1. Oportunidades Desiguais
Os entendidos continuam a afirmar que vivemos cada vez mais numa grande aldeia – a tal
aldeia global, e que tudo quanto se tem é de todos e deve ser partilhado com quantos
tiverem precisão. Na teoria é tudo muito bonito e funciona muito bem. Os problemas
começam quando se tenta por em prática a globalização em termos de divisão dos bens,
dos recursos e dos serviços de forma equitativa.
Por outro lado também não é menos verdade que a globalização trouxe novas
oportunidades, especialmente de negócios, e, de alguma forma, está a contribuir para um
melhor equilíbrio na balança de “três” pratos: produto – qualidade – preço. Por causa do
quase desaparecimento das fronteiras e das limitações de distâncias em consequência dos
meios de comunicação cada vez mais sofisticados e rápidos, fazer negócio hoje ficou muito
mais fácil e rápido. Pode-se comprar, vender, trocar, cobrar e pagar sem sequer sair do
gabinete ou sala de estar e sem se tocar em um centavo que seja e tudo com uma qualidade
de serviço que ronda os 100% e com segurança praticamente garantidos. É verdade,
estamos muito mais próximos uns dos outros do que imaginamos.
Por causa de toda esta facilidade e disponibilidade, também não é menos verdade que
tornou-se muito mais difícil para os mais pequenos, sejam eles países, empresas ou pessoas
individuais fazer negócios no sentido de vender e ou colocar os seus bens e/ou produtos. Os
recursos que se exigem à cabeça para se lançar neste mundo global nem sempre estão
disponíveis para os ditos “pequenos” e em consequência, esta globalização que deveria
facilitar e aproximar todos com vantagens iguais para cada um, acaba, no fim, por ser o pior
inimigo dos que mais precisam, dos que, na verdade, correm atrás, mesmo para garantir o
seu sustento diário. É só ver como se está a multiplicar, praticamente ao segundo, o
negócio dito ambulante – nos mais diversos ramos possíveis e imaginários, apinhando as
ruas, amontoando-se nas esquinas mais movimentadas, até mesmo invadindo as portas de
casas de família com ofertas de mil e um bugigangas e artefactos. Todos procuram de
alguma forma dar a volta à situação de “crise” no negócio provocada por essa ben(mal)dita
globalização. E a tendência é cada vez mais afunilar tudo e construir uma grande pirâmide
com vantagens maiores e melhores a medida que se caminha para o topo da mesma. No
final, os que estão lá em cima terão acesso a tudo e a todos e, outra vez, voltaremos ao
tempo dos grandes senhores, dos mandantes do mundo.
É preciso que os que estão aqui em baixo, os mais “pequenos,” tenham e sejam
conscientes da sua pequenez mas ao mesmo tempo que saibam e assumam a sua força –
são pequenos mas não são poucos, e juntos somam uma grande força, em todos os
sentidos, uma potência. As oportunidades também estão para os menos favorecidos, só
que com mais custos e com muito mais trabalho. O que é preciso é não deixar de confiar e
acreditar que depois do muito labor, certamente, haverá colheita satisfatória. Afinal é na
base onde tudo começa. E lá estão os “pequenos”.