POR QUE É MESMO QUE A
GENTE TEM QUE ESCOLHER
UM CANDIDATO, HEIN? Você
já parou pra pensar que um
presidente talvez não tenha poder de
mandar em nada?! Como assim?!
Bem...
1) Vamos supor que eu produza 10
sapatos por dia, e contrato 2 ajudantes;
passando a produzir 30 sapatos
por dia;
2) Depois, inventam uma máquina
que substitui esses dois ajudantes e
ainda produz o dobro de sapatos.
Isso se chama Revolução Industrial,
e aconteceu no século XVII. Então,
agora, produzo 60 sapatos/dia. Pois
bem, eu compro a máquina e
dispenso os dois ajudantes. Preciso,
no entanto, de mão-de-obra especializada
pra lidar com a máquina; se
não tiver no meu país, eu trago de
fora; como aconteceu no nal do
séc. XIX, com os operários italianos
que vieram pro Brasil trabalhar nas
máquinas das plantações de café, no
lugar dos escravos, que não sabiam
nem apertar um botão. Opa! E para
onde eles foram, os escravos? Advinha!!!
Eles receberam terras pra ir
quando foram libertos? Não. Não
houve uma reforma agrária! Eles
foram pra onde? Aglomerarem-se
nas periferias dos bairros distantes
nas grandes cidades, constituindo as
favelas.
3) Um tempo depois, uma revolução
microeletrônica inventa o computador,
que pode coordenar sozinho as
máquinas. Com o lucro obtido com
a dispensa dos ajudantes e a venda
dos 60 sapatos em troca de um
operário, eu compro um computador.
Dispenso o operário e preciso
de uma mão-de-obra mais especializada
ainda. Se não tiver no meu
país, pressiono o governo pra fundar
Universidades e cursos técnicos por
aqui. É até bom, que aí ele ca bem
falado como aquele que trouxe mais
Universidades e Cursos técnicos na
história do meu país;
Seja como for, os meus ajudantes
artesanais e o meu operário já estão
desempregados.
4) Com o aumento do desemprego,
há um consequente aumento do
mercado informal, da violência
urbana, da miséria social... e, consequentemente,
há uma queda no
mercado de consumo. Vixe! Quase
ninguém está comprando os meus
60 pares de sapato. O que eu faço?
1. outros relatos dos mesmos atos Quinta, 25 de setembro de 2014
A cada edição, uma outra
versão do que diz a grande
mídia televisiva ou do que
ela muitas vezes nem diz.
O OUTRO LADO DA COISA
Edição 2
Expediente: Léo Mackellene (Editor).
Há avanços que se parecem com
atrasos e atrasos que se parecem
com avanços.
Léo Mackellene
é professor universitário
e escritor.
Contato: ooutroladodacoisa@gmail.com
O que pode um presidente?
POR QUE É MESMO QUE A
GENTE TEM QUE ESCOLHER
UM CANDIDATO, HEIN? Você
já parou pra pensar que um
presidente talvez não tenha poder de
mandar em nada?! Como assim?!
Bem...
1) Vamos supor que eu produza 10
sapatos por dia, e contrato 2 ajudan-tes;
passando a produzir 30 sapatos
por dia;
2) Depois, inventam uma máquina
que substitui esses dois ajudantes e
ainda produz o dobro de sapatos.
Isso se chama Revolução Industrial,
e aconteceu no século XVII. Então,
agora, produzo 60 sapatos/dia. Pois
bem, eu compro a máquina e
dispenso os dois ajudantes. Preciso,
no entanto, de mão-de-obra espe-cializada
pra lidar com a máquina; se
não tiver no meu país, eu trago de
fora; como aconteceu no @nal do
séc. XIX, com os operários italianos
que vieram pro Brasil trabalhar nas
máquinas das plantações de café, no
lugar dos escravos, que não sabiam
nem apertar um botão. Opa! E para
onde eles foram, os escravos? Ad-vinha!!!
Eles receberam terras pra ir
quando foram libertos? Não. Não
houve uma reforma agrária! Eles
foram pra onde? Aglomerarem-se
nas periferias dos bairros distantes
nas grandes cidades, constituindo as
favelas.
3) Um tempo depois, uma revolução
microeletrônica inventa o computa-dor,
que pode coordenar sozinho as
máquinas. Com o lucro obtido com
a dispensa dos ajudantes e a venda
dos 60 sapatos em troca de um
operário, eu compro um compu-tador.
Dispenso o operário e preciso
de uma mão-de-obra mais especia-lizada
ainda. Se não tiver no meu
país, pressiono o governo pra fundar
Universidades e cursos técnicos por
aqui. É até bom, que aí ele @ca bem
falado como aquele que trouxe mais
Universidades e Cursos técnicos na
história do meu país;
Seja como for, os meus ajudantes
artesanais e o meu operário já estão
desempregados.
4) Com o aumento do desemprego,
há um consequente aumento do
mercado informal, da violência
urbana, da miséria social... e, conse-quentemente,
há uma queda no
mercado de consumo. Vixe! Quase
ninguém está comprando os meus
60 pares de sapato. O que eu faço?
Opção 1) Começo a produzir sapa-tos
com durabilidade cada vez me-nor
(isso se chama "obsolescência
planejada", e isso não fui eu que
inventei: lembra daquela frase "não
fazem mais carros como antiga-mente"?
Pois é!). Isso diminui os
custos de produção, barateia o pro-duto
e acaba compensando a queda
do mercado de consumo - até por-que,
como os produtos duram me-nos,
logo, logo se precisará comprar
um novo;
Opção 2) Posso @nanciar a cam-panha
de algum candidato que já
tenha percebido que a solução é o
mínimo de distribuição de renda,
a@nal, se não tiver consumo, o
sistema trava. Aí, com uma ajudinha
do governo ("distribuindo renda" a
partir de programas como "Bolsa-
Família", "Minha casa, minha vida",
"Minha casa melhor"), as pessoas
voltam a comprar os meus 60 pares
de sapato.
5) Mas o mercado informal conti-nua
crescendo. A@nal, todas as em-presas
querem se modernizar, e,
assim, a mão-de-obra humana vem
sendo substituída cada vez mais por
máquinas e computadores. Ocorre,
então, uma corrida cada vez mais
desenfreada por postos de traba-lho...
as pessoas precisam se especia-lizar
cada vez mais (pra concorrer a
estes postos) e, quem sabe até, con-seguirem
mais de um emprego.
Parece bom, não é? Parece.
Quem vai se quali@car mais?! Oxe!!!
Quem pode fazer isso, ora!
Mas no meu país, existem muitas
pessoas que não podem. Então,
como essas pessoas podem se
especializar e, assim, se inserir no
mercado pra poderem ter dinheiro
pra comprar os meus 60 pares de
sapato? Fácil: reservo algumas vagas
para essas pessoas ("Cotas sociais")
nas Universidades Públicas e
@nancio (através de FIES e PRO-UNI,
por exemplo) a entrada dessas
pessoas em faculdades particulares...
faculdades, universidades, centro
universitários... E essas pessoas @cam
amarradas por anos e anos pagando
o "nanciamento!
6) Mas o crescimento do mercado
informal pega mal pro governo. O
que ele faz? Mata alguns coelhos
com uma cajadada só: começa a ur-banizar
e modernizar áreas ainda
muito pouco "urbanizadas", o que
signi@ca inserir no mercado, mas
t a m b é m s i g n i @ c a d e s m a t a r ,
desapropriar comunidades que vi-viam
nestas áreas... incentivando as
empresas com isenção @scal, por
exemplo, como aconteceu com a
Gr e n d e n e e m So b r a l - C E . O
mercado formal volta a crescer.
Graças a Deus!
7) Com a volta do crescimento do
Mercado Formal, a economia volta a
aquecer, e as pessoas poderão, en@m,
comprar os meus 60 pares de
sapatos, que a essa altura já devem
ser sei lá quantos, a@nal, são 60 por
dia!!! Ufa!!!
8) A modernização/urbanização/ca-pitalização/
industrialização do
interior implica em "desenvolvi-mento".
As pessoas começam a
"melhorar" sua condição de vida:
comprar ar-condicionado, uma TV
maior, um notebook, um tablet,
celulares, uma geladeira maior, um
carro, uma moto... E todos têm a
sensação de que estamos avançando,
confundindo poder de consumo
com qualidade de vida. Alguns
começam a celebrar isso através da
música e da dança: cantando "Funk
ostentação", "Forró ostentação"... e
outras formas pós-modernas do
Barroco... é o novo Barroco, o bar-roco
do lixo.
9) Pra manter todos os aparelhos
funcionando, é preciso de mais
energia... Oxe!!! Vamos lá na Ama-zônia,
ué, onde tem muita água, e
mandamos construir umas hidre-létricas
lá, né, não? A@nal, lá tem um
Belo Monte, donde se pode ver o
futuro da construção civil no Brasil.
Mas lá vivem muitos índios! Ora,
põe pra fora! É o crescimento, meu
@lho! É o crescimento!
10) O avanço do marketing e da
propaganda torna o consumo um
fetiche, solução, inclusive, para nos-sa
solidão, nossa carência contem-porânea,
a@nal, trabalhando tanto,
que tempo eu tenho pra mim, pra
estar com as pessoas que realmente
interessam? Que tempo eu tenho pra
me relacionar com elas? Só se for
a t r a v é s d e u m a r e d e s o c i a l .
Resultado? Fico mais carente e
sozinho. E sozinho, eu sinto medo.
Os telejornais são agências de propa-ganda
do medo. E esse medo é que
alimenta a ansiedade. E a ansiedade,
o consumo. Os objetos se sobre-põem
aos sujeitos, é a degradação do
homem: as pessoas se matam e
matam as outras pra conseguir esses
objetos.
11) Com as pessoas consumindo
mais, o que acontece? Extração cada
vez mais acelerada dos recursos na-turais.
Como as coisas quebram rá-pido
(a tal da "obsolescência plane-jada"),
o que acontece? Lixo,
poluição, degradação da natureza.
Como resposta da natureza: desas-tres,
tsunamis, deslizamentos,
tufões, seca, cheias...
E aqui, o ciclo se completa: "Há
avanços que se parecem com atrasos,
e atrasos que se parecem com
avanços".
Dessa forma, o que você acha que
um presidente, @nanciado por gran-des
empresas, pode fazer pra evitar a
d e g r a d a ç ã o d o h omem e d a
natureza? Será que ele realmente
manda em alguma coisa ou será que
quem manda mesmo é a lógica do
dinheiro e das grandes empresas?
Não será assim também para o cargo
de governador? E de prefeito?