Carlos Zorrinho, Miguel Morgado, Joana Amaral Dias e Pacheco Pereira cruzaram este sábado, 22 de Novembro, saberes e opiniões na Casa Municipal da Cultura de Coimbra na procura de paralelismos entre a primeira guerra mundial e o mundo tecnológico. Na segunda de três conferências do ciclo “O Povo e a Dor – Centenário da I Guerra Mundial”, coube a Joana Amaral Dias a intervenção inicial. Ao recuperar um antigo anúncio publicitário de electrodomésticos –
“Hoover é tempo livre”, a psicóloga recuperou também a ideia de que as tecnologias «iriam ser libertadoras» de tarefas cansativas, permitindo às pessoas uma maior dedicação, por exemplo, à cultura e ao lazer. «A verdade é que a tecnologia não nos libertou, aprisionanos», acentuou, ao abordar diferentes ângulos dos efeitos sociais das tecnologias que «não libertam do trabalho» e estão em «grande aliança com o capital» e não com os trabalhadores. Mesmo em relação à guerra, antes com «laivos de cavalheirismo», desumanizoua, com drones a «matarem sem se saber quem». A venda massificada de dados pessoais ou novos fenómenos, como aplicações web que alteram e desregulam relações laborais foram outros temas abordados pela psicóloga, antes de a palavra ser dada a Carlos Zorrinho.
Para o eurodeputado, «a tecnologia, que à partida é positiva», está mobilizada por centros de poder e levou a que as pessoas «sejam variáveis», num mundo em que os heróis são pibs, alavancagens (…). «A 3.ª guerra mundial é o nosso quotidiano», sustentou, ao falar de uma guerra em que «não é preciso disparar um tiro», basta eliminar dados ou disparar sobre a reputação de uma pessoa. Se a «valorização tecnológica mobilizou povos contra povos», numa luta que não é já de rosto a rosto mas de representação e de símbolos, o eurodeputado entende necessária uma nova revolução que mude o mundo, mobilizandose a tecnologia para a paz. (...)
Diário de Coimbra, 23.11.2014
Autor: António Manuel Rodrigues
Os 29 vídeos referentes aos dois primeiros painéis deste ciclo de conferências encontram-se disponíveis no Canal da Câmara Municipal de Coimbra no YOUTUBE,
https://www.youtube.com/channel/UCPFR_M9mVthLlVQbxcAIrig
1. Tiragem: 9311
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Regional
Pág: 5
Cores: Cor
Área: 17,16 x 24,57 cm²
ID: 56760344 23-11-2014 Corte: 1 de 1
“Terceira guerra mundial
é o nosso quotidiano”
Conferência No centenário da primeira guerra, Joana Amaral Dias, Pacheco
Pereira, Carlos Zorrinho e Miguel Morgado falaram de mobilização tecnológica
António Manuel Rodrigues
Carlos Zorrinho, Miguel Mor-gado,
Joana Amaral Dias e Pa-checo
Pereira cruzaram ontem
saberes e opiniões na Casa
Municipal da Cultura de Coim-bra
na procura de paralelismos
entre a primeira guerra mun-dial
e o mundo tecnológico.
Na segunda de três conferên-cias
do ciclo “O Povo e a Dor –
Centenário da I Guerra Mun-dial”,
coube a Joana Amaral
Dias a intervenção inicial. Ao re-cuperar
um antigo anúncio pu-blicitário
de electrodomésticos
– “Hoover é tempo livre”, a psi-cóloga
recuperou também a
ideia de que as tecnologias
«iriam ser libertadoras» de ta-refas
cansativas, permitindo às
pessoas uma maior dedicação,
por exemplo, à cultura e ao la-zer.
«A verdade é que a tecnolo-gia
não nos libertou, aprisiona-nos
», acentuou, ao abordar di-ferentes
ângulos dos efeitos so-ciais
das tecnologias que «não
libertam do trabalho» e estão
em «grande aliança com o ca-pital
» e não com os trabalha-dores.
Mesmo em relação à
guerra, antes com «laivos de
cavalheirismo», desumanizou-a,
com drones a «matarem sem
se saber quem». A venda mas-sificada
de dados pessoais ou
novos fenómenos, como apli-cações
web que alteram e des-regulam
relações laborais fo-ram
outros temas abordados
pela psicóloga, antes de a pa-lavra
ser dada a Carlos Zorri-nho.
Para o eurodeputado, «a tec-nologia,
que à partida é posi-tiva
Debate com Miguel Morgado, Joana Amaral Dias, João Ramos, Carlos Zorrinho e Pacheco Pereira
», está mobilizada por cen-tros
de poder e levou a que as
pessoas «sejam variáveis»,
num mundo em que os heróis
são pibs, alavancagens (…). «A
3.ª guerra mundial é o nosso
quotidiano», sustentou, ao falar
de uma guerra em que «não é
preciso disparar um tiro», basta
eliminar dados ou disparar so-bre
a reputação de uma pes-soa.
Se a «valorização tecnológica
mobilizou povos contra po-vos
», numa luta que não é já
de rosto a rosto mas de repre-sentação
e de símbolos, o eu-rodeputado
entende necessá-ria
uma nova revolução que
mude o mundo, mobilizando-se
a tecnologia para a paz.
Pacheco Pereira introduziria
no debate uma nova aborda-gem,
ao defender que «são as
mudanças sociais que expli-cam
o modo como se usa a
tecnologia», e não tanto a tec-nologia
a mudar as pessoas.
Nesse raciocínio, notou a
grande crença no início do sé-culo
XX em que a tecnologia
poderia combater diferenças,
resolver problemas de escas-sez,
atrasos, doenças, para de-pois
dissertar sobre os impac-tos,
nomeadamente sociais, de
uma primeira guerra que dei-xou
um «lastro de raiva, ga-nância
e injustiça» que condu-ziria
à segunda guerra.
Do optimismo inicial pas-sou-
se para um ambiente con-flituante.
«Não são as tecnolo-gia
que nos mudam (…) a so-ciedade
é que muda», insistiu
o historiador e docente, ao fa-zer
uma incursão ao uso de te-lemóveis
e à internet, comen-tando
perdas de privacidade
ou trazendo ao debate trans-ferências
ilegais ou sites de pe-dofilia.
Antes da abertura da confe-rência
a questões do público,
Miguel Morgado, docente do
Instituto de Estudos Políticos,
chamou a atenção para a tec-nologia
de mobilização, utili-zada
na primeira grande
guerra na mobilização patrió-tica
e de consciências.
O ciclo de conferências, pro-movido
pela Câmara Munici-pal
de Coimbra e Fundação
Bissaya Barreto para assinalar
o centenário da guerra 1914-
1918, termina a 29 de Novem-bro.
O tema será “Portugal, a
Democracia e as (Novas) Guer-ras”,
estando previstas inter-venções
de Alexandre Franco
de Sá, Amadeu Carvalho Ho-mem,
António Arnaut, Diogo
Freitas do Amaral e Elina Fraga.
Tal como na sessão de ontem,
o moderador será João Fer-nando
Ramos, jornalista da
RTP. |