4. ÍNDICE
Prefácio
1 O Plano de Deus
2 A Redenção de Cristo
3 A Aplicação do Espírito
4 Os Crentes
5 A Igreja
6 O Reino (1)
7 O Reino (2)
8 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (1)
9 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (2)
10 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (3)
11 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (4)
5. PREFÁCIO
Os capítulos neste livro são extraídos de mensagens dadas por
Witness Lee em Irving, Texas, no outono de 1983. Eles cobrem a revelação
básica e fundamental contida na Palavra de Deus. A Bíblia como a
completa revelação divina é profunda, e embora revele muitas verdades,
sua revelação essencial abrange sete verdades. São elas: O plano de Deus,
a redenção de Cristo, a aplicação do Espírito, os crentes, a igreja, o reino e
a Nova Jerusalém.
O plano de Deus inclui Seu bom prazer, Seu propósito, e Sua
economia divina com Sua eleição, predestinação e criação do homem. Tudo
o que Deus planejou foi cumprido por meio da redenção de Cristo. Para o
cumprimento da redenção, Cristo deu quatro passos principais —
encarnação, crucificação, ressurreição e ascensão. O Espírito todo-
inclusivo que dá vida aplica tudo o que o Pai planejou e tudo o que o Filho
cumpriu aos crentes, que são os componentes da igreja, a qual é o objetivo
de Deus. O reino é a esfera ou o domínio onde Deus leva a cabo o Seu
propósito, cumpre Sua vontade, exerce Sua justiça, exibe Sua multiforme
sabedoria e governa em Sua vida. A Nova Jerusalém é a conclusão da
revelação completa de Deus em Sua economia. Ela é a consumação final e
máxima da obra de edificação de Deus ao longo de todas as gerações.
Aqueles de nós que estávamos nas reuniões quando estas mensagens
foram dadas nunca poderemos esquecer a profundidade da revelação que
fluiu. Muitos de nós sentimos que, pela primeira vez, vimos
verdadeiramente a essência da revelação divina. A visão concernente a
todas estas verdades preciosas foi profundamente trabalhada para dentro
de nós enquanto a Palavra estava sendo aberta. Esta é uma palavra que
todos os filhos do Senhor necessitam ouvir, e oramos para que o conteúdo
deste livro seja uma palavra oportuna para muitos. Adoramos ao Senhor,
pois Ele nos tem falado tal palavra todo-abrangente por intermédio de
nosso irmão; e que ela possa tornar-se disponível a todos neste momento.
Precisamos orar e ter comunhão sobre todos os versículos e assuntos
contidos nos capítulos seguintes, confiando no Senhor a fim de que nos
conceda uma visão clara sobre a revelação básica nas Escrituras Sagradas.
Que o Senhor conceda a cada um de nós um espírito de sabedoria e de
revelação no pleno conhecimento de todas essas verdades e que possamos
experiencialmente entrar na realidade de cada uma delas. Oramos também
para que essas mensagens produzam muitos frutos em toda parte da terra.
Dezembro de 1984 Benson Phillips
Irving, Texas
6. CAPÍTULO UM
O PLANO DE DEUS
Leitura da Bíblia: Ef 1:4, 5, 9-11; 3:2, 8, 9, 11; Cl 1:25; 1 Co 9:17; 1
Pe 1:1,2; Rm 8:30; Gn 1:26a, 27; 2:7; Zc 12:1
A revelação divina nos sessenta e seis livros da Bíblia é extremamente
profunda. Existem sete pontos básicos nesta revelação profunda. Os
primeiros três pontos são o plano de Deus, a redenção de Cristo e a
aplicação do Espírito. Esses três pontos envolvem a Trindade divina —
Deus, Cristo e o Espírito. O que Deus planejou, Ele cumpriu pela redenção
de Cristo. O que Ele cumpriu em Cristo, Ele aplica a nós por meio do
Espírito. Os últimos quatro pontos são os crentes, a igreja, o reino e a
consumação final e máxima, a Nova Jerusalém. Neste capítulo cobriremos
o primeiro item da revelação básica na Bíblia — o plano de Deus.
O BOM PRAZER DE DEUS - O DESEJO DO SEU CORAÇÃO
A Bíblia revela claramente o plano de Deus. A maioria dos cristãos
valorizam dois livros entre os escritos de Paulo — Romanos e Efésios.
Romanos começa com a nossa condição como pecadores, gênero humano
caído, mas Efésios inicia levando-nos para dentro do coração de Deus. Em
Romanos 1 podemos ver a nossa condição de pecadores, mas em Efésios
podemos ver que há alguma coisa no coração de Deus. A palavra
beneplácito é usada duas vezes neste capítulo (vs. 5 e 9). Deus tem um
beneplácito, e esse bom prazer é o desejo do Seu coração. Na eternidade
passada Deus estava só. Não podemos imaginar como era a eternidade
passada, mas Efésios 1 nos diz que antes da criação do universo Deus
tinha um desejo no coração. Ele tinha um bom prazer. O que Ele queria
pode ser expresso pela simples palavra "filiação" (1:5). Filiação é o desejo do
coração de Deus.
Depois de Deus ter feito Adão, Ele disse que não era bom que o
homem estivesse só (Gn 2:18). Esta palavra pode ser também aplicada a
Deus na eternidade passada. Não era bom que Deus estivesse só. Ele tinha
um desejo de gerar muitos filhos. Efésios 1 nos diz que Deus nos
predestinou para a filiação. Muitos cristãos podem pensar que a
predestinação de Deus é para a salvação; mas de acordo com Efésios, na
eternidade passada o primeiro pensamento no coração de Deus não era
salvação. Seu pensamento principal era a filiação. Deus preconhecia que
Sua criação cairia. Por causa da queda, houve o plano de salvação, de
modo que a salvação foi proposta para a filiação. O desejo de Deus é gerar
muitos filhos.
Recentemente numa reunião de oração em Irving, Texas, vi três
jovens. Ao olhar para a face deles, pude ver que eles eram os filhos de um
certo irmão. Todos os três possuem uma forte semelhança com o pai; eles
são a sua própria expressão.
7. Quanto mais filhos um pai tem, mais expressão ele tem. Romanos
8:29 nos diz que o Filho unigênito de Deus tornou-se o primogênito entre
muitos irmãos. O Filho unigênito de Deus em João 1:18 e 3:16 tornou-se,
por meio da ressurreição (At 13:33), o Filho primogênito. Primogênito
implica que outros filhos vieram depois. Agora Deus não somente tem um
Filho, mas muitos. O Filho primogênito de Deus, Cristo, tem milhões de
irmãos. Ao longo destes vinte séculos muitos têm sido regenerados e,
assim, têm-se tornado filhos de Deus. Todos esses filhos são os irmãos do
primogênito Filho de Deus (Jo 20:17; Hb 2:10-12). Que filiação enorme!
Quando jovem, estive com alguns santos que conheciam muito bem a
Bíblia. Eles enfatizavam a predestinação de Deus, mas nunca os ouvi dizer
qual é o alvo da predestinação de Deus. Depois de muitos anos de estudo
da Bíblia, vi que nós fomos predestinados para filiação.
Subconscientemente eu pensava que éramos predestinados para salvação.
Alguns diriam que fomos predestinados para os céus. Não é nem salvação
nem os céus o alvo da predestinação de Deus; é a filiação (Ef 1:5).
A versão de João Ferreira de Almeida traduz essa palavra por "adoção
de filhos", mas a palavra na língua original significa filiação. Ela não quer
dizer filhos adotados por um pai, mas filhos nascidos diretamente de um
pai gerador. O desejo do coração de Deus, então, é ter uma grande
multidão de filhos que O expressem, não somente nesta era mas também
pela eternidade.
O PROPÓSITO DE DEUS - SEU PLANO
Baseado no desejo do Seu coração, Deus estabeleceu um propósito
(Ef 3:11). O propósito de Deus foi estabelecido de acordo com Seu bom
prazer. Efésios 1:9 diz que Deus propôs Seu bom prazer. Isso significa que,
de acordo com o que Ele desejava, Ele fez um plano. Desde que Deus tinha
tal bom prazer, Ele fez um plano. Em Efésios 3:11 Paulo nos diz novamente
que Deus fez um plano em Cristo, um plano eterno, um propósito eterno.
A ECONOMIA DE DEUS -SEU ARRANJO ADMINISTRATIVO
Economia é uma palavra aportuguesada do grego oikonomia. Ela
significa a lei de uma casa, ou administração familiar. Em 1 Timóteo 1:4
essa palavra é usada para arranjo, plano, administração ou gerenciamento.
No Velho Testamento a casa de Faraó necessitava de alguma administração
familiar ou arranjo, e José foi colocado ali para tomar conta daquela
administração. O que ele fazia era principalmente distribuir o rico alimento
aos famintos (Gn 41:33-41, 54-57); e aquela distribuição era um dispensar.
A administração da casa de Faraó foi uma economia levada a cabo para
dispensar as riquezas ao povo. No Novo Testamento essa palavra é
principalmente usada por Paulo. Mas a mesma palavra é usada pelo
Senhor Jesus em Lucas 16:2-4, referindo-se ao mordomado de um
despenseiro. José podia ser considerado como o despenseiro de Faraó, e
sua responsabilidade, como sua economia. Aquela atribuição, seu
mordomado, era para dispensar a rica comida que Faraó possuía para
alimentar os famintos.
8. Sua Dispensação
Em Efésios, Paulo nos diz que ele foi designado por Deus como um
despenseiro, e que, com isso, Deus deu-lhe a responsabilidade, o dever, o
qual é chamado mordomado (3:2). A palavra grega para mordomado é a
mesma palavra para dispensação. Quer seja ela traduzida por mordomado
quer por dispensação, isso depende do contexto. Em Efésios 3:2, Paulo diz
que Deus deu-lhe o mordomado da Sua graça. Então, a mesma palavra
grega, oikonomia, é encontrada em 1:10 e 3:9, onde parece melhor traduzi-
la por dispensação. Esta palavra "economia" denota principalmente um
plano, uma administração, um gerenciamento, para dispensar as riquezas
de uns para outros.
Paulo considerava que Deus tinha uma grande família para suprir
com Suas riquezas. Em Efésios 3:8 ele diz que Deus o designou para
pregar, ministrar, distribuir ou dispensar as riquezas insondáveis de
Cristo. Essas riquezas estão na casa de Deus. Existe um depósito das
riquezas insondáveis de Cristo, e Deus designou os apóstolos (Pedro, João,
Tiago e Paulo) para serem despenseiros a fim de dispensar essas riquezas a
todo o povo escolhido de Deus.
Mordomado é o mesmo que dispensar. José cumpriu seu mordomado
dispensando comida. Sua responsabilidade, seu ofício, seu dever era
distribuir a rica comida aos necessitados. Aquela distribuição era um
dispensar.
Alguns mestres da Bíblia têm ensinado que existem sete
dispensações na Bíblia. No Velho Testamento há as dispensações da
inocência, consciência, governo humano, promessa e lei. Então, no Novo
Testamento há a dispensação da graça nesta era e a dispensação do reino
na era vindoura. Nessas sete dispensações, dizem eles, Deus trata com o
homem de sete maneiras diferentes.
Isso pode estar correto, mas não se esqueçam que as dispensações
são a administração familiar de Deus. Deus tem uma grande família, e
nesta família Ele necessita de uma administração, um plano, um
gerenciamento, para dispensar a Si mesmo para dentro de Sua família. O
pensamento principal de Deus, desde a eternidade passada, era ter um
arranjo ao longo das eras para dispensar-se para dentro de Seu povo
escolhido e predestinado. A esses Ele faria Seus filhos infundindo-se para
dentro deles para que pudessem ter a vida divina pelo novo nascimento.
Nas catorze epístolas de Paulo podemos ver que Deus tinha um bom
prazer, de acordo com o qual Ele fez um plano, um propósito. Ele criou o
homem à Sua própria imagem, e na plenitude dos tempos infundiu-se para
dentro de todos aqueles criados e escolhidos para que eles pudessem
tornar-se Seus filhos, expressando-O. Este é o plano de Deus e esta é a
dispensação de Deus para o Seu dispensar.
Em português, as palavras dispensação e dispensar são ambas
formas do verbo dispensar. Quando uso a palavra dispensação, quero dizer
economia, arranjo ou gerenciamento. Mas, quando uso a palavra
dispensar, quero dizer o distribuir das riquezas divinas para dentro do
9. povo de Deus. Dispensação denota o arranjo, o gerenciamento, o plano, a
economia. Dispensar refere-se ao distribuir do próprio Deus como vida e
suprimento de vida para dentro de Seu povo escolhido em Cristo.
Seu Dispensar
Em Efésios 1:10 e 3:9, a palavra oikonomia é usada para
administração familiar, a qual é o plano de Deus para dispensar-se para
dentro de Seu povo escolhido. Em Efésios 3:2, Colossenses 1:25 e 1
Coríntios 9:17 a mesma palavra refere-se ao mordomado de Paulo. A
palavra mordomado é usada no sentido de dispensar. O mordomado de
Paulo era o dispensar das riquezas insondáveis de Cristo para dentro do
povo escolhido de Deus. Com Paulo, a palavra mordomado refere-se ao
dispensar divino.
A palavra despenseiro é usada em 1 Pedro 4:10, que diz que todos
nós precisamos ser bons despenseiros da multi-forme graça de Deus. A
multiforme graça do rico Deus necessita de muitos despenseiros para
dispensá-la; este dispensar é o mordomado deles.
O que estou fazendo neste ministério é dispensar as riquezas de
Cristo. Se você me disser que sou um bom mestre da Bíblia, aprecio sua
palavra, mas não gosto de ouvi-la. Não me considere um mestre! Sou um
despenseiro! Não estou meramente ensinando a Bíblia; estou dispensando.
Certa vez fui tomar uma injeção contra gripe. Havia uma longa fila de
pessoas, e todos tínhamos de oferecer nosso braço de modo que
pudéssemos tomar a injeção. Em meu ministério quero dar às pessoas uma
injeção das riquezas de Cristo! Tenho a plena certeza de que quem quer
que venha a este ministério, obterá tal injeção!
Nosso mordomado hoje é o mesmo de Paulo. O mordomado de Paulo
era simplesmente aplicar uma injeção nas pessoas, isto é, distribuir,
dispensar as riquezas insondáveis de Cristo para dentro do povo escolhido
de Deus. Esta é a economia de Deus, Seu plano, Sua administração.
A ESCOLHA DE DEUS
Deus tem um bom prazer, e segundo o Seu bom prazer Ele fez um
plano. Por conseguinte, Ele arranjou uma administração universal de Sua
casa para dispensar Suas riquezas para dentro de Seu povo escolhido.
Então nos selecionou, não somente antes de sermos criados, mas também
antes da fundação do mundo (Ef 1:4; 1 Pe 1:1, 2). Nada de Sua criação
tinha vindo ainda à existência quando Ele nos selecionou.
E difícil comprar coisas em um shopping center porque existem
muitas coisas para escolher. As pessoas não compram cegamente; elas
consideram e escolhem cuidadosamente o que comprarão. Na eternidade
passada, antes de Sua criação, Deus me viu e disse: "Eu gosto deste." Sem
ter sido escolhido, não creio que me teria tornado um cristão. Mesmo tendo
nascido no cristianismo, eu não era um cristão até os dezenove anos. Fui
educado dentro do cristianismo, mas ainda não cria. Entretanto, um dia
Deus me tocou e disse: "Eu quero você." Naquele dia fui capturado. E
quanto a vocês? Atrás do cenário há uma mão poderosa e eterna dirigindo
10. todas as coisas. Nossa seleção é uma coisa maravilhosa.
Nosso Pai celestial fica alegre quando nos vê. Somos o desejo de Seu
coração, Seu bom prazer. O prazer de Deus não está na lua, no sol, no céu
ou na terra. Ele nos diz claramente em Sua Palavra que Ele não fica
satisfeito apenas com a terra e o céu. O que O satisfaz é Seu povo
escolhido. Somos Seu bom prazer, e Seu plano foi feito para nós.
SUA PREDESTINAÇÃO
Seguindo Sua escolha, Deus nos predestinou (Ef 1:5; Rm 8:30). A
Nova Tradução Bíblica de Darby* traduz esta palavra "predestinados" em
Efésios 1:5 como "marcados de antemão." Você já havia percebido que
antes da fundação do mundo fora marcado? Você não pode escapar da mão
de Deus. Tentei um bom número de vezes, mas nunca consegui! Quanto
mais tentava, mais forte Ele me agarrava. Aonde você irá para escapar de
Deus? Aonde quer que você vá, ali está Ele (SI 139:7-10). Algumas vezes
pode ser que você tenha se aborrecido por vir às reuniões da igreja e
decidiu ir a algum outro lugar. Quando chegou lá, o Senhor Jesus estava
lhe esperando! Isso mostra que você foi marcado.
A CRIAÇÃO DE DEUS
Após o bom prazer de Deus, após o Seu plano (arranjo,
administração, economia), após Sua escolha e Sua predestinação, Ele veio
à Sua criação. O registro da criação do homem por Deus é muito breve. Há
somente dois versículos. Gênesis 1:26 é a própria palavra de Deus, e o
versículo seguinte é o registro de Moisés. Nesses dois versículos estão
três pontos cruciais.
__________
*N. do T.: Versão em inglês.
O Conselho da Trindade Divina
Primeiro, o versículo 26 indica a Trindade divina. A palavra Elohim
(Deus) é plural, e na Sua própria fala Deus usa as palavras "Façamos" e
"nossa": "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança." Os pronomes referentes a Deus estão no plural. É fácil
perceber que isso implica na Trindade divina.
Alguns mestres têm salientado que quando Deus disse: "Façamos o
homem...", isso era uma conversa em uma reunião. A Trindade divina teve
uma reunião para considerar a criação do homem. Ao criar outras coisas,
não houve tal conversa registrada. A criação do homem, então, deve ter
sido crucial. Criar o céu e a terra não foi tão importante como a criação do
homem. O homem é o centro do propósito de Deus na criação.
A Criação do Homem à Imagem de Deus, Conforme a Sua
Semelhança
O segundo ponto é que somente o homem foi feito à imagem de Deus
e conforme a Sua semelhança. O tigre não foi feito à imagem de Deus, nem
11. o elefante foi feito conforme à Sua semelhança. Gênesis 1:26 diz: "Façamos
o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança."
Imagem refere-se ao ser interior; semelhança refere-se à expressão
exterior. Você pode referir-se a Colossenses 1:15, que fala de Cristo como a
"imagem do Deus invisível." Como pode um Deus invisível ter uma
semelhança exterior? Não posso explicar isso. Isso é um mistério. É como
em João 1:14, que diz que Deus como a Palavra tornou-se carne. Em
Gênesis 18, entretanto, Ele apareceu a Abraão como um homem. Abraão
lavou Seus pés e preparou uma refeição para Ele (vs. 4-8). Ele apareceu
novamente em Juizes 13, dessa vez à mãe de Sansão. Ela viu esse Homem,
que, após falar-lhe e a seu marido, ascendeu (v. 20). Eis aqui uma
ascensão antes de Atos 1! Como podemos conciliar essas porções do Velho
Testamento com o Novo? Não podemos.
É igualmente uma maravilha, um mistério, que Deus tenha criado o
homem à Sua imagem. Em 2 Coríntios 3:18 diz que estamos sendo
transformados à Sua imagem. Em Romanos 12:2 diz que somos
"transformados pela renovação da mente." Esses versículos indicam que a
imagem é algo interior, composta da mente, emoção e vontade. O órgão que
pensa, o órgão que ama e o órgão que decide compõem o ser interior. O
homem é feito de modo maravilhoso. Mesmo depois da queda, o homem
ainda é maravilhoso (SI 139:14). Somos seres maravilhosos porque fomos
criados por Deus desta forma.
Para a Expressão de Deus
O terceiro ponto é que o homem foi feito para expressar Deus. Tanto
imagem como semelhança denotam expressão. Quando Deus criou o
homem à Sua imagem e à Sua semelhança, Ele não colocou a vida divina
dentro dele. A vida divina não foi infundida ao homem criado até que Jesus
por nós veio, morreu e foi ressuscitado. Agora, quem quer que creia Nele
tem a vida eterna (Jo 3:16). Se temos o Filho, temos esta vida divina. Se
não temos o Filho, não temos esta vida (1 Jo 5:12). A vida de Deus não
entrou no homem criado até o cumprimento da plena redenção de Cristo.
De Três Partes
Deus criou o homem com a intenção de um dia entrar nele e de que o
homem fosse capaz de recebê-Lo. Romanos 9 revela que o homem criado
por Deus é um vaso com o propósito de conter algo. Assim como um copo é
um recipiente para conter água, também o homem foi feito um recipiente
para conter Deus.
Gênesis 2:7 nos diz como Deus fez o homem. Primeiro, Ele fez o corpo
do homem do pó da terra. Em seguida, Ele soprou o fôlego de vida para
dentro das narinas desse corpo de barro, e o homem tornou-se uma alma
vivente. Aqui neste versículo há o corpo, a alma e o fôlego de vida. A
palavra em hebraico para fôlego em Gênesis é traduzida por "espírito" em
Provérbios 20:27, o qual diz: "O espírito do homem é a lâmpada do
Senhor." Isso indica que o próprio fôlego de vida soprado para dentro de
Adão era o espírito humano. Dois materiais, então, foram usados para
12. formar o homem: o pó e o fôlego de vida. O pó tornou-se o corpo, e o fôlego
de vida tornou-se o espírito. Quando estas duas coisas juntaram-se um
subproduto surgiu: a alma. Assim, Paulo nos diz em 1 Tessalonicenses
5:23 que o ser humano é de três partes: espírito, alma e corpo.
Gênesis 1 nos diz que Deus criou o homem à Sua própria imagem e
semelhança; foi assim para que ele pudesse conter Deus. Um recipiente
deve ser do mesmo formato da coisa que ele conterá. Se algo é quadrado,
você não faria um recipiente redondo para ele. Se algo é redondo, você não
faria um recipiente quadrado para ele. O formato do recipiente é feito de
acordo com o formato do conteúdo. O homem foi feito à imagem e
semelhança de Deus.
Gênesis 1 nos diz que todas as coisas criadas produziram frutos
segundo a sua espécie (vs. 11, 12, 21, 24, 25). A macieira produz frutos
segundo a sua espécie, e o tigre segundo a sua espécie. O homem foi feito
segundo a espécie de Deus. Se duas árvores estão enxertadas juntas, elas
devem ser da mesma espécie; do contrário, o enxerto não funcionará.
Aleluia! O homem é da mesma espécie de Deus! Porque fomos criados
segundo a espécie de Deus, com a intenção de que fôssemos enxertados
juntos com Deus, esse "enxerto" funcionará e podemos tornar-nos um com
Deus.
A Parte Crucial — O Espírito do Homem
Deus criou o homem com um espírito, embora na época da criação
ele não tivesse a vida de Deus. Assim, a Bíblia nos diz: "Há um espírito no
homem" (Jó 32:8). Vinte e dois anos atrás, quando comecei a ministrar
neste país, dei mensagem após mensagem sobre o espírito humano. Muitos
santos me disseram que eles nunca haviam escutado isso antes. Tanto
Andrew Murray como a senhora Jesse Penn-Lewis enfatizaram o espírito.
Deus nos criou não somente com uma boca e um estômago para receber
alimento; Ele também nos criou com um espírito para recebê-Lo.
Dentro de um rádio existe um receptor. Sem o receptor, nenhuma das
ondas radiofônicas que estão no ar poderia ser recebida pelo rádio. O nosso
receptor para receber Deus é o nosso espírito. O Senhor Jesus disse em
João 4:24: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em
espírito e em verdade." Somente espírito pode adorar Espírito. Porque o
próprio Deus é Espírito, Ele criou-nos com um espírito com um propósito
definido para que pudéssemos adorá-Lo. Adorá-Lo inclui contatá-Lo,
conversar com Ele e recebê-Lo. Ele vem para dentro de nós por entrar no
nosso espírito.
Romanos 8:16 diz que o Espírito e o nosso espírito testificam juntos.
Isso quer dizer que o Espírito de Deus, ao crermos no Senhor Jesus, entra
no nosso espírito. Em 1 Coríntios 6:17 diz: "Aquele que se une ao Senhor é
um espírito com ele." No começo da Bíblia Deus preparou um homem à
Sua imagem, conforme à Sua semelhança, e com um espírito para recebê-
Lo, contê-Lo e expressá-Lo. Entretanto, na época da criação o homem não
recebeu Deus, o Espírito divino, para dentro de seu espírito.
Todo ser humano tem a imagem de Deus, a semelhança de Deus e
13. um espírito humano. Quando o evangelho nos alcançou, ele nos tocou a
consciência, que é uma parte do espírito (Rm 8:16; 9:1). Por causa daquele
toque nosso espírito foi estimulado e nos arrependemos. Abrimos nosso ser
interior para arrepender-nos, crer e receber o Senhor Jesus; Ele veio para
dentro de nós e fomos salvos. Muitos pregadores do evangelho perguntam:
"Você quer se abrir e convidar Jesus para entrar em seu coração?" Não há
nada de errado com isso, mas para experimentar Cristo como nossa vida
depois de sermos salvos, precisamos saber que Ele está agora em nosso
espírito (2 Tm 4:22).
O propósito de Deus é a filiação, e a filiação é cumprida pelo
dispensar do que Deus é para dentro de nós como nossa vida. Esse
dispensar está em nosso espírito. João 3:6 diz: "O que é nascido da carne é
carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." Aqui estão novamente os
dois espíritos. Não fomos regenerados na mente, nem no corpo. Nicodemos
pensou que nascer de novo fosse tornar a nascer no corpo físico, mas o
Senhor Jesus o corrigiu. Nascer de novo é nascer de Deus o Espírito, em
nosso espírito, não de nossos pais. Mesmo se pudéssemos voltar ao ventre
de nossa mãe e nascer fisicamente cem vezes, nós ainda seríamos carne.
Temos de nascer no nosso espírito do Espírito divino.
Zacarias 12:1 nos diz que existem três coisas cruciais na criação de
Deus: o céu, a terra e o espírito do homem. Ali diz que Jeová é Aquele que
"estendeu os céus, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro
nele." Quão grande é o nosso espírito! O céu é para a terra. Sem o céu, a
terra não poderia ter nada orgânico. A terra é para o homem, e o homem é
para Deus. Para o homem ser para Deus, ele precisa de um receptor. Esse
receptor é nosso espírito humano. Louvado seja o Senhor por estarmos
aqui sob o plano de Deus e em Seu plano; por termos sido feitos por Ele à
Sua imagem e semelhança; por termos um espírito para recebê-Lo; e por
Ele, como o Espírito divino, ter entrado em nosso espírito humano,
fazendo-nos Seus filhos para Sua expressão! Este é Seu plano.
14. CAPÍTULO DOIS
A REDENÇÃO DE CRISTO
Leitura da Bíblia: Jo 1:14; Hb 2:14; Rm 8:3; 2 Co 5:21; Jo 3:14; 1 Pe
2:24; 1 Co 15:3; Hb 9:28; Rm 6:6; Gl 2:20; Ef 2:15; Jo 12:24, 31; 19:34;
7:39; Lc 24:26; At 13:33; Rm 8:29; Hb 2:11, 12; 1 Pe 1:3; Ef 2:6; 1 Co
15:45; 2 Co 3:17,18; Jo 20:22; Ef 1:20, 21; At 2:36; Ef 1:22, 23; At 2:33
Deus criou o céu e a terra com o homem como o cabeça e o centro.
Então o homem caiu. Aos olhos de Deus, a queda do homem envolveu toda
a criação. Para redimir essa criação caída, Deus veio no Filho.
Redenção não foi um pensamento posterior. Ela foi preordenada por
Deus. Em 1 Pedro 1:19, 20 nos diz que o Redentor, Cristo, era
preconhecido por Deus antes da fundação do mundo. Neste versículo,
"mundo" refere-se a todo o universo. Antes da fundação do universo, Deus
sabia que o homem cairia. Assim, Deus preordenou o Filho, Cristo, para
ser o Redentor. Podemos ver nisso que a redenção de Deus não foi
acidental.
Mais adiante, Apocalipse 13:8 diz que o Cordeiro, isto é, o Redentor,
Cristo, foi imolado "desde a fundação do mundo." Desde o tempo em que a
criação veio à existência, aos olhos de Deus, Cristo, como o Cordeiro
ordenado por Deus, foi imolado. Aos nossos olhos, Cristo foi crucificado a
menos de dois mil anos atrás. Mas, à vista de Deus, Ele foi imolado desde o
dia em que a criação veio à existência, porque Deus preconhecia que Sua
criação cairia.
Esses versículos mostram que a redenção de Deus não era um
pensamento posterior, mas algo ordenado, planejado, e preparado por
Deus na eternidade passada. Como devemos valorizar este fato acerca da
redenção que desfrutamos em Cristo!
DEUS ENCARNADO
O primeiro passo no cumprimento da redenção de Deus foi a
encarnação. Foi certamente uma coisa maravilhosa para Deus vir para
dentro do homem e nascer da humanidade por meio de uma virgem. O
nosso Deus tornou-se um homem! Na criação, Ele era o Criador. Mas
embora tivesse criado todas as coisas, Ele não entrou em nenhuma das
coisas que Ele criara. Mesmo ao criar o homem, Ele somente soprou o
fôlego de vida para dentro dele (Gn 2:7). Ele ainda estava fora do homem.
Seu sopro, de acordo com Jó 33:4, deu vida ao homem; entretanto, Ele
próprio não veio para dentro do homem. Até a encarnação, Ele estava
separado do homem. Mas com a encarnação, Ele pessoalmente entrou no
homem. Ele foi concebido e então permaneceu no ventre da virgem por
nove meses, após o que Ele nasceu.
15. A Palavra Tornando-se Carne
De acordo com João 1:14, Ele tornou-se não somente um homem; Ele
tornou-se carne. A carne nesse versículo refere-se ao homem depois da
queda. O homem em Gênesis 1 e 2 não havia caído, mas depois, em
Gênesis 3, ele caiu. A palavra carne, referindo-se ao homem depois da
queda, sempre possui uma conotação negativa. Nenhuma carne pode ser
justificada perante Deus por obras (Rm 3:20). Carne refere-se ao homem
caído, e Cristo, como o Filho de Deus, tornou-se um homem. Ele tornou-se
carne.
Na Semelhança da Carne do Pecado
Eu não quero dizer que Ele tornou-se um pecador. A Bíblia é muito
cuidadosa sobre esse assunto. Se a Bíblia contivesse somente João 1:14,
poderíamos pensar que Ele se tornou uma pessoa pecaminosa. Mas a
Bíblia também contém Romanos 8:3, que diz que Deus enviou Seu Filho
"na semelhança da carne do pecado". Cristo tornou-se carne, mas Ele
estava somente na semelhança da carne do pecado. Não havia pecado em
Sua carne. Ele tinha somente a semelhança, não a natureza pecaminosa,
da carne. Paulo compôs esta frase com três palavras: semelhança, carne e
pecado. Dizer somente carne do pecado indicaria carne pecaminosa.
Louvado seja o Senhor que a Escritura acrescenta "em semelhança",
indicando que na natureza humana de Cristo não havia pecado, mesmo
que aquela natureza possuísse a semelhança, a aparência da carne do
pecado. Mais ainda, Paulo não diz que Deus enviou Seu Filho na
semelhança da carne e parou aí. Ele acrescenta "do pecado". Semelhança
denota fortemente que a humanidade de Cristo não tinha pecado, mas que
Sua humanidade ainda estava de alguma maneira relacionada ao pecado.
Em outro versículo, em 2 Coríntios 5:21, Paulo diz que Cristo "não
conheceu pecado". Isso quer dizer que Ele não tinha pecado. Todavia, em 2
Coríntios 5:21 também diz que Aquele que não tinha pecado foi feito
pecado por Deus. A nossa mente não pode entender isso. Se as Escrituras
não fossem escritas desta forma, pareceria herético dizer que Cristo foi feito
pecado; mas Cristo foi feito pecado por nós como nosso substituto total. Se
isso não tivesse acontecido, não poderíamos ter sido salvos. "Aquele que
não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós." Aquele a quem Deus fez
pecado, não conheceu pecado.
Esse problema está retratado no Velho Testamento no tipo da
serpente de bronze, descrito em Números 21. Quando os filhos de Israel
pecaram contra Deus, eles foram picados por serpentes e morreram.
Moisés buscou a Deus por eles, e Deus disse a ele para fazer uma serpente
de bronze e erguê-la numa haste. Quem quer que olhasse para a serpente
de bronze viveria, e muitos olharam (vs. 6-9).
Então em João 3, o Senhor Jesus falou a Nicodemos acerca da
regeneração. Nicodemos era um mestre da Bíblia (v. 10) e ensinava o Velho
Testamento, especialmente o Pentateuco. "Nicodemos disse: Como pode um
homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e
16. nascer segunda vez?" (v. 4). O Senhor quis dizer que, se ele pudesse voltar
ao ventre materno e tornar a nascer, ainda seria carne: "O que é nascido da
carne, é carne" (v. 6). Nascer de novo não é nascer uma segunda vez da
carne, mas nascer do Espírito. "O que é nascido do Espírito, é espírito"
(v.6).
Nicodemos queria saber como seriam essas coisas. Então o Senhor
Jesus disse a ele em um tom de repreensão: "Tu és mestre em Israel, e não
compreendes estas coisas?" (v. 10). Ele, em seguida, citou a Nicodemos a
passagem de Números 21: "E do modo por que Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que
todo o que nele crê tenha a vida eterna" (vs. 14,15).
Esse retrato indica claramente que a serpente de bronze possui
somente a aparência, a semelhança da serpente, mas não a sua natureza
venenosa. Isso corresponde à palavra de Paulo "na semelhança da carne do
pecado".
Quando Cristo morreu na cruz, Ele não somente era um Cordeiro aos
olhos de Deus, mas também uma serpente. Esses aspectos de Cristo estão,
ambos, em João. Em João 1:29 há referência ao Cordeiro de Deus, e 3:14,
ao Filho do homem, Cristo, erguido como a serpente de bronze no deserto.
Quando Cristo, nosso Redentor, estava sobre a cruz, por um lado, Ele era o
Cordeiro de Deus para levar embora o nosso pecado; por outro lado, Ele era
uma serpente. A Palavra Santa nos diz que quando Cristo morreu na cruz,
aos olhos de Deus Ele era como uma serpente de bronze. Enfatizo isso
porque precisamos conhecer que tipo de redenção o Senhor Jesus cumpriu
por nós.
A fim de cumprir uma redenção plena, Ele como c Filho de Deus
tornou-se carne. A Palavra encarnou-se. João, porém, não disse que a
Palavra tornou-se um homem; ele disse: "A Palavra se fez carne". No tempo
na encarnação, "carne" era um termo negativo. Mas devemos ser
cuidadosos ao dizer isso. A serpente certamente é negativa, mas esta ser-
pente é uma serpente de bronze. Ela possui somente a aparência de uma
serpente; ela não tem a sua natureza. Você acha que, quando Cristo foi
feito pecado, Ele tinha natureza pecaminosa? Absolutamente não! É por
isso que Paulo modifica sua palavra dizendo: "aquele que não conheceu
pecado ". Mesmo que Ele tenha sido feito pecado por Deus, Ele não tinha
pecado Nele e não conheceu pecado. O nosso Senhor é um Redentor
maravilhoso. A Bíblia nos diz que Deus tornou-se um homem na
semelhança da carne caída e pecaminosa.
Participando da Carne e Sangue do Homem
Encarnação também tem um lado positivo. Ela trouxe Deus para
dentro do homem. Ela fez Deus e o homem um. Aproximadamente dois mil
anos atrás, houve um Homem nesta terra que era uma combinação de
Deus e homem. Jesus Cristo era somente homem? Ele era somente Deus?
Ele era tanto Deus como homem. Muitos mestres da Bíblia chamam-No o
homem-Deus. Ele não era meramente um homem de Deus, mas um
homem-Deus. Ele era o Deus completo e um Homem perfeito.
17. De acordo com a revelação genuína da Bíblia, em tal encarnação,
nem a natureza de Deus nem a natureza do homem foram perdidas e nem
uma terceira natureza foi produzida. Cristo é um homem-Deus tanto com a
natureza divina como com a natureza humana existindo Nele distinta-
mente.
O nosso Redentor é um homem-Deus. Pela Sua encarnação para o
cumprimento da redenção, Ele, como o próprio Deus, tomou a iniciativa de
fazer-se um com o homem. Ele participou da carne e sangue do homem.
Hebreus 2:14 nos diz: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum
de carne e sangue, destes também Ele, igualmente, participou." Se Ele não
tivesse o sangue do homem, como Ele poderia ter derramado Seu sangue
pelos pecados do homem? Sem derramamento de sangue não há perdão de
pecados (Hb 9:22). Como seres humanos, precisamos do sangue humano
para lavar os nossos pecados. Porque nosso Redentor participou do sangue
do homem, Ele pôde derramar Seu sangue por nossos pecados.
Ainda com o Pai
Quando o Filho de Deus encarnou-se, Ele não deixou o Pai nos céus.
Embora eu pensasse assim há mais de cinqüenta anos, gradualmente
descobri, por estudar a Palavra, que o Filho e o Pai não podem ser
separados. Eles são distintos, mas não separados. O próprio Filho nos diz
claramente que Ele veio em nome do Pai (Jo 5:43) e que o Pai estava com
Ele todo o tempo (Jo 16:32). Ele e o Pai são um (Jo 10:30; 17:22).
Como cristãos, cremos que há somente um Deus. Crer no triteísmo,
que há três Deuses, é uma grande heresia. Temos somente um Deus,
todavia nosso Deus é triúno. Ele é três em Sua Divindade: o Pai, o Filho, e
o Espírito. Todavia Ele é um Deus. Não temos como conciliar isso.
Entretanto, conhecemos o fato manifestado de que Deus é triúno, que Ele é
três-um.
O plano de Deus é principalmente a obra do Pai, Sua redenção é
principalmente a obra do Filho e Sua aplicação é principalmente a obra do
Espírito. O Pai planejou, o Filho redimiu e o Espírito aplica.
Os três são distintos mas não separados. Quando o Filho veio, o Pai
veio com Ele. Quando o Espírito veio, o Filho e o Pai vieram (Jo 14:17, 23).
Não cremos no modalismo, uma heresia que diz que quando o Filho veio, o
Pai deixou de existir, e então quando o Espírito veio, o Filho deixou de
existir. Cremos que Deus é três-um, o Pai, o Filho e o Espírito como um
Deus coexistindo e coinerindo de eternidade a eternidade.
CRUCIFICADO
A encarnação foi maravilhosa e a crucificação é maravilhosa. Não
temos palavras para explicar a encarnação na totalidade, nem podemos
explicar totalmente o fato da morte de Cristo.
Carregando os Nossos Pecados
Na cruz, Cristo carregou os nossos pecados. Três versículos são
muito claros a este respeito: 1 Pedro 2:24, 1 Coríntios 15:3 e Hebreus 9:28.
18. Todos estes versículos dizem que Cristo carregou os nossos pecados. De
acordo com Isaías 53:6, quando Cristo estava na cruz, Deus tomou todos
os nossos pecados e os colocou sobre este Cordeiro de Deus.
Se ler nos quatro Evangelhos a respeito da morte de Cristo, você verá
que Ele foi crucificado das nove horas da manhã, a hora terceira (Mc
15:25), até às três horas da tarde, a hora nona (Mc 15:33; Mt 27:46). Entre
estas seis horas houve o meio-dia, a hora sexta (Mc 15:33). O meio-dia
dividiu estas seis horas em dois períodos de três horas cada. A perseguição
humana ocorreu nas três primeiras horas. O homem pregou-O na cruz,
escarneceu Dele e afligiu-O de toda maneira possível. Então, nas últimas
três horas, Deus veio para julgá-Lo (Is 53:10). Isso é demonstrado pela
escuridão que veio sobre toda a terra ao meio-dia. Deus colocou todos os
pecados da humanidade sobre Ele.
Feito Pecado por Nós
Nas últimas três horas, aos olhos de Deus, Cristo foi feito pecado.
Foi, então, na cruz que Deus condenou o pecado na carne de Cristo.
Romanos 8:3 diz que Deus, mandando Seu próprio Filho na semelhança da
carne do pecado (como a serpente de bronze na forma de uma serpente —
Jo 3:14), condenou o pecado na carne. O pecado foi condenado. O pecado
foi julgado na cruz. Cristo não somente carregou os nossos pecados, como
foi feito pecado por nós (2 Co 5:21) e foi julgado por Deus uma vez por
todas.
Com o Nosso Velho Homem e Toda a Velha Criação
Ainda mais, quando Cristo foi crucificado, todos Seus crentes foram
crucificados com Ele (Gl 2:20). Quando Ele se encarnou, Ele tomou-nos
sobre Si. Ele vestiu sangue e carne.
Portanto, quando Ele foi crucificado, fomos crucificados com Ele. Do
ponto de vista de Deus, antes de nascermos, já estávamos crucificados em
Cristo. Quando Cristo foi crucificado, não somente os nossos pecados
foram tratados e nem somente o nosso pecado foi tratado; nós mesmos
fomos crucificados. Assim, Romanos 6:6 diz: "Foi crucificado com Ele o
nosso velho homem".
Além disso, toda criação também foi crucificada ali. Quando Cristo
morreu, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27:51). De alto a
baixo indica que isso não foi um feito do homem, mas um feito de Deus, do
alto. Deus rasgou aquele véu em duas partes. No véu havia querubins
bordados (Ex 26:31). De acordo com Ezequiel 1:5, 10 e 10:14, 15,
querubins eram seres viventes. Os querubins no véu, então, indicavam os
seres viventes. Sobre a humanidade de Cristo estavam todas as criaturas.
Quando o véu foi rasgado, todas as criaturas foram crucificadas. Por isso
podemos ver que a morte de Cristo foi todo-inclusiva. Ela tratou os nossos
pecados, o nosso pecado, o nosso eu, o nosso velho homem e toda a velha
criação. Pecados, pecado, homem c toda a criação foram tratados na cruz.
Abolindo a Lei dos Mandamentos na Forma de Ordenanças
19. Em Efésios 2:15 Paulo nos diz que por Sua morte na cruz, Cristo
aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças. No Velho
Testamento havia muitas ordenanças. A principal era a circuncisão, que
dividia os judeus dos gentios. Os judeus até usavam o termo
"incircuncisão" ao referir-se aos gentios, enquanto consideravam-se a
circuncisão. Circuncisão, portanto, era uma marca de separação. Os
judeus também guardavam o sétimo dia, outra ordenança que os fazia
diferentes dos gentios. Ambas ordenanças Cristo aboliu na cruz (Cl 2:14,
16).
Outras ordenanças dos judeus eram os regulamentos de dieta. Em
Atos 10, entretanto, enquanto Pedro estava orando no eirado, uma visão
veio a ele (vs. 9-16). O Senhor disse a
Pedro para comer os animais que ele considerava comuns e imundos.
Assim, circuncisão, o sábado e os regulamentos de dieta foram totalmente
abolidos. Essas ordenanças tinham sido uma parede de separação forte e
alta entre os judeus e os gentios, mas agora ela foi derrubada. Não há mais
nenhuma separação. Os judeus e os gentios podem ser edifícados juntos
como o Corpo de Cristo.
As ordenanças foram abolidas, mas e quanto às diferenças entre as
raças, tais como entre negros e brancos? Na redenção completa de Cristo
todas essas diferenças também foram abolidas. Ele pôs de lado toda a
inimizade. Muitos ainda não vivem de acordo com isso. Os judeus ainda
guardam a circuncisão, o sábado e os regulamentos de dieta. Até mesmo
muitos cristãos ainda têm inimizade.
Por meio de Sua morte única, Cristo levou embora todos os nossos
pecados e o pecado; Ele crucificou o velho homem, terminou a velha
criação e aboliu as diferenças entre as raças. Agora não estamos em nós
mesmos — estamos em Cristo. Nele não há pecados. Nele não há o pecado.
Nele não existe o velho homem e nem a velha criação. A igreja é simples-
mente Cristo (1 Co 12:12). O próprio conteúdo, o constituinte da igreja é
Cristo (Cl 3:10, 11). No novo homem não há grego nem judeu, nem posição
social, nem distinção de raças, nem diferenças de nacionalidades; Cristo é
tudo e em todos (Cl 3:11). Em Cristo, os pecados, o pecado, o velho
homem, a velha criação e todas as ordenanças são anulados.
Destruindo Satanás e Julgando o Mundo
A carne foi crucificada com Cristo. Porque a carne está relacionada a
Satanás, ao crucificar a carne Cristo destruiu Satanás. É por isso que
Hebreus 2:14 diz que pela Sua morte Ele destruiu o diabo. Por João 12:31
sabemos que quando Cristo foi crucificado, Ele expulsou Satanás, o
governador do mundo, e julgou o mundo.
Por volta de 1935 ouvi uma mensagem dada pelo irmão Watchman
Nee em Xangai. Ele disse que, se fosse a um crente jovem e perguntasse a
ele quem morreu na cruz, ele diria que seu Redentor tinha morrido na cruz
tanto pelos seus pecados como pelo seu pecado. Se fosse a outro mais
avançado e perguntasse a ele quem havia morrido na cruz, ele diria que
Cristo morreu lá, carregando seus pecados, o pecado e ele próprio (Gl
20. 2:20). Alguém ainda mais avançado na vida cristã lhe diria que Cristo
morreu na cruz pelos seus pecados, pelo pecado e por ele próprio com toda
a criação. Uma quinta categoria de cristãos diria que Cristo morreu na cruz
não somente pelos seus pecados, pelo pecado e por eles próprios com toda
a criação, mas também para destruir Satanás e julgar o mundo.
Mais tarde comecei a ver que havia a necessidade de um avanço
posterior em perceber a morte de Cristo, isto é, a abolição das ordenanças.
Todas as ordenanças — os hábitos, costumes, tradições e práticas entre a
raça humana — foram abolidas na cruz. A crucificação de Cristo foi a
terminação universal de todas as coisas negativas. Aleluia por tal
terminação!
Liberando a Vida Divina
A morte de Cristo não somente foi uma morte terminadora, mas
também liberadora. Sua morte liberou a vida divina escondida dentro Dele
(Jo 1:4). Em João 12:24 diz que um grão de trigo permanece só a menos
que seja plantado na terra. Se ele é plantado na terra, ele morre e então
cresce para tornar-se muitos grãos. Isso ilustra a morte liberadora de
Cristo. Sua morte não somente termina todas as coisas negativas; ela
também libera vida divina — a única coisa positiva em todo o universo.
Quando Cristo morreu, um soldado traspassou Seu lado e saiu
sangue e água (Jo 19:34). Estes são símbolos. Sangue significa redenção, e
água significa vida. Sangue e água são símbolos dos dois aspectos da
morte de Cristo. O aspecto negativo é a redenção, e o aspecto positivo é o
liberar da vida divina. Ele morreu, e a vida dentro Dele foi liberada. Por
Sua morte não somente o sangue redentor fluiu; a vida divina também
fluiu Dele. Hoje, quando cremos Nele, recebemos o sangue e obtemos a
água viva, a vida divina. Recebemos redenção e obtemos vida eterna.
RESSURRETO
No terceiro dia depois de Sua morte, Cristo ressuscitou. Algumas
coisas maravilhosas foram executadas por meio de Sua ressurreição.
Glorificado na Vida Divina
Primeiramente, em Sua ressurreição Cristo foi glorificado. Quando
uma semente de cravo é plantada, ela morre sob a terra, e então cresce.
Quando floresce, aquele florescer é sua glorificação. Jesus foi a única
semente da vida divina. Antes de Sua morte, a vida divina estava oculta
dentro Dele. Sua humanidade era a casca. Quando Sua humanidade foi
quebrada na cruz, a vida divina saiu de dentro Dele, e Ele foi glorificado
naquela vida (Jo 7:39; Lc 24:26). A entrada de Cristo na ressurreição foi
como o florescer da semente de cravo: Ele foi glorificado.
Tornando-se o Filho Primogênito de Deus com Muitos Irmãos
Em segundo lugar, em ressurreição Cristo nasceu como o Filho
primogênito de Deus. Poucos cristãos percebem que para Jesus Cristo a
21. ressurreição foi um nascimento. Encarnação foi Seu nascimento como um
homem, mas ressurreição foi Seu nascimento em Sua humanidade como o
Filho primogênito de Deus (At 13:33).
Cristo, como o Filho de Deus, tem dois aspectos. Antes da Sua
ressurreição Ele era o Filho unigênito (Jo 1:14; 3:16); então, em
ressurreição Ele nasceu de Deus como o Filho primogênito. Quando Cristo
se encarnou, Ele vestiu a humanidade; entretanto, Sua humanidade não
era divina. Foi por meio de Sua morte e ressurreição que Sua humanidade
foi levada para dentro da divindade. Assim, Atos 13:33 nos diz que em Sua
ressurreição Ele nasceu. O Filho unigênito tornou-se o Filho primogênito
(Rrn 8:29).
Em Efésios 2:6 nos diz que na ressurreição de Cristo nós, Seus
crentes, também fomos ressuscitados. Quando Ele foi crucificado, nós
fomos crucificados. Quando Ele foi ressuscitado, nós fomos ressuscitados.
Em Sua ressurreição Ele nasceu como o Filho primogênito de Deus, e nós
também nascemos como os muitos filhos de Deus. Ele tornou-se o
Primogênito, e nós nos tornamos Seus muitos irmãos (Jo 20:17; Hb
2:11,12).
A Bíblia deixa claro que, antes de nascermos, nós fomos crucificados
com Cristo e ressuscitados com Ele. Na ressurreição Ele nasceu como o
Filho primogênito de Deus, e em Sua ressurreição nós também nascemos
como os muitos Filhos de Deus (1 Pe 1:3). Ele tornou-se o Primogênito
entre nós, Seus muitos irmãos.
Tornando-se o Espírito que Dá Vida
Em ressurreição Cristo também tornou-se Espírito que dá vida (1 Co
15:45). Este versículo em 1 Coríntios é um dos versículos mais
negligenciados na Bíblia. Na ressurreição, o tema de 1 Coríntios 15, Cristo
como o último Adão, por meio de Sua morte e ressurreição, tornou-se
Espírito que dá vida. Muitos cristãos consideram Cristo como seu
Redentor, mas poucos consideram-No como um Espírito que dá vida. Mas
nosso Redentor é o Espírito que dá vida na ressurreição. Pela Sua morte
Ele nos redimiu; na Sua ressurreição Ele infunde-se para dentro de nós
como vida.
Depois de Sua ressurreição e na Sua ressurreição, Ele tornou-se o
Cristo pneumático. O Cristo pneumático é idêntico ao Espírito. É por isso
que em 2 Coríntios 3:17 diz: "O Senhor é o Espírito". Hoje, em ressurreição,
o próprio Cristo, nosso Redentor, é idêntico ao Espírito que dá vida a nós.
Soprando para dentro de Seus Crentes
João 20 revela que depois de Sua morte e em Sua
ressurreição, Cristo voltou. Ele retornou de uma forma maravilhosa.
Os discípulos estavam numa casa com as portas fechadas com medo dos
judeus (v. 19). Repentinamente, Jesus estava ali dizendo a eles: "Paz seja
convosco". Ele não os ensinou e não lhes deu nenhum sermão como fez no
monte. Ele simplesmente soprou para dentro deles e disse-lhes: "Recebei o
Espírito Santo" (v. 22), o Sopro Santo, o Pneuma Santo.
22. Cristo apareceu sem bater na porta porque em ressurreição Ele é o
Espírito. Ele tinha um corpo ressurreto, que é chamado corpo espiritual (1
Co 15:44; Jo 20:27). Não podemos explicar isso, mas isso é um fato
revelado na Bíblia. Desde o tempo de Sua ressurreição, Cristo nunca
deixou os crentes. Aqui e ali Ele aparecia a eles, mas estava sempre com
eles.
Considere, então, o que está incluído em Sua ressurreição: Ele foi
glorificado, tornou-se o Filho primogênito de Deus, fazendo de todos nós
Seus irmãos, e Ele tornou-se o Espírito que dá vida soprado para dentro de
nós para estar conosco para sempre (Jo 14:16-20).
EXALTADO
Após Sua ressurreição, em Sua ascensão Cristo foi grandemente
exaltado (Ef 1:20, 21). Ele foi feito Senhor e Cristo (At 2:36), e a Ele foi dado
ser Cabeça sobre todas as coisas para a igreja, a qual é o Seu Corpo (Ef
1:22, 23). O nosso Cabeça, Cristo, não é somente nossa Cabeça, mas é
Cabeça sobre todas as coisas para nós.
Em Sua ascensão Cristo derramou o Espírito Santo sobre Seus
crentes (At 2:33). Este foi o batismo genuíno do Espírito que formou o
Corpo de Cristo (1 Co 12:13). Em Sua ressurreição Ele soprou o Espírito
Santo para dentro de Seus discípulos; então, em Sua ascensão, Ele
derramou Seu Espírito sobre Seus crentes. Isso quer dizer que, dentro dos
discípulos e sobre eles havia somente o Espírito. Dentro estava o Espírito e
fora estava o Espírito. Dentro estava o Espírito que enche interiormente, e
fora estava o Espírito derramado. Isso foi cumprido uma vez por todas e é
um fato eterno do qual participamos.
Encarnação é um fato, e crucificação é um fato, incluindo todas as
realizações do Senhor na cruz. Ressurreição também é um fato. Em Sua
ressurreição, Cristo tornou-se o Primogênito, fazendo-nos todos Seus
irmãos, e Ele também tornou-se o Espírito que dá vida soprado para dentro
de nós. Ainda mais, a ascensão é um fato. Em Sua ascensão Cristo foi feito
Cabeça sobre todas as coisas, Ele foi feito Senhor e Cristo, e Ele derramou-
se como o Espírito sobre todos nós. Agora estamos Nele. Ele está nos céus,
e assim também nós (Ef 2:6). Ele está dentro de nós e sobre nós, e nós
estamos Nele. Esta é a redenção completa de Cristo.
23. CAPÍTULO TRÊS
A APLICAÇÃO DO ESPÍRITO
Leitura da Bíblia: Gn 1:2; Jz 3:10; Lc 1:35; Jo 7:39; At 16:6, 7; Rm
8:2, 9; Fp 1:19; 1 Co 15:45; 2 Co 3:6, 17, 18; Ap 1:4; 4:5; 5:6; 2:7; 14:13;
22:17; Jo 14:17; 15:26; 16:13-15; 1 Jo 5:7; Jo 3:5, 6; 2 Co 1:21, 22; Ef
1:13; 4:30; 1 Pe 1:2; Rm 15:16; 1 Co 12:13
Oração: "Senhor, como Te agradecemos pela Tua palavra.
Agradecemos-Te por esta reunião. Cremos que é de Tua soberania. Senhor,
podemos vir a Ti em torno de Tua palavra. Que misericórdia e graça!
Confiamos em Ti para entender a Tua palavra. Admitimos nossa
insuficiência. Somos limitados — limitados no entendimento, limitados na
elocução, até mesmo limitados no ouvir. Unge nosso ouvido e nossa mente.
Unge a boca que fala. Que Tu possas falar em nosso falar. Gostamos de
praticar ser um espírito Contigo, especialmente nesta hora de falar a Tua
palavra. Senhor, purifica-nos com o Teu precioso sangue. Como Te
louvamos porque, onde o Teu sangue está, ali está a rica unção. Confiamos
em Tua unção. Buscamos a Ti desesperadamente por tal palavra misteriosa
hoje a noite. Senhor, derrota o inimigo e afugenta todas as trevas deste
salão. Visita cada ouvinte. Nós pedimos em Teu poderoso nome. Amém."
Já tratamos dos dois primeiros itens da revelação básica nas
Escrituras Sagradas — o plano de Deus e a redenção de Cristo. Neste
capítulo chegamos ao terceiro item — a aplicação do Espírito. Este é o item
mais misterioso na revelação divina.
Podemos usar a impressão como uma ilustração da aplicação do
Espírito. Na impressão existe primeiro o rascunho, o manuscrito. Este
manuscrito é então datilografado numa página, da qual se faz uma matriz.
Em seguida, a impressora, usando a matriz, produz quantas cópias
desejarmos. Este último estágio, a produção de cópias, ilustra a aplicação
do Espírito.
Cristo fez uma grande obra de "datilografia" do que Deus propôs em
Seu plano. Ele encarnou-se e viveu na terra por trinta e três anos e meio.
Então morreu na cruz, ressuscitou e ascendeu aos céus. Por meio de tal
processo longo, da encarnação à ascensão, o Senhor Jesus fez a
maravilhosa obra de "datilografia". Essa obra produziu uma "matriz". Agora
o Espírito vem e aplica a nós o que Cristo fez. O Pai planejou, o Filho
cumpriu e o Espírito veio para aplicar o que Cristo cumpriu de acordo com
o plano do Pai.
Para que seja nítida a impressão, deve ser usado papel limpo. É por
isso que a primeira coisa que o Espírito aplica a nós é o purificar do sangue
precioso do Senhor Jesus (Hb 9:14). O Espírito nos purifica com o sangue
redentor de Cristo. Por meio do precioso sangue, fomos lavados e
purificados. Agora somos papel puro, limpo, bom para essa impressão
24. espiritual.
O ESPÍRITO POR TODA A ESCRITURA
Para entender a obra do Espírito em aplicar as realizações de Cristo,
consideremos como o Espírito é gradualmente revelado por toda a
Escritura.
O Espírito de Deus
A primeira vez que o Espírito de Deus é mencionado é em Gênesis
1:2. Este é Deus Espírito em Sua criação. O Espírito de Deus pairou por
sobre as águas mortas para a criação de Deus.
O Espírito de Jeová
Depois de criar o homem, Deus permaneceu intimamente envolvido
com ele. Em seu relacionamento com o homem, o título de Deus é Jeová. É
por isso que no Velho
Testamento o Espírito de Deus é freqüentemente chamado de Espírito
de Jeová. O Espírito de Jeová vinha sobre certas pessoas. Isso indica que o
Espírito de Jeová tem a ver com Deus alcançando o homem (Jz 3:10; Ez
11:5). Os principais títulos usados para o Espírito de Deus no Velho
Testamento são o Espírito de Deus e o Espírito de Jeová.
O Espírito Santo
Na encarnação, o Espírito de Deus foi chamado o Espírito Santo (Mt
1:18, 20; Lc 1:35). Andrew Murray, em sua obra prima O Espírito de Cristo,
salienta que o título divino, "o Espírito Santo" não é usado no Velho
Testamento. Em Salmos 51:11 e em Isaías 63:10,11 "Espírito Santo"
deveria ser traduzido para "Espírito de santidade". Quando chegou o tempo
de preparar o caminho para a vinda de Cristo e de preparar um corpo
humano para Ele iniciar a dispensação do Novo Testamento, é que o termo
"Espírito Santo" começou a ser usado (Lc 1:15, 35).
O Espírito Ainda Não Sendo
Agora chegamos a um ponto muito difícil. Em João 7:37, 38 o Senhor
Jesus exclamou: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em
mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva." Em
seguida, no versículo 39, João explica que o Senhor falou isto "com respeito
ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito
ainda não era (lit.), porque Jesus não havia sido ainda glorificado." João
não diz o Espírito de Deus, o Espírito de Jeová, ou o Espírito Santo, mas "o
Espírito". Ele diz mais adiante que quando Jesus estava exclamando ao
povo, "o Espírito ainda não era". A versão J. E de Almeida diz, "o Espírito
ainda não fora dado" (VRC), mas a palavra "dado" foi inserida; ela não está
no texto grego. O Espírito de Deus estava em Gênesis 1, e o Espírito de
Jeová vinha sobre os profetas no Velho Testamento. Por que, então, em
João 7 o Espírito "ainda não era"?
Andrew Murray em seu livro O Espírito de Cristo indica que, antes da
25. glorificação de Cristo, isto é, antes da Sua ressurreição (Lc 24:26), o
Espírito de Deus tinha somente divindade. Mas quando Cristo foi
ressuscitado , o Espírito de Deus tornou-se o Espírito do Jesus glorificado.
Se Ele ainda fosse somente o Espírito de Deus, teria somente o elemento
divino. A palavra de Murray quer dizer que o Espírito, ao tornar-se o
Espírito de Jesus glorificado que veio após a ressurreição de Cristo, tem
agora o elemento de humanidade.
O Espírito Composto
Quando jovem, fui ensinado que em Êxodo 30:22-30, o óleo da unção
é um tipo do Espírito Santo. Mas depois de ter recebido esclarecimento pelo
livro de Andrew Murray, voltei a estudar Êxodo 30. Esse óleo é composto de
azeite de oliveira combinado com 4 especiarias: mirra, cinamomo, cálamo e
cássia. O azeite de oliveira é um tipo do Espírito Santo, mas que são as
quatro especiarias? Sabe-se que a mirra refere-se à morte de Cristo.
Cinamomo deve indicar a doce eficácia daquela morte. Cálamo é um junco
que cresce no pântano e projeta-se alto, no ar. Isso indica ressurreição.
Cássia era usada nos tempos antigos como um repelente de insetos e
especialmente de serpentes. Isso indica o poder da ressurreição de Cristo
que prevalece contra Satanás.
Essas quatro especiarias são de três unidades. Mirra, quinhentos
siclos. Cinamomo e cálamo, duzentos e cinqüenta siclos cada, e cássia,
quinhentos siclos. Se o cordeiro é um tipo de Cristo e se o azeite de oliveira
é um tipo do Espírito Santo, certamente essas quatro especiarias são
também tipos a respeito de Cristo. As três unidades de quinhentos siclos
cada devem referir-se à Trindade. A quantidade total de cinamomo e
cálamo, sendo dividida em duas unidades de duzentos e cinqüenta cada,
tipifica o segundo da Trindade "dividido" na cruz, assim como o véu foi
rasgado de alto a baixo.
O número "um" do um him de azeite de oliveira significa o Deus
único. O número quatro das quatro especiarias significa a criatura. Em
Ezequiel e em Apocalipse há quatro seres viventes, referindo-se à criação
de Deus (Ez 1:5, 10; Ap 4:6-9).
Por meio disso podemos perceber que esse óleo composto deve ser um
tipo todo-inclusivo do Espírito composto referido em João 7:39. Isso quer
dizer que o Espírito de Deus, como o elemento básico, foi combinado com a
deidade, humanidade, morte e ressurreição de Cristo como as especiarias.
Neste Espírito composto estão o Deus único, a Trindade, o homem, a
criatura, a morte de Cristo, a doçura e eficácia de Sua morte, a
ressurreição de Cristo e o poder de Sua ressurreição.
O Espírito era primeiramente o Espírito de Deus, possuindo somente
a essência divina. Mas depois que Deus, no Filho, tornou-se um homem e
morreu na cruz, passando pela morte e ressurreição, e entrando na
ascensão, o Espírito tornou-se o Espírito de Jesus Cristo (Fp 1:19),
composto da essência de Deus e da humanidade de Jesus em Sua morte e
ressurreição. O Espírito não tem mais somente a essência divina, mas tem
agora, em acréscimo, a humanidade de Jesus com a morte de Cristo, a
26. eficácia de Sua morte, a ressurreição e o poder de Sua ressurreição.
Dos escritos sobre a vida interior, recebi ajuda em saber que fui
crucificado antes de eu ter nascido (Gl 2:19b, 20). Aos olhos de Deus fomos
crucificados antes de termos nascido. Como escolhidos de Deus, nascemos
crucificados. A senhora Jesse Penn Lewis disse que todo cristão deve
morrer para viver (Jo 12:24; 1 Co 15:31; 2 Co 4:11). Mas minha experiência
foi que, quanto mais eu tentava morrer, mais vivo ficava. Um hino escrito
por A. B. Simpson diz que existe uma pequena palavra que o Senhor deu:
considerar. De acordo com Romanos 6:11, devemos considerar-nos mortos.
Pratiquei o considerar-me, mas não funcionou. Quanto mais me
considerava morto, mais vivo parecia! No livro de Watchman Nee, A Vida
Cristã Normal, existe um capítulo que enfatiza o considerar. Esse livro é
uma compilação de mensagens que o irmão Nee deu antes de 1939. Depois
de 1939 ele começou a dizer às pessoas que não podemos experimentar a
morte de Cristo revelada em Romanos 6 até que tenhamos a experiência do
Espírito de Cristo em Romanos 8. A morte de Cristo em Romanos 6 pode
ser experimentada somente por meio de Seu Espírito em Romanos 8. Em
outras palavras, se não estamos no Espírito, considerar que estamos
mortos não funciona.
Cristo é Cristo, e você é você; e a morte Dele não é sua morte a menos
que você esteja ligado a Ele organicamente por meio do Espírito. No
Espírito composto existem os elementos da morte de Cristo e de sua
eficácia, prefigurados pela mirra e cinamomo. Quando estamos no Espírito,
o Espírito composto, não necessitamos considerar-nos mortos, porque no
Espírito existe o elemento da morte de Cristo.
Alguns medicamentos têm elementos que matam germes. Se você
tentar matar os germes por si mesmo, fracassará. Mas se toma um
medicamento prescrito, um elemento naquele medicamento matará os
germes por você. O Espírito composto hoje é uma dose todo-inclusiva. Um
médico lhe dirá que a melhor dose é aquela que mata os germes e nutre o
paciente. Isso pode ser usado como uma ilustração do Espírito composto.
No Espírito composto existem a morte de Cristo, que é o poder que mata, e
a ressurreição de Cristo, que é a fonte de nutrição da vida divina. Esses
elementos que matam e que nutrem estão combinados juntamente neste
Espírito.
O Espírito de Jesus
O Espírito Santo é chamado de Espírito de Jesus em Atos 16:6, 7.
Jesus era um homem que sofria perseguição. Como um evangelista, Paulo
saía para pregar, e ele também sofria. Naquele sofrimento ele precisava do
Espírito de Jesus porque no Espírito de Jesus há o elemento do sofrimento.
Se vai a um país pagão para pregar o evangelho, você precisa do Espírito de
Jesus para enfrentar a oposição e perseguição. A força do sofrimento para
resistir à perseguição está no Espírito de Jesus.
O Espírito de Cristo
Em Atos 16, por causa da perseguição, Paulo precisou do Espírito de
27. Jesus, mas em Romanos 8 em ressurreição há o Espírito de Cristo. Em
Romanos 8:9,10 temos três títulos: o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo,
e Cristo. Estes três títulos são usados permutavelmente. Isso indica que o
Espírito de Deus é o Espírito de Cristo, e o Espírito de Cristo é
simplesmente o próprio Cristo. Estes três títulos são sinônimos. O Espírito
Santo de Deus é não somente o Espírito de Deus, mas também o Espírito
de Jesus que sofreu e o Espírito do Cristo ressurreto. Contanto que
tenhamos tal Espírito, temos o poder do sofrimento para enfrentar a
perseguição e o poder de ressurreição para viver uma vida ressurreta sobre
o pecado e a morte (Rm 8:2).
O Espírito de Jesus Cristo
Em Filipenses 1:19 Paulo refere-se à "provisão do Espírito de Jesus
Cristo". O suprimento abundante está com o Espírito de Jesus Cristo. Este
Espírito guiou Jesus pela encarnação e por meio do viver humano na terra
por trinta e três anos e meio. O Senhor Jesus viveu uma vida santa e sem
pecado por muitos anos por meio do Espírito dentro Dele. O mesmo
Espírito guiou Jesus por meio da morte e para dentro da ressurreição.
Então o Espírito de Deus tornou-se o Espírito de Jesus Cristo. Por tal longo
processo, os elementos da humanidade, do sofrimento e do viver humano,
da crucificação de Cristo, de Sua ressurreição e mesmo de Sua ascensão
foram totalmente combinados com este Espírito.
O Espírito que recebemos não é meramente o Espírito de Deus,
possuindo somente o elemento divino. O Espírito que nós, cristãos,
recebemos é o Espírito composto de divindade, humanidade, viver humano,
sofrimento, crucificação, ressurreição e ascensão. Deus está no Espírito. A
humanidade elevada de Jesus e Seu sofrer e viver humano também estão
no Espírito. A morte, ressurreição e ascensão de Cristo estão todos neste
Espírito. Deste modo, com este
Espírito está o suprimento abundante. Paulo pôde suportar
perseguição e aprisionamento por causa do suprimento abundante do
Espírito de Jesus Cristo. Esta provisão tornou-se sua salvação diária e
pessoal. Mesmo acorrentado e em prisão ele ainda engrandecia Cristo e
vivia Cristo (Fp 1:19-21a). Ele engrandecia Cristo, não por sua energia ou
por sua própria força, mas pelo suprimento abundante do Espírito de
Jesus Cristo.
O Espírito do Senhor
"O Espírito do Senhor" (2 Co 3:17) indica que a ascensão de Cristo
está incluída no Espírito. "O Senhor" neste versículo refere-se ao Cristo
crucificado, ressurreto e ascendido. Na Sua exaltação Ele foi feito Senhor
(At 2:36).
Em 2 Coríntios 3:17 diz: "O Senhor é o Espírito; e onde está o
Espírito do Senhor aí há liberdade." Primeiramente, ele nos mostra que os
dois são um, e, em segundo lugar, mostra que os dois ainda são dois. Da
mesma forma, em João 1:1 diz: "No princípio era a Palavra, e a Palavra
estava com Deus, e a Palavra era Deus" (lit.). A palavra e Deus são um,
28. todavia a Palavra estava com Deus, o que indica que Eles são dois.
O Espírito Idêntico ao Senhor
O Espírito é idêntico ao Senhor. No passado, o termo Cristo
pneumático era usado em Cristologia. O Cristo pneumáíico indica que o
próprio Cristo é o Espírito. Entretanto, não pensem que quando a Bíblia diz
que o Senhor é o Espírito ela anula a distinção entre o Filho e o Espírito.
Eles são um, todavia ainda dois. Eles são um, todavia ainda distintos.
Toda verdade na Bíblia tem dois lados. Com respeito ao Deus Triúno,
se vocês permanecem no extremo do lado de um, vocês são modalistas. Se
permanecem no extremo do lado de três, vocês são triteístas. Nós
permanecemos na Palavra, desse modo não somos nem triteístas nem
modalistas. Cremos na Trindade genuína, que Deus é três-um. Deus é
unicamente um, todavia Sua deidade é da Trindade. A palavra triúno vem
do latim. Tri significa três; uno significa um. Assim, triúno quer dizer três-
um.
Em João 14:23 o Senhor Jesus nos diz que quem quer que O ame,
Ele e o Pai virão a este e farão nele morada. Também, em João 14:17 o
Senhor Jesus nos diz que o Espírito como o Espírito da realidade virá para
habitar nos crentes. Assim, no mesmo capítulo nos é dito que o Pai e o
Filho farão morada com aquele que O ama e que o Espírito habita naquele
que O ama. Isso nos mostra que os três estão nos crentes
simultaneamente. O Deus Triúno está em nós. Isso é um mistério, mas
pela nossa experiência sabemos que isso é assim.
Em Mateus 28:19 o Senhor Jesus diz: "Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-as para dentro do nome (singular) do Pai e
do Filho e do Espírito Santo" (lit.). A mesma preposição grega "para dentro"
é usada em Romanos 6:3. Quando fomos batizados para dentro de Cristo,
fomos batizados para dentro de Sua morte. Mateus 28:19 nos incumbe
batizar os novos crentes para dentro do nome do Deus Triúno. M. R.
Vincent diz: "Batizar para dentro do nome da Trindade Santa implica numa
união espiritual e mística com ele." Ele mais tarde diz que o nome "é
equivalente a sua pessoa". Ser batizado para dentro do nome divino é ser
imerso na Pessoa divina.
Uma nota na Bíblia Anotada de Scofield diz : "Pai, Filho e Espírito
Santo é o nome final do Deus único e verdadeiro." Algumas traduções não
têm "do" três vezes, somente o nome do Pai e Filho e Espírito Santo. O
nosso Deus é Triúno: o Pai o Filho e o Espírito. Entretanto, tal título, tal
nome só foi revelado depois da ressurreição de Jesus. Mateus 28:19 foi
falado depois da ressurreição do Jesus glorificado. Isso foi revelado depois
que o processo de nosso Salvador desde a encarnação até a ressurreição foi
completado.
Antes da ressurreição de Cristo, tal Espírito, o Espírito composto,
ainda não era (Jo 7:39). Mas depois de Sua ressurreição o Espírito de Deus
foi composto, e Ele é agora o
Espírito composto, processado, todo-inclusivo. Este Espírito
29. composto, que é idêntico ao Senhor, é, como revelado em 2 Coríntios 3, o
Espírito que dá vida, que libera e que transforma, que nos dá a vida divina
(v. 6), liberta-nos da escravidão da lei (v. 17), e nos transforma à imagem de
Cristo de glória em glória (v. 18).
O Espírito que Dá Vida
Paulo diz que o último Adão, por meio de Sua ressurreição e em Sua
ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida (1 Co 15:45 - lit.). Ele tornou-
se não somente Espírito, mas especificamente Espírito que dá vida. "Que
dá vida" mostra que tipo de Espírito Ele é. Em 2 Coríntios 3:6 Paulo diz que
o Espírito dá vida. João 6:63 diz: "O Espírito é o que vivifica". A Nova
Tradução de Darby* tem um parêntese do versículo 7 ao versículo 16 de 2
Coríntios 3. Se considerarmos esta seção parentética, o versículo 17
continua o versículo 6. O Espírito dá vida (v. 6) e o Senhor é o Espírito (v.
17).
Muitos escritores concordam que nas Epístolas de Paulo o Cristo
ressurreto é idêntico ao Espírito. Entretanto, isso não anula a distinção
entre Cristo e o Espírito. Existe sempre dois lados para a verdade. Em 2
Coríntios 3:17 o Senhor e o Espírito são um. Em 2 Coríntios 13:13 temos a
graça de Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo. Pode-se
ver aqui que Cristo e o Espírito são distintos.
O Espírito Da Vida
A Primeira Epístola aos Coríntios 15:45 refere-se a Cristo como o
Espírito que dá vida. Certamente não pode haver dois Espíritos que dão
vida. Cristo, o Espírito que dá vida, é também o Espírito da vida. Este
termo é revelado em Romanos 8:2. Romanos 8 fala do Espírito da vida (v.
2), o Espírito de Deus (v. 9) e o Espírito de Cristo (v. 9) que é o próprio
Cristo (v. 10). Fala-se no mesmo capítulo do Espírito como as primícias (v.
23).
___________
*N. do T.: Versão em inglês.
Os Sete Espíritos de Deus
No último livro da Bíblia, os sete Espíritos de Deus são revelados (Ap
1:4; 4:5; 5:6). O Credo de Nicéia não menciona os sete Espíritos. Em 325
d.C, quando o Credo de Nicéia foi feito, o livro de Apocalipse não era
reconhecido como parte da Bíblia. O reconhecimento final dos livros a
serem incluídos na Bíblia ocorreu em 397 d.C. no Concilio de Cartago.
Também, em Apocalipse 1, a seqüência da Trindade é mudada.
Mateus 28 nos mostra o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em Apocalipse
1:4,5, entretanto, o Pai como o Eterno é o primeiro, os sete Espíritos são o
segundo e o Filho é o terceiro.
Mais além, Apocalipse 5:6 diz que os sete Espíritos são os sete olhos
do Cordeiro. Isso quer dizer que o terceiro da Trindade é os olhos do
30. segundo.
Todos esses pontos indicam que no último livro da revelação divina o
Espírito de Deus, para a edificação das igrejas numa era de trevas, torna-
se o Espírito sete vezes intensificado, que executa a administração
universal de Deus para o cumprimento do Seu eterno propósito, e expressa
plenamente a Cristo como o Administrador universal de Deus, para
introduzir o reino de Deus no milênio (Ap 20:4, 6) e para levar o reino à sua
consumação final e máxima como a nova Jerusalém no novo céu e nova
terra (Ap 21:1, 2).
O Espírito
Esse Espírito maravilhoso finalmente torna-se tão simples no título: o
Espírito (Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 14:13; 22:17). Em Apocalipse
temos os sete Espíritos e o Espírito. Nas sete epístolas às igrejas em
Apocalipse, o início de cada epístola refere-se ao Senhor Jesus como Aquele
que escreve para a igreja em certo lugar. Então, no final de cada uma nos é
dito para ouvir "o que o Espírito diz". Apocalipse 22:17 diz: "O Espírito e a
noiva dizem: Vem".
O Espírito é composto, processado e todo-inclusivo. Ele é a
consumação do Deus Triúno alcançando Seu povo escolhido. De acordo
com João 4:24, nosso Deus é Espírito. Não somente o Espírito da Trindade
é Espírito, mas o Deus completo — o Pai, o Filho e o Espírito — é Espírito.
Deus é Espírito, e esse Deus inclui o Pai, Filho e Espírito.
João nos diz que quando o Filho veio, Ele veio em nome do Pai (Jo
5:43). Então o Pai mandou o Espírito no nome do Filho (14:26). O Filho
veio no nome do Pai; isso quer dizer que Ele veio como o Pai. Então o
Espírito veio no nome do Filho; isso quer dizer que o Espírito veio como o
Filho. O Filho enviou o Espírito a nós de e com o Pai, e o Espírito veio a nós
de e com o Pai (Jo 15:26 - lit.). Quando o Espírito veio, o Filho estava lá e o
Pai também estava. O Filho estava no Pai, e o Pai estava no Filho (14:10).
Quando o Filho estava lá, o Pai estava lá. Todos os três estavam lá porque
Eles são um único Deus. Você não pode separá-Los; todavia, Eles são
distintos como o Pai, o Filho e o Espírito.
A FUNÇÃO DO ESPÍRITO
O Espírito é a realidade de Cristo (Jo 14:17; 15:26; 1 Jo 5:7). Quando
invocamos o nome do Senhor Jesus, recebemos o Espírito como a realidade
de Cristo (Jo 14:17), e esse Cristo, o Filho de Deus, é a própria
corporificação do Pai (Cl 2:9). O Pai é corporifícado no Filho, e o Filho é
plenamente percebido como o Espírito. Colossences 2:9 diz que a plenitude
da deidade (divindade) habita em Cristo corporalmente. Cristo, então, é a
corporificação de Deus, plenamente percebido como o Espírito. Isto é
revelado em João 16:13-15.
O Espírito dá vida aos crentes (1 Co 15:45 ; 2 Co 3:6) e os regenera
em seu espírito (Jo 3:5, 6). Ele unge os crentes (2 Co 1:21), os sela (Ef 1:13;
4:30; 2 Co 1:22a), e Ele próprio é o penhor de Deus dado a eles (2 Co
31. 1:22b). Por meio deste ungir, que traz o elemento divino para dentro dos
crentes, Ele os preenche. O selar modela o elemento numa certa forma
como uma impressão e torna-se uma marca. O penhor significa que Ele é a
garantia de que Deus é a nossa herança. Por um lado, selar prova que nós
somos a herança de Deus; por outro lado, Deus como nossa herança para
nosso desfrute é também garantido por meio do Espírito que habita
interiormente como o penhor.
Ele é também o suprimento abundante para os crentes (Fp 1:19 ). Ele
nos santifica, não só posicionalmente, mas disposicionalmente (1 Pe 1:2;
Rm 15:16) e experimentalmente também. Ele transforma os crentes (2 Co
3:18).
Todos os crentes foram batizados neste único Espírito para dentro de
um único Corpo (1 Co 12:13). No dia de Pentecoste, e na casa de Cornélio,
quando Cristo, o Filho, o ascendido, derramou o Espírito sobre os crentes,
aquilo foi o batizar do Seu Corpo para dentro do Espírito. Em 1 Coríntios
12:13 diz que fomos todos batizados em um Espírito para dentro de um
Corpo. Cristo completou esse batismo assim como completou Sua
crucificação. Todos os que crêem foram crucificados (Gl 2:19b, 20). No
mesmo princípio, todos nós fomos batizados no dia de Pentecoste. Fomos
batizados e nos foi dado a beber desse único Espírito (1 Co 12:13). Agora
estamos bebendo deste Espírito. Ser batizado é exterior; beber é interior.
Exteriormente fomos batizados; interiormente estamos bebendo do único
Espírito.
Com a ascensão do Senhor aos céus e o derramar do Espírito, toda a
operação do Deus Triuno foi completada. O Pai planejou com o Filho e o
Espírito, e o Filho veio com o Pai e o Espírito para cumprir o que Deus
havia planejado. Finalmente, o Espírito veio com o Pai e o Filho para
aplicar o que o Pai havia planejado e o que o Filho havia cumprido. Este
Espírito que aplica é a consumação do Deus Triuno. Ele não é somente por
Si mesmo como um Espírito separado, nada tendo a ver com o Pai e não
relacionado ao Filho; Ele é a consumação do Deus Triuno, a consumação
da Trindade divina, para nos alcançar.
O alcançar do Espírito a nós tem dois aspectos: o aspecto interior e
exterior. O interior foi cumprido no dia da ressurreição. Naquele dia o
Senhor ressurreto voltou para os
Seus discípulos e soprou-se para dentro deles (Jo 20:22). Isso foi
totalmente para vida, a vida interior.
Cinqüenta dias mais tarde, no Pentecoste, Ele derramou o Espirito
sobre os discípulos como um vento poderoso (At 2:1, 2). Sopro é para vida,
mas vento é para poder. No Pentecoste, os discípulos foram revestidos com
poder do alto (Lc 24:49). O revestir do Espírito é como o vestir de um
uniforme. O uniforme dá, a quem o veste, poder, autoridade. Um policial
com um uniforme tem autoridade para nos parar. Se ele não tivesse um
uniforme, não o ouviríamos. O Espírito como nossa vida, o Espírito que dá
vida, a saber, o Espírito da vida, é também o Espírito fora de nós,
derramado sobre nós como o Espírito de poder do alto. Tudo isso já foi
cumprido.
32. A CONSUMAÇÃO DO DEUS TRIÚNO
Este Espírito composto, processado, todo-inclusivo é a consumação
do Deus Triúno. Tudo o que Ele planejou, tudo o que Ele realizou, tudo o
que Ele irá aplicar a nós está totalmente envolvido neste Espírito composto.
A divindade está envolvida Nele; a humanidade de Cristo também está
envolvida Nele. A Sua morte — Sua morte redentora e infusora de vida —
está envolvida Nele. A Sua ressurreição e Sua ascensão estão envolvidas
nesse único Espírito composto que nos alcança. Interiormente Ele é nossa
luz e vida; exteriormente Ele é nosso poder.
O ESPÍRITO E A PALAVRA
Deus nos deu dois grandes dons — o Espírito e a Palavra. O Espírito
composto é a totalidade do Deus Triúno e de todos os Seus feitos. É por
isso que digo que esse Espírito composto, incluindo Sua Palavra, é a
consumação final e máxima do Deus Triúno alcançando-nos. A Pessoa
divina e a Palavra divina estão envolvidas neste único Espírito composto.
Todas as bênçãos , todas as heranças do Novo Testamento foram legadas
aos filhos de Deus. Estes legados estão também envolvidos neste único
Espírito composto.
Dois versículos no Novo Testamento indicam que o Espírito e a
Palavra são um. Em João 6:63 o Senhor diz : "As palavras que eu vos tenho
dito, são espírito". Também, Efésios 6:17 refere-se à espada do Espírito,
cujo Espírito é a palavra de Deus. Não somente a palavra do Senhor é o
Espírito; o Espírito também é a Palavra.
É por isso que em Romanos 10 Paulo diz que quando você ouve a
pregação do evangelho, a palavra está perto de você, em sua boca e em seu
coração (v. 8). Por muitos anos não podia entender o que Paulo queria
dizer. Como poderia a palavra estar em minha boca e em meu coração?
Finalmente o Senhor me mostrou que sempre que o Novo Testamento é
ensinado, pregado, lido, ou estudado por alguém com um coração sincero,
o Espírito trabalha com a Palavra. Por meio do Espírito a Palavra entra em
sua boca. Por meio do Espírito a Palavra entra em seu coração. Sem o
Espírito, a palavra impressa não poderia entrar em sua boca e em seu
coração. Quando exercita seu espírito para orar sobre um versículo da
Bíblia, aquele versículo entra em sua boca e em seu coração. Você não
deveria ler a Bíblia sem orar. Você tem de ler a Bíblia, a Palavra santa,
devotadamente. Não deveria meramente exercitar sua mente para estudar
a Palavra. Você deve ir à Palavra com oração. Não precisa usar sua
próprias palavras; ore a Palavra.
Todos nós sabemos que quando oramos dessa maneira, a palavra na
página entra em nossa boca e em nosso coração. Somos regados,
recebemos iluminação, nutrição, fortalecimento, conforto e suprimento de
vida. Também o Espírito é aplicado a nós como a consumação do Deus
Triúno.
33. O Espírito e a Palavra trabalham juntos. Devemos sempre tocar a
Bíblia por tocar o Espírito. Devemos orar lendo, e ler orando. Então
desfrutaremos o Deus Triúno. O nosso encargo não é discutir ou debater,
mas apresentar a verdade básica ao povo de Deus para que ele possa
conhecer que nosso Deus é na realidade o Deus Triúno, não para en-
tendermos, mas para desfrutarmos. Estamos apresentando a verdade para
ajudar os santos a conhecer que nosso Deus é Triúno para participarmos
Dele, desfrutá-Lo e experimentá-Lo.
O ESPÍRITO HUMANO
Também enfatizamos o espírito humano (Zc 12:1; Pv 20:27; Rm 8:16;
2 Tm 4:22). Assim como para o nosso alimento temos uma boca e um
estômago, temos também um espírito humano, que é nossa boca espiritual
e estômago espiritual. Em um rádio, o receptor é crucial. Podemos ter um
rádio bem feito e bonito, mas se ele não tiver um receptor, ele é vazio.
Somos um "rádio" para receber as riquezas divinas para dentro do
"receptor" em nosso interior — nosso espírito humano.
Enfatizamos fortemente esses dois espíritos, o Espírito composto da
Trindade e o espírito humano dentro de nós, porque o Espírito composto é
a consumação do Deus Triúno alcançando-nos para nosso desfrute, e o
espírito humano é o único meio para recebermos tal rico Espírito
composto, para que possamos desfrutar as riquezas do Deus Triúno e
experimentá-Lo diariamente, até mesmo em toda hora. Estamos aqui como
um testemunho para que todo o povo de Deus hoje possa ter uma visão
clara concernente à Trindade divina e para que nós mesmos possamos
participar Dele e desfrutá-Lo o dia inteiro.
34. CAPÍTULO QUATRO
OS CRENTES
Leitura da Bíblia: Jo 3:6; Mt 28:19; Gl 3:27; Rm 6:3; 1 Co 12:13; Rm
8:9, 11, 4; Gl 5:16, 15; 1 Co 3:6, 7; Ef 4:16; 2:21, 22; 1 Pe 2:5; 2 Co 3:18;
Rm 12:2; 1 Ts 5:23; Fp 3:21; Rm 8:29,30; 10:8,9,12
O tema deste capítulo, os crentes, é aparentemente simples, mas na
realidade é misterioso. Um estudante de medicina logo aprende que o corpo
humano não é simples. O ser psicológico de uma pessoa é ainda mais
misterioso. Como seres vivos, temos dois corações , um físico e um
psicológico. Podemos localizar o nosso coração físico, mas onde está o
coração psicológico? Onde estão nossa mente, emoção, vontade e
consciência? Onde está o nosso espírito? Onde está a nossa alma? Nós,
crentes em Cristo, somos seres espirituais, e como tais somos um mistério.
DESCENDENTES DO ADÃO CAÍDO
Nós, os crentes, somos descendentes do Adão caído. Somos todos
caídos. Estávamos mortos em pecado sob a condenação de Deus (Ef 2:1, 5;
Rm 3:19; 5:12; Jo 3:18). Enquanto estávamos mortos em pecado, Deus
proporcionou-nos uma mudança. Ouvimos o evangelho e cremos no
Senhor Jesus Cristo para receber a vida eterna (Jo 3:16 ).
SALVOS
Atos 16 : 31 nos diz que, quando cremos no Senhor Jesus Cristo,
somos salvos. Uma salvação completa inicial tem seis aspectos: perdão de
pecados, o lavar das nossas máculas, separação para Deus
posicionalmente, justificação, reconciliação e regeneração.
Perdoados
Depois de crermos, a primeira coisa que recebemos, o primeiro legado
de acordo com o testamento divino, é o perdão de nossos pecados (At
10:43).
Lavados
Fomos não somente perdoados, mas também lavados. Ser perdoado
põe em ordem o nosso caso perante Deus. Ser lavado leva embora a
mancha, a mácula, de nossos pecados. Por exemplo, se uma criança
sujasse a camisa e depois se arrependesse, a mãe o perdoaria; mas a
camisa ainda precisaria ser lavada. Perdoar a criança do seu mau
procedimento é uma coisa. Lavar a mancha da camisa é outra coisa. Deus,
ao crermos no Senhor Jesus, não somente perdoou-nos mas também
35. lavou-nos. Aleluia! Fomos perdoados e lavados pelo sangue de Cristo!
Santificados Posicionalmente
Como parte de nossa salvação inicial, fomos posicionalmente
santificados, isto é, separados por Deus do mundo para Ele mesmo. Em 1
Coríntios 6:11 indica que somos primeiro santificados e então justificados.
Santificação posicionai precede a justificação; santificação disposicional
segue a justificação.
Justificados
A morte de Cristo cumpriu e satisfez completamente as exigências
justas de Deus, para que possamos ser justificados por Deus por meio de
Sua morte (Rm 3:24). Somos "justificados de todas as coisas" das quais não
poderíamos "ser justificados por meio da lei de Moisés" (At 13:39).
Reconciliados com Deus
Nós precisávamos ser reconcilados com Deus porque quando éramos
pecadores, éramos inimigos de Deus (Rm 5:10). Fomos reconciliados com
Deus por meio da morte do Seu Filho.
Regenerados
Ao crermos no Senhor Jesus e invocarmos o Seu nome, fomos
regenerados, isto é, o próprio Espírito de Cristo entrou em nosso espírito e
nos deu vida (Jo 3:6; Ef 2:5). A regeneração nos fez filhos de Deus (Jo 1:12,
13; Rm 8:16), membros da família de Deus (Ef 2:19). Ela também nos fez
membros de Cristo, membros do Corpo de Cristo (Ef 5:30; 1 Co 12:27). Nós
que fomos regenerados, somos membros do Corpo de Cristo e também
filhos de Deus.
A regeneração ocorreu em nosso espírito, não em nosso corpo ou em
nossa mente. Isso quer dizer que o Deus Triúno está agora em nosso
espírito (Ef 4:6; 2 Co 13:5; Rm 8:9). Que tesouro temos dentro de nós (2 Co
4:7)! O Deus Triúno veio para dentro de nosso espírito para ficar (Jo 4:24;
2 Tm 4:22; Rm 8:16). É aqui em nosso espírito que estão as riquezas
insondáveis de Cristo.
Para desfrutar essas riquezas devemos invocar o nome do Senhor
Jesus (Rm 10:12). Se queremos ser nutridos, podemos invocar "Ó, Senhor
Jesus!" Quando estamos em casa e também no trabalho, podemos invocar
o nome do Senhor. Quando O invocamos, tocamos o Espírito (1 Co 12:3).
Muitos de nós oramos freqüentemente, mas não recebemos nutrição de
nossa oração. Isso não deveria ser assim. Não estamos orando para um
ídolo; estamos orando para o Deus vivo. Ele é o próprio Deus que está
agora em nosso espírito. Quando falamos com Ele, Ele responde em nosso
espírito. Quando exercitamos o espírito, percebemo-Lo em nosso espírito.
Se meramente exercitamos a mente e oramos só com a boca, o Deus Triúno
dentro de nós não tem caminho. Ele não está em nossa mente, mas em
nosso espírito.
Devemos exercitar o nosso espírito (1 Tm 4:7). Dessa maneira
36. podemos experimentar este Deus verdadeiro, real e vivo que está agora em
nosso espírito. Em nosso espírito regenerado habita o Deus Triúno como o
Espírito que dá vida.
BATIZADOS
Para Dentro do Nome do Pai do Filho e do Espírito Santo
Depois de Sua ressurreição e antes de Sua ascensão, o Senhor Jesus
incumbiu os discípulos de irem e fazer discípulos de todas as nações,
"batizando-os para dentro do (lit.) nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo" (Mt 28:19); isto é, eles deviam batizar as pessoas para dentro da
própria Pessoa do Deus Triúno.
Em Atos e nas Epístolas, entretanto, não há nenhum versículo
indicando que os apóstolos batizaram as pessoas para dentro do nome do
Pai, do Filho e do Espírito. Antes, aqueles que se arrependiam e criam no
Senhor eram batizados para dentro do nome do Senhor Jesus (At 8:16;
19:5). Ser batizado para dentro do nome do Senhor Jesus eqüivale a ser
batizado para dentro do nome do Pai, do Filho, e do Espírito. E ser batizado
para dentro do nome do Senhor é ser batizado para dentro de Sua Pessoa,
o próprio Cristo (Gl 3:27; Rm 6:3). Ser batizado para dentro de Cristo
eqüivale a ser batizado para dentro do Deus Triúno porque o próprio Cristo
para dentro de quem fomos batizados é a corporificação do Deus Triúno. O
Deus Triúno é cor-porificado em Cristo, o Senhor, o Filho de Deus.
Além disso, quando fomos batizados para dentro Dele, fomos
batizados para dentro de Sua morte (Rm 6:3). O batismo nos une com Ele
em Sua morte e em Sua ressurreição. O batismo de água não deve ser o
cumprimento de um ritual. Deve significar que estamos colocando aqueles
que estão sendo batizados para dentro do Deus Triúno, para dentro de
Cristo, e para dentro de Sua morte e ressurreição.
No Espírito Para Dentro do Corpo de Cristo
Fomos também batizados para dentro do Corpo, a igreja. "Pois
também em um Espírito fomos batizados para dentro de um corpo" (1 Co
12:13).
Fomos batizados, então, para dentro do Deus Triúno, para dentro de
Cristo, para dentro da morte e ressurreição de Cristo, e também para
dentro do Corpo, a igreja. Na realidade, todos estes "para dentro" são um.
Quando somos batizados para dentro de Cristo, somos batizados para
dentro de Sua morte e ressureição, e somos também batizados para dentro
do Deus Triúno e para dentro do Corpo de Cristo. Isso quer dizer que
estamos agora em Cristo, em Sua morte e ressurreição, no Deus Triúno, e
no Corpo de Cristo. Quando batizamos as pessoas, devemos mostrar-lhes
que eles agora estão em Cristo, em Sua morte e ressurreição, no Deus
Triúno, e no Corpo.
Necessitamos da realidade do fato espiritual de que, quando
batizamos as pessoas, nós as colocamos para dentro de Cristo. Podemos
37. colocá-las para dentro de Cristo porque Cristo hoje é o próprio Espírito.
Quando batizamos as pessoas, colocamo-nas para dentro do Espírito, que é
a realidade de Cristo. É assim que deve ser o batismo. O batismo nos dá a
posição de dizer que somos pessoas em Cristo, em Sua morte, em Sua
ressurreição, em união orgânica com o Deus Triúno, e também no Corpo
vivo do Cristo vivo. Ter essa percepção do batismo faz uma grande
diferença em nossa vida.
SER HABITAÇÃO DO ESPÍRITO E BEBER DO ESPÍRITO
Depois de crermos e sermos batizados, somos habitação do Espírito
(Rm 8:9, 11; 1 Co 6:19). Enquanto Ele habita em nós, estamos bebendo. A
fonte para se beber está exatamente em nosso espírito (Jo 4:14, 24).
Devemos voltar-nos ao espírito e beber pelo invocar o nome do Senhor (1
Co 12:3, 13b).
Temos o Espírito como o agregado do Deus Triúno habitando em nós.
Em 1936 quando vi que Deus estava vivendo em mim, fiquei fora de mim.
Queria sair, subir no telhado ou correr para a rua, e gritar para as pessoas:
" Não me toquem; tenho Deus em mim!"
O Deus Triúno está em nós. Ele habita em nós e estamos bebendo
Dele. Ele é a fonte para bebermos; esta fonte não está nos céus mas em
nosso espírito.
VIVENDO E ANDANDO NO ESPÍRITO MESCLADO
Agora devemos viver e andar no Espírito mesclado. Romanos 8:4 e
Gaiatas 5:16, 25 referem-se a este espírito mesclado. J. N. Darby mostra a
dificuldade de colocar um E maiúsculo ou minúsculo em espírito em,
Romanos 8. Embora ele não use a palavra mesclado, ele certamente
transmite o pensamento de que estes dois espíritos são considerados como
um.
Em Gaiatas 5:16 a palavra grega para andar é ter nosso ser movendo-
se e agindo. Aqui está a incumbência completa do Novo Testamento: viver,
ter o nosso ser, andar, mover-nos e agirmos de acordo com o espírito
mesclado. Tudo o que fazemos deve ser de acordo com o nosso espírito
habitado pelo Espírito composto e mesclado com Ele, não de acordo com
ensinamentos éticos ou regulamentos morais. Andar de acordo com o
Espírito é muito mais elevado do que andar de acordo com os
ensinamentos éticos ou regulamentos morais.
O mover do Epírito é chamado de unção. Em 1 João 2:20, 27 vemos
que todos temos recebido uma unção do Santo. Esta unção dentro de nós é
verdadeira; ela nos ensina a habitar no Senhor. A unção sobre a qual João
fala em 1 João 2 refere-se ao óleo em Êxodo 30. O tabernáculo e todos os
seus utensílios eram ungidos com óleo composto (Êx 30:26-29).
O óleo composto hoje, o Espírito, está dentro de nosso espírito
ungindo-nos, movendo-se, dentro de nós, todo o dia.
Mesmo quando estamos discutindo ou quando estamos a ponto de
discutir, a unção interior move-se em nós para não continuarmos, mas
38. para irmos ao nosso quarto e orar. Um dia uma irmã foi fazer compras,
mas sempre que pegava um item pensando em comprá-lo, a unção dizia
dentro dela para colocar de volta. Tudo o que pegava, tinha de pôr de volta.
Finalmente ela decidiu que era melhor voltar para casa. Assim que
obedeceu a unção interior e retornou ao seu carro para voltar para casa,
ela sentiu-se animada e alegre. Se não prestamos atenção à unção interior,
ofendemos o Espírito. Devemos viver e andar de acordo com esse Espírito
que está mesclado com o nosso espírito.
CRESCER NA VIDA DIVINA E SER EDIFICADOS
Poucos cristãos prestam atenção ao crescimento em vida (1 Co 3:6, 7)
e à edificação (1 Co 3:10-12) como o Corpo de Cristo e como a igreja, a casa
de Deus. Espiritualidade provém do crescimento em vida; o objetivo do
crescimento em vida é a edificação do Corpo de Cristo e da casa de Deus.
Praticamente falando, isso significa a edificação da igreja local. Sem uma
vida da igreja apropriada em nossa localidade, como podemos ser
edificados com outros? Precisamos estar onde há uma igreja. Assim,
naquela igreja podemos ser edificados com os outros para ser a casa
espiritual de Deus (Ef 2:21, 22; 1 Pe 2:5). Enquanto estamos sendo
edificados como a igreja numa cidade, estamos também sendo edificados
como o Corpo de Cristo (Ef 4:16).
SER TRANSFORMADO NA ALMA
O nosso espírito foi regenerado, mas e quanto à nossa alma?
Precisamos ser transformados (2 Co 3:18) pela renovação de nossa mente
(Rm 12:2; Ef 4:23). A mente é a parte liderante de nossa alma (SI 13:2;
139:14; Lm 3:20). Para a transformação da alma, a mente deve ser
renovada.
SER SANTIFICADO EXPERIMENTALMENTE
A transformação de nossa alma é a santificação de nossa disposição.
O Senhor santifica-nos em nosso espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23). Todo
nosso ser é para ser santifícado, transformado.
SER TRANSFIGURADO EM NOSSO CORPO
Quando o Senhor retornar, nosso corpo será transfigurado (Fp 3:21),
completamente redimido (Rm 8:23). Quando cremos, nosso espírito foi
regenerado. Durante a nossa vida cristã nesta terra, nossa alma está sendo
gradualmente transformada e santificada. Então, na Sua vinda nosso corpo
será transfigurado. Todo o nosso ser será, então, completamente
conformado a Cristo.
CONFORMADOS A CRISTO
39. Como os muitos irmãos de Cristo, seremos conformados à Sua
imagem e estaremos com Ele em glória (Rm 8:29, 30). Não seremos mais
naturais em nenhuma parte de nosso ser. Ainda somos um tanto naturais
na alma e corrompidos no corpo; é por isso que, depois da regeneração de
nosso espírito, precisamos da transformação da alma e da transfiguração
do corpo. Então seremos completamente conformados ao Filho primogênito
de Deus como Seus muitos irmãos.
GLORIFICADOS
Finalmente seremos glorificados na vida divina e na natureza divina
(Rm 8:30) para possuir a glória de Deus, para Sua expressão na Nova
Jerusalém.
O CAMINHO PARA DESFRUTAR CRISTO
O livro de Romanos é um esboço da vida cristã adequada. No capítulo
seis estão todos os fatos cumpridos por
Cristo. Ele morreu, e nós morremos com Ele. Ele foi ressuscitado, e
nós também. Em Cristo estas coisas são fatos. Nele estamos unidos à Sua
morte e ressurreição (6:4, 5).
Em Romanos 6, entretanto, não temos a experiência da morte e
ressurreição de Cristo. Precisamos prosseguir para Romanos 8 para
experimentar Cristo em Seus feitos por meio do Espírito. Em Romanos 8
estão as experiências dos fatos revelados no capítulo seis.
Então, no capítulo dez a Palavra entra em nossa boca e em nosso
coração. Primeiro cremos na Palavra que nos alcança; segundo, invocamos
Seu nome (10:8, 9). O Senhor é rico para com todos os que O invocam
(10:12). A palavra invocar em grego significa clamar, chamar com a voz.
Em Atos, os cristãos eram considerados invocadores do nome de Jesus;
sabemos disso porque Saulo de Tarso tinha autoridade para prender todos
aqueles que invocavam este nome (At 9:14). Invocar o nome do Senhor
Jesus designava os primeiros cristãos. Eles não eram silenciosos; eles
clamavam o querido nome do Senhor Jesus.
Se queremos desfrutar Cristo e todas as Suas realizações, precisamos
invocá-Lo. O caminho para desfrutar Cristo em todos os Seus feitos é
andar de acordo com o espírito mesclado e invocar o Seu querido nome.
Então participamos Dele, O desfrutamos e O experimentamos ao máximo.
40. CAPÍTULO CINCO
A IGREJA
Leitura da Bíblia: Mt 16:18; 18:17; 1 Tm 3:15; Ef 2:19; 1 Pe 2:5; Ef
1:22, 23; 3:19b; 2:15; 4:24; Cl 3:10, 11; Ef 5:25, 29, 32; Jo 3:29; Ap 19:7;
21:2,9; 22:17; Ef 6:11,12; 1 Co 12:12,13; At 8:1; 13:1; Ap 1:11-13, 20; 1
Co 3:10,11; Ef 2:20
A igreja é o objetivo final e máximo de Deus. O objetivo de Deus não é
somente ter muitos cristãos individuais. Seu objetivo é ter uma igreja
coletiva que possa ser Sua casa e o Corpo de Seu Filho. Esta igreja é a
expressão de Deus. A igreja é tanto a família de Deus expressando Deus, o
Pai, como o Corpo de Cristo expressando Cristo como Aquele que é a
corporificação do Deus Triúno (Cl 2:9). O que iremos tratar neste capítulo é
um extrato da revelação divina com respeito à igreja no Novo Testamento.
A EKKLESIA
A igreja é primeiramente uma ekklesia. Essa palavra grega denota
uma congregação chamada para fora. Nos tempos antigos quando uma
cidade chamava seus cidadãos para uma reunião, aquela congregação era
uma ekklesia. O Novo Testamento, começando com o Senhor Jesus em
Mateus 16, usa essa palavra para indicar a igreja (v. 18). A igreja é uma
congregação chamada por Deus para Ele. Os Irmãos Unidos preferem usar
a palavra assembléia. Creio que esta é uma melhor palavra para se usar,
porque a palavra igreja em português tem sido muito danificada.
Na minha infância na China, entendíamos a palavra igreja
significando um prédio com uma torre de sino. Para muitos de nós a igreja
era um prédio. Hoje, muitas pessoas pensam o mesmo. Elas dizem que
estão indo à igreja, referindo-se a um edifício. Esse conceito é
absolutamente errado. Devemos abandonar esse pensamento. A igreja não
é um edifício sem vida, mas algo orgânico, cheio de vida.
A igreja é uma assembléia de pessoas vivas, não um edifício físico
sem vida. Entretanto, considerar a igreja meramente como uma
congregação chamada para fora, uma assembléia, é ainda superficial. Pode
haver uma congregação, uma assembléia, porém sem vida. Hoje existem
muitas grandes congregações em nossa sociedade, as quais estão sem a
vida divina.
A CASA DE DEUS
A igreja é também a casa de Deus (1 Pe 2:5). Com isso não queremos
apenas dizer que a igreja é a habitação de Deus. Esta palavra grega oikos
não somente significa a casa, a habitação, mas também o lar. Oikos quer