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São Paulo, quintafeira, 26 de fevereiro de 2004
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Médica diz que jovens da Rocinha
eram estudantes e trabalhadores
RENATA VICTAL
FREELANCE PARA A FOLHA
A médica pediatra Evelyn Eisenstein, moradora do Jardim
Botânico (zona sul), confirmou, em entrevista à Folha, que
os três adolescentes assassinados por policiais militares na
favela da Rocinha (zona sul), na madrugada de domingo,
eram estudantes e trabalhavam carregando compras na feira
livre do bairro.
O comando do Bope (Batalhão de Operações Especiais da
PM) alega que os garotos (de 17, 15 e 13 anos) eram ligados
ao tráfico e que foram baleados em uma troca de tiros. As
famílias dos adolescentes negam. Os policiais que
participaram da operação foram afastados até que a
investigação do caso seja concluída.
Eisenstein disse que conhecia os meninos há três anos e que
davalhes dinheiro para que fizessem a feira para ela. "Eles
eram honestos e muito educados. Sempre que eu esquecia de
comprar alguma coisa, dava o dinheiro e eles compravam
para mim. Nunca tive problema com o troco", disse a
médica, que soube da morte dos jovens pelo irmão de um
deles.
"Fiquei chocada. Eram jovens que trabalhavam para ajudar
em casa e estudavam. Sempre que tinham alguma prova mais
difícil, eles comentavam comigo."
Representante no Brasil da Ispcan (Internacional Society for
the Prevention of Child Abuse and Neglect ), a médica
afirmou que o episódio teve repercussão no exterior. "A
polícia está promovendo o extermínio desses jovens."
A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB),
concordou em receber hoje os pais dos três jovens mortos e
ainda os do outro adolescente ferido na ação da polícia. Na
terçafeira, Rosinha afirmara acreditar na versão da PM.
O presidente da Associação de Moradores da Rocinha,
William de Oliveira, espera que a governadora peça
desculpas. Se isso não acontecer, disse, a revolta na
comunidade vai aumentar. "São 250 mil moradores e a
maioria é gente de bem, sem nenhuma relação com o tráfico.
Estão todos indignados com a posição do Estado e dispostos
a fazer várias manifestações."
Em uma semana, foi o segundo caso no Rio em que a PM foi
denunciada pela morte e tortura de moradores de favelas. Há
sete dias, cinco moradores do morro da Coroa (Santa Teresa,
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zona central), em depoimento à Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia Legislativa, denunciaram PMs por
tortura. Um deles foi empalado com um cabo de vassoura e
está internado em estado grave no Hospital Miguel Couto.
Outro caso marcante aconteceu em 16 de abril do ano
passado, quando quatro jovens foram assassinados durante
uma operação da PM no morro do Borel, na Tijuca (zona
norte). Inicialmente, o caso foi registrado como morte em
confronto. Moradores da favela e parentes dos mortos
mobilizaramse para provar que os jovens haviam sido
vítima de chacina. No final do ano passado, a Justiça
decretou a prisão preventiva de cinco denunciados (acusados
formalmente), entre eles o comandante da operação.
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