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AUTO
PUBLI
CAÇÃO
conteúdo resumido
e reflexivo
ricardo
rodrigues
experimentos
impressos
a
cb
publicação gratuita.
não pode ser comercializada.
>> Enfim, a autopublicação
>> Indicações bibliográficas
>> Apresentação
>> Experimentos Impressos
>> O mercado independente
>> Certo, e como eu me vejo?
>> Projetos Independentes
>> Contatos úteis
>> Organização
>> Distribuição e divulgação
Entrevista com Charlene Cabral, Wagner Mello e Marcos Coelho
>> CONTEÚDO
Mas dar nome aos bois nem
sempre é fácil quando não
conhecemos determinado
segmento/atividade. Hoje, prestes
a completar cinco anos de
atividade frente ao projeto
Experimentos Impressos, ainda
me pego pensando muito no que
significa (e o que implica) publicar
de forma independente e
experimental. As coisas que
aprendi, as que ainda
desconheço, os processos que
levaram quase esse mesmo
tempo para entender, o significado
de praticar uma atividade “de
risco” em um momento tão
delicado para o mercado editorial
como um todo, entre outras
coisas. Afinal, quem sou eu nesse
meio e no que o meu trabalho
impacta?
Nessa publicação gratuita, eu
reviso alguns conceitos presentes
no livro AUTOPUBLICAÇÃO
(2019) de forma resumida, e não
apenas isso, convido você, que
quer entrar nesse universo com os
seus projetos, a refletir comigo
uma série de significados e
possibilidades. Afinal, num meio
que se faz, teoricamente, sozinho,
a coletividade também exerce um
papel fundamental. Especialmente
na troca de ideias e experiências,
e na necessidade de tornar a
publicação independente cada vez
mais uma realidade.
Quem diria que eu, lá por volta
dos meus 21 anos de idade,
cursando a faculdade de
comunicação e experimentando
publicações impressas e digitais,
já era um autopublicador? Pois é,
eu não tinha a menor ideia.
Embora os termos autopublicação
e publicação independente sejam
relativamente novos, a prática
existe há muito tempo. Às vezes
só nos falta dar “nome aos bois”.
>> APRESENTAÇÃO
Anos mais tarde, já na faculdade,
eu fazia pequenas publicações
impressas e ilustradas (hoje eu
poderia chamá-las de zines, e as
ilustrações de colagem digital,
ambas classificações que eu
desconhecia). Eu editava,
também, uma revista online e
mandava para uma lista de email
(nunca ninguém pediu pra
receber, mas também não pediu
para parar de vê-la), e todo o
projeto era meu: textos, capas,
ilustrações, projeto gráfico... uma
única vez um amigo colaborou
com uma nota sobre música. E
O projeto Experimentos
Impressos nasceu sem muito
planejamento, oficialmente, em
março de 2016. A única referência
que eu tinha eram as feiras
gráficas, novidade na época, e
pensei que poderiam ser uma
forma interessante de materializar
no papel os textos que eu já
olhava com certo ranço na tela do
computador, hospedados em
blogs e redes sociais.
Voltando uns (bons) anos, talvez
eu tenha me autopublicado pela
primeira vez aos 12 anos, quando
comecei a escrever histórias em
cadernos universitários, criando
capas para eles e fazendo minhas
irmãs e amigos lerem (risos). De
verdade estou rindo aqui
lembrando das histórias, e apesar
de ter guardado cada uma delas
até pouquíssimo tempo, me desfiz
de praticamente todas (me
arrependo). Foi o início de uma
prática que iria longe.
Mariposas Mortas
Zine
(2001)
>> EXPERIMENTOS IMPRESSOS
teve outra que eu criei uma
personagem para não parecer tão
solitário nesse processo.
Bobagem, meu destino era ser
autopublicador mesmo (rindo de
nervoso).
Estou contando tudo isso porque
esses caminhos todos me
levariam até 2015, quando postei
uma série de textos no meu perfil
do Facebook. Alguns amigos
reagiram tão bem que eu imprimi
aquela pequenas histórias e dei
de presente para eles. Foi o
embrião do que hoje é o meu
trabalho, e ajudaria a oficializar a
editora em março do ano
seguinte. Eu não sabia muito bem
o que ia fazer, onde ia chegar,
nada disso. Só sabia que queria
produzir livros em pequena escala
com acabamento artesanal. E o
projeto cresceu, a ponto de se
tornar trabalho. Repensei tantas
coisas, conheci tantas pessoas, e
entendi o meu espaço.
Revista coito Cerebral
Publicação digital
(2007-2009)
Publicar de forma
independente é saber que
existem grupos específicos
com interesses particulares,
interessados em consumir
um conteúdo que não tem
lugar nas grandes vitrines.
É entender que todo tipo de
trabalho pode ter espaço, e
essa pluralidade é um
refresco servido em copo
gigante num mercado
tradicionalmente regido
pelos números altos e pelo
sucesso absoluto.
Se o tempo passou e as novas
tecnologias permitiram novos
suportes e até mesmo
extinguiram alguns, com o livro
impresso isso não aconteceu.
De uma forma ou outra todo
mundo conhece o mercado
editorial tradicional, pelo lado bom
e ruim (vide a crise que estourou
nos últimos dois anos). Sabe-se,
também, que até um tempo atrás,
coisa de 20 anos, a figura de um
editor centralizava com rigor
quem iria entrar ou não nesse tipo
de Olimpo que era o ofício de ser
um escritor. Passar meses ou
anos escrevendo um manuscrito,
enviá-lo pelo correio e esperar um
retorno, positivo ou não, já foi a
rotina de muita gente. Feliz de
quem se fez notar nessa
engrenagem tão dura, não é?
Mas um fato curioso transformou
para sempre o mercado editorial.
A internet se tornaria um vetor
importante de publicação de
ideias, e possibilitaria, em maior
escala, que as pessoas se
publicassem pela primeira vez na
vida, sem esperar o intermédio de
alguma figura importante de um
grande grupo editorial.
>> O MERCADO INDEPENDENTE
>> enfim, a autopublicação
No meio disso tudo surgiram (ou
ressurgiram, ou, ainda, se
evidenciaram, melhor dizendo) os
publicadores independentes
experimentais. Quadrinistas,
escritores, editores, capistas e
toda uma gama de artistas
Estamos falando aqui dos livros
digitais, os e-books. Se por um
lado a Amazon, gigante do varejo
online, contribuiu para minar com
a existência das livrarias de bairro
e modificar não apenas os hábitos
de consumo, como também a
experiência de compra, por outro
ofereceu um serviço que levou
milhares de pessoas a publicarem
seus livros. O Kinde Direct
Publishing é um serviço que
hospeda obras de diferentes
segmentos na loja virtual, de
forma gratuita, apenas com uma
porcentagem sobre a venda.
Outros serviços nos mesmos
moldes seriam criados mais tarde,
e foi um passo significativo nas
mudanças que viriam.
Outro fenômeno interessante foi o
Whattpad, uma plataforma
canadense que mistura rede
social e espaço para publicação.
Os usuários distribuem seus
textos geralmente por capítulos e
acompanham a reação dos
leitores. Muita gente fez enorme
sucesso neste espaço, a ponto de
chamar a atenção de grandes
editoras tradicionais. São apenas
dois exemplos de todo um
movimento que mexeu com o
mercado nos anos 2000. Com o
passar do tempo, o livro deixou
de ser apenas um objeto de arte,
com curadoria altamente
selecionada por editores, e
passou a ser, mais do que nunca,
um negócio. Diversas editoras
abriram espaço em seus
catálogos para qualquer autor que
quisesse publicar, desde que ele
assumisse os custos. Também,
alguns autores fizeram (e ainda
fazem) suas obras ganharem
vidas sem a chancela de uma
editora, a partir de edições
próprias.
Se tornou cada vez mais “fácil”
publicar um livro. Enquanto isso,
as editoras maiores se voltam,
mais e mais, para os projetos que
têm chances alta de se converter
em um bestseller. E isso não é
errado, pois um negócio precisa
continuar existindo. Se tiver
demanda pra ele, tudo bem.
preenchendo uma grande lacuna
de produtos que, dificilmente,
teriam espaço nas gôndolas de
uma livraria de shopping.
Temos aqui um trabalho que é
sinônimo, também, de
representatividade. Autores
pretos, indígenas LGBTQIA+,
feministas, enfim encontraram
lugar para colocar pautas em
debate. Atualmente, isso é mais
do que urgente: é fundamental e
obrigatório. “Ah mas não quero
fazer publicação de cunho
político, não vou militar”, ok
alecrim dourado, só não esqueça
que tudo envolve política, e
mesmo que seu conteúdo seja
um romance de banca
(absolutamente nada contra eles,
eu até lia os livros da coleção
Júlia com minha mãe), o simples
fato de publicar sozinho já te
coloca numa força de resistência!
Então temos o dever de, ao
menos, prestigiar enquanto
leitores.
Primeiro pense em como você se
vê: um artista que quer mostrar
sua escrita/arte gráfica e apenas
circular, ou alguém que quer
capitalizar o que produz? As duas
coisas podem andar juntas, óbvio,
mas tem muita gente que trava
quando precisa se organizar e até
burocratizar o que produz,
digamos assim, a partir do
momento que ele passa a ser,
também, um trabalho. Dessa
forma, é necessário uma dose
mínima de organização para que
o trabalho possa fluir melhor.
Quando comecei, queria muito
trabalhar com livro artesanal e
fazer tudo sozinho. Mas isso não
é uma característica obrigatória
para ser considerado um
autopublicador. É apenas a forma
que eu escolhi trabalhar. Eu
realmente faço todas as etapas,
mas você pode escolher escrever,
chamar um artista gráfico para
fazer seu projeto, pode até
imprimir em larga escala se
quiser, como já falei antes. O que
caracteriza, de fato, é o seu
conteúdo, o seu esforço em
>> certo, e como eu vou me autopublicar?
Se você quer começar, comece
produzindo um zine. É, pela
classificação do artista Marcio
Sno, zineiro desde 1993 e
pesquisador do tema, “um veículo
de divulgação alternativo e
independente, geralmente
produzido em pequenas tiragens
e distribuído para um público
segmentado. Surge da
necessidade de expressão de
grupos específicos e tornaram-se
campos férteis para
experimentações gráficas e
textuais graças à sua total e
irrestrita liberdade” (O universo
paralelo dos zines, 2015, p. 19).
Os mais clássicos eram feitos de
forma manual, utilizando textos e
colagens/ilustrações, e copiados
via xerox.
Escolha um tema do seu
interesse e pense em quem pode
ser o seu público. Faça uma
distribuição menor para sentir o
“clima”, distribua para amigos (ou
venda para eles haha), e veja o
que pode ser ajustado. Não tenha
medo de EXPERIMENTAR,
pensa nas combinações de papel,
no modo de unir as folhas, no
recorte, no formato... não pense
em “inventar a roda”, faça sempre
um trabalho que faça sentido pra
você, e depois busque alguém
que também o compreenda. Eu,
por tradição (acho chic), produzo
aquilo que EU gosto, por dentro e
por fora da publicação. Se eu
colocar um possível consumidor
em primeiro lugar, meu trabalho
não será autêntico e eu não serei
feliz o fazendo.
produzir tendo que responder
somente para uma pessoa: você
mesmo.
Hoje temos zines com os mais
variados temas, tipos de
impressão e formatos, mas é
interessante começar do jeito
mais tradicional para entender a
dinâmica de uma publicação
independente.
Com o tempo você poderá
pesquisar referências, testar
formatos mais audaciosos, e até
mesmo executar estruturas de
livros mais complexos, quem
sabe um livro de artista? (vou
deixar algumas dicas de
publicação sobre o assunto no
final).
Ficção #2 e #1
(zine)
(1965)
Foto: Reprodução
Sob a denominação “boletim informativo”, o primeiro exemplar de FICÇÃO,
editado em 1965 por Edson Rontani, em Piracicaba (SP) foi produzido com
,
mimeógrafo de tinta, contendo textos e ilustrações em preto e branco. Com
notícias datilografadas e desenhos do próprio autor, a publicação teve o total de
12 números, sempre com foco em curiosidades dos personagens de gibis,
editoras da época e publicações afins.
Rontani era colecionador de gibis desde a infância, o que lhe motivou a guardar
dados históricos das publicações para compartilhar com outros fãs do gênero.
Com tiragem de 600 cópias, os exemplares eram distribuídos pelo correio e
tinham entre seus leitores nomes como Maurício de Souza, José Mojica Marins
(Zé do Caixão), Gedeone Malgola, Adolfo Aizen (dono e editor da Ebal), Jô Soares
e outros artistas ligados ao mundo dos quadrinhos.
Em 1971 o autor lançou uma nova versão de seu zine, sob o nome Fanzine
Ficção. Três anos mais tarde lançou o Universo H.Q., e em 1982 publicou seu
último título, chamado Rontani Fanzine. Rontani foi desenhista e professor no
Instituto Orbis, em Piracicaba. Se aposentou como desenhista técnico da
Secretaria Estadual de Agricultura e faleceu em 1997.
The Comet (zine)
(1930)
Foto: Reprodução
Até final de 2019 esses serviços
eram de responsabilidade da
Fundação Biblioteca Nacional
(FBN), e eram extremamente
burocráticos e caros. A partir de
março de 2020 a Câmara
Brasileira do Livro (CBL)
centralizou essas demandas, e o
processo ficou muitíssimo mais
acessível.
Tá, um assunto chato: se
organizar. Uma hora ou outra
você vai precisar de um mínimo
de organização, como falei. A
primeira coisa que me perguntam
é sobre registro de editora e
ISBN. Sendo sincero, nem uma
coisa e nem outra são
obrigatórias, mas se você pensar
em colocar seus lindos impressos
em uma livraria, amigue, você vai
ter que fazer. Isso porque essas
lojas utilizam o registro específico
de um livro para facilitar o
trabalho de pesquisa/estoque,
etc.
A partir disso todos os serviços
estarão disponíveis por preços bem
acessíveis: ISBN, ficha catalográfica,
registro de obra... vale dar uma
olhada no site para entender como
tudo funciona e todos os tipos de
trabalho que podem ser registrados.
SOBRE A CBL
Para se cadastrar, você pode fazer
registro de pessoa física (usando seu
CPF), ou pessoa jurídica (CNPJ).
Nesse último caso, vale o registro de
microempreendedor individual (MEI).
O custo de registro é zero. A diferença
entre registro de pessoa física é que
nesse você não pode usar o termo
editora, apenas o seu nome, e no
jurídico sim.
>> ORGANIZAÇÃO
Outra coisa importante é
organizar o fluxo de suas
publicações.
Eu tenho uma enorme tabela em
que especifico o título de um livro,
sua data de lançamento, se já
teve reimpressão, quais os canais
onde foram vendidos, as
quantidades, se algum exemplar
foi doado, etc, e no final de tudo
isso eu consigo cruzar diversos
campos e obter estatísticas
importantes do meu trabalho.
O mercado editorial
independente ainda é muito
desconhecido e de difícil
mensuração justamente pela
sua característica de ser
informal. Por isso, reúna sempre
que possível estatísticas do seu
trabalho, um dia elas poderão ser
úteis para alguma pesquisa.
Um grupo formado por editores e pesquisadores iniciou,
em 2015, um mapeamento que teve como objetivo
fornecer uma luz sobre quem está movimentando o
cenário, no Brasil e em alguns países da América Latina. O
Projeto Publicadores, idealizado pela Tenda de Livros
com participação de Edições Aurora, Zerocentos
Publicações e uma grande quantidade de profissionais
ligados às áreas afins, com apoio da Feira Tijuana e da
Oficina Cultural Oswald de Andrade, teve o primeiro
encontro realizado no dia 2 de setembro daquele ano, um
dia antes da Feira Tijuana, em São Paulo.
Anteriormente à esse ciclo de conversas, foi elaborado um
questionário em português e espanhol para quem quisesse
contribuir. Ao todo, durante os dois meses em que o
documento ficou disponível na internet, foram 310
respostas, e os resultados foram debatidos e utilizados
como ferramenta para, futuramente, traçar estratégias de
circulação e, acima de tudo, compreender melhor um
segmento que se fortaleceu na última década.
Esse estudo (e a publicação resultante dele) podem
ser conferido e baixado gratuitamente no endereço
https://projetopublicadores.wordpress.com/.
Com as finanças não tem muito
mistério (acho). Faça tabelas para
contabilizar tudo o que você
gastou e o que você está
recebendo, inclusive para medir
se a sua precificação está correta,
se você não está cobrando muito
abaixo do que deveria, por
exemplo.
Primeiramente, contabilizae tudo
o que foi gasto para realizar cada
cópia de uma publicação, como
impressão, papel, cola, linha,
ferramentas específicas e demais
insumos necessários. Vamos
somar aqui os custos fixos e
variáveis (que incluem energia
elétrica, internet, água, aluguel de
espaço, e demais custos que
você possa ter).
Ainda que você trabalhe sozinho,
alguns especialistas indicam que
você defina lucro e salário. Lucro
é a margem que permitirá
reinvestir no trabalho, e salário
é o que você vai ganhar dentro
desse cálculo, independente de
você ser seu próprio “patrão”.
Definir uma margem de lucro:
percentual calculado sobre o valor
de tudo o que custou para que
determinado produto seja feito.
Normalmente usam 20% ou 30%.
Aliás, essa é outra
pergunta muito
recorrente: como
precificar o meu
trabalho artístico?
?
?
?
Na verdade esse
cálculo não é tão
simples no caso de um
produto artesanal,
quanto de um produto
industrializado,
porque, muitas vezes,
a mão-de-obra e o
tempo gasto na
manufatura de cada
peça pode ser mais
representativo do que
o valor investido nela.
Vamos usar um exemplo para o
esquema do salário. Digamos que
você defina um valor de 800 reais
(pode ser pra mais ou pra menos,
afinal, no ramo independente tudo
pode acontecer). Divida o salário
pelo número de horas que você
vai trabalhar no mês (vamos
supor que você defina 40h
semanais, que serão 160h/mês.
Então, o valor de sua hora de
trabalho será de R$ 5,00.
É um valor que pode ser
considerado na hora de precificar,
lembrando que nem todo mundo
tem os mesmos processos e,
algumas vezes, você poderá
achar que sua hora de trabalho
vale mais do que um simples
cálculo matemático.
Mas e os custos fixos e variáveis,
como determiná-los na hora de
fazer o preço??????
Temos abaixo duas tabelas que
podem te ajudar, lembrando que
os valores são exemplos e você
colocará os seus custos nela.
Ainda estamos usando o cálculo
acima, então o número de horas
mensais de trabalho é o valor
160.
Fonte:
Blog
Edu
K.
AINDA SOBRE AS TABELAS: Faça diferentes arquivos
para controlar o que você gasta e o que você ganha.
Em uma, discrimine tudo o que você gastar com
materiais e outros fornecedores. Na outra, insira o que
você recebe, especialmente em valor bruto, para depois
cruzar com a tabela de gastos, e ainda, descontar
eventuais gastos com taxas de operadora de cobrança.
Com isso você vai ter o seu lucro final (sou de humanas,
se estiver errado me avise sem medo kkkrying).
É importante, por exemplo, discriminar quanto
você gastou em um pacote de folhas
e dividir esse valor por cada unidade, pois
isso vai facilitar no processo de precificação
que a gente já viu. Faça isso com todos os materiais
que apresentarem mais de uma unidade dentro de
um pacote.
Além das feiras e pontos de
venda, vetores fundamentais para
que o meio pudesse se fortalecer,
temos canais digitais que podem
(e devem) operar como meio de
distribuição, ainda mais em época
de pandemia com (quase) tudo o
que é presencial em stand by por
tempo indeterminado.
Um não sabia do outro; o leitor
não sabia onde estavam os
criadores e o artista não sabia
como chegar até as pessoas, nem
ao menos se teriam demanda.
Então esses eventos tornaram
tudo mais democrático, acessível
e criaram espaços de diálogo.
Além disso, surgiram, em
paralelo, diversos espaços pelo
Brasil com foco em produção
independente e livros de artista.
Nesses lugares tão democráticos
quanto as feiras, foi possível
atingir uma outra parcela de
público consumidor e fortalecer
importantes parcerias de trabalho.
Temos então a Banca Tatuí e Sala
Tatuí (SP), Lovely House (SP),
Polvilho (BH), O Jardim (Goiânia),
Banca Curva (SP), apenas para
citar alguns exemplos.
Saber se comunicar é importante
para todo mundo, independente
da área em que atua. No nosso
caso, fazer com que as pessoas
conheçam nossas ideias, nossos
projetos e publicações é um
trabalho em dobro, mas tivemos
um enorme empurrão quando as
feiras gráficas surgiram há cerca
de 10 anos e aproximaram as
duas pontas: o consumidor de
cultura independente e o produtor
desse tipo de trabalho.
>> DIVULGAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Facebook responde por um
número pequeno de interação,
mas faça, pois se você quiser
marcar produtos em posts no
Instagram vai precisar primeiro
cadastrar eles em uma conta de
negócios no Facebook (aliás,
esse assunto eu não vou explicar
aqui porque é um perrengue tão
grande que só de me lembrar
passo raiva haha). Mas fica a dica
e vale a pena ler uns tutoriais por
aí para entender como funciona.
Afinal, cada vez mais o Instagram
caminha para ser uma plataforma
de negócios.
Além disso temos as lojas online,
que hoje contam com uma
infinidade de plataformas de
hospedagem e planos de
assinatura acessíveis. É
interessante fazer para oferecer
mais transparência, organização
e confiança para quem vai
comprar um produto seu, embora
algumas instituições financeiras
forneçam serviços de cobrança
por meio de links, e esses por sua
vez dispõem de opções como
boleto, cartão de crédito, etc, para
o seu cliente.
Temos, então, as redes sociais,
que são canais fundamentais
para conversar com o seu público
(invista tempo em uma conta de
Instagram, especialmente. É lá
que existe o maior alcance
orgânico). Pense em posts
atrativos, boas fotografias,
legendas e hashtags adequadas.
Além disso, stories também
funcionam muito bem como
reforço de alcance. E pense
também nas ferramentas mais
recentes, como reels (vídeos
curtos de até 30s), que realmente
tem MUITO alcance, e também as
guias de conteúdo.
Há quem pense em se comunicar
por meio de veículos de imprensa
tradicionais, como rádios, TVs e
jornais impressos. Não está
errado, mas antes de investir
nisso pense se o seu trabalho
terá capacidade de atender uma
futura demanda grande. Eu, que
faço trabalho artesanal e tiragem
reduzida, vivo no meu limite de
produção, então uma divulgação
mais massiva não é recomendado
para mim.
Peça auxílio para alguém, um
amigo, caso você não queira e
não possa contratar um jornalista
para escrever esse texto: revise
bem antes de mandar, e não
esqueça de anexar no email uma
fotografia em alta resolução de
sua publicação (mencionando os
créditos). E caso for fazer contato
com algum por telefone, não
esqueça de ser gentil :D Essas
são dicas importantes para uma
boa e eficaz comunicação com a
imprensa.
Mas se mesmo assim você
quiser, organize uma pequena
listinha com contatos de
jornalistas da área de cultura da
sua cidade (ou de onde você quer
se tornar conhecido), o
famigerado mailing. Incluindo
também sites e portais, e faça
uma apresentação bem redigida
do seu trabalho/lançamento. É um
texto conhecido como relise, que
contém o serviço completo, capaz
de responder as perguntas: o
que, quando, onde, como e por
quê. Explique com detalhes o seu
projeto, onde ele estará
disponível, como foi concebido,
quanto custa, etc. Você precisará
cativar primeiro o jornalista, e só
então ele vai decidir ou não
divulgar sua sugestão de pauta.
11 Real
(2017)
Foto: Reprodução
Teve Cococopa
(2016)
Foto: Reprodução
Vendo Luzes/Meteoro Edições, por
Charlene Cabral
A primeira obra foi
desenvolvida em 2015, mas
antes disso concebeu outros
suportes gráficos que
serviriam como base para o
seu trabalho. Criou o selo
Vendo Luzes, o qual cedeu
espaço para o atual Meteoro
Edições, a partir de 2018.
Com isso, já vinha
participando de feiras gráficas
e sabia que em algum
momento eu acabaria fazendo
uma publicação, nem que
fosse para juntar alguma série
fotográfica que estivesse
engavetada por alguma razão
(naquela época eu ainda
usava a fotografia como
principal linguagem).”
“Eu já vinha fazendo cadernos
há cerca de um ano, e eles se
caracterizavam por serem
diferentes uns dos outros,
irrepetíveis, meio que um livro
de artista com as páginas em
branco que eu vendia,
presenteava ou fazia por
encomenda.
@meteoroedicoes
Charlene Cabral, natural do
Rio Grande do Sul e hoje
residente em São Paulo,
participou de diversas
iniciativas independentes e
produziu autopublicação na
cidade de Porto Alegre.
>> PROJETOS INDEPENDENTES
De todas formas, é ainda possível
conseguir investimentos de outras
fontes e seguir sendo
independente, mesmo que talvez
mais atrelada a formatos
convencionais de publicações.”
A parte mais complicada de ser
totalmente independente é o
baixo orçamento para
investimento nos trabalhos.
Como isso vem do meu bolso
ou, na melhor das hipóteses,
dos artistas que publico, há
publicações mais dispendiosas
que chego a ter como projeto,
mas que não consigo levar a
cabo, pois fico mais restrita a
fazer tudo meio caseiro, barato
e com baixas tiragens.
Sobre processos criativos: “Nasce
do conteúdo, sempre. Primeiro há
a ideia (uma coleção de imagens,
a vontade de falar sobre
determinado assunto, algum
material textual, etc) e daí, a partir
Trabalhar de forma independente:
“É maravilhoso! Eu tenho uma
certa dificuldade de fazer as
coisas de um jeito que não seja
estritamente o meu, de ter que
dar satisfações sobre o que faço,
porque ou como. Então, trabalhar
de forma independente é estar
livre de tudo isso, eu mesma
pago, faço como quero e no
tempo que preciso. Claro que às
vezes sou uma má gerente de
mim mesma e acabo atrasando
coisas ou fazendo tudo mais
corrido do que gostaria, mas vou
aprendendo a me organizar
melhor.
Eram, em sua maioria, imagens
de minhas viagens por alguns
lugares da Espanha. Acabei
fazendo o boneco da forma mais
tosca e (hoje eu sei) difícil
possível, primeiro colando com
fita as fotografias impressas em
diferentes tamanhos em folhas A4
dobradas para conseguir
visualizar medidas reais e depois
diagramar isso no Photoshop e,
finalmente, fechar os arquivos em
PDFs já levando em conta a
imposição (manual) das páginas.
Imprimia um lado da folha, depois
o outro, em uma ordem que
requeria atenção o tempo todo
para não errar, depois finalizava
os detalhes em casa, capa,
costura e refile. Deu um trabalho
imenso, mas ficou bem para uma
primeira tentativa. Chamei esse
foto-zine de LEVE.”
O primeiro experimento, segundo
Charlene, foi completamente
manual. “Nessa época, fui
convidada a participar de uma
exposição coletiva que uns
amigos do Instituto de Artes (da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul) estavam
organizando e resolvi que era um
bom momento de imprimir um
livrinho para expor junto com uma
série fotográfica. Era, na verdade,
um compilado de imagens de
muitos verões que tinham entre si
apenas um elo de afeto em
comum. disso, começo a pensar na forma
que a publicação deve ter para
que esse conteúdo se expresse
da forma mais acertada possível.
Então entra a paixão por alguns
materiais, pois sempre tenho
alguns 'na fila', só esperando pelo
conteúdo ideal para serem
experimentados. Faço provas,
imprimo bonecos, testo a
viabilidade das escolhas e,
sobretudo, vejo formas para que
caiba no orçamento e para que a
montagem não seja pesada
demais para mim, já que costumo
incluir processos manuais na
realização dos trabalhos. No fim
de tudo, imprimo uma tiragem em
consonância com o que o
orçamento e minha disposição
permitem e levo para as feiras. Lá
percebo se o trabalho comunica
ou não e, daí, dependendo, volto
a editar a publicação para que ela
se ajuste ao que eu pretendia
comunicar. Às vezes esse ajuste
pode vir até um ano depois do
lançamento, pois minha
percepção do trabalho pode ser
gradativa. Esse é o bom de fazer
tiragem sob demanda, você pode
se arrepender de certas coisas e
é só imprimir de novo o material
com as mudanças necessárias.”
A percepção do mercado
independente: “Acho que o
mercado é tão bom quanto um
mercado independente pode ser,
ou seja, o mais provável é que
ninguém fique muito rico ou
famoso ou o que seja com isso,
mas não importa, já que esses
não são os objetivos. Pra mim,
um mercado independente deve
ser um espaço de ética de
consumo, de trabalho com amor,
de parceria e trocas entre as
pessoas, e minha experiência
dentro do mercado editorial
independente tem sido
geralmente essa, então eu me
sinto feliz de fazer parte dele e de
não esperar mais do que suas
características permitem.”
Fuch the police
(2018)
Foto: Reprodução
“Cada projeto exige um processo
diferente, depende do que chega
primeiro, se é o texto ou a
ilustração, e há uma preocupação
nos detalhes, do formato ao tipo
de papel”.
@fasso_zine
Fasso Zine, por Wagner Mello
Mello destaca as particularidades
de trabalhar de forma
independente com publicação. “É
uma dor e uma delícia. Gosto de
estar diante de todos os
processos, da execução à venda,
mas isso exige uma organização
tremenda, criatividade e doses
grandes de paciência e muito jogo
de cintura.”
O selo Fasso Zine, no entanto,
surgiu em 2017. Como o nome
diz, o foco de trabalho é a
produção de zines. “Essa mídia
permite ampla liberdade de uso e
tem uma circulação mais rápida.
Cada impressão é seriada e com
tiragem baixa. Foram publicados
textos literários (conto e poesia), e
ainda narrativas e outras
experimentações gráficas”. Nesse
meio de experimentação, cada um
possui diferentes formas de
trabalhar, conforme explica.
Wagner Melo reside em Porto
Alegre, cidade que já presenciou
uma série de produções
impressas por meio da
autopublicação, seja em projetos
solo ou em colaboração com
outros artistas. Este trabalho,
segundo ele, começou em 2013.
“A primeira publicação que fiz foi o
catálogo de um projeto de
ilustração infantil chamado 'diário
de um guri canhoto'. De lá pra cá
foram diversos, fui
experimentando formatos e
narrativas. Trabalho sozinho nos
projetos particulares, assumindo a
escrita, passando pela ilustração e
projeto gráfico, e já trabalhei em
parceria, ilustrando textos de
amigos, e mais recentemente
escrevi a partir de uma série de
fotos para a Mitti Mendonça.”
Homem peixe
(2018)
Foto: Reprodução
Livro de notas pretas
(em parceria com Mitti Mendonça)
(2019)
Foto: Reprodução
Para chegar aos resultados finais, o
autopublicador faz uso de diferentes
recursos, desde as gráficas até
impressoras caseiras, serigrafia e
estêncil, ou, em alguns casos,
desenhos feitos à mão, constituindo
uma obra única. “De certa forma os
processos são sempre artesanais,
seja pela impressão ou
encadernação”, ressalta.
Os itens produzidos são comercia-
lizados, na maioria das vezes, em
feiras gráficas ou por meio de redes
sociais. Sobre o mercado indepen-
dente, ele percebe que “o mercado
está em expansão. O crescente das
feiras gráficas facilitou os caminhos
de distribuição, e a criação de
espaços físicos para a comer-
cialização, como as bancas Tatuí e
Curva, entre outras. É a prova
desse crescimento. A produção no
país é plural e riquíssima”. Ele
complementa, falando sobre se
autopublicar: “Para mim a principal
vantagem é a liberdade total de
escolha em todas as partes do
processo”.
Gana Press, por Marcos Coelho
@_mrczz
Colagista e designer gráfico
residente em Porto Alegre, Marcos
Coelho já passou por diversos
experimentos com publicação. Um
deles foi a Gana Press, editora
criada em parceria com o artista
Bruno Moncada. “Eu trabalho com
publicação há quatro anos, desde
2016. O primeiro título foi uma
parceria com o Bruno. No
processo de fazer esse zine de
colagens e música juntos, cada
um de nós produziu mais dois, e
com esses cinco zines decidimos
criar o selo Gana Press pra nos
autopublicarmos, e também com a
ideia de criar projetos gráficos
para zines de outras pessoas e
viabilizar esses trabalhos”, conta.
Marcos observa, então, que o
projeto sempre previu a
viabilização do trabalho de outras
pessoas, não apenas a
autopublicação. “Sempre apreciei
a ideia de poder aconselhar e
editar trabalhos de artistas que
admiro, poder dar ideias e pensar
em projetos gráficos pra
enriquecer a apresentação desses
materiais. Também sempre curti a
ideia do coletivo, de juntar ideias e
poder evoluir junto”.
Segundo o artista, atuar de forma
independente tem pontos positivos
e negativos. “A parte boa é a
liberdade de ideias, a escolha dos
papéis, a diagramação, os temas,
mas nem sempre a receptividade
condiz com o esforço aplicado.
Mas isso é do jogo, eu gosto muito
da troca de ideia com o público,
sentir o que funciona ou não
conhecer outros artistas que
também trabalham dessa maneira,
etc”. A linha editorial empregada
nas criações são sempre os
trabalhos que privilegiam a
colagem como técnica principal,
seja manual ou digital. “Os temas
e suportes são variados, bem
como a encadernação, os papéis,
The leather runs smooth on
the passenger seat
(2016)
Foto: Reprodução
Com relação à distribuição e
comercialização, o publicador
aponta as feiras gráficas como
principal canal. “Principalmente as
feiras. Acredito que este meio está
sempre em expansão, ao mesmo
tempo que rola uma procura
menor e, se observarmos, um
enfraquecimento das
feiras/vendas ao longo de 2019,
por exemplo. Principalmente pelo
contexto atual do país, mas acho
que mesmo que tenha diminuído,
ainda está numa crescente,
porque essa opressão também faz
muita gente se inspirar em
produzir materiais de resistência.
Acho importante demais, pois
esse espaço aberto e acolhedor
propicia a produção. “
Nesse contexto, o processo
criativo das publicações segue um
ritmo próprio. “Da concepção da
ideia até a produção é um
processo bem vivo, cada etapa
influencia o resto, a escolha dos
papéis e cores, o processo de
desenvolver o texto, o conceito, e
depois a implementação e os
testes. As coisas vão indo e
voltando até o resultado final”,
revela. Para viabilizar suas ideias,
ou seja, chegar até a concepção
física de uma publicação, Marcos
utiliza diferentes meios e suportes.
“Depende do projeto em si, mas já
fiz coisas com xerox, impressão
digital e risografia. Acho que os
tipos de encadernação também
são uma forma de expressão
dentro do conceito do trabalho.
Grampo, dobra, encadernação
manual, encadernação japonesa,
assim como os papéis dizem
muito; papel poliester, pólen,
couché, sulfite, sempre depende
do projeto, mas acho legal
misturar”.
e os tipos de impressão, que
variam conforme a obra. Todas
tangenciam assuntos que eu
gosto, música, existencialismo,
coisas do cotidiano. Quase
sempre são zines curtos, de 8 ou
12 páginas”.
In the aeroplane over the sea
(2016)
Foto: Reprodução
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Oficina FU - www.oficinafu.com.br
>> CONTATOS ÚTEIS
ARMSTRONG, Helen (org.). Teoria do design gráfico. São Paulo: Ubu Editora,
2019.
ASSUMPÇÃO, Douglas Junio Fernandes; PINA, Eduardo Menezes; JUNIOR,
José Calasanz Piedade de Souza. Fanzine como mídia alternativa: uma aná-
lise do cenário belemense. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/88234/91112>. Acesso em: 1
dez. 2018.
BARRIOS, Vicente Martínez. A materialidade nos livros de artista de Ulises
Carrión. Revista estúdio, Artistas sobre outras obras. Volume 3. Belo Horizonte:
2012.
COSTA, Ellen Suely Dantas da; ALBUQUERQUE, Maria Elizabeth B. C. de. Au-
tores independentes: livros que queremos publicar. Disponível em:
<http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/biblio/article/view/592/430>. Acesso
em: 1 dez 2018.
CARRIÓN, Ulises. A nova arte de fazer livros. Editora C/Arte. Belo Horizonte:
2011.
>> INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
EMILY, Dulce. Bibliodiversidade: editoras independentes tentam romper
cerco do mercado editorial. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2018/09/23/bibliodiversidade-editoras-
independentes-tentam-romper-cerco-do-mercado-editorial/>. Acesso em: 1 dez.
2018.
FONSECA, Joaquim da. Tipografia e design gráfico: design e produção
gráfica de impressos e livros. Porto Alegre: Bookman, 2008.
MUNARI, Bruno. Fantasia. Lisboa: Edições 70, 1997.
BRESSANE, Ronaldo. Editoras independentes sobrevivem à crise no
mercado editorial. Disponível em
<https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,editoras-independentes-sobrevivem-
a-crise-no-mercado-editorial,70001693530>. Acesso em: 1 dez. 2018.
DADICH, Scoth. Absract: the art of design. 2017. Disponível em <netflix.com>
Entre, à maneira de, junto a publicadores. Projeto Publicadores. São Paulo:
Tenda de Livros, Edições Aurora e Zerocentos Publicações. 2016.
DOMINGUES, Diana (org.). Arte e vida no século XXI; Tecnologia, ciência e
criatividade. São Paulo: Editora Unesp, 2003.
DUAILIBI, Roberto; SIMONSEN JR., Harry. Criatividade & marketing. São
Paulo: Makron Books, 2000.
Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/>.
Acesso em: 1 dez. 2018.
MUNIZ JR., José de Souza. O grito dos pequenos: independência editorial e
bibliodiversidade no Brasil e Argentina. Disponível em:
<http://www.balaoeditorial.com.br/downloadable/download/sample/sample_id/6/
>. Acesso em: 1 dez. 2018.
PIVA, Amanda; PRÓSPERO, Flora; ROCHA, Gabriela. Mercado editorial
independente. Disponível em:
<https://issuu.com/floraprospero/docs/macro_apresenta__o>. Acesso em: 1
dez. 2018.
RIVERS, Charlotte. Como fazer seus próprios livros: novas ideias e
técnicas tradicionais para a criação artesanal de livros. São Paulo: Gustavo
GilI, 2016.
ROZA, Ana. Wattpad arrecada R$51 milhões em avaliação e chama a
atenção do mercado de entretenimento. Disponível em:
<https://www.b9.com.br/85130/wattpad-arrecada-51-milhoes-em-avaliacao-e-
chama-a-atencao-do-mercado-de-entretenimento/>. Acesso em: 15 jan. 2019.
TATO, Coutinho. Qual é o futuro do mercado de livros no Brasil? Disponível
em: <https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2017/12/qual-e-o-futuro-do-
mercado-de-livros-no-brasil.html>. Acesso em: 1 dez. 2018.
WICKERT, Frederico. Consignação: problema ou solução? Disponível em:
<https://www.publishnews.com.br/materias/2016/05/05/consignao-problema-ou-
soluo>. Acesso em: 1 dez. 2018.
Retratos da leitura no Brasil. 4a edição. Disponível em:
<http://prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Br
asil_-_2015.pdf>. Acesso em: 1 dez. 2018.
TABORDA, Raul. Processo criativo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TeNjbaFTzaE>. Acesso em: 15 jan. 2019.
TINTI, Simone. Quais são e como se destacam as novas editoras de livros
no país. Disponível em: <https://projetodraft.com/quais-sao-e-como-se-
destacam-as-novas-editoras-no-mercado-de-livros-brasileiro/>. Acesso em: 1
dez. 2018.
SNO, Márcio. O universo paralelo dos zines. São Paulo: Timozine, 2015.
fb.com/experimentosimpressos
instagram: @experimentosimpressos
experimentosimpressos@gmail.com
loja: www.experimentosimpressos.com.br
autopublicação
publicação gratuita
Texto e projeto gráfico: Ricardo Rodrigues
Canoas, dezembro de 2020

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  • 2. >> Enfim, a autopublicação >> Indicações bibliográficas >> Apresentação >> Experimentos Impressos >> O mercado independente >> Certo, e como eu me vejo? >> Projetos Independentes >> Contatos úteis >> Organização >> Distribuição e divulgação Entrevista com Charlene Cabral, Wagner Mello e Marcos Coelho >> CONTEÚDO
  • 3. Mas dar nome aos bois nem sempre é fácil quando não conhecemos determinado segmento/atividade. Hoje, prestes a completar cinco anos de atividade frente ao projeto Experimentos Impressos, ainda me pego pensando muito no que significa (e o que implica) publicar de forma independente e experimental. As coisas que aprendi, as que ainda desconheço, os processos que levaram quase esse mesmo tempo para entender, o significado de praticar uma atividade “de risco” em um momento tão delicado para o mercado editorial como um todo, entre outras coisas. Afinal, quem sou eu nesse meio e no que o meu trabalho impacta? Nessa publicação gratuita, eu reviso alguns conceitos presentes no livro AUTOPUBLICAÇÃO (2019) de forma resumida, e não apenas isso, convido você, que quer entrar nesse universo com os seus projetos, a refletir comigo uma série de significados e possibilidades. Afinal, num meio que se faz, teoricamente, sozinho, a coletividade também exerce um papel fundamental. Especialmente na troca de ideias e experiências, e na necessidade de tornar a publicação independente cada vez mais uma realidade. Quem diria que eu, lá por volta dos meus 21 anos de idade, cursando a faculdade de comunicação e experimentando publicações impressas e digitais, já era um autopublicador? Pois é, eu não tinha a menor ideia. Embora os termos autopublicação e publicação independente sejam relativamente novos, a prática existe há muito tempo. Às vezes só nos falta dar “nome aos bois”. >> APRESENTAÇÃO
  • 4. Anos mais tarde, já na faculdade, eu fazia pequenas publicações impressas e ilustradas (hoje eu poderia chamá-las de zines, e as ilustrações de colagem digital, ambas classificações que eu desconhecia). Eu editava, também, uma revista online e mandava para uma lista de email (nunca ninguém pediu pra receber, mas também não pediu para parar de vê-la), e todo o projeto era meu: textos, capas, ilustrações, projeto gráfico... uma única vez um amigo colaborou com uma nota sobre música. E O projeto Experimentos Impressos nasceu sem muito planejamento, oficialmente, em março de 2016. A única referência que eu tinha eram as feiras gráficas, novidade na época, e pensei que poderiam ser uma forma interessante de materializar no papel os textos que eu já olhava com certo ranço na tela do computador, hospedados em blogs e redes sociais. Voltando uns (bons) anos, talvez eu tenha me autopublicado pela primeira vez aos 12 anos, quando comecei a escrever histórias em cadernos universitários, criando capas para eles e fazendo minhas irmãs e amigos lerem (risos). De verdade estou rindo aqui lembrando das histórias, e apesar de ter guardado cada uma delas até pouquíssimo tempo, me desfiz de praticamente todas (me arrependo). Foi o início de uma prática que iria longe. Mariposas Mortas Zine (2001) >> EXPERIMENTOS IMPRESSOS
  • 5. teve outra que eu criei uma personagem para não parecer tão solitário nesse processo. Bobagem, meu destino era ser autopublicador mesmo (rindo de nervoso). Estou contando tudo isso porque esses caminhos todos me levariam até 2015, quando postei uma série de textos no meu perfil do Facebook. Alguns amigos reagiram tão bem que eu imprimi aquela pequenas histórias e dei de presente para eles. Foi o embrião do que hoje é o meu trabalho, e ajudaria a oficializar a editora em março do ano seguinte. Eu não sabia muito bem o que ia fazer, onde ia chegar, nada disso. Só sabia que queria produzir livros em pequena escala com acabamento artesanal. E o projeto cresceu, a ponto de se tornar trabalho. Repensei tantas coisas, conheci tantas pessoas, e entendi o meu espaço. Revista coito Cerebral Publicação digital (2007-2009) Publicar de forma independente é saber que existem grupos específicos com interesses particulares, interessados em consumir um conteúdo que não tem lugar nas grandes vitrines. É entender que todo tipo de trabalho pode ter espaço, e essa pluralidade é um refresco servido em copo gigante num mercado tradicionalmente regido pelos números altos e pelo sucesso absoluto.
  • 6. Se o tempo passou e as novas tecnologias permitiram novos suportes e até mesmo extinguiram alguns, com o livro impresso isso não aconteceu. De uma forma ou outra todo mundo conhece o mercado editorial tradicional, pelo lado bom e ruim (vide a crise que estourou nos últimos dois anos). Sabe-se, também, que até um tempo atrás, coisa de 20 anos, a figura de um editor centralizava com rigor quem iria entrar ou não nesse tipo de Olimpo que era o ofício de ser um escritor. Passar meses ou anos escrevendo um manuscrito, enviá-lo pelo correio e esperar um retorno, positivo ou não, já foi a rotina de muita gente. Feliz de quem se fez notar nessa engrenagem tão dura, não é? Mas um fato curioso transformou para sempre o mercado editorial. A internet se tornaria um vetor importante de publicação de ideias, e possibilitaria, em maior escala, que as pessoas se publicassem pela primeira vez na vida, sem esperar o intermédio de alguma figura importante de um grande grupo editorial. >> O MERCADO INDEPENDENTE
  • 7. >> enfim, a autopublicação No meio disso tudo surgiram (ou ressurgiram, ou, ainda, se evidenciaram, melhor dizendo) os publicadores independentes experimentais. Quadrinistas, escritores, editores, capistas e toda uma gama de artistas Estamos falando aqui dos livros digitais, os e-books. Se por um lado a Amazon, gigante do varejo online, contribuiu para minar com a existência das livrarias de bairro e modificar não apenas os hábitos de consumo, como também a experiência de compra, por outro ofereceu um serviço que levou milhares de pessoas a publicarem seus livros. O Kinde Direct Publishing é um serviço que hospeda obras de diferentes segmentos na loja virtual, de forma gratuita, apenas com uma porcentagem sobre a venda. Outros serviços nos mesmos moldes seriam criados mais tarde, e foi um passo significativo nas mudanças que viriam. Outro fenômeno interessante foi o Whattpad, uma plataforma canadense que mistura rede social e espaço para publicação. Os usuários distribuem seus textos geralmente por capítulos e acompanham a reação dos leitores. Muita gente fez enorme sucesso neste espaço, a ponto de chamar a atenção de grandes editoras tradicionais. São apenas dois exemplos de todo um movimento que mexeu com o mercado nos anos 2000. Com o passar do tempo, o livro deixou de ser apenas um objeto de arte, com curadoria altamente selecionada por editores, e passou a ser, mais do que nunca, um negócio. Diversas editoras abriram espaço em seus catálogos para qualquer autor que quisesse publicar, desde que ele assumisse os custos. Também, alguns autores fizeram (e ainda fazem) suas obras ganharem vidas sem a chancela de uma editora, a partir de edições próprias. Se tornou cada vez mais “fácil” publicar um livro. Enquanto isso, as editoras maiores se voltam, mais e mais, para os projetos que têm chances alta de se converter em um bestseller. E isso não é errado, pois um negócio precisa continuar existindo. Se tiver demanda pra ele, tudo bem. preenchendo uma grande lacuna de produtos que, dificilmente, teriam espaço nas gôndolas de uma livraria de shopping. Temos aqui um trabalho que é sinônimo, também, de representatividade. Autores pretos, indígenas LGBTQIA+, feministas, enfim encontraram lugar para colocar pautas em debate. Atualmente, isso é mais do que urgente: é fundamental e obrigatório. “Ah mas não quero fazer publicação de cunho político, não vou militar”, ok alecrim dourado, só não esqueça que tudo envolve política, e mesmo que seu conteúdo seja um romance de banca (absolutamente nada contra eles, eu até lia os livros da coleção Júlia com minha mãe), o simples fato de publicar sozinho já te coloca numa força de resistência! Então temos o dever de, ao menos, prestigiar enquanto leitores. Primeiro pense em como você se vê: um artista que quer mostrar sua escrita/arte gráfica e apenas circular, ou alguém que quer capitalizar o que produz? As duas coisas podem andar juntas, óbvio, mas tem muita gente que trava quando precisa se organizar e até burocratizar o que produz, digamos assim, a partir do momento que ele passa a ser, também, um trabalho. Dessa forma, é necessário uma dose mínima de organização para que o trabalho possa fluir melhor. Quando comecei, queria muito trabalhar com livro artesanal e fazer tudo sozinho. Mas isso não é uma característica obrigatória para ser considerado um autopublicador. É apenas a forma que eu escolhi trabalhar. Eu realmente faço todas as etapas, mas você pode escolher escrever, chamar um artista gráfico para fazer seu projeto, pode até imprimir em larga escala se quiser, como já falei antes. O que caracteriza, de fato, é o seu conteúdo, o seu esforço em >> certo, e como eu vou me autopublicar?
  • 8. Se você quer começar, comece produzindo um zine. É, pela classificação do artista Marcio Sno, zineiro desde 1993 e pesquisador do tema, “um veículo de divulgação alternativo e independente, geralmente produzido em pequenas tiragens e distribuído para um público segmentado. Surge da necessidade de expressão de grupos específicos e tornaram-se campos férteis para experimentações gráficas e textuais graças à sua total e irrestrita liberdade” (O universo paralelo dos zines, 2015, p. 19). Os mais clássicos eram feitos de forma manual, utilizando textos e colagens/ilustrações, e copiados via xerox. Escolha um tema do seu interesse e pense em quem pode ser o seu público. Faça uma distribuição menor para sentir o “clima”, distribua para amigos (ou venda para eles haha), e veja o que pode ser ajustado. Não tenha medo de EXPERIMENTAR, pensa nas combinações de papel, no modo de unir as folhas, no recorte, no formato... não pense em “inventar a roda”, faça sempre um trabalho que faça sentido pra você, e depois busque alguém que também o compreenda. Eu, por tradição (acho chic), produzo aquilo que EU gosto, por dentro e por fora da publicação. Se eu colocar um possível consumidor em primeiro lugar, meu trabalho não será autêntico e eu não serei feliz o fazendo. produzir tendo que responder somente para uma pessoa: você mesmo. Hoje temos zines com os mais variados temas, tipos de impressão e formatos, mas é interessante começar do jeito mais tradicional para entender a dinâmica de uma publicação independente. Com o tempo você poderá pesquisar referências, testar formatos mais audaciosos, e até mesmo executar estruturas de livros mais complexos, quem sabe um livro de artista? (vou deixar algumas dicas de publicação sobre o assunto no final). Ficção #2 e #1 (zine) (1965) Foto: Reprodução Sob a denominação “boletim informativo”, o primeiro exemplar de FICÇÃO, editado em 1965 por Edson Rontani, em Piracicaba (SP) foi produzido com , mimeógrafo de tinta, contendo textos e ilustrações em preto e branco. Com notícias datilografadas e desenhos do próprio autor, a publicação teve o total de 12 números, sempre com foco em curiosidades dos personagens de gibis, editoras da época e publicações afins. Rontani era colecionador de gibis desde a infância, o que lhe motivou a guardar dados históricos das publicações para compartilhar com outros fãs do gênero. Com tiragem de 600 cópias, os exemplares eram distribuídos pelo correio e tinham entre seus leitores nomes como Maurício de Souza, José Mojica Marins (Zé do Caixão), Gedeone Malgola, Adolfo Aizen (dono e editor da Ebal), Jô Soares e outros artistas ligados ao mundo dos quadrinhos. Em 1971 o autor lançou uma nova versão de seu zine, sob o nome Fanzine Ficção. Três anos mais tarde lançou o Universo H.Q., e em 1982 publicou seu último título, chamado Rontani Fanzine. Rontani foi desenhista e professor no Instituto Orbis, em Piracicaba. Se aposentou como desenhista técnico da Secretaria Estadual de Agricultura e faleceu em 1997. The Comet (zine) (1930) Foto: Reprodução
  • 9. Até final de 2019 esses serviços eram de responsabilidade da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), e eram extremamente burocráticos e caros. A partir de março de 2020 a Câmara Brasileira do Livro (CBL) centralizou essas demandas, e o processo ficou muitíssimo mais acessível. Tá, um assunto chato: se organizar. Uma hora ou outra você vai precisar de um mínimo de organização, como falei. A primeira coisa que me perguntam é sobre registro de editora e ISBN. Sendo sincero, nem uma coisa e nem outra são obrigatórias, mas se você pensar em colocar seus lindos impressos em uma livraria, amigue, você vai ter que fazer. Isso porque essas lojas utilizam o registro específico de um livro para facilitar o trabalho de pesquisa/estoque, etc. A partir disso todos os serviços estarão disponíveis por preços bem acessíveis: ISBN, ficha catalográfica, registro de obra... vale dar uma olhada no site para entender como tudo funciona e todos os tipos de trabalho que podem ser registrados. SOBRE A CBL Para se cadastrar, você pode fazer registro de pessoa física (usando seu CPF), ou pessoa jurídica (CNPJ). Nesse último caso, vale o registro de microempreendedor individual (MEI). O custo de registro é zero. A diferença entre registro de pessoa física é que nesse você não pode usar o termo editora, apenas o seu nome, e no jurídico sim. >> ORGANIZAÇÃO
  • 10. Outra coisa importante é organizar o fluxo de suas publicações. Eu tenho uma enorme tabela em que especifico o título de um livro, sua data de lançamento, se já teve reimpressão, quais os canais onde foram vendidos, as quantidades, se algum exemplar foi doado, etc, e no final de tudo isso eu consigo cruzar diversos campos e obter estatísticas importantes do meu trabalho. O mercado editorial independente ainda é muito desconhecido e de difícil mensuração justamente pela sua característica de ser informal. Por isso, reúna sempre que possível estatísticas do seu trabalho, um dia elas poderão ser úteis para alguma pesquisa. Um grupo formado por editores e pesquisadores iniciou, em 2015, um mapeamento que teve como objetivo fornecer uma luz sobre quem está movimentando o cenário, no Brasil e em alguns países da América Latina. O Projeto Publicadores, idealizado pela Tenda de Livros com participação de Edições Aurora, Zerocentos Publicações e uma grande quantidade de profissionais ligados às áreas afins, com apoio da Feira Tijuana e da Oficina Cultural Oswald de Andrade, teve o primeiro encontro realizado no dia 2 de setembro daquele ano, um dia antes da Feira Tijuana, em São Paulo. Anteriormente à esse ciclo de conversas, foi elaborado um questionário em português e espanhol para quem quisesse contribuir. Ao todo, durante os dois meses em que o documento ficou disponível na internet, foram 310 respostas, e os resultados foram debatidos e utilizados como ferramenta para, futuramente, traçar estratégias de circulação e, acima de tudo, compreender melhor um segmento que se fortaleceu na última década. Esse estudo (e a publicação resultante dele) podem ser conferido e baixado gratuitamente no endereço https://projetopublicadores.wordpress.com/. Com as finanças não tem muito mistério (acho). Faça tabelas para contabilizar tudo o que você gastou e o que você está recebendo, inclusive para medir se a sua precificação está correta, se você não está cobrando muito abaixo do que deveria, por exemplo. Primeiramente, contabilizae tudo o que foi gasto para realizar cada cópia de uma publicação, como impressão, papel, cola, linha, ferramentas específicas e demais insumos necessários. Vamos somar aqui os custos fixos e variáveis (que incluem energia elétrica, internet, água, aluguel de espaço, e demais custos que você possa ter). Ainda que você trabalhe sozinho, alguns especialistas indicam que você defina lucro e salário. Lucro é a margem que permitirá reinvestir no trabalho, e salário é o que você vai ganhar dentro desse cálculo, independente de você ser seu próprio “patrão”. Definir uma margem de lucro: percentual calculado sobre o valor de tudo o que custou para que determinado produto seja feito. Normalmente usam 20% ou 30%. Aliás, essa é outra pergunta muito recorrente: como precificar o meu trabalho artístico? ? ? ? Na verdade esse cálculo não é tão simples no caso de um produto artesanal, quanto de um produto industrializado, porque, muitas vezes, a mão-de-obra e o tempo gasto na manufatura de cada peça pode ser mais representativo do que o valor investido nela.
  • 11. Vamos usar um exemplo para o esquema do salário. Digamos que você defina um valor de 800 reais (pode ser pra mais ou pra menos, afinal, no ramo independente tudo pode acontecer). Divida o salário pelo número de horas que você vai trabalhar no mês (vamos supor que você defina 40h semanais, que serão 160h/mês. Então, o valor de sua hora de trabalho será de R$ 5,00. É um valor que pode ser considerado na hora de precificar, lembrando que nem todo mundo tem os mesmos processos e, algumas vezes, você poderá achar que sua hora de trabalho vale mais do que um simples cálculo matemático. Mas e os custos fixos e variáveis, como determiná-los na hora de fazer o preço?????? Temos abaixo duas tabelas que podem te ajudar, lembrando que os valores são exemplos e você colocará os seus custos nela. Ainda estamos usando o cálculo acima, então o número de horas mensais de trabalho é o valor 160. Fonte: Blog Edu K. AINDA SOBRE AS TABELAS: Faça diferentes arquivos para controlar o que você gasta e o que você ganha. Em uma, discrimine tudo o que você gastar com materiais e outros fornecedores. Na outra, insira o que você recebe, especialmente em valor bruto, para depois cruzar com a tabela de gastos, e ainda, descontar eventuais gastos com taxas de operadora de cobrança. Com isso você vai ter o seu lucro final (sou de humanas, se estiver errado me avise sem medo kkkrying). É importante, por exemplo, discriminar quanto você gastou em um pacote de folhas e dividir esse valor por cada unidade, pois isso vai facilitar no processo de precificação que a gente já viu. Faça isso com todos os materiais que apresentarem mais de uma unidade dentro de um pacote.
  • 12. Além das feiras e pontos de venda, vetores fundamentais para que o meio pudesse se fortalecer, temos canais digitais que podem (e devem) operar como meio de distribuição, ainda mais em época de pandemia com (quase) tudo o que é presencial em stand by por tempo indeterminado. Um não sabia do outro; o leitor não sabia onde estavam os criadores e o artista não sabia como chegar até as pessoas, nem ao menos se teriam demanda. Então esses eventos tornaram tudo mais democrático, acessível e criaram espaços de diálogo. Além disso, surgiram, em paralelo, diversos espaços pelo Brasil com foco em produção independente e livros de artista. Nesses lugares tão democráticos quanto as feiras, foi possível atingir uma outra parcela de público consumidor e fortalecer importantes parcerias de trabalho. Temos então a Banca Tatuí e Sala Tatuí (SP), Lovely House (SP), Polvilho (BH), O Jardim (Goiânia), Banca Curva (SP), apenas para citar alguns exemplos. Saber se comunicar é importante para todo mundo, independente da área em que atua. No nosso caso, fazer com que as pessoas conheçam nossas ideias, nossos projetos e publicações é um trabalho em dobro, mas tivemos um enorme empurrão quando as feiras gráficas surgiram há cerca de 10 anos e aproximaram as duas pontas: o consumidor de cultura independente e o produtor desse tipo de trabalho. >> DIVULGAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
  • 13. Facebook responde por um número pequeno de interação, mas faça, pois se você quiser marcar produtos em posts no Instagram vai precisar primeiro cadastrar eles em uma conta de negócios no Facebook (aliás, esse assunto eu não vou explicar aqui porque é um perrengue tão grande que só de me lembrar passo raiva haha). Mas fica a dica e vale a pena ler uns tutoriais por aí para entender como funciona. Afinal, cada vez mais o Instagram caminha para ser uma plataforma de negócios. Além disso temos as lojas online, que hoje contam com uma infinidade de plataformas de hospedagem e planos de assinatura acessíveis. É interessante fazer para oferecer mais transparência, organização e confiança para quem vai comprar um produto seu, embora algumas instituições financeiras forneçam serviços de cobrança por meio de links, e esses por sua vez dispõem de opções como boleto, cartão de crédito, etc, para o seu cliente. Temos, então, as redes sociais, que são canais fundamentais para conversar com o seu público (invista tempo em uma conta de Instagram, especialmente. É lá que existe o maior alcance orgânico). Pense em posts atrativos, boas fotografias, legendas e hashtags adequadas. Além disso, stories também funcionam muito bem como reforço de alcance. E pense também nas ferramentas mais recentes, como reels (vídeos curtos de até 30s), que realmente tem MUITO alcance, e também as guias de conteúdo. Há quem pense em se comunicar por meio de veículos de imprensa tradicionais, como rádios, TVs e jornais impressos. Não está errado, mas antes de investir nisso pense se o seu trabalho terá capacidade de atender uma futura demanda grande. Eu, que faço trabalho artesanal e tiragem reduzida, vivo no meu limite de produção, então uma divulgação mais massiva não é recomendado para mim. Peça auxílio para alguém, um amigo, caso você não queira e não possa contratar um jornalista para escrever esse texto: revise bem antes de mandar, e não esqueça de anexar no email uma fotografia em alta resolução de sua publicação (mencionando os créditos). E caso for fazer contato com algum por telefone, não esqueça de ser gentil :D Essas são dicas importantes para uma boa e eficaz comunicação com a imprensa. Mas se mesmo assim você quiser, organize uma pequena listinha com contatos de jornalistas da área de cultura da sua cidade (ou de onde você quer se tornar conhecido), o famigerado mailing. Incluindo também sites e portais, e faça uma apresentação bem redigida do seu trabalho/lançamento. É um texto conhecido como relise, que contém o serviço completo, capaz de responder as perguntas: o que, quando, onde, como e por quê. Explique com detalhes o seu projeto, onde ele estará disponível, como foi concebido, quanto custa, etc. Você precisará cativar primeiro o jornalista, e só então ele vai decidir ou não divulgar sua sugestão de pauta.
  • 14. 11 Real (2017) Foto: Reprodução Teve Cococopa (2016) Foto: Reprodução Vendo Luzes/Meteoro Edições, por Charlene Cabral A primeira obra foi desenvolvida em 2015, mas antes disso concebeu outros suportes gráficos que serviriam como base para o seu trabalho. Criou o selo Vendo Luzes, o qual cedeu espaço para o atual Meteoro Edições, a partir de 2018. Com isso, já vinha participando de feiras gráficas e sabia que em algum momento eu acabaria fazendo uma publicação, nem que fosse para juntar alguma série fotográfica que estivesse engavetada por alguma razão (naquela época eu ainda usava a fotografia como principal linguagem).” “Eu já vinha fazendo cadernos há cerca de um ano, e eles se caracterizavam por serem diferentes uns dos outros, irrepetíveis, meio que um livro de artista com as páginas em branco que eu vendia, presenteava ou fazia por encomenda. @meteoroedicoes Charlene Cabral, natural do Rio Grande do Sul e hoje residente em São Paulo, participou de diversas iniciativas independentes e produziu autopublicação na cidade de Porto Alegre. >> PROJETOS INDEPENDENTES
  • 15. De todas formas, é ainda possível conseguir investimentos de outras fontes e seguir sendo independente, mesmo que talvez mais atrelada a formatos convencionais de publicações.” A parte mais complicada de ser totalmente independente é o baixo orçamento para investimento nos trabalhos. Como isso vem do meu bolso ou, na melhor das hipóteses, dos artistas que publico, há publicações mais dispendiosas que chego a ter como projeto, mas que não consigo levar a cabo, pois fico mais restrita a fazer tudo meio caseiro, barato e com baixas tiragens. Sobre processos criativos: “Nasce do conteúdo, sempre. Primeiro há a ideia (uma coleção de imagens, a vontade de falar sobre determinado assunto, algum material textual, etc) e daí, a partir Trabalhar de forma independente: “É maravilhoso! Eu tenho uma certa dificuldade de fazer as coisas de um jeito que não seja estritamente o meu, de ter que dar satisfações sobre o que faço, porque ou como. Então, trabalhar de forma independente é estar livre de tudo isso, eu mesma pago, faço como quero e no tempo que preciso. Claro que às vezes sou uma má gerente de mim mesma e acabo atrasando coisas ou fazendo tudo mais corrido do que gostaria, mas vou aprendendo a me organizar melhor. Eram, em sua maioria, imagens de minhas viagens por alguns lugares da Espanha. Acabei fazendo o boneco da forma mais tosca e (hoje eu sei) difícil possível, primeiro colando com fita as fotografias impressas em diferentes tamanhos em folhas A4 dobradas para conseguir visualizar medidas reais e depois diagramar isso no Photoshop e, finalmente, fechar os arquivos em PDFs já levando em conta a imposição (manual) das páginas. Imprimia um lado da folha, depois o outro, em uma ordem que requeria atenção o tempo todo para não errar, depois finalizava os detalhes em casa, capa, costura e refile. Deu um trabalho imenso, mas ficou bem para uma primeira tentativa. Chamei esse foto-zine de LEVE.” O primeiro experimento, segundo Charlene, foi completamente manual. “Nessa época, fui convidada a participar de uma exposição coletiva que uns amigos do Instituto de Artes (da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) estavam organizando e resolvi que era um bom momento de imprimir um livrinho para expor junto com uma série fotográfica. Era, na verdade, um compilado de imagens de muitos verões que tinham entre si apenas um elo de afeto em comum. disso, começo a pensar na forma que a publicação deve ter para que esse conteúdo se expresse da forma mais acertada possível. Então entra a paixão por alguns materiais, pois sempre tenho alguns 'na fila', só esperando pelo conteúdo ideal para serem experimentados. Faço provas, imprimo bonecos, testo a viabilidade das escolhas e, sobretudo, vejo formas para que caiba no orçamento e para que a montagem não seja pesada demais para mim, já que costumo incluir processos manuais na realização dos trabalhos. No fim de tudo, imprimo uma tiragem em consonância com o que o orçamento e minha disposição permitem e levo para as feiras. Lá percebo se o trabalho comunica ou não e, daí, dependendo, volto a editar a publicação para que ela se ajuste ao que eu pretendia comunicar. Às vezes esse ajuste pode vir até um ano depois do lançamento, pois minha percepção do trabalho pode ser gradativa. Esse é o bom de fazer tiragem sob demanda, você pode se arrepender de certas coisas e é só imprimir de novo o material com as mudanças necessárias.” A percepção do mercado independente: “Acho que o mercado é tão bom quanto um mercado independente pode ser, ou seja, o mais provável é que ninguém fique muito rico ou famoso ou o que seja com isso, mas não importa, já que esses não são os objetivos. Pra mim, um mercado independente deve ser um espaço de ética de consumo, de trabalho com amor, de parceria e trocas entre as pessoas, e minha experiência dentro do mercado editorial independente tem sido geralmente essa, então eu me sinto feliz de fazer parte dele e de não esperar mais do que suas características permitem.” Fuch the police (2018) Foto: Reprodução
  • 16. “Cada projeto exige um processo diferente, depende do que chega primeiro, se é o texto ou a ilustração, e há uma preocupação nos detalhes, do formato ao tipo de papel”. @fasso_zine Fasso Zine, por Wagner Mello Mello destaca as particularidades de trabalhar de forma independente com publicação. “É uma dor e uma delícia. Gosto de estar diante de todos os processos, da execução à venda, mas isso exige uma organização tremenda, criatividade e doses grandes de paciência e muito jogo de cintura.” O selo Fasso Zine, no entanto, surgiu em 2017. Como o nome diz, o foco de trabalho é a produção de zines. “Essa mídia permite ampla liberdade de uso e tem uma circulação mais rápida. Cada impressão é seriada e com tiragem baixa. Foram publicados textos literários (conto e poesia), e ainda narrativas e outras experimentações gráficas”. Nesse meio de experimentação, cada um possui diferentes formas de trabalhar, conforme explica. Wagner Melo reside em Porto Alegre, cidade que já presenciou uma série de produções impressas por meio da autopublicação, seja em projetos solo ou em colaboração com outros artistas. Este trabalho, segundo ele, começou em 2013. “A primeira publicação que fiz foi o catálogo de um projeto de ilustração infantil chamado 'diário de um guri canhoto'. De lá pra cá foram diversos, fui experimentando formatos e narrativas. Trabalho sozinho nos projetos particulares, assumindo a escrita, passando pela ilustração e projeto gráfico, e já trabalhei em parceria, ilustrando textos de amigos, e mais recentemente escrevi a partir de uma série de fotos para a Mitti Mendonça.” Homem peixe (2018) Foto: Reprodução Livro de notas pretas (em parceria com Mitti Mendonça) (2019) Foto: Reprodução Para chegar aos resultados finais, o autopublicador faz uso de diferentes recursos, desde as gráficas até impressoras caseiras, serigrafia e estêncil, ou, em alguns casos, desenhos feitos à mão, constituindo uma obra única. “De certa forma os processos são sempre artesanais, seja pela impressão ou encadernação”, ressalta. Os itens produzidos são comercia- lizados, na maioria das vezes, em feiras gráficas ou por meio de redes sociais. Sobre o mercado indepen- dente, ele percebe que “o mercado está em expansão. O crescente das feiras gráficas facilitou os caminhos de distribuição, e a criação de espaços físicos para a comer- cialização, como as bancas Tatuí e Curva, entre outras. É a prova desse crescimento. A produção no país é plural e riquíssima”. Ele complementa, falando sobre se autopublicar: “Para mim a principal vantagem é a liberdade total de escolha em todas as partes do processo”.
  • 17. Gana Press, por Marcos Coelho @_mrczz Colagista e designer gráfico residente em Porto Alegre, Marcos Coelho já passou por diversos experimentos com publicação. Um deles foi a Gana Press, editora criada em parceria com o artista Bruno Moncada. “Eu trabalho com publicação há quatro anos, desde 2016. O primeiro título foi uma parceria com o Bruno. No processo de fazer esse zine de colagens e música juntos, cada um de nós produziu mais dois, e com esses cinco zines decidimos criar o selo Gana Press pra nos autopublicarmos, e também com a ideia de criar projetos gráficos para zines de outras pessoas e viabilizar esses trabalhos”, conta. Marcos observa, então, que o projeto sempre previu a viabilização do trabalho de outras pessoas, não apenas a autopublicação. “Sempre apreciei a ideia de poder aconselhar e editar trabalhos de artistas que admiro, poder dar ideias e pensar em projetos gráficos pra enriquecer a apresentação desses materiais. Também sempre curti a ideia do coletivo, de juntar ideias e poder evoluir junto”. Segundo o artista, atuar de forma independente tem pontos positivos e negativos. “A parte boa é a liberdade de ideias, a escolha dos papéis, a diagramação, os temas, mas nem sempre a receptividade condiz com o esforço aplicado. Mas isso é do jogo, eu gosto muito da troca de ideia com o público, sentir o que funciona ou não conhecer outros artistas que também trabalham dessa maneira, etc”. A linha editorial empregada nas criações são sempre os trabalhos que privilegiam a colagem como técnica principal, seja manual ou digital. “Os temas e suportes são variados, bem como a encadernação, os papéis, The leather runs smooth on the passenger seat (2016) Foto: Reprodução Com relação à distribuição e comercialização, o publicador aponta as feiras gráficas como principal canal. “Principalmente as feiras. Acredito que este meio está sempre em expansão, ao mesmo tempo que rola uma procura menor e, se observarmos, um enfraquecimento das feiras/vendas ao longo de 2019, por exemplo. Principalmente pelo contexto atual do país, mas acho que mesmo que tenha diminuído, ainda está numa crescente, porque essa opressão também faz muita gente se inspirar em produzir materiais de resistência. Acho importante demais, pois esse espaço aberto e acolhedor propicia a produção. “ Nesse contexto, o processo criativo das publicações segue um ritmo próprio. “Da concepção da ideia até a produção é um processo bem vivo, cada etapa influencia o resto, a escolha dos papéis e cores, o processo de desenvolver o texto, o conceito, e depois a implementação e os testes. As coisas vão indo e voltando até o resultado final”, revela. Para viabilizar suas ideias, ou seja, chegar até a concepção física de uma publicação, Marcos utiliza diferentes meios e suportes. “Depende do projeto em si, mas já fiz coisas com xerox, impressão digital e risografia. Acho que os tipos de encadernação também são uma forma de expressão dentro do conceito do trabalho. Grampo, dobra, encadernação manual, encadernação japonesa, assim como os papéis dizem muito; papel poliester, pólen, couché, sulfite, sempre depende do projeto, mas acho legal misturar”. e os tipos de impressão, que variam conforme a obra. Todas tangenciam assuntos que eu gosto, música, existencialismo, coisas do cotidiano. Quase sempre são zines curtos, de 8 ou 12 páginas”. In the aeroplane over the sea (2016) Foto: Reprodução
  • 18. vendas.sul@suzano.com.br Papel pólen - Suzano (precisa ter CNPJ) Papéisdiversos,ferramentaseoutrosinsumos 0800-9411222 Corrupiola - www.corrupiola.com.br Armarinho São José - www.armarinhosaojose.com.br Petra Papéis - www.petrapapeis.com Amarellus (ferramentas produzidas com impressora 3D) - Operação Papel - falecom@operacaopapel.com.br www.amarellus.com.br/ Oficina FU - www.oficinafu.com.br >> CONTATOS ÚTEIS
  • 19. ARMSTRONG, Helen (org.). Teoria do design gráfico. São Paulo: Ubu Editora, 2019. ASSUMPÇÃO, Douglas Junio Fernandes; PINA, Eduardo Menezes; JUNIOR, José Calasanz Piedade de Souza. Fanzine como mídia alternativa: uma aná- lise do cenário belemense. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/88234/91112>. Acesso em: 1 dez. 2018. BARRIOS, Vicente Martínez. A materialidade nos livros de artista de Ulises Carrión. Revista estúdio, Artistas sobre outras obras. Volume 3. Belo Horizonte: 2012. COSTA, Ellen Suely Dantas da; ALBUQUERQUE, Maria Elizabeth B. C. de. Au- tores independentes: livros que queremos publicar. Disponível em: <http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/biblio/article/view/592/430>. Acesso em: 1 dez 2018. CARRIÓN, Ulises. A nova arte de fazer livros. Editora C/Arte. Belo Horizonte: 2011. >> INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
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