O documento discute as diferentes interpretações da Páscoa cristã ao longo da história. Alguns estudiosos apontam semelhanças com mitos antigos como a ressurreição de Osíris, enquanto outros defendem que a Páscoa cristã está vinculada à libertação do povo hebreu do Egito e à ressurreição de Jesus na Bíblia. A data da Páscoa também foi alvo de contendas até ser estabelecida no primeiro domingo após a Lua cheia da primavera entre 21 de março e 25 de abril
1. Desde o mundo antigo, a páscoa consiste em uma das mais importantes
datas do calendário de festividades do mundo cristão. Sua mais
conhecida conotação religiosa se vincula aos três dias que marcam a
morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Entretanto, muitos estudiosos
tentam dar outra interpretação a esse fato, trazendo uma consideração,
uma visão menos denotativa à história da ressurreição.
Em uma perspectiva histórica da formação das crenças cristãs, alguns
estudiosos apontam que o cristianismo, ao florescer em sociedades
marcadas pelo politeísmo e por várias narrativas míticas, acabou
incorporando a idéia de imortalidade presente em outras manifestações
religiosas. De acordo com os pesquisadores M. Goguel, C. Guignebert, e
A. Loisy, a morte trágica seguida do processo de ressurreição vinculada
a Jesus em muito se assemelha às histórias de outros deuses como
Osíris, Attis e Adônis.
Estudos mais recentes apontam que essa associação entre a páscoa
cristã e outras narrativas mitológicas está equivocada. A própria
concepção de mundo e as funções pelas quais o processo de morte e
ressurreição assumem nas crenças orientais e greco-romanas não
podem ser vistas da mesma maneira que na construção do ideário
cristão. O estudioso A. D. Nock aponta para o fato de que no cristianismo
a crença na veracidade da história bíblica é uma chave fundamental de
seu pensamento ausente na maioria das religiões que coexistiram na
Antiguidade.
Interpretações mais vinculadas à própria cultura judaica e à narrativa
Bíblica apontam a Páscoa como uma nova resignificação da festividade
de libertação dos hebreus do cativeiro egípcio. Nessa visão, a libertação
do cativeiro, enquanto um episódio de redenção do povo hebreu, se
equipararia à renovação do Cristo que concedeu uma nova esperança
aos cristãos. Apesar de a narrativa bíblica afirmar que o episódio da
ressurreição foi próximo à festa judaica, a definição do dia da Páscoa
causou uma contenda junto aos representantes da Igreja.
No ano de 325, durante o Concílio de Niceia houve a primeira tentativa
de se estabelecer uma data que desse fim às contendas com respeito ao
dia da Páscoa. Mesmo tentando resolver a questão, só no século XVI –
com a adoção do calendário gregoriano – as dificuldades de se precisar
a data da páscoa foram amenizadas. A data ficou estipulada no primeiro
2. domingo, após a primeira Lua cheia do Equinócio da Primavera, entre os
dias 21 de março e 25 de abril.
Mesmo sendo alvo de tantas explicações e contendas, a Páscoa marca
um período de renovação entre os cristãos, onde a morte de Jesus deve
ser lembrada com resignação e alegria. Ao mesmo tempo, traz aos
cristãos a renovação de todo um conjunto de valores fundamentais à sua
prática religiosa.