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Mensagem
Fernando Pessoa
Docente: Naduska Palmeira.
Discentes: Érica Pires; Leandra Lopes; Fátima de Pina;
Marlene Gomes; Stefany de Pina
Tópicos:
❖ Vida e Obra do autor;
❖ Enquadramento da obra;
❖ Análises dos poemas;
Fernando António Nogueira
Pessoa, filho de Joaquim de
Seabra Pessoa e de Maria
Madalena Pinheiro, nasceu em
Lisboa em 13 de Junho de 1888,
ficando órfão de pai aos cinco
anos, tendo a sua mãe se casado
de novo com um comandante
militar, João Miguel Rosa.
Enquadramento da obra:
O livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, é o único livro
publicado em português, enquanto o poeta estava vivo, escrito por
“ele mesmo”, foi iniciado em 1913 e somente publicado em 1934
pouco antes da sua morte.
Mensagem é uma obra modernista que dialoga com os Lusíadas,
é possível pensar numa réplica de os Lusíadas, se pensarmos
que Pessoa tinha previsto um advento “Supra Camões”.
Estrutura da obra:
“O meu livro Mensagem chamava-se primitivamente «Portugal».
Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez
notar – a observação era por igual patriótica e publicitária – que o
nome da nossa pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a
hotéis a sua maior Dinastia. «Quer V. pôr o título do seu livro em
analogia com “portugalize os seus pés”?» Concordei e cedi, como
concordo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em
ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu
procurador. Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o
por um título concreto por uma razão… E o curioso é que o título
Mensagem está mais certo – à parte a razão que me levou a pô-lo,
de que o título primitivo.” Fernando Pessoa
Mens agitat molem
Benedictus Dominus Deus Noster Qui Dedit
Nobis Signum.
A etimologia possível para o
termo “brasão” seja o verbo
alemão blasen, ou seja soprar,
que também é a do espírito,
quer dizer, sopro. Pessoa diz
que o brasão exprime o
sentido sagrado da demanda
existencial daquele que o
possui, no caso de Mensagem
não se trata de uma pessoa,
mas sim de uma nação.
I Os Campos
1º O Dos Castellos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
2º O DAS QUINAS
Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!
Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.
Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:
Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu.
II Os castellos
O primeiro ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Segundo VIRIATO
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.
Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste –
Assim se Portugal formou.
Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.
Terceiro O Conde D. Henrique
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e fez-se.
Quarto D.Tereja
As nações todas são mistérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe, de reis e avó de impérios.
Vela por nós!
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por ele reza!
Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo a cria!
Quinto D. Afonso Henriques
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!
Sexto D. Dinis
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver
E ouve um silêncio murmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o Oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Conclusão
Apesar do muito que ficou por dizer, parece evidente que Fernando
Pessoa teve uma preocupação ao escrever a obra Mensagem, que foi
deixar uma «mensagem» aos leitores.
Começando pelo título do poema, constatamos que este é fruto de
uma reflexão e pesquisa demorados.
O modo como faz coincidir o tema e as ideias de cada poema com a
sua ordem na estrutura da obra mostram que nada terá sido feito ao
acaso, mas bem ponderado e com uma intencionalidade.
Referências bibliográficas
COELHO, Maria (2010). MESAGES DE MESAGEM,
de Fernando Pessoa. Dissertação de Mestrado em Estudos
Portugueses. Universidade de Nova Lisboa.
BRASIL ESCOLA. Mensagem | Análise literária. Youtube,
27/07/2021. Disponível em:http://mundoeducacao.com/literatura/f...

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Análise da obra Mensagem de Fernando Pessoa

  • 1. Mensagem Fernando Pessoa Docente: Naduska Palmeira. Discentes: Érica Pires; Leandra Lopes; Fátima de Pina; Marlene Gomes; Stefany de Pina
  • 2. Tópicos: ❖ Vida e Obra do autor; ❖ Enquadramento da obra; ❖ Análises dos poemas;
  • 3. Fernando António Nogueira Pessoa, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro, nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1888, ficando órfão de pai aos cinco anos, tendo a sua mãe se casado de novo com um comandante militar, João Miguel Rosa.
  • 4. Enquadramento da obra: O livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, é o único livro publicado em português, enquanto o poeta estava vivo, escrito por “ele mesmo”, foi iniciado em 1913 e somente publicado em 1934 pouco antes da sua morte. Mensagem é uma obra modernista que dialoga com os Lusíadas, é possível pensar numa réplica de os Lusíadas, se pensarmos que Pessoa tinha previsto um advento “Supra Camões”.
  • 6. “O meu livro Mensagem chamava-se primitivamente «Portugal». Alterei o título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar – a observação era por igual patriótica e publicitária – que o nome da nossa pátria estava hoje prostituído a sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia. «Quer V. pôr o título do seu livro em analogia com “portugalize os seus pés”?» Concordei e cedi, como concordo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador. Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título concreto por uma razão… E o curioso é que o título Mensagem está mais certo – à parte a razão que me levou a pô-lo, de que o título primitivo.” Fernando Pessoa
  • 8. Benedictus Dominus Deus Noster Qui Dedit Nobis Signum.
  • 9. A etimologia possível para o termo “brasão” seja o verbo alemão blasen, ou seja soprar, que também é a do espírito, quer dizer, sopro. Pessoa diz que o brasão exprime o sentido sagrado da demanda existencial daquele que o possui, no caso de Mensagem não se trata de uma pessoa, mas sim de uma nação.
  • 10. I Os Campos 1º O Dos Castellos A Europa jaz, posta nos cotovelos: De Oriente a Ocidente jaz, fitando, E toldam-lhe românticos cabelos Olhos gregos, lembrando. O cotovelo esquerdo é recuado; O direito é em ângulo disposto. Aquele diz Itália onde é pousado; Este diz Inglaterra onde, afastado, A mão sustenta, em que se apoia o rosto. Fita, com olhar esfíngico e fatal, O Ocidente, futuro do passado. O rosto com que fita é Portugal. 2º O DAS QUINAS Os Deuses vendem quando dão. Compra-se a glória com desgraça. Ai dos felizes, porque são Só o que passa! Baste a quem baste o que lhe basta O bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. Foi com desgraça e com vileza Que Deus ao Cristo definiu: Assim o opôs à Natureza E Filho o ungiu.
  • 11. II Os castellos O primeiro ULISSES O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo O corpo morto de Deus, Vivo e desnudo. Este, que aqui aportou, Foi por não ser existindo. Sem existir nos bastou. Por não ter vindo foi vindo E nos criou. Assim a lenda se escorre A entrar na realidade, E a fecundá-la decorre. Em baixo, a vida, metade De nada, morre.
  • 12. Segundo VIRIATO Se a alma que sente e faz conhece Só porque lembra o que esqueceu, Vivemos, raça, porque houvesse Memória em nós do instinto teu. Nação porque reencarnaste, Povo porque ressuscitou Ou tu, ou o de que eras a haste – Assim se Portugal formou. Teu ser é como aquela fria Luz que precede a madrugada, E é já o ir a haver o dia Na antemanhã, confuso nada.
  • 13. Terceiro O Conde D. Henrique Todo começo é involuntário. Deus é o agente. O herói a si assiste, vário E inconsciente. À espada em tuas mãos achada Teu olhar desce. «Que farei eu com esta espada?» Ergueste-a, e fez-se.
  • 14. Quarto D.Tereja As nações todas são mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós. Ó mãe, de reis e avó de impérios. Vela por nós! Teu seio augusto amamentou Com bruta e natural certeza O que, imprevisto, Deus fadou. Por ele reza! Dê tua prece outro destino A quem fadou o instinto teu! O homem que foi o teu menino Envelheceu. Mas todo vivo é eterno infante Onde estás e não há o dia. No antigo seio, vigilante, De novo a cria!
  • 15. Quinto D. Afonso Henriques Pai, foste cavaleiro. Hoje a vigília é nossa. Dá-nos o exemplo inteiro E a tua inteira força! Dá, contra a hora em que, errada, Novos infiéis vençam, A bênção como espada, A espada como bênção!
  • 16. Sexto D. Dinis Na noite escreve um seu Cantar de Amigo O plantador de naus a haver E ouve um silêncio murmuro consigo: É o rumor dos pinhais que, como um trigo De Império, ondulam sem se poder ver. Arroio, esse cantar, jovem e puro, Busca o Oceano por achar; E a fala dos pinhais, marulho obscuro, É o som presente desse mar futuro, É a voz da terra ansiando pelo mar.
  • 17. Conclusão Apesar do muito que ficou por dizer, parece evidente que Fernando Pessoa teve uma preocupação ao escrever a obra Mensagem, que foi deixar uma «mensagem» aos leitores. Começando pelo título do poema, constatamos que este é fruto de uma reflexão e pesquisa demorados. O modo como faz coincidir o tema e as ideias de cada poema com a sua ordem na estrutura da obra mostram que nada terá sido feito ao acaso, mas bem ponderado e com uma intencionalidade.
  • 18. Referências bibliográficas COELHO, Maria (2010). MESAGES DE MESAGEM, de Fernando Pessoa. Dissertação de Mestrado em Estudos Portugueses. Universidade de Nova Lisboa. BRASIL ESCOLA. Mensagem | Análise literária. Youtube, 27/07/2021. Disponível em:http://mundoeducacao.com/literatura/f...