1. Em Pauta Eletricidade
82
Panorama atual das instalações elétricas
O que tem movimentado o mundo
das instalações elétricas?
Por Milena Guirão Prado
M
uito tem sido feito no âmbito das instalações
elétricas nos últimos anos, mas quantos tem
se tornado parte desse movimento? Sendo
parte desse movimento há 16 anos, resolvi
trazer a minha visão sobre o panorama atual
das instalações elétricas. Não vou dizer que fazer parte desse
movimento tenha se tornado uma crença, pois seria algo muito
profundo, mas com absoluta certeza digo que é uma bandeira
que carrego, na esperança de um dia ver índices menores de
mortes causadas por instalações elétricas inadequadas.
Ainda no século passado, no início dos anos 80, a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) já recomendava em sua
norma NBR 5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão – o uso
do fio-terra, uma recomendação simplesmente primordial, pois
quando falamos de instalação elétrica, sem que saibamos, esta-
mos diretamente tratando com vidas humanas.
Com o passar dos anos, acompanhei a evolução do mercado de
construção industrializada, no qual, cada vez mais, a instalação
do fio que pode salvar vidas (fio-terra) foi sendo incorporado
nas novas construções de edifícios comerciais e residenciais.
Já nos anos 90, para complementar a segurança elétrica, uma
nova revisão da norma NBR 5410 foi realizada, e em 1997 o uso
do DR – dispositivo residual – também passou a ser recomenda-
do, fazendo assim com que o pacote segurança (fio-terra + DR)
pudesse se tornar mais completo.
Após isto, a inserção do pacote segurança nos projetos elétricos
da construção industrializada continuou evoluindo, e os novos
edifícios das grandes capitais brasileiras, passaram a contar com
os itens básicos e essenciais para a segurança elétrica. Mas, o
que dizer em relação às construções novas autogeridas, ou seja,
o mercado informal de construções?
De acordo com dados coletados em um estudo realizado pela
empresa Soul, a pedido do Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre),
em maio de 2014, estimou-se que no mercado informal, ou seja,
em unidades unifamiliares novas – autogeridas, somente 10% das
construções contavam com a participação de engenheiros elétricos
durante a construção; por consequência, os resultados mostraram
quesomente25%dessasconstruçõescontavamcomprojetoelétrico.
Essa mesma pesquisa mostrou que para uma casa padrão de
51,3m2, onde em seu projeto elétrico contempla sete circuitos
(sem torneira elétrica) + distribuição, realizado de acordo com
a NBR 5410, essa casa deverá contar com um índice 0,29kgs
de cobre por m2
. Caso o projeto não considere o item básico
de segurança, ou seja, o fio-terra, esse índice cai para 0,24kgs
de cobre por m2
. Mas, o que se encontrou no mercado foi uma
realidade muito pior.
O índice médio encontrado foi de 0,13kgs de cobre por m2 em
instalações elétricas com chuveiro elétrico, o que significa que
as quantidades de circuitos considerados na instalação elétrica
(que não contavam com projeto elétrico) estão abaixo do mínimo
exigido pela NBR 5410 e/ou a seção do condutor elétrico adotada
é menor do que a recomendada, gerando mais perdas elétricas
e riscos de incêndio para o imóvel.
A instalação elétrica é um perigo não aparente, e quando não
há o fio-terra, o risco aumenta ainda mais. Falta de instalação
do fio-terra significa risco de choque-elétrico que, por consequ-
ência, significa risco de morte, ou seja, perda de vidas humanas.
As reportagens com relatos de mortes devido a instalações
elétricas são inúmeras. Estatísticas levantadas pela Associação
Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade
(Abracopel) mostraram que no ano de 2015, houve 590 aciden-
tes fatais envolvendo eletricidade, sendo que 174 incêndios
domésticos relacionados com eletricidade foram ocasionados
por curto-circuito, aquecimento de fios etc.
MAS, COMO MUDAR ESSE PANORAMA?
Há anos, a iniciativa privada tem se esforçado em busca da
melhoria dessa situação. Dentre as ações realizadas, posso
destacar o Programa Casa Segura, no qual fui responsável em
desenvolvê-lo, e que em 2016, completa 10 anos. O programa
tem como missão conscientizar a população sobre os riscos das
instalações elétricas inadequadas: www.programacasasegura.org.
Outro projeto muito importante que participei é o programa
Eletricista Consciente, que teve inicio em 1998 por meio de uma
parceria junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Se-
nai), e no qual atualmente incentiva o aperfeiçoamento contínuo
dessesprofissionais,pormeiodeumaplataformadigitalqueoferece
webinars e materiais técnicos: www.eletricistaconsciente.com.br.
Para concluir, posso dizer que para se obter uma instalação
elétrica segura e eficiente é necessário que normalização, certi-
ficação e regulamentação caminhem juntas, a fim de garantirem
segurança e bem-estar a pessoas e patrimônios.
>> Milena Guirão Prado é administradora de empresas e pós-graduada
em gerenciamento de projetos pela FGV. Trabalhou 15 anos no Procobre,
gerenciando projetos. Atualmente é diretora de marketing da Abracopel,
sendo membro-fundadora desde 2005. Colaborou com este artigo:
Antonio Maschietto Jr., do Procobre.