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TECNOLOGIA ASSISTIVA
As impressoras 3D, populares em todo o mundo, ganham
uma nova e importante missão: ajudar crianças com
deficiência a realizarem tarefas do cotidiano,
aumentando sua qualidade de vida
texto Brenda Cruz fotos Marcos Florence
mãozinha
high tech
Revista D+ número 13
Q
uando o Rafa fez quatro anos, ele começou a
perguntar se a mãozinha dele ia crescer, eu ex-
pliquei que não, mas que ele poderia ter uma
de robô!”.
Foi a partir desse diálogo que Mariângela Fernandes
Martins Gabriel, 44 anos, teve a ideia de buscar uma alter-
nativa para realizar o sonho de seu filho, Rafael Fernandes
Gabriel, hoje com cinco anos, que tem malformação congê-
nita no braço direito. Na internet ela buscou vídeos e infor-
mação sobre o assunto, e encontrou o contato da Associa-
ção Dar a Mão, que desde 2015 oferece uma estrutura de
apoio organizada, direcionada a indivíduos com agenesia
de membros ou nascidos com má-formações congênitas,
e seus familiares.
Com sede em São João do Ivaí, norte do Paraná, a As-
sociação atende 150 pessoas e conta com parcerias para
atender todos que a procuram. A parte técnica de pesquisa
e desenvolvimento fica com a engenheira Lúcia Miyake e
sua equipe do Pota – Produtos Orientados para Tecnologia
Assistiva, do Curso de Pós Graduação em Engenharia e
Produção de Sistemas da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (PUC-PR) e com a equipe da Comissão de Aces-
sibilidade do Lions Clube Curitiba Batel, além de um grupo
de voluntários de diferentes localidades.
“Uma equipe multidisciplinar foi montada na PUC-PR
para dar suporte ao projeto, incluindo profissionais da área
da saúde (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicó-
loga), engenheiros, especialistas em tecnologia assistiva
e voluntários de diversas áreas de atuação que, soma-
dos aos demais voluntários da entidade, prestam auxílio
de forma solidária”, explica Geane Poteriko, presidente da
Associação Dar a Mão.
Foi através do apoio do Consórcio Intermunicipal de
Saúde de Ivaiporã, que a Associação adquiriu uma im-
pressora 3D para auxiliar na produção dos dispositivos. O
engenheiro voluntário João Alberto de Oliveira (de Ivaiporã,
PR) tem ajudado no desenvolvimento dos projetos, com um
grupo de voluntários de várias regiões do Brasil que pos-
suem impressora 3D e se sensibilizaram com a causa.
Com quase dois anos de atuação, o Dar a Mão já en-
tregou cinco dispositivos protéticos para crianças que
seguem em acompanhamento na reabilitação, e “outros
cinco projetos estão em fase de finalização na produção
para serem entregues ainda neste mês”, conta Geane. A
Associação recomenda o início da protetização depois dos
quatro anos de idade, por medidas de segurança e melhor
desempenho na reabilitação.
“Quando o Rafa soube que ia ganhar a mão, ficou super
feliz! Fazia o coração com as duas mãos toda hora. A pri-
meira coisa que ele disse foi: ‘Agora eu consigo contar até
dez!’. Para nós, pais, foi muita emoção”, revela Mariângela.
Rafael Fernandes Gabriel ganhou a mãozinha do
Batman na Associação Dar a Mão
Rafa já utiliza normalmente sua nova mão, estilizada
com o tema do Batman, para as brincadeiras que todo ga-
roto gosta. “Ele usa às vezes na educação física para tomar
água ou suco, nas brincadeiras que precisa usar as duas
mãos, sem falar na questão psicológica, que foi absurda-
mente positiva”, conta a mãe.
BENEFÍCIO EM TODOS OS CAMPOS
É natural que, quando uma criança nasce com ausên-
cia ou má-formação de membro, seja este braço, mão ou
dedo, ela aprende a realizar todas as atividades à sua ma-
neira. Mas em algumas situações a dificuldade pode ser
mais acentuada.
Geane Poteriko aponta que nos casos de amputação,
com a perda da capacidade manipulatória, a criança tem
uma vida menos funcional, e pode se tornar mais depen-
dente e ter um futuro marcado pela exclusão na sociedade,
além de dificuldades de autoestima e aceitação pessoal.
“As próteses feitas por impressão 3D estão possibilitan-
do a pessoas com deficiência física, em especial às crian-
ças, a recuperação da autoestima e qualidade de vida”,
declara Geane, que aponta os problemas das próteses
existentes no mercado e oferecidas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). “Essas próteses mais populares no mercado
não são capazes de repor a função do membro perdido,
apresentam altos índices de rejeição, são inadequadas
para o uso infantil por serem pesadas e não acompanha-
rem o crescimento da criança, além do fato de terem ele-
vados custos, o que as tornam inacessíveis à maioria da
população brasileira”.
“As próteses feitas por
impressão 3D possibilitam
a recuperação da autoestima
e qualidade de vida”
Geane Poteriko, presidente
da Associação Dar a Mão
TECNOLOGIA ASSISTIVA
Reabilitação Muda Tudo
A reabilitação para a o uso de próteses em 3D é de
extrema importância para que a pessoa consiga realizar de
forma funcional todas as possibilidades da nova prótese.
Essa reabilitação consiste no fortalecimento muscular e
também na preensão de diferentes objetos com a prótese,
dando início pelos mais leves e progredindo para os pe-
sados de acordo com a capacidade máxima do paciente.
“As sessões variam conforme o usuário. Por exemplo,
para crianças menores, as atividades são mais lúdicas: brin-
cadeiras, disputas, exercícios com brinquedos etc”, expli-
ca Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão.
Todos os exercícios são orientados e acompanhados por
profissionais habilitados.
Sem dúvidas, uma prótese com temática de super-he-
róis, desenhos animados e coloridos são mais atrativas
para as crianças. “O Rafa vai para a escola desde bebê,
e os seus amigos ficaram tão ansiosos quanto ele. Temos
um grupo de pais e eu enviei fotos do Rafa e todos os ami-
gos começaram a mandar áudios dando parabéns, dizen-
do que era o máximo a mãozinha do Batman. Foi muito
wemocionante!”.
Com esse novo modo de produção, o dispositivo fica
mais leve, mais barato e mais bonito, incentivando e mo-
tivando as crianças na aceitação de sua deficiência. É o
que outro grupo, da Universidade Federal de São Paulo, do
campus de São José dos Campos (Unifesp), vem fazendo
com o projeto Mao3D.
Coordenado pela Profa. Dra. Maria Elizete Kunkel, o
grupo atua desde janeiro de 2015 e tem parceira com o Ins-
tituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Universidade Federal
de São Paulo e o Centro de Reabilitação Lucy Montoro, am-
bos em São José dos Campos. O Mao3D faz parte da Rede
Nacional de Núcleos de Pesquisa em Tecnologia Assistiva.
O projeto tem o objetivo de protetizar e reabilitar crian-
ças e adultos da Região do Vale do Paraíba que possuem
má-formação ou amputação de braços, mãos ou dedos,
com próteses feitas por impressão 3D.
Rafael, 5 anos, e Gabriel, 9, desenvolvem o uso da prótese a partir da reabilitação. Os garotos aprendem brincando
“As próteses feitas por
impressão 3D possibilitam
a recuperação da autoestima
e qualidade de vida”
Geane Poteriko, presidente
da Associação Dar a Mão
Revista D+ número 13
Você Sabia?
O e-Nable é uma comunidade mundial que disponibi-
liza modelos de próteses de mão para impressão 3D. O
projeto Mao3D está adaptando os modelos da e-Nable
para que possam ser usados no Brasil.
Conheça: enablingthefuture.org
www.facebook.com/Mao3D
www.associaçãodaramao.blogspot.com.br
“Ano passado tínhamos uma meta muito ousada de pro-
duzir 100 próteses. A meta era viável, mas não contávamos
que o processo de reabilitação deveria ser bem mais explo-
rado, pois é uma etapa fundamental para a protetização”,
conta Maria Elizete. “Para 2017 não temos um número fixo,
mas queremos focar mais na reabilitação de cada criança
que receber a prótese. Esse é o caso do Gabriel, por exem-
plo, cuja reabilitação já acontece há três meses”, esclarece.
Gabriel Moreira dos Santos, de nove anos, sofreu am-
putação das pernas e dos braços com apenas um ano de
idade, devido à meningite. Morador de Taubaté, São Paulo,
o garoto ganhou suas primeiras próteses – das pernas –
pela Rede Lucy Montoro, unidade Lapa, com dois anos de
idade, mas a primeira experiência com próteses de mem-
bros superiores foi através do projeto Mao3D.
O pai de Gabriel, Ricardo dos Santos, 48 anos, fala so-
bre a adaptação: “Com as próteses das pernas, ele conse-
guiu se adaptar rapidinho, e com as dos braços não está
sendo diferente. Até agora, ele só pôde levar para casa no
período de férias, para treinar o que aprende na reabilita-
ção. Enquanto ele não tiver alta da reabilitação a prótese
não fica com a gente”.
A coordenadora do Mao3D, Maria Elizete, conta que
muitos pais escrevem pedindo uma prótese, mas a maioria
não entende que não é só receber a prótese. “É necessário
longo processo de reabilitação, ao qual precisamos garantir
a presença da criança, por isso ainda não estamos aten-
dendo pessoas de fora da região”, finaliza. D+
Atividades lúdicas, exercícios com brinquedos fazem parte da reabilitação
e ajudam no fortalecimento muscular da criança
Patrícia Abe é terapeuta ocupacional e voluntária do Mao3D.
Ela faz o acompanhamento de Gabriel
As próteses em 3D são mais baratas e têm menos rejeição que as
disponíveis no mercado. As crianças ficam empolgadas em escolher
o tema de suas novas mãozinhas
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  • 1. TECNOLOGIA ASSISTIVA As impressoras 3D, populares em todo o mundo, ganham uma nova e importante missão: ajudar crianças com deficiência a realizarem tarefas do cotidiano, aumentando sua qualidade de vida texto Brenda Cruz fotos Marcos Florence mãozinha high tech
  • 2. Revista D+ número 13 Q uando o Rafa fez quatro anos, ele começou a perguntar se a mãozinha dele ia crescer, eu ex- pliquei que não, mas que ele poderia ter uma de robô!”. Foi a partir desse diálogo que Mariângela Fernandes Martins Gabriel, 44 anos, teve a ideia de buscar uma alter- nativa para realizar o sonho de seu filho, Rafael Fernandes Gabriel, hoje com cinco anos, que tem malformação congê- nita no braço direito. Na internet ela buscou vídeos e infor- mação sobre o assunto, e encontrou o contato da Associa- ção Dar a Mão, que desde 2015 oferece uma estrutura de apoio organizada, direcionada a indivíduos com agenesia de membros ou nascidos com má-formações congênitas, e seus familiares. Com sede em São João do Ivaí, norte do Paraná, a As- sociação atende 150 pessoas e conta com parcerias para atender todos que a procuram. A parte técnica de pesquisa e desenvolvimento fica com a engenheira Lúcia Miyake e sua equipe do Pota – Produtos Orientados para Tecnologia Assistiva, do Curso de Pós Graduação em Engenharia e Produção de Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e com a equipe da Comissão de Aces- sibilidade do Lions Clube Curitiba Batel, além de um grupo de voluntários de diferentes localidades. “Uma equipe multidisciplinar foi montada na PUC-PR para dar suporte ao projeto, incluindo profissionais da área da saúde (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicó- loga), engenheiros, especialistas em tecnologia assistiva e voluntários de diversas áreas de atuação que, soma- dos aos demais voluntários da entidade, prestam auxílio de forma solidária”, explica Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão. Foi através do apoio do Consórcio Intermunicipal de Saúde de Ivaiporã, que a Associação adquiriu uma im- pressora 3D para auxiliar na produção dos dispositivos. O engenheiro voluntário João Alberto de Oliveira (de Ivaiporã, PR) tem ajudado no desenvolvimento dos projetos, com um grupo de voluntários de várias regiões do Brasil que pos- suem impressora 3D e se sensibilizaram com a causa. Com quase dois anos de atuação, o Dar a Mão já en- tregou cinco dispositivos protéticos para crianças que seguem em acompanhamento na reabilitação, e “outros cinco projetos estão em fase de finalização na produção para serem entregues ainda neste mês”, conta Geane. A Associação recomenda o início da protetização depois dos quatro anos de idade, por medidas de segurança e melhor desempenho na reabilitação. “Quando o Rafa soube que ia ganhar a mão, ficou super feliz! Fazia o coração com as duas mãos toda hora. A pri- meira coisa que ele disse foi: ‘Agora eu consigo contar até dez!’. Para nós, pais, foi muita emoção”, revela Mariângela. Rafael Fernandes Gabriel ganhou a mãozinha do Batman na Associação Dar a Mão Rafa já utiliza normalmente sua nova mão, estilizada com o tema do Batman, para as brincadeiras que todo ga- roto gosta. “Ele usa às vezes na educação física para tomar água ou suco, nas brincadeiras que precisa usar as duas mãos, sem falar na questão psicológica, que foi absurda- mente positiva”, conta a mãe. BENEFÍCIO EM TODOS OS CAMPOS É natural que, quando uma criança nasce com ausên- cia ou má-formação de membro, seja este braço, mão ou dedo, ela aprende a realizar todas as atividades à sua ma- neira. Mas em algumas situações a dificuldade pode ser mais acentuada. Geane Poteriko aponta que nos casos de amputação, com a perda da capacidade manipulatória, a criança tem uma vida menos funcional, e pode se tornar mais depen- dente e ter um futuro marcado pela exclusão na sociedade, além de dificuldades de autoestima e aceitação pessoal. “As próteses feitas por impressão 3D estão possibilitan- do a pessoas com deficiência física, em especial às crian- ças, a recuperação da autoestima e qualidade de vida”, declara Geane, que aponta os problemas das próteses existentes no mercado e oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Essas próteses mais populares no mercado não são capazes de repor a função do membro perdido, apresentam altos índices de rejeição, são inadequadas para o uso infantil por serem pesadas e não acompanha- rem o crescimento da criança, além do fato de terem ele- vados custos, o que as tornam inacessíveis à maioria da população brasileira”. “As próteses feitas por impressão 3D possibilitam a recuperação da autoestima e qualidade de vida” Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão
  • 3. TECNOLOGIA ASSISTIVA Reabilitação Muda Tudo A reabilitação para a o uso de próteses em 3D é de extrema importância para que a pessoa consiga realizar de forma funcional todas as possibilidades da nova prótese. Essa reabilitação consiste no fortalecimento muscular e também na preensão de diferentes objetos com a prótese, dando início pelos mais leves e progredindo para os pe- sados de acordo com a capacidade máxima do paciente. “As sessões variam conforme o usuário. Por exemplo, para crianças menores, as atividades são mais lúdicas: brin- cadeiras, disputas, exercícios com brinquedos etc”, expli- ca Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão. Todos os exercícios são orientados e acompanhados por profissionais habilitados. Sem dúvidas, uma prótese com temática de super-he- róis, desenhos animados e coloridos são mais atrativas para as crianças. “O Rafa vai para a escola desde bebê, e os seus amigos ficaram tão ansiosos quanto ele. Temos um grupo de pais e eu enviei fotos do Rafa e todos os ami- gos começaram a mandar áudios dando parabéns, dizen- do que era o máximo a mãozinha do Batman. Foi muito wemocionante!”. Com esse novo modo de produção, o dispositivo fica mais leve, mais barato e mais bonito, incentivando e mo- tivando as crianças na aceitação de sua deficiência. É o que outro grupo, da Universidade Federal de São Paulo, do campus de São José dos Campos (Unifesp), vem fazendo com o projeto Mao3D. Coordenado pela Profa. Dra. Maria Elizete Kunkel, o grupo atua desde janeiro de 2015 e tem parceira com o Ins- tituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Universidade Federal de São Paulo e o Centro de Reabilitação Lucy Montoro, am- bos em São José dos Campos. O Mao3D faz parte da Rede Nacional de Núcleos de Pesquisa em Tecnologia Assistiva. O projeto tem o objetivo de protetizar e reabilitar crian- ças e adultos da Região do Vale do Paraíba que possuem má-formação ou amputação de braços, mãos ou dedos, com próteses feitas por impressão 3D. Rafael, 5 anos, e Gabriel, 9, desenvolvem o uso da prótese a partir da reabilitação. Os garotos aprendem brincando “As próteses feitas por impressão 3D possibilitam a recuperação da autoestima e qualidade de vida” Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão
  • 4. Revista D+ número 13 Você Sabia? O e-Nable é uma comunidade mundial que disponibi- liza modelos de próteses de mão para impressão 3D. O projeto Mao3D está adaptando os modelos da e-Nable para que possam ser usados no Brasil. Conheça: enablingthefuture.org www.facebook.com/Mao3D www.associaçãodaramao.blogspot.com.br “Ano passado tínhamos uma meta muito ousada de pro- duzir 100 próteses. A meta era viável, mas não contávamos que o processo de reabilitação deveria ser bem mais explo- rado, pois é uma etapa fundamental para a protetização”, conta Maria Elizete. “Para 2017 não temos um número fixo, mas queremos focar mais na reabilitação de cada criança que receber a prótese. Esse é o caso do Gabriel, por exem- plo, cuja reabilitação já acontece há três meses”, esclarece. Gabriel Moreira dos Santos, de nove anos, sofreu am- putação das pernas e dos braços com apenas um ano de idade, devido à meningite. Morador de Taubaté, São Paulo, o garoto ganhou suas primeiras próteses – das pernas – pela Rede Lucy Montoro, unidade Lapa, com dois anos de idade, mas a primeira experiência com próteses de mem- bros superiores foi através do projeto Mao3D. O pai de Gabriel, Ricardo dos Santos, 48 anos, fala so- bre a adaptação: “Com as próteses das pernas, ele conse- guiu se adaptar rapidinho, e com as dos braços não está sendo diferente. Até agora, ele só pôde levar para casa no período de férias, para treinar o que aprende na reabilita- ção. Enquanto ele não tiver alta da reabilitação a prótese não fica com a gente”. A coordenadora do Mao3D, Maria Elizete, conta que muitos pais escrevem pedindo uma prótese, mas a maioria não entende que não é só receber a prótese. “É necessário longo processo de reabilitação, ao qual precisamos garantir a presença da criança, por isso ainda não estamos aten- dendo pessoas de fora da região”, finaliza. D+ Atividades lúdicas, exercícios com brinquedos fazem parte da reabilitação e ajudam no fortalecimento muscular da criança Patrícia Abe é terapeuta ocupacional e voluntária do Mao3D. Ela faz o acompanhamento de Gabriel As próteses em 3D são mais baratas e têm menos rejeição que as disponíveis no mercado. As crianças ficam empolgadas em escolher o tema de suas novas mãozinhas fotos:Arquivopessoal