SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Rendimento Social de Inserção<br />Uma réstia de esperança<br />Vivem-se momentos preocupantes relativamente à situação económica do país. No decurso do designado «2010 Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social», aumentam as dificuldades com que se debatem, agora, não só os 1,8 milhões de portugueses, até aqui incluídos na parcela da população que vive em situação de risco de pobreza, mas todos os outros que se confrontam com o aumento generalizado dos impostos, a redução do valor das prestações sociais e, eventualmente, dos próprios salários.<br />De facto, a crise económica mundial fez disparar o desemprego. Os custos com as prestações sociais começam a preocupar o governo e algumas delas, nomeadamente as englobadas no sub-sistema de solidariedade e financiadas pelo Orçamento de Estado, têm vindo a servir de arma de discussão política.<br />Aos 60 anos de vida, uma mão cheia de nada<br />Luísa e José residem em Santarém, no lugar de Caneiras. Ela tem 59, ele 61 anos e, além de serem casados, têm em comum dois filhos, o desemprego, não subsidiado, e a pobreza. Vivem, agora, numa casa humilde, onde são visíveis as dificuldades por que passam. Recebemnos com a franqueza de quem nada tem a esconder.<br />São dois dos 44.169 cidadãos, com idade superior a 55 anos, que, em Março último, beneficiavam da atribuição da Prestação Pecuniária do Rendimento Social de Inserção (RSI). No total 404.694 beneficiários, usufruíam da prestação, recebendo um valor médio mensal de € 96,20.<br />Requereram a prestação há três anos, em desespero, porque não sabiam a quem recorrer. Valeu-lhes que a «nora, preocupada com a situação, procurasse apoio junto da segurança social». <br />Em termos profissionais nada mudou, desde que requereram o RSI. «Não temos trabalho. A agricultura falhou. O Zé só trabalha alguns dias no inverno e eu também tenho algumas doenças, mas não é por aí. São as dificuldades da vida e tivemos muitos azares. A vida não nos correu bem. Já tivemos uma vida melhorzita mas depois começaram as dificuldades», refere Luísa.<br />O marido intervém e acrescenta «Eu fui mecânico. A oficina fechou, deixei a mecânica e comprei uma loja de tintas. O trabalho correu mal e fui para a agricultura. Dediquei-me à cultura do tomate para a indústria, que também não correu nada bem. As coisas foram-se arrastando. Vivi bem. Cheguei a ter a loja, que era minha, um apartamento… depois a construção civil entrou em crise. Era uma pessoa séria e ainda hoje sou. Tive que honrar os compromissos que tinha com as fábricas fornecedoras e fiquei sem dinheiro».<br />A inexistência da inserção e o futuro<br />A idade de ambos apresenta-se como um sério contratempo para a inserção profissional, não obstante estejam inscritos no Centro de Emprego e as técnicas de acompanhamento efectuem visitas regulares ao domicílio. «Sim, sim. Vêm cá umas senhoras, normalmente, um ou duas vezes por mês. Vêm cá falar connosco e ver se é preciso mais alguma coisa. Mas nós acomodamo-nos e chega… vai chegando…», concorda a esposa, resignada perante tantas dificuldades e apesar de o valor máximo da prestação, por adulto, atingir, apenas, os € 189,52…<br />Já ouviram falar da vontade de alguns políticos levarem por diante alterações legislativas que dificultem o acesso à prestação e possam, em alguns casos, cancelar o seu pagamento. Perante tal eventualidade e levada a antever tal situação, Maria Luísa, vacila. «Não sei explicar… Complicada… muito complicada. Porque nós vivemos desta prestação e de algum peixe que apanhamos, para comer, porque senão, pior seria. E digo, com franqueza, que antigamente me custava muito, quando os meus filhos me ajudavam com alguma coisa. Porque a vida deu uma volta tão grande que eu nunca pensei estar nesta situação. Eu nunca fui pessoa de estar parada à espera do que quer que fosse, nunca…».<br />Maria Luísa e José, dois de entre mais de 400 mil beneficiários, resignaram-se a uma vida no limiar da pobreza. Abandonaram a cidade onde viveram muitos anos e refugiaram-se, junto ao Tejo, onde, por entre uma horta e umas idas ao Tejo, vão subsistindo.<br />O futuro pode ser ainda mais negro, mas Maria não o teme: «Eu acho que… não sei. Eu como estou habituada a ter tão pouco… nem estou a olhar para um futuro assim”.<br />Links<br />http://www.seg-social.pt<br />http://www.2010combateapobreza.pt/<br />http://www.cnrsi.pt/<br />Total caracteres - 4158<br />
RSI uma réstia de esperança para casal de 60 anos

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Apresentação Pessoal
Apresentação PessoalApresentação Pessoal
Apresentação PessoalFabiana Lopes
 
Entre Mulheres
Entre MulheresEntre Mulheres
Entre Mulheresprizinha2
 
Como ser mais produtivo em 2011
Como ser mais produtivo em 2011Como ser mais produtivo em 2011
Como ser mais produtivo em 2011Marcos Luthero
 
Atv complementar elétrica
Atv complementar elétricaAtv complementar elétrica
Atv complementar elétricarenatajm
 
Como guardar una imagen desde internet
Como guardar una imagen desde internetComo guardar una imagen desde internet
Como guardar una imagen desde internetkusicuy2014
 
Como fazer papel em casa
Como fazer  papel em casaComo fazer  papel em casa
Como fazer papel em casaelyrcddv
 
Inquerito escola (frente)
Inquerito escola (frente)Inquerito escola (frente)
Inquerito escola (frente)RVMinho
 
Historia 1º eso vocabulario tema 7
Historia 1º eso vocabulario tema 7Historia 1º eso vocabulario tema 7
Historia 1º eso vocabulario tema 7Geohistoria23
 
Ficha informativa nº1 áreas e volumes
Ficha informativa nº1 áreas e volumesFicha informativa nº1 áreas e volumes
Ficha informativa nº1 áreas e volumesmafalda12
 

Destaque (15)

Trabalho de ciencias
Trabalho de cienciasTrabalho de ciencias
Trabalho de ciencias
 
Apresentação Pessoal
Apresentação PessoalApresentação Pessoal
Apresentação Pessoal
 
Entre Mulheres
Entre MulheresEntre Mulheres
Entre Mulheres
 
Carta 1
Carta 1Carta 1
Carta 1
 
Pdf19
Pdf19Pdf19
Pdf19
 
Como ser mais produtivo em 2011
Como ser mais produtivo em 2011Como ser mais produtivo em 2011
Como ser mais produtivo em 2011
 
Atv complementar elétrica
Atv complementar elétricaAtv complementar elétrica
Atv complementar elétrica
 
Como guardar una imagen desde internet
Como guardar una imagen desde internetComo guardar una imagen desde internet
Como guardar una imagen desde internet
 
Como fazer papel em casa
Como fazer  papel em casaComo fazer  papel em casa
Como fazer papel em casa
 
Inquerito escola (frente)
Inquerito escola (frente)Inquerito escola (frente)
Inquerito escola (frente)
 
Ce001 28
Ce001 28Ce001 28
Ce001 28
 
Actividad 1
Actividad 1Actividad 1
Actividad 1
 
Estrutura..
Estrutura..Estrutura..
Estrutura..
 
Historia 1º eso vocabulario tema 7
Historia 1º eso vocabulario tema 7Historia 1º eso vocabulario tema 7
Historia 1º eso vocabulario tema 7
 
Ficha informativa nº1 áreas e volumes
Ficha informativa nº1 áreas e volumesFicha informativa nº1 áreas e volumes
Ficha informativa nº1 áreas e volumes
 

Semelhante a RSI uma réstia de esperança para casal de 60 anos

Semelhante a RSI uma réstia de esperança para casal de 60 anos (6)

CARTA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA À POPULAÇÃO BRASILEIRA.pdf
CARTA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA À POPULAÇÃO BRASILEIRA.pdfCARTA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA À POPULAÇÃO BRASILEIRA.pdf
CARTA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA À POPULAÇÃO BRASILEIRA.pdf
 
Relações de Poder
Relações de PoderRelações de Poder
Relações de Poder
 
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
 
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
GAZETA SANTA CÂNDIDA, MAIO 2020
 
Propostas
PropostasPropostas
Propostas
 
Gestão Pública
Gestão PúblicaGestão Pública
Gestão Pública
 

Mais de José Marques

Caixa trab social remunerado
Caixa trab social remuneradoCaixa trab social remunerado
Caixa trab social remuneradoJosé Marques
 
Trabalho final antropologia imagem
Trabalho final antropologia imagemTrabalho final antropologia imagem
Trabalho final antropologia imagemJosé Marques
 
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]José Marques
 
Dança contemporânea
Dança contemporâneaDança contemporânea
Dança contemporâneaJosé Marques
 
A dança através dos tempos
A dança através dos temposA dança através dos tempos
A dança através dos temposJosé Marques
 

Mais de José Marques (8)

Reportagem rsi
Reportagem rsiReportagem rsi
Reportagem rsi
 
Caixa trab social remunerado
Caixa trab social remuneradoCaixa trab social remunerado
Caixa trab social remunerado
 
A ética da guerra
A ética da guerraA ética da guerra
A ética da guerra
 
Trabalho final antropologia imagem
Trabalho final antropologia imagemTrabalho final antropologia imagem
Trabalho final antropologia imagem
 
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]
A usabilidade e_acessibilidade_nos_web_sites[1]
 
Web 2
Web 2Web 2
Web 2
 
Dança contemporânea
Dança contemporâneaDança contemporânea
Dança contemporânea
 
A dança através dos tempos
A dança através dos temposA dança através dos tempos
A dança através dos tempos
 

RSI uma réstia de esperança para casal de 60 anos

  • 1. Rendimento Social de Inserção<br />Uma réstia de esperança<br />Vivem-se momentos preocupantes relativamente à situação económica do país. No decurso do designado «2010 Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social», aumentam as dificuldades com que se debatem, agora, não só os 1,8 milhões de portugueses, até aqui incluídos na parcela da população que vive em situação de risco de pobreza, mas todos os outros que se confrontam com o aumento generalizado dos impostos, a redução do valor das prestações sociais e, eventualmente, dos próprios salários.<br />De facto, a crise económica mundial fez disparar o desemprego. Os custos com as prestações sociais começam a preocupar o governo e algumas delas, nomeadamente as englobadas no sub-sistema de solidariedade e financiadas pelo Orçamento de Estado, têm vindo a servir de arma de discussão política.<br />Aos 60 anos de vida, uma mão cheia de nada<br />Luísa e José residem em Santarém, no lugar de Caneiras. Ela tem 59, ele 61 anos e, além de serem casados, têm em comum dois filhos, o desemprego, não subsidiado, e a pobreza. Vivem, agora, numa casa humilde, onde são visíveis as dificuldades por que passam. Recebemnos com a franqueza de quem nada tem a esconder.<br />São dois dos 44.169 cidadãos, com idade superior a 55 anos, que, em Março último, beneficiavam da atribuição da Prestação Pecuniária do Rendimento Social de Inserção (RSI). No total 404.694 beneficiários, usufruíam da prestação, recebendo um valor médio mensal de € 96,20.<br />Requereram a prestação há três anos, em desespero, porque não sabiam a quem recorrer. Valeu-lhes que a «nora, preocupada com a situação, procurasse apoio junto da segurança social». <br />Em termos profissionais nada mudou, desde que requereram o RSI. «Não temos trabalho. A agricultura falhou. O Zé só trabalha alguns dias no inverno e eu também tenho algumas doenças, mas não é por aí. São as dificuldades da vida e tivemos muitos azares. A vida não nos correu bem. Já tivemos uma vida melhorzita mas depois começaram as dificuldades», refere Luísa.<br />O marido intervém e acrescenta «Eu fui mecânico. A oficina fechou, deixei a mecânica e comprei uma loja de tintas. O trabalho correu mal e fui para a agricultura. Dediquei-me à cultura do tomate para a indústria, que também não correu nada bem. As coisas foram-se arrastando. Vivi bem. Cheguei a ter a loja, que era minha, um apartamento… depois a construção civil entrou em crise. Era uma pessoa séria e ainda hoje sou. Tive que honrar os compromissos que tinha com as fábricas fornecedoras e fiquei sem dinheiro».<br />A inexistência da inserção e o futuro<br />A idade de ambos apresenta-se como um sério contratempo para a inserção profissional, não obstante estejam inscritos no Centro de Emprego e as técnicas de acompanhamento efectuem visitas regulares ao domicílio. «Sim, sim. Vêm cá umas senhoras, normalmente, um ou duas vezes por mês. Vêm cá falar connosco e ver se é preciso mais alguma coisa. Mas nós acomodamo-nos e chega… vai chegando…», concorda a esposa, resignada perante tantas dificuldades e apesar de o valor máximo da prestação, por adulto, atingir, apenas, os € 189,52…<br />Já ouviram falar da vontade de alguns políticos levarem por diante alterações legislativas que dificultem o acesso à prestação e possam, em alguns casos, cancelar o seu pagamento. Perante tal eventualidade e levada a antever tal situação, Maria Luísa, vacila. «Não sei explicar… Complicada… muito complicada. Porque nós vivemos desta prestação e de algum peixe que apanhamos, para comer, porque senão, pior seria. E digo, com franqueza, que antigamente me custava muito, quando os meus filhos me ajudavam com alguma coisa. Porque a vida deu uma volta tão grande que eu nunca pensei estar nesta situação. Eu nunca fui pessoa de estar parada à espera do que quer que fosse, nunca…».<br />Maria Luísa e José, dois de entre mais de 400 mil beneficiários, resignaram-se a uma vida no limiar da pobreza. Abandonaram a cidade onde viveram muitos anos e refugiaram-se, junto ao Tejo, onde, por entre uma horta e umas idas ao Tejo, vão subsistindo.<br />O futuro pode ser ainda mais negro, mas Maria não o teme: «Eu acho que… não sei. Eu como estou habituada a ter tão pouco… nem estou a olhar para um futuro assim”.<br />Links<br />http://www.seg-social.pt<br />http://www.2010combateapobreza.pt/<br />http://www.cnrsi.pt/<br />Total caracteres - 4158<br />