O documento discute como o futebol ilustra as divisões e integrações da história européia. Ele descreve como manifestações nacionalistas, como vaiar o hino turco, reacendem tensões entre nações, enquanto clubes poderosos pressionam por uma liga européia transnacional que reduziria a importância dos campeonatos nacionais. A FIFA enfrenta o dilema de como harmonizar a globalização do esporte com os interesses e sentimentos locais das nações.
1. História – Módulo 10
Excerto sobre Diversão e Jogos – Futebol e Europa
3. Síntese da Europa dividida e integrada
Desde seus princípios o futebol mostrou ilustrar - e acentuar - as
grandes linhas de força da história europeia. Embates nacionalistas em fins do
século XIX e primeiras décadas do XX, tensões ideológicas da Guerra Fria,
globalização atual que em nome da superação de velhas discórdias estabelece
integração tão forte que redesperta antigos problemas e gera novos tipos de
divisão.
Em um polo estão as manifestações nacionalistas. Nas eliminatórias
para a Copa de 2006, na partida entre Suíça e Turquia realizada em Berna, o
hino turco foi vaiado reabrindo feridas de orgulho nacional. O fato lembrou aos
turcos que a entrada de seu país na Comunidade Europeia é de forma geral
malvista no continente e que a proposta de a Turquia sediar a Eurocopa de
2010 não foi aceita. Sentimento de dupla rejeição, portanto, política e esportiva.
O clima revanchista era forte para o encontro de Istambul, uma semana depois.
A delegação suíça teve problemas desde a chegada, e, terminada a partida e
consumada a eliminação da Turquia, os jogadores suíços foram agredidos
ainda no campo e a caminho do vestiário. Um deles precisou ser hospitalizado,
com problema sério.
Em outro polo estão as pretensões supranacionais, defendidas pelo
grupo dos mais poderosos clubes europeus, o chamado G-14. Este pressiona a
UEFA por um campeonato europeu de clubes, que lhes seria mais rentável do
que os tradicionais campeonatos nacionais. E pressiona a FIFA para ser
obrigado a ceder seus jogadores de variadas procedências às respectivas
seleções. Sendo multinacionais que recrutam trabalhadores em vários países,
têm partidas televisionadas para todo o mundo e vendem produtos com sua
marca em todos os continentes, tais clubes propõem um futebol sem fronteiras.
E a FIFA se vê assim diante da estranha situação de considerar a
possibilidade de supressão dos hinos nas suas competições para não alimentar
sentimentos nacionalistas, porém com receio de fortalecer dessa forma as
ambições internacionalistas: como harmonizar globalização e interesses locais.
(FRANCO JÚNIOR, H. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 94-95.)