O texto descreve a vida simples e solitária de um vaqueiro que acorda cedo para cuidar do gado. Embora goste do contato com os animais, sente falta de contato humano e de um amor de mulher, o que o deixa triste à tarde. Quando está sozinho, recorda com saudade da família e do amor perdido.
4. Levantava cedo, corria o gado, fazia o que mais gostava e por isso mesmo fazia com amor. Assim era ele, e parece que não ia mudar.
5. Era de poucas palavras, mas se entendia bem com os animais. Sozinho dava conta de todo gado. Tirava o leite e servia às crianças.
6. Depois de cuidar do gado, acompanhava o pessoal da fazenda nas plantações. Tudo tinha que produzir. Um simples olhar e já sabia de tudo.
7. Depois do dever cumprido, ia à cidade tomar benção do padre. Aproveitava para ver as moças bonitas. Fazer uma graça... Afinal ninguém é de ferro.
8. Parava no banco da represa e ensaiava dar uma pescada. Às vezes fisgava alguma coisa e era comum convidar os amigos para uma fritada ali mesmo.
9. Na volta, como em ritual, olhava a natureza, mirava toda beleza e debaixo de uma árvore, descansava. Um sono de meia hora.
10. O contato com o verde era constante, ao contrário do contato com as pessoas. Gostava do cheiro do mato!
11. Não sei se viveria na cidade. Se viveria sem aquele silêncio que o acompanhava desde menino.
12. Seus cavalos, umas de suas grandes paixões. Quando chegava perto dos animais, sentia algo que entrava no peito, tomava conta da alma, e um bem muito grande lhe fazia por inteiro.
13. E ver os bichos correndo? Um saltando pra cá, dando coice pra lá, um show! Era certo que os bichos estavam se expondo para seu dono. Um contato.
14. Quando chegava a tarde mansa, sentado sob uma árvore, passava a meditar. Pensava na família, na vida e nos amigos. Lembrava da vida dura, do amor que se foi e que ninguém ocupa mais o seu lugar.
15. Esse o ponto mais triste e que batia sempre quando a tarde caia. Sentia o quanto fazia falta um amor de mulher. Nada estava completo.
16. Pra afastar a tristeza, olhava de novo a tropa, reclamava, mas só mais um pouquinho. Depois se punha novamente a viver. E olhava de novo pras coisas que ama, como que querendo se energizar.
17. Veja se posso ir embora, e deixar meus animais, dizia o caboclo orgulhoso, ao ver este show sem igual.
18. De vez em quando batia uma forte saudade das filhas, que acabaram ficando com a mãe e que viveram momentos felizes, quando toda a família estava reunida, no campo.
19. Quando a dor batia mais forte procurava se distrair e ia para o pasto ver seus animais promover mais um dos seus espetáculos.
20. E a tropa respondia saindo a galope, com cada animal querendo se mostrar ainda mais belo a quem ficou conhecido como “encantador de cavalos”.
21. E nas noites mais escuras se recolhia naqueles locais, nos quais as recordações da mulher amada são mais acentuadas. Aí, um deles.
22. Punha as traias no cavalo, saia à luz da lua que se punha bela, só pra lhe fazer companhia. E falavam de tudo, como que com isso tudo ficasse solucionado. Até mesmo a volta do grande amor.
23. Amor que ainda espera. E quando voltar, tudo estará completo. Tudo será melhor!
24. Porque tudo se completa quando o amor está presente. E embora tendo tudo, o “homem caipira” sabe muito bem: nada substitui o amor de uma mulher.