1. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA
– CAMPUS SALGUEIRO – CAMPUS SALGUEIRO
SEMANA DE AGROPECUÁRIA SEMANA DE AGROPECUÁRIA
OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA: MÚSICA PARA OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA: MÚSICA PARA
APRENDER APRENDER
PROFª APARECIDA BARROS PROFª APARECIDA BARROS
Construção
(Chico Buarque, 1971) Deus lhe pague
(ouça) (ouça)
(Chico Buarque, 1971)
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
E cada filho seu como se fosse o único A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
E atravessou a rua com seu passo tímido Por me deixar respirar, por me deixar existir
Subiu a construção como se fosse máquina Deus lhe pague
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Tijolo com tijolo num desenho mágico Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Seus olhos embotados de cimento e lágrima Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Sentou pra descansar como se fosse sábado Deus lhe pague
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Dançou e gargalhou como se ouvisse música Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado Deus lhe pague
E flutuou no ar como se fosse um pássaro Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
E se acabou no chão feito um pacote flácido Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Agonizou no meio do passeio público Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego cair
Amou daquela vez como se fosse o último Deus lhe pague
Beijou sua mulher como se fosse aúnica Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
E cada filho como se fosse o pródigo Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E atravessou a rua com seu passo bêbado E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Subiu a construção como se fosse sólido Deus lhe pague
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
Tijolo com tijolo num desenho lógico E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
Seus olhos embotados de cimento e tráfego E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Deus lhe pague
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo OBRIGADA!
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.
OBRIGADA!