O documento é um manifesto de professores da UFPE contra o impeachment da presidente Dilma, defendendo a legalidade e a democracia. Ele critica as medidas do governo Temer por representarem um desmonte da ideia de uma nação justa e soberana, e lista razões como a agenda regressiva de Temer, o descaso com a ciência e a cultura, e a falta de legitimidade do governo interino. Os professores convocam a resistência contra o golpe e a restauração da democracia com o retorno de Dilma ao poder.
1. Manifesto dos Professores da UFPE contra o impeachment da Presidenta Dilma, pelo
respeito à legalidade e à democracia
Para: Representantes de Pernambuco no Senado Federal e a Sociedade em Geral
Nós, professores da Universidade Federal de Pernambuco, abaixo assinados, vimos a público
manifestar nosso repúdio contra as medidas autoritárias já tomadas pelo governo federal inte-
rino, que representam um verdadeiro desmonte da ideia de uma nação mais justa e soberana,
contemporânea com o Século 21. Abaixo, seguem as razões que motivaram a edição deste
manifesto:
Em um real golpe contra as instituições e sem a legítima autoridade de um mandato rece-
bido nas urnas, o (des)governo Temer tem demonstrado uma sanha agressiva de rapida-
mente impor ao País uma agenda regressiva, já rejeitada em ocasiões anteriores pelo voto
livre do povo.
Em menos de um mês temos assistido ao anúncio de programas e metas – bem como à
implantação das primeiras medidas correspondentes – que buscam forçar uma reversão das
conquistas de inclusão social e direitos da cidadania, estabelecer uma política conservadora
e antidemocrática em termos de educação e cultura e praticar o desmonte do sistema públi-
co de saúde.
O evidente descaso com a ciência, tecnologia e inovação, refletido na subordinação do
ministério correspondente à área de comunicações, alinha-se à retórica de desprestígio da
Petrobras e alienação do Pré-Sal, passaporte para a independência energética do Brasil e
garantia de sua afirmação como uma nação moderna e soberana.
A desculpa de combate à corrupção não resistiu à divulgação dos nomes dos ministros e
secretários do primeiro escalão do governo interino, vários deles alvos de investigação por
desvio de dinheiro público. Tal escusa se esvai a cada dia – com revelações de interesses
ocultos por trás da mudança de regime – e não passa de um pretexto para evitar que sejam
revelados os malfeitos praticados há décadas pelos organizadores do impeachment.
O quadro de assalto a um projeto de país se completa com o redirecionamento súbito de
nossa política externa, contrário aos verdadeiros interesses nacionais e orientados para as-
segurar uma presença internacional subalterna do Brasil.
Alertamos ainda que a implementação dessa agenda de retrocessos será rejeitada com firmeza
pela sociedade brasileira e que a insistência em sua realização trará, com certeza, uma forte e
coerente manifestação dos diferentes setores por ela afetados. A instabilidade social decorren-
te da ilegitimidade das ações do governo interino não pode servir para a adoção de medidas, já
em discussão pelo governo provisório, ainda mais regressivas e perigosas para a democracia
brasileira.
Por esses motivos, conclamamos a comunidade universitária – docentes, servidores e estudan-
tes da UFPE – a unir forças para resistir e combater o golpe e o governo interino por ele im-
plantado.
A restauração da democracia em nosso país passa pelo retorno ao poder da Presidenta Dilma,
legitimamente escolhida em eleições livres. Essa é uma condição essencial para que, então,
possam ser estabelecidos os próximos passos para a construção de uma agenda de conciliação
nacional que reúna todos os setores da sociedade verdadeiramente comprometidos com a pre-
servação da democracia brasileira.
Recife, 07 de junho de 2016