: mostrar como a mulher exerce o seu poder em relação a sua
família no norte do Zambeze. A metodologia usada para a elaboração do trabalho, foi a
metodologia de consulta bibliográfica, artigo e ensaios.
O trabalho encontra-se organizado em:
 Introdução
 Desenvolvimento
 Conclusão e por fim,
 As referências bibliográficas.
4
2. Diferentes perspetivas sobre a matrilinearidade
Há diferentes perspetivas e interpretações sobre o significado, papel e importância do
parentesco. Desde a teoria evolucionista de Lewis Morgan, apresentada na 2ª metade do século
XIX, que localizava a matrilinearidade num estádio inicial da evolução a que se seguiria a
patrilinearidade, às teorias mais recentes que apelam ao estudo de parentesco e género como
um só campo de estudo (Yanagisako & Collier, 1987), passando pelos estruturalistas e
funcionalistas. Hoje em dia, a ideia aceite por muitos é a de que os sistemas de parentesco
devem ser percebidos mais em termos de símbolos culturais do que em princípios
organizadores da sociedade. Contudo, muitas ideias dos anos 60 e 70 são ainda de interesse
para estudar as relações entre homens e mulheres e as actividades económicas, em especial a
realidade do parentesco em relação à terra e à propriedade (Holden et al., 2006).
Em termos académicos os trabalhos sobre matrilinearidade estão muitas vezes enquadrados
no chamado “matrilineal puzzle”, introduzido na teoria de parentesco pela antropóloga
Britânica Audrey Richards (1950), que descreve o conflito de autoridade inerente às
sociedades matrilineares.
Um pressuposto importante nas análises dos grupos de parentesco matrilineares versus
patrilineares é a de que a família é uma unidade básica e universal da sociedade. Outro
pressuposto importante da teoria de parentesco diz respeito à função da linhagem na sociedade:
se funcionam como um grupo que toma efectivamente decisões, então, tem que haver
diferenças internas de autoridade, ou seja nem todos os membros podem ter igual autoridade
Schneider (1961, p.6) afirma que “Positions of highest authority within matrilineal descent
group will, therefore, ordinarily be vested in statuses occupied by men”. Tomando o "princípio
da autoridade masculina" até ao fim, alguns analistas consideram mesmo que são os papéis de
tio e irmão que realmente formam a espinha dorsal dos grupos matrilineares. Schneider (1961,
p. 7-8), argumenta que nos grupos patrilineares as linhas de autoridade e filiação são
transmitidas ambas pela linha masculina, enquanto nos grupos matrilineares elas se
apresentam separadas entre homens e mulheres. Ou seja nos grupos matrilineares a autoridade
de um homem pode estar separada do papel que desempenha no seu agregado familiar, e estar
5
basicamente associada à filiação do homem no seu grupo matrilinear. Assim, o homem poderá
ter autoridade como irmão ou tio, em vez de a ter como marido ou pai.
Uma outra ideia que vale a pena referir é a de maior flexibilidade e mudança das comunidades
matrilineares em relação às patrilineares. De acordo com Douglas (1969, p.123) a
matrilinearidade pode ser vista como “essentially a system for a wide extension of kinship
ties”. Douglas argumenta que as regras matrilineares de definição de direitos e
responsabilidades resultam numa certa abertura e ambiguidade nos papéis, incluindo dupla
lealdade, o que tem funções sociais importantes no seio de uma extensa rede de parentesco.
Essas relações tendem a envolver os fluxos contínuos de recursos - tanto de trabalho como de
alimentos - entre o grupo do marido e grupo da esposa após o casamento.
Tal qualidade de abertura ou flexibilidade, de acordo com Douglas, implica que os grupos
matrilineares, em comparação com os grupos patrilineares, podem ser mais capazes de apoiar
os modos de vida das famílias em situação de alta vulnerabilidade no que diz respeito aos
recursos produtivos e incerteza quanto aos rendimentos agrícolas. (Douglas, 1969, p.123). Ou
seja, de acordo com Holden et al. (2006, p.58) o que está implícito na hipótese de Douglas é
que grupos matrilineares podem ser relativamente mais eficazes do que os grupos patrilineares
em situações de escassez de alimentos.
Por outro lado, de acordo com alguns autores as comunidades matrilineares são
predominantemente hortícolas e as patrilineares mais baseadas na criação pecuária. Aberle
(1961, p.655-730) argumentou que matrilinearidade tende a ser incompatível com tipos de
subsistência diferentes da horticultura, especialmente com grandes rebanhos domésticos e usa
mesmo a expressão “the cow is the enemy of matriliny”.
É geralmente aceite que as mudanças económicas, nomeadamente a passagem de uma
economia de subsistência rumo à economia de mercado e ao capitalismo, levam à
desintegração do sistema matrilinear, uma vez que esta mudança económica enfraquece a
economia tradicional, particularmente a agrária, em que tais sistemas existem. Gough (1961),
argumenta que o contacto com as nações industrializadas ocidentais através de economia de
mercado é a principal razão para a desintegração do sistema matrilinear, mais do que o
contacto com religiões (Cristianismo e Islamismo) que promovem o sistema patrilinear.
6
A ideia é que as economias de mercado implicam a transacção de grandes somas de dinheiro,
a concentração nas culturas de rendimento, o trabalho assalariado e a emigração. Todos estes
elementos levariam a um enfraquecimento dos grupos de descendência e ao fortalecimento da
família nuclear, com consequente desaparecimento dos sistemas matrilineares.
Douglas (1969, p.121-135) começa por ver a matrilinearidade como uma instituição frágil e o
seu futuro em risco. Mas mais à frente afirma que a matrilinearidade é totalmente compatível
com a concorrência de uma economia em expansão. Douglas argumenta que é a escassez e
não os excedentes que motivaram uma mudança de direção rumo à patrilinearidade. Em suma
para Douglas "the enemy of matriliny is ... economic restriction" (1969, p.133).
Sabe-se hoje que alguns sistemas matrilineares têm não só sobrevivido mas prosperado em
ambientes de economia de mercado, e que esta mudança não traz necessariamente o
desmembramento das comunidades matrilineares. São exemplos disso o grupo Minangkabau
na zona Ocidental da ilha de Sumatra (Blackwood, 1997), o grupo que habita a região de
Negeri Sembilian na Malásia (Stivens, 1994), a população da zona Shire Highlands no Sul do
Malawi com origem nos grupos Nyanja, Mangánja, Yao e Lomwe (Peter, 1997), ou ainda as
sociedades matrilineares estudadas por Isabel Casimiro na província de Nampula, em
Moçambique (Casimiro 2012, p.222).
Casimiro (2012, p.221) nota que “As sociedades matrilineares ainda existentes não são
transitórias, foram capazes de se adaptar a sistemas competitivos e não se desenvolveram do
mesmo modo, em direcção ao patriarcado, sendo reveladoras de variadas dinâmicas entre
diferentes forças na sociedade”. Ainda de acordo com esta autora “A literatura feminista
permitiu um novo olhar sobre as sociedades matrilineares a partir de três questões: a relação
entre matrilinearidade e relações de género; o papel da análise histórica; a matrilinearidade
como um conjunto de características e não como uma totalidade”.
3. As sociedades Matrilineares de Moçambique
Matrilinearidade é um termo aplicado às formas ginecocráticas de sociedade, nas quais o papel
de liderança e poder é exercido pela mulher e especialmente pelas mães de uma comunidade.
A etimologia de matriarca deriva do grego mater ou mãe e archein (arca) ou reinar, governar.
7
Apesar de fontes arqueológicas confirmarem amplamente a existência de divindades
femininas, a realidade de uma sociedade matriarcal é por vezes contestada (Casimiro, 2012).
Matrilinearidade é uma classificação ou organização de um povo, grupo populacional, família,
clã ou linhagem em que a descendência é contada em linha materna. A partir deste esboço de
organograma, não pretendemos mais do que clarificar a compreensão dos pressupostos
estruturais sociais de algumas Comunidades e em seguida, passaremos à sua explicitação. Em
Nampula assim como no norte de Moçambique as Sociedades são matrilineares, isto é os filhos
seguem a linhagem da mãe (Douglas, 1969).
Matrilocal é aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher. Com
frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma tendência de
as famílias estabelecerem residência matrilocais.
Matriarcal ou matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias matriarcais
abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder indirectamente através
do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela orientação da vida dos filhos
da irmã cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua herança em caso de morte. O
papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho porta-se mal ou comete
uma infracção, o pai remete a solução dessa infracção ao tio materno do filho, isto é, ao irmão
da mãe do filho como resultado da influência nesta região, assiste-se as diferenças entre a
região norte e sul do Zambeze, a norte do Zambeze devido ao impacto da mosca Tsé-Tsé,
impediu numa primeira fase a prática da pecuária, sobretudo o gado bovino e privilegiando a
prática da agricultura, actividades que maioritariamente eram praticadas pelas mulheres, o que
teria originado comunidades matrilineares, estas sociedades desenvolveram-se no norte do
Zambeze (Casimiro, 2012 e Douglas, 1961).
Devido a prática da agricultura, conferiu a mulher poderes sobre o homem onde os filhos do
casal pertencem ao grupo de parentesco da mãe e os bens e poderes são herdados por via
materna. O casamento na sociedade matrilinear, o homem fixa a sua residência na família da
mulher, isto é, o casamento é matrilocal, a esta prática chama-se uxorilocalidade. As funções
políticas e jurídicas são desempenhadas pelo tio materno. Nestas sociedades, se no casal a
8
mulher morre, o homem é obrigado a casar-se com a irmã da sua defunta mulher, a esta prática
chama-se Surrurato.
Neste caso as mulheres e que transmitem os apelidos aos descendentes. Nas sociedades
matrilineares as principais decisões da família, como o casamento e resolução de alguns
problemas, são tomadas pelo irmão da mãe (tio materno). Este tipo de sociedade é
característico de algumas regiões das províncias de Tete, Zambézia, Nampula, Cabo Delgado
e Niassa (Casimiro, 2012 e Douglas, 1969)
4. Caracterização da Linhagem Matrilinear
 Linhagem matrilinear: neste sistema, o filho nascido de um casamento pertence à
família da mãe; pratica-se a uxorilocalidade, isto é, depois do casamento o homem
transfere-se da casa de seus pais, sua povoação para a da sua mulher ou esposa;
 O dote (mahari em emákua) de maior significado é entregue pelo homem à mulher. A
educação dos filhos não é assegurada pelo pai, mas sim pelo V tio materno, já que estes
crescem entregues aos cuidados da família materna;
 A transmissão do poder, obedece mais ou menos à mesma lógica: com a morte de um
chefe o poder não passa para o filho mais velho, mas sim para o sobrinho, filho da irmã
mais velha;
 A caça a pesca e a construção de casas eram as únicas actividades masculinas
relevantes. As mulheres, praticando a agricultura, é que asseguravam o sustento das
comunidades;
 O sistema matrilinear não se identifica com o de matriarcado, já que não confere às
mulheres o poder de direcção e superintendência dos negócios, nem qualquer
autoridade política. Apenas diz respeito às regras de transmissão dos bens (Casimiro,
2012).
9
5. Conclusão
Nas sociedades Matrilineares em Moçambique, o poder numa família é exercido pela mulher
de forma indirecta através do seu irmão do sexo masculino. É este irmão a quem cabe zelar
pela orientação da vida dos filhos do irmão cuidar pela iniciação dos filhos e legar-lhes a
herança em caso de morte.
Neste tipo de sociedades o Pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho porta-
se mal ou comete uma infracção o Pai remete a solução dessa infracção ao tio materno do
filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.
10
6. Referências bibliográficas
1. Aberle, D. F. (1961). Matrilineal descent in cross-cultural comparison. In Schneider,
D., & . Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship. Berkeley: University of California Press.
2. Blackwood, E. (1997). Women, land, and labor: Negotiating clientage and kinship in
a Minangkabau peasant community. Ethnology, Vol. 36 (4), doi
http://www.jstor.org/stable/3774038. Disponível em: http://www.jstor.org
/discover/10.2307/3774038?uid=3738880&uid=2&uid=4&sid=2110263471074 1.
Acedido em 5.08.2013.
3. Casimiro, I. (2012). Mulher, Pesquisa, Acção e Mudança. In Silva, C. T., Coelho, B.
P. J., & Souto, N. A. (Org.), Como Fazer Ciências Sociais e Humanas em África –
Questões Epistemológicas, Metodológicas, Teóricas e Políticas (Textos do Colóquio
em Homenagem a Aquino de Bragança) (pp.211-226). Disponível em:
http://www.codesria.org/spip.php?article1611&lang=en. Acedido em 5.08.2013.
4. Douglas, M. (1969). Is matriliny doomed in Africa? In Douglas, M., & Kaberry, P. M.
(Eds.), Man in Africa. London: Tavistock Publications.
5. Gough, K. (1961). The Modern Disintegration of Matrilineal Descent Groups. In
Schneider, D., & Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship. Berkeley: University of
California Press.
6. Holden, S., Kaarhus, R., & Lunduka, R. (2006). Land Policy Reform: The Roles of
Land Markets and Women’s Land Rights in Malawi. Noragric Report nº 36, October
2006. Ås, Norway: Noragric, Norwegian University of Life Sciences (UMB).
7. Peters, E. P. (1997a). Revisiting the Puzzle of Matriliny in South-Central Africa:
Introduction. Critique of Anthropology, June 1997, Vol. 17 (2).
doi:10.1177/0308275X9701700202. Disponível em: http://coa.sagepub.com
/content/17/2.toc. Acedido em 10.06.2013.
8. Schneider, D. (1961). The distinctive Features of Matrilineal Descendents Groups. In
Schneider, D., & Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship (pp. 1-29). Berkeley:
University of California Press.
9. Yanagisako, S. J., & Collier J. F. (1987). Toward a Unified Analysis of Gender and
Kinship. In Collier J. F., & Yanagisako, S. J. (Eds.), Gender and Kinship: Essays
Towards a Unified Analysis (pp.14–50). Stanford: Stanford University Press.
11
10. Richards, A. (1950). Some types of family structure amongst the Central Bantu. In
Radcliffe-Brown, A. R., & Forde, D. (Eds.), African systems of kinship and marriage
(pp. 207-251). London: Oxford University Press.

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  • 1. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE Instituto de Educação à Distância Centro de Recursos de Nampula Cristóvão António: 708216871 AS SOCIEDADES MATRILINEARES DE MOÇAMBIQUE Docente: Lilamo Fátima Pereira Disciplina: Antropologia Cultural Curso: Administração Pública. 2º Ano. Nampula, Agosto de 2022
  • 2. 2 Índice Introdução……………………………………………………………….……………………2 Diferentes perspectivas sobre a matrilinearidade…………………………………………….3 As sociedades Matrilineares de Moçambique………………………………………………..6 Caracterização da linhagem matrilinear………………………………………………………8 Conclusão……………………………………………………………………………………..9 Referências bibliográficas……………………………………………………..…………….10
  • 3. 3 1. Introdução O presente trabalho subordinado ao tema as sociedades Matrilineares de Moçambique, visa mostrar como este tipo de sociedade é apresentada ao nível de Moçambique, em especial no norte do Zambeze. Portanto, ao falarmos das sociedades matrilineares de Moçambique, pretendemos fazer uma descrição de como o poder é exercido pela mulher em relação a sua família. O trabalho tem como objectivo: mostrar como a mulher exerce o seu poder em relação a sua família no norte do Zambeze. A metodologia usada para a elaboração do trabalho, foi a metodologia de consulta bibliográfica, artigo e ensaios. O trabalho encontra-se organizado em:  Introdução  Desenvolvimento  Conclusão e por fim,  As referências bibliográficas.
  • 4. 4 2. Diferentes perspetivas sobre a matrilinearidade Há diferentes perspetivas e interpretações sobre o significado, papel e importância do parentesco. Desde a teoria evolucionista de Lewis Morgan, apresentada na 2ª metade do século XIX, que localizava a matrilinearidade num estádio inicial da evolução a que se seguiria a patrilinearidade, às teorias mais recentes que apelam ao estudo de parentesco e género como um só campo de estudo (Yanagisako & Collier, 1987), passando pelos estruturalistas e funcionalistas. Hoje em dia, a ideia aceite por muitos é a de que os sistemas de parentesco devem ser percebidos mais em termos de símbolos culturais do que em princípios organizadores da sociedade. Contudo, muitas ideias dos anos 60 e 70 são ainda de interesse para estudar as relações entre homens e mulheres e as actividades económicas, em especial a realidade do parentesco em relação à terra e à propriedade (Holden et al., 2006). Em termos académicos os trabalhos sobre matrilinearidade estão muitas vezes enquadrados no chamado “matrilineal puzzle”, introduzido na teoria de parentesco pela antropóloga Britânica Audrey Richards (1950), que descreve o conflito de autoridade inerente às sociedades matrilineares. Um pressuposto importante nas análises dos grupos de parentesco matrilineares versus patrilineares é a de que a família é uma unidade básica e universal da sociedade. Outro pressuposto importante da teoria de parentesco diz respeito à função da linhagem na sociedade: se funcionam como um grupo que toma efectivamente decisões, então, tem que haver diferenças internas de autoridade, ou seja nem todos os membros podem ter igual autoridade Schneider (1961, p.6) afirma que “Positions of highest authority within matrilineal descent group will, therefore, ordinarily be vested in statuses occupied by men”. Tomando o "princípio da autoridade masculina" até ao fim, alguns analistas consideram mesmo que são os papéis de tio e irmão que realmente formam a espinha dorsal dos grupos matrilineares. Schneider (1961, p. 7-8), argumenta que nos grupos patrilineares as linhas de autoridade e filiação são transmitidas ambas pela linha masculina, enquanto nos grupos matrilineares elas se apresentam separadas entre homens e mulheres. Ou seja nos grupos matrilineares a autoridade de um homem pode estar separada do papel que desempenha no seu agregado familiar, e estar
  • 5. 5 basicamente associada à filiação do homem no seu grupo matrilinear. Assim, o homem poderá ter autoridade como irmão ou tio, em vez de a ter como marido ou pai. Uma outra ideia que vale a pena referir é a de maior flexibilidade e mudança das comunidades matrilineares em relação às patrilineares. De acordo com Douglas (1969, p.123) a matrilinearidade pode ser vista como “essentially a system for a wide extension of kinship ties”. Douglas argumenta que as regras matrilineares de definição de direitos e responsabilidades resultam numa certa abertura e ambiguidade nos papéis, incluindo dupla lealdade, o que tem funções sociais importantes no seio de uma extensa rede de parentesco. Essas relações tendem a envolver os fluxos contínuos de recursos - tanto de trabalho como de alimentos - entre o grupo do marido e grupo da esposa após o casamento. Tal qualidade de abertura ou flexibilidade, de acordo com Douglas, implica que os grupos matrilineares, em comparação com os grupos patrilineares, podem ser mais capazes de apoiar os modos de vida das famílias em situação de alta vulnerabilidade no que diz respeito aos recursos produtivos e incerteza quanto aos rendimentos agrícolas. (Douglas, 1969, p.123). Ou seja, de acordo com Holden et al. (2006, p.58) o que está implícito na hipótese de Douglas é que grupos matrilineares podem ser relativamente mais eficazes do que os grupos patrilineares em situações de escassez de alimentos. Por outro lado, de acordo com alguns autores as comunidades matrilineares são predominantemente hortícolas e as patrilineares mais baseadas na criação pecuária. Aberle (1961, p.655-730) argumentou que matrilinearidade tende a ser incompatível com tipos de subsistência diferentes da horticultura, especialmente com grandes rebanhos domésticos e usa mesmo a expressão “the cow is the enemy of matriliny”. É geralmente aceite que as mudanças económicas, nomeadamente a passagem de uma economia de subsistência rumo à economia de mercado e ao capitalismo, levam à desintegração do sistema matrilinear, uma vez que esta mudança económica enfraquece a economia tradicional, particularmente a agrária, em que tais sistemas existem. Gough (1961), argumenta que o contacto com as nações industrializadas ocidentais através de economia de mercado é a principal razão para a desintegração do sistema matrilinear, mais do que o contacto com religiões (Cristianismo e Islamismo) que promovem o sistema patrilinear.
  • 6. 6 A ideia é que as economias de mercado implicam a transacção de grandes somas de dinheiro, a concentração nas culturas de rendimento, o trabalho assalariado e a emigração. Todos estes elementos levariam a um enfraquecimento dos grupos de descendência e ao fortalecimento da família nuclear, com consequente desaparecimento dos sistemas matrilineares. Douglas (1969, p.121-135) começa por ver a matrilinearidade como uma instituição frágil e o seu futuro em risco. Mas mais à frente afirma que a matrilinearidade é totalmente compatível com a concorrência de uma economia em expansão. Douglas argumenta que é a escassez e não os excedentes que motivaram uma mudança de direção rumo à patrilinearidade. Em suma para Douglas "the enemy of matriliny is ... economic restriction" (1969, p.133). Sabe-se hoje que alguns sistemas matrilineares têm não só sobrevivido mas prosperado em ambientes de economia de mercado, e que esta mudança não traz necessariamente o desmembramento das comunidades matrilineares. São exemplos disso o grupo Minangkabau na zona Ocidental da ilha de Sumatra (Blackwood, 1997), o grupo que habita a região de Negeri Sembilian na Malásia (Stivens, 1994), a população da zona Shire Highlands no Sul do Malawi com origem nos grupos Nyanja, Mangánja, Yao e Lomwe (Peter, 1997), ou ainda as sociedades matrilineares estudadas por Isabel Casimiro na província de Nampula, em Moçambique (Casimiro 2012, p.222). Casimiro (2012, p.221) nota que “As sociedades matrilineares ainda existentes não são transitórias, foram capazes de se adaptar a sistemas competitivos e não se desenvolveram do mesmo modo, em direcção ao patriarcado, sendo reveladoras de variadas dinâmicas entre diferentes forças na sociedade”. Ainda de acordo com esta autora “A literatura feminista permitiu um novo olhar sobre as sociedades matrilineares a partir de três questões: a relação entre matrilinearidade e relações de género; o papel da análise histórica; a matrilinearidade como um conjunto de características e não como uma totalidade”. 3. As sociedades Matrilineares de Moçambique Matrilinearidade é um termo aplicado às formas ginecocráticas de sociedade, nas quais o papel de liderança e poder é exercido pela mulher e especialmente pelas mães de uma comunidade. A etimologia de matriarca deriva do grego mater ou mãe e archein (arca) ou reinar, governar.
  • 7. 7 Apesar de fontes arqueológicas confirmarem amplamente a existência de divindades femininas, a realidade de uma sociedade matriarcal é por vezes contestada (Casimiro, 2012). Matrilinearidade é uma classificação ou organização de um povo, grupo populacional, família, clã ou linhagem em que a descendência é contada em linha materna. A partir deste esboço de organograma, não pretendemos mais do que clarificar a compreensão dos pressupostos estruturais sociais de algumas Comunidades e em seguida, passaremos à sua explicitação. Em Nampula assim como no norte de Moçambique as Sociedades são matrilineares, isto é os filhos seguem a linhagem da mãe (Douglas, 1969). Matrilocal é aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher. Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma tendência de as famílias estabelecerem residência matrilocais. Matriarcal ou matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela orientação da vida dos filhos da irmã cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho porta-se mal ou comete uma infracção, o pai remete a solução dessa infracção ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho como resultado da influência nesta região, assiste-se as diferenças entre a região norte e sul do Zambeze, a norte do Zambeze devido ao impacto da mosca Tsé-Tsé, impediu numa primeira fase a prática da pecuária, sobretudo o gado bovino e privilegiando a prática da agricultura, actividades que maioritariamente eram praticadas pelas mulheres, o que teria originado comunidades matrilineares, estas sociedades desenvolveram-se no norte do Zambeze (Casimiro, 2012 e Douglas, 1961). Devido a prática da agricultura, conferiu a mulher poderes sobre o homem onde os filhos do casal pertencem ao grupo de parentesco da mãe e os bens e poderes são herdados por via materna. O casamento na sociedade matrilinear, o homem fixa a sua residência na família da mulher, isto é, o casamento é matrilocal, a esta prática chama-se uxorilocalidade. As funções políticas e jurídicas são desempenhadas pelo tio materno. Nestas sociedades, se no casal a
  • 8. 8 mulher morre, o homem é obrigado a casar-se com a irmã da sua defunta mulher, a esta prática chama-se Surrurato. Neste caso as mulheres e que transmitem os apelidos aos descendentes. Nas sociedades matrilineares as principais decisões da família, como o casamento e resolução de alguns problemas, são tomadas pelo irmão da mãe (tio materno). Este tipo de sociedade é característico de algumas regiões das províncias de Tete, Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa (Casimiro, 2012 e Douglas, 1969) 4. Caracterização da Linhagem Matrilinear  Linhagem matrilinear: neste sistema, o filho nascido de um casamento pertence à família da mãe; pratica-se a uxorilocalidade, isto é, depois do casamento o homem transfere-se da casa de seus pais, sua povoação para a da sua mulher ou esposa;  O dote (mahari em emákua) de maior significado é entregue pelo homem à mulher. A educação dos filhos não é assegurada pelo pai, mas sim pelo V tio materno, já que estes crescem entregues aos cuidados da família materna;  A transmissão do poder, obedece mais ou menos à mesma lógica: com a morte de um chefe o poder não passa para o filho mais velho, mas sim para o sobrinho, filho da irmã mais velha;  A caça a pesca e a construção de casas eram as únicas actividades masculinas relevantes. As mulheres, praticando a agricultura, é que asseguravam o sustento das comunidades;  O sistema matrilinear não se identifica com o de matriarcado, já que não confere às mulheres o poder de direcção e superintendência dos negócios, nem qualquer autoridade política. Apenas diz respeito às regras de transmissão dos bens (Casimiro, 2012).
  • 9. 9 5. Conclusão Nas sociedades Matrilineares em Moçambique, o poder numa família é exercido pela mulher de forma indirecta através do seu irmão do sexo masculino. É este irmão a quem cabe zelar pela orientação da vida dos filhos do irmão cuidar pela iniciação dos filhos e legar-lhes a herança em caso de morte. Neste tipo de sociedades o Pai biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho porta- se mal ou comete uma infracção o Pai remete a solução dessa infracção ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.
  • 10. 10 6. Referências bibliográficas 1. Aberle, D. F. (1961). Matrilineal descent in cross-cultural comparison. In Schneider, D., & . Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship. Berkeley: University of California Press. 2. Blackwood, E. (1997). Women, land, and labor: Negotiating clientage and kinship in a Minangkabau peasant community. Ethnology, Vol. 36 (4), doi http://www.jstor.org/stable/3774038. Disponível em: http://www.jstor.org /discover/10.2307/3774038?uid=3738880&uid=2&uid=4&sid=2110263471074 1. Acedido em 5.08.2013. 3. Casimiro, I. (2012). Mulher, Pesquisa, Acção e Mudança. In Silva, C. T., Coelho, B. P. J., & Souto, N. A. (Org.), Como Fazer Ciências Sociais e Humanas em África – Questões Epistemológicas, Metodológicas, Teóricas e Políticas (Textos do Colóquio em Homenagem a Aquino de Bragança) (pp.211-226). Disponível em: http://www.codesria.org/spip.php?article1611&lang=en. Acedido em 5.08.2013. 4. Douglas, M. (1969). Is matriliny doomed in Africa? In Douglas, M., & Kaberry, P. M. (Eds.), Man in Africa. London: Tavistock Publications. 5. Gough, K. (1961). The Modern Disintegration of Matrilineal Descent Groups. In Schneider, D., & Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship. Berkeley: University of California Press. 6. Holden, S., Kaarhus, R., & Lunduka, R. (2006). Land Policy Reform: The Roles of Land Markets and Women’s Land Rights in Malawi. Noragric Report nº 36, October 2006. Ås, Norway: Noragric, Norwegian University of Life Sciences (UMB). 7. Peters, E. P. (1997a). Revisiting the Puzzle of Matriliny in South-Central Africa: Introduction. Critique of Anthropology, June 1997, Vol. 17 (2). doi:10.1177/0308275X9701700202. Disponível em: http://coa.sagepub.com /content/17/2.toc. Acedido em 10.06.2013. 8. Schneider, D. (1961). The distinctive Features of Matrilineal Descendents Groups. In Schneider, D., & Gough, K. (Eds.), Matrilineal kinship (pp. 1-29). Berkeley: University of California Press. 9. Yanagisako, S. J., & Collier J. F. (1987). Toward a Unified Analysis of Gender and Kinship. In Collier J. F., & Yanagisako, S. J. (Eds.), Gender and Kinship: Essays Towards a Unified Analysis (pp.14–50). Stanford: Stanford University Press.
  • 11. 11 10. Richards, A. (1950). Some types of family structure amongst the Central Bantu. In Radcliffe-Brown, A. R., & Forde, D. (Eds.), African systems of kinship and marriage (pp. 207-251). London: Oxford University Press.