O documento discute a importância de ouvir histórias para o desenvolvimento das crianças pré-escolares. Contar histórias ajuda as crianças a desenvolver esquemas narrativos, familiariza-se com a linguagem escrita e estimula sua criatividade. O texto fornece diretrizes sobre quais histórias contar, como contá-las e a frequência recomendada para essa atividade.
1. RECONTAR HISTÓRIAS
Atividade é importante para a formação das crianças pré-escolares
• MARIA ANGÉLICA DO CARMO ZANOTTO
Pedagoga.
Mestre em Educação.
Doutora em Educação Especial.
São Carlos/SP.
E-mail: angelicazanotto@uol.com.br
Há unanimidade em torno do
fato de que ouvir muitas histórias
é importante para a formação de
qualquer criança. Pode ser dito
que esse é o início da aprendiza-
gem para ser um leitor porque:
† permite que a criança desenvol-
va um esquema de texto narrati-
vo. Ao ouvir histórias, a criança
começa a perceber que nelas há
começo, meio e fim e que elas es-
tão contando alguma coisa que
aconteceu, mesmo que seja de faz-
de-conta. Nelas há um fato que
aconteceu primeiro, que gerou
outros fatos e que levou a um de-
terminado final. Isto auxilia a
criança a lembrar-se das histórias
que ouviu e mesmo a criar novas
histórias;
† permite o contato com a lin- Além disso, as histórias pos- angústias, como a morte, a perda
guagem escrita padrão. O primei- sibilitam que a criança: dos pais, o preconceito;
ro contato da criança com um tex- † desenvolva sua criatividade. † realize o aprendizado de novos
to é feito oralmente, através da Muitas vezes, quando os pais lêem conhecimentos. É através de uma
voz da mãe ou do pai, dos avós, histórias, ou quando inventam his- história que se pode descobrir
dos professores, quando lêem li- tórias, colocam as crianças como outros lugares, outras épocas, ou-
vros para ela. As histórias lidas em personagens. Isso leva a criança a tros modos de ser e de agir...
voz alta, a partir do livro, contri- usar intensamente sua imagina-
buem para familiarizar a criança ção. A dramatização das histórias Por que recontar histórias
com as características da lingua- ou brincadeiras de faz-de-conta Por definição, Morrow nos
gem escrita, que é diferente da lin- também permitem à criança vi- ensina que recontar uma história
guagem que usamos para conver- venciar papéis e isto é importante é contar o que se lembra da mes-
sar informalmente – a linguagem para a sua socialização; ma após sua leitura ou audição.
oral. Além de ampliar o vocabu- † aprenda a lidar com seus medos Ao ouvir uma história, as crian-
lário das crianças, porque muitas e expectativas. É ouvindo histórias ças percebem a sua seqüência e,
vezes existem nos livros palavras que se pode sentir emoções impor- ao reconstruírem mentalmente
que elas não conhecem, o conta- tantes, como a raiva, a tristeza, o suas partes, quer para relembrá-la,
to com a linguagem escrita esti- medo, a alegria, a insegurança, a quer para recontar para outrem,
mula o desenvolvimento de estra- tranqüilidade. Vivenciar essas emo- desenvolvem um esquema de his-
tégias de processamento da lin- ções por meio dos personagens das tórias, que é a representação men-
guagem, importantes para o su- histórias auxilia a criança a escla- tal que nós temos do que seja uma
cesso posterior na escola. recer e a lidar com suas próprias história, isto é, uma representação
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2. das suas partes (cenário – onde e estivesse realmente lendo o livro • a partir do livro de história – li-
quando acontece e quem são os ou contando a história, indicando vros com texto e livro de imagens,
personagens, tema – sobre o que que ela já tem consciência de que sem texto;
é a história, enredo – a trama da há uma diferença na maneira • com objetos e sucata (formas
história, resolução ou final – como nos expressamos ao usar a animadas);
como se dá o desfecho) e da co- linguagem em diversas situações. • com dobraduras de papel –
nexão entre elas e que nos permi- Com certeza também, essa crian- origami – que podem estar pron-
te relembrar, compreender e mes- ça já ouviu muitas histórias con- tas ou serem dobradas no momen-
mo criar histórias originais. Em tadas por seus pais ou professo- to da história;
termos literários, trata-se do res. Uma outra criança , de mes- • com fantoches manufaturados
aprendizado de narrativas. ma idade, mas que não teve tantas (prontos) ou feitos a partir de di-
O nosso esquema de histórias experiências com as histórias, versos materiais;
não é inato; ele se desenvolve à pode pegar o livro e apenas apon- • oralmente, sem apoio algum.
medida que crescemos e somos tar e nomear as figuras, sem apre- Qualquer que seja a maneira
expostos a muitas histórias, par- sentar a seqüência da história. escolhida para contar é preciso
ticularmente histórias bem cons- Os estudos mostram que esse primeiro escolher a história...
truídas, nas quais todas as suas contato com os livros de histó-
partes estão presentes. Os contos rias, antes da criança ler conven- àQue história contar?
de fadas e os contos populares são cionalmente, acontece em diver- Pode-se contar qualquer uma à
ótimos exemplos de histórias bem sas fases, iniciando com as crian- criança desde que ela seja bem
construídas e previsíveis (os per- ças apenas apontando as figuras e conhecida por quem vai contar.
sonagens maus são sempre maus, nomeando-as e evoluindo para a Isso não significa que é preciso
os bons, sempre bons, etc.). Vale leitura de faz-de-conta. A expe- saber a história de cor, mas é im-
lembrar que estamos consideran- riência de ouvir e recontar histó- portante estar familiarizado com
do o ponto de vista cognitivo e não rias é fator decisivo para que a ela para evitar esquecer um peda-
o literário para julgar o quão bem criança evolua nesse contato. ço ou para poder improvisar uma
construída é uma história. Quan- Para recontar uma história é situação diferente quando estiver
to mais bem construída é uma his- preciso que a criança a tenha ou- contando. No caso dos livros,
tória, mais fácil é para nós lem- vido ou lido anteriormente. No Abramovich recomenda que é
brarmos dela. É difícil aceitarmos caso de crianças pré-escolares, bom a pessoa fazer uma leitura
– e até entendermos – histórias trata-se de ouvir histórias, pois prévia para saber onde termina um
sem-pé-nem-cabeça, não é? estamos lidando com crianças ain- parágrafo ou quando há pausas.
Quem faz esse julgamento é a da não-leitoras. O adulto, ou mes- Embora uma boa história agra-
nossa experiência com as muitas mo uma criança mais velha, assu- de a todo o mundo, é preciso tam-
histórias que lemos, ouvimos, me, nessa atividade, um papel im- bém levar em conta a faixa etária
contamos, enfim, o nosso esque- portante, pois tem mais experiên- das crianças:
ma de histórias. cia com o assunto: seus esquemas • crianças até 3 anos, geralmente,
O recontar histórias também de história já estão mais desenvol- gostam das que tratam de bichos,
possibilita que as crianças desen- vidos. O adulto, então, conta ou lê brinquedos e objetos, com perso-
volvam uma estrutura de lingua- histórias para que as crianças as nagens da vida real – papai, mamãe,
gem interna mais sofisticada do recontem. vovó e vovô, irmãos;
que a usada na vida quotidiana, Para contar uma história não é • crianças de 3 a 6 anos gostam
aprimorando tanto a linguagem preciso ter um jeito especial ou das histórias da fase anterior e
oral quanto a escrita. dom. No entanto, segundo Abra- outras de repetição e acumu-
Se alguém já teve a oportuni- movich, Coelho e Rego, alguns lativas, histórias de fadas, histórias
dade de observar uma criança que critérios tornam a atividade mais de crianças.
ainda não lê pegar um livro de his- fácil de ser realizada. Para crianças mais velhas, Coe-
tórias e fazer de conta que está lho sugere:
lendo e contando, com certeza Critérios para contar histórias • aos 7 anos – histórias de crian-
observou que o vocabulário usa- ças, animais e encantamento; de
do contém muitas das expressões àComo contar? aventuras no ambiente próximo
que são próprias do texto escrito As histórias podem ser conta- (família, comunidade); de fadas;
e a fala da criança soa como se ela das: • aos 8 anos – histórias de fadas
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3. com enredo mais elaborado e hu- quando uma algazarra aparece na para relacionar uma passagem da
morísticas; história ou falar de mansinho história a algo que ela vivenciou,
• aos 9 anos – histórias de fadas e quando a ação é calma... É opor- é um sentido para o texto, muito
vinculadas à vida real; tuno também dar pausas quando importante para o desenvolvimen-
• aos 10 anos ou mais – histórias uma coisa importante vai aconte- to da compreensão. É possível
de aventuras; narrativas de viagens, cer – E de repente...; que, ao final, as crianças peçam
de explorações, de invenções; fá- • posição do professor ou do con- para contar de novo e, se houver
bulas, contos, mitos e lendas. tador. É conveniente que todas as tempo e interesse de todos, pode-
Uma outra dica para escolher crianças tenham acesso visual a se repetir a história;
bem é contar aquelas que agradem quem está contando e ao livro ou • conversa depois da história. É
àquele que as conta. Abramovich aos objetos, bonecos, fantoches importante que o professor ou o
nos diz que é muito importante que estão sendo manipulados; contador mantenham-se abertos
que a história desperte alguma • leitura de forma literal. No caso às perguntas das crianças, particu-
coisa em quem vai contar: ou por- dos livros de história, é importante larmente as maiores, incentivan-
que ela é bela ou divertida, ou por- ler da maneira como está nos li- do-as à troca de comentários so-
que tem uma boa trama, ou por- vros. Também é importante mos- bre a história (se gostaram, o que
que dá margem para explorar um trar onde está sendo lido, apontan- acharam de tal ou qual persona-
outro assunto ou porque acalma do o texto escrito com os dedos. gem, etc.). A adoção desse estilo
uma aflição... Para as outras formas de contar de contar histórias, separando o
histórias, é importante que a lin- antes, o durante e o depois da his-
àCom que freqüência devemos guagem usada se aproxime daque- tória, permite uma melhor orga-
contar histórias? la dos livros. Outra dica muito va- nização do trabalho com as mes-
É muito importante que esse liosa: a história não deve ser mas e também deixa claro para a
tipo de atividade seja uma rotina. explicada durante o contar. É ne- criança que uma vez dita a frase
A leitura diária não significa ne- cessário considerar que há uma Bom, a história é assim... ou co-
cessariamente um livro diferente trama, um enredo correndo por meça assim... haverá uma histó-
a cada dia, pois as crianças costu- todas as páginas do livro e, mes- ria com começo, meio e fim.
mam eleger alguns livros como mo no caso da utilização de ou-
seus favoritos e pedem que sejam tros recursos – fantoches, dobra- Recontando a história
lidos repetidas vezes. duras –, a trama dessa história é o Depois que o professor (ou o
que enreda o ouvinte e também o contador) apresentou a história,
àComo aproveitar bem esse leitor. No nosso entender, é ina- várias atividades podem ser reali-
momento de contar histórias? dequado o estilo adotado por al- zadas, entre elas está o incentivar
Algumas estratégias podem ser guns professores que param a lei- as crianças a recontá-la, sem con-
usadas pelo professor, na conta- tura ou a contação da história a tudo, utilizá-la como pretexto
ção de histórias, como: cada acontecimento ou página lida para ensinar conteúdos. Aqui ca-
• conversa antes da história. Uma e pedem que as crianças digam o bem dois comentários.
breve conversa inicial facilita o que aconteceu ali ou que repitam É importante que a criança seja
entendimento do que vai ser con- a fala dos personagens; orientada no seu recontar, pois
tado e evita que haja muitas inter- • duração da história. Cabe ao pro- isso a auxilia a prestar atenção nos
rupções posteriores. Por exem- fessor calcular o tempo, depen- elementos importantes – cenário
plo, em histórias de bichinhos, dendo da faixa etária, do interes- (onde e quando ocorreu a histó-
permitir que a criança fale de seus se e, é lógico, da história. O im- ria), personagens, os eventos ini-
bichos. Quando aparece uma pa- portante é que a história seja tra- ciais, intermediários e finais. Há
lavra diferente, dar sinônimos an- tada como uma entidade, ou seja, níveis de ajuda, de acordo com a
tes para facilitar a compreensão uma vez iniciada a história, ela dificuldade da criança. Perguntas
no momento do contar; deve-se desenvolver até o final. do tipo E daí? ou O que aconte-
• modalidades e possibilidades da As interrupções durante o contar ceu depois? auxiliam a criança a
voz. As emoções se transmitem devem ser tratadas com muito cui- relembrar. Nos casos em que a
pela voz. Então deve-se sussurrar dado. Na verdade, as interrupções criança não consegue sequer ini-
quando a personagem fala baixi- não são propriamente interferên- ciar a história, podem ser feitas
nho ou está pensando em algo im- cias: o que a criança procura, ao perguntas mais gerais, tais como:
portante; é bom levantar a voz interromper para perguntar ou – Sobre o que/quem era essa
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4. história? O motivo alegado para essa fal- Todavia, o professor deve
– Quando, como e onde a his- ta de hábito geralmente é o tempo. prestar atenção na maneira como
tória começou? Em classe, parece já impossí- a criança se expressa e uma boa
– Quais eram os persona- vel atender quinze, vinte crianças oportunidade para isso é quando
gens? ou mais, no período normal de aula. ela reconta uma história. Nessa
– O que aconteceu na histó- Em casa, as atribulações da vida ocasião é possível avaliar a crian-
ria? quotidiana, pensando-se em termos ça em alguns aspectos do seu de-
– Como a história terminou? de classe média, mal permitem que senvolvimento lingüístico. Mas o
Podemos, também, perguntar se conte uma história no momen- que e como observar o recontar
detalhes: to da criança dormir. das crianças?
– O que fulano tentou fazer Todavia, em sala de aula e mes-
para resolver o problema? mo em casa, é possível propiciar àO que observar?
– O que aconteceu quando fu- outras situações em que as crian-
lano fez tal ação? ças possam recontar histórias, tais — Na linguagem, é preciso aten-
Podem ser feitas perguntas do como: durante a dramatização de tar para a fluência, verificando o
tipo: uma história (o professor ou uma número de palavras, a seqüência
– Por que aconteceu? criança podem ser os narradores de pausas; no caso dos livros, se
– O que fulano queria? da história); para seus coleguinhas a criança apenas aponta e nomeia
– Por que ele fez tal coisa? ou irmãos mais novos; para seus as figuras ou se parece construir
Pode, ainda, ser dado início à bichinhos de pelúcia ou animais uma história ao longo das páginas;
história e pedir que a criança a de estimação. no caso do uso de objetos, fanto-
continue. ches e dobraduras, se a trama da
Se a criança não se lembra, o Além do recontar histórias história está evidente; a comple-
professor a auxilia a relembrar, dá xidade da estrutura das frases uti-
pistas e, mesmo em alguns casos, 1. Recontar histórias como es- lizadas para contar a história, isto
reconta a história junto com ela. tratégia de avaliação é, se usa frases simples, próximas
(Lembremos que não é uma argüi- Além de ser uma atividade im- da linguagem coloquial ou frases
ção). À medida que a criança portante para a criança, a ativida- complexas, próximas da lingua-
reconta muitas histórias, é notó- de de recontar histórias pode ser gem escrita; o vocabulário, veri-
ria a maneira como ela melhora utilizada como estratégia de ava- ficando o uso de palavras preci-
no seu recontar, particularmente liação pelo professor. sas, a adequação de pronomes
se se trata de uma história que seja Quando a criança fala, nós, referenciais, a inclusão das pala-
a favorita da criança. adultos, costumamos não prestar vras da história, a formação de
Não é o caso de ensinar espe- muita atenção na maneira como sentenças completas, o uso da co-
cificamente as crianças a recontar ela fala, porque a nós importa o ordenação entre as sentenças;
histórias. Ainda que seja uma ati- que ela quer dizer e, assim, pre-
vidade importante, é preciso cui- enchemos as lacunas deixadas pela
dar para que o recontar não cause criança ao expressar-se, comple-
aversão e o bom senso do profes- tando com termos, palavras ou in-
sor vai indicar se a tarefa está sen- terjeições o seu pensamento, as
do difícil ou aborrecida para a suas idéias.
criança.
A atividade de recontar não é
uma atividade usual nas classes.
Nós adultos, professores e pais,
estamos mais acostumados a ex-
por a criança à leitura e/ou a audi-
ção de histórias. Quase nunca te-
mos o hábito de atuar como es-
pectadores das crianças em suas
manifestações de recontar ou,
mesmo, nos contar uma história
que ela mesma criou.
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5. — na estrutura da história, é ne- com os estereótipos. Às vezes, AMARAL, Ana Maria. O ator e seus duplos: más-
caras, bonecos, objetos. São Paulo: SENAC, 2002.
cessário observar a presença de pode acontecer da criança estar
eventos principais, recontando a tão tolhida no uso do seu imagi- ASCHENBACH, L.; FAZENDA, I.; ELIAS,
história com começo, meio e nário que ela não consegue criar M. A arte-magia das dobraduras: histórias e
atividades com origami. 3. ed. São Paulo:
fim; de seqüência temporal da história alguma. Ressalte-se a Scipione, 1992.
ordem em que foram contados os importância de se buscar meios de
BREVES, Tereza. O livro-de-imagem: um (pre)
eventos e da ligação entre os trazer à tona as que as crianças têm texto para contar histórias. 2000. Dissertação
eventos pelo uso de conetivos ou dentro de si, imaginárias ou reais. (Mestrado) - UFSCar, Imperatriz, 2000.
explicativos; COELHO, Betty. Contar histórias: uma arte
2. Ligação com outras atividades sem idade. São Paulo: Ática, 1990.
— na consciência da escrita, no caso Pensando-se na ligação da ati-
dos livros, convém prestar atenção vidade de recontar histórias com DIATIKNE, R. Histórias sem fim. Revista Veja,
São Paulo, Abril. p. 7-9, 17 mar. 1993.
à atitude da criança: se ela se atém outras atividades do currículo pré-
às gravuras para recontar ou se pa- escolar, vemos que há muitas pos- FRANCHI, Eglê P. Pedagogia da alfabetiza-
rece fixar-se no texto escrito. sibilidades de exploração. Como ção: da oralidade à escrita. São Paulo: Cortez,
1988.
nessa faixa etária as crianças ain-
àComo observar? da não sabem escrever fluente- LADEIRA, I.; CALDAS, S. Fantoche & Cia.
mente, o professor pode atuar São Paulo: Scipione, 1989. (Série Pensamento e
Ação no Magistério - Recursos Didáticos para
— Em situações formais, o profes- como escriba, anotando as histó- o Magistério, n. 1).
sor pede que a criança reconte a rias que as crianças inventam ou
MACHADO, M. M. O brinquedo-sucata e a
história para ele, individualmen- contam e, a partir daí, podem ser criança: importância do brincar. Atividades e
te, e pode mesmo orientar a crian- desenvolvidas atividades ligadas à materiais. São Paulo: Loyola, 1994.
ça, caso ela não consiga realizar a aprendizagem da escrita (uso de MACHADO, Regina. Arte-educação e o conto
tarefa. Lembremos mais uma vez parágrafos, direção e sentido em de tradição oral: elementos para uma pedagogia
que é uma avaliação e não uma ar- que se escreve, comparação das do imaginário. 1989. Tese (Doutoramento) -
USP, São Paulo, 1989.
güição. Os registros dessas pro- histórias com outras modalidades
duções, por escrito ou gravações, de usos da escrita – bilhetes e car- MORROW, Lesley M. Effects of structural
são importantes pois permitem tas, receitas, listas de coisas, etc.) guidance in story retteling on children's dictation
of original stories. Journal of Reading Behavior,
observar a evolução da criança ao e a outras áreas de conhecimento v. 18, n. 2, 1986.
longo do ano letivo; (Ciências, Matemática, Higiene e
Saúde). Além da mencionada dra- ______. Retelling stories: a strategy for
improving young children's comprehension,
— em situações informais, as crian- matização, também é possível tra- concept of story structure and oral language
ças recontam histórias umas às balhar a criação de histórias co- complexity. The Elementary School Journal,
v. 85, n. 5, p. 647-661, 1985.
outras, nas dramatizações e na letivamente, com a elaboração de
criação de histórias originais, um livro de histórias da classe. PERRONI, Maria Cecília. O desenvolvimento
com a utilização dos diversos re- do discurso narrativo. São Paulo: Martins Fon-
tes, 1992. (Texto e Linguagem).
cursos mencionados anteriormen- Finalizando, vale a pena lem-
te. Esse caso merece uma discus- brar que a atividade de recontar PICKERT, S. M.; CHASE, M. L. Story retelling:
an informal technique for evaluating children's
são à parte: o professor auxilia a histórias não precisa tornar-se a language. The Reading Teacher, v. 31, n. 5, p.
criança com perguntas sobre os mais importante do rol de ativi- 528-531, feb. 1978.
elementos da história que escla- dades do currículo pré-escolar; REGO, L. L. B. Literatura infantil: uma nova
reçam quem é quem, onde se de- todavia, não se pode deixá-la de perspectiva de alfabetização na pré-escola. São
senrola a história, por que, se há lado como estratégia que pode Paulo: FTD, 1988.
um final, etc. É lógico que aqui há promover o desenvolvimento das RODARI, Gianni. Gramática da fantasia. São
um cuidado com relação ao que a crianças: trata-se de uma alterna- Paulo: Summus, 1982.
criança inventou, ao seu imaginá- tiva que tem a sua especificidade
SULZBY, Elisabeth. Children's emergent reading
rio: nada de o professor dar e importância e com a qual o pro- of favorite storybooks: a developmental study.
pitacos na história, querendo mu- fessor pode enriquecer o trabalho Reading Research Quaterly, v. 20, n. 4, p. 458-
dar a trama, com a desculpa de que que realiza com os alunos. 481, 1985.
assim fica melhor... Cavalos ver- ZANOTTO, Maria Angélica do C. A leitura de
BIBL IOGRAFIA livros de histórias infantis e o recontar histórias:
des existem e nem todas as prin-
estudo do desempenho de crianças pré-escola-
cesas devem ser loiras e ter lon- ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil:
res. 1996. Dissertação (Mestrado) - UFSCar,
gas tranças. É preciso cuidado gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989. 1996.
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