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DEUS OPTOU PELOS POBRESPe. José Bortolini–Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades –Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: C – TEMPO LITÚRGICO:26° DOMINGO TEMPO COMUM–COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. “O indigente está atormentado pela falta do necessário e se
lamenta e levanta muitos acusadores e não deixa nenhuma rua
sem percorrer, perseguido por sua miséria, sem ter nem onde
passar a noite. Como conseguirá o infeliz dormir, atormentado
pelo estômago, cercado pela fome, desprotegido quando vem o
frio ou quando cai o aguaceiro?
2. Você sai limpo de seu banho, vestindo roupas claras, cheio
de satisfação e euforia e se dirige à esplêndida mesa que lhe foi
posta. O outro, porém, transido de frio e morto de fome, dá voltas
e mais voltas pela praça pública, com a cabeça baixa e estenden-
do as mãos. O infeliz já nem tem ânimo para se dirigir ao bem-
alimentado e bem-descansado, pedindo-lhe o sustento necessário,
e muitas vezes se retira coberto de insultos” (João Crisóstomo,
Homilia sobre a primeira epístola aos coríntios, citado em Por
que a Igreja critica os ricos?, Paulus, São Paulo, 1983, pp. 64-
65).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Am 6,1a.4-7): A falsa segurança dos ricos e podero-
sos
3. Amós tem palavras duras contra os que detêm riqueza e
poder (para entender qual era a situação daquele tempo, conferir o
comentário à 1ª leitura do domingo passado). Os nobres de Sama-
ria (capital político-administrativa do reino do Norte) sentiam-se
tranqüilos e seguros por duas razões: 1. As conquistas do rei
Jeroboão II trouxeram paz e bem-estar, ainda que para uma mino-
ria; 2. Esperava-se o “dia de Javé”, no qual essas conquistas as-
sumiriam proporções imensas, pelo fato de Israel ser “o escolhido
de Deus”.
4. O profeta contesta a falsa segurança dos que detêm poder e
riqueza. Sua mensagem começa com um “ai”, antevendo de certa
forma onde irá acabar essa falsa segurança: o “dia de Javé” será
um dia de castigo, culminando com a destruição de Samaria e
com o exílio.
5. Os ricos e poderosos imaginam-se protegidos por Deus. Sua
riqueza e poder são sinais de pretensa bênção divina. E por isso
deleitam-se numa vida ociosa e requintada. Seu luxo e despreo-
cupação são descritos nos vv. 4-6a: espreguiçam-se em camas de
marfim e se estiram em seus divãs, com música ao vivo, comem
os melhores produtos dos rebanhos, vinho em abundância, banho
de perfumes exóticos… E tudo isso sob a pretensa bênção de
Javé!
6. Amós chama a tudo isso de “orgia” (v. 7b) que em breve irá
desaparecer, pois Javé está prestes a intervir. O erro dos ricos e
poderosos de Samaria pode ser assim sintetizado: 1. Enriquece-
ram-se à custa da exploração dos pobres (isto Amós o afirma em
outro lugar, cf. 1ª leitura do domingo passado); 2. Querem afastar
o dia da desgraça, mas apressam o domínio da violência (v. 3),
seja porque pretendem passar por pessoas de bem diante de Deus
(provavelmente o banquete dos vv. 4-6a pertença a uma celebra-
ção litúrgica), seja porque sua ganância e má administração polí-
tica aumentam ainda mais a violência contra os fracos e pobres;
3. Seu papel de administradores do bem-estar e da paz social foi
totalmente pervertido: não se preocupam com a ruína de José (v.
6b), isto é, não têm sensibilidade para com os que são oprimidos
por causa de sua febre de riqueza e poder, deles se aproveitando
até sugar-lhes a vida.
7. A sentença de Javé é radical: eles irão “puxar a fila” dos que
serão levados para o exílio (v. 7a). É a conseqüência previsível da
sociedade gananciosa e podre. Só um pequeno “resto” irá sobrar
(v. 10), os que não exploraram os outros.
8. Segundo os estudiosos, o texto de Am 6,1-7 sofreu posterio-
res adaptações. A referência a Sião (v. 1) é, sem dúvida, uma
releitura dentro de outra realidade. O v. 2, referindo-se às cidades,
pretensamente inexpugnáveis, que sucumbiram sob o poder assí-
rio, e a referência a Davi, no v. 5, também demonstram que a
mensagem de Amós foi adaptada a situações posteriores à denún-
cia do profeta. Tudo isso não deve ser considerado como simples
nota crítica de rodapé. Pelo contrário: o fato de ter servido para
iluminar novas situações, não previstas por Amós, é uma adver-
tência contra as falsas seguranças do hoje. O “ai” do profeta
ressoa por todas as ruas, praças e campos do nosso país…
Evangelho (Lc 16,19-31): Deus optou pelos pobres
9. A parábola do rico e de Lázaro (que com maior propriedade
deveria ser chamada “a parábola dos seis irmãos ricos”) pertence
à seção que vai de 9,51 a19,27, que é a viagem de Jesus a Jerusa-
lém, e é própria de Lucas. Nessa “viagem” teológico-catequética
são apresentados os riscos e as exigências do ser cristão. A via-
gem de Jesus é, portanto, o caminho da comunidade, cujas opções
e riscos são os mesmos do Mestre. A parábola é, pois, um convite
ao discernimento. É uma provocação. É como um “flash” do final
da caminhada. A viagem de Jesus culmina em Jerusalém, onde
será morto pelo poder político e religioso, mas ressuscitará vitori-
oso. Como agir para possuir essa vida em plenitude? Qual será o
fim de quem não aceita partilhar a vida?
A parábola se divide em dois atos: vv. 19-22 e vv. 23-31.
a. A opção de Deus é pelos pobres (vv. 19-22)
10. Começa-se descrevendo duas situações contrastantes. De um
lado, o rico que esbanja luxo e requinte nas roupas finas e elegan-
tes (literalmente: púrpura e linho, que eram artigos de luxo impor-
tados da Fenícia e do Egito) e no teor de vida (banquetes diários).
De outro lado, Lázaro, que tem seu ponto de mendicância junto à
porta do rico. A situação do pobre é de total marginalidade: está
coberto de feridas (= impuro, cf. Jó 2,7-8) e faminto. Desejava
matar a fome com o que caía da mesa do rico (v. 21), isto é, “não
as migalhas que caíam no chão, mas pedaços de pão que se usa-
vam para limpar os pratos e enxugar as mãos e que depois se
atiravam sob a mesa. Como Lázaro queria saciar a fome com
aquilo!” (J. Jeremias, As parábolas de Jesus, Paulus, São Paulo,
5ª ed., 1986, p. 185). Lázaro é considerado um “cão”, impuro
como os cães que vêm lamber-lhe as feridas (v. 21). Como se
sabe, na cultura do povo da Bíblia, o cão ocupava os primeiros
postos no ranking dos animais impuros.
11. Por outro lado, a parábola mostra como as relações sociais da
cidade grande se opunham radicalmente às relações entre as pes-
soas nas aldeias da Galiléia. Nestas, a partilha era a lei, de modo
que dificilmente se encontravam nelas o mendigo, a prostituta (na
verdade, prostituída), o bandido que rouba e mata para não mor-
rer de fome etc. Bem outra era a situação nas grandes cidades,
geradoras de todos esses “subprodutos humanos”... A grande
cidade cria, desde já, o abismo que se tornará visível a seguir.
12. Ferido no corpo e na dignidade, verdadeiro excluído, o men-
digo da grande cidade encontra solidariedade em Deus. De fato, é
o único, em todas as parábolas, a ter nome. Lázaro significa Deus
ajuda. Deus optou por ele.
13. A morte nivela a todos, mas a sorte é bem diferente: Lázaro é
levado pelos anjos junto de Abraão (v. 22), isto é, torna-se íntimo
daquele que foi solidário com o mais fraco (cf. Gn 13,5-12).
b. Os ricos cavam para si um abismo intransponível (vv. 23-31)
14. A situação se inverteu: o rico está em tormentos e Lázaro
junto de Abraão. Inicia, então, um diálogo entre Abraão e o rico.
Este, por três vezes, chama Abraão de pai (vv. 24.27.30) e Abra-
ão o reconhece como filho (v. 25). Contudo, a filiação não é sufi-
ciente para obter a salvação. Importa, antes, uma prática que
espelhe a misericórdia de Abraão.
15. O rico faz dois pedidos. O primeiro é que Lázaro molhe a
ponta do dedo para refrescar a língua do rico (v. 24). Grande
ironia: Para quem estava acostumado a grandes banquetes diários,
basta agora uma gota d’água! O pedido é recusado porque “há um
grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não
poderia passar daqui para junto de vocês, e nem os daí poderiam
atravessar até nós” (v. 26). Pergunta-se: quem construiu a impos-
sibilidade de comunhão entre o rico e Lázaro, a não ser o próprio
rico que o ignorou todos os dias? (cf. 14,13-14: “Quando você der
uma festa, convide os pobres, estropiados, coxos, cegos; você
será feliz, então, porque eles não têm com que retribuir. Você,
porém, será recompensado na ressurreição dos justos”). É oportu-
no lembrar que esse rico exótico leva à radicalidade o sistema das
cidades no tempo de Jesus. Baseado na concentração, esse siste-
ma gerava uma massa de excluídos. O rico excêntrico devia ter
percebido isso antes e ter construído uma ponte sobre o abismo.
Essa ponte se chama solidariedade ou, em outras palavras, parti-
lha. E acrescentemos um detalhe: se assim fizesse, não ficaria
menos rico, pois Lázaro se contentava com as sobras, sem contu-
do ser atendido...
16. É muito importante perceber um detalhe na resposta de A-
braão: ele se dirige ao rico na terceira pessoa do plural: vocês…
não poderiam atravessar… Isso denota que o rico não está só.
Outros o precederam no projeto de acumular gananciosamente.
Sempre houve ricos cujo caminho jamais cruzou com o dos po-
bres. Todos tiveram a mesma sorte!
17. O segundo pedido é que Lázaro seja enviado aos cinco ir-
mãos do rico como testemunho, para que não tenham o mesmo
fim (v. 28). Abraão responde dizendo que a Lei e os Profetas são
suficientes para convencê-los (v. 29). De fato, a Lei e os Profetas
(isto é, todo o Antigo Testamento) exigiam igualdade e fraterni-
dade entre todos. E Lázaro não era certamente o único pobre a
aguçar-lhes a consciência (cf. Dt 15,11: “Nunca deixará de haver
pobres na terra; é por isso que eu lhe dou esta ordem: abra a mão
em favor do seu irmão, do seu indigente e do seu pobre na terra
onde você mora”. Cf. também Jo 12,8: “Vocês sempre terão
pobres com vocês”). Portanto, os cinco irmãos não têm descul-
pas.
18. O rico não se convence. Crê sejam necessários sinais extra-
ordinários, como a ressurreição de um morto, para que os irmãos
se convertam (v. 30). A resposta de Abraão é taxativa: a ressur-
reição de um morto não será capaz de sensibilizar os ricos, se não
forem sensíveis aos apelos de Moisés e dos Profetas. A afirmação
insinua que a própria ressurreição de Jesus será para eles inútil,
caso não abram a mão e o coração ao necessitado.
19. Estarão, portanto, os hodiernos irmãos do rico irremediavel-
mente perdidos? Eis, então, que voltamos ao tema da viagem de
Jesus a Jerusalém. Ele nos diz que é necessário discernimento. De
fato, permanecendo insensíveis, como os gananciosos fariseus
(cf. 16,14), seu caminho jamais se identificará com o de Jesus, e
não participarão do Reino. Mas se assumirem as opções de Jesus,
partilhando os bens, como fez o administrador da parábola anteri-
or, possuirão a vida (cf. o ideal da comunidade cristã em At 2,42-
47: a partilha leva à vida para todos; At 5,1-11: ambição e acúmu-
lo geram morte). É preciso discernir e tomar partido já, antes que
seja tarde…
2ª leitura (1Tm 6,11-16): O cristão é, na sociedade, a própria
presença de Jesus
20. Escrevendo a Timóteo, seu verdadeiro filho na fé, Paulo lhe
atribui o título de “homem de Deus” (6,11), exatamente como
foram chamados Elias e Eliseu. Com isso caracteriza-se a função
do cristão na sociedade: seu papel é profético pela denúncia e
anúncio. Paulo dá uma ordem a Timóteo: “Fuja dessas coisas” (v.
11). As coisas das quais deve se afastar tinham sido apresentadas
anteriormente, nos vv. 2b-10: havia, em Éfeso, pessoas que falsi-
ficavam a mensagem, fazendo da religião fonte de riqueza (v. 5).
Por causa do amor ao dinheiro, raiz de todos os males (v. 10),
alguns haviam caído na tentação, ou seja, abandonaram a fé (v.
9), fazendo da pregação do Evangelho fonte de lucro.
21. O próprio Paulo havia tomado a decisão de não misturar
anúncio do Evangelho com dinheiro, trabalhando com as próprias
mãos para seu sustento (cf. Fl 4,15; 1Cor 9,15-18). Ele recomen-
da moderação a Timóteo (6,8) para não comprometer a mensa-
gem. E dá-lhe a ordem de seguir a justiça, a piedade, a fé, o amor,
a firmeza, a mansidão (v. 11). Essas seis virtudes são, nas cartas
pastorais, a síntese do ideal cristão. A justiça é a retidão em rela-
ção às pessoas; a piedade é a retidão em relação a Deus; a fé é a
adesão plena a Jesus Cristo; o amor é a concretização dessa fé,
norma de comportamento comunitário; a perseverança é a capa-
cidade de superar os conflitos internos e externos; a mansidão é
típica de quem se diz cristão.
22. Paulo toma, a seguir, como termo de comparação, o exemplo
do atleta ou soldado: este luta para conseguir o prêmio e para
“não fazer feio”. Timóteo deve combater o combate da fé, pois
para isso foi “convocado” por Deus. E deve honrar o compromis-
so assumido (v. 12). Os vv. 12-13 insistem nos termos profissão
de fé e testemunho. Eles recordam a liturgia batismal, em que o
discípulo é associado a Cristo e a seu projeto, com todas as exi-
gências que daí decorrem. Assim como fez Jesus, assim fará o
cristão (v. 13). E esse compromisso dura até o fim, até a morte (v.
14).
23. Os vv. 15-16 contêm um hino litúrgico do qual Paulo apro-
veitou para salientar três coisas: 1. O cristão deve prestar culto
somente a Jesus. Ele é o único Soberano, o Rei dos reis e Senhor
dos senhores. O hino, portanto, critica todo culto prestado a pes-
soas ou coisas (estamos num contexto de divinização dos impera-
dores romanos); 2. Só Jesus possui a imortalidade, ou seja, é o
único que pode dar vida plena; 3. Jesus supera a capacidade de
compreensão que as pessoas têm dele. É inútil pretender possuir a
plena compreensão dos mistérios de Deus. Não se resolve a ques-
tão de Deus mediante debates sem fim (cf. 6,4); antes, encontra-
se Deus na vivência do projeto de Jesus (vv. 11-12).
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
24. Levar a comunidade a entender que a opção pelos pobres é a razão de ser comunidade cris-
tã. Deus optou pelos pobres. E os cristãos? De que modo essa opção toca o momento político em
que vivemos?
25. Favorecer o discernimento cristão diante do uso dos bens. Até quando a orgia dos ricos irá
continuar? Quais são as formas alternativas no uso dos bens que a comunidade descobriu (muti-
rões etc.)? Nossa opção política contempla, já aqui, a eliminação do abismo entre ricos e pobres?
26. Comparar como a comunidade primitiva (At 2,42-47; 5,1-11) usava os bens, e como são
utilizados em nosso país.

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Comentário: 26° Domingo Tempo Comum - Ano C

  • 1. DEUS OPTOU PELOS POBRESPe. José Bortolini–Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades –Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: C – TEMPO LITÚRGICO:26° DOMINGO TEMPO COMUM–COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. “O indigente está atormentado pela falta do necessário e se lamenta e levanta muitos acusadores e não deixa nenhuma rua sem percorrer, perseguido por sua miséria, sem ter nem onde passar a noite. Como conseguirá o infeliz dormir, atormentado pelo estômago, cercado pela fome, desprotegido quando vem o frio ou quando cai o aguaceiro? 2. Você sai limpo de seu banho, vestindo roupas claras, cheio de satisfação e euforia e se dirige à esplêndida mesa que lhe foi posta. O outro, porém, transido de frio e morto de fome, dá voltas e mais voltas pela praça pública, com a cabeça baixa e estenden- do as mãos. O infeliz já nem tem ânimo para se dirigir ao bem- alimentado e bem-descansado, pedindo-lhe o sustento necessário, e muitas vezes se retira coberto de insultos” (João Crisóstomo, Homilia sobre a primeira epístola aos coríntios, citado em Por que a Igreja critica os ricos?, Paulus, São Paulo, 1983, pp. 64- 65). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Am 6,1a.4-7): A falsa segurança dos ricos e podero- sos 3. Amós tem palavras duras contra os que detêm riqueza e poder (para entender qual era a situação daquele tempo, conferir o comentário à 1ª leitura do domingo passado). Os nobres de Sama- ria (capital político-administrativa do reino do Norte) sentiam-se tranqüilos e seguros por duas razões: 1. As conquistas do rei Jeroboão II trouxeram paz e bem-estar, ainda que para uma mino- ria; 2. Esperava-se o “dia de Javé”, no qual essas conquistas as- sumiriam proporções imensas, pelo fato de Israel ser “o escolhido de Deus”. 4. O profeta contesta a falsa segurança dos que detêm poder e riqueza. Sua mensagem começa com um “ai”, antevendo de certa forma onde irá acabar essa falsa segurança: o “dia de Javé” será um dia de castigo, culminando com a destruição de Samaria e com o exílio. 5. Os ricos e poderosos imaginam-se protegidos por Deus. Sua riqueza e poder são sinais de pretensa bênção divina. E por isso deleitam-se numa vida ociosa e requintada. Seu luxo e despreo- cupação são descritos nos vv. 4-6a: espreguiçam-se em camas de marfim e se estiram em seus divãs, com música ao vivo, comem os melhores produtos dos rebanhos, vinho em abundância, banho de perfumes exóticos… E tudo isso sob a pretensa bênção de Javé! 6. Amós chama a tudo isso de “orgia” (v. 7b) que em breve irá desaparecer, pois Javé está prestes a intervir. O erro dos ricos e poderosos de Samaria pode ser assim sintetizado: 1. Enriquece- ram-se à custa da exploração dos pobres (isto Amós o afirma em outro lugar, cf. 1ª leitura do domingo passado); 2. Querem afastar o dia da desgraça, mas apressam o domínio da violência (v. 3), seja porque pretendem passar por pessoas de bem diante de Deus (provavelmente o banquete dos vv. 4-6a pertença a uma celebra- ção litúrgica), seja porque sua ganância e má administração polí- tica aumentam ainda mais a violência contra os fracos e pobres; 3. Seu papel de administradores do bem-estar e da paz social foi totalmente pervertido: não se preocupam com a ruína de José (v. 6b), isto é, não têm sensibilidade para com os que são oprimidos por causa de sua febre de riqueza e poder, deles se aproveitando até sugar-lhes a vida. 7. A sentença de Javé é radical: eles irão “puxar a fila” dos que serão levados para o exílio (v. 7a). É a conseqüência previsível da sociedade gananciosa e podre. Só um pequeno “resto” irá sobrar (v. 10), os que não exploraram os outros. 8. Segundo os estudiosos, o texto de Am 6,1-7 sofreu posterio- res adaptações. A referência a Sião (v. 1) é, sem dúvida, uma releitura dentro de outra realidade. O v. 2, referindo-se às cidades, pretensamente inexpugnáveis, que sucumbiram sob o poder assí- rio, e a referência a Davi, no v. 5, também demonstram que a mensagem de Amós foi adaptada a situações posteriores à denún- cia do profeta. Tudo isso não deve ser considerado como simples nota crítica de rodapé. Pelo contrário: o fato de ter servido para iluminar novas situações, não previstas por Amós, é uma adver- tência contra as falsas seguranças do hoje. O “ai” do profeta ressoa por todas as ruas, praças e campos do nosso país… Evangelho (Lc 16,19-31): Deus optou pelos pobres 9. A parábola do rico e de Lázaro (que com maior propriedade deveria ser chamada “a parábola dos seis irmãos ricos”) pertence à seção que vai de 9,51 a19,27, que é a viagem de Jesus a Jerusa- lém, e é própria de Lucas. Nessa “viagem” teológico-catequética são apresentados os riscos e as exigências do ser cristão. A via- gem de Jesus é, portanto, o caminho da comunidade, cujas opções e riscos são os mesmos do Mestre. A parábola é, pois, um convite ao discernimento. É uma provocação. É como um “flash” do final da caminhada. A viagem de Jesus culmina em Jerusalém, onde será morto pelo poder político e religioso, mas ressuscitará vitori- oso. Como agir para possuir essa vida em plenitude? Qual será o fim de quem não aceita partilhar a vida? A parábola se divide em dois atos: vv. 19-22 e vv. 23-31. a. A opção de Deus é pelos pobres (vv. 19-22) 10. Começa-se descrevendo duas situações contrastantes. De um lado, o rico que esbanja luxo e requinte nas roupas finas e elegan- tes (literalmente: púrpura e linho, que eram artigos de luxo impor- tados da Fenícia e do Egito) e no teor de vida (banquetes diários). De outro lado, Lázaro, que tem seu ponto de mendicância junto à porta do rico. A situação do pobre é de total marginalidade: está coberto de feridas (= impuro, cf. Jó 2,7-8) e faminto. Desejava matar a fome com o que caía da mesa do rico (v. 21), isto é, “não as migalhas que caíam no chão, mas pedaços de pão que se usa- vam para limpar os pratos e enxugar as mãos e que depois se atiravam sob a mesa. Como Lázaro queria saciar a fome com aquilo!” (J. Jeremias, As parábolas de Jesus, Paulus, São Paulo, 5ª ed., 1986, p. 185). Lázaro é considerado um “cão”, impuro como os cães que vêm lamber-lhe as feridas (v. 21). Como se sabe, na cultura do povo da Bíblia, o cão ocupava os primeiros postos no ranking dos animais impuros. 11. Por outro lado, a parábola mostra como as relações sociais da cidade grande se opunham radicalmente às relações entre as pes- soas nas aldeias da Galiléia. Nestas, a partilha era a lei, de modo que dificilmente se encontravam nelas o mendigo, a prostituta (na verdade, prostituída), o bandido que rouba e mata para não mor- rer de fome etc. Bem outra era a situação nas grandes cidades, geradoras de todos esses “subprodutos humanos”... A grande cidade cria, desde já, o abismo que se tornará visível a seguir. 12. Ferido no corpo e na dignidade, verdadeiro excluído, o men- digo da grande cidade encontra solidariedade em Deus. De fato, é o único, em todas as parábolas, a ter nome. Lázaro significa Deus ajuda. Deus optou por ele. 13. A morte nivela a todos, mas a sorte é bem diferente: Lázaro é levado pelos anjos junto de Abraão (v. 22), isto é, torna-se íntimo daquele que foi solidário com o mais fraco (cf. Gn 13,5-12).
  • 2. b. Os ricos cavam para si um abismo intransponível (vv. 23-31) 14. A situação se inverteu: o rico está em tormentos e Lázaro junto de Abraão. Inicia, então, um diálogo entre Abraão e o rico. Este, por três vezes, chama Abraão de pai (vv. 24.27.30) e Abra- ão o reconhece como filho (v. 25). Contudo, a filiação não é sufi- ciente para obter a salvação. Importa, antes, uma prática que espelhe a misericórdia de Abraão. 15. O rico faz dois pedidos. O primeiro é que Lázaro molhe a ponta do dedo para refrescar a língua do rico (v. 24). Grande ironia: Para quem estava acostumado a grandes banquetes diários, basta agora uma gota d’água! O pedido é recusado porque “há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vocês, e nem os daí poderiam atravessar até nós” (v. 26). Pergunta-se: quem construiu a impos- sibilidade de comunhão entre o rico e Lázaro, a não ser o próprio rico que o ignorou todos os dias? (cf. 14,13-14: “Quando você der uma festa, convide os pobres, estropiados, coxos, cegos; você será feliz, então, porque eles não têm com que retribuir. Você, porém, será recompensado na ressurreição dos justos”). É oportu- no lembrar que esse rico exótico leva à radicalidade o sistema das cidades no tempo de Jesus. Baseado na concentração, esse siste- ma gerava uma massa de excluídos. O rico excêntrico devia ter percebido isso antes e ter construído uma ponte sobre o abismo. Essa ponte se chama solidariedade ou, em outras palavras, parti- lha. E acrescentemos um detalhe: se assim fizesse, não ficaria menos rico, pois Lázaro se contentava com as sobras, sem contu- do ser atendido... 16. É muito importante perceber um detalhe na resposta de A- braão: ele se dirige ao rico na terceira pessoa do plural: vocês… não poderiam atravessar… Isso denota que o rico não está só. Outros o precederam no projeto de acumular gananciosamente. Sempre houve ricos cujo caminho jamais cruzou com o dos po- bres. Todos tiveram a mesma sorte! 17. O segundo pedido é que Lázaro seja enviado aos cinco ir- mãos do rico como testemunho, para que não tenham o mesmo fim (v. 28). Abraão responde dizendo que a Lei e os Profetas são suficientes para convencê-los (v. 29). De fato, a Lei e os Profetas (isto é, todo o Antigo Testamento) exigiam igualdade e fraterni- dade entre todos. E Lázaro não era certamente o único pobre a aguçar-lhes a consciência (cf. Dt 15,11: “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu lhe dou esta ordem: abra a mão em favor do seu irmão, do seu indigente e do seu pobre na terra onde você mora”. Cf. também Jo 12,8: “Vocês sempre terão pobres com vocês”). Portanto, os cinco irmãos não têm descul- pas. 18. O rico não se convence. Crê sejam necessários sinais extra- ordinários, como a ressurreição de um morto, para que os irmãos se convertam (v. 30). A resposta de Abraão é taxativa: a ressur- reição de um morto não será capaz de sensibilizar os ricos, se não forem sensíveis aos apelos de Moisés e dos Profetas. A afirmação insinua que a própria ressurreição de Jesus será para eles inútil, caso não abram a mão e o coração ao necessitado. 19. Estarão, portanto, os hodiernos irmãos do rico irremediavel- mente perdidos? Eis, então, que voltamos ao tema da viagem de Jesus a Jerusalém. Ele nos diz que é necessário discernimento. De fato, permanecendo insensíveis, como os gananciosos fariseus (cf. 16,14), seu caminho jamais se identificará com o de Jesus, e não participarão do Reino. Mas se assumirem as opções de Jesus, partilhando os bens, como fez o administrador da parábola anteri- or, possuirão a vida (cf. o ideal da comunidade cristã em At 2,42- 47: a partilha leva à vida para todos; At 5,1-11: ambição e acúmu- lo geram morte). É preciso discernir e tomar partido já, antes que seja tarde… 2ª leitura (1Tm 6,11-16): O cristão é, na sociedade, a própria presença de Jesus 20. Escrevendo a Timóteo, seu verdadeiro filho na fé, Paulo lhe atribui o título de “homem de Deus” (6,11), exatamente como foram chamados Elias e Eliseu. Com isso caracteriza-se a função do cristão na sociedade: seu papel é profético pela denúncia e anúncio. Paulo dá uma ordem a Timóteo: “Fuja dessas coisas” (v. 11). As coisas das quais deve se afastar tinham sido apresentadas anteriormente, nos vv. 2b-10: havia, em Éfeso, pessoas que falsi- ficavam a mensagem, fazendo da religião fonte de riqueza (v. 5). Por causa do amor ao dinheiro, raiz de todos os males (v. 10), alguns haviam caído na tentação, ou seja, abandonaram a fé (v. 9), fazendo da pregação do Evangelho fonte de lucro. 21. O próprio Paulo havia tomado a decisão de não misturar anúncio do Evangelho com dinheiro, trabalhando com as próprias mãos para seu sustento (cf. Fl 4,15; 1Cor 9,15-18). Ele recomen- da moderação a Timóteo (6,8) para não comprometer a mensa- gem. E dá-lhe a ordem de seguir a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão (v. 11). Essas seis virtudes são, nas cartas pastorais, a síntese do ideal cristão. A justiça é a retidão em rela- ção às pessoas; a piedade é a retidão em relação a Deus; a fé é a adesão plena a Jesus Cristo; o amor é a concretização dessa fé, norma de comportamento comunitário; a perseverança é a capa- cidade de superar os conflitos internos e externos; a mansidão é típica de quem se diz cristão. 22. Paulo toma, a seguir, como termo de comparação, o exemplo do atleta ou soldado: este luta para conseguir o prêmio e para “não fazer feio”. Timóteo deve combater o combate da fé, pois para isso foi “convocado” por Deus. E deve honrar o compromis- so assumido (v. 12). Os vv. 12-13 insistem nos termos profissão de fé e testemunho. Eles recordam a liturgia batismal, em que o discípulo é associado a Cristo e a seu projeto, com todas as exi- gências que daí decorrem. Assim como fez Jesus, assim fará o cristão (v. 13). E esse compromisso dura até o fim, até a morte (v. 14). 23. Os vv. 15-16 contêm um hino litúrgico do qual Paulo apro- veitou para salientar três coisas: 1. O cristão deve prestar culto somente a Jesus. Ele é o único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. O hino, portanto, critica todo culto prestado a pes- soas ou coisas (estamos num contexto de divinização dos impera- dores romanos); 2. Só Jesus possui a imortalidade, ou seja, é o único que pode dar vida plena; 3. Jesus supera a capacidade de compreensão que as pessoas têm dele. É inútil pretender possuir a plena compreensão dos mistérios de Deus. Não se resolve a ques- tão de Deus mediante debates sem fim (cf. 6,4); antes, encontra- se Deus na vivência do projeto de Jesus (vv. 11-12). III. PISTAS PARA REFLEXÃO 24. Levar a comunidade a entender que a opção pelos pobres é a razão de ser comunidade cris- tã. Deus optou pelos pobres. E os cristãos? De que modo essa opção toca o momento político em que vivemos? 25. Favorecer o discernimento cristão diante do uso dos bens. Até quando a orgia dos ricos irá continuar? Quais são as formas alternativas no uso dos bens que a comunidade descobriu (muti- rões etc.)? Nossa opção política contempla, já aqui, a eliminação do abismo entre ricos e pobres? 26. Comparar como a comunidade primitiva (At 2,42-47; 5,1-11) usava os bens, e como são utilizados em nosso país.