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Revista da Fapese, v. 2. n.2, p. 23-36, jul./dez. 2006   23


         A Imprensa e o Ensino de Línguas no Século XIX:
         O caso da província de Sergipe (1843-1888)


         Luiz Eduardo Oliveira*




         O
Resumo

                objetivo deste artigo é analisar alguns anúncios de jornais
               relativos ao ensino de línguas, ou, mais propriamente, aos
               professores particulares de línguas que, divulgando publica-
         mente seus serviços aos pais de família da província de Sergipe,
         entre 1843 e 1888, constituem os principais agentes de uma prática
         pedagógica ainda muito pouco compreendida historicamente, uma
         vez que se realiza fora do contexto – ou do currículo – escolar. As-
         sim, ao invés de ser considerado como conteúdo ensinado num
         plano de estudos, o que implicaria sua constituição como discipli-
         na escolar, dado seu caráter necessariamente formativo, ou seu pa-
         pel formador no projeto de Instrução Pública do Estado português
         ou do Império brasileiro, o ensino de línguas é aqui visto como
         uma prática pedagógica de caráter instrumental, uma vez que tinha
         fins imediatos e funcionalidade prática, para além – ou aquém – de
         seu papel contributivo na formação de bons cristãos, súditos ou
         cidadãos.


         PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Línguas; Escolarização; Província
         de Sergipe.




         * Luiz Eduardo Oliveira é Mestre em Teoria e História Literária (UNICAMP),
           Doutor em História da Educação (PUC-SP) e professor do Departamento
           de Letras da Universidade Federal de Sergipe, além de coordenador do
           grupo de pesquisa “História do ensino das Línguas no Brasil”. E-mail:
           luizeduardo@ufs.br.
24    Luiz Eduardo Oliveira


1. O ensino das línguas estrangeiras modernas              construção de máquinas, seja pela importação maci-
   e o processo de escolarização                           ça de produtos ingleses, tais como ferro, vidro, lou-
                                                           ça, tecidos e roupas, ou pelos leilões dos pertences
   O ensino das línguas estrangeiras modernas, no          de funcionários ou capitalistas britânicos que deixa-
Brasil, é anterior ao processo de escolarização, algo      vam o país.
que se torna possível quando se configuram as con-
dições necessárias para o estabelecimento de rela-            É o que sugere um anúncio de “Professora Ingleza”
ções entre a forma escolar e outras formas sociais,        na Gazeta do Rio de Janeiro do dia 8 de fevereiro de
principalmente políticas: a constituição de um “tem-       1809, alguns meses antes da criação das primeiras
po” e de um “espaço” específicos, a divisão dos alu-       cadeiras públicas de francês e inglês, o que ocorre
nos em “classes”, a organização e codificação dos          com a Decisão n. 29, de 14 de julho do mesmo ano:
conteúdos ensinados – pelas gramáticas e manuais           “Na Rua dos Ourives n.º 27 mora huma Ingleza com
de “civilidades”, dentre outros compêndios – e a pro-      casa de educação para meninas que queirão apren-
dução das disciplinas escolares. É a partir dessa pers-    der a ler, escrever, contar e falar Inglez e Portuguez,
pectiva que podemos compreender o fato de existi-          cozer, bordar, etc.” Algum tempo depois, anunciava
rem professores de língua francesa na cidade do Rio        o padre Antonio de Figueiredo e Moura, no mesmo
de Janeiro antes mesmo de institucionalizar-se o en-       jornal, em 20 de janeiro de 1811, que tinha aberta à
sino daquelas línguas na América portuguesa, no            Rua do Senhor dos Passos “huma Casa de Educação”
início do século XIX.                                      na qual, além de gramática latina, ensinavam-se as
                                                           seguintes matérias: “Inglez, Arithmetica, Pintura,
    Com efeito, apesar de somente duas aulas públi-        Desenho e Rhetorica. Tudo pelo premio de 4 $ por
cas de língua francesa terem obtido licença do Sena-       mez” (apud Freyre, 2000, p. 266-268).
do da Câmara daquela cidade para funcionar no fi-
nal do século XVIII – 1788 e 1789, respectivamente            O sociólogo pernambucano segue citando anún-
–, é provável que, nesse mesmo período, algumas            cios publicados nos anos subeqüentes, tanto na Ga-
professoras e professores particulares, bem como           zeta do Rio de Janeiro quanto no Jornal do Comércio
preceptores ou governantas, nativos ou estrangeiros,       ou no Diário de Pernambuco, nos quais eram
leigos ou religiosos, dessem lições de francês a quem      divulgadas “Casas de instrução” para a mocidade de
quisesse prosseguir os estudos em alguma academia          um e outro sexo, onde havia lições das línguas lati-
ou universidade em Portugal – principalmente de-           na, francesa e inglesa, a maioria delas regida por pro-
pois da reforma da Universidade de Coimbra, em             fessoras estrangeiras; métodos de ensino como o de
1772 – ou em outros países da Europa, como deixa           Joseph Lancaster (1778-1838); o Tratado da educa-
entrever a biografia de algumas figuras notáveis de        ção physica moral dos meninos, de Mr. Gardien,
então (Oliveira, 2006).                                    “cheio de novidades não só francesas como inglesas
                                                           de pedagogia”; e até um “Collegio Inglez”, em 1827,
    Quanto aos professores de língua inglesa, os pri-      cujo plano de estudos abrangia inclusive a escritura-
meiros registros datam de 1809 em diante, um ano           ção mercantil:
depois da abertura dos portos do país ao comércio
britânico. Para Gilberto Freyre (2000, p. 265), os con-         Linguas Latina, Portugueza, Ingleza,
tatos entre Brasil e Inglaterra, depois da chegada da           Franceza, e Hespanhola, grammaticalmen-
família real e da abertura dos portos ao comércio es-           te, Historia e Geografia, Logica, Rhetorica
trangeiro, não se restringiram a relações econômicas            e Elocução Escripta, Arithmetica, e Escri-
e comerciais, havendo também significativas “influ-             turação de livros por partidas dobradas,
ências e trocas culturais”, seja pela presença, no país,        Algebra e Geometria, Dezenho e Dança
dos engenheiros e técnicos ingleses envolvidos na               (apud Freyre, 2000, p. 269).


                                                                        Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          25


    Mas o Reino Unido da Grã-Bretanha não era o              Não é por acaso, portanto, que durante o que cha-
único país de língua inglesa com o qual o Brasil man-    mo de primeira fase da institucionalização do ensi-
tinha relações durante o período joanino, tendo os       no de línguas estrangeiras no país (Oliveira, 2006),
comerciantes brasileiros, ou portugueses radicados       que comporta o governo joanino e do seu filho, bem
no Brasil, que lidar constantemente, em negociações      como o período regencial, estendendo-se até 1837,
formais ou ilegais, com falantes de sotaque norte-       ano em que foi criado o Colégio de Pedro II, primeiro
americano. Contudo, a presença de norte-america-         estabelecimento oficial de instrução secundária,
nos envolvidos com o ensino da língua inglesa, pelo      aquelas línguas tenham uma finalidade eminente-
menos na corte, só vai se fazer notar de forma evi-      mente instrumental, uma vez que seu estudo se jus-
dente algumas décadas mais tarde, depois de inicia-      tifica como meio de acesso a um conhecimento tido
da a ação das congregações de certos ramos do pro-       então como “scientifico” e professado, às vezes, por
testantismo daquele país, especialmente o                “lentes” estrangeiros, os quais usavam compêndios
presbiteriano (Hilsdorf, 2000), de acordo com os         escritos em língua francesa ou inglesa, seja nas aca-
anúncios dos professores particulares daquela lín-       demias militares, nos cursos médico-cirúrgicos, nas
gua nos Almanaques Laemmert da década de 1840,           aulas de comércio e agricultura ou nos cursos jurídi-
a maioria de origem inglesa, como fazia questão de       cos, centros formadores da sociedade civil, ou da elite
frisar George Gibson, “natural de Londres”, em anún-     local, que excluía todos os que não fossem “cidadãos”,
cio de 1851, segundo o qual dava “lições de lingua       conforme a interpretação à época corrente do artigo
ingleza pelo methodo de T. Robertson por collegios       sexto da Constituição de 1824: os escravos e os ho-
e casas particulares”, tendo sempre em sua residên-      mens livres e despossuídos.
cia, à Rua do Cano, 163, “differentes classes em
exercicio, tanto em prosa, como em verso, segundo o          Embora a Decisão n. 29, ao dispor sobre a “materia
adiantamento dos discipulos”. Tal não era o caso de      do ensino”, mandasse que os professores habilitas-
Manoel Rabello, ex-professor de língua inglesa e es-     sem seus discípulos em “bem fallar e escrever” pe-
crituração mercantil no “Lyceo de Nitcheroy”, que        los “melhores modelos do seculo de Luiz XIV” e em
anunciava que era “antigo residente de Londres”          conhecer, nas traduções, “o genio, e idiotismo da
(Oliveira, 2006).                                        lingua, suas belezas e elegâncias e o “estylo e gosto
                                                         mais apurado e seguido”, sugerindo assim uma es-
    Assim, ao contrário do que ocorreu com a língua      pécie de abordagem estética, bem como a fixação de
latina, a instituição do ensino de línguas estrangei-    um valor cultural, no ensino daquelas línguas – algo
ras modernas, no Brasil, não corresponde, como           já alcançado pelo latim, tido até então como “base
já foi assinalado, a um processo de escolarização,       de todas as Sciencias”, como dizia o preâmbulo do
pois não se confunde, como pensava Chagas (1967,         alvará com que Pombal expulsou os jesuítas de Por-
p. 103), com a “história da própria escola secun-        tugal e seus Domínios, em 1759, e em parte pelo fran-
dária brasileira”. Nesse sentido, antes de ser consi-    cês, considerado à época uma “lingua universal” –, a
derado como conteúdo ensinado num plano de es-           criação de tais cadeiras atendia à necessidade que
tudos, o que implicaria sua constituição como disci-     tinha o governo joanino de preparar candidatos aos
plina escolar, dado seu caráter necessariamente          “estudos maiores”, ou superiores, os quais exigiam
formativo, ou seu papel formador no projeto de Ins-      que o aluno soubesse traduzir pelo menos a língua
trução Pública do Estado português ou do Império         francesa para cursá-los.
brasileiro, o ensino das “línguas vivas” deve ser vis-
to como uma prática pedagógica de caráter instru-           Ao lado dessa finalidade instrumental, caracteri-
mental, uma vez que tinha fins imediatos e funciona-     zada pelo seu caráter ilustrado, uma vez que dava
lidade prática, para além – ou aquém – de seu papel      acesso à produção intelectual das nações cultas da
na formação de bons cristãos, súditos ou cidadãos.       Europa, havia também, no caso da língua inglesa,


                                                                      Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
26    Luiz Eduardo Oliveira


uma finalidade utilitária, a qual se fazia valer num     dos somente com um regulamento de 1854, assina-
momento em que o país tinha acabado de abrir seus        do pelo ministro Couto Ferraz, uma vez que as difi-
portos ao comércio estrangeiro, especialmente o in-      culdades e problemas ocasionados pela falta de pro-
glês, que, impedido pelo bloqueio continental im-        fessores e pelos conflitos de competência legislativa
posto por Napoleão, precisava de outros mercados         entre o governo central e as províncias inviabilizavam
para sua própria sobrevivência, obtendo condições        sua implementação. Dessa forma. as duas línguas,
bastante vantajosas no tratado entre as coroas portu-    pelo menos até a década de 1860, eram ensinadas
guesa e britânica, no qual esta negociou a proteção      pelo mesmo professor nas aulas preparatórias ane-
de D. João, em sua fuga das investidas e ameaças do      xas àqueles cursos (Oliveira, 2006).
imperador francês, em troca do quase monopólio do
mercado brasileiro. Disso testemunham muitas gra-           O objetivo deste artigo é analisar alguns anúnci-
máticas inglesas publicadas no período, em seus pre-     os de jornais relativos ao ensino de línguas estran-
fácios e sobretudo nos textos utilizados nos exercíci-   geiras modernas, ou, mais propriamente, aos profes-
os, a maioria dos quais é composta de letras de câm-     sores particulares daquelas línguas que, divulgando
bio e correspondências comerciais, bem como a pre-       publicamente seus serviços aos pais de família da
ocupação que tinha o governo em criar lugares de         província de Sergipe, entre 1843 e 1888, constituem
intérprete e tradutor nos portos de várias províncias    os principais agentes de uma prática pedagógica ain-
e nas secretarias de algumas repartições públicas        da muito pouco compreendida historicamente, uma
(Oliveira, 2005).                                        vez que se realiza fora do contexto – ou do currículo
                                                         – escolar. Para tanto, me vali principalmente de
   Quanto ao seu processo de constituição como dis-      “Anúncios de serviços e mercadorias nos jornais ser-
ciplina escolar, se considerarmos seus quatro com-       gipanos do século XIX”, monografia apresentada por
ponentes principais – a saber: o conteúdo explícito      Marcos Aurelo Alves Santos em 2004 à disciplina
do conhecimento; a bateria de exercícios; a motiva-      Prática de Pesquisa, ministrada pelo Prof. Dr. Fran-
ção dos alunos e os exames (Chervel, 1990) –, o nú-      cisco José Alves, do Departamento de História da
cleo da disciplina, composto pelos dois primeiros,       Universidade Federal de Sergipe.
constitui-se nessa primeira fase, uma vez que sua
parte teórica ou expositiva encontra-se já formula-
da, baseada que é na gramática latina, cujos termos e    2. O caso da província de Sergipe
classificações são também usados no estudo das lín-
guas estrangeiras modernas. Os exercícios, da mes-          Se a carência de pessoas hábeis no conhecimen-
ma forma, centrados inicialmente na leitura, pronún-     to das línguas francesa e, principalmente, inglesa
cia, tradução, versão e composição, tinham como          existia mesmo nas províncias que sediavam os cur-
suporte uma longa tradição, pois a Decisão de 1809       sos jurídicos, a situação não seria diferente nas de-
mandava que os professores seguissem, quanto ao          mais localidades, como se vê pelo quadro estatísti-
“tempo”, “horas das lições” e “attestações” do apro-     co das aulas menores públicas oferecido pelo mi-
veitamento dos discípulos, o mesmo que se achava         nistro Antonio Pinto Chichorro da Gama em seu
estabelecido, “e praticado”, pelos professores de gra-   relatório de 1834, segundo o qual havia apenas uma
mática latina.                                           cadeira de inglês, situada na província da Bahia, e
                                                         dez de Francês efetivamente providas, uma em
    Os exames, que são um componente fundamen-           Sergipe, Alagoas, Maranhão e São Pedro do Rio
tal no processo de constituição de uma disciplina        Grande do Sul e seis na Bahia. Mesmo no municí-
escolar, apesar de terem sido instituídos com a cria-    pio da corte só existia uma aula pública de francês,
ção dos cursos jurídicos – os de francês em 1827 e os    com 24 alunos, e outra de inglês, com 5 (BRASIL,
de inglês com a reforma de 1831 –, foram consolida-      1834, p. N. 8).


                                                                      Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          27


   Como se vê pelos dados oficiais, era mínima a          do cuidado com a “verdadeira pronúncia” das pala-
quantidade de cadeiras púbicas de línguas estran-         vras, tal como determinava a Decisão n. 29:
geiras modernas nas províncias do Império. O mes-
mo não pode ser dito a respeito dos professores par-           Os examinadores arguirão os examinan-
ticulares de línguas, a contar pela quantidade de              dos, nos limites das materias do exame, e
anúncios que podem ser encontrados nos jornais de              sôbre tudo no que fôr necessario para po-
qualquer província. Vejamos o caso da província de             derem formar seu juizo sôbre o merito
Sergipe. Em 20 de dezembro de 1843, pelo Correio               delles, não exigindo nos exames das linguas
Sergipense de Aracaju, o clérigo Thomaz da Costa               o conhecimento da verdadeira pronuncia
Pinto fazia público aos pais de família que quises-            dellas; nem no de arithmetica as theorias
sem “mandar ensinar aos Srs. Filhos da Língua                  de progressões, e logarithmos; e quanto á
Franceza, isto he, não a fallar, mas sim a traduzir e a        geometria, limitando-se á geometria pla-
compor”, que lhe procurassem à Rua do Rosário para             na (BRASIL, 1877).
com ele ajustarem-se, uma vez que pretendia abrir
“Aula” no dia 4 de fevereiro, das três às cinco da tar-       Assim, era providencial a observação do clérigo,
de (apud Santos, 2004).                                   no jornal sergipano, de que ensinaria aos filhos dos
                                                          pais de família somente a traduzir e a compor, isto é,
    Note-se que o professor, que também era religio-      a escrever sobre determinados “temas”, mas não a fa-
so, como boa parte dos professores de línguas no          lar, habilidade considerada à época desnecessária. Não
Império brasileiro – desde os padres René Boiret,         devia ser diferente o caso de Tito Augusto de Andrade,
professor público de francês da corte, e João Joyce,      que oferecia, no Correio Sergipense de 3 de dezembro
professor de inglês, ambos nomeados em 1809 com           de 1853, seus serviços de professor de gramática lati-
o ordenado de 400$000 réis por ano (Almeida,              na, francês e geometria pelo preço de 2.000 réis men-
2000:42) –, não se propunha a ensinar a “fallar”, mas     sais, predispondo-se ainda a habilitar qualquer pes-
somente a “traduzir e a compor”, únicas habilidades       soa que quisesse opor-se a alguma cadeira de primei-
necessárias nos exames de preparatórios de línguas,       ras letras pela quantia de 8.000 mensais adiantados,
tal como determinava o artigo primeiro do Capítulo        ou de Francisco Serafim de Miranda Moura, que pro-
II da Lei de 11 de agosto de 1827, que fundou os dois     metia, no mesmo jornal, em 14 de janeiro de 1854,
cursos de ciências jurídicas e sociais do Império, um     abrir em casa de sua residência aula de latim, francês
na cidade de São Paulo e outro na de Olinda:              e inglês pelo mesmo valor do seu concorrente, ou ain-
                                                          da do padre Cypriano Lopes da Fonseca, que leciona-
     Os examinadores haver-se-ão nos exames               va latim, francês, retórica e filosofia na Rua Direita do
     das linguas perguntando pelos preceitos              Rosário, de acordo com o Correio Sergipense de 3 de
     geraes de grammatica de cada uma delas,              janeiro de 1855 (apud Santos, 2004).
     em que fôr feito o exame, e fazendo tradu-
     zir os melhores livros em prosa, e verso,                Ainda em 1855, o presidente da província de
     por ser este o meio de se conhecer                   Sergipe, o Dr. Ignacio Joaquim Barboza, em seu rela-
     exactamente o aproveitamento dos exami-              tório, referia-se à Resolução n. 398, de 21 de junho
     nandos na intelligencia da mesma lingua              do ano anterior, criando nas cidades de Laranjeiras e
     (BRASIL, 1878).                                      Estância as cadeiras de filosofia, francês, geometria
                                                          e geografia e história, no que enfatizava o artigo quin-
   Com a publicação dos novos Estatutos dos cur-          to da referida lei, autorizando o governo da provín-
sos jurídicos, pelo Decreto de 7 de novembro de 1831,     cia a contratar o estabelecimento de um “Collegio”
o conteúdo das matérias foi simplificado, sendo os        em cada uma das ditas cidades, no intuito de reunir
examinadores, nos exames de línguas, desobrigados         as aulas avulsas num mesmo prédio:


                                                                       Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
28    Luiz Eduardo Oliveira


     Segundo a organisação, que dei á esses               o objetivo principal de tais serviços era, muito pro-
     collegios pelo seo contracto e Regulamen-            vavelmente, a habilitação de candidatos para os exa-
     to, elles não são nem absolutamente parti-           mes de preparatórios, razão porque os professores
     culares, nem absolutamente publicos ou               ensinavam, juntamente com as “primeiras letras”, as
     officiaes. Reunindo na casa do seo collegio          matérias exigidas naqueles exames. Mas os profes-
     as aulas publicas de Latim, Francez,                 sores que lecionavam no Aracaju daqueles tempos
     Philosophia, Geometria, e Geographia e               não enfrentavam somente uma concorrência local,
     Historia, além das aulas de Dança e                  ou interna, pois havia também aqueles que, residin-
     Muzica que é obrigado a entreter á sua               do na Bahia ou em Recife, cidades que sediavam duas
     custa, o Emprezario se sujeita á dar um              das principais academias do Império – os cursos mé-
     Externato publico e gratis sem distincção            dico-cirúrgico e jurídico, respectivamente –, se pro-
     de disciplinas, e um Internato particular e          punham a preparar os filhos dos pais sergipanos que
     pago com pensões e meias penções [sic]               pretendessem encaminhá-los àquelas faculdades.
     pelo preço, porque se ajustar com os inte-
     ressados, ficando quer á um, quer á outro               Era o caso de Joaquim Barbosa Lima, professor
     respeito, subordinado á Inspetoria Geral             particular de inglês e francês e acadêmico do tercei-
     das Aulas (SERGIPE, 1855, p. 11).                    ro ano da Faculdade de Direito do Recife, que no
                                                          Correio Sergipense de 8 de julho de 1857 anunciava
   Trata-se, neste caso, de uma proposta inovadora        aos pais sergipanos que recebia em sua casa, por um
diante da política de centralização da Instrução Pú-      “preço commodo”, os filhos que quisessem seguir
blica promovida pelos Saquaremas – os membros do          carreira jurídica, garantido-lhes todas as comodida-
Partido Conservador –, que nesse periodo gozavam          des, boa mesa, “promptos remedios”, inclusive la-
de uma indisputável supremacia na Câmara dos De-          vando e engomando as roupas dos estudantes pelo
putados (Carvalho, 2003), pois previa a instituição       preço que se ajustasse. O professor advertia ainda
de estabelecimentos financiados por empresários, em       que os pais não deveriam deixar de enviar seus fi-
parceria com o Estado, uma vez que aqueles estari-        lhos com receio de expô-los a moléstias ou à falta de
am obrigados a dar um “Externato publico e gratis         aplicação, pois ele seria responsável por todo o tra-
sem distincção de disciplinas”, além de manter um         tamento necessário aos discípulos, não restando mais
internato particular por conta própria.                   cuidado algum para seus pais (apud Santos, 2004).

   No Correio Sergipense de 27 de fevereiro de 1856,          Vê-se que se trata não de um padre, mas de um
Manoel Odorico Mendes de Amorim, diretor do Co-           acadêmico de direito que, pela sua própria experiên-
légio Público de Laranjeiras, anunciava que, além das     cia, tinha condições de repassar para os candidatos
disciplinas ensinadas no ano anterior, ofereceria uma     a legistas as habilidades ou aprendizagens necessá-
aula de primeiras letras e cursos de álgebra, inglês e    rias para seu ingresso nas arcadas da prestigiosa aca-
retórica. Com nove anos de magistério, o diretor          demia. Ademais, é preciso levar em conta que a “ci-
mostrava-se persuadido de que os pais de família          dade do Aracajú”, por essa época, ainda não apre-
dariam seu apoio para o progresso do estabelecimento      sentava as condições infraestruturais necessárias para
a seu cargo, desenvolvendo na mocidade da provín-         sediar um estabelecimento de ensino de grande por-
cia o “gosto das lettras” (apud Santos, 2004).            te, não sendo considerada nem mesmo um “centro
                                                          de população”. No relatório de 1858, apresentado
   Convém lembrar que, apesar de certos anúncios,         pelo Dr. João Dabney d’Avellar Brotero, presidente
como é o caso deste último, buscarem enfatizar o          da província sergipana e depois diretor da Faculda-
caráter formativo, ou civilizatório, dos serviços pres-   de de Direito de São Paulo, havia já um esforço, tam-
tados, desenvolvendo nos jovens o “gosto das lettras”,    bém visível nas outras províncias, em organizar os


                                                                       Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          29


dados estatísticos referentes à instrução primária.     sões, o conhecimento das “línguas vivas”, especial-
Quanto à secundária, o presidente discordava das        mente do francês e do inglês, era obrigatório, seja
idéias do Inspetor Geral Euzébio de Queiroz (1812-      como matéria regular dos planos de estudos, seja
1868), que propunha a supressão dos internatos de       como requisito de matrícula, constituindo assim uma
Laranjeiras e Estância e a criação de “um Lyceo ou      espécie de saber especialmente destinado a uma clas-
Gymnasio Central na Capital”, defendendo a              se privilegiada de pessoas: aquelas que seriam ativas
“patriotica idéa” do ex-Presidente Inácio Barboza:      no processo de formação do Estado Imperial.

     Quanto a creação de um Lyceo ou                        A partir da década de 1860, algumas outras pro-
     Gymnasio central no Aracajú entendo que            fissões foram sendo regulamentadas por lei, passan-
     as rasões, aliás muito plausiveis, que me-         do a exigir em seus concursos de admissão o conhe-
     lindram em favor da centralisação do en-           cimento das línguas estrangeiras, juntamente com o
     sino superior, são n’este caso improceden-         da “língua nacional”. Tais foram os casos dos lugares
     tes, porque a nova Capital não é nem será          das Tesourarias de Fazenda, dos agrimensores,
     por alguns annos um centro de população,           amanuenses, engenheiros de minas, secretários das
     nem offerece nem uma das condições                 instituições literárias ou científicas – bibliotecas,
     proprias para tal estabelecimento; estan-          colégios, faculdades, jardins botânicos, observatóri-
     do eu convencido que os actuaes interna-           os, gabinetes, etc – e vários ofícios de Justiça. Aos
     tos virão a ser muito mais fecundos em re-         artistas formados na Academia das Belas Artes, exi-
     sultados do que tal Lyceo ou Gymnasio cen-         giu-se o conhecimento das línguas estrangeiras so-
     tral no Aracajú (SERGIPE, 1858, p. 35).            mente a partir do Decreto n. 983, de 8 de novembro
                                                        de 1890 (BRASIL, 1890e), dando novos estatutos ao
   Mesmo assim, não deixavam de aparecer nas pá-        estabelecimento, o qual passou a chamar-se Escola
ginas do Correio Sergipense professores de línguas      Nacional de Belas Artes. Quanto aos intérpretes e
estrangeiras modernas anunciando seus serviços,         tradutores juramentados das Praças do Comércio,
como José Rodrigues dos Santos, que em 11 de se-        embora a profissão fosse regulamentada, sua forma-
tembro desse mesmo ano de 1858 se propunha a            ção não chegou a ser objeto de lei, motivo pelo qual
ensinar francês nas horas vagas por um “preço           seus lugares eram preenchidos por nomeação, e não
commodo”, prometendo envidar meios para que os          por concurso público.
aprendizes adiantassem na referida língua (apud
Santos, 2004).                                             Mesmo tendo as línguas estrangeiras modernas
                                                        alcançado um estatuto literário e depois até científi-
                                                        co, ou “pratico”, nos planos de estudos do Colégio
3. As novas profissões e o ensino prático das           de Pedro II e dos estabelecimentos de instrução se-
   línguas                                              cundária – principalmente os internatos – que o to-
                                                        mavam como modelo, a preponderância dos exames
   Eram poucas as opções profissionais existentes       gerais de preparatórios e a regulamentação daquelas
no Império para aqueles que tinham meios de in-         profissões fizeram com que seu ensino, em sua mai-
gressar num curso superior e concluí-lo: poderiam       or parte, permanecesse limitado à sua finalidade ins-
ser legistas, encaminhando-se na política, magistra-    trumental, que assumiu, dessa forma, um novo as-
tura ou advocacia, padres, médicos ou engenheiros,      pecto. Antes, o conhecimento das “línguas vivas”
militares ou civis, havendo ainda a possibilidade de    justificava-se como uma importante via de acesso às
ingressar na carreira comercial, farmacêutica, no       “luzes do seculo”, que se confundiam com o que se
magistério – secundário, se bacharel, ou superior, se   entendia por “Sciencia”. Dessa forma, as finalidades
doutor – e no serviço público. Em todas essas profis-   do ensino podiam ser claramente definidas pela ne-


                                                                     Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
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cessidade de entendimento e tradução dos compên-         sas relações sociais”, as matérias ensinadas – latim,
dios estrangeiros usados nas aulas e cursos superio-     francês e português – tinham uma finalidade
res, como no período joanino, embora a Decisão de        marcadamente instrumental, pois o vigário se pro-
1809 procurasse dotá-las de um estatuto cultural.        punha a preparar os discípulos para que eles pudes-
Agora, porém, tal conhecimento valia por si só, seja     sem prestar “exames na capital, ou onde convier aos
como matéria literária, na qual a literatura era parte   senhores pais ou encarregados”, tudo isso pela “pen-
do ensino da língua, seja como meio de comunica-         são annual” de “280$ dada em quatro prestações
ção do pensamento, passando seu caráter instrumen-       adiantadas” (apud Santos, 2004).
tal a vincular-se às habilidades necessárias à aprova-
ção nos exames de preparatórios, como vinha ocor-           Havia também casos em que uma língua estran-
rendo em Sergipe desde a década de 1840.                 geira – geralmente o francês – era ensinada junta-
                                                         mente com as primeiras letras, como fazia Izaias
    Assim, mesmo que alguns professores se dedi-         Horacio de Souza, que também lecionava – em sua
cassem com afinco ao ensino da língua francesa ou        casa, em Laranjeiras – música, habilitando seus dis-
inglesa, como pedia a legislação referente à instru-     cípulos para que depois pudessem adquirir suas van-
ção secundária – isto é, ao Colégio de Pedro II –, em    tagens em um colégio quando quisessem, tal como
liceus, aulas públicas ou particulares, ou fossem bem    anunciava no Jornal de Sergipe de 27 de fevereiro de
sucedidos lecionando para senhoras elegantes, como       1879 (apud Santos, 2004).
testemunha o norte-americano Jasper Harben no pre-
fácio da oitava edição de Prosodia ingleza (1878), o         A partir da década de 1870, o ensino das línguas
mercado era muito maior para aqueles que ensina-         estrangeiras modernas, mantendo seu caráter instru-
vam os rudimentos gramaticais das várias línguas         mental e literário, assumiu uma finalidade prática,
exigidas naqueles exames – latim, francês, inglês e      como “meio de communicação do pensamento”, a
português, a partir da década de setenta –, como o       despeito da “exagerada influencia grammatical” – nas
cônego Manuel da Costa Honorato (1838-1891), au-         palavras do professor do Colégio de Pedro II Carlos
tor de uma Synopse da grammatica ingleza “extrahida      de Laet, em relatório de 1882 –, o que ocorreu ofici-
de diversos autores”, responsável pela cadeira de        almente com a reforma do ministro Paulino José So-
retórica do Colégio de Pedro II e professor particular   ares de Souza, em 1870. Antes dessa reforma, o ad-
de preparatórios, tal como se apresentava em anún-       jetivo “prático” havia sido usado com sucesso por
cio de 1878 do Almanaque Laemmert (Oliveira,             Fillipe da Motta de Azevedo Corrêa, em seu com-
2006).                                                   pêndio Grammatica pratica da lingua ingleza – que
                                                         em 1927 alcançou sua 21.ª edição – bem como por
    Em 6 de fevereiro de 1875 o vigário Francisco        vários autores estrangeiros de cursos de línguas du-
Vieira de Melo anunciava no Jornal do Aracaju que o      rante o século XIX, tais como Robertson (Novo curso
Colégio de Nossa S. do Amparo, na Capela, continu-       pratico, analytico, theorico e synthetico de lingua
ava a funcionar sob sua direção. O diretor ainda fa-     ingleza), Ollendorff (Novo methodo pratico para
zia saber que continuava a aceitar alunos externos, e    aprender a ler, escrever e fallar a lingua ingleza em
que o edifício em que o estabelecimento estava fun-      seis mezes) e Ahn (Novo methodo practico e facil de
dado tinha amplas proporções para abrigar um gran-       aprender a Lingua Ingleza) (Oliveira, 2006).
de número de alunos internos. Embora o anúncio
deixasse patente o caráter formativo da instituição,        Para Howatt (1988: 132), a palavra “prático”, nes-
uma vez que garantia aos “senhores pais de familias”     ses compêndios, refere-se à prática dos exercícios
que confiassem a educação de seus filhos ao vigário      usados pelo “grammar-translation method” (“méto-
que estes sairiam instruídos “nos principios solidos,    do da gramática e tradução”), principalmente os de
que formam o homem para bem dirigir-se nas diver-        tradução e versão de listas de orações. Outra razão


                                                                     Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          31


para a ênfase na prática, segundo o mesmo autor, é a       publicadas no período. Com a regulamentação das
prioridade dispensada à correção, bem como o valor         novas profissões que exigiam em seus concursos de
moral das frases usadas como exemplos. No entan-           admissão o conhecimento daquelas línguas, tal mer-
to, Azevedo Corrêa, no prefácio da primeira edição         cado passou a solicitar métodos mais rápidos e efi-
de sua Grammatica pratica (1863), ao afirmar que “a        cazes para seu ensino, os quais se apresentavam com
experiencia de todos os dias” o havia convencido de        um caráter claramente utilitário.
que o melhor método no ensino das Línguas era aque-
le que pudesse associar a teoria à prática, censurava          Ao tratar do que considera as principais tendên-
os “methodos theoricos” por exigirem de alunos de          cias do desenvolvimento do ensino de línguas no
tenra idade a “perfeita exactidão na cópia ou a devi-      século XIX, Howatt (1988, p. 129-130) nota que, ao
da attenção e rapida comprehensão do que se vai            lado de uma história da gradual integração das lín-
expondo”, fazendo-os perder muito tempo no pro-            guas estrangeiras modernas no “currículo da escola
cesso de aprendizagem. Assim, em seu discurso, o           secundária moderna” (“modernized secondary
“methodo pratico” aparece em contraposição ao que          school curriculum”), há também uma história, mui-
Howatt considera “prático” no “método da gramáti-          to menos contada, da expansão do mercado para o
ca e tradução”.                                            ensino utilitário das línguas, relacionado às neces-
                                                           sidades e interesses práticos de um período em que
    A expressão “finalidade prática”, tal como defino      as nações européias travavam – ou impunham, di-
(Oliveira, 2006), relaciona-se com a inclusão de um        plomaticamente ou pela violência – contatos comer-
elemento novo entre os objetivos do ensino das “lín-       ciais cada vez mais freqüentes entre si e com países
guas vivas”: a comunicação do pensamento, e não só         de outros continentes. De acordo com o autor inglês,
pela leitura e composição, isto é, pela linguagem es-      as escolas e universidades não tiveram interesse nes-
crita, mas também, e principalmente, pelo desenvol-        se tipo de ensino, no que menciona os exemplos da
vimento das habilidades orais e auriculares dos alu-       Alemanha, em que a prioridade era formar pessoal
nos. Nesse sentido, o Decreto n. 4.468, de 1.º de fe-      altamente qualificado para o serviço público, e da
vereiro de 1870, assinado pelo Conselheiro Paulino,        Inglaterra, onde o interesse se concentrava nas im-
inicia tal processo, pois, pela primeira vez, a lei man-   plicações sociais da educação adequada para um
dou que os professores de línguas não falassem na          “gentleman”.
aula senão na língua que ensinassem. No “Relatorio
dos acontecimentos notaveis do anno lectivo de                 Mesmo com o descrédito das instituições oficiais
1882”, o professor Carlos de Laet defendia o “ensino       de ensino, a evidência de que um “mercado utilitá-
pratico das linguas vivas”, argumentando que, pelos        rio” para os compêndios de línguas de fato existiu –
“methodos classicos”, só se ensina a traduzir, mas         inclusive no Brasil –, como argumenta o mesmo
não a compreender a “lingua fallada”, e menos ainda        Howatt, pode ser atestada pelo enorme sucesso al-
a falar, e que o ouvido era o principal órgão a ser        cançado por autores como os alemães Franz Ahn
educado, pois a transmissão de pensamentos se fa-          (1796-1865) e H.G. Ollendorff (1803-1865), cujos
zia através de sons.                                       métodos, escritos nas principais línguas européias,
                                                           foram inúmeras vezes reeditados em quase todo o
   Como já foi sugerido alguns parágrafos acima, o         mundo. Em 1871, foi publicado pela Tipografia Uni-
mercado para o ensino de línguas, no Brasil da se-         versal dos irmãos Laemmert, no Rio de Janeiro, um
gunda metade do século XIX, era muito mais rentá-          Systema pratico e theorico para aprender a ler, es-
vel quando voltado para o exame geral de preparató-        crever e fallar com toda a perfeição a lingua ingleza
rios, tanto no que diz respeito à profissão docente        em 50 lições “conforme o methodo de Ollendorff”,
quanto à produção e consumo de compêndios, como            escrito por Nicoláo James Tolstadius, bacharel em
sugerem as diversas seletas francesas e inglesas           letras e professor de várias línguas e ciências “ha-


                                                                       Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
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bilitado pelo Conselho Superior de Instrucção Pu-         sexos a falar, escrever e traduzir a língua francesa e
blica de Lisboa e pela Inspetoria Geral de Instrucção     italiana (apud Santos, 2004).
Primaria e Secundaria da Côrte do Rio de Janeiro”,
conforme a folha de rosto do livro, e dois anos de-
pois saiu, editado por Serafim José Alves, na mesma       4. Considerações finais
cidade, o Novo methodo practico e facil de aprender
a lingua ingleza “segundo os principios de F. Ahn”,           Pelo que podemos perceber nos discursos da épo-
“modificado e adaptado á lingua portugueza por            ca, as principais dificuldades do processo de escola-
Pacheco Junior” (Oliveira, 2006).                         rização, no Brasil, advinham de um problema fun-
                                                          damental: a carência de espaços físicos onde pudes-
   A voga dos cursos teóricos e práticos de línguas       sem ser reunidas as aulas, problema esse que não se
não tardou a se espalhar pelas províncias, como atesta    restringia aos chamados “estudos menores” – expres-
um anúncio de 16 de junho de 1883 publicado em O          são que designa tanto a instrução primária quanto a
Democrata, no qual o professor Paulo A. Quirino,          secundária –, pois, em termos administrativos, re-
habilitado pela Instrução Pública da Bahia, onde          presentava a reformulação do orçamento do Estado
havia exercido “por longos annos o Magisterio”, pro-      para um investimento que só traria retorno a um pra-
punha-se a lecionar as línguas francesa, inglesa e ale-   zo muito longo: a construção de prédios ou edifícios
mã em cursos práticos e teóricos. A partir do dia 15,     dedicados à Instrução Pública, acompanhada do pro-
informava, seria iniciado, à Rua de Itabaiana, um         vimento de professores, secretários, porteiros e de-
curso prático da língua inglesa das 8 às 9 da noite       mais lugares exigidos para cada estabelecimento.
(apud Santos, 2004).
                                                              Tal foi o caso da instrução primária, que não che-
    A cadeira de alemão foi criada no Colégio de Pedro    gou, durante o Império, a ter estabelecimentos a ela
II com o Decreto n. 62, de 1.º de fevereiro de 1841.      destinados, pois a expressão “escolas de primeiras
Com o Decreto n. 2.883, de 1.º de fevereiro de 1862,      letras”, oriunda dos tempos pombalinos, não impli-
o alemão, assim como o italiano – que havia sido          cava um prédio ou casa especialmente dedicada à
introduzido no plano de estudos do estabelecimento        instrução elementar, mas simplesmente professores
pelo Decreto n. 1.556, de 17 de fevereiro de 1855,        ou professoras que exerciam o magistério em suas
não sendo, todavia, seu estudo obrigatório para a         próprias residências, como faziam os professores
obtenção do diploma de bacharel em letras –, tor-         públicos e particulares de línguas da província de
nou-se uma matéria opcional, juntamente com o de-         Sergipe. Da mesma forma, as poucas “casas de edu-
senho, a música e a dança. A freqüência obrigatória       cação” particulares, quando providas dos móveis,
da aula de alemão só foi de novo exigida em 1873,         armários e demais instrumentos ou materiais neces-
com o Decreto n. 5.370, de 6 de agosto (Oliveira,         sários, dificilmente abrigavam grupos de mais de trin-
2006).                                                    ta alunos, por exemplo, os quais exigiriam sua divi-
                                                          são em classes e o uso de compêndios ou postilas,
   O único caso de professora particular de línguas       dentre outros requisitos.
é o de Amélia Cardozo, habilitada perante a Instru-
ção Pública da província sergipana, que anunciava             Mesmo quando se anunciavam como diretores de
na Gazeta de Aracaju de 12 de setembro de 1888            colégio, como era o caso de Manoel Odorico Mendes
que tinha aberta à Rua Máquez Herval uma aula de          de Amorim, que dirigia o Colégio Público de Laran-
“ensino mixto”, isto é, de meninos e meninas, fa-         jeiras, ou do vigário Francisco Vieira de Melo, dire-
zendo parte do ensino para o sexo feminino as ren-        tor do Colégio de Nossa S. do Amparo, em Capela,
das de agulha. A professora anunciava ainda que           que fazia questão de frisar que seu colégio estava
ensinava às crianças ou adolescentes de ambos os          sediado num edifício em condições de abrigar mui-


                                                                       Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          33


tos internos, os professores agiam como se abrissem           Quanto aos professores, a Lei de 15 de outubro
aulas avulsas, sem qualquer divisão dos alunos em         de 1827 regulamentou também a profissão docente,
classes, ou dos conteúdos ensinados em um plano           estabelecendo as condições necessárias, o modo de
de estudos, como sugere a quantidade mínima de            admissão, remuneração e um plano de carreira que
matérias lecionadas – em geral latim, francês, inglês     serviriam de modelo para o provimento de outras
e português, depois da década de 70, quando esta          cadeiras, tais como as de línguas. Um exemplo disso
língua passou a ser exigida nos exames de prepara-        é um decreto de 7 de junho de 1831, criando três
tórios –, ao que tudo indica pelo mesmo professor.        cadeiras na capital da província da Paraíba: uma de
                                                          retórica, geografia e elementos de história; uma de
    Assim, é importante lembrar que a primeira lei        filosofia racional e moral e outra de língua francesa.
do país a tratar especificamente das escolas de pri-      O artigo segundo estabelecia que os professores seri-
meiras letras, a de 15 de outubro de 1827, estabele-      am providos pelo presidente da respectiva provín-
cia no artigo quarto que as das capitais das provínci-    cia, e seus ordenados taxados interinamente pela
as, vilas e lugares mais populosos do Império seriam      mesma autoridade, guardando acerca de ambos os
de “ensino mútuo” – método atribuído ao reverendo         objetos o disposto nos artigos terceiro, sétimo e oita-
escocês Andrew Bell (1753-1832), segundo o qual os        vo da referida Lei. Tais artigos tratavam, respectiva-
discípulos mais desenvolvidos ensinavam aos               mente, do valor do ordenado, que deveria variar en-
iniciantes (Braga, 1902, p. 31) –, determinando no        tre 200 e 500 mil réis anuais, de acordo com a cares-
artigo seguinte que se aplicassem “os edificios, que      tia dos lugares, dos exames públicos perante os pre-
houverem com sufficiencia nos lugares dellas”. Na         sidentes de província, em conselho, e da restrição
década de 1830, a crítica principal a esse tipo de        dos candidatos, sendo somente admitidos os cida-
escola, segundo os relatórios ministeriais, tinha como    dãos brasileiros de boa conduta e no pleno gozo dos
objeto a carência dos edifícios necessários para abri-    direitos civis e políticos.
gar a grande quantidade de alunos. O declínio do
método, que a partir da década seguinte restringiu-           O ensino particular, primário e secundário, foi
se às escolas anexas às academias militares, signifi-     regulado pelo Decreto n. 1.331-A, de 17 de fevereiro
cou também o abandono, pelo governo – ou pelo             de 1854, assinado pelo ministro Couto Ferraz, que
menos pelo Ministério do Império –, do ensino das         submetia os diretores e diretoras de escolas e colégi-
primeiras letras, ficando este sujeito, com o Ato Adi-    os de meninos e meninas a uma prévia autorização
cional de 1834, às iniciativas provinciais – geralmente   do Inspetor Geral. De acordo com o artigo 112, os
limitadas ao provimento de cadeiras e fixação de or-      alunos dos colégios particulares que mais se hou-
denados, não compreendendo a construção de pré-           vessem destacado nos preparatórios teriam isenção
dios escolares.                                           de direitos na matrícula do Colégio de Pedro II, po-
                                                          dendo, se quisessem, tomar o grau de bacharel em
    Da mesma forma, o tema da instrução secundária        letras com todas as suas prerrogativas. Os professo-
aflora na medida em que existe uma necessidade            res e diretores de tais estabelecimentos, por sua vez,
material de se construir prédios nos quais pudessem       poderiam adotar quaisquer compêndios e métodos
ser reunidas as aulas avulsas, ou preparatórias, para     que não fossem expressamente proibidos pelo go-
melhor controle daqueles que haveriam de estudar          verno.
nas academias do Império. É o que nos deixam ver
os insistentes pedidos dos ministros para que se reu-        Nenhum dos professores particulares de línguas
nissem as aulas avulsas num só edifício, na corte e       da província de Sergipe, tanto quanto se saiba, pu-
nas províncias. Não é coincidência o fato de que, na      blicou qualquer compêndio, disputando um merca-
mesma época, voltasse ao debate, na câmara e no           do relativamente acanhado no século XIX, uma vez
senado, a idéia de uma Universidade na corte.             que era composto principalmente pelos meninos


                                                                       Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
34    Luiz Eduardo Oliveira


brancos de famílias abastadas, cujos pais poderiam       de 1850 nos cemitérios de São Paulo, tal como relata
se dar ao luxo de prepará-los para os exames de pre-     a cozinheira Chica Prosa a Pires de Almeida (1962).
paratórios, no intuito de que um dia pudessem bri-
lhar, na corte ou nas províncias, seus anéis de bacha-       Um aspecto curioso desse processo de ascensão
réis nos bailes e saraus da alta sociedade da época.     dos bacharéis é a presença de vários mestiços ou
                                                         mulatos – principalmente no Norte do país –, alguns
   Com efeito, os bacharéis e doutores constituíam       deles filhos naturais, ou ilegítimos, de grandes se-
uma nova nobreza no Brasil, bem mais valorizada          nhores brancos. Com o anel de formatura, e envolvi-
que a dos negociantes e industriais, como mostra sua     dos em sobrecasacas ou becas de seda, esses bacha-
rápida ascensão no meio político e social durante o      réis mulatos, muitos deles assíduos freqüentadores
reinado de D. Pedro II, principalmente durante as        de teatro, fluentes em francês e versejadores, senti-
décadas de trinta e quarenta, posteriores à fundação     am-se aristocratizados, na medida em que não so-
dos cursos de Olinda e São Paulo, quando floresceu       mente conseguiam uma mobilidade social, ascenden-
o que Freyre (1951) chama de “romantismo jurídi-         do de uma classe a outra, mas também uma espécie
co”, referindo-se aos poetas da segunda geração ro-      de “ascensão racial”, passando de negros a “morenos”,
mântica, formada por estudantes de direito que, vin-     e às vezes até a brancos, algo que se tornou ainda
dos de várias províncias, aprendiam naquelas aca-        mais fácil com a vulgarização, pelos anúncios de jor-
demias, além da doutrina jurídica, “as últimas idéias    nal da segunda metade do século, da nova técnica
inglesas e as últimas modas francesas”, como o           dos “retratos americanos”, notáveis, segundo Freyre
paulista Álvares de Azevedo (1831-1852), também          (1951, p. 983), pelos exageros de embelezamento e
bacharel em letras pelo Colégio de Pedro II, o sergi-    arianização das fisionomias de alguns retratados. É
pano Tobias Barreto (1839-1889), o carioca Fagundes      possível que tal fenômeno tenha ocorrido na provín-
Varela (1841-1875) e o baiano Castro Alves (1847-        cia de Sergipe, e que muitos “bacharéis mulatos” te-
1871). Entre as “idéias” ou “modas” inglesas, pode-      nham aprendido os rudimentos do latim, francês ou
ria ser mencionado o “byronismo” de Álvares de           inglês com alguns desses professores particulares que
Azevedo, ou das sessões macabras dos acadêmicos          anunciavam seus serviços nos jornais sergipanos.




                                                                     Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
A imprensa e o ensino de línguas no século XIX          35


                                            Referências bibliográficas




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Comped.                                                      FREYRE, Gilberto. (1951). Sobrados e mucambos. 2.
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                                                             da profissão de tradutor público e intérprete comercial
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                                                             Pesquisa, ministrada pelo Prof. Dr. Francisco José Alves.
CHERVEL, André. (1990). “História das disciplinas            Departamento de História, Centro de Educação e Ci-
escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”.            ências Humanas, Universidade Federal de Sergipe.

                                                                          Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
36    Luiz Eduardo Oliveira


SERGIPE. (1855). Relatorio apresentado a Assemblea     ________. (1858). Relatorio com que foi aberta a 1.ª
Legislativa Provincial de Sergipe na abertura de sua   sessão da duodecima legislatura da Assemblèa Le-
sessão ordinária no dia 1.º de março de 1855 pelo      gislativa de Sergipe pelo excellentissimo presidente
Exm. Snr. Presidente da Provincia Dr. Ignacio Joa-     doutor João Dabney d’Avellar Brotero. Bahia:
quim Barboza. Sergipe: Na Typographia Provincial.      Typographia de A. Olavo da França Guerra.




                                                                   Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006

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UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
 

A imprensa e o ensino de línguas no século xix

  • 1. Revista da Fapese, v. 2. n.2, p. 23-36, jul./dez. 2006 23 A Imprensa e o Ensino de Línguas no Século XIX: O caso da província de Sergipe (1843-1888) Luiz Eduardo Oliveira* O Resumo objetivo deste artigo é analisar alguns anúncios de jornais relativos ao ensino de línguas, ou, mais propriamente, aos professores particulares de línguas que, divulgando publica- mente seus serviços aos pais de família da província de Sergipe, entre 1843 e 1888, constituem os principais agentes de uma prática pedagógica ainda muito pouco compreendida historicamente, uma vez que se realiza fora do contexto – ou do currículo – escolar. As- sim, ao invés de ser considerado como conteúdo ensinado num plano de estudos, o que implicaria sua constituição como discipli- na escolar, dado seu caráter necessariamente formativo, ou seu pa- pel formador no projeto de Instrução Pública do Estado português ou do Império brasileiro, o ensino de línguas é aqui visto como uma prática pedagógica de caráter instrumental, uma vez que tinha fins imediatos e funcionalidade prática, para além – ou aquém – de seu papel contributivo na formação de bons cristãos, súditos ou cidadãos. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Línguas; Escolarização; Província de Sergipe. * Luiz Eduardo Oliveira é Mestre em Teoria e História Literária (UNICAMP), Doutor em História da Educação (PUC-SP) e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe, além de coordenador do grupo de pesquisa “História do ensino das Línguas no Brasil”. E-mail: luizeduardo@ufs.br.
  • 2. 24 Luiz Eduardo Oliveira 1. O ensino das línguas estrangeiras modernas construção de máquinas, seja pela importação maci- e o processo de escolarização ça de produtos ingleses, tais como ferro, vidro, lou- ça, tecidos e roupas, ou pelos leilões dos pertences O ensino das línguas estrangeiras modernas, no de funcionários ou capitalistas britânicos que deixa- Brasil, é anterior ao processo de escolarização, algo vam o país. que se torna possível quando se configuram as con- dições necessárias para o estabelecimento de rela- É o que sugere um anúncio de “Professora Ingleza” ções entre a forma escolar e outras formas sociais, na Gazeta do Rio de Janeiro do dia 8 de fevereiro de principalmente políticas: a constituição de um “tem- 1809, alguns meses antes da criação das primeiras po” e de um “espaço” específicos, a divisão dos alu- cadeiras públicas de francês e inglês, o que ocorre nos em “classes”, a organização e codificação dos com a Decisão n. 29, de 14 de julho do mesmo ano: conteúdos ensinados – pelas gramáticas e manuais “Na Rua dos Ourives n.º 27 mora huma Ingleza com de “civilidades”, dentre outros compêndios – e a pro- casa de educação para meninas que queirão apren- dução das disciplinas escolares. É a partir dessa pers- der a ler, escrever, contar e falar Inglez e Portuguez, pectiva que podemos compreender o fato de existi- cozer, bordar, etc.” Algum tempo depois, anunciava rem professores de língua francesa na cidade do Rio o padre Antonio de Figueiredo e Moura, no mesmo de Janeiro antes mesmo de institucionalizar-se o en- jornal, em 20 de janeiro de 1811, que tinha aberta à sino daquelas línguas na América portuguesa, no Rua do Senhor dos Passos “huma Casa de Educação” início do século XIX. na qual, além de gramática latina, ensinavam-se as seguintes matérias: “Inglez, Arithmetica, Pintura, Com efeito, apesar de somente duas aulas públi- Desenho e Rhetorica. Tudo pelo premio de 4 $ por cas de língua francesa terem obtido licença do Sena- mez” (apud Freyre, 2000, p. 266-268). do da Câmara daquela cidade para funcionar no fi- nal do século XVIII – 1788 e 1789, respectivamente O sociólogo pernambucano segue citando anún- –, é provável que, nesse mesmo período, algumas cios publicados nos anos subeqüentes, tanto na Ga- professoras e professores particulares, bem como zeta do Rio de Janeiro quanto no Jornal do Comércio preceptores ou governantas, nativos ou estrangeiros, ou no Diário de Pernambuco, nos quais eram leigos ou religiosos, dessem lições de francês a quem divulgadas “Casas de instrução” para a mocidade de quisesse prosseguir os estudos em alguma academia um e outro sexo, onde havia lições das línguas lati- ou universidade em Portugal – principalmente de- na, francesa e inglesa, a maioria delas regida por pro- pois da reforma da Universidade de Coimbra, em fessoras estrangeiras; métodos de ensino como o de 1772 – ou em outros países da Europa, como deixa Joseph Lancaster (1778-1838); o Tratado da educa- entrever a biografia de algumas figuras notáveis de ção physica moral dos meninos, de Mr. Gardien, então (Oliveira, 2006). “cheio de novidades não só francesas como inglesas de pedagogia”; e até um “Collegio Inglez”, em 1827, Quanto aos professores de língua inglesa, os pri- cujo plano de estudos abrangia inclusive a escritura- meiros registros datam de 1809 em diante, um ano ção mercantil: depois da abertura dos portos do país ao comércio britânico. Para Gilberto Freyre (2000, p. 265), os con- Linguas Latina, Portugueza, Ingleza, tatos entre Brasil e Inglaterra, depois da chegada da Franceza, e Hespanhola, grammaticalmen- família real e da abertura dos portos ao comércio es- te, Historia e Geografia, Logica, Rhetorica trangeiro, não se restringiram a relações econômicas e Elocução Escripta, Arithmetica, e Escri- e comerciais, havendo também significativas “influ- turação de livros por partidas dobradas, ências e trocas culturais”, seja pela presença, no país, Algebra e Geometria, Dezenho e Dança dos engenheiros e técnicos ingleses envolvidos na (apud Freyre, 2000, p. 269). Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 3. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 25 Mas o Reino Unido da Grã-Bretanha não era o Não é por acaso, portanto, que durante o que cha- único país de língua inglesa com o qual o Brasil man- mo de primeira fase da institucionalização do ensi- tinha relações durante o período joanino, tendo os no de línguas estrangeiras no país (Oliveira, 2006), comerciantes brasileiros, ou portugueses radicados que comporta o governo joanino e do seu filho, bem no Brasil, que lidar constantemente, em negociações como o período regencial, estendendo-se até 1837, formais ou ilegais, com falantes de sotaque norte- ano em que foi criado o Colégio de Pedro II, primeiro americano. Contudo, a presença de norte-america- estabelecimento oficial de instrução secundária, nos envolvidos com o ensino da língua inglesa, pelo aquelas línguas tenham uma finalidade eminente- menos na corte, só vai se fazer notar de forma evi- mente instrumental, uma vez que seu estudo se jus- dente algumas décadas mais tarde, depois de inicia- tifica como meio de acesso a um conhecimento tido da a ação das congregações de certos ramos do pro- então como “scientifico” e professado, às vezes, por testantismo daquele país, especialmente o “lentes” estrangeiros, os quais usavam compêndios presbiteriano (Hilsdorf, 2000), de acordo com os escritos em língua francesa ou inglesa, seja nas aca- anúncios dos professores particulares daquela lín- demias militares, nos cursos médico-cirúrgicos, nas gua nos Almanaques Laemmert da década de 1840, aulas de comércio e agricultura ou nos cursos jurídi- a maioria de origem inglesa, como fazia questão de cos, centros formadores da sociedade civil, ou da elite frisar George Gibson, “natural de Londres”, em anún- local, que excluía todos os que não fossem “cidadãos”, cio de 1851, segundo o qual dava “lições de lingua conforme a interpretação à época corrente do artigo ingleza pelo methodo de T. Robertson por collegios sexto da Constituição de 1824: os escravos e os ho- e casas particulares”, tendo sempre em sua residên- mens livres e despossuídos. cia, à Rua do Cano, 163, “differentes classes em exercicio, tanto em prosa, como em verso, segundo o Embora a Decisão n. 29, ao dispor sobre a “materia adiantamento dos discipulos”. Tal não era o caso de do ensino”, mandasse que os professores habilitas- Manoel Rabello, ex-professor de língua inglesa e es- sem seus discípulos em “bem fallar e escrever” pe- crituração mercantil no “Lyceo de Nitcheroy”, que los “melhores modelos do seculo de Luiz XIV” e em anunciava que era “antigo residente de Londres” conhecer, nas traduções, “o genio, e idiotismo da (Oliveira, 2006). lingua, suas belezas e elegâncias e o “estylo e gosto mais apurado e seguido”, sugerindo assim uma es- Assim, ao contrário do que ocorreu com a língua pécie de abordagem estética, bem como a fixação de latina, a instituição do ensino de línguas estrangei- um valor cultural, no ensino daquelas línguas – algo ras modernas, no Brasil, não corresponde, como já alcançado pelo latim, tido até então como “base já foi assinalado, a um processo de escolarização, de todas as Sciencias”, como dizia o preâmbulo do pois não se confunde, como pensava Chagas (1967, alvará com que Pombal expulsou os jesuítas de Por- p. 103), com a “história da própria escola secun- tugal e seus Domínios, em 1759, e em parte pelo fran- dária brasileira”. Nesse sentido, antes de ser consi- cês, considerado à época uma “lingua universal” –, a derado como conteúdo ensinado num plano de es- criação de tais cadeiras atendia à necessidade que tudos, o que implicaria sua constituição como disci- tinha o governo joanino de preparar candidatos aos plina escolar, dado seu caráter necessariamente “estudos maiores”, ou superiores, os quais exigiam formativo, ou seu papel formador no projeto de Ins- que o aluno soubesse traduzir pelo menos a língua trução Pública do Estado português ou do Império francesa para cursá-los. brasileiro, o ensino das “línguas vivas” deve ser vis- to como uma prática pedagógica de caráter instru- Ao lado dessa finalidade instrumental, caracteri- mental, uma vez que tinha fins imediatos e funciona- zada pelo seu caráter ilustrado, uma vez que dava lidade prática, para além – ou aquém – de seu papel acesso à produção intelectual das nações cultas da na formação de bons cristãos, súditos ou cidadãos. Europa, havia também, no caso da língua inglesa, Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 4. 26 Luiz Eduardo Oliveira uma finalidade utilitária, a qual se fazia valer num dos somente com um regulamento de 1854, assina- momento em que o país tinha acabado de abrir seus do pelo ministro Couto Ferraz, uma vez que as difi- portos ao comércio estrangeiro, especialmente o in- culdades e problemas ocasionados pela falta de pro- glês, que, impedido pelo bloqueio continental im- fessores e pelos conflitos de competência legislativa posto por Napoleão, precisava de outros mercados entre o governo central e as províncias inviabilizavam para sua própria sobrevivência, obtendo condições sua implementação. Dessa forma. as duas línguas, bastante vantajosas no tratado entre as coroas portu- pelo menos até a década de 1860, eram ensinadas guesa e britânica, no qual esta negociou a proteção pelo mesmo professor nas aulas preparatórias ane- de D. João, em sua fuga das investidas e ameaças do xas àqueles cursos (Oliveira, 2006). imperador francês, em troca do quase monopólio do mercado brasileiro. Disso testemunham muitas gra- O objetivo deste artigo é analisar alguns anúnci- máticas inglesas publicadas no período, em seus pre- os de jornais relativos ao ensino de línguas estran- fácios e sobretudo nos textos utilizados nos exercíci- geiras modernas, ou, mais propriamente, aos profes- os, a maioria dos quais é composta de letras de câm- sores particulares daquelas línguas que, divulgando bio e correspondências comerciais, bem como a pre- publicamente seus serviços aos pais de família da ocupação que tinha o governo em criar lugares de província de Sergipe, entre 1843 e 1888, constituem intérprete e tradutor nos portos de várias províncias os principais agentes de uma prática pedagógica ain- e nas secretarias de algumas repartições públicas da muito pouco compreendida historicamente, uma (Oliveira, 2005). vez que se realiza fora do contexto – ou do currículo – escolar. Para tanto, me vali principalmente de Quanto ao seu processo de constituição como dis- “Anúncios de serviços e mercadorias nos jornais ser- ciplina escolar, se considerarmos seus quatro com- gipanos do século XIX”, monografia apresentada por ponentes principais – a saber: o conteúdo explícito Marcos Aurelo Alves Santos em 2004 à disciplina do conhecimento; a bateria de exercícios; a motiva- Prática de Pesquisa, ministrada pelo Prof. Dr. Fran- ção dos alunos e os exames (Chervel, 1990) –, o nú- cisco José Alves, do Departamento de História da cleo da disciplina, composto pelos dois primeiros, Universidade Federal de Sergipe. constitui-se nessa primeira fase, uma vez que sua parte teórica ou expositiva encontra-se já formula- da, baseada que é na gramática latina, cujos termos e 2. O caso da província de Sergipe classificações são também usados no estudo das lín- guas estrangeiras modernas. Os exercícios, da mes- Se a carência de pessoas hábeis no conhecimen- ma forma, centrados inicialmente na leitura, pronún- to das línguas francesa e, principalmente, inglesa cia, tradução, versão e composição, tinham como existia mesmo nas províncias que sediavam os cur- suporte uma longa tradição, pois a Decisão de 1809 sos jurídicos, a situação não seria diferente nas de- mandava que os professores seguissem, quanto ao mais localidades, como se vê pelo quadro estatísti- “tempo”, “horas das lições” e “attestações” do apro- co das aulas menores públicas oferecido pelo mi- veitamento dos discípulos, o mesmo que se achava nistro Antonio Pinto Chichorro da Gama em seu estabelecido, “e praticado”, pelos professores de gra- relatório de 1834, segundo o qual havia apenas uma mática latina. cadeira de inglês, situada na província da Bahia, e dez de Francês efetivamente providas, uma em Os exames, que são um componente fundamen- Sergipe, Alagoas, Maranhão e São Pedro do Rio tal no processo de constituição de uma disciplina Grande do Sul e seis na Bahia. Mesmo no municí- escolar, apesar de terem sido instituídos com a cria- pio da corte só existia uma aula pública de francês, ção dos cursos jurídicos – os de francês em 1827 e os com 24 alunos, e outra de inglês, com 5 (BRASIL, de inglês com a reforma de 1831 –, foram consolida- 1834, p. N. 8). Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 5. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 27 Como se vê pelos dados oficiais, era mínima a do cuidado com a “verdadeira pronúncia” das pala- quantidade de cadeiras púbicas de línguas estran- vras, tal como determinava a Decisão n. 29: geiras modernas nas províncias do Império. O mes- mo não pode ser dito a respeito dos professores par- Os examinadores arguirão os examinan- ticulares de línguas, a contar pela quantidade de dos, nos limites das materias do exame, e anúncios que podem ser encontrados nos jornais de sôbre tudo no que fôr necessario para po- qualquer província. Vejamos o caso da província de derem formar seu juizo sôbre o merito Sergipe. Em 20 de dezembro de 1843, pelo Correio delles, não exigindo nos exames das linguas Sergipense de Aracaju, o clérigo Thomaz da Costa o conhecimento da verdadeira pronuncia Pinto fazia público aos pais de família que quises- dellas; nem no de arithmetica as theorias sem “mandar ensinar aos Srs. Filhos da Língua de progressões, e logarithmos; e quanto á Franceza, isto he, não a fallar, mas sim a traduzir e a geometria, limitando-se á geometria pla- compor”, que lhe procurassem à Rua do Rosário para na (BRASIL, 1877). com ele ajustarem-se, uma vez que pretendia abrir “Aula” no dia 4 de fevereiro, das três às cinco da tar- Assim, era providencial a observação do clérigo, de (apud Santos, 2004). no jornal sergipano, de que ensinaria aos filhos dos pais de família somente a traduzir e a compor, isto é, Note-se que o professor, que também era religio- a escrever sobre determinados “temas”, mas não a fa- so, como boa parte dos professores de línguas no lar, habilidade considerada à época desnecessária. Não Império brasileiro – desde os padres René Boiret, devia ser diferente o caso de Tito Augusto de Andrade, professor público de francês da corte, e João Joyce, que oferecia, no Correio Sergipense de 3 de dezembro professor de inglês, ambos nomeados em 1809 com de 1853, seus serviços de professor de gramática lati- o ordenado de 400$000 réis por ano (Almeida, na, francês e geometria pelo preço de 2.000 réis men- 2000:42) –, não se propunha a ensinar a “fallar”, mas sais, predispondo-se ainda a habilitar qualquer pes- somente a “traduzir e a compor”, únicas habilidades soa que quisesse opor-se a alguma cadeira de primei- necessárias nos exames de preparatórios de línguas, ras letras pela quantia de 8.000 mensais adiantados, tal como determinava o artigo primeiro do Capítulo ou de Francisco Serafim de Miranda Moura, que pro- II da Lei de 11 de agosto de 1827, que fundou os dois metia, no mesmo jornal, em 14 de janeiro de 1854, cursos de ciências jurídicas e sociais do Império, um abrir em casa de sua residência aula de latim, francês na cidade de São Paulo e outro na de Olinda: e inglês pelo mesmo valor do seu concorrente, ou ain- da do padre Cypriano Lopes da Fonseca, que leciona- Os examinadores haver-se-ão nos exames va latim, francês, retórica e filosofia na Rua Direita do das linguas perguntando pelos preceitos Rosário, de acordo com o Correio Sergipense de 3 de geraes de grammatica de cada uma delas, janeiro de 1855 (apud Santos, 2004). em que fôr feito o exame, e fazendo tradu- zir os melhores livros em prosa, e verso, Ainda em 1855, o presidente da província de por ser este o meio de se conhecer Sergipe, o Dr. Ignacio Joaquim Barboza, em seu rela- exactamente o aproveitamento dos exami- tório, referia-se à Resolução n. 398, de 21 de junho nandos na intelligencia da mesma lingua do ano anterior, criando nas cidades de Laranjeiras e (BRASIL, 1878). Estância as cadeiras de filosofia, francês, geometria e geografia e história, no que enfatizava o artigo quin- Com a publicação dos novos Estatutos dos cur- to da referida lei, autorizando o governo da provín- sos jurídicos, pelo Decreto de 7 de novembro de 1831, cia a contratar o estabelecimento de um “Collegio” o conteúdo das matérias foi simplificado, sendo os em cada uma das ditas cidades, no intuito de reunir examinadores, nos exames de línguas, desobrigados as aulas avulsas num mesmo prédio: Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 6. 28 Luiz Eduardo Oliveira Segundo a organisação, que dei á esses o objetivo principal de tais serviços era, muito pro- collegios pelo seo contracto e Regulamen- vavelmente, a habilitação de candidatos para os exa- to, elles não são nem absolutamente parti- mes de preparatórios, razão porque os professores culares, nem absolutamente publicos ou ensinavam, juntamente com as “primeiras letras”, as officiaes. Reunindo na casa do seo collegio matérias exigidas naqueles exames. Mas os profes- as aulas publicas de Latim, Francez, sores que lecionavam no Aracaju daqueles tempos Philosophia, Geometria, e Geographia e não enfrentavam somente uma concorrência local, Historia, além das aulas de Dança e ou interna, pois havia também aqueles que, residin- Muzica que é obrigado a entreter á sua do na Bahia ou em Recife, cidades que sediavam duas custa, o Emprezario se sujeita á dar um das principais academias do Império – os cursos mé- Externato publico e gratis sem distincção dico-cirúrgico e jurídico, respectivamente –, se pro- de disciplinas, e um Internato particular e punham a preparar os filhos dos pais sergipanos que pago com pensões e meias penções [sic] pretendessem encaminhá-los àquelas faculdades. pelo preço, porque se ajustar com os inte- ressados, ficando quer á um, quer á outro Era o caso de Joaquim Barbosa Lima, professor respeito, subordinado á Inspetoria Geral particular de inglês e francês e acadêmico do tercei- das Aulas (SERGIPE, 1855, p. 11). ro ano da Faculdade de Direito do Recife, que no Correio Sergipense de 8 de julho de 1857 anunciava Trata-se, neste caso, de uma proposta inovadora aos pais sergipanos que recebia em sua casa, por um diante da política de centralização da Instrução Pú- “preço commodo”, os filhos que quisessem seguir blica promovida pelos Saquaremas – os membros do carreira jurídica, garantido-lhes todas as comodida- Partido Conservador –, que nesse periodo gozavam des, boa mesa, “promptos remedios”, inclusive la- de uma indisputável supremacia na Câmara dos De- vando e engomando as roupas dos estudantes pelo putados (Carvalho, 2003), pois previa a instituição preço que se ajustasse. O professor advertia ainda de estabelecimentos financiados por empresários, em que os pais não deveriam deixar de enviar seus fi- parceria com o Estado, uma vez que aqueles estari- lhos com receio de expô-los a moléstias ou à falta de am obrigados a dar um “Externato publico e gratis aplicação, pois ele seria responsável por todo o tra- sem distincção de disciplinas”, além de manter um tamento necessário aos discípulos, não restando mais internato particular por conta própria. cuidado algum para seus pais (apud Santos, 2004). No Correio Sergipense de 27 de fevereiro de 1856, Vê-se que se trata não de um padre, mas de um Manoel Odorico Mendes de Amorim, diretor do Co- acadêmico de direito que, pela sua própria experiên- légio Público de Laranjeiras, anunciava que, além das cia, tinha condições de repassar para os candidatos disciplinas ensinadas no ano anterior, ofereceria uma a legistas as habilidades ou aprendizagens necessá- aula de primeiras letras e cursos de álgebra, inglês e rias para seu ingresso nas arcadas da prestigiosa aca- retórica. Com nove anos de magistério, o diretor demia. Ademais, é preciso levar em conta que a “ci- mostrava-se persuadido de que os pais de família dade do Aracajú”, por essa época, ainda não apre- dariam seu apoio para o progresso do estabelecimento sentava as condições infraestruturais necessárias para a seu cargo, desenvolvendo na mocidade da provín- sediar um estabelecimento de ensino de grande por- cia o “gosto das lettras” (apud Santos, 2004). te, não sendo considerada nem mesmo um “centro de população”. No relatório de 1858, apresentado Convém lembrar que, apesar de certos anúncios, pelo Dr. João Dabney d’Avellar Brotero, presidente como é o caso deste último, buscarem enfatizar o da província sergipana e depois diretor da Faculda- caráter formativo, ou civilizatório, dos serviços pres- de de Direito de São Paulo, havia já um esforço, tam- tados, desenvolvendo nos jovens o “gosto das lettras”, bém visível nas outras províncias, em organizar os Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 7. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 29 dados estatísticos referentes à instrução primária. sões, o conhecimento das “línguas vivas”, especial- Quanto à secundária, o presidente discordava das mente do francês e do inglês, era obrigatório, seja idéias do Inspetor Geral Euzébio de Queiroz (1812- como matéria regular dos planos de estudos, seja 1868), que propunha a supressão dos internatos de como requisito de matrícula, constituindo assim uma Laranjeiras e Estância e a criação de “um Lyceo ou espécie de saber especialmente destinado a uma clas- Gymnasio Central na Capital”, defendendo a se privilegiada de pessoas: aquelas que seriam ativas “patriotica idéa” do ex-Presidente Inácio Barboza: no processo de formação do Estado Imperial. Quanto a creação de um Lyceo ou A partir da década de 1860, algumas outras pro- Gymnasio central no Aracajú entendo que fissões foram sendo regulamentadas por lei, passan- as rasões, aliás muito plausiveis, que me- do a exigir em seus concursos de admissão o conhe- lindram em favor da centralisação do en- cimento das línguas estrangeiras, juntamente com o sino superior, são n’este caso improceden- da “língua nacional”. Tais foram os casos dos lugares tes, porque a nova Capital não é nem será das Tesourarias de Fazenda, dos agrimensores, por alguns annos um centro de população, amanuenses, engenheiros de minas, secretários das nem offerece nem uma das condições instituições literárias ou científicas – bibliotecas, proprias para tal estabelecimento; estan- colégios, faculdades, jardins botânicos, observatóri- do eu convencido que os actuaes interna- os, gabinetes, etc – e vários ofícios de Justiça. Aos tos virão a ser muito mais fecundos em re- artistas formados na Academia das Belas Artes, exi- sultados do que tal Lyceo ou Gymnasio cen- giu-se o conhecimento das línguas estrangeiras so- tral no Aracajú (SERGIPE, 1858, p. 35). mente a partir do Decreto n. 983, de 8 de novembro de 1890 (BRASIL, 1890e), dando novos estatutos ao Mesmo assim, não deixavam de aparecer nas pá- estabelecimento, o qual passou a chamar-se Escola ginas do Correio Sergipense professores de línguas Nacional de Belas Artes. Quanto aos intérpretes e estrangeiras modernas anunciando seus serviços, tradutores juramentados das Praças do Comércio, como José Rodrigues dos Santos, que em 11 de se- embora a profissão fosse regulamentada, sua forma- tembro desse mesmo ano de 1858 se propunha a ção não chegou a ser objeto de lei, motivo pelo qual ensinar francês nas horas vagas por um “preço seus lugares eram preenchidos por nomeação, e não commodo”, prometendo envidar meios para que os por concurso público. aprendizes adiantassem na referida língua (apud Santos, 2004). Mesmo tendo as línguas estrangeiras modernas alcançado um estatuto literário e depois até científi- co, ou “pratico”, nos planos de estudos do Colégio 3. As novas profissões e o ensino prático das de Pedro II e dos estabelecimentos de instrução se- línguas cundária – principalmente os internatos – que o to- mavam como modelo, a preponderância dos exames Eram poucas as opções profissionais existentes gerais de preparatórios e a regulamentação daquelas no Império para aqueles que tinham meios de in- profissões fizeram com que seu ensino, em sua mai- gressar num curso superior e concluí-lo: poderiam or parte, permanecesse limitado à sua finalidade ins- ser legistas, encaminhando-se na política, magistra- trumental, que assumiu, dessa forma, um novo as- tura ou advocacia, padres, médicos ou engenheiros, pecto. Antes, o conhecimento das “línguas vivas” militares ou civis, havendo ainda a possibilidade de justificava-se como uma importante via de acesso às ingressar na carreira comercial, farmacêutica, no “luzes do seculo”, que se confundiam com o que se magistério – secundário, se bacharel, ou superior, se entendia por “Sciencia”. Dessa forma, as finalidades doutor – e no serviço público. Em todas essas profis- do ensino podiam ser claramente definidas pela ne- Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 8. 30 Luiz Eduardo Oliveira cessidade de entendimento e tradução dos compên- sas relações sociais”, as matérias ensinadas – latim, dios estrangeiros usados nas aulas e cursos superio- francês e português – tinham uma finalidade res, como no período joanino, embora a Decisão de marcadamente instrumental, pois o vigário se pro- 1809 procurasse dotá-las de um estatuto cultural. punha a preparar os discípulos para que eles pudes- Agora, porém, tal conhecimento valia por si só, seja sem prestar “exames na capital, ou onde convier aos como matéria literária, na qual a literatura era parte senhores pais ou encarregados”, tudo isso pela “pen- do ensino da língua, seja como meio de comunica- são annual” de “280$ dada em quatro prestações ção do pensamento, passando seu caráter instrumen- adiantadas” (apud Santos, 2004). tal a vincular-se às habilidades necessárias à aprova- ção nos exames de preparatórios, como vinha ocor- Havia também casos em que uma língua estran- rendo em Sergipe desde a década de 1840. geira – geralmente o francês – era ensinada junta- mente com as primeiras letras, como fazia Izaias Assim, mesmo que alguns professores se dedi- Horacio de Souza, que também lecionava – em sua cassem com afinco ao ensino da língua francesa ou casa, em Laranjeiras – música, habilitando seus dis- inglesa, como pedia a legislação referente à instru- cípulos para que depois pudessem adquirir suas van- ção secundária – isto é, ao Colégio de Pedro II –, em tagens em um colégio quando quisessem, tal como liceus, aulas públicas ou particulares, ou fossem bem anunciava no Jornal de Sergipe de 27 de fevereiro de sucedidos lecionando para senhoras elegantes, como 1879 (apud Santos, 2004). testemunha o norte-americano Jasper Harben no pre- fácio da oitava edição de Prosodia ingleza (1878), o A partir da década de 1870, o ensino das línguas mercado era muito maior para aqueles que ensina- estrangeiras modernas, mantendo seu caráter instru- vam os rudimentos gramaticais das várias línguas mental e literário, assumiu uma finalidade prática, exigidas naqueles exames – latim, francês, inglês e como “meio de communicação do pensamento”, a português, a partir da década de setenta –, como o despeito da “exagerada influencia grammatical” – nas cônego Manuel da Costa Honorato (1838-1891), au- palavras do professor do Colégio de Pedro II Carlos tor de uma Synopse da grammatica ingleza “extrahida de Laet, em relatório de 1882 –, o que ocorreu ofici- de diversos autores”, responsável pela cadeira de almente com a reforma do ministro Paulino José So- retórica do Colégio de Pedro II e professor particular ares de Souza, em 1870. Antes dessa reforma, o ad- de preparatórios, tal como se apresentava em anún- jetivo “prático” havia sido usado com sucesso por cio de 1878 do Almanaque Laemmert (Oliveira, Fillipe da Motta de Azevedo Corrêa, em seu com- 2006). pêndio Grammatica pratica da lingua ingleza – que em 1927 alcançou sua 21.ª edição – bem como por Em 6 de fevereiro de 1875 o vigário Francisco vários autores estrangeiros de cursos de línguas du- Vieira de Melo anunciava no Jornal do Aracaju que o rante o século XIX, tais como Robertson (Novo curso Colégio de Nossa S. do Amparo, na Capela, continu- pratico, analytico, theorico e synthetico de lingua ava a funcionar sob sua direção. O diretor ainda fa- ingleza), Ollendorff (Novo methodo pratico para zia saber que continuava a aceitar alunos externos, e aprender a ler, escrever e fallar a lingua ingleza em que o edifício em que o estabelecimento estava fun- seis mezes) e Ahn (Novo methodo practico e facil de dado tinha amplas proporções para abrigar um gran- aprender a Lingua Ingleza) (Oliveira, 2006). de número de alunos internos. Embora o anúncio deixasse patente o caráter formativo da instituição, Para Howatt (1988: 132), a palavra “prático”, nes- uma vez que garantia aos “senhores pais de familias” ses compêndios, refere-se à prática dos exercícios que confiassem a educação de seus filhos ao vigário usados pelo “grammar-translation method” (“méto- que estes sairiam instruídos “nos principios solidos, do da gramática e tradução”), principalmente os de que formam o homem para bem dirigir-se nas diver- tradução e versão de listas de orações. Outra razão Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 9. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 31 para a ênfase na prática, segundo o mesmo autor, é a publicadas no período. Com a regulamentação das prioridade dispensada à correção, bem como o valor novas profissões que exigiam em seus concursos de moral das frases usadas como exemplos. No entan- admissão o conhecimento daquelas línguas, tal mer- to, Azevedo Corrêa, no prefácio da primeira edição cado passou a solicitar métodos mais rápidos e efi- de sua Grammatica pratica (1863), ao afirmar que “a cazes para seu ensino, os quais se apresentavam com experiencia de todos os dias” o havia convencido de um caráter claramente utilitário. que o melhor método no ensino das Línguas era aque- le que pudesse associar a teoria à prática, censurava Ao tratar do que considera as principais tendên- os “methodos theoricos” por exigirem de alunos de cias do desenvolvimento do ensino de línguas no tenra idade a “perfeita exactidão na cópia ou a devi- século XIX, Howatt (1988, p. 129-130) nota que, ao da attenção e rapida comprehensão do que se vai lado de uma história da gradual integração das lín- expondo”, fazendo-os perder muito tempo no pro- guas estrangeiras modernas no “currículo da escola cesso de aprendizagem. Assim, em seu discurso, o secundária moderna” (“modernized secondary “methodo pratico” aparece em contraposição ao que school curriculum”), há também uma história, mui- Howatt considera “prático” no “método da gramáti- to menos contada, da expansão do mercado para o ca e tradução”. ensino utilitário das línguas, relacionado às neces- sidades e interesses práticos de um período em que A expressão “finalidade prática”, tal como defino as nações européias travavam – ou impunham, di- (Oliveira, 2006), relaciona-se com a inclusão de um plomaticamente ou pela violência – contatos comer- elemento novo entre os objetivos do ensino das “lín- ciais cada vez mais freqüentes entre si e com países guas vivas”: a comunicação do pensamento, e não só de outros continentes. De acordo com o autor inglês, pela leitura e composição, isto é, pela linguagem es- as escolas e universidades não tiveram interesse nes- crita, mas também, e principalmente, pelo desenvol- se tipo de ensino, no que menciona os exemplos da vimento das habilidades orais e auriculares dos alu- Alemanha, em que a prioridade era formar pessoal nos. Nesse sentido, o Decreto n. 4.468, de 1.º de fe- altamente qualificado para o serviço público, e da vereiro de 1870, assinado pelo Conselheiro Paulino, Inglaterra, onde o interesse se concentrava nas im- inicia tal processo, pois, pela primeira vez, a lei man- plicações sociais da educação adequada para um dou que os professores de línguas não falassem na “gentleman”. aula senão na língua que ensinassem. No “Relatorio dos acontecimentos notaveis do anno lectivo de Mesmo com o descrédito das instituições oficiais 1882”, o professor Carlos de Laet defendia o “ensino de ensino, a evidência de que um “mercado utilitá- pratico das linguas vivas”, argumentando que, pelos rio” para os compêndios de línguas de fato existiu – “methodos classicos”, só se ensina a traduzir, mas inclusive no Brasil –, como argumenta o mesmo não a compreender a “lingua fallada”, e menos ainda Howatt, pode ser atestada pelo enorme sucesso al- a falar, e que o ouvido era o principal órgão a ser cançado por autores como os alemães Franz Ahn educado, pois a transmissão de pensamentos se fa- (1796-1865) e H.G. Ollendorff (1803-1865), cujos zia através de sons. métodos, escritos nas principais línguas européias, foram inúmeras vezes reeditados em quase todo o Como já foi sugerido alguns parágrafos acima, o mundo. Em 1871, foi publicado pela Tipografia Uni- mercado para o ensino de línguas, no Brasil da se- versal dos irmãos Laemmert, no Rio de Janeiro, um gunda metade do século XIX, era muito mais rentá- Systema pratico e theorico para aprender a ler, es- vel quando voltado para o exame geral de preparató- crever e fallar com toda a perfeição a lingua ingleza rios, tanto no que diz respeito à profissão docente em 50 lições “conforme o methodo de Ollendorff”, quanto à produção e consumo de compêndios, como escrito por Nicoláo James Tolstadius, bacharel em sugerem as diversas seletas francesas e inglesas letras e professor de várias línguas e ciências “ha- Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 10. 32 Luiz Eduardo Oliveira bilitado pelo Conselho Superior de Instrucção Pu- sexos a falar, escrever e traduzir a língua francesa e blica de Lisboa e pela Inspetoria Geral de Instrucção italiana (apud Santos, 2004). Primaria e Secundaria da Côrte do Rio de Janeiro”, conforme a folha de rosto do livro, e dois anos de- pois saiu, editado por Serafim José Alves, na mesma 4. Considerações finais cidade, o Novo methodo practico e facil de aprender a lingua ingleza “segundo os principios de F. Ahn”, Pelo que podemos perceber nos discursos da épo- “modificado e adaptado á lingua portugueza por ca, as principais dificuldades do processo de escola- Pacheco Junior” (Oliveira, 2006). rização, no Brasil, advinham de um problema fun- damental: a carência de espaços físicos onde pudes- A voga dos cursos teóricos e práticos de línguas sem ser reunidas as aulas, problema esse que não se não tardou a se espalhar pelas províncias, como atesta restringia aos chamados “estudos menores” – expres- um anúncio de 16 de junho de 1883 publicado em O são que designa tanto a instrução primária quanto a Democrata, no qual o professor Paulo A. Quirino, secundária –, pois, em termos administrativos, re- habilitado pela Instrução Pública da Bahia, onde presentava a reformulação do orçamento do Estado havia exercido “por longos annos o Magisterio”, pro- para um investimento que só traria retorno a um pra- punha-se a lecionar as línguas francesa, inglesa e ale- zo muito longo: a construção de prédios ou edifícios mã em cursos práticos e teóricos. A partir do dia 15, dedicados à Instrução Pública, acompanhada do pro- informava, seria iniciado, à Rua de Itabaiana, um vimento de professores, secretários, porteiros e de- curso prático da língua inglesa das 8 às 9 da noite mais lugares exigidos para cada estabelecimento. (apud Santos, 2004). Tal foi o caso da instrução primária, que não che- A cadeira de alemão foi criada no Colégio de Pedro gou, durante o Império, a ter estabelecimentos a ela II com o Decreto n. 62, de 1.º de fevereiro de 1841. destinados, pois a expressão “escolas de primeiras Com o Decreto n. 2.883, de 1.º de fevereiro de 1862, letras”, oriunda dos tempos pombalinos, não impli- o alemão, assim como o italiano – que havia sido cava um prédio ou casa especialmente dedicada à introduzido no plano de estudos do estabelecimento instrução elementar, mas simplesmente professores pelo Decreto n. 1.556, de 17 de fevereiro de 1855, ou professoras que exerciam o magistério em suas não sendo, todavia, seu estudo obrigatório para a próprias residências, como faziam os professores obtenção do diploma de bacharel em letras –, tor- públicos e particulares de línguas da província de nou-se uma matéria opcional, juntamente com o de- Sergipe. Da mesma forma, as poucas “casas de edu- senho, a música e a dança. A freqüência obrigatória cação” particulares, quando providas dos móveis, da aula de alemão só foi de novo exigida em 1873, armários e demais instrumentos ou materiais neces- com o Decreto n. 5.370, de 6 de agosto (Oliveira, sários, dificilmente abrigavam grupos de mais de trin- 2006). ta alunos, por exemplo, os quais exigiriam sua divi- são em classes e o uso de compêndios ou postilas, O único caso de professora particular de línguas dentre outros requisitos. é o de Amélia Cardozo, habilitada perante a Instru- ção Pública da província sergipana, que anunciava Mesmo quando se anunciavam como diretores de na Gazeta de Aracaju de 12 de setembro de 1888 colégio, como era o caso de Manoel Odorico Mendes que tinha aberta à Rua Máquez Herval uma aula de de Amorim, que dirigia o Colégio Público de Laran- “ensino mixto”, isto é, de meninos e meninas, fa- jeiras, ou do vigário Francisco Vieira de Melo, dire- zendo parte do ensino para o sexo feminino as ren- tor do Colégio de Nossa S. do Amparo, em Capela, das de agulha. A professora anunciava ainda que que fazia questão de frisar que seu colégio estava ensinava às crianças ou adolescentes de ambos os sediado num edifício em condições de abrigar mui- Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 11. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 33 tos internos, os professores agiam como se abrissem Quanto aos professores, a Lei de 15 de outubro aulas avulsas, sem qualquer divisão dos alunos em de 1827 regulamentou também a profissão docente, classes, ou dos conteúdos ensinados em um plano estabelecendo as condições necessárias, o modo de de estudos, como sugere a quantidade mínima de admissão, remuneração e um plano de carreira que matérias lecionadas – em geral latim, francês, inglês serviriam de modelo para o provimento de outras e português, depois da década de 70, quando esta cadeiras, tais como as de línguas. Um exemplo disso língua passou a ser exigida nos exames de prepara- é um decreto de 7 de junho de 1831, criando três tórios –, ao que tudo indica pelo mesmo professor. cadeiras na capital da província da Paraíba: uma de retórica, geografia e elementos de história; uma de Assim, é importante lembrar que a primeira lei filosofia racional e moral e outra de língua francesa. do país a tratar especificamente das escolas de pri- O artigo segundo estabelecia que os professores seri- meiras letras, a de 15 de outubro de 1827, estabele- am providos pelo presidente da respectiva provín- cia no artigo quarto que as das capitais das provínci- cia, e seus ordenados taxados interinamente pela as, vilas e lugares mais populosos do Império seriam mesma autoridade, guardando acerca de ambos os de “ensino mútuo” – método atribuído ao reverendo objetos o disposto nos artigos terceiro, sétimo e oita- escocês Andrew Bell (1753-1832), segundo o qual os vo da referida Lei. Tais artigos tratavam, respectiva- discípulos mais desenvolvidos ensinavam aos mente, do valor do ordenado, que deveria variar en- iniciantes (Braga, 1902, p. 31) –, determinando no tre 200 e 500 mil réis anuais, de acordo com a cares- artigo seguinte que se aplicassem “os edificios, que tia dos lugares, dos exames públicos perante os pre- houverem com sufficiencia nos lugares dellas”. Na sidentes de província, em conselho, e da restrição década de 1830, a crítica principal a esse tipo de dos candidatos, sendo somente admitidos os cida- escola, segundo os relatórios ministeriais, tinha como dãos brasileiros de boa conduta e no pleno gozo dos objeto a carência dos edifícios necessários para abri- direitos civis e políticos. gar a grande quantidade de alunos. O declínio do método, que a partir da década seguinte restringiu- O ensino particular, primário e secundário, foi se às escolas anexas às academias militares, signifi- regulado pelo Decreto n. 1.331-A, de 17 de fevereiro cou também o abandono, pelo governo – ou pelo de 1854, assinado pelo ministro Couto Ferraz, que menos pelo Ministério do Império –, do ensino das submetia os diretores e diretoras de escolas e colégi- primeiras letras, ficando este sujeito, com o Ato Adi- os de meninos e meninas a uma prévia autorização cional de 1834, às iniciativas provinciais – geralmente do Inspetor Geral. De acordo com o artigo 112, os limitadas ao provimento de cadeiras e fixação de or- alunos dos colégios particulares que mais se hou- denados, não compreendendo a construção de pré- vessem destacado nos preparatórios teriam isenção dios escolares. de direitos na matrícula do Colégio de Pedro II, po- dendo, se quisessem, tomar o grau de bacharel em Da mesma forma, o tema da instrução secundária letras com todas as suas prerrogativas. Os professo- aflora na medida em que existe uma necessidade res e diretores de tais estabelecimentos, por sua vez, material de se construir prédios nos quais pudessem poderiam adotar quaisquer compêndios e métodos ser reunidas as aulas avulsas, ou preparatórias, para que não fossem expressamente proibidos pelo go- melhor controle daqueles que haveriam de estudar verno. nas academias do Império. É o que nos deixam ver os insistentes pedidos dos ministros para que se reu- Nenhum dos professores particulares de línguas nissem as aulas avulsas num só edifício, na corte e da província de Sergipe, tanto quanto se saiba, pu- nas províncias. Não é coincidência o fato de que, na blicou qualquer compêndio, disputando um merca- mesma época, voltasse ao debate, na câmara e no do relativamente acanhado no século XIX, uma vez senado, a idéia de uma Universidade na corte. que era composto principalmente pelos meninos Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 12. 34 Luiz Eduardo Oliveira brancos de famílias abastadas, cujos pais poderiam de 1850 nos cemitérios de São Paulo, tal como relata se dar ao luxo de prepará-los para os exames de pre- a cozinheira Chica Prosa a Pires de Almeida (1962). paratórios, no intuito de que um dia pudessem bri- lhar, na corte ou nas províncias, seus anéis de bacha- Um aspecto curioso desse processo de ascensão réis nos bailes e saraus da alta sociedade da época. dos bacharéis é a presença de vários mestiços ou mulatos – principalmente no Norte do país –, alguns Com efeito, os bacharéis e doutores constituíam deles filhos naturais, ou ilegítimos, de grandes se- uma nova nobreza no Brasil, bem mais valorizada nhores brancos. Com o anel de formatura, e envolvi- que a dos negociantes e industriais, como mostra sua dos em sobrecasacas ou becas de seda, esses bacha- rápida ascensão no meio político e social durante o réis mulatos, muitos deles assíduos freqüentadores reinado de D. Pedro II, principalmente durante as de teatro, fluentes em francês e versejadores, senti- décadas de trinta e quarenta, posteriores à fundação am-se aristocratizados, na medida em que não so- dos cursos de Olinda e São Paulo, quando floresceu mente conseguiam uma mobilidade social, ascenden- o que Freyre (1951) chama de “romantismo jurídi- do de uma classe a outra, mas também uma espécie co”, referindo-se aos poetas da segunda geração ro- de “ascensão racial”, passando de negros a “morenos”, mântica, formada por estudantes de direito que, vin- e às vezes até a brancos, algo que se tornou ainda dos de várias províncias, aprendiam naquelas aca- mais fácil com a vulgarização, pelos anúncios de jor- demias, além da doutrina jurídica, “as últimas idéias nal da segunda metade do século, da nova técnica inglesas e as últimas modas francesas”, como o dos “retratos americanos”, notáveis, segundo Freyre paulista Álvares de Azevedo (1831-1852), também (1951, p. 983), pelos exageros de embelezamento e bacharel em letras pelo Colégio de Pedro II, o sergi- arianização das fisionomias de alguns retratados. É pano Tobias Barreto (1839-1889), o carioca Fagundes possível que tal fenômeno tenha ocorrido na provín- Varela (1841-1875) e o baiano Castro Alves (1847- cia de Sergipe, e que muitos “bacharéis mulatos” te- 1871). Entre as “idéias” ou “modas” inglesas, pode- nham aprendido os rudimentos do latim, francês ou ria ser mencionado o “byronismo” de Álvares de inglês com alguns desses professores particulares que Azevedo, ou das sessões macabras dos acadêmicos anunciavam seus serviços nos jornais sergipanos. Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 13. A imprensa e o ensino de línguas no século XIX 35 Referências bibliográficas ALMEIDA, José Ricardo Pires de. (2000). Historia da Tradução: Guacira Lopes Louro. Teoria & Educação. Instrução Pública no Brasil (1500-1889) (1889). Tra- Porto Alegre, nº. 2, pp. 177-229. dução: Antonio Chizzotti. São Paulo: EDUC/INEP / Comped. FREYRE, Gilberto. (1951). Sobrados e mucambos. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 3 v. ALMEIDA, Pires de. (1962). A escola byroniana no Brasil. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura. _____. (2000). Ingleses no Brasil. 3. ed. Rio de Janei- ro: Topbooks. BRAGA, Theophilo. (1902). História da Universida- de de Cõimbra nas suas relações com a instrucção HILSDORF, Maria Lucia Spedo. (2000). “Simonton e publica portugueza. Lisboa: Na Typographia da Aca- o panorama religioso do Brasil nos meados do sécu- demia Real das Sciencias, tomo IV (1800 a 1872). lo XIX”. Cadernos de História e Filosofia da Educa- ção. São Paulo: FEUS, v. III, n. 5, pp. 179-194. BRASIL. (1834). Relatorio da Repartição dos Negocios do Imperio apresentado á Assembléa Geral Legisla- HOWATT, A. P. R. (1988). A history of English language tiva na sessão ordinaria de 1834 pelo respectivo Mi- teaching. 3. ed. Oxford: Oxford University Press. nistro e Secretario de Estado Antonio Pinto Chichorro da Gama. Rio de Janeiro: Na Typographia Nacional. OLIVEIRA, Luiz Eduardo Meneses de. 2005. “ origens As da profissão de tradutor público e intérprete comercial _______. (1874). Coleção das Leis do Imperio do Bra- no Brasil (1808-1943)”. Claritas: revista do Departamen- sil de 1873. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. to de Inglês da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: EDUC, v. 11, n. 2, pp. 25-41. _______. (1877). Coleção das Leis do Imperio do Bra- sil de 1831. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. _____. (2006). A instituição do ensino das Línguas Vivas no Brasil: o caso da Língua Inglesa (1809-1890). _______. (1878). Coleção das Leis do Imperio do Bra- Tese de Doutorado, Programa de Estudos Pós-Gra- sil de 1827. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. duados em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Dis- _______. (1890). Decretos do Governo Provisório da ponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/ República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Ja- tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2255. neiro: Imprensa Nacional. PINHEIRO, Doutor Joaquim Caetano Fernandes. CARVALHO, José Murilo de. (2003). A construção da (1872). Resumo de historia litteraria. Rio de Janeiro: ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a po- B. L. Garnier. lítica imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. SANTOS, Marcos Aurelo Alves. (2004). Anúncios de CHAGAS, R. Valnir C. (1967). Didática especial de serviços e mercadorias nos jornais sergipanos do sécu- línguas modernas. 2. ed. São Paulo: Nacional. lo XIX. Monografia apresentada à disciplina Prática de Pesquisa, ministrada pelo Prof. Dr. Francisco José Alves. CHERVEL, André. (1990). “História das disciplinas Departamento de História, Centro de Educação e Ci- escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”. ências Humanas, Universidade Federal de Sergipe. Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006
  • 14. 36 Luiz Eduardo Oliveira SERGIPE. (1855). Relatorio apresentado a Assemblea ________. (1858). Relatorio com que foi aberta a 1.ª Legislativa Provincial de Sergipe na abertura de sua sessão da duodecima legislatura da Assemblèa Le- sessão ordinária no dia 1.º de março de 1855 pelo gislativa de Sergipe pelo excellentissimo presidente Exm. Snr. Presidente da Provincia Dr. Ignacio Joa- doutor João Dabney d’Avellar Brotero. Bahia: quim Barboza. Sergipe: Na Typographia Provincial. Typographia de A. Olavo da França Guerra. Revista da Fapese, v. 2, n. 2, p. 23-36, jul./dez. 2006