O documento descreve a estratégia de crescimento global da empresa chinesa Fosun no mercado de seguros. A Fosun primeiro investiu na companhia de seguros chinesa Yong'an em 2003 e depois formou uma joint venture com a Prudential para vender seguros de vida na China em 2012. Mais recentemente, a Fosun expandiu suas operações de seguros por meio de aquisições nos EUA e Europa, como a aquisição do grupo segurador americano Meadowbrook Insurance Group e da companhia de seguros Ironshore com sede em
4. 47
A Fosun, o maior conglomerado privado da China, tornou-se, no ano
passado, num grupo segurador verdadeiramente global.
Reforçou a participação que tinha no maior grupo segurador de Portugal,
incluindo uma participação de quase 90% na companhia Fidelidade,
e comprou a companhia de seguros norte-americana Meadowbrook
Insurance Group (MIG) e a Ironshore, a companhia de seguros com sede
nas Bermudas dedicada a seguros especializados, que se vêm juntar
às companhias de seguro e resseguro que o grupo detém na Ásia.
As operações na área dos seguros integram-se assim num conjunto
de empresas em franco crescimento que a Fosun detém noutras áreas,
tais como a industrial, a de lifestyle e a da saúde, numa altura em que o
presidente do grupo, Guo Guanchang, tem como alvo tornar-se “o Warren
Buffet chinês”, afirmando que o grupo se encontra na “superautoestrada”
do crescimento. Adrian Ladbury lança um olhar mais atento à estratégia
global para os seguros, além de refletir também sobre o recente
crescimento do grupo.
5. 48
M D S m a g a z i n e
FOSUN – MARCOS HISTÓRICOS
1992
Um grupo de licenciados da
Universidade de Fudan criaram
a Fosun com um investimento
inicial de US $4,000
1994
Criaram a Fosun Pharma
e a Forte
1998
A Fosun Pharma é cotada
na bolsa no mercado A-share
na China
2002
Yuyuan
2003
Nanjing Iron & Steel
2004
Zhaojin Mining
2007
Yong'an P&C Insurance,
Hainan Mining
2008
Focus Media
O grupo Fosun foi fundado em 1992 por cinco licenciados da
Universidade de Fudan na China. Originalmente uma empresa
de pesquisa de mercado transformou-se, nos últimos 24 anos,
no maior conglomerado privado da China.
Guo Guanchang, presidente do conselho de administração e
principal acionista do grupo, baseia claramente a sua estratégia
na que foi levada a cabo com tanto êxito pelo lendário investidor
norte-americano Warren Buffet.
Em termos muito simples, Buffet usa o fluxo gerado pelas
companhias de seguros, que não tem de ser devolvido imedia‑
tamente aos titulares das apólices para investir numa grande
variedade de outras empresas de setores não relacionados.
Estas empresas beneficiam obviamente de termos e condições
de cobertura preferenciais por parte das companhias de seguros
do grupo, uma vez que estas conhecem respetivo perfil de riscos
daquelas empresas melhor do que qualquer concorrente.
Aomesmotempo,osprémiosgeradosalimentamofluxocriando
um círculo virtuoso. O grupo investe também de forma significa‑
tivaedetématividadesdegestãodeativosquebeneficiamtantoas
operações industriais quanto as companhias de seguros.
É necessário um capital significativo para que este sistema
funcione, uma vez que as companhias de seguros têm de diver‑
sificar a sua atividade através de vários segmentos e territórios
para evitar cúmulos de risco indesejáveis; daí a recente expansão
internacional.
Além dos fundamentos da estratégia empresarial de Buffet,
Guo Guanchang segue também o exemplo do investidor norte‑
-americano, escrevendo uma longa e reveladora carta aos acio‑
nistas quando apresenta os resultados anuais do grupo.
Na última carta, publicada no mês passado por ocasião da
divulgação dos resultados do ano de 2015, Guo Guanchang expli‑
cava assim a estratégia: “O grupo considerou a atividade segura‑
dora como uma boa forma de combinar a capacidade de investi‑
mento da Fosun com capital a longo prazo de alta qualidade. Por
um lado, as companhias de seguros podem aumentar os resul‑
tados da subscrição alavancando-se na grande experiência e no
conhecimento especializado das operações no setor segurador e
financeiro, e, por outro, poderão também ajudar o grupo a obter
maiores receitas de investimento por meio de práticas de inves‑
timento eficazes. Assim, seguros e investimento serão as nossas
atividades de base no futuro”, explicou.
Tal como a Berkshire Hathaway de Buffet, a Fosun está a sair-se
muitobemnestemercadoseguradorglobalaltamentecompetitivo.
Guo Guanchang revelou que, à data de 31 de dezembro de 2015,
o total de ativos de seguros geridos era de 180,6 mil milhões de
yuans (27,9 mil milhões de dólares). Este valor representava
44,6% do total de ativos do grupo e significou um aumento em
relação aos 32,9% registados no final de 2014.
O total de ativos de investimento foi de 160,4 mil milhões de
yuans (24,8 mil milhões de dólares), um aumento de 50,2% em
comparação com 2014. O lucro anual da atividade seguradora
atribuível aos proprietários da empresa-mãe subiu 88,4%, tendo
atingido os 2,10 mil milhões de yuans (320 milhões de dólares) e
representou 26,2% do resultado líquido do grupo.
De 2013 a 2015, o lucro aumentou a uma taxa de crescimento
anual composta de 100,5%, divulgou Guo Guanchang.
Mas como conseguiu a Fosun construir uma presença tão forte
no negócio segurador?
6. 49
f u l l c o v e r
Primeiro passo com a Yong’an
A Yong’an P&C Insurance foi fundada em 2003, tem sede
em Xi’an e constituiu o primeiro investimento da Fosun
no mercado segurador.
O grupo detém uma participação de 19,93% no capital
da Yong’an, uma companhia de seguros chinesa que
subscreve todo o tipo de seguros do ramo Não Vida e que
estava classificada no 11.º lugar do mercado de seguros
patrimoniais e de responsabilidades (P&C), em 2014.
Atualmente, o mercado chinês é altamente compe
titivo e não é fácil obter lucros.
É difícil encontrar informação financeira sobre a
Yong’an, mas, na carta que acompanhava a divulgação
dos resultados do grupo em 2015, Guo Guanchang
afirmava que esta companhia de seguros “tomou a
iniciativa de adaptar e transformar” a sua atividade e que
continuará a fazê‑lo em 2016, indicando que passou por
momentos difíceis tal como o resto do mercado chinês.
O grupo declarou que a Yong’an abandonou certos
negócios “menos eficientes” e “otimizou constan‑
temente” o seu portefólio de negócios. Além disso,
aumentou a capacidade de produção per capita, reduziu
os custos de regularização de sinistros, reforçou o desen‑
volvimento e a inovação e explorou ativamente as aplica‑
ções para a Internet.
Não obstante a necessidade de “adaptação”, a Yong’an
registou uma receita bruta de prémios de 8,1 mil milhões
de yuans, um resultado líquido de 833,3 milhões de
yuans, ativos de investimento no valor de 10,9 mil
milhões de yuans, um rácio combinado líquido de 98% e
um rácio de solvência de 263,7%. O retorno sobre o inves‑
timento total foi de 10%.
Os resultados mostram, assim, que a Yong’an não está
a sair‑se nada mal.
Segundo passo: Pramerica
O grande passo seguinte da Fosun no mercado segurador
foi dado em setembro de 2012, altura em que anunciou
uma joint‑venture com o gigante norte‑americano de
serviços financeiros Prudential Financial.
A empresa, designada Pramerica Fosun Life Insurance
CompanyLimited(PFI),éumajoint‑venturequecomeçou
com um capital social de 500 milhões de yuans.
Trata‑se da primeira empresa do ramo Vida fundada
em conjunto por um investidor privado chinês e um
investidor estrangeiro.
GuoGuanchangafirmounaaltura:“Osetordosseguros
de vida na China está a crescer rapidamente, movido por
um enfoque crescente na proteção dos meios de subsis‑
tênciadasfamíliasdopaísinteiro. Esperamostirarbene‑
fício da profunda experiência atuarial, do conhecimento
no que respeita à gestão de ativos e da história de 137
anos de sucesso da PFI no setor dos seguros de vida, num
momento em que avançamos juntos no desenvolvimento
de produtos que respondem às necessidades de seguro
de vida deste mercado”.
No mais recente relatório financeiro, o de 2015, a Fosun
afirmava que, nos últimos anos, os prémios recebidos
pela PFI aumentaram de forma rápida na sequência de
vários projetos inovadores.
Guo Guanchang afirmou que a empresa promove
continuamente a inovação nos seus produtos e está
também a explorar um novo modelo de vendas de
“Seguro + Gestão de Saúde + Comunidade de reformados
+ Alocação de Ativos no Estrangeiro” e seguro para ações
de crowdfunding.
O grupo oferece um amplo pacote de seguros que vai
desde o seguro de vida, ao de acidentes e doenças graves,
passando pelo seguro de vida misto (“Universal Life”) e
pelo seguro de saúde.
Em 2015, a receita de novos prémios anuais e o total de
prémios da PFI foi de 125,3 milhões e de 978,1 milhões de
yuans respetivamente (incluindo, em ambos os casos,
os depósitos dos titulares de apólices de seguro de vida
misto “Universal Life”).
A empresa registou também uma receita bruta de
prémios de 57,2 milhões de yuans, um prejuízo líquido
de 113 milhões de yuans, ativos de investimento no
valor de 1,9 mil milhões de yuans, um rácio de solvência
de 985,5% e um retorno sobre o investimento total de
6,9%.
O caminho para o topo
Em janeiro de 2013, a Fosun criou a Peak Reinsurance
Company Limited (Peak Re), um ressegurador sediado
em Hong Kong e concebido para absorver a procura
crescente por soluções de resseguro “state of the art”
na região da Ásia‑Pacífico. A empresa começou com um
capital inicial de 550 milhões de dólares.
A Peak Re é, na verdade, detida conjuntamente com
a International Finance Corporation (IFC), uma orga‑
nização membro do grupo Banco Mundial centrada no
desenvolvimento do setor privado. A IFC investiu 82
milhões de dólares em 14,9% da empresa.
No momento do lançamento, Guo Guanchang afirmou:
“Acreditamos que o investimento na Peak Re permitirá,
juntamente com os outros projetos da Fosun na área dos
seguros, um fluxo de receitas estável decorrente da ativi‑
dade seguradora que sustentará as nossas atividades de
investimento, criando as condições para fazer da Fosun
um ‘grupo de investimento de referência’”.
O grupo salientou que há demasiado tempo que a
região da Ásia‑Pacífico se caracteriza por uma situação
de infra-seguro, destacando que, na sequência de uma
série de catástrofes naturais na região em 2011, incluindo
as inundações na Tailândia, o sismo e tsunami de
Tohoku no Japão, o sismo na Nova Zelândia e as inun‑
dações na Austrália, menos de 22% do total de prejuízos
económicos registados estavam segurados.
7. 50
M D S m a g a z i n e
2010
Club Med
2011
Folli Follie
2012
Pramerica Fosun Life
Insurance, Peak Reinsurance
2013
St. John, Alma Lasers,
Saladax, Caruso, Atlantis
Resort (Sanya), 28 Liberty
em Nova Iorque, Loyds
Chambers em Londres
2014
Fidelidade, Secret Recipe,
REN, Osborne, Studio 8,
Tom Tailor, ROC Oil, IDERA,
Luz Saúde, BHF Kleinwort
Benson Group SA, Hainan
Mining IPO
2015
2015 Ironshore, MIG, Thomas
Cook, Club Med, Cirque du
Soleil, Hauck & Aufhauser
Privatbankiers (H&A),
Silver Cross, RPIM, Phoenix
Holdings, Zhejiang Internet
Commerce Bank Co., Ltd
Este valor era consideravelmente inferior ao rácio de
perdas económicas seguras nos Estados Unidos e na
Europa naquela data, o qual se situava em cerca de 64% e
50%, respetivamente.
Além disso, em 2010, a China sofreu as mais devasta‑
doras inundações em dez anos, que provocaram cerca de
50 mil milhões de dólares de prejuízos económicos, dos
quais apenas mil milhões estavam cobertos por seguro.
Assim, a Peak Re criou planos para investir “signi‑
ficativamente” na investigação e no desenvolvimento
de soluções de gestão de risco para famílias e empresas
da região. Segundo os responsáveis, nos seus primeiros
cinco anos de existência, a Peak Re planeava entrar,
juntamente com a IFC e a Fosun, nos mercados asiáticos
emergentes como o chinês, o indiano e o indonésio.
O novo ressegurador afirmou também que planeava
crescer orgânica e estrategicamente através da aquisição
de carteiras de seguros rentáveis.
Noanopassado,aPeakRedeupassosimportantesnosen
tido de diversificar a sua atividade quer em termos geográ‑
ficosquernoqueserefereaosprodutosdisponibilizados.
Aempresaanunciouumplanoparaadquirirumaparti‑
cipação de 50% no grupo de seguros caribenho NAGICO
Holdings Limited, em julho de 2015. Esta aquisição está
atualmente dependente da aprovação do regulador.
A Peak Re abriu também escritórios em Zurique em
setembro de 2015, de forma a ficar mais próxima dos
seus clientes na Europa e a diversificar ainda mais a sua
carteira de negócios.
A Fosun revelou que a atividade do ressegurador na
região da Ásia‑Pacífico se expandiu gradualmente, acres‑
centando que fez também progressos significativos na
Europa e na América do Norte.
Em2015,ovalorbrutodeprémiossubscritosnaEuropa
e na América do Norte representava 41,5% do total
de receitas de prémios, o que significou um aumento
de 24,4% relativamente aos 17,1% de 2014.
Nofinaldoanopassado,aPeakRecontavacommaisde
285clientesem47mercadosdomundointeiro,emcompa‑
ração com os 175 clientes registados no final de 2014.
A empresa vendeu 582,7 milhões de dólares em
prémios de seguros em 2015 em comparação com os 288,1
milhões de dólares registados no período homólogo de
2014. O resultado líquido foi de 59,2 milhões de dólares,
uma subida de 17,6 milhões relativamente a 2014.
O rácio combinado líquido foi de 96,8%, o rácio de
solvência de 754%, os ativos de investimento represen‑
taram 913 milhões de dólares e o retorno sobre o investi‑
mento foi de 6,4%.
Fosun chega à Europa… via Portugal
O maior passo em frente na história de crescimento da
Fosun na área dos seguros foi dado em maio de 2014,
altura em que o Presidente da China, Xi Jinping, e o
Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco
Silva, testemunharam a assinatura dos documentos Baseado na Apresentação Institucional da Fosun
8. 51
f u l l c o v e r
que asseguraram a conclusão da aquisição por parte da
Fosun de 80% do capital e dos direitos de voto nas compa‑
nhias Fidelidade, Multicare e Cares, hoje conhecidas
coletivamente como grupo Segurador Português, por
1038 milhões de euros.
As três empresas eram subsidiárias detidas na totali‑
dade pela Caixa Seguros e Saúde (CSS), o ramo de seguros
do banco estatal CGD.
Os responsáveis da Fosun afirmaram, depois de
concluída a aquisição, que a empresa tinha dado um
“passo de gigante” no sentido de se tornar um grupo de
investimento de primeiro plano movido por dois motores
individuais: “capacidade financeira abrangente baseada
na atividade seguradora” e “capacidade de investimento
sustentada numa profunda consolidação industrial”.
Este passo, disseram os responsáveis do grupo, apro‑
ximou o grupo da implantação do “modelo de desenvol‑
vimento de Warren Buffet”.
O total de ativos não auditado do grupo Segurador
Português era de 12,8 mil milhões de euros no final
de 2013. Numa base pró‑forma, depois da consolidação
do grupo Segurador Português, a proporção de ativos
de seguros da Fosun relativamente ao total de ativos do
grupo aumentou significativamente de 3% para 39%.
“Sendo a atividade seguradora a atividade central para
o desenvolvimento da Fosun, a cooperação entre a Fosun
e o grupo Segurador Português irá indubitavelmente
ser duradoura e estável. A Fosun tem confiança total na
equipa de gestão atual e tem o compromisso de manter a
estabilidade da estratégia empresarial em curso. Através
do trabalho de ambas as partes e das sinergias alcan‑
çadas com os recursos partilhados em vários aspetos, a
Fosun espera desenvolver produtos e serviços de maior
qualidade como parte dos seus esforços para alcançar
um retorno sustentável para os acionistas, funcionários
e clientes”, declarou a Fosun.
Ogrupochinêsafirmouaindaqueiriafacilitaracolabo‑
ração e a sinergia com outras companhias de seguros em
que investira, seguindo mais uma vez o modelo de Buffet.
“Por exemplo, irá facilitar a colaboração com a Peak
Reinsurance, de forma a baixar os custos de resseguro,
e cooperará com a Yong’an P&C Insurance na área das
tecnologias, dos produtos e dos canais de vendas, de
modo a conseguir um desenvolvimento rápido da
atividade. Por outro lado, a Fosun fará uso da capacidade
de investimento de base para otimizar o portefólio de
investimento e, assim, aumentar os retornos sobre
o investimento do grupo Segurador Português, especial
mente através da combinação com as estratégias de
investimento global da Fosun. A Fosun irá também
fazer uma análise completa das oportunidades de
investimento na Europa e nos mercados da OCDE e
alargará o âmbito da atividade, minimizando os riscos
sistémicos da concentração geográfica através da
diversificação”, explicou a Fosun.
O grupo chinês acrescentou que tem vindo a iden‑
tificar ativamente diferentes tipos de “oportunidades
de investimento de valor” no mundo inteiro e chegou à
conclusão de que, apesar dos recentes problemas econó‑
micos de Portugal, o país continua a ser um mercado
‑chave apelativo e que se enquadra perfeitamente na
estratégia de expansão global da Fosun.
“A Fosun mantém‑se atenta a outras oportunidades
de investimento noutros setores do mercado português,
em especial do imobiliário, do turismo e dos produtos de
marca”, acrescentou a Fosun.
A Fosun abriu um escritório que representa a empresa
emLisboa,cidadeapartirdaqualpoderádarmaiorapoio
ao grupo Segurador Português, explorar investimentos
noutros setores em Portugal e reforçar o intercâmbio e a
cooperação sino‑portuguesa, afirmou o grupo.
“Este passo permitirá também à Fosun dar uma
contribuição, ainda que diminuta, para a recuperação
da economia portuguesa. A Fosun pretende fazer a ponte
no sentido de facilitar o desenvolvimento de negócios na
China por parte de empresas portuguesas e o desenvolvi‑
mento de atividades em Portugal por empresas originá‑
rias da China”, acrescentou o grupo.
No início de 2015, a Fosun reforçou a participação no
capital da Fidelidade, tendo chegado aos 84,986%.
A Fosun Insurance Portugal é, presentemente, um
operador global significativo no mercado segurador
português.
A Fosun indicou, no mais recente relatório de resul‑
tados anuais, que vende produtos em todos os principais
segmentos de negócio e que conta com a maior e mais
diversificada rede de vendas de seguros de Portugal.
Esta rede inclui agentes exclusivos e multimarca,
corretores, dependências próprias, canais na Internet
e no telefone. Conta também com fortes parcerias de
distribuição com os CTT e a Caixa Geral de Depósitos, um
dos principais bancos portugueses.
A Fosun Insurance Portugal está também ativa em
sete países de três continentes (Europa, Ásia e África).
Durante o ano a que dizem respeito os resultados, a
Fosun Insurance Portugal apresentou uma receita bruta
de prémios de 3,9 mil milhões de euros, um rácio combi‑
nado líquido na atividade do ramo Não Vida de 98,4%,
um rácio de solvência de 215,7% e um resultado líquido
de 301,1 milhões de euros.
“A atividade internacional da Fosun Insurance
Portugal continua a revelar um elevado desempenho
comercial, tendo atingido um total de 202,1 milhões de
euros em prémios diretos de seguro, um aumento de
13,7% relativamente a 2014”, informou a Fosun no final
de março do ano corrente.
Próxima paragem: Estados Unidos!
ApesardaimportânciadaaquisiçãoemPortugal,o“Warren
Buffet chinês” não abrandou o ritmo sendo o alvo seguinte
o gigantesco mercado de seguros dos Estados Unidos.
Em julho do ano passado, a Fosun anunciou a
conclusão da aquisição de 100% do Meadowbrook
Insurance Group (MIG) por 439 milhões de dólares.
9. 52
M D S m a g a z i n e
Dada a presença atual do grupo nos mercados primá‑
rios do ramo Vida e Não Vida na China, cujo potencial é
enorme, no mercado asiático e internacional de resse‑
guros, no mercado continental europeu de seguros Vida
e Não Vida e nos mercados comerciais especializados dos
Estados Unidos, a aquisição da Ironshore deu à Fosun
aquela que será possivelmente a última peça do puzzle,
pelo menos por agora.
Aquando da divulgação do negócio, Guo Guanchang
salientou as sinergias estilo Buffet de que as empresas
irão usufruir na família Fosun, afirmando: “Agora e no
próximoano,aFosuniráreforçarosesforçosdeintegração
e colaboração, procurando construir um grupo segurador
e financeiro inter‑regional e intersetorial. Incentivamos
as empresas em que investimos a colaborar sempre que
possível e procuramos ligá‑las aos recursos da Fosun
através das nossas plataformas seguradoras e financeiras
de forma a melhorar a competitividade de cada empresa
nos respetivos setores”.
E a Ironshore não demorou a tirar partido do poten‑
cial do novo grupo, já que em janeiro anunciou que a sua
subsidiária no Lloyd’s, a Pembroke Managing Agency,
iria abrir um escritório em Xangai para integrar a plata‑
forma do Lloyd’s na China.
APembrokeManagingAgencydeXangaiirásubscrever
segmentos especializados de seguros, focando‑se inicial‑
mente nos setores da agricultura, do mar e da saúde.
Tracy Ma foi nomeada responsável pela subscrição
nesta entidade, reportando a Hui Yun Boo, diretor execu‑
tivo da Ironshore para a região da Ásia‑Pacífico.
“A empresa‑mãe da Ironshore, a Fosun, que tem sede em
Xangai,coloca‑nosnumaposiçãodiferenciadanomercado
local, permitindo‑nos oferecer produtos especializados
no país para ir ao encontro da crescente procura que se
verifica nesta cidade vibrante”, afirmou Mark Wheeler,
CEO da Ironshore International.
Hui Yun Boo afirmou que o novo escritório de Xangai
complementaapresençaatualdaIronshorenoscentrosde
crescimento da região da Ásia‑Pacífico, como Singapura,
Hong Kong, Tóquio, Sidney e Auckland.
É interessante notar que apenas dois meses depois, no
dia 22 de março, o conselho de administração da Fosun
anunciou que a empresa estava a considerar fazer uma
ofertapúblicainicial(OPI)dasaçõesordináriasdaIronshore.
“À data da presente comunicação, não foi ainda
tomada a decisão final pelo conselho de administração
da Empresa nem da Ironshore sobre a possibilidade,
o momento ou o local de uma OPI”, declarou o grupo.
Seja qual for a decisão da Fosun em relação à Ironshore,
é claro que o grupo chinês continuará a construir a ativi‑
dade no espaço internacional dos seguros. Como afirma
Lan Kang na entrevista nas páginas seguintes, a Fosun
manter‑se‑á focada neste mercado e usará as bases
portuguesa e internacional para procurar novas opor‑
tunidades de crescimento. Ficaremos atentos aos novos
desenvolvimentos! •
“A Meadowbrook irá reforçar a capacidade da Fosun
para aceder a capital de alta qualidade a longo prazo,
bem como melhorar as capacidades do grupo na área da
atividade seguradora quer no que respeita às responsa‑
bilidades quer aos investimentos. Estamos empenhados
em alavancar os recursos globais da Fosun de forma a
promover o desenvolvimento estável da Meadowbrook a
longo prazo”, afirmou Guo Guanchang.
A Meadowbrook é uma companhia de seguros patri‑
moniaisederesponsabilidadeseumaempresadeserviços
de gestão de seguros que se centra em mercados especia‑
lizados de nicho.
Comercializaesubscreveprogramasdesegurosdepatri‑
moniaisederesponsabilidadeseprodutosdeseguronuma
base “admitted” e “non‑admitted” através de uma rede
diversificada de mediadores de seguros independentes,
empresas de seguros, administradores de programas e
agências generalistas.
É importante notar que a Meadowbrook dispõe de
uma gama completa de licenças de seguro do ramo Não
Vida em 50 estados do país, que cobrem segmentos de
produtos autorizados e não autorizados.
A conclusão da aquisição da Meadowbrook deu à
Fosun uma plataforma estratégica de seguros nos EUA,
permitindo ao grupo estabelecer uma presença signifi‑
cativa no maior mercado de seguros de patrimoniais e
responsabilidades do mundo.
No ano passado, o MIG registou uma receita bruta
de prémios de 726,5 milhões de dólares e um resultado
líquido de 34,3 milhões de dólares, sendo o rácio combi‑
nadolíquidode100,3%eumráciodesolvênciade200,3%.
O MIG detém ativos de investimento no valor de 1570,6
milhões de dólares.
E agora, o mercado especializado internacional
Em fevereiro do ano passado, numa altura em que prepa‑
rava a aquisição do MIG, a Fosun concluiu a aquisição de
aproximadamente 20% das ações ordinárias em circu‑
lação da Ironshore, o grupo de seguros especializado
com sede nas Bermudas.
O preço de compra foi de aproximadamente 466,6
milhões de dólares.
Como seria de esperar, em novembro do ano passado, o
grupo chinês concluiu a aquisição do capital restante da
Ironshore por dois mil milhões de dólares em dinheiro.
A Ironshore é um grande passo em frente para
a Fosun no importante, e hoje muito procurado, mercado
de seguros "corporate" de grandes empresas. Além das
Bermudas,aIronshoretemoperaçõesnosEUA,noLloyd’s
e na Irlanda.
Em 2015, a receita bruta de prémios da Ironshore
atingiu os 2,16 mil milhões de dólares, tendo o resultado
líquidosidode57,8milhõesdedólaressustentadoporum
rácio combinado líquido de 96,7%. O rácio de solvência
foi de aproximadamente 166% e o total de ativos de inves‑
timento de 5,1 mil milhões de dólares.
10. Em setembro passado, o presidente chinês Xi Jinping marcou
presença na mesa‑redonda de CEOs norte‑americanos e
chineses em Seattle organizada pelo Paulson Institute e pelo
China Center for the Promotion of International Trade. Este foi
o ponto alto do segundo dia da visita do presidente chinês aos
Estados Unidos.
Nesta mesa‑redonda, Xi Jinping salientou que, devido às
diferenças nas etapas de desenvolvimento, as economias da
China e dos Estados Unidos são altamente complementares.
O presidente chinês afirmou que há mais espaço e mais
oportunidadesparacooperaçãoeconómicaecomercialbilateral.
Xi Jinping acrescentou que a China apoia grandes empresas
norte‑americanas que estabelecem sedes regionais e centros
de investigação na China e instou mais pequenas e médias
empresas dos EUA a expandirem a atividade na China. Por sua
vez,osinvestimentoschinesesnosEstadosUnidosirãotambém
continuar a crescer, afirmou.
Participaram na discussão 15 CEOs das maiores empresas
da China, incluindo Guo Guangchang da Fosun, e 15 CEOs das
maiores corporações dos EUA, incluindo Warren Buffet da
Berkshire Hathaway.
Em jeito de brincadeira, Guo Guangchang afirmou ser um
estudante de Buffet, na mesa‑redonda em que apresentou
os projetos de investimento da Fosun nos EUA, incluindo as
recentementeadquiridasMeadowbrookInsuranceGroup(MIG),
e Ironshore e a participação em programas sino‑americanos de
cooperação e intercâmbio cultural e artístico.
Durante a mesa‑redonda, Guo Guangchang afirmou que
os Estados Unidos têm a maior concentração de recursos
qualificados e que, dado o enfoque da Fosun em quatro grandes
áreas–seguros,bancaprivada,saúde,bem‑estare“lifestyle”–,
ogrupoexploraativamenteosmelhoresprojetosdecooperação.
Àqueladata,ovolumedeinvestimentosdaFosunnosEstados
Unidos já tinha ultrapassado os cinco mil milhões de dólares,
tendo criado um total de 4895 oportunidades de emprego,
afirmou Guo Guangchang. Além da Ironshore e do MIG, entre
estes investimentos contam‑se: o estabelecimento de três
laboratóriosfarmacêuticosemSiliconValleyparaainvestigação
e desenvolvimento global 24/7, bem como mais de dez projetos
deinvestimentosemcooperação,taiscomooedifício28Liberty,
uma referência em Nova Iorque; a St John, reputada marca
norte‑americana de vestuário feminino; o Studio 8, empresa
inovadora de cinema de Hollywood; e um conjunto de projetos
de capital de risco.
Durante a mesa‑redonda, Buffet e o “Buffet chinês” tiveram a
oportunidade de se encontrar pessoalmente e chegaram a um
consenso: o de continuar a ser otimistas em relação à economia
chinesa e o de continuar a aderir à disciplina de investimento
em valor.
53
f u l l c o v e r
GUO GUANGCHANG ENCONTRA‑SE COM O SEU MODELO DE REFERÊNCIA
EM MESA‑REDONDA DE CEOs NORTE‑AMERICANOS E CHINESES
11. 54
M D S m a g a z i n e
EUA
2013
2014
2015
28 Liberty
St. John
Studio 8
MIG
Ironshore
Ambrx
NoMad Luxury
Residential Tower
(Madison Avenue,
Nova Iorque)
Lloyds Chambers
Thomas Cook
RPIM
Silver Cross
Reino Unido
2013
2015
Itália
2013 Caruso
2015 Palazzo Broggi
Espanha
2014 Osborne
Portugal
2014 Fidelidade
Luz Saúde
REN
Canadá
2015 Circe du Soleil
FOSUN, as
oportunidades
de negócio a
nível global
IlustraçãoporJoséCardoso
12. 55
f u l l c o v e r
Israel
2013 Alma Lasers
Grécia
2011 Folli Follie
Malásia
2014 Secret Recipe
Japão
2014 IDERA
Nota:Asempresaseosprojetosmencionadosincluemosinvestimentos
feitospelaFosun,pelassuassubsidiáriaseporfundosquegere
Austrália
2014 ROC OIL
73 MILLER STREET
Alemanha
2014 Tom Tailor
2015 H&A
França
2010 Club Med
13. 56
M D S m a g a z i n e
ENTREVISTA A LAN KANG
O grupo Fosun, um conglomerado de empresas chinês, irrompeu
no mercado de seguros europeu e internacional em 2014
quando adquiriu a Fidelidade, segurador líder em Portugal. Esta
aquisição foi rapidamente seguida por grandes investimentos
nas companhias de seguros de especialidade internacionais: a
Ironshore, sediada nas Bermudas, e a Meadowbrook, dos Estados
Unidos. Estes investimentos internacionais vêm juntar-se à
carteira de investimentos em seguradores chineses da Fosun.
A fullcover entrevistou Lan Kang, vice‑presidente do grupo
Fosun e presidente do Fosun Insurance Group, para saber mais
sobre os planos do grupo para o mercado de seguros português
e internacional e como se enquadra esta aquisição na estratégia
mais ampla de rápido crescimento do grupo.
A visão estratégica
de um grupo
verdadeiramente
global
14. 57
f u l l c o v e r
Quais são os objetivos do vosso investimento
e da vossa estratégia?
No que diz respeito às oportunidades de investimento,
aquilo que é mais importante considerar é a forma como
podemos criar valor através dos nossos investimentos.
Hoje em dia, num momento em que o capital se está a
tornar numa “commodity”, temos de pensar na razão por
que outras empresas escolherão o nosso investimento
em vez de outros e na forma como poderemos
acrescentar valor ao capital que providenciamos.
Focamo‑nos em três áreas de investimento: saúde,
bem‑estar e riqueza pessoal. Já construímos as
nossas vantagens competitivas no setor da saúde e
do bem‑estar. Por exemplo, a Fosun Pharma é uma
das principais empresas farmacêuticas da China.
Adquirimos o United Family Healthcare, o hospital
mais sofisticado da China. Além disso, investimos
em alguns projetos de “Internet + serviços de saúde”,
como o Guahao.com. No ano passado, concluímos a
privatização do Club Med, o grupo francês de complexos
turísticos, cujo potencial para expansão global
acreditamos ser elevado. O nosso investimento no
setor dos serviços financeiros, em especial no setor dos
seguros, também permite uma preservação da riqueza
a longo prazo para os nossos clientes.
Lan Kang, Vice Presidente do grupo Fosun e Presidente do Fosun Insurance Group.
Temos de fornecer os
recursos que são necessários
e criar sinergias entre todas
as empresas do nosso
portefólio. Temos também
de construir uma “corporate
governance” e sistemas
de gestão do risco fortes e,
claro, atrair e desenvolver
talentos locais.
AFosunfoifundadaem1992.Podepartilharconnosco
comosetornouaempresanumdosmaiores
conglomeradoschinesesnumperíodotãocurto?
O rápido crescimento da Fosun nas últimas duas
décadas tem vindo a ser construído em grande parte
com base no tremendo crescimento da economia
chinesa, bem como nas decisões estratégicas que a
empresa tem vindo a tomar ao longo do tempo, igual‑
mente importantes para o seu sucesso. Tendo criado a
empresa em 1992, pouco depois de se terem licenciado,
os fundadores do grupo Fosun começaram a ativi‑
dade na área da pesquisa de mercado e dos serviços de
consultoria com pouco capital investido. Conseguiram
acumular algum capital e depois de verificarem que
a China se encontrava num período de rápida urbani‑
zação, entraram na área do imobiliário e também da
saúde. Além disso, o investimento na indústria transfor‑
madora e nos recursos revelou‑se muito bem‑sucedido,
graças ao rápido desenvolvimento do setor de infraes‑
truturas na China.
A partir de 2008, à medida que o motor económico da
China se transferia da industrialização e urbanização
para o consumo e finanças pessoais, a Fosun continuou
a investir “combinando a dinâmica de crescimento da
China com os recursos globais”.
15. 58
M D S m a g a z i n e
Por um lado, dadas as elevadas capacidades da Fosun
no âmbito da gestão dos setores da saúde, do bem‑estar,
do imobiliário e da riqueza, o grupo pode ajudar
as companhias de seguros a explorar sinergias no
desenvolvimento e na otimização da distribuição de
produtos, com uma plataforma financeira integrada e
em várias outras áreas.
Por outro lado, podemos ajudar a melhorar a gestão
dos ativos e passivos e do portefólio de investimento da
companhia de seguros alavancando‑a com as excelentes
capacidades de investimento da Fosun.
Além disso, no que respeita às companhias de
seguros estrangeiras, a Fosun pode acrescentar valor
combinando a dinâmica chinesa com os recursos globais.
AFosunestáempenhadaemajudarascompanhias
desegurosdoseuportefólioamelhorarosresultadosda
subscriçãoatravésdeumenfoquenaexcelênciaoperacional,
areforçarosbalançoseaaumentaracompetitividadeno
mercadopormeiodaevoluçãoedainovação.
Desta forma, apenas quando a parte operacional dos
seguros é sólida e rentável é que é possível utilizar o fluxo
de longo prazo para alcançar melhores retornos sobre o
investimento.
Porqueentrouaempresanomercadosegurador,queé
tãocompetitivo,ecujospreçosestãoembaixaacentuada,
especialmentenosegmentoNãoVidadeempresas?
É verdade que os mercados globais de seguros, especial‑
mente os mercados desenvolvidos, estão a enfrentar uma
competição feroz e excedentes de capitais alternativos.
No entanto, a distância entre as grandes empresas e as
empresas medíocres é enorme. O nosso trabalho consiste
em identificar oportunidades de investimento de valor,
não obstante as condições de mercado difíceis, e criar
valor depois do investimento.
Por exemplo, os seguros especializados superaram
os outros segmentos de negócio nos Estados Unidos
nos últimos anos. A Ironshore, um player com forte
presença nesse segmento, parece‑nos uma oportunidade
interessante e única para o grupo.
Acreditamos que bases sólidas, conhecimento e
experiência de subscrição e uma equipa de gestão
talentosa são cruciais para o sucesso de uma companhia
de seguros. Pode‑se dizer com algum orgulho que
todas as companhias de seguros estrangeiras do nosso
portefólio foram financeiramente rentáveis em 2015.
Porque decidiu a Fosun expandir‑se além da Ásia e
alargar a atividade na área dos seguros? Porque não
concentrar‑se em mercados mais próximos?
Na verdade, não temos restrições no que respeita a áreas
geográficas. Selecionamos as melhores oportunidades
que se enquadrem na estratégia da Fosun. Em 2014, foi
a Fidelidade em Portugal e, em 2015, investimentos na
Quais são os critérios de seleção para os vossos
projetos de investimento?
No que respeita aos projetos de seguro, temos dez dire‑
trizes para o investimento, nomeadamente:
1. liderança de mercado no segmento;
2. equipa de gestão de grande qualidade;
3. uma boa combinação de volume de ativos e capaci‑
dade operacional;
4. custo do passivo relativamente baixo;
5. uma avaliação razoável;
6. gestão do risco prudente;
7. oportunidade de mercado;
8. aquisição de posição de controlo acionista;
9. potencial de melhoria no que respeita aos ativos;
10. sinergias com o grupo Fosun e as empresas do seu
portefólio. Para nós, cada projeto é único. Avaliamos
sempre cada projeto de forma abrangente e rigorosa
tendo em conta, embora não exclusivamente as dire‑
trizes acima referidas.
Quais são os grandes desafios que a Fosun enfrenta
nos investimentos que faz no estrangeiro, por
exemplo, na Fidelidade, Ironshore e Meadowbrook?
Para este tipo de investimentos no estrangeiro, é neces‑
sário um conhecimento profundo da realidade local e
a capacidade de aceder às melhores oportunidades de
investimento. Este é um fator crucial, uma vez que existe
uma concorrência crescente que leva à subida dos preços.
É também necessário confiar nos reguladores estran‑
geiros e compreendê‑los, sendo a complexidade da gestão
do risco cada vez maior.
Quais são os princípios orientadores quando estão a
lidar com as empresas do vosso portefólio?
É preciso selecionar e/ou construir uma equipa de lide‑
rança com forte empreendedorismo e capacidade de esta‑
belecimento de parcerias. Temos de fornecer os recursos
que são necessários e criar sinergias entre todas as
empresas do nosso portefólio. Temos também de cons‑
truir uma corporate governance e sistemas de gestão do
risco fortes e, claro, atrair e desenvolver talentos locais e
proporcionar‑lhes uma plataforma global através da qual
possam crescer.
Porque escolheu a Fosun o mercado de seguros como
um dos mercados‑chave? De que forma este mercado
se enquadra nas restantes atividades do grupo?
O setor segurador é o melhor canal para combinar o
conhecimento único da Fosun em investimentos e na
indústria com capital estável e a longo prazo.
16. 59
f u l l c o v e r
Ironshore e na Meadowbrook nos Estados Unidos.
É possível que, em 2016, venha a haver uma empresa da
Fosun com um desempenho acima da média na Ásia ou
noutra região do mundo. Mas nós não negligenciámos
o nosso mercado doméstico. As nossas companhias de
seguros da China e as companhias de resseguros em
Hong Kong têm sido geridas por equipas de profissionais
de seguros qualificados e os resultados têm sido bons.
Pode explicar‑nos a importância da Fidelidade
para a estratégia da Fosun?
Sendo o nosso primeiro investimento na área dos seguros
fora da Ásia, a Fidelidade abriu um novo capítulo no
grupo Fosun. Olhando apenas para os números, em 2014,
os ativos da Fosun tinham aumentado 13 mil milhões de
euros com a aquisição da Fidelidade. E todos sabemos
que existe muito mais valor intrínseco além dos números.
A Fidelidade é uma plataforma estratégica na Europa
que ajuda a Fosun a combinar melhor a dinâmica da
China com os recursos globais, a compreender melhor
as operações de seguros no contexto do regime Solvência II
e a implementar melhor a nossa estratégia central “Seguro
+ Investimento” de forma prudente e eficaz.
Nos últimos dois anos, a Fosun deu um forte apoio
à Fidelidade para que esta aumentasse os resultados
da subscrição e melhorasse o desempenho financeiro.
Compreendemos perfeitamente que, para os titulares
de apólices, a robustez financeira da companhia de
seguros é a maior prioridade. Estamos empenhados em
ajudar a Fidelidade a atingir um futuro sustentado e de
ainda maior destaque.
Como procura a Fosun as melhores oportunidades
para um crescimento rentável nos mercados de
seguros do mundo inteiro – por geografia ou por
segmento de negócio?
Mais do que geografias ou segmentos de negócio, vamos
estar atentos a companhias de seguros com lideranças
fortes, competitivas e com produtos e serviços inova‑
dores, bem como excelência operacional.
A Fosun ambiciona expandir‑se no espaço mais
amplo das empresas multinacionais de seguros
e, em caso afirmativo, quando? Irá a Ironshore ser
a principal plataforma para este negócio?
A resposta mais curta à primeira pergunta é sim; mas
vale a pena aprofundar. O nosso objetivo no setor segu‑
rador é construir uma holding global com capacidades
de gestão de seguros e investimento de primeiro plano.
Vamos continuar a procurar oportunidades globais de
investimento em seguros de alta qualidade tendo como
base as nossas rigorosas diretrizes de investimento e a
nossa gestão prudente do risco. Nunca iremos adotar uma
estratégia de crescimento que seja agressiva e irracional. •
Xangai, a cidade onde a tradição e a nova arquitetura coexistem.
LAN KANG
→ Lan Kang é vice-presidente e detém o pelouro de
recursos humanos da Fosun, além de presidente do Fosun
Insurance Group. Pertence atualmente ao concelho de
administração de seis companhias de seguros em que
a Fosun investiu, incluindo a Yong'na P&C Insurance
e a Pramerica Fosun Life Insurance, na China; a Peak
Reinsurance, em Hong Kong; o Meadowbrook Insurance
Group, nos Estados Unidos; a Ironshore, nas Bermudas;
e o grupo Fidelidade, em Portugal.
→ Antes de integrar o grupo Fosun, Lan Kang era senior
partner responsável pelos clientes, com foco em executive
search e desenvolvimento de liderança nos escritórios
da Korn/Ferry International na região da Grande China.
Trabalhou também quatro anos como consultora de gestão
nos escritórios da McKinsey & Company na região da Grande
China. Apoiou diversas multinacionais de referência e
empresas locais chinesas no desenvolvimento estratégico,
otimização operacional e gestão da mudança, além de ter
acumulado muita experiência em recrutamento de talentos
e no desenvolvimento organizacional.
→ Lan Kang viveu nove anos nos Estados Unidos, antes de
voltar à China em 2002, logo após de ter concluído cum
laude o seu MBA na Wharton School, Universidade da
Pensilvânia. Obteve também o bacharelato em Ciências,
na Universidade de Zhejiang, na China, e o mestrado em
Ciências , na Universidade de Tulane, nos Estados Unidos
da América.
17. 60
M D S m a g a z i n e
Jorge Magalhães Correia é o presidente da comissão
executiva das seguradoras Fidelidade, Multicare e Fidelidade
Assistance e do conselho de administração da seguradora
Universal Seguros (Angola). É ainda vice-presidente da
Associação Portuguesa de Seguradores e membro da The
Geneva Association. Conversou com a fullcover sobre a
Fidelidade, a estratégia de crescimento e desenvolvimento,
a relação com o novo acionista – a Fosun – e ainda a ligação
com a MDS.
1º INVESTIMENTO DA FOSUN NO SETOR SEGURADOR
Fidelidade:
de vento em popa
18. 61
f u l l c o v e r
Em entrevista a um jornal afirmou uma vez
“O que se espera de nós é que façamos num ano
o que fazíamos normalmente em três”. Tem
conseguido acompanhar esta pressão ao nível
dos resultados?
Foi uma expressão destinada a ilustrar o entusiasmo
que sentimos por parte dos nossos acionistas. Toda a
organização tem‑se adaptado rapidamente ao novo
enquadramento após a privatização, baseado em dois
acionistas fortes e que se complementam. Temos apro‑
veitado as oportunidades adicionais que esse contexto
nos traz, quer em termos de uma visão mais universal da
atividade seguradora, quer em termos de participação
em projetos transnacionais que acrescentam valor e
conhecimentos à empresa. Mas, fora disso, não tem
existido uma pressão acionista particular ao nível dos
resultados, os quais, aliás, têm permanecido na empresa
para fortalecer a sua capacidade de crescimento.
A cultura organizacional sofreu alterações?
Tirando a dimensão internacional antes referida, não
sofreu alterações significativas. Naturalmente há coisas
que mudaram, como termos mais de 150 colaboradores
a estudar mandarim voluntariamente. Ou como termos
uma “China Business Unit” a trabalhar em Portugal,
Angola, Moçambique, Espanha e França. Mas a cultura
da empresa e o modelo de gestão não mudaram. A
Fidelidade, com o seu âmbito atual, foi sempre uma
empresa de atitude privada, dinâmica e inovadora.
A primeira a introduzir o seguro de transportes em
Portugal, a primeira a comercializar seguros de vida e
também a primeira que emitiu uma apólice de acidentes
de trabalho. E vamos continuar a ser o principal motor
de inovação e progresso nos seguros em Portugal.
Os últimos números indicam que a Fidelidade viu
a sua quota de mercado reforçada, rondando os
30%. Este crescimento espelha já a nova filosofia
de gestão?
Como antes referi, não há uma nova filosofia de gestão.
Pelo contrário, a equipa está dar continuidade ao
trabalho de fundo iniciado antes da privatização. O que
mudou foi o mercado concorrente, que não pôde manter
a trajetória de continuada depreciação dos preços e
resultados. A Fidelidade, em praticamente todos os
ramo Não Vida, tem melhores indicadores de gestão que
a média do mercado: prémios médios mais elevados,
menores frequências de sinistros, menos sinistros em
curso, mais provisões e melhores níveis comprovados
de serviço. Se somarmos a tudo isto a força da sua marca
e uma rede de mediação muito profissional, não é de
admirar que ganhemos quota de mercado Não Vida
num novo ciclo de subscrição.
JORGE MAGALHÃES CORREIA
→ Iniciou a vida profissional como docente da Faculdade
de Direito de Lisboa. Foi dirigente da Inspeção‑Geral de
Finanças, da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários
e Advogado.
→ Desempenhou diversos cargos societários na área
financeira e seguradora, tendo sido nomeadamente
administrador e/ou presidente do conselho de
administração das seguradoras Mundial‑Confiança,
Fidelidade Mundial, Império Bonança e Via Direta.
→ Na área hospitalar foi administrador da USP
Hospitales (Barcelona) e administrador e posteriormente
presidente do conselho de administração da HPP –
Hospitais Privados de Portugal SGPS.
19. 62
M D S m a g a z i n e
Na área Vida será diferente. O ano de 2016 vai conhecer
alguma alteração da nossa estratégia e posicionamento,
pois concluímos que o novo regime de Solvência II
europeu penaliza e praticamente inviabiliza o desenvol‑
vimento dessa linha de negócio nos moldes atuais.
A Fidelidade é hoje a única empresa portuguesa a
atuar no mercado de capitais chinês. O que é que
isto poderá significar para o futuro da seguradora
e dos seus stakeholders?
Várias seguradoras internacionais, também presentes
em Portugal, obtiveram essa qualificação. Poucas
pessoas sabem que as autoridades chinesas fazem
uma análise muito pormenorizada dos candidatos,
análise que pode demorar meses ou anos. O facto de a
Fidelidade ter sido qualificada para operar no mercado
de capitais chinês é mais uma prova da sua capacidade
financeira e de gestão e devia ser um motivo de orgulho
para o país. É conveniente não esquecer que a China é
a segunda economia do mundo e a sua classe média vai
ser tão numerosa como a da União Europeia. Embora
qualificados para operar no mercado de capitais chinês
ainda não estamos a operar ao abrigo desse estatuto
porque as oportunidades de investimento não o têm
ainda justificado e precisamos aperfeiçoar alguns meca‑
nismos operacionais.
Temos assistido no mercado segurador português
a uma crescente concentração. Como perspetiva
este desenvolvimento?
Uma década de práticas tarifárias menos prudentes,
um contexto de taxas de juro próximas do zero e uma
economia com fracas perspetivas de crescimento
tornam inevitável o processo de concentração. Se acres‑
centamos a isso os desafios do regime Solvência II só
podemos concluir que este processo vai ser bastante
rápido. Estamos bastante satisfeitos por ter sido a
Fidelidade a marcar muito cedo o rumo deste processo
e termos atingido uma escala que nos permite sermos
relevante no mercado ibérico.
2016 ficará marcado também pela entrada em vigor
do Solvência II. Como é que encara este reforço de
exigência por parte do regulador?
O Solvência II representa, acima de tudo, capitais mais
elevados para o mesmo nível de risco, ou seja, mais
proteção para os segurados e maiores exigências para os
acionistas. O Solvência II traz melhorias significativas em
termos de gestão do risco e de obrigações de informação
e de gestão. Porém, também introduz novos conceitos
que podem ter impactos bastante negativos nalgumas
áreas de negócio, como o seguro de vida, cujo modelo
de negócio pode ficar, na sua essência, comprometido.
É conveniente recordar que as seguradoras Vida, com os
critérios que vigoraram até agora, foram um elemento de
estabilização dos mercados e de suporte às economias e
ultrapassaram a grave crise financeira que se iniciou em
2008 sem precisar de apoio dos contribuintes.
Como é que a Fidelidade se preparou para este
novo desafio?
A Fidelidade começou os trabalhos de preparação para
Solvência II em 2006, há quase 10 anos, com a criação da
Direção de Gestão de Risco, e tem hoje uma equipa alta‑
mente especializada que trabalha a full‑time para este fim.
Em 2014, precedendo a privatização, distribuímos quase
600milhõesdeeurosemdividendosacumuladosecapital,
o que naturalmente tornou essa adaptação mais exigente.
Por este motivo, e de uma forma prevista, foi realizado um
aumento de capitais próprios pelo valor de 520 milhões de
euros em 2015. Mas a volatilidade estrutural dos mercados,
em praticamente todas as áreas e geografias, somada à
regra de valorização dos ativos market‑to‑market, regra
A Fidelidade é a seguradora líder de
mercado em Portugal, registando
atualmente uma quota de mercado de
29,8%. A companhia está presente nos
vários segmentos de negócio da atividade
seguradora e beneficia da maior rede em
Portugal, marcando presença em vários
países, nomeadamente Angola, Cabo Verde,
Moçambique, Espanha e Macau.
PORTUGAL
PRÉMIOS GERIDOS
€3.768M
QUOTA DE MERCADO
29,8%
FIDELIDADE EM
NÚMEROS (2015)
20. 63
f u l l c o v e r
Estamos a trabalhar afincadamente na adaptação
tecnológica à 4ª Revolução Industrial, com experiências
bastante interessantes em “big data”, “digitization” e
plataformas online. As novidades irão aparecer
Como antevê o relacionamento com os brokers
de seguros no futuro?
Partindo de um bom nível de relacionamento, que
é o que temos agora, acredito que há espaço para o
melhorar, pelo que espero que seja mais intenso e
eficiente e criador de mais valor para as duas partes.
Como descreve a relação da Fidelidade com a MDS?
A Fidelidade e a MDS têm uma relação de longa data,
que remonta à década de 80, ao início da MDS. Ao longo
destas três décadas foi criado e fortalecido um verda‑
deiro espírito de parceria que tem permitido, em nossa
opinião, aportar valor a um conjunto importante de
clientes, através de soluções diferenciadoras em termos
de coberturas, gestão de risco e gestão de sinistros.
A nossa relação extravasa a área de intermediação de
seguros, estendendo‑se a outras áreas de colaboração
como a formação e o resseguro e está cimentada numa
relação pessoal de confiança e apreço mútuo em todos
os diversos níveis das estruturas.
Esta forma de trabalhar tem contribuído para a fideli‑
zação e estabilidade da carteira ao longo deste período.
O grupo Sonae tem, naturalmente, um peso significa‑
tivo na carteira da Fidelidade que, desde a origem deste
grupo, assegura as coberturas de Acidentes de Trabalho
e de Saúde. Mas a parceria existente com a MDS tem‑nos
permitido estar também presente junto de um conjunto
alargado de empresas de referência do panorama
empresarial português.
Quando pensamos em melhorias em termos de organi‑
zação, processos e produtos, pensamos sempre de que
modo tais alterações poderão contribuir para fortalecer
a relação e beneficiar os nossos parceiros de referência,
tanto em Portugal como noutros mercados externos em
que estaremos cada vez mais presentes e onde este tipo
de colaboração faz ainda mais sentido. •
que não faz sentido para uma atividade de longo prazo,
vai trazer para todas as empresas seguradoras Vida uma
permanente e insustentável pressão sobre o capital, que
aliás está a mudar a face do seguro na Europa.
A Fidelidade tem uma presença expressiva nos
mercados angolano e moçambicano. Qual a
estratégia do grupo para estes mercados?
Servir as famílias e as empresas de Angola e Moçambique
como as servimos em Portugal, com produtos adequados
às suas necessidades, a preços competitivos e com exce‑
lentes níveis de serviço. Aspiramos a ser um motor de
inovação e progresso da atividade seguradora nesses
países e a aproximar as novas classes médias do seguro.
Estamos a fazer o nosso percurso, mas não deixaremos
de olhar para possibilidades de crescimento desde que
se mostrem consistentes com os nossos padrões.
Aspiramos a ser um motor de inovação
e progresso da atividade seguradora em
Angola e Moçambique e a aproximar as
novas classes médias do setor segurador.
Enquanto líder de mercado a Fidelidade tem
sido pioneira em termos de desenvolvimento de
produtos e serviços inovadores. Destacaria algum
exemplo?
O seguro oncológico, por ser o último produto que
lançámos e pelo que implica ao nível do trabalho
conjunto de duas empresas do grupo, a Multicare e a Luz
Saúde. É um seguro que dá resposta integral ao desafio
do cancro e é inovador em todos os aspetos, começando
pela atenção que dá à prevenção da doença, aos capitais
seguros ou à atenção personalizada para cada caso.
Qual as principais linhas estratégicas de
crescimento para os próximos anos?
Esperamos crescer em todas as áreas de negócio Não
Vida, beneficiando da recuperação tarifária em curso
e da melhoria da nossa posição competitiva quando
comparada com a que tivemos nos últimos anos.
Osegurodesaúdecontinuaráaganharpesonoportefólio
daFidelidadeassimcomoasatividadesligadasàassis‑
tênciaeprestaçãodeserviçosemcorrelaçãodiretacomos
seguros.Eseremosumacompanhiamaismultinacional,
com20%a25%dosprémioscomorigemnoutrosmercados.