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                            ESSE TAL DE ROCK’N’ROLL:
    COMO OS JOVENS CONSTROEM SUA IDENTIDADE, EM
                                      PORTO ALEGRE1

                                                                             Fernando Pisoni Queiroz2


RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de analisar como jovens, de 17 a 24
anos, moradores de Porto Alegre, se constroem a partir de características identitárias do
rock’n’roll, a partir de referenciais dos Estudos Culturais, como Bauman, Hall, Kellner
e Dayrrel. Para a pesquisa, os jovens foram convidados a participar de um flash mob3,
onde responderam um questionário e uma entrevista gravada em áudio, e, num segundo
momento, responderam a entrevista por email. Através disso, é possível concluir que os
jovens entrevistados utilizam fragmentos identitários do rock para demonstrar um eu
que subverte códigos tradicionais. Porém, não se definem, somente, como roqueiros
para poder transitar entre diferentes grupos.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade. Representação. Pertencimento. Rock. Jovem.



ABSTRACT: This study aims to examine how Young people from 17 to 24 years, who
live in Porto Alegre, built their identity making use of rock’n’roll's characteristics,
considering Cultural Studies, with Bauman, Hall, Kellner and Dayrrel. For the
research, they were invited for a flash mod, where they were submitted to a
questionnaire and an audio recorded interview.
After that they responded to e-mail interview. From the results it was possible to
conclude that they make use use of a few characteristics of Rock to scape the ordinary
behaviour, but don’t define themselves as rokers so that it makes easier for them to
transit between different groups.

KEYWORDS: Identity, representation, belonging, rock, young




1
  Artigo realizado como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social –
habilitação em Jornalismo, pela Universidade Luterana do Brasil, sob orientação do Prof. Mestre
Deivison Moacir Campos (deivison_compos@hotmail.com).
2
  Graduando. Email: pisoniqueiroz@gmail.com
3
  “Flash Mob, por definição, é uma súbita mobilização coletiva, em espaços públicos físicos, organizada
através da Internet ou outras redes de comunicação digital. Sua característica principal é a de ser realizada
em um curto período de tempo, com a intenção de ser instantânea, surpreendente, de causar
estranhamento e incomodar.” (KATO et.al., 2010, p.2).
2




1 INTRODUÇÃO


       As identidades pessoais e coletivas são construídas a partir de características
simbólicas, produzidas nas instancias de sociabilização. Se há algumas décadas a
família, a escola, e a igreja cumpriam este papel, construindo identidades mais fixas,
hoje a fluidez apresenta-se como principal característica (BAUMAN, 2005). Neste
processo, a centralidade da mídia na cultura contemporânea faz com que esta se torne
um espaço privilegiado de referenciação, gerando valores através de filmes, novelas,
personagens e a música – neste caso, criando estilos.
       O estilo rock, surgido nos anos 50, sempre esteve vinculado à juventude e
rebeldia. Com a maior circulação de elementos identitários, como diz Bauman (2005),
os jovens tornam-se, na contemporaneidade, sujeitos das transformações individuais,
moldando seus referenciais baseados em uma representação de um nós em movimento,
a partir de características simbólicas.
       Nessa perspectiva, essa pesquisa investiga como jovens, moradores de Porto
Alegre, consumidores da música rock, constroem sua identidade a partir de
características identificatórias desse estilo musical. Para isso, é preciso identificar quais
códigos do rock eles utilizam na construção da sua identidade e o que eles buscam
representar a partir disso.
       A observação das práticas é importante porque permite que se entenda a
construção identitária dos jovens, a influência e o impacto do conteúdo midiatizado e a
geração de valores e sentidos na juventude. Além disso, o sentimento e o discurso
comercial de juventude são construídos, mercadologicamente, através destes
parâmetros. Tudo isso acontece em um momento de centralidade da mídia e
enfraquecimento das instituições reguladoras, como a igreja, escola e família
(BAUMAN, 2005).
       Este trabalho se enquadra nos Estudos Culturais, visto que analisa a forma como
o “meio mercantizado e estereotipado da cultura de massa” (HALL, 2003, p.12) tem sua
representação junto à audiência. Kellner (2001) afirma que “o estudo da cultura popular
e de massa” (KELLNER, 2001, p.12) tem o “nome genérico de estudos culturais”
(KELLNER, 2001, p.12).
       A partir dessa perspectiva, alguns conceitos tornam-se referenciais. Identidade é,
segundo Bauman (2005), um conjunto de fragmentos de representação que o indivíduo
3



adota, a fim de ter um grupo de pertença. Falar de jovem não é algo simples,
principalmente no que se refere ao conceito. Neste trabalho, jovem é entendido através
de Hebdige (1981), que diz que


                             ser jovem passa a ser visto como um momento de liberdade, de
                             prazer, de expressão de comportamentos estranhos e exóticos,
                             enfim, a juventude como sinônimo de divertimento (HEBDIGE
                             apud DAYRELL, 2005, p. 30).

          Algumas pesquisas realizadas recentemente analisam o comportamento dos
jovens e o processo de construção de sua identidade a partir de referenciais simbólicos,
impactados pelos discursos midiáticos. Nestas abordagens, a música aparece em
diversos artigos, como um dos principais produtos culturais que influenciam a
sociedade. Garbin (1999) diz que “as imagens e os sons da mídia dominam cada vez
mais nosso senso de realidade e a maneira como definimos a nós mesmos e ao mundo
ao nosso redor” (p.1), afirmando ainda que nossa sociedade contemporânea vive
“saturada pela mídia” (p.1). Silva (2009) mostra que os jovens valem-se de diferentes
formas de utilizar a vestimenta para expressar seu estilo musical. Dayrell (2001) afirma
que “a imagem, o olhar e o visual são as mediações mais presentes nas relações sociais”
(p.24) e que “a música acompanha os jovens em grande parte das situações no decorrer
da vida cotidiana: música como fundo, música como linguagem comunicativa [...]”
(p.21).
          O artigo é resultado de um estudo de campo, qualitativo porque tem


                             [...] por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos
                             do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e
                             indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN,
                             1979a, p. 520 apud NEVES, 1996, p. 1).

          Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram entrevistas gravadas e
questionário - aplicado no momento das entrevistas gravadas, completadas por
entrevistas feitas por email, com jovens de 17 a 24 anos. Os entrevistados foram
convidados para um encontro no formato de flash mob4, através do perfil da rádio Pop


4
  “Flash Mob, por definição, é uma súbita mobilização coletiva, em espaços públicos físicos, organizada
através da Internet ou outras redes de comunicação digital. Sua característica principal é a de ser realizada
em um curto período de tempo, com a intenção de ser instantânea, surpreendente, de causar
estranhamento e incomodar.” (KATO et.al., 2010, p.2).
4



Rock FM e do pesquisador no Twitter5, a fim de falar sobre rock no Shopping Total, em
Porto Alegre. Para encontrar pistas nos dados coletados para a resposta do problema, a
análise dos dados é realizada a partir da uma perspectiva indiciária de Ginzburg (2004):


                          [...] permitir saltar de fatos aparentemente insignificantes, que
                          podem ser observados, para uma realidade complexa a qual,
                          pelo menos diretamente, não é dada à observação (GINZBURG,
                          in ECO, 2004, p. 8).

        Esta pesquisa terá quatro seções. Inicialmente será apresentada a relação da
juventude com a música e, na segunda, será abordada a construção da identidade de jovens
que consomem rock. Na terceira seção, são apresentados os resultados da pesquisa com os
entrevistados, e, para concluir, as considerações finais.


2 HISTÓRIA DA JUVENTUDE E A MÚSICA


        O culto à juventude é uma das principais diferenças da cultura contemporânea
(HOBSBAWM, 2009). No pós guerra, carpe diem6 tornou-se um dos objetivos e
sinônimos de juventude (BAUMAN, 2005). Hobsbawm (2009) diz que, com o
capitalismo, a cultura juvenil tornou-se um dos bens mais desejados e exemplifica
falando que antigamente o jeans azul era sinônimo de juventude, irreverência, despojo,
e passou a ser utilizado por corpos envelhecidos, que pretendem manter ”os verdes
anos”. Um dos principais ditadores dos modos juvenis foram - com a perda de poder das
instituições escola e família - os produtos da cultura da mídia, como a música.
        Ser jovem é compreendido de diferentes formas. Pode-se considerar ser jovem -
mesmo que com uma idéia estereotipada - ter atitudes rebeldes, aparência desleixada e
ao mesmo tempo asseada. Usar roupas que chamam atenção, entre outras tantas
possibilidades, que não necessariamente devem ser unificadas em uma só pessoa. Estes
símbolos de juventude representam o desejo de viver intensamente o presente. Permitir-
se ser responsável por seu prazer momentâneo (BAUMAN, 2005).




5
  “Twitter é um site popularmente denominado de um serviço de microblog (Java., 2007; Honeycut &
Herring, 2009). É construído enquanto microblog porque permite que sejam escritos pequenos textos de
até 140 caracteres a partir da pergunta “O que você está fazendo?”.” (RECUERO, 2009, p.174).
6
   Carpe Diem é um produto comercial veiculado para gerar a necessidade de viver a vida
intensamente, de forma que o consumidor sente-se à vontade para extravasar em comprar.
(BAUMAN, 2005).
5



         Bauman (2005), para exemplificar uma sociedade fullgás, ao estilo carpe diem,
busca na filósofa Frydryczak a figura de Don Juan7:


                           não poderia ser um colecionador, já que para ele só contava o “aqui e
                           o agora”, a fugacidade do momento. Se de fato colecionasse alguma
                           coisa, faria uma coleção de sensações, emoções, Erlebnisse. E as
                           sensações são, pela própria natureza, tão frágeis e efêmeras, tão
                           voláteis quanto as situações que as desencadearam. A estratégia de
                           carpe diem é uma reação a um mundo esvaziado de valores que finge
                           ser duradouro (FRYDRYCZAK apud BAUMAN, 2005, p. 59).


         A noção de juventude, como espaço e tempo, surgiu nas classes de maior poder
aquisitivo (CAVALLI apud DAYRREL, 2005). Segundo o autor, os jovens estudavam
em colégios militares e universidades, onde a educação era rígida, focada nas
“competências e capacidades, mas também na formação do caráter e das vontades”
(p.28). Essas instituições tinham que preparar o aluno no presente para que, no futuro,
pudesse ter uma posição social privilegiada. Com a responsabilidade em ter um futuro
social   elitizado,   “a    disciplina    educativa    era    aliviada   pelas    formas     quase
institucionalizadas de transgressão, como a libertinagem ou a cultura da boemia”
(DAYRREL, 2005, p.28). Naquela época, tornou-se permitido extravasar, como se
vivessem em uma “zona franca, com margens de liberdade para comportamentos
desviantes. Estes eram tolerados porque eram tidos como provisórios” (p.28).
         Dessa forma, levando em consideração a construção do jovem como não
acabada, e por isso, à espera de um fim, Peralva (1997) diz que


                           a juvetude é um vir-a-ser, tendo, no futuro, na passagem para a vida
                           adulta, o sentido das suas ações no presente. A fase adulta é vista
                           como a plenitude, na condição plena de cidadania, o resultado que dá
                           sentido às fases anteriores, sempre vistas na perspectiva de uma
                           preparação (PERALVA apud DAYRELLl, 2005, p. 29).


         Segundo Dayrrel (2005), como a formação era uma possibilidade remota para as
classes baixas, esses não tinham juventude. Na década de 1950, no entanto, o conceito
de juventude começou a ser comercializado, por ganhar visibilidade na cultura do
consumo. Nesse período,


7
  Personagem criado por Mozart - um personagem que, para Serres, é um “herói da modernidade”, já
que pode ser considerado um representante da “vitalidade do viver espontâneo”, pois era hábil, no que
tange a paixão, terminar rápido e ir para um novo começo (BAUMAN, 2005).
6




                       os jovens das classes alta e média [...] começaram a aceitar a música,
                       as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que
                       tomavam por tais, como seu modelo. O rock foi o exemplo mais
                       espantoso. Em meados da década de 1950, subitamente irrompeu do
                       gueto de catálogos de “Raça” ou “Rhythm and Blues” das gravadoras
                       americanas, dirigidos aos negros pobres dos EUA, para tornar-se o
                       idioma universal dos jovens, e notadamente dos jovens brancos
                       (HOBSBAWM, 2009, p. 324).

       Como os símbolos de juventude tornaram-se um produto cultural, o desejo de ser
jovem vira um bem de consumo. Assim, através de conceitos construídos e veiculados
pela mídia, a sociedade passa a perceber o ato de ser jovem como “um momento de
liberdade, de prazer, de expressão de comportamentos estranhos, exóticos, enfim, a
juventude como sinônimo de divertimento” (HEBDGE, 1981 apud DAYRELL, 2004, p.
30).
       Antes, os professores, pais e outros referenciais ditavam o que era de bom gosto,
supervisionando os códigos da moda e também da identidade (KELLNER, 2001). A
partir dos anos 60, aconteceu uma generalizada tendência de acabar com os códigos
culturais antigos, numa busca de romper com a tradição. A moda foi um dos principais
elementos para que se construíssem identidades novas, juntamente com o sexo, drogas e
o rock, que também foram parte das modificações da década (KELLNER, 2001).
       Essa mudança fortaleceu o vínculo da música com o jovem, por ser material
carregado de informações midiatizadas. Além de ser influência, estes discursos
construíram mitos, símbolos da juventude até hoje.

                       [...] grupos como os Beatles, os Rolling Stones, Jefferson Airplaine e
                       interpretes como Janis Joplin ou Jimi Hendrix sancionavam a revolta
                       contracultural e a adoção de novos estilos de vestuário,
                       comportamento e atitude. A associação entre rock, cabelo comprido,
                       rebeldia social e inconformismo em moda continuou por toda a década
                       de 1970 com ondas sucessivas de heavy metal, punk, e new wave
                       (KELLNER, 2001, p. 339).

       A partir desse panorama fragmentado, o conceito de ser jovem mantém-se
conflituoso. Os estudos da Sociologia da Juventude, segundo Dayrell (2004), definem a
juventude como classista ou geracional. A classista compreende que a juventude varia
conforme as classes sociais, afirmando que as culturas juvenis dependem da diversidade
de formas de reprodução do social e da cultura. Para a Organização das Nações Unidas
(CARDOSO, 2010), jovem é definido por faixa etária, ou seja, adota a perspectiva
geracional. Peralva (1997 apud DAYRREL) escreve que “na infância brinca-se, na
7



juventude prepara-se, forma-se, e na idade adulta trabalha-se” (p.29), seguindo o mesmo
raciocínio de Dayrrel (2005). Dessa forma, se as classes definem modelos de
representação de jovem, ou se a juventude é um período de preparar-se, ou ainda a
perspectiva de faixa etária, pode-se entender que o conceito é uma representação
instável que não pode ser definida a partir de um referencial fixo, possibilitando utilizar-
se como parâmetro de juventude as autodefinições do grupo pesquisado, já que cada
indivíduo entende jovem de forma diferente.
       Outra característica desta fase é a necessidade de ter um grupo de pertencimento,
de auto-afirmação, que possa gerar segurança. Bauman (2005) diz que a pertença
direciona este sentido, já que ser aceito pelo grupo é sinal de ter uma identidade
“correta”. Para Wexler (1992), “no colegial”, atual ensino médio, é um momento
quando “os jovens constroem sua identidade, tentando „tornar-se alguém‟”.
       Na busca por este “tornar-se alguém” (WEXLER, 1992), os jovens encontram
nos produtos midiatizados referenciais identitários a serem seguidos, procurando
representar e gerar sentimento e sentido de pertencimento. A subversão dos códigos
culturais tradicionais, a fim de auto-afirmar a necessidade de não ser um indivíduo
convencional, mantém-se como característica importante. No entanto, a mídia, por sua
centralidade, também acaba indicando o que é ser não convencional.
       A cantora Madonna é um exemplo de que os códigos representativos - como
roupas, corte de cabelo, cor de esmaltes para as unhas etc - fazem parte do discurso
midiático de se ter uma imagem não convencional. Para Kellner (2004), na década de
80, vivia-se uma época conservadora, e em meio a isso, surgiu a cantora que,
inicialmente,


                        [...] sancionava a rebeldia, o inconformismo, a individualidade e a
                        experimentação com um jeito de vestir e de viver. Suas constantes
                        mudanças de imagem e identidade preconizavam a experimentação e a
                        criatividade nesses campos. Suas transformações às vezes drásticas
                        em matéria de imagem e estilo indicavam que a identidade é um
                        construto, algo que, produzido por nós, pode ser modificado a
                        vontade. O modo como Madonna usava a moda na construção de sua
                        identidade deixava claro que a aparência e a imagem ajudam a
                        produzir o que somos, ou pelo menos como somos percebidos e nos
                        relacionamos (KELLNER, 2001, p. 341).

       As variadas possibilidades de absorver e utilizar códigos e símbolos para criar
um eu faz como que os indivíduos tenham que escolher elementos identitários, entre as
muitas possibilidades oferecidas, para criar uma imagem representativa de sujeito
8



social. Isso implica pertencer a um grupo e apropriar-se de seus referenciais identitários.
Essa liberdade, no entanto, foi adquirida nas últimas décadas.
          Até o final do século XVIII, as possibilidades de ter uma identidade individual
eram ínfimas e, diferente de como Bauman (2005) define a identidade e o pertencimento
atual, a solidez era a característica da época. O sujeito nascia com a identidade definida
por seu contexto sócio-cultural e quase nada poderia ser mudado. Tal característica
estendeu-se até o século XX, de maneira diferente em cada lugar.
          A crise da identidade surge pela problematização e crises nas instituições
tradicionais do pertencimento, que tornou necessário, para inserir-se na sociedade,
construir uma identidade e pertencer a um grupo (BAUMAN, 2005). A partir disso
entende-se que as


                           afiliações sociais – mais ou menos herdadas – que são
                           tradicionalmente atribuídas aos indivíduos como definição de
                           identidade: raça...gênero, país ou local de nascimento, família e classe
                           social agora estão...se tornando menos importantes, diluídas e
                           alteradas nos países mais avançados do ponto de vista tecnológico e
                           econômico. Ao mesmo tempo há a ânsia e as tentativas de encontrar
                           ou criar novos grupos com os quais se vivencie o pertencimento e que
                           possam facilitar a construção da identidade. Segue-se a isso um
                           crescente sentimento de insegurança... (DENCIK apud BAUMAN,
                           2005, p. 30).


          Assim, a ação de construir uma identidade está relacionada também ao
pertencimento a redes sociais, também sugeridas ou mediadas pelos meios de
comunicação, e não necessariamente atribuída ao pertencimento no antigo modelo de
forma socializadora do Iluminismo (HALL, 2000). Dessa forma, concretiza-se a idéia
de que os grupos sociais definem a relação do sujeito com a sociedade, uma vez que ele
encontrará no etnos8 as características possíveis para a construção do seu eu social.
          Hall (2000) diz que a identificação acontece pelo reconhecimento de
características partilhadas e a busca de um mesmo ideal. Para ele, isso fecha “a base da
solidariedade e da fidelidade do grupo em questão” (p. 106).
          Nessa construção de identidade, os símbolos e códigos identificatórios de grupos
geram sentido social aos pertencentes. A percepção de que os símbolos são de um
grupo, e não de outro, faz com que a sociedade identifique e localize o sujeito como um
membro de uma tribo, encaixando-o em um estereótipo. Nesse processo, a juventude


8
    Grupo que compartilha um sentimento de origem comum (BARTH, 1998).
9



busca ser identificada com o grupo que lhe gera sentido de pertença, afirmando ao
próximo sua inclusão social. Bauman (2005) diz que carregar uma imagem de pertença
afasta a possibilidade de sentido de exclusão social, um dos maiores medos geradores
de insegurança da sociedade atual.


                       A condição do homem (sic) exige que o indivíduo, embora exista e aja
                       como um ser autônomo, faça isso somente porque ele pode
                       primeiramente identificar a si mesmo como algo mais amplo – como
                       membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum
                       arranjo, ao qual ele pode até não dar nome, mas que ele reconhece
                       instintivamente como seu lar (SCRUTON, 1986, p.156 apud HALL,
                       2003, p. 48).


       As possibilidades de construir a identidade fazem com que sejam utilizadas
referências identificatórias representativas de diferentes grupos, entendidas como
comunidades simbólicas para Bauman (2005).
       Kellner (2001), no entanto, discorda que as identidades sejam totalmente
fragmentadas. Ele diz que elas


                       [...] são relativamente substanciais e fixas; ainda têm origem num
                       conjunto circunscrito de papeis e normas: pode-se ser mãe, filho,
                       texano, escoteiro, professor, socialista, católico, homossexual – ou
                       então uma combinação desses papéis e dessas possibilidades sociais.
                       Portanto, as identidades ainda são relativamente fixas e limitadas,
                       embora os limites para identidades possíveis e novas estejam em
                       continua expansão (KELLNER, 2001, p. 296).


       Por mais que se aceite essa idéia de que as identidades não são totalmente
instáveis, não é possível discordar que as fragmentações são uma constante (BAUMAN,
2005). Se na pré modernidade “alguém era caçador e membro da tribo, e por meio desse
papel e dessas funções obtinha a sua identidade” (KELLNER, 2001, p. 295), agora essa
é construída a partir de uma combinação desses e de outros vários sentidos. O
indivíduo, na modernidade, é uma relação entre o tudo que se pode ser, como um
quebra-cabeças (BAUMAN, 2005).
       Nesse caso, a cultura da mídia é um dos principais territórios para a construção
de parâmetros de identificação, através dos sentidos criados aos símbolos identitários, é
possível a identificação do outro, e escolher os fragmentos para a construção da
identidade. Através de filmes, música, programas e personagens,
10



                        [...] ela exerce importantes efeitos socializantes e culturais por meio
                        de seus modelos de papéis, sexo e por meio de várias “posições do
                        sujeito” que valorizam certas formas de comportamento e modo de ser
                        enquanto desvalorizam e denigrem outros tipos (KELLNER, 2001, p.
                        307).


       O fato de escutar alguma música se transforma num ato identificatório
(TROTTA apud SILVA, 2009). Isso porque a atitude de escolher um som e entrar no
mundo dele “significa tomar contato com „códigos culturais, valores sociais, e
sentimentos compartilhados que fornecem‟”, e os fragmentos acessados servirão para
construir a identidade (SILVA, 2009, p.32). Entendendo a música como uma ferramenta
de sociabilização e sabendo que os jovens entram em contato com as músicas também
através dos seus amigos, pode-se depreender que esse contato com outros símbolos
identificatórios é mediado pelo círculo social.


3 A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE MEIO ROQUEIRA POR JOVENS


       A noção contemporânea de juventude construiu-se ao som do rock, ligando os
conceitos de jovem e música. Com o rompimento da juventude com códigos das
instituições tradicionais na década de 50, pôde-se observar o aparecimento de uma
“„cultura juvenil‟, com um novo padrão de comportamento e de valores, centrados, dentre
outros, na liberdade, na autonomia e no prazer imediato” (DAYRREL, 2005, p.30).
       A contracultura, segundo Kellner (2004), foi tendência nessa década e a moda,
aliada ao sexo, rock e drogas, foi importante para o processo de superação dos códigos
tradicionais. Surgem grupos que buscam marcar o estilo com uma “identidade própria
expressa no estilo, que implicava a articulação de uma escolha musical e uma estética
visual, como os teads, mods ou os rockers” (DAYRREL, 2005, p.30).
       As mudanças comportamentais, da década de 50, aconteceram relacionadas à
música e ao cinema (DAYRREL, 2010). Inicialmente, os produtos midiatizados
consumidos pelos jovens eram os filmes e, através deles, a música. Diversas produções,
como Sementes da Violência [Blackboard jungle, 1955], que continha a música Rock
Around the Clock, de Bill Haley and His Comets como trilha, lançaram o rock para o
sucesso. As mídias, portanto, criaram o imaginário a partir do qual os jovens passaram a
se construir, buscando romper com a tradição, ou seja, seus pais e as instituições sociais
reguladoras.
11



                             A partir do rock’n’roll ficou mais clara a relação entre indústria
                             cultural e juventude, no contexto das culturas juvenis. Depois do pós-
                             guerra a cultura de massas passou a investir na criação de um mercado
                             próprio, estimulando um estilo peculiar de vestir, com produtos
                             privilegiados de consumo, desde chicletes e refrigerantes até meios de
                             locomoção, como a motocicleta (DAYRREL, 2010, p. 38).

           Também as referências de paz e amor, sexo livre e “flower power” determinaram
o contexto e revolucionaram a forma de comportamento dos jovens (BOX1824, 2010).
Os códigos tradicionais foram afrontados e aos poucos afrouxados pela iniciativas dos
jovens. Foi a partir da década de 50, no chamado boom econômico (FERRARETTO,
2008) que a juventude passou a ser um produto cultural, midiatizado, industrializado e
vivenciado como imagem de mudança e quebra do tradicional. Nesse processo, os
jovens viram o rock tornar-se um produto mundial, deixando de ser classificado como
de negros ou brancos:


                             [...] indústria fonográfica dos Estados Unidos rompe a sua histórica
                             divisão entre os produtos para brancos, os discos das grandes
                             gravadoras voltadas ao mercado nacional e para os negros – o rhythm
                             and blues – com concessões aos brancos pobres – o country and
                             western, no caso das pequenas empresas de alcance regional. Da união
                             desses dois últimos e amparado pelo rádio, nasce o rock’n’roll, não
                             por acaso uma denominação cunhada por um disc-jóquei. Usando
                             como referência uma expressão comum em letras de rhythm and blues
                             – “rocking and rolling” – um eufemismo para o ato sexual [...]
                             (FERRARETO, 2008, p. 150)

           Essa relação entre a moda do rock, o boom, a quebra de paradigmas e códigos
tradicionais, utilizados pelos jovens para se expressar, viraram sinônimo de juventude
em todo o mundo, desde então. Não raramente, a publicidade atual utiliza-se da imagem
de jovens, trasmitindo sensação, através de códigos simbólicos, de liberdade, com
música de rock ao fundo. Essa relação da juventude com a música estilo rock’n’roll
ficou marcada e ainda são relacionadas pela mídia e produtos culturais.


3.1 OS JOVENS


           Partindo desses parâmetros, foram pesquisados cinco pessoas9, de 17 a 24 anos,
autodefinidos jovens, na maioria residentes de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, com
ensino médio completo e dependentes financeiramente dos pais. A entrevista aconteceu


9
    Três do sexo masculino e dois do sexo feminino
12



durante um flash mob10. O convite11 não foi convencional: foi postado no Twitter12 do
pesquisador e da rádio Pop Rock FM o comunicado: “Amanhã estarei no Shopping
Total para falar com jovens que gostam de rock, para o meu TCC”. A partir deste
convite, no dia 8 de agosto de 2010, os entrevistados compareceram no local
combinado13 com o objetivo de falar sobre rock. Eles chegaram aos poucos, em torno
das 18 horas. Cada entrevista durou cerca de 30 minutos e foi individual, mas às vezes
alguns dos jovens fizeram comentários no meio das respostas dos outros entrevistados,
o que acabou por gerar pequenos debates sobre o assunto.
         Na chegada, os entrevistados receberam um questionário para preencher, a fim
de verificar idade, estado civil, com quem residem e quem mantém a casa, se
consideram-se roqueiros, onde mais escutam música e através de quais dispositivos o
fazem. Na semana seguinte ao encontro, foi enviado email para todos os entrevistados
com o objetivo de esclarecer dúvidas e tentar extrair um conceito pessoal de roqueiro.
        Como o convite foi destinado às pessoas que gostam do estilo de música, a
maioria se definiu roqueiro – mesmo através dos emails-, porém, deixam claro que, de
alguma forma, não o são da maneira tradicional. “Sou roqueira, mas não de me vestir”
(G. 22 anos) e “sou roqueiro, mas não daqueles que usam moto e andam de roupa de
couro” (G. 22 anos). Assim, demonstram não construir sua identidade exclusivamente
pertencendo a este estilo musical. Dessa maneira, os jovens buscam escapar de uma
definição, ou classificação, confirmando o que Hall (2003, p. 106) fala ser uma
identidade. Para ele,


                            [...] a identificação é construída a partir do reconhecimento de alguma
                            origem comum, ou de características que são partilhadas com outros
                            grupos ou pessoas, ou ainda a partir de um mesmo ideal [..] (HALL,
                            2003, p. 106).

        O conceito de roqueiro não foi definido objetivamente pelos entrevistados,
mesmo que estes tenham apontado as características pela qual identificam um roqueiro,
principalmente a partir da vestimenta e acessórios que usam. Assim, eles conseguem
visualizar as peças do “quebra cabeças” (BAUMAN, 2005), reconhecendo as “peças”
que servem para gerar a imagem de quem gosta de rock. Ao mesmo tempo em que se
dizem roqueiros, definem as características para a construção da representação

10
   Ver página 3.
11
   Convite feito diversas vezes entre os dias 4 e 8 de agosto de 2010.
12
   Ver página 3.
13
   Em frente ao restaurante Habib‟s, na praça de alimentação externa do shopping.
13



tradicional, apesar de não conseguirem construir de forma crítica uma única definição.
Na tentativa de explicar, citam os símbolos identificatórios.
           Como as identidades são fragmentadas (BAUMAN, 2005), não querem se
identificar somente com uma tribo, ou gosto, já que isso faz com que eles sejam
forçados a abdicar de outras coisas ou pessoas - como ocorria na década de 80 com os
jovens que passaram a se definir como “normais” para poder circular em diferentes
grupos (BOX1824, 2010) - pela fidelidade etnológica. Com a intenção de viver todos os
dias um carpe diem14, eles não adotam uma única referência de identidade, já que esta
deve ser descartável (BAUMAN, 2005). Um dos entrevistados diz que parecer roqueiro,
“é indiferente” (R. 22 anos), já que ele gosta de rap também. Outro diz que “o estilo tu
pega umas coisas aqui, outras ali” e “antes o roqueiro era somente quem se vestia de
preto” (R. 22 anos).
           Por outro lado, a afirmação de Bauman (2005), que diz que a representação é
uma forma de segurança social nessa modernidade, vai ao encontro das entrevistas dos
jovens:


                          encontro um cara que eu vejo a percepção dele pra música [...]
                          pergunto: „que tipo de música tu toca?‟, ele fala „ah, toco rock‟. Eu
                          tento conversar com ele, aí eu me identifico com ele...por causa do
                          estilo...alguma coisa parecida que a gente tenha, dentro do rock (G. 24
                          anos).

           As comunidades guarda-chuvas (BAUMAN, 2005), nas quais diferentes
fragmentos são utilizados e abandonados, são características da modernidade. Exemplo
disto, é que todos os três entrevistados que se definiram roqueiros, dizem gostar de
outros tipos de música e cultura, como o rap e o hip hop. Por isso, utilizar diversos
fragmentos passa a ser essencial para se representar e poder interagir com diferentes
grupos. Os símbolos utilizados por pessoas que ouvem rock, ou são roqueiras, fazem
com que o outro os identifique. Para estes entrevistados, o fato de escutar rock não faz
de uma pessoa um roqueiro. Para os jovens, que dizem seguir a moda às vezes, o uso da
vestimenta é apontado como o principal recurso. A apropriação de camisetas pretas,
calça jeans, tênis All Star e camiseta xadrez são os símbolos coletivos de representação
do estilo referido. Para Feixa,




14
     Ver página 4.
14



                      “El principio generativo de criación estilística proviene del efecto
                      recíproco entre los artefatos o textos que um grupo usa y los pontos de
                      vista y actividades que estructura y define su uso” (FEIXA, 1988, p.
                      97 apud DAYRREL, 2005, p. 41)

       O fato de ver uma pessoa vestida com os referenciais apontados nas entrevistas,
instantaneamente faz com que o indivíduo seja relacionado a uma pessoa que gosta de
rock’n’roll:

                      [...] as vezes, tu vê uma pessoa de longe com um All Star, calça
                      de brim, e uma camiseta preta e diz: "ó, é roqueiro, emo". Já
                      virou uma imagem meio que padrão. Tu olha de longe uma
                      pessoa de All Star de camiseta preta, ou até de calça preta ou
                      calça jeans e diz “ah é roqueiro” [...] (C. 17 anos)

       Isso confirma que os códigos representativos geram um sentido de pertença a
uma comunidade simbólica (BAUMAN, 2005), no caso os que ouvem rock.
       Outro dos sentidos gerados pela representação do pertencimento ao rock, para os
jovens pesquisados, é a atitude de ouvir um estilo que se mantém o “menos comercial”
e o que ainda tem o valor de contestação. Esta última característica faz parte do rock
desde que ele ganhou o mainstream (HOBSBAWM, 2009).
       Pode-se dizer que a quebra dos códigos acontece porque os jovens buscam negar
os produtos ditados pela mídia, ou ao menos sugeridos por ela, como aconteceu na
época em que a cantora Madonna tornou-se referência de estilos de roupas e
comportamento (KELLNER, 2001). A moda, como o principal meio para a
identificação (KELLNER, 2001), que gera o sentido de pertença ao rock’n’roll, faz com
que a identidade representada seja a de uma pessoa que gosta de música de qualidade,
portanto não comercial, e libera sentimentos ruins ao ouvi-la. Buscam, também, se
diferenciar do que é considerada uma pessoa convencional, muitas vezes citada como
pessoas “padrão”:


                      [...] eu, por exemplo, me visto de forma roqueira, tipo All Star, calça
                      jeans, camiseta de banda, camiseta preta, ou algo relacionado a isso.
                      Eles (os amigos) não seguem nada disso. Tanto que tu vê eles na rua e
                      pensa: sei lá, ele gosta de qualquer estilo de música. Porque não tem
                      como predefinir. É meio padrão [...] (C. 17).

       Ao mesmo tempo em que apontam sua diferença das pessoas que para eles
parecem normais, eles incluem o rock dentro do modelo padrão:
15



                        as vezes tu vê uma pessoa de longe, com um All Star, calça de brim e
                        uma camiseta preta e diz: ó, é roqueiro ou emo. Já virou uma imagem
                        meio que padrão (C. 17).

       Mesmo assim, para estes jovens, não ser padrão, ou igual a todos, faz parte da
representação da identidade de ser roqueiro. Para eles, o ideal é não consumir músicas
que são comerciais. Por isso, criticam bandas que estão no ápice de sucesso, como
Restart e Fresno: “eu tenho que admitir que eu escutava a Fresno. Mas eles não eram
tão comerciais, não tocavam tanto nas rádios [...] eu era do fã clube deles” (R. 17 anos).
Essa foi uma das frases faladas pelos entrevistados, que consideram as informações
midiatizadas um produto inferior aos não veiculados com tanta freqüência. Também
comparam Fresno, com bandas de menor visibilidade: “Iron Maiden é rock, e não toca
nas rádios, pelo menos toca menos que a Fresno, né? E se tocar em rádio, poucas
pessoas vão gostar porque não é comercial” (C.17 anos), como se a mídia diminuísse o
sentido de contestação, de valoração, tanto do artista, como do receptor.
       Como a identidade é construída a partir de referências do rock e esse, como
produto midiatizado, estabelece uma conexão com características de consumo, os jovens
acabam por identificar os mais comercializados e buscam alternativas que os distingam
dos demais. Tentam, com isso, mostrar que não são comerciais, “são autênticos”.
Através destas características relacionadas pelas mídias e artistas (KELLNER, 2001),
portanto, convencionais, eles buscam se posicionar como opositores ao padrão – mesmo
o do rock, seguindo os passos dos que primeiros ouviam rock na década de 50 e
iniciaram o rompimento com os códigos tradicionais.
       Mesmo que a tradição seja o rock, eles assumem não gostar desse produto
comercializado. No entanto, quando o contato com essas músicas acontece mediado por
seu círculo de amizade, eles dizem não se importar em escutar, pois o que vale “é o
momento” (R. 17 anos), a festa, o “sentido da coisa” (R. 17 anos), ou seja, o
pertencimento.
       Essa relação dos jovens com a música acontece em duas instâncias sociais
(ROHDE & CARVALHO, 2010). A “música de ouvir em casa” é o que o jovem gosta,
e a “música de balada” são de diferentes tipos, “dependendo do momento, o que importa
é o programa, os amigos”. Essas classificações e os depoimentos demonstram que o fato
de identificar-se com um estilo, não exclui o fato de consumir outros tipos de música,
reforçando a ideia de uma identidade fragmentada. No flash mob, os jovens deixaram
claro que as influências de contato com músicas passam pela família, mas a indicação
16



de amigos é a forma mais citada, pela facilidade de troca de arquivos por celular e
internet.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


           Os jovens pesquisados constroem sua identidade através do sentido de
contracultura, de rejeição ao padrão e ao normal. Para isso, se apropriam dos símbolos e
fragmentos identitários representados pelo rock, que nada mais é do que um produto
cultural midiatizado e comercialmente representado como contracultural, devido à sua
história social. Nesta época de centralidade da mídia, o rock virou um produto cultural
comercial. Tanto que o conceito de roqueiro para eles é vinculado principalmente a
produtos, símbolos representativos e comerciais, como o jeans, tênis All Star, camiseta
preta e camisa xadrez. No entanto, também fala de atitude, que neste caso é a tentativa
de fugirem do comercial.
           A partir dos fragmentos, que compõem uma identidade nunca terminada, os
jovens representam pertencer a um grupo social e também reconhecer o outro desta
forma. Para eles, consumir rock é contestar, ser visto como um sujeito que questiona a
sociedade e é contra um sistema dominador, no caso a mídia. Os jovens pesquisados
procuram subverter os códigos através do rock’n’roll, da mesma forma como aconteceu
da década de 50. Eles buscam se diferenciar dos demais para se representar
contraculturais, inteligentes e pertencentes ao rock, que para eles, é o único estilo ainda
pouco comercial. Mesmo o velho estereótipo de roqueiro, vira motivo para não se
identificar ou       representar totalmente, mostrando       que   a tradição    deve ser
permanentemente quebrada.
           As tentativas da juventude de quebrar a tradição e os códigos existem há muito
tempo. Nos anos 50, essa movimentação teve o rock como trilha sonora, impulsionado
pelo cinema. Juntos, rock’n’roll e os jovens trouxeram práticas contraculturais, como o
sexo, drogas e o sentimento de viver como o último dia, ou carpe diem15, para o centro
dos debates. Como o poder de consumo dessas práticas é grande, transformaram o ser
jovem em mais do que uma fase etária, mas um sentimento de pertença.
           Essa representação, para pertencer e gerar sentidos, não acontece de forma alheia
à midiatização do rock, como pretendem os entrevistados. O estilo tornou-se popular


15
     Ver página 4.
17



através da mídia – o cinema – e continuou sendo produzido e reproduzido por todos os
meios porque é um produto comercialmente rentável. Desse modo, a valorização da
quebra de códigos vem sendo sugerida pela mídia.
       O rock, identificado como sentimento e ferramenta de contestação, tem como
mídia, além das vestimentas e os meios de comunicação, os corpos dos
autoidentificados com o estilo, que guarda significações de juventude. Através de suas
práticas, modificam permanentemente, como acontece desde a década de 50, as
características que servem de identificação para os jovens, considerando ser a quebra da
tradição a principal característica, mesmo que essa tradição seja pós-moderna.


                                   REFERÊNCIAS

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20




AGRADECIMENTOS

Ao Deivison, por me orientar neste campo tão complexo que é o comportamento humano.
Pela minha família e amigos, pela força e oração, para que este trabalho alcançasse o objetivo.
Amorosamente à minha esposa, Rita, e filhas Catarina e Sofia, pela compreensão e amor.
E aos meus pais, irmão e avós pela base desta construção que eu trilho e acredito todos os dias
da minha vida. Por isso, esta pesquisa é mais que um trabalho acadêmico, é uma experiência e
oportunidade de conhecer e compreender mais e mais.

          “Não há nada de automático na maneira como achamos que vemos o mundo.”
                                                                                   Oliver Sacks

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Como jovens constroem identidade por meio do rock

  • 1. 1 ESSE TAL DE ROCK’N’ROLL: COMO OS JOVENS CONSTROEM SUA IDENTIDADE, EM PORTO ALEGRE1 Fernando Pisoni Queiroz2 RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de analisar como jovens, de 17 a 24 anos, moradores de Porto Alegre, se constroem a partir de características identitárias do rock’n’roll, a partir de referenciais dos Estudos Culturais, como Bauman, Hall, Kellner e Dayrrel. Para a pesquisa, os jovens foram convidados a participar de um flash mob3, onde responderam um questionário e uma entrevista gravada em áudio, e, num segundo momento, responderam a entrevista por email. Através disso, é possível concluir que os jovens entrevistados utilizam fragmentos identitários do rock para demonstrar um eu que subverte códigos tradicionais. Porém, não se definem, somente, como roqueiros para poder transitar entre diferentes grupos. PALAVRAS-CHAVE: Identidade. Representação. Pertencimento. Rock. Jovem. ABSTRACT: This study aims to examine how Young people from 17 to 24 years, who live in Porto Alegre, built their identity making use of rock’n’roll's characteristics, considering Cultural Studies, with Bauman, Hall, Kellner and Dayrrel. For the research, they were invited for a flash mod, where they were submitted to a questionnaire and an audio recorded interview. After that they responded to e-mail interview. From the results it was possible to conclude that they make use use of a few characteristics of Rock to scape the ordinary behaviour, but don’t define themselves as rokers so that it makes easier for them to transit between different groups. KEYWORDS: Identity, representation, belonging, rock, young 1 Artigo realizado como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela Universidade Luterana do Brasil, sob orientação do Prof. Mestre Deivison Moacir Campos (deivison_compos@hotmail.com). 2 Graduando. Email: pisoniqueiroz@gmail.com 3 “Flash Mob, por definição, é uma súbita mobilização coletiva, em espaços públicos físicos, organizada através da Internet ou outras redes de comunicação digital. Sua característica principal é a de ser realizada em um curto período de tempo, com a intenção de ser instantânea, surpreendente, de causar estranhamento e incomodar.” (KATO et.al., 2010, p.2).
  • 2. 2 1 INTRODUÇÃO As identidades pessoais e coletivas são construídas a partir de características simbólicas, produzidas nas instancias de sociabilização. Se há algumas décadas a família, a escola, e a igreja cumpriam este papel, construindo identidades mais fixas, hoje a fluidez apresenta-se como principal característica (BAUMAN, 2005). Neste processo, a centralidade da mídia na cultura contemporânea faz com que esta se torne um espaço privilegiado de referenciação, gerando valores através de filmes, novelas, personagens e a música – neste caso, criando estilos. O estilo rock, surgido nos anos 50, sempre esteve vinculado à juventude e rebeldia. Com a maior circulação de elementos identitários, como diz Bauman (2005), os jovens tornam-se, na contemporaneidade, sujeitos das transformações individuais, moldando seus referenciais baseados em uma representação de um nós em movimento, a partir de características simbólicas. Nessa perspectiva, essa pesquisa investiga como jovens, moradores de Porto Alegre, consumidores da música rock, constroem sua identidade a partir de características identificatórias desse estilo musical. Para isso, é preciso identificar quais códigos do rock eles utilizam na construção da sua identidade e o que eles buscam representar a partir disso. A observação das práticas é importante porque permite que se entenda a construção identitária dos jovens, a influência e o impacto do conteúdo midiatizado e a geração de valores e sentidos na juventude. Além disso, o sentimento e o discurso comercial de juventude são construídos, mercadologicamente, através destes parâmetros. Tudo isso acontece em um momento de centralidade da mídia e enfraquecimento das instituições reguladoras, como a igreja, escola e família (BAUMAN, 2005). Este trabalho se enquadra nos Estudos Culturais, visto que analisa a forma como o “meio mercantizado e estereotipado da cultura de massa” (HALL, 2003, p.12) tem sua representação junto à audiência. Kellner (2001) afirma que “o estudo da cultura popular e de massa” (KELLNER, 2001, p.12) tem o “nome genérico de estudos culturais” (KELLNER, 2001, p.12). A partir dessa perspectiva, alguns conceitos tornam-se referenciais. Identidade é, segundo Bauman (2005), um conjunto de fragmentos de representação que o indivíduo
  • 3. 3 adota, a fim de ter um grupo de pertença. Falar de jovem não é algo simples, principalmente no que se refere ao conceito. Neste trabalho, jovem é entendido através de Hebdige (1981), que diz que ser jovem passa a ser visto como um momento de liberdade, de prazer, de expressão de comportamentos estranhos e exóticos, enfim, a juventude como sinônimo de divertimento (HEBDIGE apud DAYRELL, 2005, p. 30). Algumas pesquisas realizadas recentemente analisam o comportamento dos jovens e o processo de construção de sua identidade a partir de referenciais simbólicos, impactados pelos discursos midiáticos. Nestas abordagens, a música aparece em diversos artigos, como um dos principais produtos culturais que influenciam a sociedade. Garbin (1999) diz que “as imagens e os sons da mídia dominam cada vez mais nosso senso de realidade e a maneira como definimos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor” (p.1), afirmando ainda que nossa sociedade contemporânea vive “saturada pela mídia” (p.1). Silva (2009) mostra que os jovens valem-se de diferentes formas de utilizar a vestimenta para expressar seu estilo musical. Dayrell (2001) afirma que “a imagem, o olhar e o visual são as mediações mais presentes nas relações sociais” (p.24) e que “a música acompanha os jovens em grande parte das situações no decorrer da vida cotidiana: música como fundo, música como linguagem comunicativa [...]” (p.21). O artigo é resultado de um estudo de campo, qualitativo porque tem [...] por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979a, p. 520 apud NEVES, 1996, p. 1). Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram entrevistas gravadas e questionário - aplicado no momento das entrevistas gravadas, completadas por entrevistas feitas por email, com jovens de 17 a 24 anos. Os entrevistados foram convidados para um encontro no formato de flash mob4, através do perfil da rádio Pop 4 “Flash Mob, por definição, é uma súbita mobilização coletiva, em espaços públicos físicos, organizada através da Internet ou outras redes de comunicação digital. Sua característica principal é a de ser realizada em um curto período de tempo, com a intenção de ser instantânea, surpreendente, de causar estranhamento e incomodar.” (KATO et.al., 2010, p.2).
  • 4. 4 Rock FM e do pesquisador no Twitter5, a fim de falar sobre rock no Shopping Total, em Porto Alegre. Para encontrar pistas nos dados coletados para a resposta do problema, a análise dos dados é realizada a partir da uma perspectiva indiciária de Ginzburg (2004): [...] permitir saltar de fatos aparentemente insignificantes, que podem ser observados, para uma realidade complexa a qual, pelo menos diretamente, não é dada à observação (GINZBURG, in ECO, 2004, p. 8). Esta pesquisa terá quatro seções. Inicialmente será apresentada a relação da juventude com a música e, na segunda, será abordada a construção da identidade de jovens que consomem rock. Na terceira seção, são apresentados os resultados da pesquisa com os entrevistados, e, para concluir, as considerações finais. 2 HISTÓRIA DA JUVENTUDE E A MÚSICA O culto à juventude é uma das principais diferenças da cultura contemporânea (HOBSBAWM, 2009). No pós guerra, carpe diem6 tornou-se um dos objetivos e sinônimos de juventude (BAUMAN, 2005). Hobsbawm (2009) diz que, com o capitalismo, a cultura juvenil tornou-se um dos bens mais desejados e exemplifica falando que antigamente o jeans azul era sinônimo de juventude, irreverência, despojo, e passou a ser utilizado por corpos envelhecidos, que pretendem manter ”os verdes anos”. Um dos principais ditadores dos modos juvenis foram - com a perda de poder das instituições escola e família - os produtos da cultura da mídia, como a música. Ser jovem é compreendido de diferentes formas. Pode-se considerar ser jovem - mesmo que com uma idéia estereotipada - ter atitudes rebeldes, aparência desleixada e ao mesmo tempo asseada. Usar roupas que chamam atenção, entre outras tantas possibilidades, que não necessariamente devem ser unificadas em uma só pessoa. Estes símbolos de juventude representam o desejo de viver intensamente o presente. Permitir- se ser responsável por seu prazer momentâneo (BAUMAN, 2005). 5 “Twitter é um site popularmente denominado de um serviço de microblog (Java., 2007; Honeycut & Herring, 2009). É construído enquanto microblog porque permite que sejam escritos pequenos textos de até 140 caracteres a partir da pergunta “O que você está fazendo?”.” (RECUERO, 2009, p.174). 6 Carpe Diem é um produto comercial veiculado para gerar a necessidade de viver a vida intensamente, de forma que o consumidor sente-se à vontade para extravasar em comprar. (BAUMAN, 2005).
  • 5. 5 Bauman (2005), para exemplificar uma sociedade fullgás, ao estilo carpe diem, busca na filósofa Frydryczak a figura de Don Juan7: não poderia ser um colecionador, já que para ele só contava o “aqui e o agora”, a fugacidade do momento. Se de fato colecionasse alguma coisa, faria uma coleção de sensações, emoções, Erlebnisse. E as sensações são, pela própria natureza, tão frágeis e efêmeras, tão voláteis quanto as situações que as desencadearam. A estratégia de carpe diem é uma reação a um mundo esvaziado de valores que finge ser duradouro (FRYDRYCZAK apud BAUMAN, 2005, p. 59). A noção de juventude, como espaço e tempo, surgiu nas classes de maior poder aquisitivo (CAVALLI apud DAYRREL, 2005). Segundo o autor, os jovens estudavam em colégios militares e universidades, onde a educação era rígida, focada nas “competências e capacidades, mas também na formação do caráter e das vontades” (p.28). Essas instituições tinham que preparar o aluno no presente para que, no futuro, pudesse ter uma posição social privilegiada. Com a responsabilidade em ter um futuro social elitizado, “a disciplina educativa era aliviada pelas formas quase institucionalizadas de transgressão, como a libertinagem ou a cultura da boemia” (DAYRREL, 2005, p.28). Naquela época, tornou-se permitido extravasar, como se vivessem em uma “zona franca, com margens de liberdade para comportamentos desviantes. Estes eram tolerados porque eram tidos como provisórios” (p.28). Dessa forma, levando em consideração a construção do jovem como não acabada, e por isso, à espera de um fim, Peralva (1997) diz que a juvetude é um vir-a-ser, tendo, no futuro, na passagem para a vida adulta, o sentido das suas ações no presente. A fase adulta é vista como a plenitude, na condição plena de cidadania, o resultado que dá sentido às fases anteriores, sempre vistas na perspectiva de uma preparação (PERALVA apud DAYRELLl, 2005, p. 29). Segundo Dayrrel (2005), como a formação era uma possibilidade remota para as classes baixas, esses não tinham juventude. Na década de 1950, no entanto, o conceito de juventude começou a ser comercializado, por ganhar visibilidade na cultura do consumo. Nesse período, 7 Personagem criado por Mozart - um personagem que, para Serres, é um “herói da modernidade”, já que pode ser considerado um representante da “vitalidade do viver espontâneo”, pois era hábil, no que tange a paixão, terminar rápido e ir para um novo começo (BAUMAN, 2005).
  • 6. 6 os jovens das classes alta e média [...] começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais, como seu modelo. O rock foi o exemplo mais espantoso. Em meados da década de 1950, subitamente irrompeu do gueto de catálogos de “Raça” ou “Rhythm and Blues” das gravadoras americanas, dirigidos aos negros pobres dos EUA, para tornar-se o idioma universal dos jovens, e notadamente dos jovens brancos (HOBSBAWM, 2009, p. 324). Como os símbolos de juventude tornaram-se um produto cultural, o desejo de ser jovem vira um bem de consumo. Assim, através de conceitos construídos e veiculados pela mídia, a sociedade passa a perceber o ato de ser jovem como “um momento de liberdade, de prazer, de expressão de comportamentos estranhos, exóticos, enfim, a juventude como sinônimo de divertimento” (HEBDGE, 1981 apud DAYRELL, 2004, p. 30). Antes, os professores, pais e outros referenciais ditavam o que era de bom gosto, supervisionando os códigos da moda e também da identidade (KELLNER, 2001). A partir dos anos 60, aconteceu uma generalizada tendência de acabar com os códigos culturais antigos, numa busca de romper com a tradição. A moda foi um dos principais elementos para que se construíssem identidades novas, juntamente com o sexo, drogas e o rock, que também foram parte das modificações da década (KELLNER, 2001). Essa mudança fortaleceu o vínculo da música com o jovem, por ser material carregado de informações midiatizadas. Além de ser influência, estes discursos construíram mitos, símbolos da juventude até hoje. [...] grupos como os Beatles, os Rolling Stones, Jefferson Airplaine e interpretes como Janis Joplin ou Jimi Hendrix sancionavam a revolta contracultural e a adoção de novos estilos de vestuário, comportamento e atitude. A associação entre rock, cabelo comprido, rebeldia social e inconformismo em moda continuou por toda a década de 1970 com ondas sucessivas de heavy metal, punk, e new wave (KELLNER, 2001, p. 339). A partir desse panorama fragmentado, o conceito de ser jovem mantém-se conflituoso. Os estudos da Sociologia da Juventude, segundo Dayrell (2004), definem a juventude como classista ou geracional. A classista compreende que a juventude varia conforme as classes sociais, afirmando que as culturas juvenis dependem da diversidade de formas de reprodução do social e da cultura. Para a Organização das Nações Unidas (CARDOSO, 2010), jovem é definido por faixa etária, ou seja, adota a perspectiva geracional. Peralva (1997 apud DAYRREL) escreve que “na infância brinca-se, na
  • 7. 7 juventude prepara-se, forma-se, e na idade adulta trabalha-se” (p.29), seguindo o mesmo raciocínio de Dayrrel (2005). Dessa forma, se as classes definem modelos de representação de jovem, ou se a juventude é um período de preparar-se, ou ainda a perspectiva de faixa etária, pode-se entender que o conceito é uma representação instável que não pode ser definida a partir de um referencial fixo, possibilitando utilizar- se como parâmetro de juventude as autodefinições do grupo pesquisado, já que cada indivíduo entende jovem de forma diferente. Outra característica desta fase é a necessidade de ter um grupo de pertencimento, de auto-afirmação, que possa gerar segurança. Bauman (2005) diz que a pertença direciona este sentido, já que ser aceito pelo grupo é sinal de ter uma identidade “correta”. Para Wexler (1992), “no colegial”, atual ensino médio, é um momento quando “os jovens constroem sua identidade, tentando „tornar-se alguém‟”. Na busca por este “tornar-se alguém” (WEXLER, 1992), os jovens encontram nos produtos midiatizados referenciais identitários a serem seguidos, procurando representar e gerar sentimento e sentido de pertencimento. A subversão dos códigos culturais tradicionais, a fim de auto-afirmar a necessidade de não ser um indivíduo convencional, mantém-se como característica importante. No entanto, a mídia, por sua centralidade, também acaba indicando o que é ser não convencional. A cantora Madonna é um exemplo de que os códigos representativos - como roupas, corte de cabelo, cor de esmaltes para as unhas etc - fazem parte do discurso midiático de se ter uma imagem não convencional. Para Kellner (2004), na década de 80, vivia-se uma época conservadora, e em meio a isso, surgiu a cantora que, inicialmente, [...] sancionava a rebeldia, o inconformismo, a individualidade e a experimentação com um jeito de vestir e de viver. Suas constantes mudanças de imagem e identidade preconizavam a experimentação e a criatividade nesses campos. Suas transformações às vezes drásticas em matéria de imagem e estilo indicavam que a identidade é um construto, algo que, produzido por nós, pode ser modificado a vontade. O modo como Madonna usava a moda na construção de sua identidade deixava claro que a aparência e a imagem ajudam a produzir o que somos, ou pelo menos como somos percebidos e nos relacionamos (KELLNER, 2001, p. 341). As variadas possibilidades de absorver e utilizar códigos e símbolos para criar um eu faz como que os indivíduos tenham que escolher elementos identitários, entre as muitas possibilidades oferecidas, para criar uma imagem representativa de sujeito
  • 8. 8 social. Isso implica pertencer a um grupo e apropriar-se de seus referenciais identitários. Essa liberdade, no entanto, foi adquirida nas últimas décadas. Até o final do século XVIII, as possibilidades de ter uma identidade individual eram ínfimas e, diferente de como Bauman (2005) define a identidade e o pertencimento atual, a solidez era a característica da época. O sujeito nascia com a identidade definida por seu contexto sócio-cultural e quase nada poderia ser mudado. Tal característica estendeu-se até o século XX, de maneira diferente em cada lugar. A crise da identidade surge pela problematização e crises nas instituições tradicionais do pertencimento, que tornou necessário, para inserir-se na sociedade, construir uma identidade e pertencer a um grupo (BAUMAN, 2005). A partir disso entende-se que as afiliações sociais – mais ou menos herdadas – que são tradicionalmente atribuídas aos indivíduos como definição de identidade: raça...gênero, país ou local de nascimento, família e classe social agora estão...se tornando menos importantes, diluídas e alteradas nos países mais avançados do ponto de vista tecnológico e econômico. Ao mesmo tempo há a ânsia e as tentativas de encontrar ou criar novos grupos com os quais se vivencie o pertencimento e que possam facilitar a construção da identidade. Segue-se a isso um crescente sentimento de insegurança... (DENCIK apud BAUMAN, 2005, p. 30). Assim, a ação de construir uma identidade está relacionada também ao pertencimento a redes sociais, também sugeridas ou mediadas pelos meios de comunicação, e não necessariamente atribuída ao pertencimento no antigo modelo de forma socializadora do Iluminismo (HALL, 2000). Dessa forma, concretiza-se a idéia de que os grupos sociais definem a relação do sujeito com a sociedade, uma vez que ele encontrará no etnos8 as características possíveis para a construção do seu eu social. Hall (2000) diz que a identificação acontece pelo reconhecimento de características partilhadas e a busca de um mesmo ideal. Para ele, isso fecha “a base da solidariedade e da fidelidade do grupo em questão” (p. 106). Nessa construção de identidade, os símbolos e códigos identificatórios de grupos geram sentido social aos pertencentes. A percepção de que os símbolos são de um grupo, e não de outro, faz com que a sociedade identifique e localize o sujeito como um membro de uma tribo, encaixando-o em um estereótipo. Nesse processo, a juventude 8 Grupo que compartilha um sentimento de origem comum (BARTH, 1998).
  • 9. 9 busca ser identificada com o grupo que lhe gera sentido de pertença, afirmando ao próximo sua inclusão social. Bauman (2005) diz que carregar uma imagem de pertença afasta a possibilidade de sentido de exclusão social, um dos maiores medos geradores de insegurança da sociedade atual. A condição do homem (sic) exige que o indivíduo, embora exista e aja como um ser autônomo, faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo como algo mais amplo – como membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar nome, mas que ele reconhece instintivamente como seu lar (SCRUTON, 1986, p.156 apud HALL, 2003, p. 48). As possibilidades de construir a identidade fazem com que sejam utilizadas referências identificatórias representativas de diferentes grupos, entendidas como comunidades simbólicas para Bauman (2005). Kellner (2001), no entanto, discorda que as identidades sejam totalmente fragmentadas. Ele diz que elas [...] são relativamente substanciais e fixas; ainda têm origem num conjunto circunscrito de papeis e normas: pode-se ser mãe, filho, texano, escoteiro, professor, socialista, católico, homossexual – ou então uma combinação desses papéis e dessas possibilidades sociais. Portanto, as identidades ainda são relativamente fixas e limitadas, embora os limites para identidades possíveis e novas estejam em continua expansão (KELLNER, 2001, p. 296). Por mais que se aceite essa idéia de que as identidades não são totalmente instáveis, não é possível discordar que as fragmentações são uma constante (BAUMAN, 2005). Se na pré modernidade “alguém era caçador e membro da tribo, e por meio desse papel e dessas funções obtinha a sua identidade” (KELLNER, 2001, p. 295), agora essa é construída a partir de uma combinação desses e de outros vários sentidos. O indivíduo, na modernidade, é uma relação entre o tudo que se pode ser, como um quebra-cabeças (BAUMAN, 2005). Nesse caso, a cultura da mídia é um dos principais territórios para a construção de parâmetros de identificação, através dos sentidos criados aos símbolos identitários, é possível a identificação do outro, e escolher os fragmentos para a construção da identidade. Através de filmes, música, programas e personagens,
  • 10. 10 [...] ela exerce importantes efeitos socializantes e culturais por meio de seus modelos de papéis, sexo e por meio de várias “posições do sujeito” que valorizam certas formas de comportamento e modo de ser enquanto desvalorizam e denigrem outros tipos (KELLNER, 2001, p. 307). O fato de escutar alguma música se transforma num ato identificatório (TROTTA apud SILVA, 2009). Isso porque a atitude de escolher um som e entrar no mundo dele “significa tomar contato com „códigos culturais, valores sociais, e sentimentos compartilhados que fornecem‟”, e os fragmentos acessados servirão para construir a identidade (SILVA, 2009, p.32). Entendendo a música como uma ferramenta de sociabilização e sabendo que os jovens entram em contato com as músicas também através dos seus amigos, pode-se depreender que esse contato com outros símbolos identificatórios é mediado pelo círculo social. 3 A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE MEIO ROQUEIRA POR JOVENS A noção contemporânea de juventude construiu-se ao som do rock, ligando os conceitos de jovem e música. Com o rompimento da juventude com códigos das instituições tradicionais na década de 50, pôde-se observar o aparecimento de uma “„cultura juvenil‟, com um novo padrão de comportamento e de valores, centrados, dentre outros, na liberdade, na autonomia e no prazer imediato” (DAYRREL, 2005, p.30). A contracultura, segundo Kellner (2004), foi tendência nessa década e a moda, aliada ao sexo, rock e drogas, foi importante para o processo de superação dos códigos tradicionais. Surgem grupos que buscam marcar o estilo com uma “identidade própria expressa no estilo, que implicava a articulação de uma escolha musical e uma estética visual, como os teads, mods ou os rockers” (DAYRREL, 2005, p.30). As mudanças comportamentais, da década de 50, aconteceram relacionadas à música e ao cinema (DAYRREL, 2010). Inicialmente, os produtos midiatizados consumidos pelos jovens eram os filmes e, através deles, a música. Diversas produções, como Sementes da Violência [Blackboard jungle, 1955], que continha a música Rock Around the Clock, de Bill Haley and His Comets como trilha, lançaram o rock para o sucesso. As mídias, portanto, criaram o imaginário a partir do qual os jovens passaram a se construir, buscando romper com a tradição, ou seja, seus pais e as instituições sociais reguladoras.
  • 11. 11 A partir do rock’n’roll ficou mais clara a relação entre indústria cultural e juventude, no contexto das culturas juvenis. Depois do pós- guerra a cultura de massas passou a investir na criação de um mercado próprio, estimulando um estilo peculiar de vestir, com produtos privilegiados de consumo, desde chicletes e refrigerantes até meios de locomoção, como a motocicleta (DAYRREL, 2010, p. 38). Também as referências de paz e amor, sexo livre e “flower power” determinaram o contexto e revolucionaram a forma de comportamento dos jovens (BOX1824, 2010). Os códigos tradicionais foram afrontados e aos poucos afrouxados pela iniciativas dos jovens. Foi a partir da década de 50, no chamado boom econômico (FERRARETTO, 2008) que a juventude passou a ser um produto cultural, midiatizado, industrializado e vivenciado como imagem de mudança e quebra do tradicional. Nesse processo, os jovens viram o rock tornar-se um produto mundial, deixando de ser classificado como de negros ou brancos: [...] indústria fonográfica dos Estados Unidos rompe a sua histórica divisão entre os produtos para brancos, os discos das grandes gravadoras voltadas ao mercado nacional e para os negros – o rhythm and blues – com concessões aos brancos pobres – o country and western, no caso das pequenas empresas de alcance regional. Da união desses dois últimos e amparado pelo rádio, nasce o rock’n’roll, não por acaso uma denominação cunhada por um disc-jóquei. Usando como referência uma expressão comum em letras de rhythm and blues – “rocking and rolling” – um eufemismo para o ato sexual [...] (FERRARETO, 2008, p. 150) Essa relação entre a moda do rock, o boom, a quebra de paradigmas e códigos tradicionais, utilizados pelos jovens para se expressar, viraram sinônimo de juventude em todo o mundo, desde então. Não raramente, a publicidade atual utiliza-se da imagem de jovens, trasmitindo sensação, através de códigos simbólicos, de liberdade, com música de rock ao fundo. Essa relação da juventude com a música estilo rock’n’roll ficou marcada e ainda são relacionadas pela mídia e produtos culturais. 3.1 OS JOVENS Partindo desses parâmetros, foram pesquisados cinco pessoas9, de 17 a 24 anos, autodefinidos jovens, na maioria residentes de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, com ensino médio completo e dependentes financeiramente dos pais. A entrevista aconteceu 9 Três do sexo masculino e dois do sexo feminino
  • 12. 12 durante um flash mob10. O convite11 não foi convencional: foi postado no Twitter12 do pesquisador e da rádio Pop Rock FM o comunicado: “Amanhã estarei no Shopping Total para falar com jovens que gostam de rock, para o meu TCC”. A partir deste convite, no dia 8 de agosto de 2010, os entrevistados compareceram no local combinado13 com o objetivo de falar sobre rock. Eles chegaram aos poucos, em torno das 18 horas. Cada entrevista durou cerca de 30 minutos e foi individual, mas às vezes alguns dos jovens fizeram comentários no meio das respostas dos outros entrevistados, o que acabou por gerar pequenos debates sobre o assunto. Na chegada, os entrevistados receberam um questionário para preencher, a fim de verificar idade, estado civil, com quem residem e quem mantém a casa, se consideram-se roqueiros, onde mais escutam música e através de quais dispositivos o fazem. Na semana seguinte ao encontro, foi enviado email para todos os entrevistados com o objetivo de esclarecer dúvidas e tentar extrair um conceito pessoal de roqueiro. Como o convite foi destinado às pessoas que gostam do estilo de música, a maioria se definiu roqueiro – mesmo através dos emails-, porém, deixam claro que, de alguma forma, não o são da maneira tradicional. “Sou roqueira, mas não de me vestir” (G. 22 anos) e “sou roqueiro, mas não daqueles que usam moto e andam de roupa de couro” (G. 22 anos). Assim, demonstram não construir sua identidade exclusivamente pertencendo a este estilo musical. Dessa maneira, os jovens buscam escapar de uma definição, ou classificação, confirmando o que Hall (2003, p. 106) fala ser uma identidade. Para ele, [...] a identificação é construída a partir do reconhecimento de alguma origem comum, ou de características que são partilhadas com outros grupos ou pessoas, ou ainda a partir de um mesmo ideal [..] (HALL, 2003, p. 106). O conceito de roqueiro não foi definido objetivamente pelos entrevistados, mesmo que estes tenham apontado as características pela qual identificam um roqueiro, principalmente a partir da vestimenta e acessórios que usam. Assim, eles conseguem visualizar as peças do “quebra cabeças” (BAUMAN, 2005), reconhecendo as “peças” que servem para gerar a imagem de quem gosta de rock. Ao mesmo tempo em que se dizem roqueiros, definem as características para a construção da representação 10 Ver página 3. 11 Convite feito diversas vezes entre os dias 4 e 8 de agosto de 2010. 12 Ver página 3. 13 Em frente ao restaurante Habib‟s, na praça de alimentação externa do shopping.
  • 13. 13 tradicional, apesar de não conseguirem construir de forma crítica uma única definição. Na tentativa de explicar, citam os símbolos identificatórios. Como as identidades são fragmentadas (BAUMAN, 2005), não querem se identificar somente com uma tribo, ou gosto, já que isso faz com que eles sejam forçados a abdicar de outras coisas ou pessoas - como ocorria na década de 80 com os jovens que passaram a se definir como “normais” para poder circular em diferentes grupos (BOX1824, 2010) - pela fidelidade etnológica. Com a intenção de viver todos os dias um carpe diem14, eles não adotam uma única referência de identidade, já que esta deve ser descartável (BAUMAN, 2005). Um dos entrevistados diz que parecer roqueiro, “é indiferente” (R. 22 anos), já que ele gosta de rap também. Outro diz que “o estilo tu pega umas coisas aqui, outras ali” e “antes o roqueiro era somente quem se vestia de preto” (R. 22 anos). Por outro lado, a afirmação de Bauman (2005), que diz que a representação é uma forma de segurança social nessa modernidade, vai ao encontro das entrevistas dos jovens: encontro um cara que eu vejo a percepção dele pra música [...] pergunto: „que tipo de música tu toca?‟, ele fala „ah, toco rock‟. Eu tento conversar com ele, aí eu me identifico com ele...por causa do estilo...alguma coisa parecida que a gente tenha, dentro do rock (G. 24 anos). As comunidades guarda-chuvas (BAUMAN, 2005), nas quais diferentes fragmentos são utilizados e abandonados, são características da modernidade. Exemplo disto, é que todos os três entrevistados que se definiram roqueiros, dizem gostar de outros tipos de música e cultura, como o rap e o hip hop. Por isso, utilizar diversos fragmentos passa a ser essencial para se representar e poder interagir com diferentes grupos. Os símbolos utilizados por pessoas que ouvem rock, ou são roqueiras, fazem com que o outro os identifique. Para estes entrevistados, o fato de escutar rock não faz de uma pessoa um roqueiro. Para os jovens, que dizem seguir a moda às vezes, o uso da vestimenta é apontado como o principal recurso. A apropriação de camisetas pretas, calça jeans, tênis All Star e camiseta xadrez são os símbolos coletivos de representação do estilo referido. Para Feixa, 14 Ver página 4.
  • 14. 14 “El principio generativo de criación estilística proviene del efecto recíproco entre los artefatos o textos que um grupo usa y los pontos de vista y actividades que estructura y define su uso” (FEIXA, 1988, p. 97 apud DAYRREL, 2005, p. 41) O fato de ver uma pessoa vestida com os referenciais apontados nas entrevistas, instantaneamente faz com que o indivíduo seja relacionado a uma pessoa que gosta de rock’n’roll: [...] as vezes, tu vê uma pessoa de longe com um All Star, calça de brim, e uma camiseta preta e diz: "ó, é roqueiro, emo". Já virou uma imagem meio que padrão. Tu olha de longe uma pessoa de All Star de camiseta preta, ou até de calça preta ou calça jeans e diz “ah é roqueiro” [...] (C. 17 anos) Isso confirma que os códigos representativos geram um sentido de pertença a uma comunidade simbólica (BAUMAN, 2005), no caso os que ouvem rock. Outro dos sentidos gerados pela representação do pertencimento ao rock, para os jovens pesquisados, é a atitude de ouvir um estilo que se mantém o “menos comercial” e o que ainda tem o valor de contestação. Esta última característica faz parte do rock desde que ele ganhou o mainstream (HOBSBAWM, 2009). Pode-se dizer que a quebra dos códigos acontece porque os jovens buscam negar os produtos ditados pela mídia, ou ao menos sugeridos por ela, como aconteceu na época em que a cantora Madonna tornou-se referência de estilos de roupas e comportamento (KELLNER, 2001). A moda, como o principal meio para a identificação (KELLNER, 2001), que gera o sentido de pertença ao rock’n’roll, faz com que a identidade representada seja a de uma pessoa que gosta de música de qualidade, portanto não comercial, e libera sentimentos ruins ao ouvi-la. Buscam, também, se diferenciar do que é considerada uma pessoa convencional, muitas vezes citada como pessoas “padrão”: [...] eu, por exemplo, me visto de forma roqueira, tipo All Star, calça jeans, camiseta de banda, camiseta preta, ou algo relacionado a isso. Eles (os amigos) não seguem nada disso. Tanto que tu vê eles na rua e pensa: sei lá, ele gosta de qualquer estilo de música. Porque não tem como predefinir. É meio padrão [...] (C. 17). Ao mesmo tempo em que apontam sua diferença das pessoas que para eles parecem normais, eles incluem o rock dentro do modelo padrão:
  • 15. 15 as vezes tu vê uma pessoa de longe, com um All Star, calça de brim e uma camiseta preta e diz: ó, é roqueiro ou emo. Já virou uma imagem meio que padrão (C. 17). Mesmo assim, para estes jovens, não ser padrão, ou igual a todos, faz parte da representação da identidade de ser roqueiro. Para eles, o ideal é não consumir músicas que são comerciais. Por isso, criticam bandas que estão no ápice de sucesso, como Restart e Fresno: “eu tenho que admitir que eu escutava a Fresno. Mas eles não eram tão comerciais, não tocavam tanto nas rádios [...] eu era do fã clube deles” (R. 17 anos). Essa foi uma das frases faladas pelos entrevistados, que consideram as informações midiatizadas um produto inferior aos não veiculados com tanta freqüência. Também comparam Fresno, com bandas de menor visibilidade: “Iron Maiden é rock, e não toca nas rádios, pelo menos toca menos que a Fresno, né? E se tocar em rádio, poucas pessoas vão gostar porque não é comercial” (C.17 anos), como se a mídia diminuísse o sentido de contestação, de valoração, tanto do artista, como do receptor. Como a identidade é construída a partir de referências do rock e esse, como produto midiatizado, estabelece uma conexão com características de consumo, os jovens acabam por identificar os mais comercializados e buscam alternativas que os distingam dos demais. Tentam, com isso, mostrar que não são comerciais, “são autênticos”. Através destas características relacionadas pelas mídias e artistas (KELLNER, 2001), portanto, convencionais, eles buscam se posicionar como opositores ao padrão – mesmo o do rock, seguindo os passos dos que primeiros ouviam rock na década de 50 e iniciaram o rompimento com os códigos tradicionais. Mesmo que a tradição seja o rock, eles assumem não gostar desse produto comercializado. No entanto, quando o contato com essas músicas acontece mediado por seu círculo de amizade, eles dizem não se importar em escutar, pois o que vale “é o momento” (R. 17 anos), a festa, o “sentido da coisa” (R. 17 anos), ou seja, o pertencimento. Essa relação dos jovens com a música acontece em duas instâncias sociais (ROHDE & CARVALHO, 2010). A “música de ouvir em casa” é o que o jovem gosta, e a “música de balada” são de diferentes tipos, “dependendo do momento, o que importa é o programa, os amigos”. Essas classificações e os depoimentos demonstram que o fato de identificar-se com um estilo, não exclui o fato de consumir outros tipos de música, reforçando a ideia de uma identidade fragmentada. No flash mob, os jovens deixaram claro que as influências de contato com músicas passam pela família, mas a indicação
  • 16. 16 de amigos é a forma mais citada, pela facilidade de troca de arquivos por celular e internet. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os jovens pesquisados constroem sua identidade através do sentido de contracultura, de rejeição ao padrão e ao normal. Para isso, se apropriam dos símbolos e fragmentos identitários representados pelo rock, que nada mais é do que um produto cultural midiatizado e comercialmente representado como contracultural, devido à sua história social. Nesta época de centralidade da mídia, o rock virou um produto cultural comercial. Tanto que o conceito de roqueiro para eles é vinculado principalmente a produtos, símbolos representativos e comerciais, como o jeans, tênis All Star, camiseta preta e camisa xadrez. No entanto, também fala de atitude, que neste caso é a tentativa de fugirem do comercial. A partir dos fragmentos, que compõem uma identidade nunca terminada, os jovens representam pertencer a um grupo social e também reconhecer o outro desta forma. Para eles, consumir rock é contestar, ser visto como um sujeito que questiona a sociedade e é contra um sistema dominador, no caso a mídia. Os jovens pesquisados procuram subverter os códigos através do rock’n’roll, da mesma forma como aconteceu da década de 50. Eles buscam se diferenciar dos demais para se representar contraculturais, inteligentes e pertencentes ao rock, que para eles, é o único estilo ainda pouco comercial. Mesmo o velho estereótipo de roqueiro, vira motivo para não se identificar ou representar totalmente, mostrando que a tradição deve ser permanentemente quebrada. As tentativas da juventude de quebrar a tradição e os códigos existem há muito tempo. Nos anos 50, essa movimentação teve o rock como trilha sonora, impulsionado pelo cinema. Juntos, rock’n’roll e os jovens trouxeram práticas contraculturais, como o sexo, drogas e o sentimento de viver como o último dia, ou carpe diem15, para o centro dos debates. Como o poder de consumo dessas práticas é grande, transformaram o ser jovem em mais do que uma fase etária, mas um sentimento de pertença. Essa representação, para pertencer e gerar sentidos, não acontece de forma alheia à midiatização do rock, como pretendem os entrevistados. O estilo tornou-se popular 15 Ver página 4.
  • 17. 17 através da mídia – o cinema – e continuou sendo produzido e reproduzido por todos os meios porque é um produto comercialmente rentável. Desse modo, a valorização da quebra de códigos vem sendo sugerida pela mídia. O rock, identificado como sentimento e ferramenta de contestação, tem como mídia, além das vestimentas e os meios de comunicação, os corpos dos autoidentificados com o estilo, que guarda significações de juventude. Através de suas práticas, modificam permanentemente, como acontece desde a década de 50, as características que servem de identificação para os jovens, considerando ser a quebra da tradição a principal característica, mesmo que essa tradição seja pós-moderna. REFERÊNCIAS BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe. Teorias da etnicidade. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. __________________. Modernidade Líquida. Tradução: Plinio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR, 2007. BOX1824. We all want be young. 2010. Disponível em: < http://www.youtube.com >. Acesso em: jun. 2010. CARDOSO, Rodrigo Lúcio. O novo jovem e o velho rádio: a relação do público jovem com o rádio na atualidade. Canoas, RS: Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), 2009, 34f. Artigo (graduação), Curso de Comunicação Social, Publicidade e Propaganda. 2010. DAYRREL, Juarez. A música entra em cena: o rap e o funk na sociabilização da juventude. Belo Horizonte, MG: UFMG, 2005. DAYRREL, Juarez. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude em belo horizonte. São Paulo: Faculdade de Educação USP. 2001. Disponível em: < http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/1591/1/tese.pdf>. Acessado em dez. 2010. FERRARETTO, Luis Artur. Desafios da radiodifusão sonora na convergência multimídia: o segmento musical jovem. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v.7, n.13, jan./jun.2008. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/viewFile/157/148>. Acesso em: nov. 2010. FILHO, Benedito Souza. A identidade como identificação. 2006. Ciências Humanas em Revista. São Luís, MA, v. 5, número especial. Jun. 2007. Disponível em:
  • 18. 18 <http://www.nucleohumanidades.ufma.br/pastas/CHR/2007_3/benedito_souza2_v5_ne. pdf>. Acesso em: ago. 2010. FONTANARI, Ivan P. de P. Música eletrônica e identidade jovem: a diversidade do local. 2004. Anais do V Congresso Latino Americano da Associação para o Estudo da Música Popular. Porto Alegre, RS: UFRGS. Disponível em: <http://www.hist.puc.cl/iaspm/rio/Anais2004%20%28PDF%29/IvanPaoloFontanari.pdf >. Acessado em 12 de maio de 2010. GARBIN, Elisabete Maria.Cultur@s juvenis, identid@des e Internet: questões atuais. 2003. Porto Alegre, RS: Revista Brasileira de Educação. N.23. Maio/Jun/Jul/Ago. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n23/n23a08.pdf>. Acesso em: ago. 2010. ________________ Na trilha sonora da vida. Jornal NH. Novo Hamburgo, 11 de setembro de 1999. Disponível em: <www.ufrgs.br/neccso> e <www.ufrgs.br/neccso/gjovem> GINSBURG, Carlo. Chaves do Mistério: Morelli, Freud e Sherlock Holmes. In: ECO, Humberto; SEBEOK, Thomas A. O signo de três. São Paulo, SP: Perspectiva, 2004. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomáz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP &A, 10ª Ed, 2003. ___________"Quem precisa da identidade". In: SILVA, Thomaz Tadeu da (org.) Identidade e diferença – a perspectiva dos estudos culturais. São Paulo, SP: Vozes, 2ª Ed, 2000. ____________ Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, MG: UFMG, 2003. HOBSBAWM, Eric. 1995. A era dos extremos: O breve século XX. Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009. KATO, Gabriela Yuki et. al. 2006. O Potencial Sociopolítico do Flash Mob no Brasil. 2006. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. UnB. 6 – 9 set. 2006. <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1587-1.pdf >. Acesso em: 15 set. 2010. KELLNER, Douglas. A Cultura da mídia. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo, SP: Editora Universidade do Sagrado Coração, 2001. NEVES, José Luís. Pesquisa qualitativa – Características, usos e possibilidades. Cadernos de pesquisas em administração. São Paulo, V.1., Nº 3, 2º sem/1996. RECUERO, Raquel .2009. Redes Sociais na Internet. Rio Grande do Sul: Sulina, p.174, 2009
  • 19. 19 ROHDE & CARVALHO. Pesquisa encomendada pela rádio Pop Rock FM. Porto Alegre, 2010. SILVA, Rafael Rodrigues da. Música bala e música frau: narrativas sobre a legitimidade em música de estudantes do Ensino Médio. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Pedagogia da Arte, Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. Disponível em: < http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/15694/000689066.pdf?sequence=1>. Acesso em: set. 2010. TINTI, Simone Paula Marques. História do rock. Disponível em < http://www.clubrock.com.br/news/historiadorock.htm> Acesso em: nov . 2010.
  • 20. 20 AGRADECIMENTOS Ao Deivison, por me orientar neste campo tão complexo que é o comportamento humano. Pela minha família e amigos, pela força e oração, para que este trabalho alcançasse o objetivo. Amorosamente à minha esposa, Rita, e filhas Catarina e Sofia, pela compreensão e amor. E aos meus pais, irmão e avós pela base desta construção que eu trilho e acredito todos os dias da minha vida. Por isso, esta pesquisa é mais que um trabalho acadêmico, é uma experiência e oportunidade de conhecer e compreender mais e mais. “Não há nada de automático na maneira como achamos que vemos o mundo.” Oliver Sacks