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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, pp.                     125 - 141,      2004




      GEOGRAFIA, SISTEMAS E ANÁLISE AMBIENTAL: ABORDAGEM
                             CRÍTICA


                                               Vanda de Claudino Sales*



RESUMO:
A ascensão mundial da problemática ambiental resulta em grande número de pesquisas de cunho
ambiental no âmbito da Geografia. Tal abordagem é considerada como capaz de produzir a sutura
teórica entre sociedade e natureza, colocando-se como Geografia Unitária e concretizando o processo
iniciado pela Geografia Crítica, de eliminação da Geografia Física. A análise ambiental, porém, pautada
em geossistema, naturaliza a sociedade, por nivelar a ação social aos demais elementos do meio.
Por outro lado, ele não considera tempo e evolução na dinâmica processual, natural ou social.
Nestes termos, a consolidação do caráter social da Geografia estaria sendo costurada em função
de uma abordagem acrítica. Tal paradoxo é pautado pela busca de uma identidade para a Geografia,
mas também pela defesa de mercado de trabalho, o que demonstra ausência de percepção dos
limites entre ciência básica e prática profissional na comunidade geográfica.
PALAVRAS-CHAVE:
Geossistemas; análise ambiental; sistemas; Geografia Física; Epistemologia da Geografia

ABSTRACT:
The rising of the world environmental problem results in a large number of environmental researchs
in the ambit of Geography. Such approach has been considered as able to produce a theoretical
suture between the society and nature, placing itself as Unitary Geography and accomplishing the
process begun by the Critical Geography, of elimination of the Physical Geography. But the
environmental analysis based on geosystem, naturalizes the society, by even out the social action
to the others elements of the environment. On the other hand, it does not consider time and
evolution in the processual dynamic, natural or social. In these terms, the consolidation of the
social character of the Geography would be soldered due to an acritical approach. Such paradox is
grounded by the searching for an identity of the Geography, but also by the defense of the job
market, what shows the lack of perception of the thresholds between basic science and professional
practice in the geographical community.
KEY WORDS:
Geosystems; environmental analysis; systems; Physical Geography; Epistemology of Geography




      * Professora Doutora do Departamento de Geografia e Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: vcs@ufc.br
126    - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004                               SALES, V.C.




I - Introdução                                      superação da dicotomia entre físico e humano
      De tempos em tempos, a ciência e a            (e.g. MONTEIRO, 1981; SEABRA, 1988) e a
sociedade elegem determinados temas como            concretização da unicidade da Geografia..
objeto preferencial de ação, reflexão e debate.           Nestes termos, para além de uma simples
Transformados em questões dada a freqüência         questão da atualidade, a temática ambiental
e a intensidade com que são tratados, esses         pareceria estar sendo capaz de fomentar a
assuntos adquirem prestígio, status e apelo         sutura da ruptura sociedade/natureza em
cultural, do que resulta uma prática discursiva     termos teóricos. Aqui, tematizamos a questão
bem definida, forjada no uso de termos              a partir da consideração de aspectos
fundamentais que produzem imediata empatia          metodológicos associados aos métodos
e identificação universal - Brunet et al. (1992)    sistêmico,    geossistêmico,     dialético   e
usaram a irônica expressão bolsa de termos para     uniformitarianista em trabalhos realizados sob
exprimir a riqueza terminológica associada a        o prisma do meio físico, na perspectiva de
cada tempo, a cada lugar e a cada temática. Na      analisar as implicações do uso dessas
bolsa de termos da Geografia brasileira atual,      abordagens no processo de busca de
um discurso de forte apelo cultural é aquele        construção de uma identidade social na
associado ao tópico ambiental.                      Geografia.
      Com efeito, a Geografia brasileira
apresentou nos últimos anos significativo           II - A Teoria Geral dos Sistemas, Instrumento
acúmulo de conhecimento associado à temática        da Geografia Física
ambiental, aqui compreendida como aquela que
                                                            II. 1 - Recuperação de conceitos
tem por objeto a análise da relação sociedade
x natureza tomada a partir das alterações                  A aplicação da Teoria dos Sistemas
impostas ao meio físico - de outra forma posto,     debutou nos Estados Unidos nas primeiras
em se tratando da Geografia, que tem nessa          décadas do século XX, em consonância com o
relação a sua mais duradoura identidade, a          avanço da Cibernética. A sua utilização nas
terminologia seria redundante. Tal crescimento      ciências naturais é fruto do trabalho pioneiro
é evidenciado pelo expressivo número de             de Bertalanfy (e.g. 1950, 1973), que a aplicou
pesquisas e de publicações associadas, bem          à Biologia e à Termodinâmica. Várias décadas
como pela crescente atuação técnica de              foram necessárias para que tais preceitos se
profissionais geógrafos em atividades públicas      estendessem pelo conjunto das ciências e pela
e privadas que visam à elaboração de                totalidade das ciências naturais (BOULDING,
diagnósticos, análises e zoneamentos                1956). Na Geografia Física, a aplicação da visão
geoambientais e sócioambientais. Esse               sistêmica data dos anos 1950, inicialmente
crescimento      consolida    a    abordagem        utilizada em pesquisas de cunho hidrológico e
geossistêmica como referência teórico-              climatológico. Na Geomorfologia, ela é
metodológica fundamental para um grande             introduzida na nos anos 1960 (CHORLEY, 1962).
número de geógrafos.                                      Os sistemas foram definidos como
      Paralelamente, sobretudo no âmbito dos        conjuntos de elementos que se relacionam
eventos nacionais de geógrafos e da                 entre si, com certo grau de organização,
Associação dos Geógrafos Brasileiros -AGB, a        procurando atingir um objetivo ou uma finalidade
perspectiva dialética é a privilegiada. Pautado     (BERTALANFY, 1950). Há formulações mais
no uso de termos como Geografia ambiental,          complexas, porém, como a de Hall e Fagen
meio ambiente, análise geoambiental e até           (1956), que definem sistema como o conjunto
Geografia socioambiental (MENDONÇA, 2002),          de elementos e das relações entre eles e seus
o discurso ambiental hoje tem como elemento         atributos, ou a de Thorness e Brunsden (1977),
de aceitação e identificação cultural na            que o consideraram como conjunto de atributos
comunidade geográfica a possibilidade de            e de suas relações no meio físico, organizados
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                           127




 para executar uma função particular. A                       II. 2 - O paradoxo do subjetivismo
 organização do conjunto (CHRISTOFOLETTI,                      Uma vez delimitado, o sistema constitui
 1979) é decorrente das relações entre os               um conjunto unitário, completo, uma entidade
 elementos, e o grau de organização entre eles          discreta e isolada em relação aos outros níveis
 confere o estado e a função de um todo. Cada           de sistemas que compõem o universo (CHORLEY
 todo está inserido em um conjunto maior - o            e HAGGET, 1977). O reconhecimento e a
 universo -, que, formado por subsistemas,              definição de um sistema, nesses termos,
 compreende a soma de todos os fenômenos e              requerem da parte dos pesquisadores
 dinamismos em ação (CHRISTOFOLETTI, 1979).             procedimento mental pautado pelo exercício da
       Assim posto, qualquer conjunto de                abstração (CHRISTOFOLETTI, 1978). O uso da
 objetos que tenham propriedades comuns pode            noção de limiar (e.g. CHORLEY E KENNEDY,
 ser considerado sistema. Critérios diversos, no        1977), por conduzir à exclusão de relações
 entanto, foram pautados por diferentes autores         consideradas triviais e não essenciais e por
 com vistas à individualização dos conjuntos. Na        implicar a adoção de critérios de magnitude
 concepção de Hall e Fagen (1956), por exemplo,         espacial hierárquica - sistemas, subsistemas -
 bastaria haver funcionamento e relacionamento          conduz à distinção entre diferentes classes de
 de elementos para que os sistemas pudessem             sistemas (e.g. CHORLEY E HAGGET, 1978).
 ser caracterizados; Thorness e Brunsden (1977)                O limiar apresenta-se, no entanto,
 consideraram que, na medida em que o sistema           conceitualmente pouco desenvolvido, pois
 procura realizar determinada finalidade, a             dependente ele mesmo do conhecimento e da
 compreensão de seu funcionamento depende               definição de outros fatores - relações,
 da identificação dos elementos componentes e           parâmetros, atributos, fluxos, escalas espaciais
 das relações entre componentes e seus                  e temporais de funcionamento - que pecam por
 atributos, bem como dos parâmetros de                  igual falta de precisão e clareza. Tal contexto é
 entradas (os inputs) e saídas (os outputs) da          tanto mais complexo quanto mais especializado
 matéria e da energia que responderiam pelo             é o pesquisador - que busca sempre abordar o
 funcionamento do todo.                                 grupo de elementos diretamente vinculados aos
        Nesse tocante, considera-se de forma            pontos-chaves de sua investigação, de forma
 geral a existência (FORSTER et al., 1957) de três      tal que a paisagem nunca é estudada
 tipos de sistemas quanto ao grau de relação            integralmente (QUEIROZ NETO, 1973). Os
 com o meio: sistemas isolados, que não realizam        sistemas podem assim facilmente resultar de
 trocas com o ambiente no qual se acham                 pura construção teórica que, pautada em
 instalados; sistemas abertos, que trocam matéria       concepções subjetivas e idealizadas, nem
 e energia com o meio circundante, sistemas             sempre correspondem à dinâmica efetiva do
 fechados, que trocam apenas energia. Do ponto          meio analisado.
 de vista espacial, os sistemas apresentariam                  Essa situação em parte explica alguns
 magnitudes variadas, da megaescala à escala            equívocos relatados quanto à aplicação do
 local. De acordo com os aspectos de forma e            método, a exemplo de realização de análise
 estrutura, os sistemas foram classificados (e.g.       acerca de sistemas erosivos em áreas que não
 CHORLEY E KENNEDY, 1971; CHORLEY E HAGGET,             eram palco de nenhuma erosão sistemática
 1977) como morfológicos (baseados em                   (VIERS, 1973). E1a está talvez também no cerne
 propriedades físicas tais como geometria,              da persistência de modelos teóricos
 densidade, comprimento), funcionais (com base          desconectados da dinâmica da natureza, sendo
 na ação dos processos responsáveis pelas               disso o grande exemplo a concepção davisiana,
 formas e funcionamento do sistema) e controlado        ultrapassada, do ciclo erosivo - ou concepção
 (definidos pela ação controladora das atividades       teórica de existência de ciclidade na evolução
 humanas sobre os processos).                           do relevo ao longo do tempo geológico,
                                                        materializada por meio das fases juventude,
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maturidade e senilidade -, síntese de sistemas      sendo relativamente cerceada com o uso e o
isolados (CHORLEY, 1962).                           desenvolvimento de modelos matemáticos,
       A situação foi objeto de algum debate na     realização de experimentos e adoção de
Geografia Física brasileira: Penteado (1980),       sistemas geográficos de informação, na
por exemplo, ressaltou a necessidade, indicada      perspectiva de definir variáveis cuja
já por outros pesquisadores (e.g. CAMPBEL,          identificação possa ser universal, em qualquer
1958),      de   consideração       de  alguns      meio adotado (e.g. COELHO NETO, 1992, 1997;
procedimentos          funcionais      básicos      FERNANDES; 2001; FERNANDES et al., 2002;
(contigüidade, similaridade, objetivo comum)        GUERRA, 1998, dentre outros). Ao mesmo
para a definição dos elementos que compõem          tempo, nos departamentos de Geografia e
e identificam os sistemas, na perspectiva de        Geociências de várias universidades brasileiras,
reduzir a subjetividade. A adoção desses            estudantes de graduação e pós-graduação
procedimentos, contudo, igualmente genéricos,       dedicam-se a complementar a formação básica
nunca foi considerada como imprescindível           definida pelos currículos de Geografia por meio
(CHRISTOFOLETTI, 1979). Dessa forma a               de disciplinas, optativas ou não, voltadas para
individualização de sistemas e subsistemas e        o aprendizado do uso dos parâmetros
de seus elementos e atributos parece ter            matemáticos, estatísticos, químicos e físicos
permanecido, nos primórdios da aplicação do         requeridos para a boa aplicação do método
uso da teoria dos sistemas na Geografia Física,     (MARQUES, 1994).
o resultado puro e simples (CHRISTOFOLETTI,               A produção científica realizada sob essa
1979:33) do uso do bom senso (destaque              perspectiva sistêmica de cunho clássico (em
nosso).                                             contraposição à concepção geossistêmica,
      Assim a pesquisa de cunho sistêmico           ambiental, atualmente em evidência: ver
conviveu com o sério paradoxo da objetividade       parágrafos seguintes) é significativa, mas não
contra a subjetividade: forjada no seio da busca    pode ser contabilizada na grande cena dos
de uma revitalização científica baseada nos         acontecimentos da Geografia brasileira, que são
otimismos oriundos da automação, da evolução        os encontros nacionais de geógrafos - ENG. A
da Cibernética e do uso de técnicas de              aceitação cultural dessa abordagem é restrita
quantificação, na prática a análise sistêmica de    aos eventos temáticos, apoiados ou não pela
teor clássico resultou da percepção                 AGB (simpósios de Geomorfologia e Geografia
individualizada da dinâmica dos meios.              Física, seminários de combate à erosão dos
Associada à permanente falta de intimidade do       solos e estabilidade de encostas, dentre
conjunto dos geógrafos para com as técnicas         outros).
quantitativas - a definição e caracterização dos
componentes dos sistemas implicam o cálculo              II. 4 - O tempo que pára: a exclusão da
de parâmetros estatísticos, probabilísticos,        dimensão temporal
estocásticos e alométricos, procedimentos que
os geógrafos estão longe de saber manusear                Os sistemas representam um conjunto de
-, a aplicação da teoria geral dos sistemas na      elementos - a idéia de conjunto, como implícito,
Geografia Física produziu (SMALLEY e VITA-          traduz a existência de elementos que possuem
FINZI,     1969)      mais     confusão     que     propriedades comuns. Em se tratando da
esclarecimentos.                                    pluralidade dos fenômenos que compõem as
                                                    paisagens naturais, essa premissa é
                                                    certamente falsa: um dado tipo de cobertura
     II. 3 - A aparente superação da                vegetal não recebe as mesmas influências de
subjetividade                                       heranças geoestruturais como um perfil de solo
       Na atualidade, a subjetividade inerente      ou uma vertente, nem depende de escala
à definição de sistemas físicos parece estar        temporal semelhante para atingir o clímax. A
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                          129




 Teoria dos Sistemas homogeneíza artificialmente             (2)    dimensão      tempo     moderno,
 as diferenças genéticas e evolutivas dos              intermediária, tomada a partir dos últimos mil
 elementos que compõem os sistemas pelo                anos e para áreas de porte médio - por exemplo,
 desprezo à dimensão temporal. Tal consideração        bacias fluviais. Nessa dimensão, as variáveis
 está na base mesmo da conceituação de                 selecionadas      como     independentes      e
 sistemas. É Bertalanfy (1973) a salientar que         dependentes são diferentes do primeiro caso,
                                                       sendo o tempo não relevante e os grandes
          “...nos sistemas físicos, os
                                                       elementos naturais, independentes.
    eventos são, em geral, determinados
    apenas por condições momentâneas. O                      (3) dimensão tempo presente, definida como
    passado é, por       assim    dizer,               não superior a um ano, a ser adotada para
    anulado” (1973:195).                               pequenas áreas. Nesse caso, o tempo geológico
                                                       é irrelevante e os grandes elementos da
       Em tal contexto, na análise sistêmica, todo     paisagem natural independentes, voltando-se
 elemento de cunho evolutivo a médio e longo           a análise para os processos da atualidade.
 prazo é desconsiderado, com evidente prejuízo               Ainda aqui, a proposta não permite a
 para a análise dos processos, formas e evolução       apreensão das inter-relações estabelecidas ao
 das paisagens.                                        longo de toda a extensão do tempo geológico.
        Schum et Licthy (1973) consideraram os         Se considerarmos que algumas heranças
 problemas decorrentes da atemporalidade da            morfoestruturais perduram nas paisagens por
 análise sistêmica. Para esses autores, a              até várias centenas de milhões de anos (e.g.
 distinção entre causas e efeitos na dinâmica de       PEULVAST e CLAUDINO SALES, 2002), de forma
 um sistema dado depende do tempo, bem como            a condicionar a evolução ulterior dos demais
 do tamanho da área de pesquisa considerada.           elementos que hoje as compõem, fica evidente
 Se áreas extensas são tomadas em um tempo             o empobrecimento, em termos de conhecimento
 longo, algumas das variáveis são dependentes          e de compreensão, da consideração apenas
 do clima, do substrato rochoso, do relevo inicial     momentânea da dinâmica dos meios físicos.
 e do próprio tempo envolvido. Essas variáveis                  A proposta de adoção de escalas
 tornam-se porém independentes com a                   espaciotemporais tal qual proposto por Schum
 mudança da escala para um tempo menor e em            et Lithcy (1978) teve ainda assim o mérito de
 pequenas áreas. A paisagem contemporânea é            minimizar alguns dos problemas decorrentes da
 dessa maneira um estádio dentro de um período         identificação das variáveis a serem utilizadas na
 do tempo geológico, e sua dinâmica deve ser           definição dos sistemas. Ela chegou a ser
 estudada na escala do tempo atual em diversos         parcialmente retrabalhada por Klink (1981), que
 espaços     amostrais    reduzidos.     Dessas        defendeu a idéia, a título de propor uma
 considerações resultou a proposta da                  metodologia de mapeamento de unidades
 possibilidade de adoção de variadas escalas           geossistêmicas, da necessidade de realização
 espaciotemporais na análise sistêmica.                de estudos de cunho genético e evolutivo dos
 Definidas em termos de grandes e pequenas             componentes do meio, anteriormente à
 áreas e de longos e curtos períodos, elas foram       definição do funcionamento inter-relacional do
 apresentadas como:                                    geocomplexo. Assim posto, a proposta suprime
       (1) dimensão tempo geológico, tomada a          as lacunas que, na concepção de Schum e Licthy
 partir do Pleistoceno para estudos de cunho           (1978), existiam para condicionantes ambientais
 geomorfológico, ou com duração variada para           de idade anterior ao Pleistoceno.
 cada tipo de sistema considerado. A dimensão                Em que pese a importância na análise
 tempo geológico presta-se ao estudo de                ambiental do conhecimento do estádio de
 extensas áreas, para o que as grandes variáveis       evolução das paisagens - ou da memória longa
 do sistema, inclusive o próprio tempo, são            dos sistemas (CHRISTOFOLETTI, 1978) -, não
 consideradas dependentes;
130     - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004                                 SALES, V.C.




parecem ser muitos os exemplos na produção           de elementos sociais, econômicos e técnicos,
brasileira de pesquisas realizadas com base na       que lhes modificam a dinâmica natural peculíar;
análise sistêmica (e.g. CHRISTOFOLETTI, 1977;        nesse sentido, a concepção geossistêmica
CRUZ, 1985; KLINK; 1981) ou de inspiração            implica conceitualmente a relação sociedade x
sistêmica (e.g. CLAUDINO SALES, 1993) que            natureza.
levaram em conta longos intervalos temporais               Em termos espaciais, os geossistemas
como preconizado por esses autores.                  foram divididos (SOTCHAVA, 1977) em escala
       Ao mesmo tempo em que a dimensão              local ou topológica, escala regional e escala
evolutiva, a longo ou médio prazo, dos               planetária. Em termos de hierarquia de
elementos que compõem os sistemas é                  funcionamento, as categorias definidas, em
desprezada na análise sistêmica tradicional, não     ordem decrescente, foram geossistemas
menos complexa é a situação dos cenários             (correspondendo a paisagens ou ao ambiente
futuros - isto é, da previsão, tão fortemente        natural), geócoros (classe de geossistemas de
solicitada na atualidade. O futuro na análise        estrutura heterogênea), geômeros (classe de
sistêmica nada mais representa que uma               geossistemas com estrutura homogênea) e
sucessão de etapas seqüenciais previsíveis,          geotopos (geossistemas associados a unidades
definidas a partir de um começo pré-concebido.       morfológicas     ou    setores  fisionômicos
A inexistência de conhecimento acerca das            homogêneos).
escalas temporais mais apropriadas para a                   Bertrand (1968), na sua Geografia Física
observação (CHRISTOFOLETTI, 1978) assim              Global, conceituou geossistema como um tipo de
como (FERNANDES et al., 2002) o reduzido             sistema aberto, hierarquicamente organizado,
conhecimento acerca de certos parâmetros             formado pela combinação dinâmica e dialética,
físicos envolvidos (por exemplo, formas de           portanto instável, de fatores físicos, biológicos
encostas, propriedades de solos), impede ainda       e antrópicos. O geossistema resulta, segundo o
uma maior compreensão dos mecanismos de              autor, da combinação dinâmica de um potencial
ruptura envolvidos e a previsão mais efetiva de      ecológico (geomorfolologia, clima, hidrologia),
ocorrência de novos fenômenos.                       de uma condição de exploração biológica natural
         Apesar das limitações, inúmeras             (vegetação, solo, fauna) e de atividades ditas
pesquisas associadas ao controle e previsão de       antrópicas. Partindo dessa abordagem, o autor
riscos ambientais são realizadas no Brasil (e.g.     propôs a adoção de escalas espaciais diferentes
COELHO NETO et al., 1990; COELHO NETO,               - em ordem decrescente são elas a zona, o
1992; GUERRA, 1994, 1998; FERNANDES, 2002,           domínio, a região, o geossistema, o geofácies e o
dentre outros). O resultado dessas pesquisas,        geotopo, estes dois últimos classificados a partir
em diversos casos, fomenta uma atuação política      de critérios biogeográficos e antrópicos.
crítica dos pesquisadores envolvidos, em defesa              A partir dos preceitos teóricos associados
de valores socioambientais.                          ao conceito de geossistemas e em consonância
                                                     com o crescimento mundial da problemática
III - Dos Sistemas à Análise Geoambiental            ambiental, a Geografia penetra a ativa era da
                                                     análise ambiental, expressa na realização dos
       III. 1 - Os geossistemas
                                                     diagnósticos, zoneamentos e avaliação de
      Um tipo particular de sistema físico,          impactos ambientais. De forma secundária, são
dinâmico e aberto é aquele denominado                tratados os temas de manejo e planejamento
geossistema. Sotchava (1977) caracterizou-o          dos usos dos espaços naturais e, em alguns
como a expressão dos fenômenos naturais              casos - ainda raros - de recuperação de áreas
resultantes da interação, na superfície da Terra,    degradadas. É esse conjunto de procedimentos
da litomassa com biomassa, aeromassa e               que recebe a rubrica de análise ambiental (e.g.
hidromassa. Para esse autor, as formações            MENDONÇA, 1993, ROSS, 1990). Motivadora e
naturais experimentam na atualidade o impacto        utilitária, a perspectiva ambiental possibilitou o
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                           131




 resgate e o consumo, no âmbito dos grandes            de reconhecimento de campo - que podem ser
 fóruns da Geografia brasileira, de pesquisas e        feitos, como já o são com freqüência, por toda
 de pesquisadores que ali não encontravam mais         sorte de profissionais, especializados ou não na
 espaço de expressão (e.g. MONTEIRO, 2002).            análise da relação sociedade x natureza. A
        Os geossistemas, sob cuja óptica é             produção nos termos expostos parece
 realizada a maior parte da pesquisa e atuação         comprometer a possibilidade de crescimento da
 dos geógrafos na área ambiental, não eliminam         Geografia como ciência estruturada, pois, afinal,
 a necessidade do estabelecimento de                   como lembra Navarra (1973) a propósito do uso
 procedimentos metodológicos necessários à             da teoria sistêmica nas ciências físicas,
 caracterização das variáveis a serem                  sistematizar é sempre tarefa prévia ao
 consideradas - é preciso saber quais elementos        conhecimento científico.
 do relevo, do clima, do solo, da vegetação, são
 necessários, e qual a importância que eles                 III. 2 - Analise geoambiental: Geografia
 assumem na dinâmica do meio. Parcela                  Unitária - Geografia Crítica?
 considerável da produção dita geoambiental
 não considera, no entanto, nenhum desses                     A Geografia, que ao final da década de
 preceitos teóricos e conceituais, parecendo ser       1970 surgiu no Brasil com a denominação de
 o uso da terminologia relação sociedade x             Geografía Crítica, na esteira de um movimento
 natureza ou meio ambiente suficiente para eximir      renovador cujo grande momento público ocorreu
 os pesquisadores da necessidade de definições         durante a realização do 3° Encontro Nacional
 teórico-metodológicas, próprias da pesquisa           de Geógrafos (AGB, Fortaleza, 1978), veio
 científica.                                           colocar-se como um divisor de águas na Ciência
                                                       Geográfica, rompendo com a sua produção
        Embora de forma não generalizada, a
                                                       acadêmica tradicional: questionando a
 situação caracteriza tanto pesquisas ao nível
                                                       perspectiva geográfica posta exclusivamente
 de graduação quanto de pós-graduação - a
                                                       sobre o produto da ação do homem no espaço,
 exceção acha-se relativamente situada nos
                                                       a Geografia Crítica quis saber dos processos
 trabalhos que ostentam propostas de
                                                       sociais que determinam esse produto, a partir
 zoneamento ambiental, que necessariamente
                                                       do que projetou sua visão para a própria
 exige a adoção de escalas espaciais
                                                       sociedade. Para tanto, introduziu o discurso
 hierárquicas. Tal tipo de aplicação é hoje
                                                       marxista na ciência, adotou o método histórico-
 solicitada por organismos públicos que adotaram
                                                       dialético como o arsenal teórico- metodológico
 (Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro
                                                       privilegiado e elegeu como objeto de estudo um
 de Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
                                                       processo social, a produção do espaço.
 Comissão Interministerial para os Recursos do
 Mar- CIRM, Instituto Brasileiro de Geografia e               Evidentemente         o     rompimento
 Estatística-IBGE) a metodologia geossistêmica         estabelecido pela Geografia Crítica deu-se com
 como elemento de definição de políticas públicas      o que de conservador e arcaico havia na
 voltadas para o planejamento e a gestão               Geografia, atingindo, portanto, todas as suas
 territorial (e.g. SOUZA, 1994; MORAES, 1999).         áreas e especializações. Um desdobramento
                                                       contundente de tal visão recaiu sobre a eterna
        Em tal contexto, com freqüência, o que é
                                                       polêmica da dicotomia natureza/sociedade na
 produzido são meros diagnósticos descritivos,
                                                       ciência, resultando no alijamento dos estudos
 simples arrolamento das características físicas
                                                       de natureza física do âmbito da Geografia Crítica,
 do meio, tal qual realizado em trabalhos
                                                       sob o argumento da não importância social e
 clássicos de Geografia Física, inclusive de forma
                                                       política dessa abordagem. Tal postura adquiriu
 compartimentada - ainda que agregando um
                                                       contornos bastante concretos na ação dos
 tópico sobre uso e ocupação. Em outros casos,
                                                       geógrafos críticos: freqüentes foram as
 o produto da análise geossistêmica é o simples
                                                       argumentações postas, em debates e em
 resultado da sistematização de dados oriundos
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publicações, no sentido de pensar que à                 setenta, não deu conta de acompanhar
Geografia não competia lidar com areias.                a dinâmica social. O ecológico e   o
Algumas afirmações foram mais objetivas - tal é         ambiental desviam a cena acadêmica
o caso daquelas de Moreira (1980), ao                   em Geografia” (1999:109).
considerar que
                                                             Por outro lado e ao mesmo tempo, os
         “o geomorfólogo costuma usar o              termos geógrafo físico, geomorfólogo,
   status de geógrafo, mas que status é esse?        climatólogo, pedólogo, carentes que se
   E fica também na ambigüidade, não                 encontram da aceitação cultural que hoje atinge
   construindo uma epistemologia própria”            a dimensão ambiental da Geografia, são banidos
   (1980:17).                                        dos grandes espaços da Geografia brasileira -
                                                     da AGB, dos encontros nacionais de geógrafos-
     Moreira (1980 ) também postulou a noção
                                                     ENG’s, das publicações de cunho geográfico
de que
                                                     geral. Hoje, são inclusive considerados
         “... corre um rio, às margens do qual       ultrapassados por profissionais cuja produção
   há solos férteis. Esses termos são todos          científica era há pouco tempo referenciada no
   da Geografia Física. Se me permitem a             espaço da Geografia Física. Dessa forma, por
   expressão, Geografia Física faz parte de uma      um viés ou por outro, a Geografia consolida um
   linguagem que temos que reformular”               certo caráter unitário - doravante aqui
   (1980:18).                                        identificado pela denominação de Geografia
                                                     Unitária.
       O momento presente seria o da
                                                            Se a Geografia é unitária, porém, quando
concretização dessas considerações, pela
                                                     baseada em geossistemas, ela também o é
superação, por meio da análise geoambiental,
                                                     formalmente acrítica, pois os geossistemas,
da dualidade entre físico e humano na
                                                     assim como os sistemas em geral, não
Geografia? Por um lado, com pauta na aceitação
                                                     consideram a ação de processos que ocorrem
cultural da abordagem ambiental tanto na
                                                     em escala temporal de médio e longo prazo. Tal
academia quanto no palco das demandas
                                                     fato implica na apreensão de uma ação social
sociais, existe um refazer das análises na esfera
                                                     naturalizada, nivelada aos demais elementos do
dos geógrafos “humanos”. Mamigoniani (1996)
                                                     meio - meio naturalizado, o geossistema não
declara que
                                                     comporta o ser social organizado em torno de
          “...está na hora de se perceber,           sistemas de poder e de interesses econômicos
   com humildade, que existem leis naturais          definidos. Assim, Bertrand (1968) considera a
   e leis sociais, independentemente da              ação antrópica como um input, semelhante a
   vontade dos indivíduos” (1996:199).               qualquer outro de ordem natural que atinge e
                                                     modifica temporariamente a dinâmica interna
       O autor proclama ainda que                    dos geossistemas, até que estes se adaptem
        “...a Geografia Física, armada no            às novas condições criadas. E Socthava (1977)
   paradigma geossistema, continua suas              afirma que
   pesquisas e realiza mais progressos que a                  “...fatores   antropogênicos e
   Geografia Humana” (1996:199).                        espontâneos, condicionando a estrutura
                                                        de um geossistema, podem, em todos os
      Moraes (1999) agora avalia necessária a           casos, serem referidos à categoria de
expressão da dinâmica das configurações físico-         naturais, mesmo quando seguem certos
naturais dos lugares, e Silva (1999) evidencia:         procedimentos sócio- econômicos”
         “A Geografia não se apercebeu da               (1978:7).
   emergência de novos sujeitos sociais, não
   perseguiu os desdobramentos dos anos
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                           133




       Sposito (1999, 2002), tratando de                dialética. Nesta, os pesquisadores pretendem
 questões epistemológjcas, considerou a                 ressaltar as leis da dialética - movimento, motor
 existência de três abordagens no âmbito da             de transformação da matéria; contradição
 Geografia e demais ciências humanas: a                 interna, segundo a qual nenhum fenômeno seria
 abordagem empírico- analítica, positivista, que        passível (e.g. SPOSITO, 1999, 2002) de uma
 considera todos os fenômenos sociais e naturais        única mudança. Na perspectiva de desvendar
 como regidos por leis invariáveis, não                 os fenômenos da realidade apoiados na
 comportando noção de historicidade; a                  dimensão histórica dos acontecimentos na
 abordagem histórico-critico-dialética, que tem na      esfera ambiental, os pesquisadores assumem
 ação/transformação categorias fundamentais;            a noção de que a ciência pode fornecer
 a abordagem fenomenológica-hermêneutica,               elementos para a transformação da sociedade.
 que postula a interpretação como fundamento            Na Geografia Brasileira, a valorização do meio
 para a compreensão dos fenômenos. O autor              ambiente tomada a partir da abordagem
 não considerou nem inseriu o paradigma                 ambiental dialética teve em Gonçalves (1989)
 geossistêmico em suas reflexões, embora tenha          um precursor. Hoje, amplia-se o numero de
 referenciado os sistemas, porque reconhece             geógrafos que fazem esse percurso, da
 Chorley e Hagget (produtores da escola                 Geografia Social à análise ambiental (nas
 sistêmica na Geografia; ver parágrafos                 cidades: e.g. RODRIGUES, 1998; SPOSITO,
 anteriores) como representantes da corrente            2001; SOUZA, 2002; nas áreas litorâneas: e.g.
 positivista na Geografia, inclusive brasileira         MORAES, 1999; em perspectiva global: e.g.
 (SPOSITO, 1999).                                       WALDMAN, 1992; RIBEIRO, 2001, 2004).
         Em se tomando essas considerações                    Na óptica oposta - partindo dos
 como referenciais, três outros caminhos                elementos do meio físico para a relação
 analíticos também se impõem: (1) os sistemas           sociedade/natureza, no inicio dos anos 80,
 ambientais físicos ou geossistemas acham-se            Monteiro (1981) discutiu meio ambiente numa
 referenciados na abordagem positivista - mas           perspectiva filosófica. Vários anos depois,
 não nos referíamos a um espaço geográfico              Casseti (1991) aborda o ambiente a partir da
 produto histórico e social para fundamentar as         compreensão dialética da apropriação do relevo
 argumentações da unicidade da Geografia e a            (ainda que tomando como ponto de partida o
 ampla aceitação da análise geoambiental na             geossistema). Nos marcos da análise acerca
 fase da Geografia Unitária?; (2) não                   dos climas da cidade de São Paulo, Tarifa e
 reconhecemos o geossistema como uma                    Azevedo (2001), baseados na concepção
 abordagem própria da Geografia, ciência                lefebvriana de ritmanálise (LEFEBVRE, 1975)
 humana - com o que desconhecemos a larga               propõem o ritmo como um caminho possível para
 produção geográfica que vem sendo feita nessa          a compreensão da interação dialética dos
 perspectiva e ainda, de evidência, a essência          fenômenos físicos, biológicos, humanos e sociais
 da Geografia dita ambiental, que movimenta as          no espaço.
 publicações e atividades da Geografia atual; (3)             Via de regra, a análise dialética associada
 aceitamos comodamente o paradigma                      à questão ambiental não permite o
 geossistêmico tal qual posto, e atingimos a fase       aprofundamento do conhecimento da dinâmica
 de Geografia Unitária, social, por meio da             dos elementos físicos, senão da interferência
 atemporalidade e acriticidade, formal e informal,      deles na qualidade de vida das populações. A
 teórica e prática.                                     aceitação da necessidade de estudos
                                                        geográficos do meio físico já propiciou reflexões
                                                        sobre essa limitação: para ultrapassá-la,
       III. 3 - A análise ambiental dialética
                                                        Moraes (1999) sugeriu a realização de trabalhos
      Outra forma de tratamento da temática             ao mesmo tempo dialéticos e holísticos. Mas o
 ambiental é ofertada pelo uso da abordagem             holismo - de holos, tudo, freqüentemente
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também      referenciado     na    perspectiva      compreensão da estruturação espacial de
geossistêmica - parece só ser possível de ser       bacias hidrográficas, a reconstituição dos climas
praticado     por    meio      de    trabalhos      do passado, inclusive daqueles que subsidiaram
interdisciplinares, envolvendo, além de             o alvorecer da sociedade humana em seus
geógrafos, outros profissionais. Na ausência de     primeiros e ulteriores passos históricos. Ela
conhecimento científico da dinâmica de todas        comporta ainda (BLOOM, 1996) as análises
as partes envolvidas nas situações analisadas,      sobre a capacidade das ondas marinhas em
o que resulta só poder ser um falso discurso        modelarem a costa, a renovação constante do
de holismo ou um holismo falso.                     solo pela intemperização das rochas, o
                                                    transporte de sedimentos pela ação do gelo,
                                                    as variações eustáticas cenozóicas. A Geografia
      III. 4 - Outra abordagem do meio físico:
                                                    Física produzida em tal perspectiva não pode
o atualismo do Uniformitarianismo
                                                    ser crítica, tampouco social, nem ambiental. O
       Para além da análise sistêmica,              que dizer de ambiente como relação sociedade
geossistêmica e dialética, a Geografia Física, e    x natureza, ou natureza produto da sociedade
em particular a Geomorfologia, tem na               quando se trata de analisar superfícies de
geocronologia um importante instrumento de          aplainamento, origem de margens continentais,
apoio à análise física do espaço. Baseada na        evolução quatemária das paisagens (e.g.
perspectiva metodológica oriunda do Princípio       KOHLER, 1994; MUHUE, 1994; MOURA, 1994;
do Atualismo - ou o Uniformitarianismo dos          SAADI, 1993;; JATOBÁ, 2002; CLAUDINO SALES,
inglêses James Hutton (1740-1797) e Charles         2002; CLAUDINO SALES E PEULVAST, 2002,
Lyell (1802), que afirmaram um presente, chave      2004, dentre tantos outros pesquisadores e
do passado – muitos pesquisadores buscam            temas) ?
desvendar e esclarecer os passos da evolução
                                                          Como evidência do tipo causa-efeito, na
dos grandes elementos que compõem as
                                                    fase atual de consolidação da Geografia Unitária
paisagens naturais.
                                                    tal abordagem física é desprezada (e.g.
        A perspectiva uniformitarianista apóia-     SUETERGARAY e NUNES, 2002). No entanto, esse
se na interpretação da dinâmica dos processos       produto científico tem sido requisitado por
atuais e da consideração de que estes,              outras áreas do conhecimento - Arqueologia,
submetidos sempre às mesmas leis físicas,           Geologia, História Natural, História, Biologia,
atuaram de forma semelhante, ainda que com          Engenharia, Direito Ambiental. Constantes são
intensidades diferenciadas, ao longo da             também as demandas sociais associadas ao
história natural da Terra. A apreensão dessa        planejamento e gestão ambiental. Solicitações
dinâmica é obtida por clássicas técnicas de         de mesma natureza incluem o turismo ecológico
levantamento de campo, análises laboratoriais       e cientifico e atividades voltadas para o fomento
e interpretação de cartas, hoje agregando           da cultura geral das sociedades. Diversos são
instrumentos novos oriundos de técnicas da          ainda os exemplos de aplicação do
informatização (construção de modelos               conhecimento da dinâmica do meio físico em
numéricos de terreno) e do sensoriamento            longo prazo em embates políticos afeitos à
remoto da superfície da Terra (radar, satélite).    preservação do ambiente e à qualidade de vida
       Da adoção do princípio do Atualismo,         de populações. Nestes termos, verifica-se que
surgem, numa perspectiva geográfica, espacial,      o que não é importante para a Geografia
a recomposição da longa história das paisagens      Unitária ainda assim o é para a sociedade.
naturais, a decodificação da monumental                   Aqui, outro aspecto da armadilha do
história dos continentes, o desvendamento dos       ambiental merece reflexão – a Geografia Física,
processos de nascimento e extinção de               teórica, pautada no Uniformitarianismo, só pode
oceanos e mares, a identificação da origem e        ser desenvolvida com base nos mecanismos da
evolução dos grandes volumes de relevo, a           Tectônica de Placas, mas a Tectônica de Placas,
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                          135




 estrondosa e avassaladora revolução no âmbito             relação com as diferentes formas da
 das ciências a partir dos anos 1970 e 1980, é             sociedade se produzir e reproduzir”
 simplesmente desconhecida dos geógrafos                   (199:348/349).
 físicos brasileiros. Esses geógrafos, amparados
 pelas facilidades do discurso unitário e pelo                Enquanto isso, o coro de um sem-número
 pragmatismo         de    demandas      sociais,      de geógrafos censura o aprofundamento
 confortavelmente eliminaram de suas agendas           epistemológico da Geomorfologia, ou da
 o aprofundamento teórico, sem o qual não              Pedologia, denunciador da busca de
 existem meios possíveis para explicar a evolução      fortalecimento de status de ciências autônomas
 das paisagens naturais antes dos homens – e           - mas o que querem os geógrafos da Geografia
 como haverão de efetivamente diagnosticar             Unitária? Estaríamos em meio a uma cruzada
 impactos com os homens no meio físico se o            gloriosa que demanda abnegações em prol da
 meio físico representa um avassalador                 consolidação de uma identidade geográfica que
 desconhecido?                                         não abarca a todos? Não sabemos mais o
       A falta de conhecimento e atualização           sentido das idéias, ou não queremos saber? Por
 acerca dos mecanismos e ecos da Tectônica de          onde haverá passado, ademais, aquela
 Placas é verificável na maioria esmagadora das        consideração de que a Geografia poderia
 publicações      em     Geografia     Geral    e      contribuir para superar o autoritarismo, ouvindo
 Geomorfologia, que são feitas ao longo dos            as diferentes vozes, identificando o novo e os
 últimos anos – é pois menos por falta de              possíveis pactos, e organizando e difundindo
 importância do que por falta de elementos de          informação (e.g. BECKER, 1999)?
 produção científica que Geografia Física hoje se             De evidência, trata-se da busca de
 coloca como algo ininteligível aos olhos da           construção e de fortalecimento de uma
 comunidade geográfica.                                identidade geográfica, pautada na afirmação de
                                                       ser a Geografia uma ciência social: nenhuma outra
                                                       afirmação parece ter tido maior ressonância na
 IV - Geografia Social e Geografia Física: um
                                                       comunidade geográfica, nas últimas décadas,
 impossível Elo (Conclusões)
                                                       do que essa exaltação do caráter social da
       IV. 1 - A identidade social da Geografia        Geografia. Estaríamos vivenciando, após um
       Brunet et al. (1999), na forma irônica que      longo e tortuoso percurso, a fase terminal de
 encontraram para expressar a Geografia,               consolidação de uma identidade geográfica? No
 afirmaram que o espaço geográfico compreende,         Brasil, em se tomando como critério os eventos
 além de quantidade de heranças da sociedade,          nacionais de geógrafos, essa identidade social
 também memórias da natureza (1999:6).                 estaria efetivamente consolidada, a despeito da
 Suertagaray e Nunes (2002), tomando como              (ou em razão da?) propalada crise das ciências
 parâmetro o XII ENG para analisar a natureza          sociais. Aliada à fragmentação do mundo
 da produção em Geografia Física, concluíram ser       globalizado e à determinação social da
 a produção atual majoritariamente ambiental,          degradação mundial das paisagens e da
 portanto nos moldes da qualidade social da            qualidade de vida, essa fase histórica, com
 Geografia (os autores não consideraram a              efeito, parece ser propícia ao fortalecimento
 produção em Geografia Física veiculada em             dessa identidade social da Geografia.
 outros tantos fóruns que não a AGB...). Sposito             A busca da definição de uma identidade
 (1999) considerou ser a Geografia                     geográfica parece, porém, estar sendo ditada
           “uma ciência cujo objeto é a                antes pela perspectiva de construção de um
    sociedade e que, portanto, mesmo os                projeto de Geografia do que por um projeto de
    seus aspectos físicos (destaque do autor)          construção de sociedade: assim é que Santos
    devem ser abordados a partir de sua                (2000), tratando dos processos globaritários,
                                                       afirma a certeza de podermos produzir as idéias
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que permitirão mudar o mundo. Brunet et al.         Mendonça (2002) reconhecem ser esta uma
(1996), nas Palavras da Geografia, acreditam ser    abordagem problemática, mas enaltecem a
esse                                                unicidade da Geografia. Geógrafos não
         “...um campo do conhecer e do agir         brasileiros têm feito também algumas
   ainda subestimado nos meios cultivados,          considerações - a exemplo de Claval (2002),
   ...o que é uma pena para a nossa                 que avaliou que o estudo das relações homem/
   cultura comum, e provavelmente para a            meio ambiente é atualmente realizada segundo
   ação” (1996:10).                                 perspectiva ecológica (2002:21) e não
                                                    geográfica.
       Pontos de vista com teor semelhante,               Para além dessa questão maior, de
mais ou menos explícitos, não são raros nos         construção de uma identidade própria, ou talvez
meios geográficos: o que parece, pois, de fato      diretamente associada a ela, parece existir, de
guiar a busca e a construção da identidade          uma forma implícita e relativamente disfarçada,
social da Geografia, no Brasil e no mundo, é a      uma defesa de mercado, interna e externa à
disposição que têm os geógrafos de verem a          categoria, norteada ainda pela ausência de
Geografia alçada ao palco das grandes ciências      clareza, no âmbito da comunidade geográfica,
da humanidade. Contudo, para tanto, o que           do que vêm a ser ciência básica e ciência
parece mais facilmente próximo para                 aplicada.
empréstimo à galeria do conhecimento universal             Do ponto de vista da defesa de mercado
é a categoria analítica espaço, não disputada       interno, a existência de grande número de
com nenhum outro conhecimento moderno – o           jovens universitários, estudantes dos cursos de
ambiente e o meio ambiente, esses já são de         Geografia, que hoje não encontram nenhum
domínio público.                                    outro espaço público de ação política além dos
       Seja como for, a trilha parece longa e       anfiteatros da AGB, fazem da perspectiva de
ambígua, pois o que ora está posto em termos        existência de uma Geografia social e unitária
epistemológicos - aqueles termos que, todos         (igualitária?) uma expressão de paradigma. E
sabemos, consolidam uma ciência - não parece        assim temos mergulhado no superficialismo e
suficientemente substanciado para apaziguar e       nas facilidades da venda de discursos,
unificar o que é Geografia: dos volumes             transformando o que é de natureza
Paradigmas da Geografia da Revista Terra Livre      essencialmente aplicada em elementos de
(AGB, números 16 e 17) à publicações recentes       natureza paradigmática. Sobreviverá, uma
acerca da ciência geográfica, passando pelos        ciência, desse tipo de reprodução?
trabalhos apresentados durante os últimos                 Do ponto de vista do mercado externo à
encontros nacionais de geógrafos, não               categoria, o tema é relativamente tabu, mas,
detectamos, se não incorremos em erros,             ainda assim, Carlos (com. oral, 2004) avaliou a
qualquer avaliação analítico-crítica a respeito,    análise ambiental como inserida em ruptura
por exemplo, do paradigma geossistema na sua        acadêmica ditada pelo mercado. Na permanente
posição de importante elo de existência da          criação de necessidades e de mercados, os
Geografia Unitária.                                 processos globaritários indicados por Santos
       Para negar essa homogeneidade,               (2000) indicarão talvez em breve razões
algumas rápidas exceções se fazem de toda           mercadológicas para o estudo do meio físico de
forma sentir: nos marcos da Geografia Social,       per se?
Moraes (1999) avaliou o geossistema como                  Capel também rompeu o tabu durante a
impróprio à apreensão das inter-relações            conferência que realizou no encerramento do
contraditórias dos atributos físicos e relações     XIII Encontro Nacional de Geógrafos (João
sociais na gestão dos espaços costeiros no          Pessoa, julho de 2002): fortalecendo a
Brasil. Nos marcos da Geografia de inspiração       perspectiva da identidade social, humana, da
ambiental, Suertegaray e Nunes (2002) e
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141                          137




 Geografia, fortalecendo a Geografia Cultural e         independentemente do que postulam os
 abrindo janelas ( Geografia dos Sonhos),               geógrafos - título doravante resguardado aos
 conclamou a aceitação de todos os métodos da           profissionais que participam do processo de
 Geografia e postulou a necessidade de                  consolidação da Geografia Social (como afinal
 permanência da Geografia Física no âmbito da           propôs Moreira nos idos dos anos 1980?), os
 ciência, mas em nome do corporativismo –               estudos voltados para a história da natureza e
 contudo, em se considerando os dados de                para a dinâmica do meio físico a médio e em
 Suetergaray e Nunes (2002), os geógrafos não           longo prazo haverão sempre de existir. Dos
 deveriam guardar receios de perdas, pois os            geógrafos Estrabão nos idos dos anos 10 d.c.
 geógrafos físicos, seríamos tão poucos... - e em       com sua análise da latência de certas estruturas
 nome da necessidade de conhecimentos de                vulcânicas (1) (e.g. Fouache, 1996) a Heródoto
 dinâmica natural na formação de alunos no              dos idos do século IV, com o seu reconhecimento
 ensino fundamental.                                    da condição de dádiva do Nilo ao Egito (e.g.
       Nesse tocante, a situação não deixa de           FOUACHE, 1996), do fluvialismo de Leonardo da
 ser curiosa: Claval (2002), analisando a volta         Vinci à deriva dos continentes de Wegener, o
 do cultural na Geografia, salienta que a               conhecimento sobre a dinâmica física dos meios
 Geografia vivenciada pelos meninos, mulheres           sempre interessou a humanidade - não sendo
 e idosos difere muito das geografias dos adultos       produzido pelos geógrafos, ele o será por
 masculinos. Entre (1) a compreensão da                 outros cientistas.
 necessidade de percepção do mundo natural na                 A tarefa de decodificação desse universo
 infância, justificadora da manutenção da               natural vai além, muito além, da descrição da
 Geografia Física na Geografia Social de acordo         condição de substrato e de memória do espaço
 com Capel (com. oral, 2002), (2) a compreensão         geográfico, por mais aceitável e legítimo que o
 de variadas percepções de Geografia existentes         corporativismo geográfico possa ser: as ciências
 entre gêneros e faixas etárias, de acordo com          naturais já inscreveram monumentos
 Claval (2002) e (3) as considerações freqüentes        prodigiosos na galeria do conhecimento
 na comunidade geográfica acerca do caráter             universal que a Geografia Social ora margeia, e
 ultrapassado das expressões Geografia Física ou        isso antes mesmo do surgimento e do domínio
 Geomorfologia, talvez cunhássemos na bolsa             das técnicas e dos métodos, eminentemente
 geográfica de termos a nomenclatura Geografia          geográficos, de espacialização dos elementos
 Cultural Física para no exercício terminológico        do meio.
 encontrar a forma heureca de simplesmente                    Se a permanência do conhecimento da
 acomodar a permanência da produção de                  dinâmica dos espaços físicos representará
 pesquisas uniformitarianistas acerca dos               coexistência entre Geografia Física e Geografia
 aspectos físicos e acerca das memórias naturais        Social, se essa coexistência estará restrita aos
 contidas no espaço geográfico social?                  espaços dos Departamentos de Geografia e de
       As contradições que a Geografia hoje             Geociências, se será realizada por intermédio
 enfrenta no tocante à relação físico-social e à        da consolidação de outras identidades em
 busca de consolidação da identidade social da          ciências paralelas, se ela adquirirá caráter
 ciência permitem a consideração de opções,             interdisciplinar em função de migração de
 aparentemente aceitas, não mais elaboradas             conteúdos para outras áreas do conhecimento,
 do que estas.                                          como ora já se verifica, particularmente no
                                                        tocante à assimilação da Geomorfologia pela
                                                        Geologia - pois sempre existem rios, às margens
      IV.2 - A permanência dos estudos de
                                                        dos quais ainda há solos férteis -, essas são
 caráter físico: outras identidades ?
                                                        questões que os geógrafos deveriam começar
      Aglutinadora mas não totalitária, essa é          a realmente considerar.
 a condição da identidade social da Geografia:
138     - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004                                         SALES, V.C.




       Agradecimentos
      Agradecemos aos professores Eustógio
Wanderley Correia Dantas (UFC) e José
Borzachiello da Silva (UFC) as críticas,
sugestões e considerações apresentadas ao
texto original

                                                    Notas

1 A propósito de vulcões: acha-se em curso no               geológicos gerais. A considerar a Geografia Unitária,
  Departamento de Geografia da UFC pesquisa                 a pesquisa deveria ser encerrada - dever-se-ia
  intitulada Os vulcões de Fortaleza, envolvendo            talvez aguardar a chegada no local de uma
  alunos do Laboratório de Geomorfologia Ambiental,         intervenção do tipo antrópica - o turismo? A
  Costeira e Continental – LAGECO. O objetivo da            extração mineral? Uma apropriação do relevo ?-
  pesquisa é identificar a origem e a evolução de           para ser relatado, em perspectiva interativa, a
  oito necks e/ou cones vulcânicos distribuídos em          produção daquele espaço social. Dever-se-ia talvez
  terrenos particulares na Região Metropolitana de          deixar a tarefa da elaboração desse conhecimento
  Fortaleza, em lugares ainda de acesso difícil e sem       prévio para pesquisadores de outras áreas, pois
  nenhum tipo de uso e ocupação definido. O que se          patrimônio natural, para merecer a leitura espacial
  sabe desses relevos vulcânicos pouco ultrapassa           dos geógrafos, ao que parece - ou não conseguimos
  o nível de informação contida em alguns mapas
                                                            entender bem? - apenas se for degradado.


                                                Bibliografia

BECKER,      B.    “Introdução:     por    um           CAPEL, H. A Geografia após o atentado de 11
redescobrimento do Brasil.” In: CASTRO, I.E.;           de novembro. Conferência de encerramento do
MIRANDA, M.; EGLER, C.A.G. Redescobrindo o              XIII Encontro Nacional de Geógrafos, João
Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand do Brasil,         Pessoa, 2002
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                                                                   Trabalho aceito em agosto de 2004.

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Geografia, Sistemas e Análise Ambiental

  • 1. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, pp. 125 - 141, 2004 GEOGRAFIA, SISTEMAS E ANÁLISE AMBIENTAL: ABORDAGEM CRÍTICA Vanda de Claudino Sales* RESUMO: A ascensão mundial da problemática ambiental resulta em grande número de pesquisas de cunho ambiental no âmbito da Geografia. Tal abordagem é considerada como capaz de produzir a sutura teórica entre sociedade e natureza, colocando-se como Geografia Unitária e concretizando o processo iniciado pela Geografia Crítica, de eliminação da Geografia Física. A análise ambiental, porém, pautada em geossistema, naturaliza a sociedade, por nivelar a ação social aos demais elementos do meio. Por outro lado, ele não considera tempo e evolução na dinâmica processual, natural ou social. Nestes termos, a consolidação do caráter social da Geografia estaria sendo costurada em função de uma abordagem acrítica. Tal paradoxo é pautado pela busca de uma identidade para a Geografia, mas também pela defesa de mercado de trabalho, o que demonstra ausência de percepção dos limites entre ciência básica e prática profissional na comunidade geográfica. PALAVRAS-CHAVE: Geossistemas; análise ambiental; sistemas; Geografia Física; Epistemologia da Geografia ABSTRACT: The rising of the world environmental problem results in a large number of environmental researchs in the ambit of Geography. Such approach has been considered as able to produce a theoretical suture between the society and nature, placing itself as Unitary Geography and accomplishing the process begun by the Critical Geography, of elimination of the Physical Geography. But the environmental analysis based on geosystem, naturalizes the society, by even out the social action to the others elements of the environment. On the other hand, it does not consider time and evolution in the processual dynamic, natural or social. In these terms, the consolidation of the social character of the Geography would be soldered due to an acritical approach. Such paradox is grounded by the searching for an identity of the Geography, but also by the defense of the job market, what shows the lack of perception of the thresholds between basic science and professional practice in the geographical community. KEY WORDS: Geosystems; environmental analysis; systems; Physical Geography; Epistemology of Geography * Professora Doutora do Departamento de Geografia e Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: vcs@ufc.br
  • 2. 126 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. I - Introdução superação da dicotomia entre físico e humano De tempos em tempos, a ciência e a (e.g. MONTEIRO, 1981; SEABRA, 1988) e a sociedade elegem determinados temas como concretização da unicidade da Geografia.. objeto preferencial de ação, reflexão e debate. Nestes termos, para além de uma simples Transformados em questões dada a freqüência questão da atualidade, a temática ambiental e a intensidade com que são tratados, esses pareceria estar sendo capaz de fomentar a assuntos adquirem prestígio, status e apelo sutura da ruptura sociedade/natureza em cultural, do que resulta uma prática discursiva termos teóricos. Aqui, tematizamos a questão bem definida, forjada no uso de termos a partir da consideração de aspectos fundamentais que produzem imediata empatia metodológicos associados aos métodos e identificação universal - Brunet et al. (1992) sistêmico, geossistêmico, dialético e usaram a irônica expressão bolsa de termos para uniformitarianista em trabalhos realizados sob exprimir a riqueza terminológica associada a o prisma do meio físico, na perspectiva de cada tempo, a cada lugar e a cada temática. Na analisar as implicações do uso dessas bolsa de termos da Geografia brasileira atual, abordagens no processo de busca de um discurso de forte apelo cultural é aquele construção de uma identidade social na associado ao tópico ambiental. Geografia. Com efeito, a Geografia brasileira apresentou nos últimos anos significativo II - A Teoria Geral dos Sistemas, Instrumento acúmulo de conhecimento associado à temática da Geografia Física ambiental, aqui compreendida como aquela que II. 1 - Recuperação de conceitos tem por objeto a análise da relação sociedade x natureza tomada a partir das alterações A aplicação da Teoria dos Sistemas impostas ao meio físico - de outra forma posto, debutou nos Estados Unidos nas primeiras em se tratando da Geografia, que tem nessa décadas do século XX, em consonância com o relação a sua mais duradoura identidade, a avanço da Cibernética. A sua utilização nas terminologia seria redundante. Tal crescimento ciências naturais é fruto do trabalho pioneiro é evidenciado pelo expressivo número de de Bertalanfy (e.g. 1950, 1973), que a aplicou pesquisas e de publicações associadas, bem à Biologia e à Termodinâmica. Várias décadas como pela crescente atuação técnica de foram necessárias para que tais preceitos se profissionais geógrafos em atividades públicas estendessem pelo conjunto das ciências e pela e privadas que visam à elaboração de totalidade das ciências naturais (BOULDING, diagnósticos, análises e zoneamentos 1956). Na Geografia Física, a aplicação da visão geoambientais e sócioambientais. Esse sistêmica data dos anos 1950, inicialmente crescimento consolida a abordagem utilizada em pesquisas de cunho hidrológico e geossistêmica como referência teórico- climatológico. Na Geomorfologia, ela é metodológica fundamental para um grande introduzida na nos anos 1960 (CHORLEY, 1962). número de geógrafos. Os sistemas foram definidos como Paralelamente, sobretudo no âmbito dos conjuntos de elementos que se relacionam eventos nacionais de geógrafos e da entre si, com certo grau de organização, Associação dos Geógrafos Brasileiros -AGB, a procurando atingir um objetivo ou uma finalidade perspectiva dialética é a privilegiada. Pautado (BERTALANFY, 1950). Há formulações mais no uso de termos como Geografia ambiental, complexas, porém, como a de Hall e Fagen meio ambiente, análise geoambiental e até (1956), que definem sistema como o conjunto Geografia socioambiental (MENDONÇA, 2002), de elementos e das relações entre eles e seus o discurso ambiental hoje tem como elemento atributos, ou a de Thorness e Brunsden (1977), de aceitação e identificação cultural na que o consideraram como conjunto de atributos comunidade geográfica a possibilidade de e de suas relações no meio físico, organizados
  • 3. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 127 para executar uma função particular. A II. 2 - O paradoxo do subjetivismo organização do conjunto (CHRISTOFOLETTI, Uma vez delimitado, o sistema constitui 1979) é decorrente das relações entre os um conjunto unitário, completo, uma entidade elementos, e o grau de organização entre eles discreta e isolada em relação aos outros níveis confere o estado e a função de um todo. Cada de sistemas que compõem o universo (CHORLEY todo está inserido em um conjunto maior - o e HAGGET, 1977). O reconhecimento e a universo -, que, formado por subsistemas, definição de um sistema, nesses termos, compreende a soma de todos os fenômenos e requerem da parte dos pesquisadores dinamismos em ação (CHRISTOFOLETTI, 1979). procedimento mental pautado pelo exercício da Assim posto, qualquer conjunto de abstração (CHRISTOFOLETTI, 1978). O uso da objetos que tenham propriedades comuns pode noção de limiar (e.g. CHORLEY E KENNEDY, ser considerado sistema. Critérios diversos, no 1977), por conduzir à exclusão de relações entanto, foram pautados por diferentes autores consideradas triviais e não essenciais e por com vistas à individualização dos conjuntos. Na implicar a adoção de critérios de magnitude concepção de Hall e Fagen (1956), por exemplo, espacial hierárquica - sistemas, subsistemas - bastaria haver funcionamento e relacionamento conduz à distinção entre diferentes classes de de elementos para que os sistemas pudessem sistemas (e.g. CHORLEY E HAGGET, 1978). ser caracterizados; Thorness e Brunsden (1977) O limiar apresenta-se, no entanto, consideraram que, na medida em que o sistema conceitualmente pouco desenvolvido, pois procura realizar determinada finalidade, a dependente ele mesmo do conhecimento e da compreensão de seu funcionamento depende definição de outros fatores - relações, da identificação dos elementos componentes e parâmetros, atributos, fluxos, escalas espaciais das relações entre componentes e seus e temporais de funcionamento - que pecam por atributos, bem como dos parâmetros de igual falta de precisão e clareza. Tal contexto é entradas (os inputs) e saídas (os outputs) da tanto mais complexo quanto mais especializado matéria e da energia que responderiam pelo é o pesquisador - que busca sempre abordar o funcionamento do todo. grupo de elementos diretamente vinculados aos Nesse tocante, considera-se de forma pontos-chaves de sua investigação, de forma geral a existência (FORSTER et al., 1957) de três tal que a paisagem nunca é estudada tipos de sistemas quanto ao grau de relação integralmente (QUEIROZ NETO, 1973). Os com o meio: sistemas isolados, que não realizam sistemas podem assim facilmente resultar de trocas com o ambiente no qual se acham pura construção teórica que, pautada em instalados; sistemas abertos, que trocam matéria concepções subjetivas e idealizadas, nem e energia com o meio circundante, sistemas sempre correspondem à dinâmica efetiva do fechados, que trocam apenas energia. Do ponto meio analisado. de vista espacial, os sistemas apresentariam Essa situação em parte explica alguns magnitudes variadas, da megaescala à escala equívocos relatados quanto à aplicação do local. De acordo com os aspectos de forma e método, a exemplo de realização de análise estrutura, os sistemas foram classificados (e.g. acerca de sistemas erosivos em áreas que não CHORLEY E KENNEDY, 1971; CHORLEY E HAGGET, eram palco de nenhuma erosão sistemática 1977) como morfológicos (baseados em (VIERS, 1973). E1a está talvez também no cerne propriedades físicas tais como geometria, da persistência de modelos teóricos densidade, comprimento), funcionais (com base desconectados da dinâmica da natureza, sendo na ação dos processos responsáveis pelas disso o grande exemplo a concepção davisiana, formas e funcionamento do sistema) e controlado ultrapassada, do ciclo erosivo - ou concepção (definidos pela ação controladora das atividades teórica de existência de ciclidade na evolução humanas sobre os processos). do relevo ao longo do tempo geológico, materializada por meio das fases juventude,
  • 4. 128 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. maturidade e senilidade -, síntese de sistemas sendo relativamente cerceada com o uso e o isolados (CHORLEY, 1962). desenvolvimento de modelos matemáticos, A situação foi objeto de algum debate na realização de experimentos e adoção de Geografia Física brasileira: Penteado (1980), sistemas geográficos de informação, na por exemplo, ressaltou a necessidade, indicada perspectiva de definir variáveis cuja já por outros pesquisadores (e.g. CAMPBEL, identificação possa ser universal, em qualquer 1958), de consideração de alguns meio adotado (e.g. COELHO NETO, 1992, 1997; procedimentos funcionais básicos FERNANDES; 2001; FERNANDES et al., 2002; (contigüidade, similaridade, objetivo comum) GUERRA, 1998, dentre outros). Ao mesmo para a definição dos elementos que compõem tempo, nos departamentos de Geografia e e identificam os sistemas, na perspectiva de Geociências de várias universidades brasileiras, reduzir a subjetividade. A adoção desses estudantes de graduação e pós-graduação procedimentos, contudo, igualmente genéricos, dedicam-se a complementar a formação básica nunca foi considerada como imprescindível definida pelos currículos de Geografia por meio (CHRISTOFOLETTI, 1979). Dessa forma a de disciplinas, optativas ou não, voltadas para individualização de sistemas e subsistemas e o aprendizado do uso dos parâmetros de seus elementos e atributos parece ter matemáticos, estatísticos, químicos e físicos permanecido, nos primórdios da aplicação do requeridos para a boa aplicação do método uso da teoria dos sistemas na Geografia Física, (MARQUES, 1994). o resultado puro e simples (CHRISTOFOLETTI, A produção científica realizada sob essa 1979:33) do uso do bom senso (destaque perspectiva sistêmica de cunho clássico (em nosso). contraposição à concepção geossistêmica, Assim a pesquisa de cunho sistêmico ambiental, atualmente em evidência: ver conviveu com o sério paradoxo da objetividade parágrafos seguintes) é significativa, mas não contra a subjetividade: forjada no seio da busca pode ser contabilizada na grande cena dos de uma revitalização científica baseada nos acontecimentos da Geografia brasileira, que são otimismos oriundos da automação, da evolução os encontros nacionais de geógrafos - ENG. A da Cibernética e do uso de técnicas de aceitação cultural dessa abordagem é restrita quantificação, na prática a análise sistêmica de aos eventos temáticos, apoiados ou não pela teor clássico resultou da percepção AGB (simpósios de Geomorfologia e Geografia individualizada da dinâmica dos meios. Física, seminários de combate à erosão dos Associada à permanente falta de intimidade do solos e estabilidade de encostas, dentre conjunto dos geógrafos para com as técnicas outros). quantitativas - a definição e caracterização dos componentes dos sistemas implicam o cálculo II. 4 - O tempo que pára: a exclusão da de parâmetros estatísticos, probabilísticos, dimensão temporal estocásticos e alométricos, procedimentos que os geógrafos estão longe de saber manusear Os sistemas representam um conjunto de -, a aplicação da teoria geral dos sistemas na elementos - a idéia de conjunto, como implícito, Geografia Física produziu (SMALLEY e VITA- traduz a existência de elementos que possuem FINZI, 1969) mais confusão que propriedades comuns. Em se tratando da esclarecimentos. pluralidade dos fenômenos que compõem as paisagens naturais, essa premissa é certamente falsa: um dado tipo de cobertura II. 3 - A aparente superação da vegetal não recebe as mesmas influências de subjetividade heranças geoestruturais como um perfil de solo Na atualidade, a subjetividade inerente ou uma vertente, nem depende de escala à definição de sistemas físicos parece estar temporal semelhante para atingir o clímax. A
  • 5. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 129 Teoria dos Sistemas homogeneíza artificialmente (2) dimensão tempo moderno, as diferenças genéticas e evolutivas dos intermediária, tomada a partir dos últimos mil elementos que compõem os sistemas pelo anos e para áreas de porte médio - por exemplo, desprezo à dimensão temporal. Tal consideração bacias fluviais. Nessa dimensão, as variáveis está na base mesmo da conceituação de selecionadas como independentes e sistemas. É Bertalanfy (1973) a salientar que dependentes são diferentes do primeiro caso, sendo o tempo não relevante e os grandes “...nos sistemas físicos, os elementos naturais, independentes. eventos são, em geral, determinados apenas por condições momentâneas. O (3) dimensão tempo presente, definida como passado é, por assim dizer, não superior a um ano, a ser adotada para anulado” (1973:195). pequenas áreas. Nesse caso, o tempo geológico é irrelevante e os grandes elementos da Em tal contexto, na análise sistêmica, todo paisagem natural independentes, voltando-se elemento de cunho evolutivo a médio e longo a análise para os processos da atualidade. prazo é desconsiderado, com evidente prejuízo Ainda aqui, a proposta não permite a para a análise dos processos, formas e evolução apreensão das inter-relações estabelecidas ao das paisagens. longo de toda a extensão do tempo geológico. Schum et Licthy (1973) consideraram os Se considerarmos que algumas heranças problemas decorrentes da atemporalidade da morfoestruturais perduram nas paisagens por análise sistêmica. Para esses autores, a até várias centenas de milhões de anos (e.g. distinção entre causas e efeitos na dinâmica de PEULVAST e CLAUDINO SALES, 2002), de forma um sistema dado depende do tempo, bem como a condicionar a evolução ulterior dos demais do tamanho da área de pesquisa considerada. elementos que hoje as compõem, fica evidente Se áreas extensas são tomadas em um tempo o empobrecimento, em termos de conhecimento longo, algumas das variáveis são dependentes e de compreensão, da consideração apenas do clima, do substrato rochoso, do relevo inicial momentânea da dinâmica dos meios físicos. e do próprio tempo envolvido. Essas variáveis A proposta de adoção de escalas tornam-se porém independentes com a espaciotemporais tal qual proposto por Schum mudança da escala para um tempo menor e em et Lithcy (1978) teve ainda assim o mérito de pequenas áreas. A paisagem contemporânea é minimizar alguns dos problemas decorrentes da dessa maneira um estádio dentro de um período identificação das variáveis a serem utilizadas na do tempo geológico, e sua dinâmica deve ser definição dos sistemas. Ela chegou a ser estudada na escala do tempo atual em diversos parcialmente retrabalhada por Klink (1981), que espaços amostrais reduzidos. Dessas defendeu a idéia, a título de propor uma considerações resultou a proposta da metodologia de mapeamento de unidades possibilidade de adoção de variadas escalas geossistêmicas, da necessidade de realização espaciotemporais na análise sistêmica. de estudos de cunho genético e evolutivo dos Definidas em termos de grandes e pequenas componentes do meio, anteriormente à áreas e de longos e curtos períodos, elas foram definição do funcionamento inter-relacional do apresentadas como: geocomplexo. Assim posto, a proposta suprime (1) dimensão tempo geológico, tomada a as lacunas que, na concepção de Schum e Licthy partir do Pleistoceno para estudos de cunho (1978), existiam para condicionantes ambientais geomorfológico, ou com duração variada para de idade anterior ao Pleistoceno. cada tipo de sistema considerado. A dimensão Em que pese a importância na análise tempo geológico presta-se ao estudo de ambiental do conhecimento do estádio de extensas áreas, para o que as grandes variáveis evolução das paisagens - ou da memória longa do sistema, inclusive o próprio tempo, são dos sistemas (CHRISTOFOLETTI, 1978) -, não consideradas dependentes;
  • 6. 130 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. parecem ser muitos os exemplos na produção de elementos sociais, econômicos e técnicos, brasileira de pesquisas realizadas com base na que lhes modificam a dinâmica natural peculíar; análise sistêmica (e.g. CHRISTOFOLETTI, 1977; nesse sentido, a concepção geossistêmica CRUZ, 1985; KLINK; 1981) ou de inspiração implica conceitualmente a relação sociedade x sistêmica (e.g. CLAUDINO SALES, 1993) que natureza. levaram em conta longos intervalos temporais Em termos espaciais, os geossistemas como preconizado por esses autores. foram divididos (SOTCHAVA, 1977) em escala Ao mesmo tempo em que a dimensão local ou topológica, escala regional e escala evolutiva, a longo ou médio prazo, dos planetária. Em termos de hierarquia de elementos que compõem os sistemas é funcionamento, as categorias definidas, em desprezada na análise sistêmica tradicional, não ordem decrescente, foram geossistemas menos complexa é a situação dos cenários (correspondendo a paisagens ou ao ambiente futuros - isto é, da previsão, tão fortemente natural), geócoros (classe de geossistemas de solicitada na atualidade. O futuro na análise estrutura heterogênea), geômeros (classe de sistêmica nada mais representa que uma geossistemas com estrutura homogênea) e sucessão de etapas seqüenciais previsíveis, geotopos (geossistemas associados a unidades definidas a partir de um começo pré-concebido. morfológicas ou setores fisionômicos A inexistência de conhecimento acerca das homogêneos). escalas temporais mais apropriadas para a Bertrand (1968), na sua Geografia Física observação (CHRISTOFOLETTI, 1978) assim Global, conceituou geossistema como um tipo de como (FERNANDES et al., 2002) o reduzido sistema aberto, hierarquicamente organizado, conhecimento acerca de certos parâmetros formado pela combinação dinâmica e dialética, físicos envolvidos (por exemplo, formas de portanto instável, de fatores físicos, biológicos encostas, propriedades de solos), impede ainda e antrópicos. O geossistema resulta, segundo o uma maior compreensão dos mecanismos de autor, da combinação dinâmica de um potencial ruptura envolvidos e a previsão mais efetiva de ecológico (geomorfolologia, clima, hidrologia), ocorrência de novos fenômenos. de uma condição de exploração biológica natural Apesar das limitações, inúmeras (vegetação, solo, fauna) e de atividades ditas pesquisas associadas ao controle e previsão de antrópicas. Partindo dessa abordagem, o autor riscos ambientais são realizadas no Brasil (e.g. propôs a adoção de escalas espaciais diferentes COELHO NETO et al., 1990; COELHO NETO, - em ordem decrescente são elas a zona, o 1992; GUERRA, 1994, 1998; FERNANDES, 2002, domínio, a região, o geossistema, o geofácies e o dentre outros). O resultado dessas pesquisas, geotopo, estes dois últimos classificados a partir em diversos casos, fomenta uma atuação política de critérios biogeográficos e antrópicos. crítica dos pesquisadores envolvidos, em defesa A partir dos preceitos teóricos associados de valores socioambientais. ao conceito de geossistemas e em consonância com o crescimento mundial da problemática III - Dos Sistemas à Análise Geoambiental ambiental, a Geografia penetra a ativa era da análise ambiental, expressa na realização dos III. 1 - Os geossistemas diagnósticos, zoneamentos e avaliação de Um tipo particular de sistema físico, impactos ambientais. De forma secundária, são dinâmico e aberto é aquele denominado tratados os temas de manejo e planejamento geossistema. Sotchava (1977) caracterizou-o dos usos dos espaços naturais e, em alguns como a expressão dos fenômenos naturais casos - ainda raros - de recuperação de áreas resultantes da interação, na superfície da Terra, degradadas. É esse conjunto de procedimentos da litomassa com biomassa, aeromassa e que recebe a rubrica de análise ambiental (e.g. hidromassa. Para esse autor, as formações MENDONÇA, 1993, ROSS, 1990). Motivadora e naturais experimentam na atualidade o impacto utilitária, a perspectiva ambiental possibilitou o
  • 7. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 131 resgate e o consumo, no âmbito dos grandes de reconhecimento de campo - que podem ser fóruns da Geografia brasileira, de pesquisas e feitos, como já o são com freqüência, por toda de pesquisadores que ali não encontravam mais sorte de profissionais, especializados ou não na espaço de expressão (e.g. MONTEIRO, 2002). análise da relação sociedade x natureza. A Os geossistemas, sob cuja óptica é produção nos termos expostos parece realizada a maior parte da pesquisa e atuação comprometer a possibilidade de crescimento da dos geógrafos na área ambiental, não eliminam Geografia como ciência estruturada, pois, afinal, a necessidade do estabelecimento de como lembra Navarra (1973) a propósito do uso procedimentos metodológicos necessários à da teoria sistêmica nas ciências físicas, caracterização das variáveis a serem sistematizar é sempre tarefa prévia ao consideradas - é preciso saber quais elementos conhecimento científico. do relevo, do clima, do solo, da vegetação, são necessários, e qual a importância que eles III. 2 - Analise geoambiental: Geografia assumem na dinâmica do meio. Parcela Unitária - Geografia Crítica? considerável da produção dita geoambiental não considera, no entanto, nenhum desses A Geografia, que ao final da década de preceitos teóricos e conceituais, parecendo ser 1970 surgiu no Brasil com a denominação de o uso da terminologia relação sociedade x Geografía Crítica, na esteira de um movimento natureza ou meio ambiente suficiente para eximir renovador cujo grande momento público ocorreu os pesquisadores da necessidade de definições durante a realização do 3° Encontro Nacional teórico-metodológicas, próprias da pesquisa de Geógrafos (AGB, Fortaleza, 1978), veio científica. colocar-se como um divisor de águas na Ciência Geográfica, rompendo com a sua produção Embora de forma não generalizada, a acadêmica tradicional: questionando a situação caracteriza tanto pesquisas ao nível perspectiva geográfica posta exclusivamente de graduação quanto de pós-graduação - a sobre o produto da ação do homem no espaço, exceção acha-se relativamente situada nos a Geografia Crítica quis saber dos processos trabalhos que ostentam propostas de sociais que determinam esse produto, a partir zoneamento ambiental, que necessariamente do que projetou sua visão para a própria exige a adoção de escalas espaciais sociedade. Para tanto, introduziu o discurso hierárquicas. Tal tipo de aplicação é hoje marxista na ciência, adotou o método histórico- solicitada por organismos públicos que adotaram dialético como o arsenal teórico- metodológico (Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro privilegiado e elegeu como objeto de estudo um de Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; processo social, a produção do espaço. Comissão Interministerial para os Recursos do Mar- CIRM, Instituto Brasileiro de Geografia e Evidentemente o rompimento Estatística-IBGE) a metodologia geossistêmica estabelecido pela Geografia Crítica deu-se com como elemento de definição de políticas públicas o que de conservador e arcaico havia na voltadas para o planejamento e a gestão Geografia, atingindo, portanto, todas as suas territorial (e.g. SOUZA, 1994; MORAES, 1999). áreas e especializações. Um desdobramento contundente de tal visão recaiu sobre a eterna Em tal contexto, com freqüência, o que é polêmica da dicotomia natureza/sociedade na produzido são meros diagnósticos descritivos, ciência, resultando no alijamento dos estudos simples arrolamento das características físicas de natureza física do âmbito da Geografia Crítica, do meio, tal qual realizado em trabalhos sob o argumento da não importância social e clássicos de Geografia Física, inclusive de forma política dessa abordagem. Tal postura adquiriu compartimentada - ainda que agregando um contornos bastante concretos na ação dos tópico sobre uso e ocupação. Em outros casos, geógrafos críticos: freqüentes foram as o produto da análise geossistêmica é o simples argumentações postas, em debates e em resultado da sistematização de dados oriundos
  • 8. 132 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. publicações, no sentido de pensar que à setenta, não deu conta de acompanhar Geografia não competia lidar com areias. a dinâmica social. O ecológico e o Algumas afirmações foram mais objetivas - tal é ambiental desviam a cena acadêmica o caso daquelas de Moreira (1980), ao em Geografia” (1999:109). considerar que Por outro lado e ao mesmo tempo, os “o geomorfólogo costuma usar o termos geógrafo físico, geomorfólogo, status de geógrafo, mas que status é esse? climatólogo, pedólogo, carentes que se E fica também na ambigüidade, não encontram da aceitação cultural que hoje atinge construindo uma epistemologia própria” a dimensão ambiental da Geografia, são banidos (1980:17). dos grandes espaços da Geografia brasileira - da AGB, dos encontros nacionais de geógrafos- Moreira (1980 ) também postulou a noção ENG’s, das publicações de cunho geográfico de que geral. Hoje, são inclusive considerados “... corre um rio, às margens do qual ultrapassados por profissionais cuja produção há solos férteis. Esses termos são todos científica era há pouco tempo referenciada no da Geografia Física. Se me permitem a espaço da Geografia Física. Dessa forma, por expressão, Geografia Física faz parte de uma um viés ou por outro, a Geografia consolida um linguagem que temos que reformular” certo caráter unitário - doravante aqui (1980:18). identificado pela denominação de Geografia Unitária. O momento presente seria o da Se a Geografia é unitária, porém, quando concretização dessas considerações, pela baseada em geossistemas, ela também o é superação, por meio da análise geoambiental, formalmente acrítica, pois os geossistemas, da dualidade entre físico e humano na assim como os sistemas em geral, não Geografia? Por um lado, com pauta na aceitação consideram a ação de processos que ocorrem cultural da abordagem ambiental tanto na em escala temporal de médio e longo prazo. Tal academia quanto no palco das demandas fato implica na apreensão de uma ação social sociais, existe um refazer das análises na esfera naturalizada, nivelada aos demais elementos do dos geógrafos “humanos”. Mamigoniani (1996) meio - meio naturalizado, o geossistema não declara que comporta o ser social organizado em torno de “...está na hora de se perceber, sistemas de poder e de interesses econômicos com humildade, que existem leis naturais definidos. Assim, Bertrand (1968) considera a e leis sociais, independentemente da ação antrópica como um input, semelhante a vontade dos indivíduos” (1996:199). qualquer outro de ordem natural que atinge e modifica temporariamente a dinâmica interna O autor proclama ainda que dos geossistemas, até que estes se adaptem “...a Geografia Física, armada no às novas condições criadas. E Socthava (1977) paradigma geossistema, continua suas afirma que pesquisas e realiza mais progressos que a “...fatores antropogênicos e Geografia Humana” (1996:199). espontâneos, condicionando a estrutura de um geossistema, podem, em todos os Moraes (1999) agora avalia necessária a casos, serem referidos à categoria de expressão da dinâmica das configurações físico- naturais, mesmo quando seguem certos naturais dos lugares, e Silva (1999) evidencia: procedimentos sócio- econômicos” “A Geografia não se apercebeu da (1978:7). emergência de novos sujeitos sociais, não perseguiu os desdobramentos dos anos
  • 9. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 133 Sposito (1999, 2002), tratando de dialética. Nesta, os pesquisadores pretendem questões epistemológjcas, considerou a ressaltar as leis da dialética - movimento, motor existência de três abordagens no âmbito da de transformação da matéria; contradição Geografia e demais ciências humanas: a interna, segundo a qual nenhum fenômeno seria abordagem empírico- analítica, positivista, que passível (e.g. SPOSITO, 1999, 2002) de uma considera todos os fenômenos sociais e naturais única mudança. Na perspectiva de desvendar como regidos por leis invariáveis, não os fenômenos da realidade apoiados na comportando noção de historicidade; a dimensão histórica dos acontecimentos na abordagem histórico-critico-dialética, que tem na esfera ambiental, os pesquisadores assumem ação/transformação categorias fundamentais; a noção de que a ciência pode fornecer a abordagem fenomenológica-hermêneutica, elementos para a transformação da sociedade. que postula a interpretação como fundamento Na Geografia Brasileira, a valorização do meio para a compreensão dos fenômenos. O autor ambiente tomada a partir da abordagem não considerou nem inseriu o paradigma ambiental dialética teve em Gonçalves (1989) geossistêmico em suas reflexões, embora tenha um precursor. Hoje, amplia-se o numero de referenciado os sistemas, porque reconhece geógrafos que fazem esse percurso, da Chorley e Hagget (produtores da escola Geografia Social à análise ambiental (nas sistêmica na Geografia; ver parágrafos cidades: e.g. RODRIGUES, 1998; SPOSITO, anteriores) como representantes da corrente 2001; SOUZA, 2002; nas áreas litorâneas: e.g. positivista na Geografia, inclusive brasileira MORAES, 1999; em perspectiva global: e.g. (SPOSITO, 1999). WALDMAN, 1992; RIBEIRO, 2001, 2004). Em se tomando essas considerações Na óptica oposta - partindo dos como referenciais, três outros caminhos elementos do meio físico para a relação analíticos também se impõem: (1) os sistemas sociedade/natureza, no inicio dos anos 80, ambientais físicos ou geossistemas acham-se Monteiro (1981) discutiu meio ambiente numa referenciados na abordagem positivista - mas perspectiva filosófica. Vários anos depois, não nos referíamos a um espaço geográfico Casseti (1991) aborda o ambiente a partir da produto histórico e social para fundamentar as compreensão dialética da apropriação do relevo argumentações da unicidade da Geografia e a (ainda que tomando como ponto de partida o ampla aceitação da análise geoambiental na geossistema). Nos marcos da análise acerca fase da Geografia Unitária?; (2) não dos climas da cidade de São Paulo, Tarifa e reconhecemos o geossistema como uma Azevedo (2001), baseados na concepção abordagem própria da Geografia, ciência lefebvriana de ritmanálise (LEFEBVRE, 1975) humana - com o que desconhecemos a larga propõem o ritmo como um caminho possível para produção geográfica que vem sendo feita nessa a compreensão da interação dialética dos perspectiva e ainda, de evidência, a essência fenômenos físicos, biológicos, humanos e sociais da Geografia dita ambiental, que movimenta as no espaço. publicações e atividades da Geografia atual; (3) Via de regra, a análise dialética associada aceitamos comodamente o paradigma à questão ambiental não permite o geossistêmico tal qual posto, e atingimos a fase aprofundamento do conhecimento da dinâmica de Geografia Unitária, social, por meio da dos elementos físicos, senão da interferência atemporalidade e acriticidade, formal e informal, deles na qualidade de vida das populações. A teórica e prática. aceitação da necessidade de estudos geográficos do meio físico já propiciou reflexões sobre essa limitação: para ultrapassá-la, III. 3 - A análise ambiental dialética Moraes (1999) sugeriu a realização de trabalhos Outra forma de tratamento da temática ao mesmo tempo dialéticos e holísticos. Mas o ambiental é ofertada pelo uso da abordagem holismo - de holos, tudo, freqüentemente
  • 10. 134 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. também referenciado na perspectiva compreensão da estruturação espacial de geossistêmica - parece só ser possível de ser bacias hidrográficas, a reconstituição dos climas praticado por meio de trabalhos do passado, inclusive daqueles que subsidiaram interdisciplinares, envolvendo, além de o alvorecer da sociedade humana em seus geógrafos, outros profissionais. Na ausência de primeiros e ulteriores passos históricos. Ela conhecimento científico da dinâmica de todas comporta ainda (BLOOM, 1996) as análises as partes envolvidas nas situações analisadas, sobre a capacidade das ondas marinhas em o que resulta só poder ser um falso discurso modelarem a costa, a renovação constante do de holismo ou um holismo falso. solo pela intemperização das rochas, o transporte de sedimentos pela ação do gelo, as variações eustáticas cenozóicas. A Geografia III. 4 - Outra abordagem do meio físico: Física produzida em tal perspectiva não pode o atualismo do Uniformitarianismo ser crítica, tampouco social, nem ambiental. O Para além da análise sistêmica, que dizer de ambiente como relação sociedade geossistêmica e dialética, a Geografia Física, e x natureza, ou natureza produto da sociedade em particular a Geomorfologia, tem na quando se trata de analisar superfícies de geocronologia um importante instrumento de aplainamento, origem de margens continentais, apoio à análise física do espaço. Baseada na evolução quatemária das paisagens (e.g. perspectiva metodológica oriunda do Princípio KOHLER, 1994; MUHUE, 1994; MOURA, 1994; do Atualismo - ou o Uniformitarianismo dos SAADI, 1993;; JATOBÁ, 2002; CLAUDINO SALES, inglêses James Hutton (1740-1797) e Charles 2002; CLAUDINO SALES E PEULVAST, 2002, Lyell (1802), que afirmaram um presente, chave 2004, dentre tantos outros pesquisadores e do passado – muitos pesquisadores buscam temas) ? desvendar e esclarecer os passos da evolução Como evidência do tipo causa-efeito, na dos grandes elementos que compõem as fase atual de consolidação da Geografia Unitária paisagens naturais. tal abordagem física é desprezada (e.g. A perspectiva uniformitarianista apóia- SUETERGARAY e NUNES, 2002). No entanto, esse se na interpretação da dinâmica dos processos produto científico tem sido requisitado por atuais e da consideração de que estes, outras áreas do conhecimento - Arqueologia, submetidos sempre às mesmas leis físicas, Geologia, História Natural, História, Biologia, atuaram de forma semelhante, ainda que com Engenharia, Direito Ambiental. Constantes são intensidades diferenciadas, ao longo da também as demandas sociais associadas ao história natural da Terra. A apreensão dessa planejamento e gestão ambiental. Solicitações dinâmica é obtida por clássicas técnicas de de mesma natureza incluem o turismo ecológico levantamento de campo, análises laboratoriais e cientifico e atividades voltadas para o fomento e interpretação de cartas, hoje agregando da cultura geral das sociedades. Diversos são instrumentos novos oriundos de técnicas da ainda os exemplos de aplicação do informatização (construção de modelos conhecimento da dinâmica do meio físico em numéricos de terreno) e do sensoriamento longo prazo em embates políticos afeitos à remoto da superfície da Terra (radar, satélite). preservação do ambiente e à qualidade de vida Da adoção do princípio do Atualismo, de populações. Nestes termos, verifica-se que surgem, numa perspectiva geográfica, espacial, o que não é importante para a Geografia a recomposição da longa história das paisagens Unitária ainda assim o é para a sociedade. naturais, a decodificação da monumental Aqui, outro aspecto da armadilha do história dos continentes, o desvendamento dos ambiental merece reflexão – a Geografia Física, processos de nascimento e extinção de teórica, pautada no Uniformitarianismo, só pode oceanos e mares, a identificação da origem e ser desenvolvida com base nos mecanismos da evolução dos grandes volumes de relevo, a Tectônica de Placas, mas a Tectônica de Placas,
  • 11. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 135 estrondosa e avassaladora revolução no âmbito relação com as diferentes formas da das ciências a partir dos anos 1970 e 1980, é sociedade se produzir e reproduzir” simplesmente desconhecida dos geógrafos (199:348/349). físicos brasileiros. Esses geógrafos, amparados pelas facilidades do discurso unitário e pelo Enquanto isso, o coro de um sem-número pragmatismo de demandas sociais, de geógrafos censura o aprofundamento confortavelmente eliminaram de suas agendas epistemológico da Geomorfologia, ou da o aprofundamento teórico, sem o qual não Pedologia, denunciador da busca de existem meios possíveis para explicar a evolução fortalecimento de status de ciências autônomas das paisagens naturais antes dos homens – e - mas o que querem os geógrafos da Geografia como haverão de efetivamente diagnosticar Unitária? Estaríamos em meio a uma cruzada impactos com os homens no meio físico se o gloriosa que demanda abnegações em prol da meio físico representa um avassalador consolidação de uma identidade geográfica que desconhecido? não abarca a todos? Não sabemos mais o A falta de conhecimento e atualização sentido das idéias, ou não queremos saber? Por acerca dos mecanismos e ecos da Tectônica de onde haverá passado, ademais, aquela Placas é verificável na maioria esmagadora das consideração de que a Geografia poderia publicações em Geografia Geral e contribuir para superar o autoritarismo, ouvindo Geomorfologia, que são feitas ao longo dos as diferentes vozes, identificando o novo e os últimos anos – é pois menos por falta de possíveis pactos, e organizando e difundindo importância do que por falta de elementos de informação (e.g. BECKER, 1999)? produção científica que Geografia Física hoje se De evidência, trata-se da busca de coloca como algo ininteligível aos olhos da construção e de fortalecimento de uma comunidade geográfica. identidade geográfica, pautada na afirmação de ser a Geografia uma ciência social: nenhuma outra afirmação parece ter tido maior ressonância na IV - Geografia Social e Geografia Física: um comunidade geográfica, nas últimas décadas, impossível Elo (Conclusões) do que essa exaltação do caráter social da IV. 1 - A identidade social da Geografia Geografia. Estaríamos vivenciando, após um Brunet et al. (1999), na forma irônica que longo e tortuoso percurso, a fase terminal de encontraram para expressar a Geografia, consolidação de uma identidade geográfica? No afirmaram que o espaço geográfico compreende, Brasil, em se tomando como critério os eventos além de quantidade de heranças da sociedade, nacionais de geógrafos, essa identidade social também memórias da natureza (1999:6). estaria efetivamente consolidada, a despeito da Suertagaray e Nunes (2002), tomando como (ou em razão da?) propalada crise das ciências parâmetro o XII ENG para analisar a natureza sociais. Aliada à fragmentação do mundo da produção em Geografia Física, concluíram ser globalizado e à determinação social da a produção atual majoritariamente ambiental, degradação mundial das paisagens e da portanto nos moldes da qualidade social da qualidade de vida, essa fase histórica, com Geografia (os autores não consideraram a efeito, parece ser propícia ao fortalecimento produção em Geografia Física veiculada em dessa identidade social da Geografia. outros tantos fóruns que não a AGB...). Sposito A busca da definição de uma identidade (1999) considerou ser a Geografia geográfica parece, porém, estar sendo ditada “uma ciência cujo objeto é a antes pela perspectiva de construção de um sociedade e que, portanto, mesmo os projeto de Geografia do que por um projeto de seus aspectos físicos (destaque do autor) construção de sociedade: assim é que Santos devem ser abordados a partir de sua (2000), tratando dos processos globaritários, afirma a certeza de podermos produzir as idéias
  • 12. 136 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. que permitirão mudar o mundo. Brunet et al. Mendonça (2002) reconhecem ser esta uma (1996), nas Palavras da Geografia, acreditam ser abordagem problemática, mas enaltecem a esse unicidade da Geografia. Geógrafos não “...um campo do conhecer e do agir brasileiros têm feito também algumas ainda subestimado nos meios cultivados, considerações - a exemplo de Claval (2002), ...o que é uma pena para a nossa que avaliou que o estudo das relações homem/ cultura comum, e provavelmente para a meio ambiente é atualmente realizada segundo ação” (1996:10). perspectiva ecológica (2002:21) e não geográfica. Pontos de vista com teor semelhante, Para além dessa questão maior, de mais ou menos explícitos, não são raros nos construção de uma identidade própria, ou talvez meios geográficos: o que parece, pois, de fato diretamente associada a ela, parece existir, de guiar a busca e a construção da identidade uma forma implícita e relativamente disfarçada, social da Geografia, no Brasil e no mundo, é a uma defesa de mercado, interna e externa à disposição que têm os geógrafos de verem a categoria, norteada ainda pela ausência de Geografia alçada ao palco das grandes ciências clareza, no âmbito da comunidade geográfica, da humanidade. Contudo, para tanto, o que do que vêm a ser ciência básica e ciência parece mais facilmente próximo para aplicada. empréstimo à galeria do conhecimento universal Do ponto de vista da defesa de mercado é a categoria analítica espaço, não disputada interno, a existência de grande número de com nenhum outro conhecimento moderno – o jovens universitários, estudantes dos cursos de ambiente e o meio ambiente, esses já são de Geografia, que hoje não encontram nenhum domínio público. outro espaço público de ação política além dos Seja como for, a trilha parece longa e anfiteatros da AGB, fazem da perspectiva de ambígua, pois o que ora está posto em termos existência de uma Geografia social e unitária epistemológicos - aqueles termos que, todos (igualitária?) uma expressão de paradigma. E sabemos, consolidam uma ciência - não parece assim temos mergulhado no superficialismo e suficientemente substanciado para apaziguar e nas facilidades da venda de discursos, unificar o que é Geografia: dos volumes transformando o que é de natureza Paradigmas da Geografia da Revista Terra Livre essencialmente aplicada em elementos de (AGB, números 16 e 17) à publicações recentes natureza paradigmática. Sobreviverá, uma acerca da ciência geográfica, passando pelos ciência, desse tipo de reprodução? trabalhos apresentados durante os últimos Do ponto de vista do mercado externo à encontros nacionais de geógrafos, não categoria, o tema é relativamente tabu, mas, detectamos, se não incorremos em erros, ainda assim, Carlos (com. oral, 2004) avaliou a qualquer avaliação analítico-crítica a respeito, análise ambiental como inserida em ruptura por exemplo, do paradigma geossistema na sua acadêmica ditada pelo mercado. Na permanente posição de importante elo de existência da criação de necessidades e de mercados, os Geografia Unitária. processos globaritários indicados por Santos Para negar essa homogeneidade, (2000) indicarão talvez em breve razões algumas rápidas exceções se fazem de toda mercadológicas para o estudo do meio físico de forma sentir: nos marcos da Geografia Social, per se? Moraes (1999) avaliou o geossistema como Capel também rompeu o tabu durante a impróprio à apreensão das inter-relações conferência que realizou no encerramento do contraditórias dos atributos físicos e relações XIII Encontro Nacional de Geógrafos (João sociais na gestão dos espaços costeiros no Pessoa, julho de 2002): fortalecendo a Brasil. Nos marcos da Geografia de inspiração perspectiva da identidade social, humana, da ambiental, Suertegaray e Nunes (2002) e
  • 13. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 137 Geografia, fortalecendo a Geografia Cultural e independentemente do que postulam os abrindo janelas ( Geografia dos Sonhos), geógrafos - título doravante resguardado aos conclamou a aceitação de todos os métodos da profissionais que participam do processo de Geografia e postulou a necessidade de consolidação da Geografia Social (como afinal permanência da Geografia Física no âmbito da propôs Moreira nos idos dos anos 1980?), os ciência, mas em nome do corporativismo – estudos voltados para a história da natureza e contudo, em se considerando os dados de para a dinâmica do meio físico a médio e em Suetergaray e Nunes (2002), os geógrafos não longo prazo haverão sempre de existir. Dos deveriam guardar receios de perdas, pois os geógrafos Estrabão nos idos dos anos 10 d.c. geógrafos físicos, seríamos tão poucos... - e em com sua análise da latência de certas estruturas nome da necessidade de conhecimentos de vulcânicas (1) (e.g. Fouache, 1996) a Heródoto dinâmica natural na formação de alunos no dos idos do século IV, com o seu reconhecimento ensino fundamental. da condição de dádiva do Nilo ao Egito (e.g. Nesse tocante, a situação não deixa de FOUACHE, 1996), do fluvialismo de Leonardo da ser curiosa: Claval (2002), analisando a volta Vinci à deriva dos continentes de Wegener, o do cultural na Geografia, salienta que a conhecimento sobre a dinâmica física dos meios Geografia vivenciada pelos meninos, mulheres sempre interessou a humanidade - não sendo e idosos difere muito das geografias dos adultos produzido pelos geógrafos, ele o será por masculinos. Entre (1) a compreensão da outros cientistas. necessidade de percepção do mundo natural na A tarefa de decodificação desse universo infância, justificadora da manutenção da natural vai além, muito além, da descrição da Geografia Física na Geografia Social de acordo condição de substrato e de memória do espaço com Capel (com. oral, 2002), (2) a compreensão geográfico, por mais aceitável e legítimo que o de variadas percepções de Geografia existentes corporativismo geográfico possa ser: as ciências entre gêneros e faixas etárias, de acordo com naturais já inscreveram monumentos Claval (2002) e (3) as considerações freqüentes prodigiosos na galeria do conhecimento na comunidade geográfica acerca do caráter universal que a Geografia Social ora margeia, e ultrapassado das expressões Geografia Física ou isso antes mesmo do surgimento e do domínio Geomorfologia, talvez cunhássemos na bolsa das técnicas e dos métodos, eminentemente geográfica de termos a nomenclatura Geografia geográficos, de espacialização dos elementos Cultural Física para no exercício terminológico do meio. encontrar a forma heureca de simplesmente Se a permanência do conhecimento da acomodar a permanência da produção de dinâmica dos espaços físicos representará pesquisas uniformitarianistas acerca dos coexistência entre Geografia Física e Geografia aspectos físicos e acerca das memórias naturais Social, se essa coexistência estará restrita aos contidas no espaço geográfico social? espaços dos Departamentos de Geografia e de As contradições que a Geografia hoje Geociências, se será realizada por intermédio enfrenta no tocante à relação físico-social e à da consolidação de outras identidades em busca de consolidação da identidade social da ciências paralelas, se ela adquirirá caráter ciência permitem a consideração de opções, interdisciplinar em função de migração de aparentemente aceitas, não mais elaboradas conteúdos para outras áreas do conhecimento, do que estas. como ora já se verifica, particularmente no tocante à assimilação da Geomorfologia pela Geologia - pois sempre existem rios, às margens IV.2 - A permanência dos estudos de dos quais ainda há solos férteis -, essas são caráter físico: outras identidades ? questões que os geógrafos deveriam começar Aglutinadora mas não totalitária, essa é a realmente considerar. a condição da identidade social da Geografia:
  • 14. 138 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. Agradecimentos Agradecemos aos professores Eustógio Wanderley Correia Dantas (UFC) e José Borzachiello da Silva (UFC) as críticas, sugestões e considerações apresentadas ao texto original Notas 1 A propósito de vulcões: acha-se em curso no geológicos gerais. A considerar a Geografia Unitária, Departamento de Geografia da UFC pesquisa a pesquisa deveria ser encerrada - dever-se-ia intitulada Os vulcões de Fortaleza, envolvendo talvez aguardar a chegada no local de uma alunos do Laboratório de Geomorfologia Ambiental, intervenção do tipo antrópica - o turismo? A Costeira e Continental – LAGECO. O objetivo da extração mineral? Uma apropriação do relevo ?- pesquisa é identificar a origem e a evolução de para ser relatado, em perspectiva interativa, a oito necks e/ou cones vulcânicos distribuídos em produção daquele espaço social. Dever-se-ia talvez terrenos particulares na Região Metropolitana de deixar a tarefa da elaboração desse conhecimento Fortaleza, em lugares ainda de acesso difícil e sem prévio para pesquisadores de outras áreas, pois nenhum tipo de uso e ocupação definido. O que se patrimônio natural, para merecer a leitura espacial sabe desses relevos vulcânicos pouco ultrapassa dos geógrafos, ao que parece - ou não conseguimos o nível de informação contida em alguns mapas entender bem? - apenas se for degradado. Bibliografia BECKER, B. “Introdução: por um CAPEL, H. A Geografia após o atentado de 11 redescobrimento do Brasil.” In: CASTRO, I.E.; de novembro. Conferência de encerramento do MIRANDA, M.; EGLER, C.A.G. Redescobrindo o XIII Encontro Nacional de Geógrafos, João Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand do Brasil, Pessoa, 2002 1999, pp. 11-23 CAMPEL, D. T. Common Fate, Similarityand other BERTALANFY, L. V. The theory of open systems in indices ofthe status of aggregation of persons Physics and Biology. British Journal of and social entities. Behavorial Science, vol. 3, Philosophical Science, vol. 1, 1950, pp 23-39 1958, pp. 4-25 BERTALANFY, L. V. Teoria Geral dos Sistemas. Rio CARLOS, A.F.A. Rumo à Metageografia. Aula de Janeiro, Editora Vozes, 1973, 351p. inaugural do Mestrado em Geografia da UFC, BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global setembro de 2004 - Esboço metodológico. Cadernos de Ciências da CASSETI, V. Ambiente e Apropriação do relevo. São Terra, vol. 13, IG-USP, 1968, 1-36 Paulo, Editora Contexto, 1991, 147p. BOULDING, K. General Systems Theory - the CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em skeleton of a Science. General Systems Year Book, Geografia. São Paulo, Editora Hucitec, 1979, vol. 1, 1956, pp. 11-17 144p. BRUNET, R.; FERRAS, R.; THERY, H. Les mots de la CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Géographie. Dicitionaire critique. Paris, Reclus - Ambientais. São Paulo, Ed. Edgard Blücher, 1999, La Documentation Française, Paris, 1999, 518p. 236p.
  • 15. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 139 CHORLEY, R. J. Geomorphology and General perspectivas”. Anais do I Congresso da ABEQUA, Systems Theory. US. Geological Survey Porto Alegre, 1987, pp. 27-36 Professional Paper, vol. 500-B, 1962, pp. 1-10 FERNANDES, N.; DIETRICH, W.E. “Hillslope CHORLEY, R.J; HAGGET, P. Modelos integrados em evolution by processes: the time scale for Geografia. Rio de Janeiro, Editora Livros Técnicos equilibrium adjustement”. Water Resources e Científicos S.A., 1974, 279p. Research vol. 33, 1997, pp. 1307-1318 CHORLEY, R..J.; KENNEDY, B.A. Physical FERNANDES, N; GUIMARÃES, R.F; GOMES, R.A .T.; Geography: a system approach. Londres, Editora VIEIRA, B.C.; MONTGMOREY, D.R.; GREENBERG, Prenttice Hall Inc. Co., 1971, 351p. H. “Condicionantes geomorfológicos de modelo de previsão de áreas susceptíveis”. Revista CLAUDINO SALES, V. C. Lagoa do Papicu - Natureza Brasileira de Geomorfologia, vol. 2 (1), 2002, pp. e Ambiente na cidade de Fortaleza. São Paulo, 51-73 Dissertação de Mestrado, Departamento de Geografia da USP, 1993, 344p. FOSTER, C.; RAPOPORT, A; TRUCCO, E. “Some unsolved problems in the theory of non- isolated CLAUDINO SALES, V. C. Les littoraux du Ceará - Systems”. General Systems Yearbook, vol. 2, Evolution géomorphologique de Ia zone cotiêre de 1957, pp. 9-29 l’Etat du Ceará, Nord-est du Brésil, du long terme au court terme. Paris, Thése de Doctorat, UFR GUERRA, A. J. T. “The effect of organic matter Géographie, Université Paris-Sorbonne, 2002, content on soil erosion in simulated rainfall 523p. experiments”. In W. Sussex, U.K. Soil and Management, vol. 10, 1994, pp. 60-64 CLAUDINO SALES, V.; PEULVAST, J.P. “Dunes and ponds in the coast of Ceara State, North- east GUERRA, A. J.T. “O uso de simuladores de chuvas Brazil” . In: ALLISON, R. Applied Geomorphology: e modelos digitais de elevação no estudo das theory and practice. Londres, Editora John Wiley ravinas”. Geosul, vol. 14 (27), 1988, pp. 71-74 and Sons, 2002, pp. 443-460 GONÇALVES, C. W.P. Os (des)caminhos do meio CLAVAL, P. Retomo ao cultural em Geografia. ambiente. São Paulo, Ed. Contexto, 1989, 148p. Mercator, vol. 1, 2002, pp. 19-28 JATOBÁ, L. “A dinâmica das placas litosféricas”. COELHO NETO, A. L. “O Geoecossistema da Notas e comunicações de Geografia, UFPB, vol. B Floresta da Tijuca”. In: ABREU, M.A. (org.). (30), 2002, p. 1-16 Natureza e Sociedade do Rio de Janeiro. Rio de HACK, J. T. “Interpretação da topografia erodida Janeiro, Coleção Biblioteca Carioca, 1992, pp. em regiões temperadas úmidas”. Notícia 104-142 Geomorfológica, vol. 12 (24), 1967, pp. 3-37 COELHO NETO, A.L; FERNANDES, N.F.; DEUS, C. HACK, J.T. “Dynamic equilibrium and landscape E. “Gullying processes in the Southeastern evolution”. In: MELHORO, W.N. ; FLEMAL, R.C. Brazilian plateau, Bananal, São Paulo”. In: (eds.). Theories of landform developpement. HIGGINS, G.; COASTES, D.R. (eds.). Ground- London, Ed. Allen and Uwin, 1975, pp. 87-102 water and geomorphology. Geological Society of America. Special paper vol. 252, 1990, pp. 1-28 HALL, A. D; FAGEN, R.E. “Definition of systems”. General Systems Yearbook, vol. 1, 1956, pp. 18- CRUZ, O. “A escala temporo-espacial nos 26 estudos de processos geomorfológicos”. Geomorfologia, IG/USP, vol. 33, 1985, pp. 1-6 LEFEBVRE, H. Eléments de rythmanalyse. lntroduction à la connaissance des rythmes. Paris, COLTRINARI, L; KOHLER, H.C. “O Quaternário Editions Syllepse, 1992, 109p. continental brasileiro: estado da arte e
  • 16. 140 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C. LYELL, C. Principies of Geology. Londres, Royal atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro, Academy of Science, 1802 Ed. Bertrand do Brasil, 1994, pp. 253-308 KHOLER, H.C. “Geomorfologia Cárstica”. In: NAVARRA, C. T. Sistemas reais e sistemas GUERRA, A . J. T.; CUNHA, S.B. (orgs). conceituais. Métodos em questão, vol. 5, IG-USP, Geomorfologia: uma atualização de bases e 1973, p. 1-14 conceitos. Rio de Janeiro, Editora Bertrand do KLINK, H.J. Geoecologia e Regionalização Natural. Brasil, 1994, 309-334 São Paulo, Ed. IG-USP, 1981 MAMIGONIANI, A. “A Geografia e a formação PEULVAST, J.P., CLAUDINO SALES, V. (2004). social como teoria e como método”. In: SOUSA, Stepped surfaces and paleolandforms in the M. A. A. (org.). O mundo do cidadão, um cidadão Northern Brazilian “Nordeste”: constraints do mundo, São Paulo, Editora Hucitec, 1996, on models of morphotectonic evolution. pp.198:204 Geomorphology, vol. 62 (3), 2004, 89-120 MARQUES, J.S. “Ciência geomorfólogica”. In: PEULVAST, J.P.; CLAUDINO SALES, V. (2002). GUERRA, A .J. T.; CUNHA, S.B. (orgs.). Aplainamentos e Geodinâmica: revisitando um Geomorfologia: uma atualização de bases e problema clássico em Geomorfologia. Mercator, conceitos. Rio de Janeiro, Editora Bertrand do vol. 1, pp. 112-152 Brasil, 1994, pp. 23-50 PENTEADO, M.M.O. Geomorfologia. Rio de Janeiro, MENDONÇA, F. Geografia Física: ciência humana? Editora IBGE, 1980, 185p. São Paulo, Editora Contexto, 1989 , 78p. QUEIROZ NETO, J.P. O Simpósio sobre o MENDONÇA, F. Geografia e Meio Ambiente. São Quaternário do Brasil de Sudeste. Caderno de Paulo, Editora Contexto, 1993, 80p. Ciências da Terra, vol 31, IG-USP, 1973, pp. 1- MENDONÇA F. Geografia socioambiental. Terra 24 Livre, vol 16, 2002, pp. 113-133 RIBEIRO, W.C. A ordem ambiental internacional. MONTEIRO, C. A. Teoria e Clima Urbano. São São Paulo, Editora Contexto, 2001, p. 182. Paulo, Ed. IG-USP, São Paulo, 1976, 241p. RIBEIRO, W.C. Meio Ambiente e política MONTEIRO, C.A. A questão Ambiental no Brasil. internacional. In: CLAUDINO SALES, V. (org.). São Paulo, Editora IG-USP, 1981, 135p. Ecossistemas brasileiros: manejo e conservação. Fortaleza, Editora Expressão, 2003, pp. 63- MONTEIRO, C.A.F. “William Moris Davis e a Teoria 68 Geográfica”. Revista Brasileira de Geomorfologia, 2 vol. 2(1), 2001, pp. 1-21 RODRIGUES, A. M. Produção e consumo do e no Espaço - Problemática ambiental Urbana. São MORAES, A . C. R. Subsídios para uma gestão da Paulo, Ed. Hucitec, Paulo, 1998, 240p. zona costeira brasileira. São Paulo, Ed. Contexto, 1999, 224p. ROSS, J. L. S. Geomorfologia, Ambiente e Planejamento. São Paulo, Editora Contexto, MOREIRA, R. Debate: Geografia e Realidade. 1990, 80p. Território Livre 2, UPEGE , São Paulo, 1980 SAADI, A. Neotectônica da Plataforma brasileira: MOREIRA, R. “Realidade e metafísica nas esboço e interpretação preliminares. Gnomos estruturas geográficas contemporâneas”. In: Revista de Geociências da UFMG, vol 1, 1993, CASTRO, I.E.; MIRANDA, M.; EGLER, C. A.G. (org.). pp.1-15 Redescobrindo o Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand do Brasil, 1999, pp. 341-346 SCHUM, S. A.; LITCHY, R. W. Tempo, causalidade e espaço em Geomorfologia. Notícia MUHUE, D. “Geomorfologia Costeira”. IN GUERRA, Geomorfológica, vol. 13(25), 1973, pp. 43-62 A .J. T.; CUNHA, S.B. (orgs.). Geomorfologia. Uma
  • 17. Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 141 SEABRA, M. (1984). Geografia (s)?. Revista o Brasil. Rio de Janeiro, Bertrand do Brasil, 1999, Orientação, vol. 5, 1984, pp. 9-17 347-364 SILVA, J.B. “Pelo retomo da região: SPOSITO, E. S. “À propósito dos paradigmas de desenvolvimento e movimentos sociais no orientações teórico-metodológicas”. Terra Livre, Nordeste Contemporâneo.” In: CASTRO, I.E.; vol. 17, 2002, pp.99-112 MIRANDA, M.; EGLER, C. A.G. (org.). SPOSITO, M. E. “O embate entre questões Redescobrindo o Brasil. Rio de Janeiro, Editora ambientais e sociais no Urbano”. São Paulo, Bertrand do Brasil, 1999, p. 101-116 Anais do VII Simpósio Nacional de Geografia SMALLEY, I.J.; VITA-FINZI. “The concept of Urbana, AGB, 2001, p. 33-37 “system” in the earth science, particulary SUETERGARAY, D. M.; NUNES, J. O. R. “A natureza Geomorphology”. Geoogical Society American da Geografia Física na Geografia’. Terra Livre, vol. Bulettun. Vol. 80 (8), 1969, pp. 1591-1594 17, 2002, pp. 11-24 SOTCHAVA, V.B. “O estudo dos Geossistemas”. TARIFA, J.R.; AZEVEDO, T.R. Os climas na cidade Métodos em Questão, vol. 16, 1976, p. 1-52 de São Paulo. São Paulo, Editora GEOUSP, SOUZA, M.J.N. (1994). Zoneamento Geoambiental Coleção Novos Caminhos, vol. 4, 2002, 199p. do Estado do Ceará. In: Projeto Aridas. Fortaleza, THORNESS, J.B.; BRUNSDEN, D. (1977). SEPLAN - FUNCEME, 1994, 47p. Geomorphology and Time. Londres, Ed. Methuen SOUZA, M. S. “Meio ambiente urbano e and Co., 1977, 209p. saneamento básico”. Mercator, vol. 1, 2002, pp. VIERS, G. Geografia Física, Ecologia e Geografia 41-52 Zonal. Caderno de Ciências da Terra, vol. 55, IG- SPOSITO, E. S. “A questão do método e a crítica USP, 1978 do pensamento geográfico. In: CASTRO, I. E.; WALDMAN, M. Ecologia e lutas sociais no Brasil. MIRANDA, M.; EGLER, C.A. (orgs.). Redescobrindo São Paulo, Editora Contexto, 1992, 113p. Trabalho enviado em abril de 2004. Trabalho aceito em agosto de 2004.