Este documento analisa a participação de subsidiárias brasileiras de empresas transnacionais em suas atividades globais de P&D. Ele compara dados de patentes e publicações científicas de subsidiárias no Brasil com subsidiárias em outros países, nos setores de telecomunicações, informática e eletrônica. Os resultados mostram que a participação brasileira em patentes internacionais é baixa em comparação com outros países em desenvolvimento, indicando pouca envolvimento de subsidiárias brasileiras no desenvolvimento tecnológico global dessas empresas.
Participação brasileira em P&D de grandes empresas
1. INTERNACIONALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE P&D: ...
INTERNACIONALIZAÇÃO DE
ATIVIDADES DE P&D
participação de afiliadas brasileiras
mensuradas por indicadores de C&T
SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
Resumo: Este artigo analisa a participação de subsidiárias de empresas transnacionais no processo de Pesqui-
sa & Desenvolvimento (P&D) global. Para tanto, serão avaliados indicadores de Ciência e Tecnologia (C&T)
de empresas pertencentes aos setores mais inovadores no Brasil, a fim de comparar os dados com as subsi-
diárias das mesmas empresas localizadas em países que competem diretamente com o Brasil.
Palavras-chave: Patentes. Dados bibliométricos. Tecnologia. Telecomunicação.
Abstract: This paper aims to analyse the participation of Brazilian subsidiaries of foreign transnational companies
in their global R&D processes. For this, we analysed some Science and Technology (S&T) indicators from the
widest companies of the most innovative industries in Brazil in order to compare data from their subsidiaries
located in countries that directly compete to the Brazilian units.
Key words: Internationalization of R&D. Patents. Bibliometric data. Technology.
V ivencia-se uma época de acirrada competitividade,
impulsionada pela globalização, na qual o desen-
volvimento tecnológico constitui-se num dos prin-
cipais impulsionadores da competição industrial. A pro-
As atividades de P&D das TNCs têm seguido uma
tendência de descentralização (CANTWELL, 1989,
GHOSHAL; BARTLETT, 1988; REDDY, 1997; SU-
BRAMANIAM et al., 1998; DUNNING, 1999). Existem
dutividade, a competitividade e o crescimento – tanto de pesquisas que afirmam que subsidiárias brasileiras de
empresas como até mesmo de países – estão intrinseca- algumas empresas TNCs estrangeiras estão envolvidas no
mente ligados à inovação. Desse modo, a participação das desenvolvimento de alguns nichos de produtos globais
subsidiárias brasileiras nesse processo torna-se um impor- (DIAS; GALINA, 2004; GALINA; PLONSKI, 2002;
tante medidor da capacidade de geração de valores CONSONI; QUADROS, 2002). No entanto, não é comum
tecnológicos do Brasil, uma vez que a presença de com- encontrar na literatura estudos que mostrem quantita-
panhias transnacionais (TNCs) estrangeiras no país está tivamente o resultado dessa participação.
cada vez mais acentuada. Para tanto, existem indicadores de ciência e tecnologia
Dessa forma, é importante avaliar quantitativamente o (C&T) que podem ser utilizados (OECD, 1994). Deve-se
grau de envolvimento das unidades subsidiárias no salientar que a medição de inovação torna-se necessária,
desenvolvimento de tecnologia das empresas estrangeiras ainda que incompleta e imperfeita, devido à sua impor-
que atuam localmente, uma vez que, para setores dominados tância para o desenvolvimento nacional (DOGSON;
por essas companhias, o compartilhamento de conhecimento SYBILLE, 2000), pois, dessa maneira, o tema dos indica-
e a replicação desse para o sistema nacional de inovação dores será inserido, definitivamente, nas agendas dos es-
apresentam uma forte dependência dessas companhias. tudos e das políticas de inovação.
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p. 31-40, abr./jun. 2005 31
2. SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
No entanto, é necessário destacar que nenhum indica- eletrônico que possuem subsidiárias instaladas no Brasil.
dor tem a capacidade de, sozinho, analisar a complexida- Trata-se de indústrias dominadas por empresas transna-
de e abrangência da atuação de uma organização – e mui- cionais estrangeiras. Participaram do estudo as norte-ame-
to menos de um sistema de inovação. Os indicadores devem ricanas Lucent e Motorola, a japonesa NEC, a sueca
refletir características específicas e devidamente contex- Ericsson, a francesa Alcatel, a alemã Siemens, a finlande-
tualizadas, para que possam ser alcançados os objetivos sa Nokia e a canadense Nortel, classificadas no setor de
para os quais foram designados. telecomunicações. Para o setor de informática, foram
A partir dessas considerações, o objetivo deste artigo selecionadas as norte-americanas Cisco, Compaq, Dell,
é avaliar a relevância da participação das subsidiárias bra- HP, IBM, Unisys e Xerox, e a sul coreana Samsung. No
sileiras no processo de desenvolvimento tecnológico, por que diz respeito ao setor eletrônico, selecionamos a sueca
meio dos resultados das atividades realizadas localmen- Electrolux, as japonesas Furukawa e Toshiba, as norte-
te. Tais resultados serão analisados por meio de dados americanas GE, Intel e Tyco, a sul-coreana LG e a holan-
quantitativos (especificamente a partir de dois dos mais desa Philips. Essas empresas são as maiores em cada in-
importantes indicadores de C&T: estudos sobre patentes dústria considerada (VALOR ECONÔMICO, 2004).
e estudos bibliométricos), considerando-se alguns dos Portanto, foram selecionados os setores mais inovadores
setores mais inovadores (IBGE, 2002) que sejam domi- e, dentro deles, as empresas que podem realizar mais ino-
nados por TNCs. Estes dados serão comparados ainda com vações, já que, quanto maiores, mais inovadoras elas são
os provenientes de subsidiárias das mesmas transnacionais (IBGE, 2002).
consideradas, localizadas em outros países que competem O levantamento de patentes foi feito nacional e inter-
diretamente com o Brasil em cada um dos setores analisa- nacionalmente. Para tanto, as consultas foram realizadas
dos. Dessa forma, aborda-se um tema de significativa nas bases de dados disponibilizadas pelo Instituto Nacio-
importância para a avaliação de C&T no país – e que ain- nal de Propriedade Intelectual – INPI; e, para analisar a
da foi pouco explorado. participação brasileira nas patentes requeridas interna-
Vale considerar que um importante indicador faz cionalmente, foi utilizada a base do United States Patent
referência a solicitações de patentes, que podem ser and Trademark Office – USPTO. Ambas as organizações
efetuadas em âmbito nacional ou internacional dependendo disponibilizam informações pela Internet. É importante
de onde as empresas pretendem fabricar e comercializar ressaltar que foram contemplados dados dos últimos dez
seus produtos. Entretanto, deve-se destacar que os anos.
resultados estabelecidos apenas a partir de análises A base do USPTO foi escolhida porque o sistema nor-
estatísticas com patentes são frágeis, visto que tais estudos te-americano é o que realiza o maior número de registros
podem ser indicadores imperfeitos se utilizados isola- de patentes de empresas estrangeiras do mundo – daí sua
damente (PAVITT, 1988). Portanto, torna-se necessário relevância. Os dados sobre patentes disponíveis para con-
e prudente combiná-los com outros indicadores de C&T, sulta na base do USPTO são bem mais detalhados do que
como informações bibliométricas. os provenientes da base disponibilizada pelo INPI. Isso
Assim, este artigo combina os dois indicadores men- representa uma flexibilidade muito maior da base norte-
cionados, com o intuito de explorar a representatividade americana se comparada à brasileira – o que significa que
da participação de subsidiárias brasileiras no desenvolvi- no USPTO é possível fazer diferentes tipos de consultas
mento tecnológico de algumas indústrias – majoritariamen- e receber um conjunto de dados mais específico do que
te companhias estrangeiras. A seguir, é apresentada a pelo INPI.
metodologia utilizada para o desenvolvimento do traba- Por outro lado, a consulta à base de dados de patentes
lho, os dados obtidos e algumas considerações finais, com domésticas foi fundamental para os resultados desta
levantamento de questões importantes a serem ainda pesquisa. Isso porque ela possui uma quantidade muito
investigadas. maior de dados relevantes a serem tratados aqui e, por isso,
possibilita uma análise mais fundamentada e, conseqüen-
METODOLOGIA temente, conclusões mais aprofundadas.
Geralmente, quando uma empresa transnacional soli-
Os estudos foram realizados com empresas trans- cita patentes internacionais, isso significa que o produto
nacionais dos setores de telecomunicação, informática e patenteado é inovador e relevante para a companhia as-
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3. INTERNACIONALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE P&D: ...
sim como a equipe envolvida no processo de inovação. e a análises importantes. Em uma dessas análises, o núme-
Quando a equipe conta com a participação de funcioná- ro de patentes foi obtido considerando o Brasil como o país
rios ligados a alguma subsidiária, esse pode ser um indí- de origem das patentes (inventores ou empresas), com o
cio de que há envolvimento entre tal subsidiária e a rede objetivo de mostrar a situação geral do país em termos de
global de desenvolvimento tecnológico da TNC, mesmo patentes recebidas, sem considerar cada companhia espe-
que a patente não tenha sido solicitada em nome da subsi- cificamente. Os resultados, mostrados na Tabela 1, não são
diária. Dessa forma, a análise cobrirá a solicitação de pa- muito animadores. Eles indicam que, mesmo com um au-
tente em nome da subsidiária e também a existência de mento de 80% de um período para outro, a participação do
pelo menos um inventor oriundo da subsidiária. país é baixa. E isso, não somente se o considerado como
Um outro indicador escolhido para medir o envol- “país de origem do inventor”, mas também como “país onde
vimento entre matrizes e subsidiárias brasileiras refere-se está localizada a empresa que fez a requisição da patente”.
a dados bibliométricos, ou seja, a quantidade de artigos
científicos publicados em periódicos de destaque. Vale TABELA 1
citar que, enquanto as patentes estão ligadas à pesquisa Patentes Solicitadas a Companhias e Inventores
aplicada e ao desenvolvimento experimental (para poste- Países em Desenvolvimento – 1994-2003
rior produção e comercialização do produto), as publica-
ções científicas geralmente se referem à pesquisa básica e Países em Desenvolvimento 1994-1998 1999-2003
aplicada. Dessa forma, com esses dois indicadores de re- Brasil Empresa 202 365
sultados de C&T, cobrem-se todos os tipos de atividades Inventor 426 793
realizadas em P&D (OECD, 1994). Chile Empresa 17 29
Os dados bibliométricos são provenientes do Science Inventor 57 87
Citation Index – SCI, editado pelo instituto norte-ameri- México Empresa 128 197
cano Institute for Scientific Information – ISI, também por Inventor 372 660
intermédio da base disponível na internet. O SCI é Cingapura Empresa 241 1.084
multidisciplinar e compreende cerca de 5.300 periódicos Inventor 597 1.991
relacionados a ciências humanas, meio ambiente, tecno- Taiwan Empresa 5.081 18.571
logia e medicina. Além disso, ele é a base multidisciplinar Inventor 13.057 31.056
que compreende o número mais significativo de publica- Tailândia Empresa 39 59
ções da América Latina. Em 1997, as publicações da re- Inventor 85 298
gião representaram 2,3% do total das publicações Índia Empresa 131 717
registradas no SCI (RICYT; CYTED; OEA, 1999). Inventor 370 1.360
Para qualquer um dos indicadores selecionados, os Malásia Empresa 17 71
dados encontrados para a participação do Brasil foram Inventor 149 404
confrontados com os dados de outros países, tanto os em Coréia do Sul Empresa 8.700 18.001
desenvolvimento quanto os desenvolvidos. Na escolha Inventor 9.359 19.500
desses países, foi considerada a relevância das subsidiá- China Empresa 170 907
rias como prováveis participantes do desenvolvimento de Inventor 476 2.269
produtos das TNCs – o que as torna importantes concor- Hong Kong Empresa 1.048 1.938
rentes das subsidiárias brasileiras. Inventor 1.490 2.793
Israel Empresa 1.624 3.163
RESULTADOS OBTIDOS Inventor 3.093 5.666
Hungria Empresa 138 128
Patentes Internacionais Inventor 265 321
Irlanda Empresa 239 477
A busca de dados na base do USPTO foi feita em dois Inventor 468 961
períodos de cinco anos distintos: de 1994 a 1998 e de 1999 Rússia Empresa 32 1
a 2003. A flexibilidade para a combinação de diferentes Inventor 130 13
buscas nessa base nos levou a informações diversificadas Fonte: USPTO.
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4. SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
Os números absolutos provenientes da Rússia, Hungria, equipe local de desenvolvimento não está envolvida na
Chile, México, Tailândia e Malásia são ainda piores. pesquisa e que provavelmente, esta é realizada fora da
No entanto, nas comparações com Índia, Israel, China, unidade. Uma outra possível razão para isso é que a
Irlanda, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, o Brasil está subsidiária pode não ter autonomia ou poder para competir
numa posição absolutamente inferior. Entre os países ana- com a matriz na solicitação da patente. Assim, quanto a
lisados, as melhores posições são as de Taiwan e da Coréia buscas realizadas nas bases de dados, sempre que
do Sul, que têm números muito mais impressivos de pa- possível foram separadas as informações relacionadas a
tentes obtidas. Entretanto, com exceção desses dois, os subsidiárias ou a inventores.
números que representam países inteiros em geral são A partir dos nomes de cada companhia estudada e de
baixos, uma vez que várias das companhias estudadas os seus respectivos países, foi feito um levantamento mais
superam – especialmente no segundo período, conforme específico na base da USPTO. Assim, foram identificadas
visto na Tabela 2. as patentes solicitadas por várias subsidiárias. O resulta-
É importante diferenciar a participação de inventores do é apresentado na Tabela 2 e mostra claramente que as
e subsidiárias no processo de desenvolvimento que subsidiárias de países em desenvolvimento têm poucas
acabou por gerar o produto patenteado. Quando existe patentes em seus nomes. No caso do Brasil, identificamos
participação de um inventor local mas a unidade dele não Ericsson, Lucent, GE, Philips, Tyco e Xerox, com pouquís-
é a solicitante da patente, esse fato pode indicar que a simas patentes cada uma.
TABELA 2
Patentes Solicitados pelas Companhias Estudadas e Participação de Países Selecionados
Medida pelo Número de Patentes em Nome da Subsidiária e por Inventores
Países Selecionados – 1994-2003
Telecomunicações
Brasil Índia Israel China Hungria Irlanda
Empresas Estudadas Anos Total
Unidade Inventor Unidade Inventor Unidade Inventor Unidade Inventor Unidade Inventor Unidade Inventor
Alcatel 1994-1998 1.020 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1999-2003 1.817 0 0 0 1 (0,06%) 0 0 0 0 0 0 0 0
Ericsson 1994-1998 1.067 0 1 (0,09%) 0 0 0 0 0 0 0 2 (0,19%) 0 0
1999-2003 3.733 1 (0,03%) 1 (0,03%) 0 1 (0,03%) 0 0 0 1 (0,03%) 0 15 (0,4%) 1 (0,03%) 21 (0,56%)
Lucent (1) 1994-1998 3.455 0 1 (0,03%) 0 1 (0,03%) 0 12 (0,35%) 0 0 0 0 0 0
1999-2003 5.043 0 0 0 13 (0,26%) 0 15 (0,3%) 0 3 0 0 0 3 (0,06%)
Motorola 1994-1998 5.999 0 0 0 2 (0,03%) 0 105 (1,75%) 0 4 (0,07%) 0 0 0 2 (0,03%)
1999-2003 4.795 0 0 0 4 (0,08%) 0 110 (2,29%) 0 7 (0,15%) 0 0 0 7 (0,15%)
NEC 1994-1998 5.939 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1999-2003 9.654 0 0 1 (0,01%) 2 (0,02%) 0 0 0 0 0 0 0 0
Nokia 1994-1998 658 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1999-2003 2.224 0 0 0 0 0 1 (0,04%) 0 3 (0,13%) 0 2 (0,09%) 0 0
Nortel 1994-1998 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1999-2003 1.834 0 0 0 2 (0,11%) 0 2 (0,11%) 0 0 0 0 0 7 (0,38%)
Siemens 1994-1998 3.345 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 (0,03%)
1999-2003 6.062 0 0 0 2 (0,03%) 0 3 (0,05%) 0 4 (0,07%) 0 0 0 1 (0,02%)
(continua)
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6. SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
Quanto ao setor de telecomunicações, o Brasil apresenta las aumentaram suas solicitações de patentes locais, en-
o pior desempenho quando comparado aos demais países quanto outras as diminuíram. Nortel e Lucent, por exem-
em desenvolvimento considerados. Quando analisa-se o plo, aumentaram respectivamente 269% e 190% suas par-
total de patentes por país, Israel se destaca – especialmente ticipações de um período a outro. Essas companhias
no segundo período e para as norte-americanas Motorola intensificaram seus negócios no Brasil após a privatização
e Lucent. No entanto, esse país não tem patente solicitada do sistema Telebrás; a Nortel, em telefonia móvel; e a
em seu nome. Na Tabela 2, destacam-se os dados da Coréia Lucent, em fixa (com aquisição de duas empresas brasilei-
do Sul, principalmente em função das sul-coreanas LG e ras – Batik e Zetax). É notável o crescimento da GE e da
Samsung. Como a Philips também apresentava números Xerox, – sendo que esta última apresenta números bastante
significativos para o país, especialmente no segundo significativos. É preciso também observar que são neces-
período,verificou-se que o resultado extremamente positi-
vo foi influenciado por uma joint venture com a Samsung.
É necessário mencionar que realizou-se a busca de
TABELA 3
dados para todos os países citados na Tabela 1. No entanto,
Participação de Patentes Solicitadas pela Matriz e
alguns países mostraram dar pouca importância a certos
por Algumas Subsidiárias
setores. Por isso, considerou-se apenas as informações dos Países Selecionados – 1999/2003
que apresentavam maior participação. É o caso da Rússia,
Em porcentagem
por exemplo.
É possível confirmar que os resultados encontrados para Empresas Telecomunicações
cada país e apresentados na Tabela 2 são realmente baixos HQ (1) Alemanha Suíça Outras
(exceto pela Coréia do Sul, por razões já mencionadas), se Alcatel 74 0,3 0,1 Holanda: 3,0
considerados com uma outra análise feita com dados de Ericsson 63 0,2 0,2 Japão: 0,06
subsidiárias localizadas em países desenvolvidos. NEC 98 0 0,01 França: 0,0
Nokia 97 1 0 Japão: 0,04
Uma das limitações para essa análise é a impossibilidade
Nortel 97 0,2 0 França: 1,0
de obter dados dos Estados Unidos como inventor ou país
Siemens 69 - 0,9 Suécia: 1,7
solicitante da patente na base do USPTO. Assim, nenhum
dado foi encontrado nem para as companhias norte-
americanas nem para as subsidiárias de outras empresas Empresas Eletrônico
que sejam localizadas nos EUA. Essas seriam informações HQ (1) Alemanha Japão Reino Unido
muito úteis, uma vez que as subsidiárias norte-americanas Electrolux 70 6 0 1
geralmente estão muito envolvidas no desenvolvimento de Furukawa 100 0 0 0
GE - 0,02 0,04 0,02
produtos em todas as companhias estudadas.
Intel - 0 0,02 0
As Tabelas 3 e 4 mostram os dados obtidos para algu-
LG - 99,4 0 0,4
mas subsidiárias de países desenvolvidos, tanto para pa-
Philips 38,7 0,1 0,2 0
tentes solicitadas quanto para inventores residentes em
Semp Toshiba 98,9 0,2 0 0
outros países que não os de sede das companhias. Pela Tyco - 2,4 6 1,1
verificação dos dados, especialmente na coluna HQ
(Headquarters – matrizes), as empresas têm, sim, a prática
Empresas Informática
de solicitar patentes em nome de subsidiárias e de ter in-
HQ (1) Alemanha Japão Reino Unido
ventores residentes em outros países, mas, conforme dis-
Cisco - 0 0 0
cutido anteriormente, o Brasil não é um deles.
Compaq - 0 0 0
Dell - 0 0 0
Patentes Domésticas
HP - 0 0,07 2
IBM - 0 11 0
Buscas na base de dados do INPI foram também feitas Samsung 99 0,01 0,8 0
em dois períodos (1994-1998 e 1999-2003). Em ambos, o Unisys - 0 1 0
número de patentes solicitadas/obtidas pelas companhi-
Fonte: USPTO.
as estudadas variou amplamente (Tabela 5). Algumas de- (1) HQ: Percentual solicitado em nome da Headquarters/Matriz.
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7. INTERNACIONALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE P&D: ...
sários mais estudos para identificar a ausência de solicita- res de cada produto em determinada companhia e seus
ções pela Cisco e a existência de apenas uma pela IBM. respectivos países, não foi possível obter o número de
As pesquisas na base do INPI são menos flexíveis que patentes registradas no instituto por nacionalidade dos
na do USPTO, mas isso não é relevante para o propósi- inventores.
to deste trabalho e para a análise dos resultados. Quan- No entanto, apesar da impossibilidade em obter dados
do se usa a base do INPI, uma das principais dificulda- por meio de consulta pelo campo “país”, foi mais fácil en-
des é descobrir o endereço do inventor ou da companhia contrar a localização das companhias (ou de suas unidades)
– ou seja, seu país específico. Não é possível fazer bus- porque é possível conhecer os nomes de suas subsidiárias.
cas por esse campo na base on-line. Assim, já que é pra- Assim, a participação de unidades locais foi identificada
ticamente impossível relacionar os nomes dos invento- pelos nomes das unidades brasileiras de cada companhia.
TABELA 5
TABELA 4
Solicitações de Patentes Regionais pelas Companhias Estudadas
Participação de Inventores de Patentes Requeridas para a Matriz Países Selecionados – 1994-2003
e para Algumas Subsidiárias
Países Selecionados – 1999/2003
Empresas 1994-1998 1999-2003
Em porcentagem Telecomunicações
Empresas Telecomunicações Alcatel 79 29
HQ (1) Alemanha Suíça Outras Ericsson 1.049 465
Alcatel 41 17 0,4 Holanda: 0,7 Lucent (1) 147 426
Bélgica: 6,0 Motorola 485 227
Ericsson 52 3,2 0,1 Japão: 0,7 NEC 61 160
NEC 97 0,01 0,02 França: 0,04 Nokia 157 318
Nokia 69 3,9 0,2 Japão: 1,1
Nortel 13 48
Nortel 51 0,4 0 França: 1,9
Siemens 407 460
Siemens 66 - 1,2 Suécia: 1,8
Eletrônico
Empresas Eletrônico Electrolux 39 52
HQ (1) Alemanha Japão Reino Unido Furukawa 23 25
Electrolux 65 9 0 3 GE 61 322
Furukawa 99,5 0 0 0,3 Intel 58 46
GE - 0,7 1,2 0,4 LG 136 227
Intel - 0,1 0,8 0,1 Philips 165 290
LG 97,7 0 1,3 0,1 Samsung 190 338
Philips 41 12 1 6 Semp Toshiba 31 17
Semp Toshiba 98,2 0,2 0 0,2 Tyco 17 86
Tyco - 8,2 7,3 1,7
Informática
Empresas Informática Cisco 0 0
HQ (1) Alemanha Japão Reino Unido Compaq 9 0
Cisco - 0,2 0 0,5 Dell 18 44
Compaq - 0,3 0,1 0,4 HP 5 68
Dell - 0 0 0,2 IBM 1 0
HP - 1,3 0,8 2,3 Samsung 190 334
IBM - 1,6 14,8 1,6 Semp Toshiba 31 15
Samsung 96 0,1 0,8 0 Unisys 7 6
Unisys - 0 1 0,2
Xerox 460 485
Fonte: USPTO. Fonte: INPI.
(1) HQ: Percentual solicitado em nome da Headquarters/Matriz. (1) AT&T do período de 1994 a 1995.
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8. SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
Bibliométricos Ainda observando comparativamente os países da
amostra, vale destacar os crescimentos dos percentuais de
Dados bibliométricos são geralmente usados como in- Hungria, China, Índia, Taiwan (apesar de pequena diminui-
dicadores da posição de um país em termos de publicações ção no setor de informática) e Cingapura. O Brasil, mais
científicas relevantes. Quando se faz a comparação entre uma vez, tem uma representatividade ínfima (a não ser
diferentes regiões, usualmente a busca de dados é feita a quando comparado a países sul-americanos), sendo que
partir de diversas bases. Assim, os pesquisadores podem no setor de eletrônicos ela é praticamente nula.
tratar com um número significativo de periódicos e anali-
sar diferentes campos da ciência. O Brasil e cada um dos CONSIDERAÇÕES FINAIS
outros países citados também foram analisados quanto à
cooperação entre companhias e países com vistas à pro- De acordo com os indicadores quantitativos obtidos, é
dução científica. possível concluir que as subsidiárias brasileiras não estão
Os dados bibliométricos aqui utilizados têm como fon- muito envolvidas no desenvolvimento tecnológico de pro-
te artigos científicos e técnicos listados pela base ISI/SCI. dutos globais. Os dados bibliométricos e de patentes –
Tal base foi escolhida por ser multidisciplinar e porque é nacionais ou internacionais – mostram um panorama des-
a mais importante fonte de publicações científicas nos favorável para as unidades locais quando comparados aos
campos de engenharia e tecnologia, principais segmentos de subsidiárias localizadas em outros países em desenvol-
para geração de inovação tecnológica dos setores estuda- vimento que competem diretamente com o Brasil.
dos. Foram considerados os dados de dois períodos: o de O pior resultado foi encontrado na base USPTO, que
1994 a 1998 (período A) e o de 1999 a 2003 (período B), mostra que a participação das unidades brasileiras é real-
apresentados na Tabela 6. mente pequena. A partir da base do INPI, observou-se que
Esses dados mostram as publicações de pelo menos um a participação das subsidiárias brasileiras na solicitação
dos autores provenientes das companhias estudadas e um de patentes locais é melhor, mas que em geral tem caído
de uma instituição ou de uma companhia localizada nos nos últimos anos – fato que não foi anteriormente apre-
países selecionados. Dessa forma, foi possível encontrar sentado nesse artigo.
cooperação em pesquisas científicas realizadas pelas com- Vale ressaltar que as matrizes das companhias têm des-
panhias estudadas e instituições ou companhias de outros centralizado as tarefas de desenvolvimento de produtos e
países. envolvido suas subsidiárias: os dados de patentes aqui
A partir das buscas realizadas nessa base de dados, foi apresentados mostram timidamente esse fato. No entanto,
possível encontrar várias “falsas” referências relacionadas outros estudos indicam claramente que o envolvimento de
a GE, LG e Dell, ou seja, papers publicados que não são países desenvolvidos é significativo e tem aumentado
escritos pelas empresas citadas, mas por outras homôni- (GALINA; BORTOLOTI, 2004). Por outro lado, os da-
mas. Assim, optou-se por excluí-las das tabelas relaciona- dos de patentes nacionais e internacionais mostram que a
das neste artigo. participação das unidades brasileiras é insignificante.
Observamos que Lucent, NEC, Siemens, Toshiba, Philips Um resultado melhor é o referente aos indicadores
e IBM apresentam um total significativo de publicações, bibliométricos, mas, mesmo assim, é pior que os dados
apesar de diminuírem suas porcentagens de um período de outros países em desenvolvimento estudados, como
para outro. Também é importante notar que a Intel teve o citado na seção anterior. A lei de informática,1 da qual a
maior crescimento entre as empresas estudadas, apesar dos maioria das companhias estudadas se beneficiam, deve ter
valores serem menos representativos. influenciado este resultado. Essa lei exige que as empre-
Alguns números chamam a atenção mais uma vez. É o sas beneficiadas tenham parcerias com universidades ou
caso da Coréia do Sul, que se destaca entre os países – centros de pesquisa no Brasil – o que acaba gerando pu-
mas os números são extremamente dependentes da sul- blicações científicas.
coreana Samsung. Israel também apresenta números repre- Por essa razão, os indicadores de C&T analisados e
sentativos quando comparados com os demais países, e apresentados aqui não mostram evidências significativas
mais uma vez por influência da norte-americana Lucent (vale da participação do Brasil no desenvolvimento tecnológico
destacar que, neste caso, Motorola tem menor participa- dos fornecedores mundiais de equipamentos e serviços
ção), mas também com significativa participação da NEC. de telecomunicações, informática e eletrônicos. Essa é
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10. SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA
uma conclusão relevante, uma vez que tais indicadores DOGSON, M.; SYBILLE, H. Indicators used to measure the
innovation process: defects and possible remedies. Research
são amplamente utilizados para medir resultados de C&T, Evaluation, n. 9, p. 101-106, 2000.
para comparar desenvolvimento tecnológico de países e
DUNNING, J.H. Multinational Enterprises and the Global
para estimar resultados de formulação de políticas Economy. England: Addison-Wesley, 1999.
públicas. GALINA, S.V.R.; PLONSKI, G.A. Inovação no setor de telecomuni-
Os dados quantitativos aqui apresentados possibilitam cações no Brasil. Revista Brasileira de Inovação, Finep
o desenho de um panorama da participação brasileira nos (Forthcoming), 2005.
setores analisados, uma vez que afinal, foram estudadas ________. Global Product Development in the Telecommunication
Industry: an Analysis of the Brazilian Subsidiaries Involvement. In:
as maiores empresas presentes no Brasil em cada um dos PROCEEDINGS OF THE 9TH INTERNATIONAL PRODUCT
segmentos. No entanto, eles devem ser combinados com DEVELOPMENT MANAGEMENT CONFERENCE, European
outras informações a respeito dessas indústrias por meio Institute for Advanced Studies in Management – EIASM; Sophia
Antipolis, France: May 2002.
de outras pesquisas. O intuito é que os dados quantitati-
GALINA, S.V.R.; BORTOLOTI, L. Subsidiaries involvement in
vos possam ser utilizados para fortalecer estudos qualita- technological development of telecommunication industry: results
tivos, numa tentativa de melhor caracterizar os setores mais from S&T indicators. REAd – Revista Eletrônica de Administração,
inovadores da indústria brasileira. ed. 42, v. 10, n. 6, Nov./Dec. 2004.
Um desses estudos visa ao setor de telecomunicações GHOSHAL, S.; BARTLETT, C. Innovation Processes in
Multinational Corporations. In: TUSHMAN, M.L.; MOORE, W.L.
(GALINA; PLONSKI, 2005; GALINA; BORTOLOTI, Readings in the Management of Innovation. Cambridge, Ma:
2004) e indica que há desenvolvimento local de produtos, Ballinger Publishing Company, 1988.
mas que a inovação está mais voltada para a adaptação ao IBGE. Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica – Pintec
mercado local. Também mostra que há participação de 2000. Rio de Janeiro: 2002.
subsidiárias locais no desenvolvimento global, porém as OECD. The measure of scientific and technological activities
tarefas que cabem às unidades brasileiras são pouco ino- using patent data as S&T indicators. Paris: 1994. 108p.
vadoras e não chegam a gerar patentes. Também estão PAVITT, K. Uses and abuses of patent statistics. In: VAN
sendo realizadas outras investigações dessa natureza, que RAAN, A.F.J. Handbook of quantitative studies of Science and
Technology. Holanda: [s.n.], 1988.
serão divulgadas em futuro próximo.
REDDY, P. New Trends in Globalization of Corporate R&D and
Implications for Innovation Capability in Host Countries: A Survey
from India. World Development, v. 25, n. 11, p. 1821-1837, 1997.
NOTA RICYT; CYTED; OEA. Indicadores de C&T Iberoamericanos/
Interamericanos. Argentina: 1999.
1. Antiga Lei n o 8.248/1991, que deu origem à Lei n o 10.176/2001, SUBRAMANIAM, M.; ROSENTHAL, S.; HATTEN, K. Global New
alterada pela Lei no 10.664/2003. Product Development Processes: Preliminary Findingds and
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SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA: Professora da Faculdade de
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