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30 anos depois, o maior símbolo da intolerância e
da opressão ideológica, o muro de Berlim, não só
continua em pé como está muito maior do que os
66,5 quilômetros originais e, mais do que nunca,
ameaça a liberdade dos povos e das nações
Paulo Planez
09 de novembro de 2019
Imagem: wikipedia
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História
O muro de Berlim foi uma barreira física construída para separar a então República
Democrática Alemã, conhecida como Alemanha Oriental da Berlim Ocidental com objetivo de
evitar que a população da cidade socialista, que se encontrava sob o julgo dos comunistas da
extinta URSS, fugissem em massa para a Alemanha capitalista.
O projeto de construção do muro de Berlim foi um segredo absoluto até que
começasse. A população não poderia saber que tal ação estava sendo planejada. Walter
Ulbricht, secretário geral do Partido Socialista Unificado, então líder da República
Democrática Alemã, conhecida como RDA, respondeu da seguinte forma a pergunta de um
jornalista sobre a possibilidade da construção de um muro que isolasse a cidade de Berlim:
“Vou interpretar a sua pergunta como sendo se na Alemanha Ocidental existem
pessoas que desejam que nós mobilizemos os trabalhadores da capital da RDA para
construir um muro? Eu não sei nada sobre tais planos. Sei que os trabalhadores na
capital estão ocupados principalmente com a construção de apartamentos e que
suas capacidades são inteiramente utilizadas. Ninguém tem a intenção de construir
um muro!”
Dois meses depois dessa entrevista a RDA iniciava a construção daquele que ficou
conhecido como “o muro da vergonha”, separando famílias, mas, principalmente, separando
a liberdade da escravidão.
Em 7 de outubro de 1949 o ministério de negócios estrangeiros soviético concede
autoridade administrativa para a Alemanha Oriental, mas não sua autonomia, mantendo o
controle sobre a cidade nas mãos dos soviéticos.
A decisão da construção foi tomada numa conferência do pacto de Varsóvia, quando
Ulbrich solicitou a Nikita Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da União
Soviética, permissão para o bloqueio com o objetivo de inibir atos de perturbação por conta
do êxodo em massa da população nas áreas de domínio soviético, que já era de mais de 3,5
milhões de pessoas, migração causada pelo medo da opressão comunista na região.
Dessa forma, na madrugada de 13 de agosto de 1961, as forças armadas da RDA, com
apoio do exército soviético, bloquearam todas as conexões de trânsito com a Berlin Ocidental,
eliminando a possibilidade de que os cidadãos pudessem continuar o processo de êxodo do
pais, iniciando-se aí o gradeamento e a construção do muro da vergonha do socialismo.
“O muro da vergonha é o símbolo que melhor representa a
intolerância ideológica e a opressão da esquerda comunista”
Paulo Planez
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A intolerância ideológica no ápice
Os regimes totalitários são, em sua absoluta maioria, regime fechados que ocultam
informações da sociedade e do mundo, e a RDA, que era comunista, não era diferente. Em 28
anos de existência do muro, muitas pessoas morreram tentando fugir da servidão socialista
em busca de liberdade e prosperidade na Alemanha Ocidental, mas a RDA impedia o acesso e
eliminava todas as informações relacionadas ao muro, o que impossibilita definir com precisão
o número de mortos nessa tentativa. Aqueles que tentam, por alguma técnica estatística,
gerar um número que possa definir a quantidade de vítimas da ideologia vigente na RDA,
identificam números muito divergentes, o que impossibilita uma análise precisa.
Apesar de não ser possível definir a quantidade de mortes, é possível
identificar a primeira vítima da intolerância ideológica: Ida Siekmann.
Faleceu em 22 de agosto de 1961 aos 59 anos ao tentar saltar do quarto
andar de seu apartamento, que ficava ao lado do muro, para a liberdade na
Alemanha Ocidental. Porém, saltou antes que os bombeiros abrissem a cama
de proteção e acabou morrendo em decorrência dos ferimentos por conta
da queda.
A segunda pessoa a morrer, porém a primeira a morrer a tiros foi
Günter Litfin. Faleceu em 24 de agosto de 1961 aos 24 anos. Ao cruzar a
nado a ponte ferroviária que constituía a fronteira, foi identificado por
oficiais da Transpolizei, a polícia de trânsito da RDA, que solicitaram que
nadasse de volta. Litfin continuou e quando subiu ergueu as mãos para
alcançar a margem do lado ocidental, foi baleado e morto.
A morte mais marcante registrada nesse período data de 1966 quando duas crianças,
Jörg Hartmann de 10 anos e Wolfgang Glöde de 13 anos foram mortas a tiros na tentativa
desesperada de seus pais de livrarem as crianças da escravidão ideológica a que estavam
submetidas. Outros casos de crianças de 1 a 5 anos também foram mortas na fuga.
No dia 8 de março de 1989, apenas oito meses antes da queda do
muro, Winfried Freudenberg, com 32 anos, entrou para a história por ser a
última pessoa a morrer na tentativa de fugir da opressão do regime
comunista quando em seu balão de fabricação caseira caiu de uma altura de
aproximadamente 2 mil metros. Após sua morte a polícia secreta da RDA
investigou de a vida de parentes e amigos para tentar identificar se aquela
tentativa era algo planejado para se tornar uma forma de fuga em massa.
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No link https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_mortos_no_Muro_de_Berlim existe
uma lista com 140 nomes que se referem a pessoas mortas na tentativa de fugir do regime
opressor da esquerda comunista. Estes nomes foram confirmados pela ZZF ou Centro de
História Contemporânea – em português. A imagem abaixo consta a fotos de algumas das
vítimas da intolerância ideológica que dominou o leste europeu durante os regimes da
esquerda comunista.
Recentemente um estudo conduzido por historiadores do Memorial Muro de Berlim
(Visite o site https://www.berliner-mauer-gedenkstaette.de/en/) e do Centro de Pesquisa em
História Contemporânea de Potsdam (Visite o site https://zzf-potsdam.de/) apontam que o
número é de 136 mortes.
Depois da queda do muro e da queda do comunismo no leste europeu, os processos
judiciais do Schießbefehl1, que visavam julgar os responsáveis pelas mortes ocorridas em
decorrência do muro duraram até 2004 e condenaram 11 pessoas à prisão, 44 pessoas foram
condenadas e posteriormente tiveram as penas suspensas condicionalmente e 35 acusados
foram absolvidos.
O último processo terminou em 9 de novembro de 2004, exatamente 15 anos após a
queda do muro de Berlim, com uma sentença condenatória.
“O muro de Berlim foi um ato desesperado da ambição
humana, que tentava manter no cativeiro e na miséria
aqueles que ansiavam por liberdade e prosperidade,
usando o medo como instrumento de opressão, e cujo
maior símbolo era o muro da vergonha”
Paulo Planez
1
O termo alemão Schießbefehl, que significa "ordem de atirar", foi o termo usado para se referir à Befehl 101 (Ordem 101) que instruía
guardas da fronteira da extinta República Democrática Alemã para evitar a fuga de seus cidadãos com todos os meios possíveis, incluindo a
morte dos fugitivos
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Cai a barreira física
“Mr. Gorbachev, tear down this wall!”
A famosa frase foi dita por Ronald Reagan em um discurso2 no Portão de
Brandemburgo no dia 12 de junho de 1987, na ocasião da comemoração do 750º aniversário
da cidade de Berlim. A declaração assumiu um tom de desafio ao então secretário-geral do
partido comunista soviético, Mikhail Gorbachev, para que derrubasse o muro e demonstrasse
de forma inequívoca a crescente liberdade nos Bloco do Leste:
“Damos as boas-vindas à mudança e à abertura, pois acreditamos que a liberdade e
segurança caminham juntos, que o progresso da liberdade humana só pode reforçar
a causa da paz no mundo. Há um sinal de que os soviéticos podem fazer que seria
inconfundível, que faria avançar dramaticamente a causa da liberdade e da paz.
Secretário Geral Gorbachev, se você procura a paz, se você procura prosperidade
para a União Soviética e a Europa Oriental, se você procurar a liberalização, venha
aqui para este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube esse
muro”
O discurso, apesar da discussão do quanto haveria influenciado na decisão de derrubar
ou não o muro, é um símbolo da pressão das nações livres contra a opressão que o mundo
socialista impunha aos seus e, de forma indireta, através de um belicismo sem precedentes,
ao resto do mundo.
Em visita aos estados unidos, em 2014, Gorbachev comentou:
“Me perguntaram como encarei o pedido do presidente Reagan. A verdade é que
então não o levei a sério. Sabia que era um ator e achei que se tratava apenas de
uma boa encenação. [...] Para que caísse o muro de Berlim se necessitavam muitas
coisas e chegou o momento em que a sociedade alemã tinha amadurecido para isso."
A queda do muro de Berlim não foi fruto da vontade de um homem, mas sim
consequência de um longo trabalho de pressão social em todos os setores da sociedade livre
do mundo à época que, visto a opressão dos sistemas socialistas e os resultados
absurdamente degradantes para os seres humanos submetidos a este regime bestial, se
tornou impossível para a sociedade livre da época simplesmente deixar para lá.
Mas, como dito pelo próprio Gorbachev, o principal fator a gerar a derrubada do muro
foi o amadurecimento da sociedade alemã. Esta sociedade, que passou 40 anos sob o julgo da
opressão socialista, já não aceitava mais a condição de escravo de uma ideologia maligna que
oprimia e explorava o ser humano em prol de uma elite política e insaciável. Foi justamente
2
O discurso pode ser analisado pelo artigo da wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Tear_down_this_wall! E pode ser assistido pelo
Youtube através do link https://www.youtube.com/watch?v=5MDFX-dNtsM
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essa consciência do povo alemão, tanto do oriental quanto do ocidental, que tornou inviável
para a União Soviética manter seu domínio sobre aquele povo.
O Jornalista Mário Pereira Gomes certa vez escreveu: “Um povo que não luta pela
liberdade está condenado a ser escravo”. Foi justamente o que fez o povo alemão diante das
atrocidades da esquerda comunista: Lutou. Muitas mortes foram registradas, outras tantas
infelizmente nunca serão de conhecimento da humanidade.
A crescente insatisfação da população submetida a barbárie da esquerda comunista
criou revoltas e pressões políticas internas no governo, que respondeu aumentando a
perseguição e a repressão, intensificando a censura cultural e de opiniões, tendo a Stasi,
polícia secreta do regime, como o grande agente dessa repressão.
Em junho de 1989 a Hungria, outro país submetido ao julgo da esquerda comunista,
decretou a abertura de sua fronteira com as nações livres, o que levou, em um mês, mais de
25 mil pessoas a migrarem da Alemanha para a Hungria e depois irem para Áustria, onde
solicitavam asilo na embaixada da Alemanha Ocidental.
Enquanto isso, na Polônia, era eleito o primeiro governo que não pertencia a esquerda
comunista desde a segunda guerra mundial, o que incentivou milhares de pessoas a migrarem
da Alemanha Oriental para a Polônia.
Todo esse fluxo migratório desembocou em intensos protestos na Alemanha Oriental,
fugindo do controle do governo. Então, em 9 de novembro de 1989, Günter Schabowski
anunciou a nova lei de mobilidade do cidadão, acabando com as restrições na fronteira.
A pressão era tamanha que Schabowski anunciou equivocadamente que a lei teria
validade imediata, apesar de a validade somente acontecer após a aprovação do parlamento,
o que atraiu milhares de pessoas aos postos de controle do governo na fronteira, forçando as
autoridades da Alemanha Oriental a endossar a lei. Em pouco tempo mais de 100 mil pessoas
atravessaram a fronteira rumo a Alemanha Ocidental, deixando para trás 28 anos de opressão
e miséria impostas ao povo alemão pela esquerda comunista capitaneada pela União
Soviética.
Na virada de 9 para 10 de novembro o povo, exercendo sua soberania e ciente de seu
pleno direito à liberdade, portando marretas e picaretas, botou abaixo o muro da vergonha,
encerrando assim um domínio de 44 anos de opressão comunista, que começou com a divisão
da cidade de Berlin entre os aliados que derrotaram as forças nazistas e se intensificou com a
construção do muro da vergonha.
Em seu discurso, Ronald Reagan disse:
"Quando olhei um momento atrás do Reichstag, essa encarnação da unidade alemã,
notei as palavras grossamente pintadas com spray na parede, talvez por um jovem
berlinense, 'Este muro vai cair. As crenças tornam-se realidade.' Sim, em toda a
Europa, este muro vai cair. Pois não pode resistir à fé; não pode resistir à verdade. O
muro não pode suportar a liberdade”
O Muro não pode resistir a liberdade. Os muros construídos pela esquerda socialista
no mundo inteiro sempre sucumbiram e sempre sucumbirão diante do anseio de liberdade e
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prosperidade do ser humano. Essa era a nova esperança que surgia no coração dos seres
humanos a partir daquele evento histórico.
O processo político da reunificação da Alemanha foi conduzido por Helmut Kohl,
chanceler da Alemanha Ocidental e membro da União Democrata-Cristã, partido de centro-
direita Alemão. A formalização da reunificação aconteceu em 3 de outubro de 1990 e o
processo de abertura total das fronteiras concluído em 1º de julho de 1991. A derrubada do
muro, assim como a reunificação da Alemanha foram acompanhadas de celebrações na rua e
festas por toda a Alemanha.
Reconstruir a Alemanha dominada pela esquerda comunista não foi fácil. Em 2009, dez
anos após a queda, a reconstrução já estava estimada em € 1.3 trilhões de Euros3, o que
representava mais da metade da produção econômica total da Alemanha em 2008. O total
colapso da economia comunista fez com que dois terços do orçamento precisassem ser
investidos em benefícios sociais, especialmente por conta do alto nível de desemprego no país
que, mesmo considerando dez anos depois, seguia-se muito maior no leste do país.
O então ministro das finanças da Alemanha, Theo Waigel, recorda sobre a fase de
planejamento e sobre os investimentos a serem feitos, especialmente as constantes quebras
de orçamento: “Nada teria nos ajudado, a não ser que levantássemos de novo uma fronteira”.
Em 2010 a economia do lado oriental, em valores per capta, equivalia a apenas 71%
do valor do lado ocidental, o que mostra que as dificuldades em recuperar o estrago feito ao
longo de 44 anos pela esquerda comunista na Alemanha oriental vão muito além do simples
fator econômico. Afetam também outros fatores como o cultural e a produtividade.
Waigel recorda o comentário do presidente de uma empresa americana que havia
questionado se a “compra” da Alemanha Oriental não havia sido um mau negócio. Waigel
respondeu irritado:
“certo, isso está durando e custando mais do que havíamos esperado. Mas 18
milhões de pessoas vivem hoje numa democracia. Se vocês puderem apresentar o
mesmo balanço depois de dez anos no Iraque, então você pode repetir essa
pergunta”
A ação de integração da Alemanha foi, antes de tudo, uma ação de solidariedade, que
permitiu tirar milhões de pessoas debaixo da tirania da esquerda comunista e introduzi-la em
um ambiente de liberdade e prosperidade como eles nunca haviam conhecido.
Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A
liberdade pode ser conquistada, mas nunca
recuperada.
Jean-Jacques Rousseau
3
Estudo publicado pela IWH e replicado no Brasil pelo Globo no link
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1370614-17398,00-
CUSTO+DA+REUNIFICACAO+DA+ALEMANHA+FOI+DE+TRILHAO+DE+EUROS+DIZ+JORNAL+ALEMAO.html e no site
https://www.dw.com/pt-br/reconstru%C3%A7%C3%A3o-do-leste-alem%C3%A3o-custou-13-trilh%C3%A3o-de-
euros-e-est%C3%A1-longe-do-fim/a-6069344
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Surge o novo muro
A queda do muro de Berlin e a queda do comunismo não foram suficientes para ensinar
para a esquerda global que os povos clamam por liberdade, não por opressão e controle do
estado. Após a queda do comunismo, a esquerda retomou sua visão de poder a partir de
meados do século passado, objetivando implantar seu projeto de domínio social e anti
libertário aos povos desavisados e desinformados, só que agora com uma nova estratégia.
A primeira metade do século XX mostrou para a esquerda que seu projeto de poder e
dominação não poderia ser implantado a força, pois a força não seria suficientemente eficaz
para lidar com o desejo de liberdade. A esquerda entendeu que para implantar seu projeto
seria necessário eliminar o desejo pela liberdade.
Através de textos de militantes, principalmente de Antonio Gramsci, que foram
publicadas a partir de 1975 por Valentino Gerratana, a esquerda compreendeu que seu
projeto de poder não se perpetuaria através da força e da criação de um superestado violento
e opressor, mas através da hegemonia cultural como o elemento chave para a realização de
ações políticas.
Baseando-se em conceitos como “o marxismo das superestruturas”, a esquerda
aprendeu a separar a infraestrutura, que é a base real da sociedade da superestrutura, que
consistia nas ideias, doutrinas e crenças de uma sociedade, ficando claro que para controlar
a sociedade, era preciso tomar o controle das superestruturas sociais, criando blocos
hegemônicos favoráveis à sua ideologia política.
Com o entendimento profundo dos conceitos definidos por Gramsci, a esquerda
identificou e definiu como prioritário a tomada da hegemonia cultural do sistema educacional,
das instituições religiosas e dos meios de comunicação, como forma de ampliar sua
hegemonia cultural para toda a sociedade.
A visão básica da hegemonia cultural estava no fato de que, dominando estas três
áreas, seria possível “educar os dominados” para que estes entendam a submissão como algo
natural e conveniente, inibindo possíveis insurreições revolucionárias contra a ideologia.
Seria possível para os “dominantes” criarem nos “dominados” o sentimento de identificação
e de união sagrada com aqueles que os exploram contra um inimigo comum em favor de
uma sociedade concebida como um organismo uniforme, coeso e justo.
Através da educação dos dominados Gramsci propunha o conceito do “Intelectual
orgânico”. Segundo ele as classes burguesas traziam consigo não só o capitalista, mas também
uma série de intelectuais que compartilhavam os princípios burgueses: O advogado, o
engenheiro, o administrador, o funcionário público, o professor e assim por diante, e seriam
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esses intelectuais os responsáveis por manter vivo os princípios capitalistas na sociedade, pois
estes seriam os funcionários da “superestrutura” que, no final das contas, moldavam o mundo
a figura e imagem de suas crenças.
Desta forma, através da formação e hegemonia do “intelectual orgânico”, formado de
acordo com os princípios e interesses da esquerda, a ideologia seria propagada e se tornaria
hegemônica na sociedade, funcionando como uma ferramenta de coerção e facilitando a
implantação dos princípios e doutrinas que permitiriam a tomada do poder e a imposição de
fundamentos e princípios políticos sem a resistência da sociedade.
Dentro desses princípios, muros ideológicos foram criados na educação, na cultura,
nas artes, no jornalismo, no funcionalismo público entre outros.
A sociedade, outrora livre para expressar suas opiniões e seus pontos de vista, hoje se
vê diante do autoritarismo cultural, impedida de atravessar a fronteira da liberdade de
expressão e de pensamento pelos muros ideológicos criado com o objetivo de reprimir todo
aquele que pensa diferente do ideário ideológico da esquerda e que se oponha a instauração
de um regime “esquerdocrático” na nação.
O pluralismo de pensamento, outrora virtude de uma sociedade evoluída, hoje é
duramente combatido por uma militância formada com pensamento homogêneo - que foi
tão bem descrita por Gramsci e implantada nas nações mundo afora - e que levanta muros
ideológicos em qualquer área onde a diversidade de pensamentos possa afetar o projeto
esquerdocrático de poder. A criação de uma “consciência coletiva” alinhada com o ideário
ideológico é fundamental para a criação dos muros ideológicos e excluirá automaticamente
qualquer pensamento divergente, minimizando os riscos de insurreição contra a ideologia.
Enfim, a tão sonhada mudança das visões do poder e o fortalecimento dos sistemas
democráticos, imaginados a partir da queda do muro, não aconteceu. Pelo contrário, a
democracia e seus princípios de liberdade individual estão mais ameaçados do que nunca.
Os projetos de poder iniciados pela esquerda mundial a partir da queda do muro,
utilizando de métodos de manipulação ideológica, que são mais demorados, porém mais
efetivos e perigosos para as liberdades individuais e para a sociedade, assumiu proporções
globais e está se tornando quase irreversível.
O tão sonhado vento da mudança, tão bem descrito pela banda Scorpions, nunca
aconteceu. Como disse Chaplin(1940) em “O grande ditador”: “A cobiça envenenou a alma
dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de
ganso para a miséria e os morticínios”
Chaplin ainda diz em seu maravilhoso discurso:
“Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de
trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só
mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores
liberam-se, porém escravizam o povo”.
Uma visão política que precise dos ensinamentos de Antonio Gramsci para conquistar
o poder, definitivamente, não cumprirá o que promete e certamente escravizará o povo.
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O muro ideológico na família
A família é o principal empecilho para a formação do intelectual orgânico. É necessário
desacreditar a família para que a aplicação da visão Gramsciana possa ser mais efetiva em
seus resultados.
Desde os primórdios de sua concepção, Marx enxergava na família uma forma dos
burgueses manterem o poder sobre o proletariado e, em sua concepção, tal estrutura
precisava ser destruída, conforme visão exposta em seu livro “O manifesto comunista”:
“Abolição da família! Até os mais radicais exaltam-se com essa intenção vergonhosa
dos comunistas.
Sobre o que repousa a família atual, burguesa? Sobre o capital, o lucro privado.
Plenamente desenvolvida, ela só existe para a burguesia; mas encontra seu
complemento na família obrigatoriamente inexistente dos proletários e na
prostituição pública.
Naturalmente, a família desaparece com o desaparecimento desse seu
complemento, e ambos se extinguem com a extinção do capital”
Para atender as necessidades de poder dos regimes de esquerda a família, principal
foco de resistência à implantação o ideário ideológico de esquerda, precisa ser
completamente desestruturada para dar lugar a uma nova concepção de família: A família
socialista.
A educação fornecida por pais a seus filhos é uma barreira na manipulação ideológica
das crianças nas escolas e, dessa forma, desacreditar essa unidade social é uma forma de
combater a resistência à implantação da esquerdocracia na nação.
As formas básicas de desestruturação de da família é a quebra de valores morais da
sociedade, desmistificando o princípio de autoridade e responsabilidade dos pais. Dessa forma
crianças crescem com menos influência da cultura dos pais e mais susceptível a influências
externas, dentre elas, a mais importante para a manipulação ideológica: Dos professores.
O muro ideológico na educação
A educação é, pela sua capacidade de influenciar o futuro, o primeiro alvo da visão
Gramsciana de pensamento hegemônico e onde a criação do intelectual orgânico gera
melhores e mais rápidos resultados.
O principal alvo do sistema Gramsciano é o professor que, em sala de aula, pode
inculcar o ideário ideológico da esquerda como única visão capaz de conduzir a um mundo
justo e, ainda, desacreditar qualquer outra visão de mundo que não seja essa.
A forte influência do professor sobre o aluno, especialmente em sociedades onde a
família perdeu completamente seu papel na influência da formação moral dos filhos, é
fundamental para a estruturação de pessoas que crescem alinhadas com o ideário ideológico
e que, no futuro, não oferecerão nenhuma resistência à um regime autoritário que restringirá
suas liberdades.
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O professor se torna então, para o ideário ideológico de esquerda, o principal agente
de formação do “intelectual orgânico” bem como um agente de restrição do pensamento
livre, condicionando o cidadão a pensar somente de acordo com uma determinada doutrina
ideológica.
Na visão Gramsciana, o professor como o principal agente de manipulação ideológica
seria a chave para dirimir a resistência natural da sociedade às perdas de liberdade decorrente
da implementação dos regimes esquerdocráticos e, desta forma, seria de fundamental
importância a propagação do ideário de esquerda nos centros de formação de docentes.
Atualmente, depois de muitos anos de aplicação das técnicas definidas por Antonio
Gramsci, a formação de docentes é fortemente manipulada pelo ideário ideológico de
esquerda, sendo que existe hoje uma completa incapacidade dos docentes em questionar o
por que somente uma visão é aplicada, o que demonstra a eficácia das técnicas criadas por
este.
Em ambientes universitários, especialmente em cursos de formação de professores e
em cursos das áreas de humanas, existe hoje um cerceamento ideológico onde alunos são
impedidos de avançar em estudos de outras visões políticas e sociais. Até mesmo em salas de
aula de ensino fundamental e médio os alunos já possuem sua liberdade de pensamento
cerceado por professores formados como intelectuais orgânicos.
É comum, nos dias de hoje, alunos que se apresentem com ideias diferentes, sofrerem
violência moral de professores, que desqualificam seu pensamento, seu comportamento e até
mesmo a sua existência social, somente porque pensam diferente do ideário ideológico que
lhes interessa.
O jovem, mas susceptível a autoridade do professor em sala de aula, acaba tanto
assimilando o ideário ideológico quanto desenvolvendo a capacidade de se conformar com
ele, limitando assim seu pensamento crítico e reduzindo as barreiras sociais à implementação
de regimes alinhados com o ideário ideológico esquerdista.
Neste cenário de domínio ideológico da educação, a qualidade se torna irrelevante,
sendo a principal meta a uniformização do pensamento, a limitação do conhecimento ao
ideário ideológico e a destruição do pensamento crítico.
O muro ideológico na cultura
A cultura, por sua vez, assume o papel de massificar o pensamento homogêneo
proposta pelo ideário ideológico da esquerda. Utiliza-se da popularidade de pessoas públicas
para mitigar questionamentos quanto aos métodos e ideias propostas, utilizando-se da
credibilidade alheia para atribuir credibilidade, de forma indireta, a proposta ideológica.
Artistas são cooptados através de grande disponibilização de verbas públicas, pagas
em formas de caches de shows, filmes, peças de teatro entro outras possibilidades, que quase
nunca são associadas com contrapartida básicas, como resultados financeiros ou de público.
Artistas de grande expressão são incitados a fazerem campanha contra qualquer ação
que busque questionar o ideário ideológico de esquerda, atuando de forma a desqualificar o
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agente do questionamento, evitando que aconteça a discussão pública sobre qualquer que
seja o tema de controvérsia.
Os artistas são também os responsáveis por dar ares de normal a atitudes antes
questionadas pelos padrões éticos e morais da sociedade. São o principal agente de destruição
dos valores morais de uma sociedade, abrindo o caminho para a destruição de valores
fundamentais como família, trabalho, respeito aos pais, respeito as autoridades entre outros.
Utilizando-se de sua popularidade e penetração social, atuam como agentes de
coerção ideológica contra qualquer fonte de pensamento divergente do ideário ideológico,
criando fatores inibidores contra qualquer tipo de opositor.
O muro ideológico no jornalismo
O jornalismo é a base de sustentação do corpo político e artístico do ideário ideológico
da esquerda. No corpo político atuam de forma a propagar a pauta positiva dos políticos
alinhados com o ideário ideológico, hipervalorizando ações e atuando de forma omissa em
casos que poderiam desqualificar a ação ideológica, como os casos de corrupção.
Geralmente são cooptados através de verbas públicas destinados para o pagamento
de ações, geralmente livres de processo licitatório, como palestras, consultorias e patrocínio
de sites.
O jornalista, como intelectual orgânico, é uma das prioridades dos professores de
universitários já alinhados com o ideário ideológico de esquerda. A forte influência da
esquerda nas formações de humanas na sociedade já cria um jornalista com baixa capacidade
de senso crítico, com conhecimento focado em uma única visão de mundo, a que interessa, e
totalmente susceptível a aceitar desvios éticos da profissão, como o conflito de interesses,
comum por exemplo ao aceitar ministrar palestras paga com dinheiro público, o que limita
sua capacidade de criticar o governo que o pagou.
O muro ideológico na mídia
A mídia, por sua capacidade de penetração na sociedade, é o principal campo de
batalha dos intelectuais orgânicos. A forte atuação em mídias, sejam televisivas ou sócias,
demonstra interesse da esquerda em utilizar desse recurso para oprimir qualquer um que
pense diferente do seu ideário ideológico.
Com o advento das mídias sociais, qualquer comentário postado que contradiga o
ideário ideológico é automaticamente rechaçado, geralmente por agressões verbais e morais
e por adjetivações, que desqualificam quem está questionando o ideário.
Uma legião de militantes se posicionam como patrulha ideológica, monitorando
comentário em redes sociais, se infiltrando em grupos de oposição a ideologia de esquerda
com o objetivo de desqualificar de forma sutil ou, na maioria das vezes, violenta, qualquer
comentário de oposição.
Artistas, professores, jornalistas e, principalmente, o cidadão comum são incitados a
difundir ódio e degradação pessoal contra qualquer pessoa que desqualifique o pensamento
homogêneo nas mídias, especialmente as mídias sociais.
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O muro ideológico no funcionalismo público
O serviço público possui algumas áreas que são cruciais para o estabelecimento de
qualquer projeto de poder e, por esta razão, são alvos da homogeneização do pensamento
para a construção de um importante muro ideológico, fundamental para qualquer projeto de
poder.
A justiça é uma das primeiras áreas a serem cooptadas dentro do conceito Gramsciano
de “intelectual orgânico”. Garantir que os processos sigam seu fluxo de acordo com os
interesses políticos garante tempo para a execução dos projetos de poder, até que a justiça e
as leis não sejam mais um empecilho para isso.
A cooptação dessa área se dá através das benesses do estado. Através da utilização do
dinheiro público cria-se uma “superclasse”, detentora de privilégios que os colocam acima do
cidadão comum e totalmente alinhada com o ideário ideológico.
Qualquer ação individual desalinhada com o ideário ideológico será imediatamente
excluído do processo de crescimento interno, mantendo o “divergente” isolado em sua linha
de pensamento, evitando, dessa forma, qualquer contaminação da consciência coletiva
imposta pelo muro ideológico.
No caso da justiça é de extrema importância que pessoas alinhadas com o ideário
ideológico estejam em postos de liderança e tenha o poder de impor esse ideário a toda a
estrutura.
Desta forma garante-se a execução de ações em desacordo com o arcabouço legal que
não sofrerão sanções ou restrições por conta disso, sendo uma ferramenta de aceleração do
crescimento ideológico, rompendo as limitações do arcabouço legal.
Outra área de fundamental importância para a execução de projetos de poder são os
órgãos de controle. Órgãos responsáveis pela validação e aprovação das contas públicas são
ferramentas chave para a utilização do dinheiro público para fim adverso daquele para qual
foi arrecadado.
Além das contas públicas, órgãos responsáveis pela validação e julgamento de conduta
também são alvo do aparelhamento. Estes órgãos são fundamentais para garantir a repressão
a qualquer conduta que esteja fora do alinhamento ideológico, garantindo liberdade de ação
para aqueles que tem por incumbência a execução do plano de poder, protegidos inclusive de
atos de oposição às suas ações.
Ao contrário da justiça, os órgãos de controle precisam de alinhamento ideológico nas
áreas técnicas, onde as análises, os estudos e os pareceres serão desenvolvidos. Toda a
documentação, necessária para o julgamento dos casos de violação do princípio
administrativo, serão criados visando minimizar, ou até mesmo suprimir, as não
conformidades legais, dando um aspecto legal às execuções que, de outra forma, jamais
seriam aprovadas por violarem preceitos jurídicos.
Na outra ponta, órgãos de fiscalização são parte importante de qualquer projeto de
poder. São aparelhados para garantir o não registro das inconformidades de interesse do
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projeto de poder, ou até mesmo o registro deturpado de conformidade, visando criar
problemas imediatos para quem se oponha ao ideário ideológico e ao projeto de poder.
No caso dos órgãos de fiscalização, o alinhamento ideológico estará na área
operacional, responsável pela execução das fiscalizações, o que garantirá o registro de
eventos totalmente alinhado com o ideário ideológico.
O alinhamento ideológico nessas áreas do serviço público cria uma estrutura de
policiamento do cidadão que, diante do poder do estado, torna-se impotente e, como
consequência, começa a reduzir qualquer exposição ou posicionamento que seja contra o
ideário ideológico dominante, objetivando não sofrer nenhum tipo de punição e prejuízo
oriundo dela.
O muro ideológico nos sistemas militares
Pela sua própria natureza conservadora, os sistemas militares são a barreira definitiva
em termos de contenção do processo de implantação dos conceitos Gramscianos e do
domínio ideológico na sociedade.
O sistema militar se qualifica pela rígida hierarquia e disciplina e é justamente nesse
elo – elo que classifica o sistema militar como a mais dura barreira a ser vencida – que ao
ideário ideológico da esquerda atua: Na desmilitarização das forças de segurança.
A desmilitarização das forças auxiliares de segurança colocaria milhões de militares na
condição de funcionário público, sujeito a toda vulnerabilidade que permitiu a cooptação e a
introdução do “intelectual orgânico” no serviço público. Dessa forma, em pouco tempo, as
forças de segurança auxiliares comporiam o mais cruel muro ideológico para a sociedade: O
muro da segurança pública.
Uma força armada pública, sem o rígido controle hierárquico e cooptada por uma
ideologia focada em implantação de um projeto de poder, agiria como uma forte força de
coerção social para garantir a limitação do pensamento divergente, fator fundamental para a
implantação de um estado “esquerdocrático”.
Em pouco tempo depois de implantada, essa força pública estaria reprimindo, através
da violência, todo e qualquer tentativa dos cidadãos comuns em se opor ao ideário ideológico
dominador. A violência empregada geraria medo na população, que acabaria aceitando o julgo
ideológico por não ver mais solução democrática que a conduza a um regime de liberdade.
O ser humano e os muros pelo mundo
A experiência do muro de Berlim, construído para impor a vontade de uma minoria
violenta sobre uma sociedade livre, serviu de inspiração para os muitos muros construídos
mundo afora com os mais diversos objetivos: proibir o acesso de imigrante pobres à
prosperidade de nações ricas, como é o caso dos muros construídos na fronteira Estados
Unidos – México e dos muros de Ceuta – Melilla no norte da África, ou para evitar o difícil
diálogo a ser travado por conta da divergência étnica, como o muro do Chipre ou o muro da
Cisjordânia.
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Porém, a realidade de todos estes muros, sejam físicos ou ideológicos, é uma só: O ser
humano sempre se apoia no isolacionismo e na violência para evitar o duro confronto do
diálogo e do entendimento visando o bem comum.
Todos os muros físicos são evidentes a partir da simples demonstração de suas
intenções. Por outro lado, os muros ideológicos, aqueles que manipulam a mente humana
para transformar o ser humano em um escravo, são invisíveis, difíceis de serem percebidos e
difíceis de serem combatidos e, ao contrário dos muros físicos, coloca o ser humano na pior
das prisões: A prisão ideológica.
A submissão inconsciente a uma ideologia transforma o ser humano em um animal
irracional, que despreza o seu semelhante simplesmente por ser ou pensar diferente. Seja no
comunismo com suas centenas de milhões de mortos4, ou no nazismo com suas dezenas de
milhões de mortos, ou no fascismo com suas dezenas de milhares de mortes, a submissão
ideológica sempre resulta na violência e na restrição da liberdade. E é justamente o
fortalecimento dessa submissão ideológica que vemos na esquerda Gramsciana e na
esquerdocracia.
Essa falta de liberdade pode ser representada pela incapacidade do ser humano de se
locomover, como acontece com os muros físicos, mas, e principalmente, de acordo com a
visão da esquerda Gramsciana, limitar o ser humano a enxergar o mundo e o seu semelhante
como alguém livre, que tem o direito de enxergar o mundo de uma forma diferente.
O Homogeneização do pensamento, como proposto por Gramsci, tem um único
objetivo: formar escravos felizes. Essa estratégia pensada no início do século passado e
colocada em marcha a partir da segunda metade do mesmo século é a mais cruel de todas as
escravidões: A da mente.
O regime cubano é o recordista de exclusão social. Os “balseros” representa os 20% da
população cubana, que fugiram do regime comunista em balsas rumo ao Estados Unidos.
Porém, com a prisão da mente não existe essa opção para a sociedade.
Esta é uma estratégia que visa eliminar a diversidade de pensamento, garantindo uma
unicidade cega e obediente, que não permite críticas e nem o autodesenvolvimento. Malala
Yousafzai, criança que foi vítima de uma ideologia, descreve bem a importância da diversidade
de pensamentos: “A diversidade garante que crianças possam sonhar, sem colocar fronteiras
ou barreiras para o futuro e os sonhos delas”.
Qualquer ideologia que restrinja a diversidade de ideias e obrigue uma sociedade a
adotar uma única visão de mundo estará condicionando o ser humano a uma prisão, com a
pior das restrições de liberdade: A liberdade de pensamento.
Por trás de toda prisão ideológica existe a
incapacidade de conciliar ideias
Paulo Planez
4
O Livro negro do comunismo, obra coletiva, é um inventário da repressão política dos regimes ditos marxistas-leninistas,
escrita por professores e pesquisadores de universidades europeias e editado por Stéphane Courtois e lançado por ocasião
dos 80 anos da revolução russa, em 1997.
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Esquerdocracia
A ideologia da esquerda nunca foi simpática aos princípios democráticos. No Livro “O
Estado e a revolução”5, Lênin, citando Engels, define estado conforme abaixo:
“O Estado não é, de forma alguma, uma força imposta, do exterior, à sociedade. Não
é, tampouco, ‘a realidade da ideia moral’, ‘a imagem e a realidade da Razão como
pretende Hegel. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento.
É a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição
interna, se dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode desvencilhar-
se. Mas, para que essas classes antagônicas, com interesses econômicos contrários,
não se entre devorassem e não devorassem a sociedade numa luta estéril, sentiu-se
a necessidade de uma força que se colocasse aparentemente acima da sociedade,
com o fim de atenuar o conflito nos limites da ‘ordem’. Essa força, que sai da
sociedade, ficando, porém, por cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o
Estado”.
O princípio básico da liberdade democrática é o diálogo visando o consenso, para o
bem da nação. Lenin coloca o estado como fruto da incapacidade do diálogo entre as classes
sociais, o que exigiria a intervenção de alguém que estivesse acima da sociedade. Ou seja, o
estado não existe para servir ao povo, mas o povo existe para servir ao estado, que é, na visão
de Lênin, superior a sociedade. Lênin reafirma esse ponto de na sua interpretação de Marx:
“Segundo Marx, o estado é um órgão de dominação de classes, um órgão de
opressão de uma classe por outra, é a criação de uma ordem que legaliza e consolida
essa opressão, moderando o conflito de classes”
O conflito entre as classes é uma consequência normal do processo social, onde cada
indivíduo defende as suas próprias prioridades. Esse conflito, em um processo democrático, é
resolvido pelo diálogo, pela conciliação e, em última instancia, pelo interesse que um tenha
em ceder às demandas de outros.
Um exemplo clássico nessa conciliação democrática entre as classes está a lei da oferta
e da demanda, aplicada ao trabalho. Quando existe uma crise de desemprego têm-se uma
super oferta de mão de obra e os salários tendem a cair, já que o trabalhador desempregado
acaba aceitando trabalhar por um salário menor. Já em períodos de super emprego e,
consequentemente, falta de mão de obra no mercado, o empresário aceita pagar salários
maiores visando manter sua produção e seus lucros.
Um bom exemplo disso são países que não possuem legislação trabalhista, mas, a
despeito disso, oferecem benefícios para seus funcionários. A razão para isso é simples: Caso
5
Baseado em um ensaio sobre a visão Leninista do estado, considerando-se como base o Livro “O estado e a revolução” escrito por Lênin,
assim como outros textos escritos por expoentes da visão Marxista, disponível através do link https://colunastortas.com.br/lenin-o-estado-
e-a-revolucao/ acessado em 27 de setembro de 2019
Página 16 de 19
não façam, tendem a ter dificuldades na contratação de pessoal, o que afetaria sua produção
e, naturalmente, os resultados de sua empresa.
Marx e Engels reconheciam esse cenário de oferta e demanda da mão obra quando
fizeram a seguinte citação em seu “Manifesto do partido comunista”:
“Esses trabalhadores, que precisam se vender a varejo, são uma mercadoria como
qualquer outro artigo vendido no comércio, sujeita, portanto, a todas as vicissitudes
da concorrência e a todas as oscilações do mercado”
Lênin segue em suas definições de estado, desta vez reforçando a capacidade
repressora que ele deve assumir, conforme texto abaixo:
“O segundo traço característico do Estado é a instituição de um poder público que
já não corresponde diretamente à população e se organiza também como força
armada. Esse poder público separado é indispensável, porque a organização
espontânea da população em armas se tornou impossível desde que a sociedade se
dividiu em classes … Esse poder público existe em todos os Estados. Compreende não
só homens armados, como também elementos materiais, prisões e instituições
coercivas de toda espécie, que a sociedade patriarcal (clã) não conheceu”
Desta forma a força necessária ao estado seria diretamente proporcional aos
conflitos de classes existentes na população, o que de certa forma explica o caráter militar e
belicista das nações socialistas.
É justamente o poder central forte do estado que legitima seus líderes. Engels cita que:
“Investidos do poder público e do direito de cobrança dos impostos os funcionários,
considerados como órgãos da sociedade, são colocados acima da sociedade. O
respeito livre, voluntário, de que eram cercados os órgãos da sociedade patriarcal
(do clã) já lhes não bastaria, mesmo que pudessem adquiri-lo”
Essa elevação do funcionário público à condição de uma classe superior a sociedade,
especialmente pelo fato de ter o poder de coerção, afeta de forma significativa os conceitos
de democracia, onde o estado existe para servir o cidadão, e não o contrário.
Na concepção do ideário ideológico da esquerda, o sufrágio universal, principal
ferramenta da democracia, nada mais é do que um instrumento para legitimar a classe
burguesa no poder, visto que a classe operária não teria capacidade para escolher alguém
que realmente representasse seus interesses. Lênin afirma:
“Assim como o estado antigo e o Estado feudal foram os órgãos de exploração contra
os escravos e contra os servos, também o Estado representativo moderno é o
instrumento da exploração do trabalho assalariado pelo capital”
Dessa forma, criou-se a concepção que o estado representativo era uma forma de
manter a classe proletária sob o julgo do capital, gerando a aversão pela Democracia e pelas
liberdades que ela representa.
Seguindo a visão de Marx e Engels, descrita em seu “Manifesto Comunista”, percebe-
se que a visão socialista se aproxima mais da visão feudal, onde existe uma classe dominante
privilegiada e uma população que trabalha e vive em função dessa classe do que de um regime
democrático, onde o cidadão tem a plena liberdade das escolhas. No “Manifesto Comunista”,
Marx e Engels citam:
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“Ao longo da história, a burguesia desempenhou papel altamente revolucionário.
Onde quer que ela tenha chegado destruiu todas as relações feudais, patriarcais,
idílicas. Esgaçou sem piedade os variados laços feudais que uniam o ser humano ao
seu superior natural, sem deixar outro vínculo a ligar seres humanos que não o
puro interesse, o insensível pagamento em dinheiro. Ela afogou os sagrados
calafrios do êxtase devoto, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia pequena-
burguesa nas águas gélidas do cálculo egoísta”
Marx e Engels já enxergavam, em uma visão interior, sentido em dedicação e devoção
cega e obediente a um estado, cujo propósito seria maior que qualquer propósito individual,
o que justificaria, para a sociedade, abrir mão de seus propósitos individuais para servir
cegamente a um propósito maior.
Ambos tinham uma posição clara sobre quem era a burguesia e o que ela produzia na
sociedade. Eles se referem a burguesia da seguinte forma:
“Somente ela demonstrou o que a atividade humana é capaz de produzir. Erigiu
maravilhas muito diferente das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das
catedrais góticas, e promoveu marchas bastante diversas das migratórias ou
daquelas das cruzadas. A burguesia não pode existir sem revolucionar
continuamente os instrumentos de produção”
Apesar dessa visão que, aos olhos do mais ingênuo leitor, soaria como um elogio, Marx
e Engels viam como uma grande falha no caráter burguês, cuja razão estava na resistência ao
progresso da humanidade. Essa resistência natural ao progresso da humanidade ficou claro
quando da afirmação:
“A manutenção inalterada do velho modo de produção era, ao contrário, condição
primordial para a existência de todas as classes industriais anteriores. A
transformação contínua da produção, o abalo ininterrupto de todas as condições
sociais, incertezas e movimentos eternos, eis aí as características que distinguem a
época burguesa de todas as demais. Todas as relações sólidas e enferrujadas, com
seu séquito de venerandas e antigas concepções e visões, se dissolvem; todas as
novas envelhecem antes mesmo que possam se solidificar. Evapora-se toda a
estratificação, todo o estabelecido; profana-se tudo o que é sagrado, e as pessoas se
veem enfim obrigadas a enxergar com olhos sóbrios seu posicionamento na vida,
suas relações umas com as outras”
Observe que a relação conflituosa entre Marx e Engels com a classe burguesa estava
justamente no fato que ela obrigava ao ser humano um ciclo contínuo de desenvolvimento, o
que para eles era considerado algo ruim. Com essa predominância de pensamento, eles
enxergavam em um estado forte e autoritário a possibilidade de conter a evolução humana
proposta pela classe burguesa. Sua proposta de combate a essa necessidade de
desenvolvimento se baseava na união da classe proletária, conforme descrito abaixo:
“De início, lutam trabalhadores isolados; depois os trabalhadores de uma fábrica; e,
a seguir, os trabalhadores de um determinado ramo e lugar contra o burguês que os
explora diretamente. Seus ataques não se voltam apenas contra as relações de
produção burguesa, mas também contra os próprios instrumentos de produção. Eles
destroem as mercadorias concorrentes de outras partes, quebram as máquinas,
põem fogo nas fábricas, buscando reconquistar a posição já desaparecida do
trabalhador medieval”
Porém, com a classe operária incapaz de se unir e se levantar contra a classe
trabalhadora a fim de evitar as incertezas do progresso, o ideário da esquerda passou a
considerar cada vez mais a necessidade de um estado forte e soberano sobre a vontade do
Página 18 de 19
povo, impondo-lhes o seu próprio conceito de liberdade. Essa visão fica muito clara na
formação da União Soviética e de outros estados socialistas como Cuba, China e Coréia do
Norte.
A democracia e seus instrumentos de liberdade e desenvolvimento humano não são
mais compatíveis com a luta para libertar a classe proletária da exploração burguesa. Faz-se
necessário então impor ao trabalhador um regime autoritário e opressor que o coloque sob
o julgo de um governo que o libertará da exploração de sua força de trabalho, permitindo
ao trabalhador que, a partir de sua submissão a um poder que o represente, “o trabalho será
um meio para a ampliação, o enriquecimento e a promoção da vida dos trabalhadores”.
Lênin ainda afirma que “A democracia é também um estado que, quando o estado
desaparecer, a democracia desaparecerá igualmente”.
Ainda no “Manifesto do partido comunista”, Marx e Engels justificam todo o seu ensaio
ideológico da seguinte forma:
“O primeiro passo da revolução dos trabalhadores é alçar o proletariado à condição
de classe dominante, é conquistar a democracia. O proletariado usará a dominação
política para, pouco a pouco, arrancar da burguesia todo o capital, centralizar todos
os instrumentos de produção nas mãos do Estado – isto é, do proletariado organizado
como classe dominante – e multiplicar o mais rapidamente possível a massa das
forças de produção”
Ou seja, a visão de democracia descrita por Marx e Engels e seguida pelo ideário
ideológico da esquerda viola todos os princípios de democracia criada pelos gregos, validada
pelos romanos, aperfeiçoada pelos iluministas e implantado na era contemporânea da
sociedade.
Desta forma é possível entender que, quando o socialismo fala em “Democracia”, eles
se referem a uma “Esquerdocracia” ou “uma democracia adaptada aos interesses de poder
do ideário ideológico da esquerda”, que também pode ser resumidamente definida como
sendo uma “Ditadura democrática” ou “Democracia Gramsciana” onde, “para o bem da
sociedade lhe será imposta um regime ditatorial e opressor que lhe garantirá a liberdade
total daqueles que a exploram, fundando um estado popular livre”.
Lênin dava a isso o nome de “Centralismo Democrático”, exaltando as virtudes da ideia
centralista de Marx. Ele exaltava a figura do “centralismo livremente consentido”. Para ele
era preciso “organizar a unidade da nação, para opor o centralismo proletário consciente,
democrático, ao centralismo burguês, militar, burocrático”.
Porém se contradiz no livremente concedido ao defender o embate entre Engels e os
sociais-democratas, visto por ele como falsos profetas do socialismo, Lênin os questiona se
algum dia já viram uma revolução e complementa:
“Uma revolução é, sem dúvidas, a coisa mais autoritária que há. É um ato pelo qual
uma parte da população impõe a outra parte a sua vontade, com golpes de baioneta,
com tiros de espingarda e de canhão, meios autoritários como não há outros”
Marx e Engels não só endossavam a necessidade de intervenções despóticas, ou seja,
com emprego da força e violando os preceitos democráticos, como sabiam da inviabilidade
econômica do ideário que pregavam, mas, ainda assim, convenciam as pessoas na viabilidade
futura de tais ideias. Marx e Engels afirmavam:
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“De início, é claro que isso só pode acontecer por intermédio de intervenções
despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, ou seja,
por intermédio de medidas que pareçam economicamente insuficientes e
insustentáveis, mas que, no curso do movimento, transcenderão a si mesmas e são
inevitáveis como meio de transformação da totalidade do modo de produção”
Lênin reafirma a posição de Engels em relação à violência ao afirmar que:
“A violência desempenha na história um outro papel, um papel revolucionário; que
segundo as palavras de Marx, ela é a parteira de qualquer sociedade velha que
transporta uma nova sociedade nas entranhas; que ela é o instrumento em virtude
do qual o movimento social domina e estilhaça as formas políticas petrificadas e
mortas”
A história dos regimes socialistas confirma a adoção do ideário ideológico da esquerda
proposto por Marx e Engels. Todos foram implementados através da derrubada do poder
legítimo, por meio de revoluções sangrentas e todas se inviabilizaram economicamente e
socialmente. Aqueles que ainda sobrevivem, ou abriram suas economias para o capitalismo,
mantendo o poder central e o autoritarismo, como a China, ou dependem de outras nações
para sobreviver, como a Coreia do Norte.
Em todos os casos o resultado é sempre o mesmo: Uma população desprovida de
liberdades individuais e oprimida por um governo central autoritário e com uma forte
concentração de renda em uma minoria da população enquanto uma maioria da população
vive na miséria.
Toda essa base do ideário ideológica da esquerda labuta contra os princípios
democráticos e a liberdade propostos pela democracia, e que foi bem explicado por
Montesquieu em sua frase:
“A liberdade política, num cidadão, é esta tranqüilidade de espírito que provem da
opinião que cada um possui de sua segurança; e, para que se tenha esta liberdade
cumpre que o governo seja de tal modo, que um cidadão não possa temer outro
cidadão”
Esse, no final das contas, é o grande conflito gerado entre a esquerda socialista, com a
imposição de sua visão esquerdocrática, e os regimes democráticos: A liberdade. Enquanto
este visa a plena liberdade do ser humano em prol de uma sociedade heterogênea que
beneficia o desenvolvimento individual, aquele visa a cessação da liberdade em prol de uma
sociedade homogênea que beneficia o fortalecimento do estado.
Confrontar a liberdade humana é confrontar o próprio ser humano. Pode-se até
conquistá-lo, mas não será possível mantê-lo. Por esta razão o doutrinamento e a
homogeneização do pensamento são essenciais para a esquerdocracia.
A esquerdocracia jamais demonstrou ser melhor que a
democracia apesar de constantemente conquistar
adeptos. A razão é simples: As pessoas aderem pela
manipulação ideológica, fruto da estratégia dos muros
ideológicos, e não pela livre consciência”
Paulo Planez

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O Muro que nunca caiu

  • 1. 30 anos depois, o maior símbolo da intolerância e da opressão ideológica, o muro de Berlim, não só continua em pé como está muito maior do que os 66,5 quilômetros originais e, mais do que nunca, ameaça a liberdade dos povos e das nações Paulo Planez 09 de novembro de 2019 Imagem: wikipedia
  • 2. Página 1 de 19 História O muro de Berlim foi uma barreira física construída para separar a então República Democrática Alemã, conhecida como Alemanha Oriental da Berlim Ocidental com objetivo de evitar que a população da cidade socialista, que se encontrava sob o julgo dos comunistas da extinta URSS, fugissem em massa para a Alemanha capitalista. O projeto de construção do muro de Berlim foi um segredo absoluto até que começasse. A população não poderia saber que tal ação estava sendo planejada. Walter Ulbricht, secretário geral do Partido Socialista Unificado, então líder da República Democrática Alemã, conhecida como RDA, respondeu da seguinte forma a pergunta de um jornalista sobre a possibilidade da construção de um muro que isolasse a cidade de Berlim: “Vou interpretar a sua pergunta como sendo se na Alemanha Ocidental existem pessoas que desejam que nós mobilizemos os trabalhadores da capital da RDA para construir um muro? Eu não sei nada sobre tais planos. Sei que os trabalhadores na capital estão ocupados principalmente com a construção de apartamentos e que suas capacidades são inteiramente utilizadas. Ninguém tem a intenção de construir um muro!” Dois meses depois dessa entrevista a RDA iniciava a construção daquele que ficou conhecido como “o muro da vergonha”, separando famílias, mas, principalmente, separando a liberdade da escravidão. Em 7 de outubro de 1949 o ministério de negócios estrangeiros soviético concede autoridade administrativa para a Alemanha Oriental, mas não sua autonomia, mantendo o controle sobre a cidade nas mãos dos soviéticos. A decisão da construção foi tomada numa conferência do pacto de Varsóvia, quando Ulbrich solicitou a Nikita Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, permissão para o bloqueio com o objetivo de inibir atos de perturbação por conta do êxodo em massa da população nas áreas de domínio soviético, que já era de mais de 3,5 milhões de pessoas, migração causada pelo medo da opressão comunista na região. Dessa forma, na madrugada de 13 de agosto de 1961, as forças armadas da RDA, com apoio do exército soviético, bloquearam todas as conexões de trânsito com a Berlin Ocidental, eliminando a possibilidade de que os cidadãos pudessem continuar o processo de êxodo do pais, iniciando-se aí o gradeamento e a construção do muro da vergonha do socialismo. “O muro da vergonha é o símbolo que melhor representa a intolerância ideológica e a opressão da esquerda comunista” Paulo Planez
  • 3. Página 2 de 19 A intolerância ideológica no ápice Os regimes totalitários são, em sua absoluta maioria, regime fechados que ocultam informações da sociedade e do mundo, e a RDA, que era comunista, não era diferente. Em 28 anos de existência do muro, muitas pessoas morreram tentando fugir da servidão socialista em busca de liberdade e prosperidade na Alemanha Ocidental, mas a RDA impedia o acesso e eliminava todas as informações relacionadas ao muro, o que impossibilita definir com precisão o número de mortos nessa tentativa. Aqueles que tentam, por alguma técnica estatística, gerar um número que possa definir a quantidade de vítimas da ideologia vigente na RDA, identificam números muito divergentes, o que impossibilita uma análise precisa. Apesar de não ser possível definir a quantidade de mortes, é possível identificar a primeira vítima da intolerância ideológica: Ida Siekmann. Faleceu em 22 de agosto de 1961 aos 59 anos ao tentar saltar do quarto andar de seu apartamento, que ficava ao lado do muro, para a liberdade na Alemanha Ocidental. Porém, saltou antes que os bombeiros abrissem a cama de proteção e acabou morrendo em decorrência dos ferimentos por conta da queda. A segunda pessoa a morrer, porém a primeira a morrer a tiros foi Günter Litfin. Faleceu em 24 de agosto de 1961 aos 24 anos. Ao cruzar a nado a ponte ferroviária que constituía a fronteira, foi identificado por oficiais da Transpolizei, a polícia de trânsito da RDA, que solicitaram que nadasse de volta. Litfin continuou e quando subiu ergueu as mãos para alcançar a margem do lado ocidental, foi baleado e morto. A morte mais marcante registrada nesse período data de 1966 quando duas crianças, Jörg Hartmann de 10 anos e Wolfgang Glöde de 13 anos foram mortas a tiros na tentativa desesperada de seus pais de livrarem as crianças da escravidão ideológica a que estavam submetidas. Outros casos de crianças de 1 a 5 anos também foram mortas na fuga. No dia 8 de março de 1989, apenas oito meses antes da queda do muro, Winfried Freudenberg, com 32 anos, entrou para a história por ser a última pessoa a morrer na tentativa de fugir da opressão do regime comunista quando em seu balão de fabricação caseira caiu de uma altura de aproximadamente 2 mil metros. Após sua morte a polícia secreta da RDA investigou de a vida de parentes e amigos para tentar identificar se aquela tentativa era algo planejado para se tornar uma forma de fuga em massa.
  • 4. Página 3 de 19 No link https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_mortos_no_Muro_de_Berlim existe uma lista com 140 nomes que se referem a pessoas mortas na tentativa de fugir do regime opressor da esquerda comunista. Estes nomes foram confirmados pela ZZF ou Centro de História Contemporânea – em português. A imagem abaixo consta a fotos de algumas das vítimas da intolerância ideológica que dominou o leste europeu durante os regimes da esquerda comunista. Recentemente um estudo conduzido por historiadores do Memorial Muro de Berlim (Visite o site https://www.berliner-mauer-gedenkstaette.de/en/) e do Centro de Pesquisa em História Contemporânea de Potsdam (Visite o site https://zzf-potsdam.de/) apontam que o número é de 136 mortes. Depois da queda do muro e da queda do comunismo no leste europeu, os processos judiciais do Schießbefehl1, que visavam julgar os responsáveis pelas mortes ocorridas em decorrência do muro duraram até 2004 e condenaram 11 pessoas à prisão, 44 pessoas foram condenadas e posteriormente tiveram as penas suspensas condicionalmente e 35 acusados foram absolvidos. O último processo terminou em 9 de novembro de 2004, exatamente 15 anos após a queda do muro de Berlim, com uma sentença condenatória. “O muro de Berlim foi um ato desesperado da ambição humana, que tentava manter no cativeiro e na miséria aqueles que ansiavam por liberdade e prosperidade, usando o medo como instrumento de opressão, e cujo maior símbolo era o muro da vergonha” Paulo Planez 1 O termo alemão Schießbefehl, que significa "ordem de atirar", foi o termo usado para se referir à Befehl 101 (Ordem 101) que instruía guardas da fronteira da extinta República Democrática Alemã para evitar a fuga de seus cidadãos com todos os meios possíveis, incluindo a morte dos fugitivos
  • 5. Página 4 de 19 Cai a barreira física “Mr. Gorbachev, tear down this wall!” A famosa frase foi dita por Ronald Reagan em um discurso2 no Portão de Brandemburgo no dia 12 de junho de 1987, na ocasião da comemoração do 750º aniversário da cidade de Berlim. A declaração assumiu um tom de desafio ao então secretário-geral do partido comunista soviético, Mikhail Gorbachev, para que derrubasse o muro e demonstrasse de forma inequívoca a crescente liberdade nos Bloco do Leste: “Damos as boas-vindas à mudança e à abertura, pois acreditamos que a liberdade e segurança caminham juntos, que o progresso da liberdade humana só pode reforçar a causa da paz no mundo. Há um sinal de que os soviéticos podem fazer que seria inconfundível, que faria avançar dramaticamente a causa da liberdade e da paz. Secretário Geral Gorbachev, se você procura a paz, se você procura prosperidade para a União Soviética e a Europa Oriental, se você procurar a liberalização, venha aqui para este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube esse muro” O discurso, apesar da discussão do quanto haveria influenciado na decisão de derrubar ou não o muro, é um símbolo da pressão das nações livres contra a opressão que o mundo socialista impunha aos seus e, de forma indireta, através de um belicismo sem precedentes, ao resto do mundo. Em visita aos estados unidos, em 2014, Gorbachev comentou: “Me perguntaram como encarei o pedido do presidente Reagan. A verdade é que então não o levei a sério. Sabia que era um ator e achei que se tratava apenas de uma boa encenação. [...] Para que caísse o muro de Berlim se necessitavam muitas coisas e chegou o momento em que a sociedade alemã tinha amadurecido para isso." A queda do muro de Berlim não foi fruto da vontade de um homem, mas sim consequência de um longo trabalho de pressão social em todos os setores da sociedade livre do mundo à época que, visto a opressão dos sistemas socialistas e os resultados absurdamente degradantes para os seres humanos submetidos a este regime bestial, se tornou impossível para a sociedade livre da época simplesmente deixar para lá. Mas, como dito pelo próprio Gorbachev, o principal fator a gerar a derrubada do muro foi o amadurecimento da sociedade alemã. Esta sociedade, que passou 40 anos sob o julgo da opressão socialista, já não aceitava mais a condição de escravo de uma ideologia maligna que oprimia e explorava o ser humano em prol de uma elite política e insaciável. Foi justamente 2 O discurso pode ser analisado pelo artigo da wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Tear_down_this_wall! E pode ser assistido pelo Youtube através do link https://www.youtube.com/watch?v=5MDFX-dNtsM
  • 6. Página 5 de 19 essa consciência do povo alemão, tanto do oriental quanto do ocidental, que tornou inviável para a União Soviética manter seu domínio sobre aquele povo. O Jornalista Mário Pereira Gomes certa vez escreveu: “Um povo que não luta pela liberdade está condenado a ser escravo”. Foi justamente o que fez o povo alemão diante das atrocidades da esquerda comunista: Lutou. Muitas mortes foram registradas, outras tantas infelizmente nunca serão de conhecimento da humanidade. A crescente insatisfação da população submetida a barbárie da esquerda comunista criou revoltas e pressões políticas internas no governo, que respondeu aumentando a perseguição e a repressão, intensificando a censura cultural e de opiniões, tendo a Stasi, polícia secreta do regime, como o grande agente dessa repressão. Em junho de 1989 a Hungria, outro país submetido ao julgo da esquerda comunista, decretou a abertura de sua fronteira com as nações livres, o que levou, em um mês, mais de 25 mil pessoas a migrarem da Alemanha para a Hungria e depois irem para Áustria, onde solicitavam asilo na embaixada da Alemanha Ocidental. Enquanto isso, na Polônia, era eleito o primeiro governo que não pertencia a esquerda comunista desde a segunda guerra mundial, o que incentivou milhares de pessoas a migrarem da Alemanha Oriental para a Polônia. Todo esse fluxo migratório desembocou em intensos protestos na Alemanha Oriental, fugindo do controle do governo. Então, em 9 de novembro de 1989, Günter Schabowski anunciou a nova lei de mobilidade do cidadão, acabando com as restrições na fronteira. A pressão era tamanha que Schabowski anunciou equivocadamente que a lei teria validade imediata, apesar de a validade somente acontecer após a aprovação do parlamento, o que atraiu milhares de pessoas aos postos de controle do governo na fronteira, forçando as autoridades da Alemanha Oriental a endossar a lei. Em pouco tempo mais de 100 mil pessoas atravessaram a fronteira rumo a Alemanha Ocidental, deixando para trás 28 anos de opressão e miséria impostas ao povo alemão pela esquerda comunista capitaneada pela União Soviética. Na virada de 9 para 10 de novembro o povo, exercendo sua soberania e ciente de seu pleno direito à liberdade, portando marretas e picaretas, botou abaixo o muro da vergonha, encerrando assim um domínio de 44 anos de opressão comunista, que começou com a divisão da cidade de Berlin entre os aliados que derrotaram as forças nazistas e se intensificou com a construção do muro da vergonha. Em seu discurso, Ronald Reagan disse: "Quando olhei um momento atrás do Reichstag, essa encarnação da unidade alemã, notei as palavras grossamente pintadas com spray na parede, talvez por um jovem berlinense, 'Este muro vai cair. As crenças tornam-se realidade.' Sim, em toda a Europa, este muro vai cair. Pois não pode resistir à fé; não pode resistir à verdade. O muro não pode suportar a liberdade” O Muro não pode resistir a liberdade. Os muros construídos pela esquerda socialista no mundo inteiro sempre sucumbiram e sempre sucumbirão diante do anseio de liberdade e
  • 7. Página 6 de 19 prosperidade do ser humano. Essa era a nova esperança que surgia no coração dos seres humanos a partir daquele evento histórico. O processo político da reunificação da Alemanha foi conduzido por Helmut Kohl, chanceler da Alemanha Ocidental e membro da União Democrata-Cristã, partido de centro- direita Alemão. A formalização da reunificação aconteceu em 3 de outubro de 1990 e o processo de abertura total das fronteiras concluído em 1º de julho de 1991. A derrubada do muro, assim como a reunificação da Alemanha foram acompanhadas de celebrações na rua e festas por toda a Alemanha. Reconstruir a Alemanha dominada pela esquerda comunista não foi fácil. Em 2009, dez anos após a queda, a reconstrução já estava estimada em € 1.3 trilhões de Euros3, o que representava mais da metade da produção econômica total da Alemanha em 2008. O total colapso da economia comunista fez com que dois terços do orçamento precisassem ser investidos em benefícios sociais, especialmente por conta do alto nível de desemprego no país que, mesmo considerando dez anos depois, seguia-se muito maior no leste do país. O então ministro das finanças da Alemanha, Theo Waigel, recorda sobre a fase de planejamento e sobre os investimentos a serem feitos, especialmente as constantes quebras de orçamento: “Nada teria nos ajudado, a não ser que levantássemos de novo uma fronteira”. Em 2010 a economia do lado oriental, em valores per capta, equivalia a apenas 71% do valor do lado ocidental, o que mostra que as dificuldades em recuperar o estrago feito ao longo de 44 anos pela esquerda comunista na Alemanha oriental vão muito além do simples fator econômico. Afetam também outros fatores como o cultural e a produtividade. Waigel recorda o comentário do presidente de uma empresa americana que havia questionado se a “compra” da Alemanha Oriental não havia sido um mau negócio. Waigel respondeu irritado: “certo, isso está durando e custando mais do que havíamos esperado. Mas 18 milhões de pessoas vivem hoje numa democracia. Se vocês puderem apresentar o mesmo balanço depois de dez anos no Iraque, então você pode repetir essa pergunta” A ação de integração da Alemanha foi, antes de tudo, uma ação de solidariedade, que permitiu tirar milhões de pessoas debaixo da tirania da esquerda comunista e introduzi-la em um ambiente de liberdade e prosperidade como eles nunca haviam conhecido. Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada. Jean-Jacques Rousseau 3 Estudo publicado pela IWH e replicado no Brasil pelo Globo no link http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1370614-17398,00- CUSTO+DA+REUNIFICACAO+DA+ALEMANHA+FOI+DE+TRILHAO+DE+EUROS+DIZ+JORNAL+ALEMAO.html e no site https://www.dw.com/pt-br/reconstru%C3%A7%C3%A3o-do-leste-alem%C3%A3o-custou-13-trilh%C3%A3o-de- euros-e-est%C3%A1-longe-do-fim/a-6069344
  • 8. Página 7 de 19 Surge o novo muro A queda do muro de Berlin e a queda do comunismo não foram suficientes para ensinar para a esquerda global que os povos clamam por liberdade, não por opressão e controle do estado. Após a queda do comunismo, a esquerda retomou sua visão de poder a partir de meados do século passado, objetivando implantar seu projeto de domínio social e anti libertário aos povos desavisados e desinformados, só que agora com uma nova estratégia. A primeira metade do século XX mostrou para a esquerda que seu projeto de poder e dominação não poderia ser implantado a força, pois a força não seria suficientemente eficaz para lidar com o desejo de liberdade. A esquerda entendeu que para implantar seu projeto seria necessário eliminar o desejo pela liberdade. Através de textos de militantes, principalmente de Antonio Gramsci, que foram publicadas a partir de 1975 por Valentino Gerratana, a esquerda compreendeu que seu projeto de poder não se perpetuaria através da força e da criação de um superestado violento e opressor, mas através da hegemonia cultural como o elemento chave para a realização de ações políticas. Baseando-se em conceitos como “o marxismo das superestruturas”, a esquerda aprendeu a separar a infraestrutura, que é a base real da sociedade da superestrutura, que consistia nas ideias, doutrinas e crenças de uma sociedade, ficando claro que para controlar a sociedade, era preciso tomar o controle das superestruturas sociais, criando blocos hegemônicos favoráveis à sua ideologia política. Com o entendimento profundo dos conceitos definidos por Gramsci, a esquerda identificou e definiu como prioritário a tomada da hegemonia cultural do sistema educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação, como forma de ampliar sua hegemonia cultural para toda a sociedade. A visão básica da hegemonia cultural estava no fato de que, dominando estas três áreas, seria possível “educar os dominados” para que estes entendam a submissão como algo natural e conveniente, inibindo possíveis insurreições revolucionárias contra a ideologia. Seria possível para os “dominantes” criarem nos “dominados” o sentimento de identificação e de união sagrada com aqueles que os exploram contra um inimigo comum em favor de uma sociedade concebida como um organismo uniforme, coeso e justo. Através da educação dos dominados Gramsci propunha o conceito do “Intelectual orgânico”. Segundo ele as classes burguesas traziam consigo não só o capitalista, mas também uma série de intelectuais que compartilhavam os princípios burgueses: O advogado, o engenheiro, o administrador, o funcionário público, o professor e assim por diante, e seriam
  • 9. Página 8 de 19 esses intelectuais os responsáveis por manter vivo os princípios capitalistas na sociedade, pois estes seriam os funcionários da “superestrutura” que, no final das contas, moldavam o mundo a figura e imagem de suas crenças. Desta forma, através da formação e hegemonia do “intelectual orgânico”, formado de acordo com os princípios e interesses da esquerda, a ideologia seria propagada e se tornaria hegemônica na sociedade, funcionando como uma ferramenta de coerção e facilitando a implantação dos princípios e doutrinas que permitiriam a tomada do poder e a imposição de fundamentos e princípios políticos sem a resistência da sociedade. Dentro desses princípios, muros ideológicos foram criados na educação, na cultura, nas artes, no jornalismo, no funcionalismo público entre outros. A sociedade, outrora livre para expressar suas opiniões e seus pontos de vista, hoje se vê diante do autoritarismo cultural, impedida de atravessar a fronteira da liberdade de expressão e de pensamento pelos muros ideológicos criado com o objetivo de reprimir todo aquele que pensa diferente do ideário ideológico da esquerda e que se oponha a instauração de um regime “esquerdocrático” na nação. O pluralismo de pensamento, outrora virtude de uma sociedade evoluída, hoje é duramente combatido por uma militância formada com pensamento homogêneo - que foi tão bem descrita por Gramsci e implantada nas nações mundo afora - e que levanta muros ideológicos em qualquer área onde a diversidade de pensamentos possa afetar o projeto esquerdocrático de poder. A criação de uma “consciência coletiva” alinhada com o ideário ideológico é fundamental para a criação dos muros ideológicos e excluirá automaticamente qualquer pensamento divergente, minimizando os riscos de insurreição contra a ideologia. Enfim, a tão sonhada mudança das visões do poder e o fortalecimento dos sistemas democráticos, imaginados a partir da queda do muro, não aconteceu. Pelo contrário, a democracia e seus princípios de liberdade individual estão mais ameaçados do que nunca. Os projetos de poder iniciados pela esquerda mundial a partir da queda do muro, utilizando de métodos de manipulação ideológica, que são mais demorados, porém mais efetivos e perigosos para as liberdades individuais e para a sociedade, assumiu proporções globais e está se tornando quase irreversível. O tão sonhado vento da mudança, tão bem descrito pela banda Scorpions, nunca aconteceu. Como disse Chaplin(1940) em “O grande ditador”: “A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios” Chaplin ainda diz em seu maravilhoso discurso: “Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo”. Uma visão política que precise dos ensinamentos de Antonio Gramsci para conquistar o poder, definitivamente, não cumprirá o que promete e certamente escravizará o povo.
  • 10. Página 9 de 19 O muro ideológico na família A família é o principal empecilho para a formação do intelectual orgânico. É necessário desacreditar a família para que a aplicação da visão Gramsciana possa ser mais efetiva em seus resultados. Desde os primórdios de sua concepção, Marx enxergava na família uma forma dos burgueses manterem o poder sobre o proletariado e, em sua concepção, tal estrutura precisava ser destruída, conforme visão exposta em seu livro “O manifesto comunista”: “Abolição da família! Até os mais radicais exaltam-se com essa intenção vergonhosa dos comunistas. Sobre o que repousa a família atual, burguesa? Sobre o capital, o lucro privado. Plenamente desenvolvida, ela só existe para a burguesia; mas encontra seu complemento na família obrigatoriamente inexistente dos proletários e na prostituição pública. Naturalmente, a família desaparece com o desaparecimento desse seu complemento, e ambos se extinguem com a extinção do capital” Para atender as necessidades de poder dos regimes de esquerda a família, principal foco de resistência à implantação o ideário ideológico de esquerda, precisa ser completamente desestruturada para dar lugar a uma nova concepção de família: A família socialista. A educação fornecida por pais a seus filhos é uma barreira na manipulação ideológica das crianças nas escolas e, dessa forma, desacreditar essa unidade social é uma forma de combater a resistência à implantação da esquerdocracia na nação. As formas básicas de desestruturação de da família é a quebra de valores morais da sociedade, desmistificando o princípio de autoridade e responsabilidade dos pais. Dessa forma crianças crescem com menos influência da cultura dos pais e mais susceptível a influências externas, dentre elas, a mais importante para a manipulação ideológica: Dos professores. O muro ideológico na educação A educação é, pela sua capacidade de influenciar o futuro, o primeiro alvo da visão Gramsciana de pensamento hegemônico e onde a criação do intelectual orgânico gera melhores e mais rápidos resultados. O principal alvo do sistema Gramsciano é o professor que, em sala de aula, pode inculcar o ideário ideológico da esquerda como única visão capaz de conduzir a um mundo justo e, ainda, desacreditar qualquer outra visão de mundo que não seja essa. A forte influência do professor sobre o aluno, especialmente em sociedades onde a família perdeu completamente seu papel na influência da formação moral dos filhos, é fundamental para a estruturação de pessoas que crescem alinhadas com o ideário ideológico e que, no futuro, não oferecerão nenhuma resistência à um regime autoritário que restringirá suas liberdades.
  • 11. Página 10 de 19 O professor se torna então, para o ideário ideológico de esquerda, o principal agente de formação do “intelectual orgânico” bem como um agente de restrição do pensamento livre, condicionando o cidadão a pensar somente de acordo com uma determinada doutrina ideológica. Na visão Gramsciana, o professor como o principal agente de manipulação ideológica seria a chave para dirimir a resistência natural da sociedade às perdas de liberdade decorrente da implementação dos regimes esquerdocráticos e, desta forma, seria de fundamental importância a propagação do ideário de esquerda nos centros de formação de docentes. Atualmente, depois de muitos anos de aplicação das técnicas definidas por Antonio Gramsci, a formação de docentes é fortemente manipulada pelo ideário ideológico de esquerda, sendo que existe hoje uma completa incapacidade dos docentes em questionar o por que somente uma visão é aplicada, o que demonstra a eficácia das técnicas criadas por este. Em ambientes universitários, especialmente em cursos de formação de professores e em cursos das áreas de humanas, existe hoje um cerceamento ideológico onde alunos são impedidos de avançar em estudos de outras visões políticas e sociais. Até mesmo em salas de aula de ensino fundamental e médio os alunos já possuem sua liberdade de pensamento cerceado por professores formados como intelectuais orgânicos. É comum, nos dias de hoje, alunos que se apresentem com ideias diferentes, sofrerem violência moral de professores, que desqualificam seu pensamento, seu comportamento e até mesmo a sua existência social, somente porque pensam diferente do ideário ideológico que lhes interessa. O jovem, mas susceptível a autoridade do professor em sala de aula, acaba tanto assimilando o ideário ideológico quanto desenvolvendo a capacidade de se conformar com ele, limitando assim seu pensamento crítico e reduzindo as barreiras sociais à implementação de regimes alinhados com o ideário ideológico esquerdista. Neste cenário de domínio ideológico da educação, a qualidade se torna irrelevante, sendo a principal meta a uniformização do pensamento, a limitação do conhecimento ao ideário ideológico e a destruição do pensamento crítico. O muro ideológico na cultura A cultura, por sua vez, assume o papel de massificar o pensamento homogêneo proposta pelo ideário ideológico da esquerda. Utiliza-se da popularidade de pessoas públicas para mitigar questionamentos quanto aos métodos e ideias propostas, utilizando-se da credibilidade alheia para atribuir credibilidade, de forma indireta, a proposta ideológica. Artistas são cooptados através de grande disponibilização de verbas públicas, pagas em formas de caches de shows, filmes, peças de teatro entro outras possibilidades, que quase nunca são associadas com contrapartida básicas, como resultados financeiros ou de público. Artistas de grande expressão são incitados a fazerem campanha contra qualquer ação que busque questionar o ideário ideológico de esquerda, atuando de forma a desqualificar o
  • 12. Página 11 de 19 agente do questionamento, evitando que aconteça a discussão pública sobre qualquer que seja o tema de controvérsia. Os artistas são também os responsáveis por dar ares de normal a atitudes antes questionadas pelos padrões éticos e morais da sociedade. São o principal agente de destruição dos valores morais de uma sociedade, abrindo o caminho para a destruição de valores fundamentais como família, trabalho, respeito aos pais, respeito as autoridades entre outros. Utilizando-se de sua popularidade e penetração social, atuam como agentes de coerção ideológica contra qualquer fonte de pensamento divergente do ideário ideológico, criando fatores inibidores contra qualquer tipo de opositor. O muro ideológico no jornalismo O jornalismo é a base de sustentação do corpo político e artístico do ideário ideológico da esquerda. No corpo político atuam de forma a propagar a pauta positiva dos políticos alinhados com o ideário ideológico, hipervalorizando ações e atuando de forma omissa em casos que poderiam desqualificar a ação ideológica, como os casos de corrupção. Geralmente são cooptados através de verbas públicas destinados para o pagamento de ações, geralmente livres de processo licitatório, como palestras, consultorias e patrocínio de sites. O jornalista, como intelectual orgânico, é uma das prioridades dos professores de universitários já alinhados com o ideário ideológico de esquerda. A forte influência da esquerda nas formações de humanas na sociedade já cria um jornalista com baixa capacidade de senso crítico, com conhecimento focado em uma única visão de mundo, a que interessa, e totalmente susceptível a aceitar desvios éticos da profissão, como o conflito de interesses, comum por exemplo ao aceitar ministrar palestras paga com dinheiro público, o que limita sua capacidade de criticar o governo que o pagou. O muro ideológico na mídia A mídia, por sua capacidade de penetração na sociedade, é o principal campo de batalha dos intelectuais orgânicos. A forte atuação em mídias, sejam televisivas ou sócias, demonstra interesse da esquerda em utilizar desse recurso para oprimir qualquer um que pense diferente do seu ideário ideológico. Com o advento das mídias sociais, qualquer comentário postado que contradiga o ideário ideológico é automaticamente rechaçado, geralmente por agressões verbais e morais e por adjetivações, que desqualificam quem está questionando o ideário. Uma legião de militantes se posicionam como patrulha ideológica, monitorando comentário em redes sociais, se infiltrando em grupos de oposição a ideologia de esquerda com o objetivo de desqualificar de forma sutil ou, na maioria das vezes, violenta, qualquer comentário de oposição. Artistas, professores, jornalistas e, principalmente, o cidadão comum são incitados a difundir ódio e degradação pessoal contra qualquer pessoa que desqualifique o pensamento homogêneo nas mídias, especialmente as mídias sociais.
  • 13. Página 12 de 19 O muro ideológico no funcionalismo público O serviço público possui algumas áreas que são cruciais para o estabelecimento de qualquer projeto de poder e, por esta razão, são alvos da homogeneização do pensamento para a construção de um importante muro ideológico, fundamental para qualquer projeto de poder. A justiça é uma das primeiras áreas a serem cooptadas dentro do conceito Gramsciano de “intelectual orgânico”. Garantir que os processos sigam seu fluxo de acordo com os interesses políticos garante tempo para a execução dos projetos de poder, até que a justiça e as leis não sejam mais um empecilho para isso. A cooptação dessa área se dá através das benesses do estado. Através da utilização do dinheiro público cria-se uma “superclasse”, detentora de privilégios que os colocam acima do cidadão comum e totalmente alinhada com o ideário ideológico. Qualquer ação individual desalinhada com o ideário ideológico será imediatamente excluído do processo de crescimento interno, mantendo o “divergente” isolado em sua linha de pensamento, evitando, dessa forma, qualquer contaminação da consciência coletiva imposta pelo muro ideológico. No caso da justiça é de extrema importância que pessoas alinhadas com o ideário ideológico estejam em postos de liderança e tenha o poder de impor esse ideário a toda a estrutura. Desta forma garante-se a execução de ações em desacordo com o arcabouço legal que não sofrerão sanções ou restrições por conta disso, sendo uma ferramenta de aceleração do crescimento ideológico, rompendo as limitações do arcabouço legal. Outra área de fundamental importância para a execução de projetos de poder são os órgãos de controle. Órgãos responsáveis pela validação e aprovação das contas públicas são ferramentas chave para a utilização do dinheiro público para fim adverso daquele para qual foi arrecadado. Além das contas públicas, órgãos responsáveis pela validação e julgamento de conduta também são alvo do aparelhamento. Estes órgãos são fundamentais para garantir a repressão a qualquer conduta que esteja fora do alinhamento ideológico, garantindo liberdade de ação para aqueles que tem por incumbência a execução do plano de poder, protegidos inclusive de atos de oposição às suas ações. Ao contrário da justiça, os órgãos de controle precisam de alinhamento ideológico nas áreas técnicas, onde as análises, os estudos e os pareceres serão desenvolvidos. Toda a documentação, necessária para o julgamento dos casos de violação do princípio administrativo, serão criados visando minimizar, ou até mesmo suprimir, as não conformidades legais, dando um aspecto legal às execuções que, de outra forma, jamais seriam aprovadas por violarem preceitos jurídicos. Na outra ponta, órgãos de fiscalização são parte importante de qualquer projeto de poder. São aparelhados para garantir o não registro das inconformidades de interesse do
  • 14. Página 13 de 19 projeto de poder, ou até mesmo o registro deturpado de conformidade, visando criar problemas imediatos para quem se oponha ao ideário ideológico e ao projeto de poder. No caso dos órgãos de fiscalização, o alinhamento ideológico estará na área operacional, responsável pela execução das fiscalizações, o que garantirá o registro de eventos totalmente alinhado com o ideário ideológico. O alinhamento ideológico nessas áreas do serviço público cria uma estrutura de policiamento do cidadão que, diante do poder do estado, torna-se impotente e, como consequência, começa a reduzir qualquer exposição ou posicionamento que seja contra o ideário ideológico dominante, objetivando não sofrer nenhum tipo de punição e prejuízo oriundo dela. O muro ideológico nos sistemas militares Pela sua própria natureza conservadora, os sistemas militares são a barreira definitiva em termos de contenção do processo de implantação dos conceitos Gramscianos e do domínio ideológico na sociedade. O sistema militar se qualifica pela rígida hierarquia e disciplina e é justamente nesse elo – elo que classifica o sistema militar como a mais dura barreira a ser vencida – que ao ideário ideológico da esquerda atua: Na desmilitarização das forças de segurança. A desmilitarização das forças auxiliares de segurança colocaria milhões de militares na condição de funcionário público, sujeito a toda vulnerabilidade que permitiu a cooptação e a introdução do “intelectual orgânico” no serviço público. Dessa forma, em pouco tempo, as forças de segurança auxiliares comporiam o mais cruel muro ideológico para a sociedade: O muro da segurança pública. Uma força armada pública, sem o rígido controle hierárquico e cooptada por uma ideologia focada em implantação de um projeto de poder, agiria como uma forte força de coerção social para garantir a limitação do pensamento divergente, fator fundamental para a implantação de um estado “esquerdocrático”. Em pouco tempo depois de implantada, essa força pública estaria reprimindo, através da violência, todo e qualquer tentativa dos cidadãos comuns em se opor ao ideário ideológico dominador. A violência empregada geraria medo na população, que acabaria aceitando o julgo ideológico por não ver mais solução democrática que a conduza a um regime de liberdade. O ser humano e os muros pelo mundo A experiência do muro de Berlim, construído para impor a vontade de uma minoria violenta sobre uma sociedade livre, serviu de inspiração para os muitos muros construídos mundo afora com os mais diversos objetivos: proibir o acesso de imigrante pobres à prosperidade de nações ricas, como é o caso dos muros construídos na fronteira Estados Unidos – México e dos muros de Ceuta – Melilla no norte da África, ou para evitar o difícil diálogo a ser travado por conta da divergência étnica, como o muro do Chipre ou o muro da Cisjordânia.
  • 15. Página 14 de 19 Porém, a realidade de todos estes muros, sejam físicos ou ideológicos, é uma só: O ser humano sempre se apoia no isolacionismo e na violência para evitar o duro confronto do diálogo e do entendimento visando o bem comum. Todos os muros físicos são evidentes a partir da simples demonstração de suas intenções. Por outro lado, os muros ideológicos, aqueles que manipulam a mente humana para transformar o ser humano em um escravo, são invisíveis, difíceis de serem percebidos e difíceis de serem combatidos e, ao contrário dos muros físicos, coloca o ser humano na pior das prisões: A prisão ideológica. A submissão inconsciente a uma ideologia transforma o ser humano em um animal irracional, que despreza o seu semelhante simplesmente por ser ou pensar diferente. Seja no comunismo com suas centenas de milhões de mortos4, ou no nazismo com suas dezenas de milhões de mortos, ou no fascismo com suas dezenas de milhares de mortes, a submissão ideológica sempre resulta na violência e na restrição da liberdade. E é justamente o fortalecimento dessa submissão ideológica que vemos na esquerda Gramsciana e na esquerdocracia. Essa falta de liberdade pode ser representada pela incapacidade do ser humano de se locomover, como acontece com os muros físicos, mas, e principalmente, de acordo com a visão da esquerda Gramsciana, limitar o ser humano a enxergar o mundo e o seu semelhante como alguém livre, que tem o direito de enxergar o mundo de uma forma diferente. O Homogeneização do pensamento, como proposto por Gramsci, tem um único objetivo: formar escravos felizes. Essa estratégia pensada no início do século passado e colocada em marcha a partir da segunda metade do mesmo século é a mais cruel de todas as escravidões: A da mente. O regime cubano é o recordista de exclusão social. Os “balseros” representa os 20% da população cubana, que fugiram do regime comunista em balsas rumo ao Estados Unidos. Porém, com a prisão da mente não existe essa opção para a sociedade. Esta é uma estratégia que visa eliminar a diversidade de pensamento, garantindo uma unicidade cega e obediente, que não permite críticas e nem o autodesenvolvimento. Malala Yousafzai, criança que foi vítima de uma ideologia, descreve bem a importância da diversidade de pensamentos: “A diversidade garante que crianças possam sonhar, sem colocar fronteiras ou barreiras para o futuro e os sonhos delas”. Qualquer ideologia que restrinja a diversidade de ideias e obrigue uma sociedade a adotar uma única visão de mundo estará condicionando o ser humano a uma prisão, com a pior das restrições de liberdade: A liberdade de pensamento. Por trás de toda prisão ideológica existe a incapacidade de conciliar ideias Paulo Planez 4 O Livro negro do comunismo, obra coletiva, é um inventário da repressão política dos regimes ditos marxistas-leninistas, escrita por professores e pesquisadores de universidades europeias e editado por Stéphane Courtois e lançado por ocasião dos 80 anos da revolução russa, em 1997.
  • 16. Página 15 de 19 Esquerdocracia A ideologia da esquerda nunca foi simpática aos princípios democráticos. No Livro “O Estado e a revolução”5, Lênin, citando Engels, define estado conforme abaixo: “O Estado não é, de forma alguma, uma força imposta, do exterior, à sociedade. Não é, tampouco, ‘a realidade da ideia moral’, ‘a imagem e a realidade da Razão como pretende Hegel. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento. É a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição interna, se dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode desvencilhar- se. Mas, para que essas classes antagônicas, com interesses econômicos contrários, não se entre devorassem e não devorassem a sociedade numa luta estéril, sentiu-se a necessidade de uma força que se colocasse aparentemente acima da sociedade, com o fim de atenuar o conflito nos limites da ‘ordem’. Essa força, que sai da sociedade, ficando, porém, por cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o Estado”. O princípio básico da liberdade democrática é o diálogo visando o consenso, para o bem da nação. Lenin coloca o estado como fruto da incapacidade do diálogo entre as classes sociais, o que exigiria a intervenção de alguém que estivesse acima da sociedade. Ou seja, o estado não existe para servir ao povo, mas o povo existe para servir ao estado, que é, na visão de Lênin, superior a sociedade. Lênin reafirma esse ponto de na sua interpretação de Marx: “Segundo Marx, o estado é um órgão de dominação de classes, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação de uma ordem que legaliza e consolida essa opressão, moderando o conflito de classes” O conflito entre as classes é uma consequência normal do processo social, onde cada indivíduo defende as suas próprias prioridades. Esse conflito, em um processo democrático, é resolvido pelo diálogo, pela conciliação e, em última instancia, pelo interesse que um tenha em ceder às demandas de outros. Um exemplo clássico nessa conciliação democrática entre as classes está a lei da oferta e da demanda, aplicada ao trabalho. Quando existe uma crise de desemprego têm-se uma super oferta de mão de obra e os salários tendem a cair, já que o trabalhador desempregado acaba aceitando trabalhar por um salário menor. Já em períodos de super emprego e, consequentemente, falta de mão de obra no mercado, o empresário aceita pagar salários maiores visando manter sua produção e seus lucros. Um bom exemplo disso são países que não possuem legislação trabalhista, mas, a despeito disso, oferecem benefícios para seus funcionários. A razão para isso é simples: Caso 5 Baseado em um ensaio sobre a visão Leninista do estado, considerando-se como base o Livro “O estado e a revolução” escrito por Lênin, assim como outros textos escritos por expoentes da visão Marxista, disponível através do link https://colunastortas.com.br/lenin-o-estado- e-a-revolucao/ acessado em 27 de setembro de 2019
  • 17. Página 16 de 19 não façam, tendem a ter dificuldades na contratação de pessoal, o que afetaria sua produção e, naturalmente, os resultados de sua empresa. Marx e Engels reconheciam esse cenário de oferta e demanda da mão obra quando fizeram a seguinte citação em seu “Manifesto do partido comunista”: “Esses trabalhadores, que precisam se vender a varejo, são uma mercadoria como qualquer outro artigo vendido no comércio, sujeita, portanto, a todas as vicissitudes da concorrência e a todas as oscilações do mercado” Lênin segue em suas definições de estado, desta vez reforçando a capacidade repressora que ele deve assumir, conforme texto abaixo: “O segundo traço característico do Estado é a instituição de um poder público que já não corresponde diretamente à população e se organiza também como força armada. Esse poder público separado é indispensável, porque a organização espontânea da população em armas se tornou impossível desde que a sociedade se dividiu em classes … Esse poder público existe em todos os Estados. Compreende não só homens armados, como também elementos materiais, prisões e instituições coercivas de toda espécie, que a sociedade patriarcal (clã) não conheceu” Desta forma a força necessária ao estado seria diretamente proporcional aos conflitos de classes existentes na população, o que de certa forma explica o caráter militar e belicista das nações socialistas. É justamente o poder central forte do estado que legitima seus líderes. Engels cita que: “Investidos do poder público e do direito de cobrança dos impostos os funcionários, considerados como órgãos da sociedade, são colocados acima da sociedade. O respeito livre, voluntário, de que eram cercados os órgãos da sociedade patriarcal (do clã) já lhes não bastaria, mesmo que pudessem adquiri-lo” Essa elevação do funcionário público à condição de uma classe superior a sociedade, especialmente pelo fato de ter o poder de coerção, afeta de forma significativa os conceitos de democracia, onde o estado existe para servir o cidadão, e não o contrário. Na concepção do ideário ideológico da esquerda, o sufrágio universal, principal ferramenta da democracia, nada mais é do que um instrumento para legitimar a classe burguesa no poder, visto que a classe operária não teria capacidade para escolher alguém que realmente representasse seus interesses. Lênin afirma: “Assim como o estado antigo e o Estado feudal foram os órgãos de exploração contra os escravos e contra os servos, também o Estado representativo moderno é o instrumento da exploração do trabalho assalariado pelo capital” Dessa forma, criou-se a concepção que o estado representativo era uma forma de manter a classe proletária sob o julgo do capital, gerando a aversão pela Democracia e pelas liberdades que ela representa. Seguindo a visão de Marx e Engels, descrita em seu “Manifesto Comunista”, percebe- se que a visão socialista se aproxima mais da visão feudal, onde existe uma classe dominante privilegiada e uma população que trabalha e vive em função dessa classe do que de um regime democrático, onde o cidadão tem a plena liberdade das escolhas. No “Manifesto Comunista”, Marx e Engels citam:
  • 18. Página 17 de 19 “Ao longo da história, a burguesia desempenhou papel altamente revolucionário. Onde quer que ela tenha chegado destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Esgaçou sem piedade os variados laços feudais que uniam o ser humano ao seu superior natural, sem deixar outro vínculo a ligar seres humanos que não o puro interesse, o insensível pagamento em dinheiro. Ela afogou os sagrados calafrios do êxtase devoto, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia pequena- burguesa nas águas gélidas do cálculo egoísta” Marx e Engels já enxergavam, em uma visão interior, sentido em dedicação e devoção cega e obediente a um estado, cujo propósito seria maior que qualquer propósito individual, o que justificaria, para a sociedade, abrir mão de seus propósitos individuais para servir cegamente a um propósito maior. Ambos tinham uma posição clara sobre quem era a burguesia e o que ela produzia na sociedade. Eles se referem a burguesia da seguinte forma: “Somente ela demonstrou o que a atividade humana é capaz de produzir. Erigiu maravilhas muito diferente das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, e promoveu marchas bastante diversas das migratórias ou daquelas das cruzadas. A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção” Apesar dessa visão que, aos olhos do mais ingênuo leitor, soaria como um elogio, Marx e Engels viam como uma grande falha no caráter burguês, cuja razão estava na resistência ao progresso da humanidade. Essa resistência natural ao progresso da humanidade ficou claro quando da afirmação: “A manutenção inalterada do velho modo de produção era, ao contrário, condição primordial para a existência de todas as classes industriais anteriores. A transformação contínua da produção, o abalo ininterrupto de todas as condições sociais, incertezas e movimentos eternos, eis aí as características que distinguem a época burguesa de todas as demais. Todas as relações sólidas e enferrujadas, com seu séquito de venerandas e antigas concepções e visões, se dissolvem; todas as novas envelhecem antes mesmo que possam se solidificar. Evapora-se toda a estratificação, todo o estabelecido; profana-se tudo o que é sagrado, e as pessoas se veem enfim obrigadas a enxergar com olhos sóbrios seu posicionamento na vida, suas relações umas com as outras” Observe que a relação conflituosa entre Marx e Engels com a classe burguesa estava justamente no fato que ela obrigava ao ser humano um ciclo contínuo de desenvolvimento, o que para eles era considerado algo ruim. Com essa predominância de pensamento, eles enxergavam em um estado forte e autoritário a possibilidade de conter a evolução humana proposta pela classe burguesa. Sua proposta de combate a essa necessidade de desenvolvimento se baseava na união da classe proletária, conforme descrito abaixo: “De início, lutam trabalhadores isolados; depois os trabalhadores de uma fábrica; e, a seguir, os trabalhadores de um determinado ramo e lugar contra o burguês que os explora diretamente. Seus ataques não se voltam apenas contra as relações de produção burguesa, mas também contra os próprios instrumentos de produção. Eles destroem as mercadorias concorrentes de outras partes, quebram as máquinas, põem fogo nas fábricas, buscando reconquistar a posição já desaparecida do trabalhador medieval” Porém, com a classe operária incapaz de se unir e se levantar contra a classe trabalhadora a fim de evitar as incertezas do progresso, o ideário da esquerda passou a considerar cada vez mais a necessidade de um estado forte e soberano sobre a vontade do
  • 19. Página 18 de 19 povo, impondo-lhes o seu próprio conceito de liberdade. Essa visão fica muito clara na formação da União Soviética e de outros estados socialistas como Cuba, China e Coréia do Norte. A democracia e seus instrumentos de liberdade e desenvolvimento humano não são mais compatíveis com a luta para libertar a classe proletária da exploração burguesa. Faz-se necessário então impor ao trabalhador um regime autoritário e opressor que o coloque sob o julgo de um governo que o libertará da exploração de sua força de trabalho, permitindo ao trabalhador que, a partir de sua submissão a um poder que o represente, “o trabalho será um meio para a ampliação, o enriquecimento e a promoção da vida dos trabalhadores”. Lênin ainda afirma que “A democracia é também um estado que, quando o estado desaparecer, a democracia desaparecerá igualmente”. Ainda no “Manifesto do partido comunista”, Marx e Engels justificam todo o seu ensaio ideológico da seguinte forma: “O primeiro passo da revolução dos trabalhadores é alçar o proletariado à condição de classe dominante, é conquistar a democracia. O proletariado usará a dominação política para, pouco a pouco, arrancar da burguesia todo o capital, centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado – isto é, do proletariado organizado como classe dominante – e multiplicar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção” Ou seja, a visão de democracia descrita por Marx e Engels e seguida pelo ideário ideológico da esquerda viola todos os princípios de democracia criada pelos gregos, validada pelos romanos, aperfeiçoada pelos iluministas e implantado na era contemporânea da sociedade. Desta forma é possível entender que, quando o socialismo fala em “Democracia”, eles se referem a uma “Esquerdocracia” ou “uma democracia adaptada aos interesses de poder do ideário ideológico da esquerda”, que também pode ser resumidamente definida como sendo uma “Ditadura democrática” ou “Democracia Gramsciana” onde, “para o bem da sociedade lhe será imposta um regime ditatorial e opressor que lhe garantirá a liberdade total daqueles que a exploram, fundando um estado popular livre”. Lênin dava a isso o nome de “Centralismo Democrático”, exaltando as virtudes da ideia centralista de Marx. Ele exaltava a figura do “centralismo livremente consentido”. Para ele era preciso “organizar a unidade da nação, para opor o centralismo proletário consciente, democrático, ao centralismo burguês, militar, burocrático”. Porém se contradiz no livremente concedido ao defender o embate entre Engels e os sociais-democratas, visto por ele como falsos profetas do socialismo, Lênin os questiona se algum dia já viram uma revolução e complementa: “Uma revolução é, sem dúvidas, a coisa mais autoritária que há. É um ato pelo qual uma parte da população impõe a outra parte a sua vontade, com golpes de baioneta, com tiros de espingarda e de canhão, meios autoritários como não há outros” Marx e Engels não só endossavam a necessidade de intervenções despóticas, ou seja, com emprego da força e violando os preceitos democráticos, como sabiam da inviabilidade econômica do ideário que pregavam, mas, ainda assim, convenciam as pessoas na viabilidade futura de tais ideias. Marx e Engels afirmavam:
  • 20. Página 19 de 19 “De início, é claro que isso só pode acontecer por intermédio de intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, ou seja, por intermédio de medidas que pareçam economicamente insuficientes e insustentáveis, mas que, no curso do movimento, transcenderão a si mesmas e são inevitáveis como meio de transformação da totalidade do modo de produção” Lênin reafirma a posição de Engels em relação à violência ao afirmar que: “A violência desempenha na história um outro papel, um papel revolucionário; que segundo as palavras de Marx, ela é a parteira de qualquer sociedade velha que transporta uma nova sociedade nas entranhas; que ela é o instrumento em virtude do qual o movimento social domina e estilhaça as formas políticas petrificadas e mortas” A história dos regimes socialistas confirma a adoção do ideário ideológico da esquerda proposto por Marx e Engels. Todos foram implementados através da derrubada do poder legítimo, por meio de revoluções sangrentas e todas se inviabilizaram economicamente e socialmente. Aqueles que ainda sobrevivem, ou abriram suas economias para o capitalismo, mantendo o poder central e o autoritarismo, como a China, ou dependem de outras nações para sobreviver, como a Coreia do Norte. Em todos os casos o resultado é sempre o mesmo: Uma população desprovida de liberdades individuais e oprimida por um governo central autoritário e com uma forte concentração de renda em uma minoria da população enquanto uma maioria da população vive na miséria. Toda essa base do ideário ideológica da esquerda labuta contra os princípios democráticos e a liberdade propostos pela democracia, e que foi bem explicado por Montesquieu em sua frase: “A liberdade política, num cidadão, é esta tranqüilidade de espírito que provem da opinião que cada um possui de sua segurança; e, para que se tenha esta liberdade cumpre que o governo seja de tal modo, que um cidadão não possa temer outro cidadão” Esse, no final das contas, é o grande conflito gerado entre a esquerda socialista, com a imposição de sua visão esquerdocrática, e os regimes democráticos: A liberdade. Enquanto este visa a plena liberdade do ser humano em prol de uma sociedade heterogênea que beneficia o desenvolvimento individual, aquele visa a cessação da liberdade em prol de uma sociedade homogênea que beneficia o fortalecimento do estado. Confrontar a liberdade humana é confrontar o próprio ser humano. Pode-se até conquistá-lo, mas não será possível mantê-lo. Por esta razão o doutrinamento e a homogeneização do pensamento são essenciais para a esquerdocracia. A esquerdocracia jamais demonstrou ser melhor que a democracia apesar de constantemente conquistar adeptos. A razão é simples: As pessoas aderem pela manipulação ideológica, fruto da estratégia dos muros ideológicos, e não pela livre consciência” Paulo Planez