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UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005  23
Data de recebimento: 14-12-2004
Data de aceite: 28-11-2005
Síndrome da apnéia
obstrutiva do sono (SAOS):
aspectos de interesse
odontológico
Luana dos Santos SOUZA1
Alessandro Leite CAVALCANTI2
1
Cirurgiã-dentista.
2
Professor titular do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
RESUMO
A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma condi-
ção complexa e multifatorial originada da interação de vários fatores,
especialmente os fatores anatômicos e os fisiológicos. O tratamen-
to de pacientes portadores dessa condição requer um atendimento
multiprofissional, incluindo médicos clínico-gerais, otorrinolaringolo-
gistas e cirurgiões-dentistas. Este trabalho tem por objetivo fornecer
ao cirurgião-dentista informações de interesse odontológico sobre a
SAOS.
Palavras-chave: Apnéia.
Apnéia do sono tipo
obstrutiva. Síndrome da
apnéia do sono.
E
S
T
O
M
ATOLOGIA
INTRODUÇÃO
O sono (do latim “sonus”) é o estado de repou-
so orgânico normal e periódico, caracterizado pela
suspensão temporária da atividade perceptiva e
motora voluntária (FERREIRA, 1999).
O sono desempenha um papel vital no organis-
mo humano, influenciando as funções cerebrais
e orgânicas. Dentre os graves distúrbios do sono
passíveis de diagnóstico, destaca-se um estado
mórbido caracterizado por um conjunto de sinais e
sintomas e associado a vários fatores etiológicos,
conhecido como Síndrome da Apnéia Obstrutiva
do Sono (SAOS), cujo principal sintoma é o ron-
co.
Atualmente, grandes centros de estudos multi-
disciplinares pesquisam as doenças do sono, faci-
litando sua compreensão e propiciando um grande
avanço dos meios diagnósticos (MIRANDA, 1999).
A SAOS constitui-se em uma patologia estudada
por profissionais da área de saúde de diversas es-
pecialidades, dentre as quais: Neurologia, Otorri-
nolaringologia, Pneumologia, Endocrinologia, Pe-
diatria, Fonoaudiologia e Odontologia.
Apesar de se tratar de uma condição médica,
o cirurgião-dentista pode ser um dos principais
agentes atuantes contra essa síndrome. Esse pro-
fissional deve ser capaz de diagnosticar, prevenir
e tratar a SAOS e os sintomas associados (WADI
et al., 2002). Inclusive, pode contribuir com algu-
mas opções terapêuticas para os pacientes, como
cirurgias bucomaxilofaciais e dispositivos intrabu-
cais (DURSO; SPALDING, 2001).
Portanto, contribuindo para a ampliação do co-
nhecimento em Odontologia, este trabalho tem por
objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o
estágio atual da SAOS, enfocando aspectos relati-
vos à classificação, epidemiologia, etiologia, sinto-
matologia, diagnóstico e tratamento.
REVISÃO DE LITERATURA
Conceito e Sinonímia
A palavra apnéia é de origem grega “apnoea” e
significa “ausência de respiração” (DURSO; SPAL-
DING, 2001) ou “vontade de respirar” (BALBANI;
FORMIGONI, 1999). A apnéia do sono é um dis-
túrbio respiratório caracterizado pela interrupção
periódica da respiração durante o sono (WADI et
al., 2002), o qual tem sido definido como a ces-
sação do fluxo de ar com duração mínima de dez
segundos (BALBANI; FORMIGONI, 1999; MIRAN-
DA, 1999; PAULIN et al., 2001).
A SAOS, chamada inicialmente de Síndrome da
“Glossoptoisise” ou “Língua Obstrutiva” (SPYRI-
DES et al., 2000), recebe atualmente várias deno-
minações: Síndrome daApnéia do Sono Obstrutiva
(SASO) (MIRANDA, 1999; SILVA, 2002), Síndrome
da Apnéia/Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS)
(AVELINO et al., 2002; CARDONA; HINCAPIE,
1999; SILVA, 2002; VALERA; DEMARCO; AN-
SELMO-LIMA, 2004), Apnéia Obstrutiva do Sono
(BAGNATO et al., 2000; LORENZI FILHO, 2001;
PAULIN et al., 2001; SILVEIRA, 2001), Apnéia do
Sono Tipo Obstrutiva (ASO) (WADI et al., 2002).
A SAOS é conceituada como a combinação de
muitas queixas clínicas, sinais e sintomas, que
resultam de um número mínimo de obstruções
parciais (hipopnéia) e/ou uma obstrução total ou
completa das vias aéreas superiores (apnéia) du-
rante o sono (CAMPOS et al., 2003; DRAGER et
al., 2002; DURSO; SPALDING, 2001; FERRI et al.,
2004; MACHADO et al., 2004; VALERA; DEMAR-
CO; ANSELMO-LIMA, 2004).
Essa obstrução produz diminuição ou ausên-
cia do fluxo de ar para os pulmões, embora per-
sistam os esforços respiratórios, e é definida pela
ocorrência de cinco ou mais eventos respiratórios
anormais por hora (DURSO; SPALDING, 2001;
GODOLFIM, 2002; WADI et al., 2002), com dura-
ção mínima de dez segundos, mais do que trinta
vezes num período de sete horas (AVELINO et al.,
2002; MIRANDA, 1999; PAULIN et al., 2001; SIL-
VEIRA, 2001).
Classificação
A classificação da SAOS, dentre os distúrbios
do sono, é de uma dissonia, uma vez que produz
insônia ou sonolência diurna excessiva (DRAGER
et al., 2002).
A apnéia obstrutiva pode ser classificada, quan-
to à localização da obstrução, em três distintos ní-
veis: I, II e III (GODOLFIM, 2002). O nível I está
representado pelos processos obstrutivos que
acometem a orofaringe, mais especificamente re-
lacionados com a região úvulo-palatina, ou região
retropalatal; o nível II engloba os processos obstru-
tivos da base da língua, decorrentes de hipertrofia
ou hiperplasia muscular e da tonsila lingual, sendo
associados aos de nível I, ou seja, referem-se às
regiões retrolingual e retropalatal; o nível III repre-
24  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
senta os processos exclusivos da região da base
da língua (hipofaringe) ou região retrolingual (BAL-
BANI; FORMIGONI, 1999; D’AVILA et al., 2003).
Epidemiologia
A prevalência da SAOS na população varia
entre 1 e 9% (BAGNATO et al., 2000; MIRANDA,
1999; SILVA, 1999), podendo chegar a 24% em
uma população de idosos com idade superior a
65 anos (DRAGER et al., 2002). Essa variação
na prevalência está na dependência da idade da
amostra, do gênero, do país, da metodologia e do
critério empregado para o diagnóstico (DRAGER
et al., 2002).
A apnéia obstrutiva é mais comum em homens
de meia idade (entre 40 e 60 anos), compreenden-
do de 82 a 95% dos casos (PAULIN et al., 2001;
SPYRIDES et al., 2000).
Entretanto, os distúrbios do sono não se encon-
tram ligados somente aos adultos. A insônia infan-
til atinge 35% das crianças com menos de cinco
anos (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001) e a SAOS,
de 1 a 3% das crianças em geral (AVELINO et al.,
2002; CAMPOS et al., 2003; VALERA; DEMAR-
CO; ANSELMO-LIMA, 2004), principalmente em
idade pré-escolar e escolar inicial (CAMPOS et
al., 2003; VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA,
2004), dos dois aos seis anos, não havendo pre-
dominância entre os gêneros (VALERA; DEMAR-
CO; ANSELMO-LIMA, 2004).
Etiologia
A SAOS é ocasionada pela obstrução da pas-
sagem do ar no trajeto do meio externo até os pul-
mões, a qual ocorre devido a uma alteração ana-
tômica, que reduz o espaço aéreo, e a um com-
ponente funcional, que permite o colapso das vias
aéreas. Há três locais importantes de obstrução
das vias aéreas: a cavidade nasal, a região retro-
palatal e a região retrolingual (MIRANDA, 1999).
Os principais fatores etiológicos e/ou predispo-
nentes envolvidos são: a hipotonicidade da mus-
culatura do palato mole, devido ao consumo de
álcool, fumo, sedativos e drogas miorrelaxantes,
ao sedentarismo, ao envelhecimento ou à respira-
ção bucal; as hipertrofias de úvula, amigdalianas
e adenoidianas, causadas por alergia, infecção ou
traumatismo; a laringomalácia; as mudanças mor-
fológicas do esqueleto craniofacial (exemplos: ma-
croglossia, micrognatia, hipoplasia facial, palato
mole largo, arco mandibular estreito, parede farín-
gea posterior pouco profunda e estenose óssea do
canal faringiano); a discrepância ântero-posterior
dos maxilares (por exemplo, o retrognatismo man-
dibular); as obstruções das fossas nasais (como
desvio de septo, hipertrofia de cornetos nasais, ri-
nites alérgicas, sinusites crônicas, cistos e pólipos
nasais e colapso da válvula nasal); as alterações
congênitas e adquiridas (anemia falciforme, hipo-
tireoidismo, diabetes, acromegalia, insuficiência
renal crônica e espinha bífida); as enfermidades
neuromusculares e do SNC; as doenças metabó-
licas; a gravidez; a posição de decúbito dorsal; a
obesidade; e a herança genética (história familiar)
(AVELINO et al., 2002; BALBANI; FORMIGONI,
1999; CAMPOS, 2003; DRAGER et al., 2002; GO-
DOLFIM, 2002; MACHADO et al., 2004; MARTI-
NHO et al., 2004; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999;
SILVA, 2002; SILVEIRA, 2001; SPYRIDES et al.,
2000; VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA,
2004; WADI et al., 2002).
Sintomatologia
Na SAOS, podem ser manifestados os seguin-
tes sinais e sintomas físicos: ronco alto associado a
períodos de silêncio (períodos apnéicos), insônia,
redução dos estágios mais profundos do sono, mo-
vimentação noturna, despertares freqüentes com
sensação de sufocamento (episódios de asfixia),
sono agitado, geralmente insuficiente (não repa-
rador), sonambulismo, pesadelos, refluxo gastro-
esofágico noturno, enurese e sudorese noturnas,
nictúria, aumento da atividade motora dos mem-
bros inferiores, respiração bucal forçada, tosse e
engasto durante o sono, boca seca ao acordar,
distúrbios de deglutição e hipersalivação durante o
período diurno, hipersonolência diurna, cansaço fí-
sico e mental, indisposição para tarefas rotineiras,
fadiga, déficit energético, queda de produtividade,
cefaléia matinal na região frontal, náuseas, taqui-
cardia com cardiopatias associadas, hipertensão
arterial e pulmonar (podendo ser apenas matinal),
arritmia cardíaca, disfunções sexuais (diminuição
da libido e impotência), dor, dificuldade respirató-
ria, redução da concentração da oxiemoglobina,
cianose em lactentes e atraso do crescimento em
crianças (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; AVELINO
et al., 2002; BALBANI; FORMIGONI, 1999; CAM-
POS et al., 2003; DURSO; SPALDING, 2001; GO-
DOLFIM, 2002; MACHADO et al., 2004; PAULIN
et al., 2001; SILVA, 2002; SILVEIRA, 2001; SPYRI-
DES et al., 2000).
UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005  25
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
Diagnóstico
O diagnóstico da SAOS é realizado por meio
dos exames clínico e complementar (MIRANDA,
1999). Inicialmente é feita uma detalhada anamne-
se, inclusive com os familiares ou o cônjuge do pa-
ciente (BALBANI; FORMIGONI, 1999), levantando
as primeiras suspeitas sobre algum distúrbio do
sono (SILVA, 2002). Ainda durante a anamnese, é
muito importante caracterizar o ronco, se contínuo,
intermitente ou associado a certas posições duran-
te o sono (SILVA, 1999).
Outros dados a serem considerados correspon-
dem à história de aumento de peso, à utilização
habitual de medicamentos que produzam sono-
lência, ao uso de álcool e à história familiar de
transtornos do sono, assim como de enfermidades
cardíacas, hipertensão e outras patologias neuro-
lógicas (SILVA, 1999).
Já na avaliação física inicial, deve-se determi-
nar a predisposição anatômica geral e reconhecer
as alterações específicas susceptíveis de correção
(SILVA, 1999).
A obstrução retropalatal é observada pelo exa-
me da cavidade bucal, no qual se pode identificar o
palato alongado, a úvula hiperêmica, edemaciada
e com a borda livre baixa. Em se tratando da re-
gião retrolingual, a faringe pode parecer estreitada
por tecido redundante na fossa amigdaliana e em
sua parede posterior. Pode-se notar a presença de
macroglossia, com impressões dentais nas bordas
da língua, mostrando a desproporção continente-
contéudo (MIRANDA, 1999).
Em crianças, os achados dos exames físicos
geralmente são pobres ou inespecíficos, como
respiração bucal, obstrução nasal, voz hiponasal
e presença da Síndrome da Face Alongada. Essa
última resulta da respiração bucal crônica e carac-
teriza-se pelo aumento da altura anterior da face,
principalmente de seu terço inferior, estreitamento
de narinas, retrusão mandibular e maxilar e au-
mento da inclinação mandibular, relacionados com
a hipotonia dos lábios e da musculatura orofacial
(VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA, 2004).
Dentre os meios odontológicos de diagnóstico
utilizados, a análise de modelos, a cefalometria
(SPYRIDES et al., 2000) e a telerradiografia auxi-
liam na identificação de alterações, tais como dis-
crepâncias ântero-posteriores entre maxila e man-
díbula e posicionamento posterior da mandíbula,
como também no tratamento de pacientes com
SAOS, auxiliando no reposicionamento de estru-
turas ósseas ou tegumentares por meio de cirur-
gias ou aparelhos intrabucais, com o propósito de
aumentar o espaço aéreo e melhorar a respiração
durante o sono (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001;
WADI et al., 2002).
A análise cefalométrica possibilita a avaliação
de fatores específicos, como tamanho do palato
mole, inclinação do plano mandibular, posição do
osso hióide, tipo e altura facial e relação das ba-
ses ósseas (GODOLFIM, 2002). Para tanto, são
usados alguns elementos anatômicos adicionais
do que nos traçados cefalométricos normalmente
usados no planejamento para ortodontia e cirurgia
ortognática, e estes são: primeira, segunda e ter-
ceira vértebras cervicais, parede posterior da farin-
ge, língua, palato mole e contorno externo do osso
hióide (MIRANDA, 1999).
Tratamento
É quase unânime entre os profissionais a opi-
nião de que ainda não existe uma terapêutica de-
finitiva para a SAOS. Contudo, o tratamento de tal
distúrbio deve atingir primordialmente quatro obje-
tivos básicos: o alívio dos sintomas, a redução da
morbidade, a diminuição da mortalidade e a me-
lhora da qualidade de vida do paciente, podendo
variar desde alterações comportamentais até pro-
cedimentos cirúrgicos (RODRIGUEZ AMARO; RA-
MOS, 2001; PAULIN et al., 2001; SILVA, 2002).
Os pacientes que não são candidatos à cirurgia,
em decorrência de uma condição de risco médico
ou por não desejarem ser submetidos a uma in-
tervenção cirúrgica, podem utilizar os métodos de
tratamento conservadores (RODRIGUEZ AMARO;
RAMOS, 2001).
A terapêutica da SAOS inclui algumas orienta-
ções ao paciente, com o objetivo de amenizar sua
apnéia, como: iniciar um programa de diminuição
de peso (para os obesos), alterar a posição de
dormir (evitar o decúbito dorsal), elevar a cabecei-
ra da cama, manter um horário regular de sono,
evitar o consumo de bebidas alcoólicas (especial-
mente entre três e quatro horas antes de dormir),
evitar o uso de fumo, de sedativos (inclusive anal-
gésicos com relaxantes musculares) ou de outros
medicamentos depressores do SNC e evitar a ali-
mentação em excesso antes de dormir (BALBANI;
FORMIGONI, 1999; CARDONA; HINCAPIE,1999;
DRAGER et al., 2002; SILVA, 2002; SILVEIRA,
2001; SPYRIDES et al., 2000).
O tratamento não conservador da SAOS con-
26  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
siste na terapêutica cirúrgica, que visa a eliminar a
causa da obstrução das vias aéreas, mantendo a
sua abertura para o livre fluxo aéreo (MIRANDA,
1999).
DISCUSSÃO
A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono é
considerada uma doença crônica, progressiva,
incapacitante, com conseqüências ameaçadoras
sobre o potencial de vida (ALBERTINI; SIQUEIRA,
2001; WADI et al., 2002), alta mortalidade e mor-
bidade (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; RODRÍ-
GUEZ AMARO; RAMOS, 2001).
Encontrou-se na literatura uma prevalência na
população bastante variável, entre 1 e 9% (BAG-
NATO et al., 2000; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999).
Os autores também não mantiveram um consenso
quanto à proporção da doença entre os gêneros,
sendo apontados valores entre 1,2 e 31% para ho-
mens e entre 0,4 e 16% para mulheres (BALBANI;
FORMIGONI, 1999; DRAGER et al., 2002; FERRI
et al., 2004; MARTINHO et al., 2004; SILVA, 2002;
WADI et al., 2002).
Alguns autores referiram-se à relação entre a
respiração bucal e a SAOS, por meio das mudan-
ças produzidas no desenvolvimento craniofacial,
como a postura baixa da língua e o menor diâme-
tro da via aérea superior (ALBERTINI; SIQUEIRA,
2001), da irritação dos tecidos da orofaringe pelo
ar com aquecimento, umidificação e filtração ina-
dequados (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001) ou pela
modificação da capacidade contrátil e desloca-
mento posteriormente do músculo genioglosso.
Em se tratando de meios odontológicos de diag-
nóstico, encontrou-se menção à análise cefalomé-
trica (GODOLFIM, 2002; MIRANDA, 1999; SILVA,
1999; SPYRIDES et al., 2000), a qual possibilita
a avaliação das discrepâncias craniofaciais como
possíveis fatores etiológicos da doença.
No que concerne ao tratamento da SAOS, os
autores defenderam sua multidisciplinaridade, en-
volvendoprofissionaiscomo:otorrinolaringologista,
psiquiatra, pneumologista, neurologista, hematolo-
gista, cardiologista, ortodontista, reabilitador bucal,
cirurgião-ortognata, entre outros (ALBERTINI; SI-
QUEIRA, 2001; MARTINHO et al., 2004; PAULIN
et al., 2001; SILVA, 2002; WADI et al., 2002).
CONCLUSÃO
As graves repercussões sistêmicas decorren-
tes da SAOS e sua elevada mortalidade requerem
a atenção das diversas especialidades da área de
saúde, sendo, portanto, imprescindível que maior
ênfase seja dada ao tema na formação e aperfei-
çoamento dos profissionais da Odontologia, capa-
citando-os para também assumir esse novo cam-
po de atuação.
ABSTRACT
SLEEP OBSTRUCTIVE APNEA SYNDROME
(SOAS): ASPECTS OF DENTAL INTEREST
Sleep Obstructive Apnea Syndrome (SOAS) is
a complex multifactorial condition produced by a
combination of anatomical and physiological fac-
tors. Management of the condition should be un-
dertaken by a multidisciplinary team including phy-
sicians, otorhinolaryngologists and dental surge-
ons. The treatment of team members are the key
to successful treatment. This review provides the
dental practitioner with an introduction to SOAS
with particular emphasis on the dental aspects.
Keywords: Apnea. Sleep apnea. Obstructive.
Sleep apnea syndromes.
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com placas oclusais. J. Brás. Ortodon. Ortop.
Facial, Curitiba, v. 5, n. 25, p. 43-54, jan./fev.
2000.
23 VALERA, F. C. P.; DEMARCO, R. C.;ANSELMO-
LIMA, W. T. Síndrome da apnéia e da hipopnéia
obstrutivas do sono (SAHOS) em crianças. Rev.
Brás. Otorrinolaringol, São Paulo, v. 70, n. 2,
p. 232-237, mar./abr. 2004.
24 WADI, M. H. A. et al. Placas oclusais no
tratamento da síndrome da apnéia obstrutiva
do sono: uma alternativa conservadora.
Ortodontia, São Paulo, v. 35, n. 2, p.137-144,
abr./jun. 2002.
Correspondência para/Reprint request to:
Alessandro Leite Cavalcanti
Avenida Ingá, 124, Manaíra
João Pessoa, PB, 58038-250
E-mail: dralessandro@ibest.com.br
Tel.: (83) 247-2043
28  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI

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  • 1. UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005  23 Data de recebimento: 14-12-2004 Data de aceite: 28-11-2005 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico Luana dos Santos SOUZA1 Alessandro Leite CAVALCANTI2 1 Cirurgiã-dentista. 2 Professor titular do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). RESUMO A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma condi- ção complexa e multifatorial originada da interação de vários fatores, especialmente os fatores anatômicos e os fisiológicos. O tratamen- to de pacientes portadores dessa condição requer um atendimento multiprofissional, incluindo médicos clínico-gerais, otorrinolaringolo- gistas e cirurgiões-dentistas. Este trabalho tem por objetivo fornecer ao cirurgião-dentista informações de interesse odontológico sobre a SAOS. Palavras-chave: Apnéia. Apnéia do sono tipo obstrutiva. Síndrome da apnéia do sono. E S T O M ATOLOGIA
  • 2. INTRODUÇÃO O sono (do latim “sonus”) é o estado de repou- so orgânico normal e periódico, caracterizado pela suspensão temporária da atividade perceptiva e motora voluntária (FERREIRA, 1999). O sono desempenha um papel vital no organis- mo humano, influenciando as funções cerebrais e orgânicas. Dentre os graves distúrbios do sono passíveis de diagnóstico, destaca-se um estado mórbido caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas e associado a vários fatores etiológicos, conhecido como Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS), cujo principal sintoma é o ron- co. Atualmente, grandes centros de estudos multi- disciplinares pesquisam as doenças do sono, faci- litando sua compreensão e propiciando um grande avanço dos meios diagnósticos (MIRANDA, 1999). A SAOS constitui-se em uma patologia estudada por profissionais da área de saúde de diversas es- pecialidades, dentre as quais: Neurologia, Otorri- nolaringologia, Pneumologia, Endocrinologia, Pe- diatria, Fonoaudiologia e Odontologia. Apesar de se tratar de uma condição médica, o cirurgião-dentista pode ser um dos principais agentes atuantes contra essa síndrome. Esse pro- fissional deve ser capaz de diagnosticar, prevenir e tratar a SAOS e os sintomas associados (WADI et al., 2002). Inclusive, pode contribuir com algu- mas opções terapêuticas para os pacientes, como cirurgias bucomaxilofaciais e dispositivos intrabu- cais (DURSO; SPALDING, 2001). Portanto, contribuindo para a ampliação do co- nhecimento em Odontologia, este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o estágio atual da SAOS, enfocando aspectos relati- vos à classificação, epidemiologia, etiologia, sinto- matologia, diagnóstico e tratamento. REVISÃO DE LITERATURA Conceito e Sinonímia A palavra apnéia é de origem grega “apnoea” e significa “ausência de respiração” (DURSO; SPAL- DING, 2001) ou “vontade de respirar” (BALBANI; FORMIGONI, 1999). A apnéia do sono é um dis- túrbio respiratório caracterizado pela interrupção periódica da respiração durante o sono (WADI et al., 2002), o qual tem sido definido como a ces- sação do fluxo de ar com duração mínima de dez segundos (BALBANI; FORMIGONI, 1999; MIRAN- DA, 1999; PAULIN et al., 2001). A SAOS, chamada inicialmente de Síndrome da “Glossoptoisise” ou “Língua Obstrutiva” (SPYRI- DES et al., 2000), recebe atualmente várias deno- minações: Síndrome daApnéia do Sono Obstrutiva (SASO) (MIRANDA, 1999; SILVA, 2002), Síndrome da Apnéia/Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) (AVELINO et al., 2002; CARDONA; HINCAPIE, 1999; SILVA, 2002; VALERA; DEMARCO; AN- SELMO-LIMA, 2004), Apnéia Obstrutiva do Sono (BAGNATO et al., 2000; LORENZI FILHO, 2001; PAULIN et al., 2001; SILVEIRA, 2001), Apnéia do Sono Tipo Obstrutiva (ASO) (WADI et al., 2002). A SAOS é conceituada como a combinação de muitas queixas clínicas, sinais e sintomas, que resultam de um número mínimo de obstruções parciais (hipopnéia) e/ou uma obstrução total ou completa das vias aéreas superiores (apnéia) du- rante o sono (CAMPOS et al., 2003; DRAGER et al., 2002; DURSO; SPALDING, 2001; FERRI et al., 2004; MACHADO et al., 2004; VALERA; DEMAR- CO; ANSELMO-LIMA, 2004). Essa obstrução produz diminuição ou ausên- cia do fluxo de ar para os pulmões, embora per- sistam os esforços respiratórios, e é definida pela ocorrência de cinco ou mais eventos respiratórios anormais por hora (DURSO; SPALDING, 2001; GODOLFIM, 2002; WADI et al., 2002), com dura- ção mínima de dez segundos, mais do que trinta vezes num período de sete horas (AVELINO et al., 2002; MIRANDA, 1999; PAULIN et al., 2001; SIL- VEIRA, 2001). Classificação A classificação da SAOS, dentre os distúrbios do sono, é de uma dissonia, uma vez que produz insônia ou sonolência diurna excessiva (DRAGER et al., 2002). A apnéia obstrutiva pode ser classificada, quan- to à localização da obstrução, em três distintos ní- veis: I, II e III (GODOLFIM, 2002). O nível I está representado pelos processos obstrutivos que acometem a orofaringe, mais especificamente re- lacionados com a região úvulo-palatina, ou região retropalatal; o nível II engloba os processos obstru- tivos da base da língua, decorrentes de hipertrofia ou hiperplasia muscular e da tonsila lingual, sendo associados aos de nível I, ou seja, referem-se às regiões retrolingual e retropalatal; o nível III repre- 24  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
  • 3. senta os processos exclusivos da região da base da língua (hipofaringe) ou região retrolingual (BAL- BANI; FORMIGONI, 1999; D’AVILA et al., 2003). Epidemiologia A prevalência da SAOS na população varia entre 1 e 9% (BAGNATO et al., 2000; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999), podendo chegar a 24% em uma população de idosos com idade superior a 65 anos (DRAGER et al., 2002). Essa variação na prevalência está na dependência da idade da amostra, do gênero, do país, da metodologia e do critério empregado para o diagnóstico (DRAGER et al., 2002). A apnéia obstrutiva é mais comum em homens de meia idade (entre 40 e 60 anos), compreenden- do de 82 a 95% dos casos (PAULIN et al., 2001; SPYRIDES et al., 2000). Entretanto, os distúrbios do sono não se encon- tram ligados somente aos adultos. A insônia infan- til atinge 35% das crianças com menos de cinco anos (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001) e a SAOS, de 1 a 3% das crianças em geral (AVELINO et al., 2002; CAMPOS et al., 2003; VALERA; DEMAR- CO; ANSELMO-LIMA, 2004), principalmente em idade pré-escolar e escolar inicial (CAMPOS et al., 2003; VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA, 2004), dos dois aos seis anos, não havendo pre- dominância entre os gêneros (VALERA; DEMAR- CO; ANSELMO-LIMA, 2004). Etiologia A SAOS é ocasionada pela obstrução da pas- sagem do ar no trajeto do meio externo até os pul- mões, a qual ocorre devido a uma alteração ana- tômica, que reduz o espaço aéreo, e a um com- ponente funcional, que permite o colapso das vias aéreas. Há três locais importantes de obstrução das vias aéreas: a cavidade nasal, a região retro- palatal e a região retrolingual (MIRANDA, 1999). Os principais fatores etiológicos e/ou predispo- nentes envolvidos são: a hipotonicidade da mus- culatura do palato mole, devido ao consumo de álcool, fumo, sedativos e drogas miorrelaxantes, ao sedentarismo, ao envelhecimento ou à respira- ção bucal; as hipertrofias de úvula, amigdalianas e adenoidianas, causadas por alergia, infecção ou traumatismo; a laringomalácia; as mudanças mor- fológicas do esqueleto craniofacial (exemplos: ma- croglossia, micrognatia, hipoplasia facial, palato mole largo, arco mandibular estreito, parede farín- gea posterior pouco profunda e estenose óssea do canal faringiano); a discrepância ântero-posterior dos maxilares (por exemplo, o retrognatismo man- dibular); as obstruções das fossas nasais (como desvio de septo, hipertrofia de cornetos nasais, ri- nites alérgicas, sinusites crônicas, cistos e pólipos nasais e colapso da válvula nasal); as alterações congênitas e adquiridas (anemia falciforme, hipo- tireoidismo, diabetes, acromegalia, insuficiência renal crônica e espinha bífida); as enfermidades neuromusculares e do SNC; as doenças metabó- licas; a gravidez; a posição de decúbito dorsal; a obesidade; e a herança genética (história familiar) (AVELINO et al., 2002; BALBANI; FORMIGONI, 1999; CAMPOS, 2003; DRAGER et al., 2002; GO- DOLFIM, 2002; MACHADO et al., 2004; MARTI- NHO et al., 2004; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999; SILVA, 2002; SILVEIRA, 2001; SPYRIDES et al., 2000; VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA, 2004; WADI et al., 2002). Sintomatologia Na SAOS, podem ser manifestados os seguin- tes sinais e sintomas físicos: ronco alto associado a períodos de silêncio (períodos apnéicos), insônia, redução dos estágios mais profundos do sono, mo- vimentação noturna, despertares freqüentes com sensação de sufocamento (episódios de asfixia), sono agitado, geralmente insuficiente (não repa- rador), sonambulismo, pesadelos, refluxo gastro- esofágico noturno, enurese e sudorese noturnas, nictúria, aumento da atividade motora dos mem- bros inferiores, respiração bucal forçada, tosse e engasto durante o sono, boca seca ao acordar, distúrbios de deglutição e hipersalivação durante o período diurno, hipersonolência diurna, cansaço fí- sico e mental, indisposição para tarefas rotineiras, fadiga, déficit energético, queda de produtividade, cefaléia matinal na região frontal, náuseas, taqui- cardia com cardiopatias associadas, hipertensão arterial e pulmonar (podendo ser apenas matinal), arritmia cardíaca, disfunções sexuais (diminuição da libido e impotência), dor, dificuldade respirató- ria, redução da concentração da oxiemoglobina, cianose em lactentes e atraso do crescimento em crianças (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; AVELINO et al., 2002; BALBANI; FORMIGONI, 1999; CAM- POS et al., 2003; DURSO; SPALDING, 2001; GO- DOLFIM, 2002; MACHADO et al., 2004; PAULIN et al., 2001; SILVA, 2002; SILVEIRA, 2001; SPYRI- DES et al., 2000). UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005  25 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
  • 4. Diagnóstico O diagnóstico da SAOS é realizado por meio dos exames clínico e complementar (MIRANDA, 1999). Inicialmente é feita uma detalhada anamne- se, inclusive com os familiares ou o cônjuge do pa- ciente (BALBANI; FORMIGONI, 1999), levantando as primeiras suspeitas sobre algum distúrbio do sono (SILVA, 2002). Ainda durante a anamnese, é muito importante caracterizar o ronco, se contínuo, intermitente ou associado a certas posições duran- te o sono (SILVA, 1999). Outros dados a serem considerados correspon- dem à história de aumento de peso, à utilização habitual de medicamentos que produzam sono- lência, ao uso de álcool e à história familiar de transtornos do sono, assim como de enfermidades cardíacas, hipertensão e outras patologias neuro- lógicas (SILVA, 1999). Já na avaliação física inicial, deve-se determi- nar a predisposição anatômica geral e reconhecer as alterações específicas susceptíveis de correção (SILVA, 1999). A obstrução retropalatal é observada pelo exa- me da cavidade bucal, no qual se pode identificar o palato alongado, a úvula hiperêmica, edemaciada e com a borda livre baixa. Em se tratando da re- gião retrolingual, a faringe pode parecer estreitada por tecido redundante na fossa amigdaliana e em sua parede posterior. Pode-se notar a presença de macroglossia, com impressões dentais nas bordas da língua, mostrando a desproporção continente- contéudo (MIRANDA, 1999). Em crianças, os achados dos exames físicos geralmente são pobres ou inespecíficos, como respiração bucal, obstrução nasal, voz hiponasal e presença da Síndrome da Face Alongada. Essa última resulta da respiração bucal crônica e carac- teriza-se pelo aumento da altura anterior da face, principalmente de seu terço inferior, estreitamento de narinas, retrusão mandibular e maxilar e au- mento da inclinação mandibular, relacionados com a hipotonia dos lábios e da musculatura orofacial (VALERA; DEMARCO; ANSELMO-LIMA, 2004). Dentre os meios odontológicos de diagnóstico utilizados, a análise de modelos, a cefalometria (SPYRIDES et al., 2000) e a telerradiografia auxi- liam na identificação de alterações, tais como dis- crepâncias ântero-posteriores entre maxila e man- díbula e posicionamento posterior da mandíbula, como também no tratamento de pacientes com SAOS, auxiliando no reposicionamento de estru- turas ósseas ou tegumentares por meio de cirur- gias ou aparelhos intrabucais, com o propósito de aumentar o espaço aéreo e melhorar a respiração durante o sono (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; WADI et al., 2002). A análise cefalométrica possibilita a avaliação de fatores específicos, como tamanho do palato mole, inclinação do plano mandibular, posição do osso hióide, tipo e altura facial e relação das ba- ses ósseas (GODOLFIM, 2002). Para tanto, são usados alguns elementos anatômicos adicionais do que nos traçados cefalométricos normalmente usados no planejamento para ortodontia e cirurgia ortognática, e estes são: primeira, segunda e ter- ceira vértebras cervicais, parede posterior da farin- ge, língua, palato mole e contorno externo do osso hióide (MIRANDA, 1999). Tratamento É quase unânime entre os profissionais a opi- nião de que ainda não existe uma terapêutica de- finitiva para a SAOS. Contudo, o tratamento de tal distúrbio deve atingir primordialmente quatro obje- tivos básicos: o alívio dos sintomas, a redução da morbidade, a diminuição da mortalidade e a me- lhora da qualidade de vida do paciente, podendo variar desde alterações comportamentais até pro- cedimentos cirúrgicos (RODRIGUEZ AMARO; RA- MOS, 2001; PAULIN et al., 2001; SILVA, 2002). Os pacientes que não são candidatos à cirurgia, em decorrência de uma condição de risco médico ou por não desejarem ser submetidos a uma in- tervenção cirúrgica, podem utilizar os métodos de tratamento conservadores (RODRIGUEZ AMARO; RAMOS, 2001). A terapêutica da SAOS inclui algumas orienta- ções ao paciente, com o objetivo de amenizar sua apnéia, como: iniciar um programa de diminuição de peso (para os obesos), alterar a posição de dormir (evitar o decúbito dorsal), elevar a cabecei- ra da cama, manter um horário regular de sono, evitar o consumo de bebidas alcoólicas (especial- mente entre três e quatro horas antes de dormir), evitar o uso de fumo, de sedativos (inclusive anal- gésicos com relaxantes musculares) ou de outros medicamentos depressores do SNC e evitar a ali- mentação em excesso antes de dormir (BALBANI; FORMIGONI, 1999; CARDONA; HINCAPIE,1999; DRAGER et al., 2002; SILVA, 2002; SILVEIRA, 2001; SPYRIDES et al., 2000). O tratamento não conservador da SAOS con- 26  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
  • 5. siste na terapêutica cirúrgica, que visa a eliminar a causa da obstrução das vias aéreas, mantendo a sua abertura para o livre fluxo aéreo (MIRANDA, 1999). DISCUSSÃO A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono é considerada uma doença crônica, progressiva, incapacitante, com conseqüências ameaçadoras sobre o potencial de vida (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; WADI et al., 2002), alta mortalidade e mor- bidade (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001; RODRÍ- GUEZ AMARO; RAMOS, 2001). Encontrou-se na literatura uma prevalência na população bastante variável, entre 1 e 9% (BAG- NATO et al., 2000; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999). Os autores também não mantiveram um consenso quanto à proporção da doença entre os gêneros, sendo apontados valores entre 1,2 e 31% para ho- mens e entre 0,4 e 16% para mulheres (BALBANI; FORMIGONI, 1999; DRAGER et al., 2002; FERRI et al., 2004; MARTINHO et al., 2004; SILVA, 2002; WADI et al., 2002). Alguns autores referiram-se à relação entre a respiração bucal e a SAOS, por meio das mudan- ças produzidas no desenvolvimento craniofacial, como a postura baixa da língua e o menor diâme- tro da via aérea superior (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001), da irritação dos tecidos da orofaringe pelo ar com aquecimento, umidificação e filtração ina- dequados (ALBERTINI; SIQUEIRA, 2001) ou pela modificação da capacidade contrátil e desloca- mento posteriormente do músculo genioglosso. Em se tratando de meios odontológicos de diag- nóstico, encontrou-se menção à análise cefalomé- trica (GODOLFIM, 2002; MIRANDA, 1999; SILVA, 1999; SPYRIDES et al., 2000), a qual possibilita a avaliação das discrepâncias craniofaciais como possíveis fatores etiológicos da doença. No que concerne ao tratamento da SAOS, os autores defenderam sua multidisciplinaridade, en- volvendoprofissionaiscomo:otorrinolaringologista, psiquiatra, pneumologista, neurologista, hematolo- gista, cardiologista, ortodontista, reabilitador bucal, cirurgião-ortognata, entre outros (ALBERTINI; SI- QUEIRA, 2001; MARTINHO et al., 2004; PAULIN et al., 2001; SILVA, 2002; WADI et al., 2002). CONCLUSÃO As graves repercussões sistêmicas decorren- tes da SAOS e sua elevada mortalidade requerem a atenção das diversas especialidades da área de saúde, sendo, portanto, imprescindível que maior ênfase seja dada ao tema na formação e aperfei- çoamento dos profissionais da Odontologia, capa- citando-os para também assumir esse novo cam- po de atuação. ABSTRACT SLEEP OBSTRUCTIVE APNEA SYNDROME (SOAS): ASPECTS OF DENTAL INTEREST Sleep Obstructive Apnea Syndrome (SOAS) is a complex multifactorial condition produced by a combination of anatomical and physiological fac- tors. Management of the condition should be un- dertaken by a multidisciplinary team including phy- sicians, otorhinolaryngologists and dental surge- ons. The treatment of team members are the key to successful treatment. This review provides the dental practitioner with an introduction to SOAS with particular emphasis on the dental aspects. Keywords: Apnea. Sleep apnea. Obstructive. Sleep apnea syndromes. REFERÊNCIAS 1 ALBERTINI, R.; SIQUEIRA, V. C. V. A ortodontia e a síndrome da apnéia obstrutiva do sono. J. Brás. Ortodon. Ortop. Facial, Curitiba, v. 6, n. 33, p. 213-221, maio/jun. 2001. 2 AVELINO et al. Avaliação polissonográfica da síndrome da apnéia obstrutiva do sono em crianças, antes e após adenoamigdatomia. Rev. Brás. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 68, n. 3, p. 308-311, maio 2002. 3 BAGNATO, M. C. et al. Comparison of autoset and polysomnography for the detection of apnea-hypopnea events. Braz. J. Méd. Biol. Res., Ribeirão Preto, v. 33, n. 5, p. 515-519, maio 2000. 4 BALBANI,A. P. S.; FORMIGONI, G. G. S. Ronco e síndrome da apnéia obstrutiva do sono. Rev. Assoc. Méd. Brás., São Paulo, v. 45, n. 3, p. UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005  27 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI
  • 6. 273-278, jul./set. 1999. 5 CAMPOS, O. C. et al. Relación entre el síndrome de apnea obstructiva del sueño y el transtorno de déficit atencional con hiperactividad: estudio en una población de escolares chilenos. Rev. Chilena de Pediatria, Santiago, v. 74, n. 1, p. 46-52, enero/feb. 2003. 6 CARDONA, G.; HINCAPIE, G. A. Tratamiento médico del síndrome de apnea-hipopnea obstructiva del sueño (SAHOS). Acta Otorrinolaringol. Cir. Cabeza Cuello, Bogotá, v. 27, n. 3, p. 65-69, set. 1999. 7 D’AVILA, J. S. et al. Associações técnicas conjugadas para correção cirúrgica do ronco e SAOS(periférica).Rev.Brás.Otorrinolaringol., São Paulo, v. 69, n. 1, p. 34-38, jan./fev. 2003. 8 DRAGER, L. F. et al. Síndrome da apnéia obstrutiva do sono e sua relação com a hipertensão arterial sistêmica. Evidências atuais. Arq. Brás. Cardiol., São Paulo, v. 78, n. 5, p. 531-536, maio, 2002. 9 DURSO, B. C.; SPALDING, M. O papel do cirurgião-dentista no tratamento da síndrome da apnéia obstrutiva do sono. J. Brás. Ortodon. Ortop. Facial, Curitiba, v. 6, n. 33, p. 223-226, maio/jun. 2001. 10 FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio do Século XXI. Editora Nova Fronteira. Versão eletrônica 3.0. Lexikon Informática Ltda., Nov. 1999. 11 FERRI, R. G. et al. Análise do clearance mucociliar nasal e dos efeitos adversos do uso de CPAP nasal em pacientes com SAHOS. Rev. Brás. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 70, n. 2, p. 150-155, mar./abr. 2004. 12 GODOLFIM, L. R. O tratamento do ronco e apnéia do sono com dispositivos intra-orais. Ortodontia, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 87-91, abr./jun. 2002. 13 LORENZI FILHO, G. Como deve ser tratado um paciente com obesidade mórbida e apnéia do sono? Rev. Assoc. Méd. Brás., São Paulo, v. 47, n. 3, p. 170-177, jul./set. 2001. 14 MACHADO, M.A. C. et al. Qualidade de vida em pacientes com síndrome de apnéia obstrutiva do sono tratados com reposicionador mandibular intra-oral. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 62, n. 2, p. 222-225, jun. 2004. 15 MARTINHO, F. L. et al. Indicação cirúrgica otorrinolaringológica em um ambulatório para pacientes com síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutivadosono.Rev.Brás.Otorrinolaringol., São Paulo, v. 70, n. 1, p. 46-51, jan./fev. 2004. 16 MIRANDA, S. L. Cirurgia ortognática em apnéia. In: ARAÚJO, A. Cirurgia ortognática, São Paulo: Santos, 1999. p. 365-374. 17 PAULIN, R. F. et al. A apnéia obstrutiva do sono: considerações gerais e estratégias de tratamento. J. Brás. Ortodon. Ortop. Facial, Curitiba, v. 6, n. 36, p. 488-492, dez. 2001/jan. 2002. 18 RODRÍGUEZ AMARO, J. M.; RAMOS, O. E. Dispositivos dentales para el tratamiento de la apnea obstructiva de sueño: revisión de la literatura y protocolo de tratamiento. Acta Odontológica Venezolana, Caracas, v. 39, n. 3, p. 94-97, dez. 2001. 19 SILVA, R. Diagnóstico del síndrome de apnea obstructiva del sueño. Acta Otorrinolaringol. Cir. Cabeza Cuello, Bogotá, v. 27, n. 3, p. 56- 60, set. 1999. 20 SILVA, S. R. Como ajudar o paciente roncador. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent., São Paulo, v. 56, n. 4, p. 247-257, jul./ago. 2002. 21 SILVEIRA, M. A síndrome da apnéia obstrutiva do sono, o ronco e seu tratamento com o aparelho Apnout. J. Brás. Ortodon. Ortop. Facial, Curitiba, v. 6, n. 32, p.151-154, mar./abr. 2001. 22 SPYRIDES, G. M. et al. Apnéia e ronco tratados com placas oclusais. J. Brás. Ortodon. Ortop. Facial, Curitiba, v. 5, n. 25, p. 43-54, jan./fev. 2000. 23 VALERA, F. C. P.; DEMARCO, R. C.;ANSELMO- LIMA, W. T. Síndrome da apnéia e da hipopnéia obstrutivas do sono (SAHOS) em crianças. Rev. Brás. Otorrinolaringol, São Paulo, v. 70, n. 2, p. 232-237, mar./abr. 2004. 24 WADI, M. H. A. et al. Placas oclusais no tratamento da síndrome da apnéia obstrutiva do sono: uma alternativa conservadora. Ortodontia, São Paulo, v. 35, n. 2, p.137-144, abr./jun. 2002. Correspondência para/Reprint request to: Alessandro Leite Cavalcanti Avenida Ingá, 124, Manaíra João Pessoa, PB, 58038-250 E-mail: dralessandro@ibest.com.br Tel.: (83) 247-2043 28  UFES Rev. Odontol., Vitória, v.7, n.3, p.23-28, set./dez. 2005 Síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS): aspectos de interesse odontológico L. S. SOUZA e A. L. CAVALCANTI