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0
Raquel Maria da Silva Costa
Descrição sociolinguística das vogais médias
postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado
no município de Cametá-PA
VOL. I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
2010
1
Raquel Maria da Silva Costa
Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas
não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de
Cametá-PA
VOL. I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
2010
2
Universidade Federal do Pará
Centro de Letras e Artes
Curso de Pós-Graduação em Letras/Mestrado em Linguística
Área de Concentração: Sociolinguística
Raquel Maria da Silva Costa
Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no
português falado no município de Cametá-PA
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Letras/Mestrado em Linguística da Universidade
Federal do Pará, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Linguística.
Orientadora: Prof. Dra. Regina Célia Fernandes
Cruz
Belém
2010
3
Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/
e /e/ no português falado no município de Cametá-PA
Raquel Maria da Silva Costa
Dissertação defendida e aprovada, em 31 de Agosto de 2009, pela banca examinadora
constituída pelos professores:
___________________________________________
Prof. Dr. Regina Célia Fernandes Cruz (UFPA)
Orientadora
__________________________________________
Prof. Dr. Abdelhak Razky (UFPA)
Membro
__________________________________________
Prof. Dr. Seung-Hwa Lee (UFMG)
Membro
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
2010
4
Agradecimentos
A Deus. Por senti-lo sempre presente em minha vida e permitir a aquisição
de mais uma conquista importante ao lado de pessoas queridas. A Ele sempre.
Obrigada!
À professora Dra. Regina Célia Cruz, cuja convivência nesses dois anos fez
aumentar minha admiração e respeito por ela, como profissional e pessoa; agradeço pela
confiança, apoio e pela orientação densa e precisa deste trabalho.
Ao professor Dr. Abdelhak Razky, pelas contribuições valiosas atribuídas
ao longo do curso de mestrado para o desenvolvimento deste estudo.
As professoras Dra. Marilúcia Barros de Oliveira e Dra. Marília Ferreira
pelos comentários preciosos fornecidos para o enriquecimento deste trabalho, durante o
Exame de Qualificação. Conhecimentos compartilhados generosamente.
Ao MSc. Orlando Cassique Sobrinho Alves, que desde a graduação, vem
incentivando-me a trilhar pelo universo da linguagem, principalmente da linguagem
cametaense. Profissional dedicado ao fazer científico, modelo de mestre a ser seguido.
Sua contribuição foi fundamental na elaboração desta dissertação. Obrigada pelo apoio,
ensinamentos, dedicação e contribuição ao meu crescimento profissional.
Ao professor MSc. Doriedson Rodrigues, por despertar em mim, nas aulas
de lingüísticas, ainda na graduação, o gosto pela ciência da linguagem; e por ceder-me
gentilmente parte do corpus desta pesquisa.
Aos jovens pesquisadores que fizeram parte do projeto Vozes da Amazônia,
pela contribuição valiosíssima dada a este: Daniele Oliveira, pelo auxílio significativo
na coleta dos dados na zona urbana de Cametá; Marcelo Pires, que muito contribui na
execução dos programas computacionais. Muito grata pela disponibilidade de
cooperação; e Marivana dos Prazeres, pelos ensinamentos preciosos sobre as rodadas do
Varbrul. Obrigada sempre!
A professora Dinalva Pereira, diretora da EMEF. D. Romualdo de Seixas,
pelo apoio constante a minha jornada acadêmica, demonstrando sempre compreensão à
minha ausência na escola. Pessoas amigas assim merecem aplausos.
A família Américo, Manoel Maurício Américo, Maurício Júnior e Maria
José Américo que gentilmente acolheram-me em seu lar em Belém, fazendo-me sentir
sempre em casa; pelo incentivo e presença constante nos momentos de alegrias e
5
tristezas vividas ao longo desses dois anos. Uma segunda família que o curso de
mestrado proporcionou-me.
Aos meus colegas do curso de mestrado, em especial Andréa, Claudia,
Cintia, Ivanete, Jane, Josiane, Edinaldo e Renata pela ajuda na superação das
dificuldades, principalmente das leituras dos textos em línguas estrangeiras. Pelos
conhecimentos sempre partilhados.
A minha mãe e amiga Guilhermina Silva, pela imensa dedicação,
generosidade e incentivo atribuído não só durante o curso, mas em toda a minha vida.
Ela é a peça fundamental de todas as minhas conquistas. A ela o meu imenso amor e
gratidão.
Ao meu pai Lindinho Costa (em memória) que compartilhou comigo o
começo desta conquista. Sinto que sua torcida pelas minhas conquistas não se extingui
através de sua ausência física.
Aos meus irmãos Paulo (em memória), Ricardo, Sebastiana, Nonato, Elias e
Claudia, que das mais variadas formas de ajuda, contribuíram para a concretização deste
trabalho. Presenças sempre marcantes, estimuladoras e indispensáveis.
Aos meus informantes, pela gentil colaboração para a realização desta
dissertação; sem eles não haveria saber científico que pudesse ser concretizado.
A todos os meus amigos que contribuíram, das mais diversas formas, na
execução deste.
6
A Deus,
À minha família – por tudo!
7
“língua é um conjunto heterogêneo, múltiplo e mutável de
variedades, com marcas de classes e posições sociais, de
gêneros e etnias, de ideologias, éticas e estéticas
determinadas”.
(ANGELA SOUTO)
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Plano da Amostra Estratificada em Faixa Etária, Sexo e Escolaridade 69
Tabela 02: Sinais utilizados na transcrição grafemática do corpus 75
Tabela 03: Itens lexicais identificados no corpus do português falado em
Cametá, contendo as vogais médias /e/ e /o/ na posição postônica medial.
81
Tabela 04: População por Distrito do Município de Cametá 98
Tabela 05: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
Natureza da modificação da vogal postônica para a realização do fenômeno
variacionista das médias postônicas não-finais no falar do município de Cametá
(PA)
107
Tabela 06: Os grupos de fatores selecionados para /e/ e para /o/ no stepup 109
Tabela 07: Freqüência, percentuais e pesos relativos do processo de alteamento
das médias postônicas no português falado em Cametá (PA).
109
Tabela 08: Freqüência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a
Natureza da Vogal Tônica Oral, a respeito da postônica /o/ sobre o fenômeno do
alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá
(PA).
116
Tabela 09: Freqüência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a
natureza do segmento precedente da vogal posterior /o/ sobre o fenômeno do
alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá (PA)
119
Tabela 10: Frequência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a
natureza do segmento precedente da vogal posterior /e/ sobre o fenômeno do
alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá (PA)
122
Tabela 11: Aplicação, percentuais e probabilidades de elevação das pretônicas /o/
em relação à natureza da sílaba seguinte.
124
Tabela 12: Aplicação, percentuais e probabilidades de elevação das postônicas /e/
em relação à natureza da sílaba seguinte.
127
Tabela 13: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
posição da variável dependente no vocábulo para a realização do fenômeno de
alteamento das médias postônicas não-finais no falar do município de Cametá
(PA).
128
Tabela 14: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
natureza da entrevista para a realização do fenômeno de alteamento das médias
postônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA).
130
9
Tabela 15: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados
ponto de articulação da vogal que realiza a variável dependente das médias pós-
tônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA).
132
Tabela 16: Itens lexicais que se apresentaram categóricos na fala dos informantes
para a vogal postônica /e/, com a manutenção da postônica.
134
Tabela 17: Item lexicais que se apresentaram categóricos na fala dos informantes
para a vogal postônica /o/.
135
Tabela 18: Itens lexicais que apresentaram as quatro variantes para a vogal /o/ 136
Tabela 19: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
procedência do informante para a realização do fenômeno de alteamento da média
postônica /o/ não-final no município de Cametá (PA).
137
Tabela 20: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
Escolaridade do informante para a realização do fenômeno de alteamento da
média postônica /e/ não-final no município de Cametá (PA).
139
Tabela 21: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à
Escolaridade do informante para a realização do fenômeno de alteamento da
média postônica /o/ não-final no município de Cametá (PA).
139
Tabela 22: Itens lexicais que apresentaram abaixamento da vogal média /o/.
143
Tabela 23: Itens lexicais que apresentaram abaixamento da vogal média /e/.
144
Tabela 24: Vocábulos que apresentaram apagamento da vogal média posterior /o/. 145
Tabela 25: Vocábulos que apresentaram alteamento da vogal média posterior /o/.
148
Tabela 26: Vocábulos que apresentaram alteamento da vogal média posterior /e/ 151
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01: Significância da variação das médias postônicas não-finais no falar
urbano de Cametá (PA)
106
Gráfico 02: Significância da variação das médias postônicas não-finais no dialeto
do município de Cametá (PA) com enfoque no alteamento das médias postônicas
não-finais.
110
Gráfico 03: Importância dos fatores relacionados à Natureza da Vogal Tônica
Oral para a realização do alteamento da média pós-tônica não-final /o/ no falar
do município de Cametá (PA)
116
Gráfico 04: A importância do segmento consonantal precedente para a variação
da média postônica não-finais /o/ em Cametá (PA)
120
Gráfico 05: A importância do segmento consonantal precedente para a variação
da média postônica /e/ não-finais em Cametá (PA)
123
Gráfico 06: Significância dos fatores relacionados à natureza do segmento
seguinte para a realização do alteamento das médias postônica não-final /o/ no
falar de Cametá (PA)
125
Gráfico 07: Significância dos fatores relacionados à natureza do segmento
seguinte para a realização do alteamento das médias postônica não-final /e/ no
falar de Cametá (PA)
127
Gráfico 08: Significância dos fatores relacionados à posição da variável
dependente no vocábulo para a realização do alteamento da média postônica não-
final /o/ no falar de Cametá (PA).
129
Gráfico 09: Significância dos fatores relacionados à natureza da entrevista
para a realização do alteamento da média postônica não-final /e/ no falar de
Cametá (PA).
131
Gráfico 10: Significância do fator ponto de articulação para a variação das
médias pós-tônicas não-finais no dialeto do município de Cametá (PA).
132
Gráfico 11: Importância dos fatores relacionados à procedência do informante
para a realização da variação da média postônica não-final /o/ no falar de Cametá
(PA)
138
Gráfico 12- Probabilidade de alteamento da vogal média postônica /e/ em
relação ao fator escolaridade.
139
Gráfico 13 - Probabilidade de alteamento da vogal média postônica /o/ em
relação ao fator escolaridade
140
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica 27
Figura 02: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica diante de
nasal
27
Figura 03: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica não-
final.
28
Figura 04: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica final 28
Figura 05: Condição de Boa-formação 48
Figura 06: Organização dos traços de forma hierárquica 49
Figura 07: Representação arbórea da organização dos segmentos da fala 51
Figura 08: Representação arbórea do segmento vocálico 53
Figura 09: Representação arbórea do segmento consonantal 54
Figura 10: Níveis de altura das Línguas românicas 58
Figura 11: Sistema de quatro altura vocálica do PB 58
Figura 12: Neutralização da vogal não acentuada 59
Figura 13: Neutralização da vogal postônica não-final 60
Figura 14: Neutralização da postônica final 60
Figura 15: Códigos dos Informantes 68
Figura 16: Imagens feitas durante as entrevistas realizadas na cidade de Cametá
(PA) durante o mês de maio de 2008
72
Figura 17: Imagens feitas durante as entrevistas realizadas não interior do
município de Cametá (PA) ano de 2008
72
Figura 18: Ícone do Programa Sound Forge 7.0 e Janela principal do programa. 74
Figura 19: Sistema Vocálico do Português Brasileiro na Posição Postônica
Medial, segundo Câmara Jr. ([1953]-1970).
134
Figura 20: Representação arbórea do apagamento de um segmento vocálico na
posição postônica medial.
146
Figura 21: Representação árborea do apagamento da sílaba postônica não-final. 147
12
Figura 22: Representação arbórea da neutralização da postônica não-final,
segundo Wetzels (1992).
149
Figura 23: neutralização da vogal que se encontra a borda direita de um pé
métrico
150
13
LISTAS DE MAPAS
Mapa 01: Mapa do Estado do Pará – e Mapa do Município de Cametá 93
Mapa 02 - Recorte do mapa do Estado do Pará situa Cametá e os municípios
limítrofes e os distritos do município
94
Mapa 03: Mapa do Pará destacando as zonas dialetais, nas quais ainda há a
presença do dialeto amazônico
113
14
SUMÁRIO
Resumo
Abstract
Introdução 19
CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA 23
1.1. As vogais médias postônicas não-finais 23
1.2. Palavras Proparoxítonas 23
1.3. Processos Fonológicos 25
1.3.1. Alteamento e Assimilação 25
1.3.1.1. O sistema vocálico do Português Brasileiro 26
1.3.2. Abaixamento 31
1.3.3. Síncope 32
1.4. Estudos sobre as vogais médias postônicas no Brasil 35
1.4.1. Neutralização das vogais médias postônicas do Rio Grande do Sul (RS) -
Vieira (1994)
35
1.4.2. As vogais médias postônicas: uma análise variacionista - Vieira (2002) 39
1.4.3. Alçamento das vogais postônicas não-finais no português de Belo Horizonte
(MG) - Ribeiro (2007)
40
1.5. Estudo das vogais médias posteriores do português do Norte do Brasil -
Oliveira (2008)
42
CAPÍTULO II: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS - METODOLÓGICOS 45
2.1. Introdução 45
2.2. Modelo Autossegmental 46
2.3. Geometria dos traços 49
2.3.1. As vogais na visão da Geometria dos Traços 54
15
2.3.2. A neutralização das vogais médias do português do Brasil: uma visão
autossegmental
57
2.4. Teoria da Variação: um breve comentário 61
2.4.1. A sociolinguística: teoria e perspectivas 61
2.5. Procedimentos Metodológicos 66
2.5.1. A amostra 67
2.5.2. Coletas de dados 70
2.5.3. Digitalização dos dados 73
2.5.4. Processamentos dos dados 74
2.5.5. O tratamento estatístico 78
2.5.6. Definições das variáveis 82
2.5.6.1. Variáveis dependentes
83
2.5.6.2. Variáveis independentes 83
2.5.6.2.1. Variáveis Lingüísticas 84
2.5.6.3. Variáveis sociais 89
2.6. A Comunidade Investigada: o município de Cametá 92
2.6.1. Localização geográfica 93
2.6.2. Origem e história 95
2.6.3. Urbanização e aspectos Socioeconômicos 97
2.6.4. Educação e cultura 100
2.6.5. A linguagem cametaense 102
CAPÍTULO III: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 104
3.1. Análise Sociolinguística 104
3.1.1. Modificação vs manutenção da postônica não-final 105
3.1.1.2. Natureza da modificação da vogal postônica 107
16
3.1.2. O alteamento no português falado no município de Cametá 108
3.1.2.1. Alteamento vs manutenção da vogal postônica não-final 109
3.1.2.2. Grupo de fatores linguísticos selecionados 115
3.1.2.2.1. Natureza da vogal tônica oral – resultados somente para /o/ 115
3.1.2.2.2. Natureza do segmento precedente – resultados para /o/ e /e/ 118
3.1.2.2.3. Natureza do segmento seguinte – resultados para /o/ e para /e/ 124
3.1.2.2.4. Posição da variável dependente no vocábulo – resultados para /e/ 128
3.1.2.2.5. Natureza da entrevista – resultados para /o/ 129
3.1.2.2.6. Ponto de articulação da vogal da variável dependente 132
3.1.2.3. Grupo de fatores sociais selecionados 137
3.1.2.3.1. Procedência do Informante - resultados somente para /o/ 137
3.1.2.3.2. Escolaridade – resultados para /e/ e /o/ 138
CAPÍTULO IV: ANÁLISE FORMAL 142
4.1. Abaixamento 142
4.2. Apagamento 144
4.3. Alteamento 147
Considerações Finais 152
Referências bibliográficas 155
17
RESUMO
Este trabalho verifica o comportamento das vogais médias /e/ e /o/ em posição
postônicas não-finais de itens lexicais na área urbana e rural do município de Cametá,
Nordeste do estado do Pará, Brasil. O estudo desse fenômeno colaborará para a
caracterização do dialeto do município em questão. As vogais médias postônicas, ora se
manifestam como [E/e] e [O/o], ora como /i/ e /u/, respectivamente. Como reflexo da
posição silábica aqui focalizada, os itens tratados neste trabalho foram somente os
vocábulos proparoxítonos. O corpus foi constituído por uma amostra estratificada de 96
informantes, selecionados de acordo com sexo, faixa etária, nível de escolaridade e
procedência. A coleta dos dados foi realizada através de dois tipos de entrevista: a livre
(48 informantes), em que os informantes discorreram livremente sobre suas
experiências de vida; e o teste ou nomeação de figuras (48 informantes), que consistiu
na identificação de desenhos pelos informantes (interpretados pelo falante como testes
de memória). O corpus apresenta 2.177 dados, sobre o qual se observou a partir de uma
análise estatística, no programa computacional Varbrul nos moldes labovianos,
considerando variáveis lingüísticas e não lingüísticas, que o fenômeno de alteamento
com peso relativo de .46 apresenta probabilidade menor de ocorrência do que sua
ausência com peso relativo de .54. Examinou-se, também, que as vogais médias em
posição tônica desempenham um papel bastante favorecedor do alteamento da média
postônica /o/ em estudo. Dos fatores sociais estudados, a escolaridade e a procedência
foram consideradas relevantes para explicar a regra variável de alteamento em Cametá.
Palavras-chave: Vogais médias postônicas; Alteamento; Variação sociolingüística
18
ABSTRACT
This work verifies the behavior of middle vowels / e / e / o / in non-final position poston
of lexical items in urban and rural municipality of Cametá, northeaster of the state of
Pará, Brazil. The study of this phenomenon collaborating for the characterization of the
dialect of the municipality concerned. The vowels mean poston, sometimes manifested
as /E / e] and [O / o] either as /i/ and /u/, respectively. Reflecting the position syllabic
focused here, the items addressed in this work were the only words proparoxítonos. The
corpus was composed of a stratified sample of 96 informants, selected according to sex,
age, level of education and origin. data collection was conducted through two types of
interview: free (48 informants), in which informants talk freely about their experiences
of life; and the test or appointment of pictures (48 informants), which was the
identification of drawings by the informants (as interpreted by the speaker tests of
memory). The corpus presents 2177 data, on which was observed from a statistical
analysis, in the computer program Varbrul out as labovianos, considering linguistic
variables and non language, that the phenomenon of ride with relative weight of .46
presents lower probability of occurrence of that on his absence with relative weight of
.54. It was, also, that the average position tonic vowels play a role in favoring very ride
average poston / o / in study. Of the social factors studied, the origin and education were
considered relevant to explain the rule of variable ride in Cametá.
Key-words: Postons middles vowels; Alteamento; Sociolinguistic variation
19
INTRODUÇÃO
O comportamento do sistema vocálico do Português do Brasil, em termos de
língua falada, apresenta variação, quando se leva em consideração a posição ocupada
pelas vogais em sílabas tônicas, pretônicas e postônicas, fato este observado desde
Câmara Jr (1970).
As regras fonológicas observáveis em algumas regiões do país, como o
Norte, considerado em sua grande parte como processo de alteamento, harmonização
vocálica (contexto pretônico) e neutralização (contexto postônico) que operam sobre as
vogais, principalmente sobre as vogais médias, haja vista que estas apresentam um
comportamento variável bastante significativo, alternando-se entre si mesmas ou entre
si e as vogais altas, dependendo dos contextos lingüísticos e extralingüísticos nos quais
se encontram.
Como o fenômeno linguístico de alteamento vocálico entre as médias e altas em
contextos postônicos não-final ainda não tinha sido sistematizado cientificamente,
optou-se por demonstrar tal caráter variável na linguagem falada no município de
Cametá (PA) à luz de referenciais teóricos apropriados, no sentido de identificar as
regras subjacentes que norteiam a manifestação dessa variável linguística, levando em
consideração que a substituição de uma forma por outra não ocasiona o contraste de
significado entre os vocábulos.
É realizada uma análise lingüística de cunho quantitativa e qualitativa, dos
valores numéricos gerados pelo programa VARBRUL, isto é, das freqüências e dos
pesos relativos necessários às inferências dos fatores que favorecem ou não as variantes
que integram o fato em exame (variável dependente). Este plano de trabalho visa
exatamente cumprir essa tarefa no projeto de pesquisa.
Neste estudo, portanto, o processo em foco é aquele em que a vogal média
posterior /o/ eleva o seu traço de altura de vogal média alta para vogal alta [u]
(abób/o/ra → abób[u]ra) e a vogal média anterior /e/ eleva-se o traço de altura de vogal
média alta para a vogal alta /i/, como em (hipót/e/se → hipót[i]se). As vogais médias
classificadas de médias de primeiro grau /ε / e / / em contexto postônico (não-final)
segundo Câmara (1970) e Bisol (1982) não se realizam nesta posição.
Considerando que o objeto central desta Dissertação é somente a análise do
alçamento das vogais médias altas de 2º grau /e/ e /o/ em contexto postônico não-final, e
20
como tal contexto lingüístico só poderá ser observado em palavras proparoxítonas da
língua portuguesa, apenas esta categoria de palavras da língua é analisada nesta
Dissertação.
O objetivo principal do presente estudo é, portanto, caracterizar o fenômeno
do alteamento vocálico no português falado no município de Cametá (PA), com base
em uma amostra estratificada, sob análise da teoria sociolinguística variacionista e da
Fonologia Autossegmental. Buscou-se particularmente: a) examinar quais os fatores
linguísticos (estruturais) e os extra-linguísticos (sociais) que são neutros, favorecedores
ou desfavorecedores do comportamento variável das vogais médias em contexto
postônico não-final no português falado no município de Cametá (PA); b) verificar
quais são os fonemas vocálicos que, no dialeto do município de Cametá (Pará) ocorrem
em posição postônica não-final, adotando a hipótese de Vieira (1994) e Ribeiro (2007),
em que tem um subsistema no qual realizam as seguintes vogais: a, e, i, o, u; c)
identificar qual é a série das vogais médias aqui em estudo, anterior /e/ ou posterior /o/,
que apresenta maior e menor freqüência de variação no município de Cametá e; d)
investigar o grau de estabilidade ou de mutabilidade das variáveis em estudo, isto é, se o
comportamento variável das vogais médias no português falado no município de
Cametá, estado do Pará, apresenta-se em um estágio de mudança em progresso ou de
variação estável..
Para comprovar as hipóteses levantadas e os objetivos elencados desta
pesquisa, esta Dissertação foi norteada pelas vertentes da Teoria estruturalista de
Câmara Jr. (1970, 1987); Teoria Autossegmental e Geometria dos Traços (Clements
1985, 1989, 1991; Clements e Hume 1995; Wetzels, 1991, 1992) e Teoria
Sociolingüística (Labov 1983). Um estado da arte apresenta os estudos que abordam
especificamente a variação das vogais médias postônicas, como o de Ribeiro (2007) e o
de VIEIRA (1994, 2001).
Esta Dissertação está organizada em três volumes, a saber: o volume I
constitui o corpo da Dissertação; o volume II é composto pela transcrição na íntegra do
corpus do projeto e o volume III contém os arquivos VARBRUL necessários ao
tratamento lingüístico.
O volume I que compreende o corpo desta Dissertação encontra-se dividido
em três capítulos. O primeiro capítulo volta-se para a caracterização do objeto de
estudo: as vogais médias postônicas em posição não-final. Comenta-se a natureza
dessas vogais e os itens lexicais em que elas se manifestam, assim como os processos
21
fonológicos que ocorrem com tais fonemas. Em seguida, é realizada uma revisão
bibliográfica dos principais estudos já realizados no Brasil sobre as vogais médias
postônicas não-finais. Ressaltam-se também neste capítulo os resultados de estudos
anteriores realizados sobre a variedade linguística do falar paraense pelo projeto Vozes
da Amazônia, ao qual esta Dissertação está vinculada.
O segundo capítulo dedica-se aos pressupostos teórico-metodológicos que
nortearam a elaboração deste estudo. Primeiramente faz-se uma resenha dos modelos
Fonológicos da teoria Autossegmental e Geometria dos Traços. De forma concisa,
ressaltam-se os pontos mais relevantes desta teoria, sua contribuição para o avanço dos
estudos sobre a linguagem e os pressupostos teóricos pertinentes para a análise do
objeto em estudo, assim como a justificativa da escolha desse modelo para descrição do
comportamento variacionista das vogais em estudo. É exposta ainda, a regra de
neutralização das vogais médias em termos não-lineares, e em torno dela são feitas as
devidas considerações.
Em seguida apresenta-se, em linhas gerais, um breve histórico da trajetória
dos estudos lingüísticos até o advento da teoria variacionista de Labov (1983) de cunho
quantitativo que inova ao inserir os fatores externos em análises de variação e mudança
lingüística, assim como se demonstra os problemas das restrições apresentados por
Weinreich, Labov e Herzog (1968). Em seguida, apresenta-se o município de Cametá,
local onde ocorreu este estudo, seus aspectos históricos, sociais, econômicos,
linguísticos e culturais mais importantes. Apresentam-se também os dados estatísticos
relevantes da população e educação no município. Esses fatores são dignos de
explanações neste trabalho, na medida em que este constitui uma análise de cunho
sociolinguística variacionista.
E por fim, demonstram-se os procedimentos metodológicos adotados para a
constituição do corpus desta pesquisa. É explicitada a delimitação da amostra (seleção e
caracterização dos informantes), os passos adotados para a constituição do corpus e o
tratamento estatístico destinado ao mesmo para ser processado pelo programa
VARBRUL, como também a definição das variáveis dependentes e independentes
(lingüísticas e sociais) necessárias para a compreensão do objeto em estudo.
No terceiro e último capítulo, será demonstrada a análise estatística
realizada pelo programa computacional adotado na pesquisa, e a porcentagem de
ocorrência de todas as realizações das vogais médias em posição postônica não-final.
Apontam-se os resultados da pesquisa e as conclusões a que se chegou a partir da
22
interpretação dos mesmos, os quais nos levarão a verificar se os objetivos específicos
elencados no inicio deste trabalho, foram alcançados ou não.
CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA
23
1.1 - As vogais médias postônicas não-finais
Ao contrário dos vastos estudos realizados sobre o alteamento das vogais
médias pretônicas /e/ e /o/ no português falado no Brasil, o alteamento das vogais
médias postônicas não-finais, objeto de análise deste trabalho, é um campo de estudo
linguístico muito pouco explorado no estado do Pará, principalmente no município de
Cametá, que é uma região marcada linguisticamente pelo alteamento das vogais médias,
seja em posição tônica, pretônica ou postônica.
São poucas as pesquisas existentes acerca das regras fonológicas que atuam
na elevação das vogais médias /e/ > [i] e do /o/ > [u] em posição postônica não-final,
como o que ocorre em algumas regiões do Brasil com a pronúncia de vocábulos como
abób[o]ra, em que a vogal média /o/ em posição postônica não-final dos vocábulos
proparoxítonos realiza-se como [u] abób[u]ra.
As vogais médias postônicas não-finais são assim caracterizadas porque se
situam nos vocábulos proparoxítonos entre a vogal tônica e a vogal átona final. Nos
vocábulos abóbora e prótese, as vogais médias /o/ e /e/ da sílaba que sucede a sílaba
tônica dos vocábulos ocupam essa posição delimitada de postônica não-final. Observou-
se, portanto que tais vogais nessa posição tendem a variar, alteando respectivamente na
língua falada para [u] e para [i]
De um modo geral os estudiosos que mais se detiveram aos estudos das
vogais médias postônicas do Português Brasileiro (PB) foram Câmara Jr. (1970), Bisol
(1981), Wetzels (1993). Antes de abordarmos alguns estudos já realizados no Brasil
sobre o alteamento das vogais médias e o fenômeno da neutralização que ocorre com as
mesmas em posição postônica final e não-final (Câmara Jr. 1970) convém tecer aqui um
breve comentário sobre as palavras proparoxítonas, pois as vogais médias postônicas
não-finais são observáveis somente nesse grupo de palavras.
1.2 - Palavras Proparoxítonas
Em todo o Brasil são raros os estudos que envolvem as palavras proparoxítonas.
Esse grupo de vocábulos (com acento principal na antepenúltima sílaba) possui traços
peculiares na língua e constitui uma exceção às regra de acento. Na língua portuguesa,
assim como na latina, o acento pode ocorrer em qualquer uma das três últimas sílabas da
24
palavra, o que gera as classificações conhecidas na gramática normativa de: oxítonas (o
acento principal na última sílaba caFÉ), paroxítonas (acento na penúltima sílaba PORta)
e proparoxítonas (acento na antepenúltima sílaba aBÓbora). Lee (apud Araújo et al
2007, p. 40) afirma que “na maioria das palavras do português, o acento cai na
penúltima sílaba”, o que comprova a extensão desse grupo de vocábulos sobre as
oxítonas e proparoxítonas.
Faria (apud Amaral 2002, p. 100) atribui a seguinte justificativa para as
palavras proparoxítonas do latim “as palavras de três ou mais sílabas têm sua
acentuação determinada pela quantidade da penúltima: se for longa (salũte), sobre ela
recai o acento, mas se for breve (domĬna), o acento incide sobre a sílaba precedente”.
O grupo dos vocábulos proparoxítonos ainda é bem menor do que os das
oxítonas, o que torna as proparoxítonas uma classe especial da língua portuguesa, na
medida em que essa forma acentual demonstra-se avessa à ordem natural da língua de
acentuar-se a penúltima sílaba. Na primeira edição do dicionário Aurélio, entre 120.000
mil verbetes ao todo da língua portuguesa, as proparoxítonas abrangem cerca de 8.520
palavras, um número bem reduzido de palavras diante da riqueza de termos de nossa
língua.
O grupo das proparoxítonas é formado principalmente por empréstimos do latim
clássico e do grego, e entrou na língua portuguesa, pressupõe Araujo (2007) a partir do
período da renascença, século XV, com o ressurgimento do interesse por parte de
escritores, artistas e estudiosos em geral, pelo gênero clássico. Desde essa época os
vocábulos proparoxítonos passaram a constituir um elemento principal das palavras
eruditas, poéticas e cultas. Estudos demonstram que Luis Vaz de Camões, dentre os
quinhentistas e os seiscentistas, foi o autor que mais se deteve ao uso de vocábulos
eloquentes da língua e elevou a cultura pátria com elementos da antiga civilização e “já
apareciam proparoxítonos como trêmulo, lúcido, rúbido, nítido, túmulo, diáfano,
fatídico, belígero, entre outros” (AMARAL 1999 apud Silva 2006, p. 03).
Mas a erudição inerente ao uso dos vocábulos proparoxítonos existentes no
português do período renascentista ainda permanece no português moderno, haja vista
que os termos que formam a classe das proparoxítonas são, em sua maioria, termos
técnicos mais propícios à língua escrita e pouco frequentes na língua falada. Até os
vocábulos mais populares em nossa língua, como árvore, fósforo, câmara, como já foi
25
observado em muitos estudos tendem a sofrer o processo de síncope1
ou como salienta
Silva (2006) “pela lei de menor esforço2
, pelo princípio de economia ou por tendência a
seguir o padrão da língua, são transformados pelos falantes em paroxítonos, como,
respectivamente, arvre, estomo, cama”. (SILVA 2006, p. 3-4)
1.3. Processos fonológicos
As vogais médias postônicas não-finais das palavras proparoxítonas podem
sofrer várias realizações fonético-fonológicas, oriundas de naturezas distintas, na língua.
Neste item serão analisados somente três processos: o alteamento, o abaixamento e a
síncope. O alteamento, processo de maior recorrência na língua falada, é caracterizado
pela elevação do traço de altura das vogais médias postônicas /e/ e /o/ para as vogais
altas [i] e [u], respectivamente.
Outro processo fonético-fonológico que ocorre com as vogais médias, o
abaixamento, embora raro, é o procedimento inverso do que ocorre com o alteamento.
O abaixamento manifesta-se quando as vogais médias altas /e/ e /o/ são realizadas ora
como vogais médias baixas [ε] e [ ], ora como vogal baixa [a].
E o último processo fonológico observado no corpus é a síncope, fenômeno
este bastante recorrente na Língua Portuguesa. Esse processo se caracteriza pela queda
da vogal postônica não-final, como em abób[o]ra > abóbra.
1.3.1.Alteamento e Assimilação
O processo de alteamento das vogais médias postônicas não-finais é
interpretado por Câmara Jr. (1970) como neutralização vocálica. O termo neutralização
é oriundo da Escola de Praga e consiste na perda de um traço distintivo, que reduz dois
fonemas a uma só unidade fonológica. De acordo com Vieira (2002), nas posições
átonas observa-se a ocorrência de um processo de neutralização, condicionado
prosodicamente, que provoca a redução do sistema vocálico quando comparado ao
1
Supressão da vogal postônica não-final das palavras proparoxítonas
2
Quando o falante tende a reduzir um ou mais fonemas visando fazer um menor esforço músculo-
articulatório.
26
sistema que se manifesta em posição tônica. Essa redução decorre da neutralização de
vogais médias e vogais altas na posição postônica. Tal fenômeno provoca segundo
Vieira (2002) “o apagamento do traço distintivo que estabelece a oposição entre as
vogais médias e as vogais altas” (Vieira 2002, p. 129).
Dessa forma é que obtemos pronúncias como (abób[u]ra) e (prót[i]se) em
lugar de (abób[o]ra) e (prót[e]se) em algumas regiões do português falado no Brasil,
como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e a região sul do país, em que a vogal média
anterior /e/ e a posterior /o/, como nos exemplos acima, elevam o seu traço de altura,
alternando-se de vogais médias altas para vogais altas /i/ e /u/, respectivamente. Tal
variação lingüística não acarreta alteração de sentido nos vocábulos.
Para uma melhor compreensão do processo de neutralização das vogais
médias postônicas da língua portuguesa, torna-se necessário retomarmos aos estudos de
Câmara Jr. (1970), e o sistema vocálico triangular por ele proposto.
1.3.1.1. O sistema vocálico do Português Brasileiro
Câmara Jr. (1970) estabeleceu, em sua pesquisa que incidiu sobre o dialeto
formal culto do Rio de Janeiro, um sistema vocálico triangular de base articulatória
formado por sete vogais, que representam os sete fonemas vocálicos em posição tônica
nos vocábulos da língua portuguesa falada no Brasil. Para Câmara Jr. a posição tônica
da sílaba é considerada a melhor posição para se caracterizar os traços distintivos
vocálicos do português brasileiro. Por isso, é a partir da posição tônica que ele classifica
as vogais do PB.
“A classificação das vogais como fonema tem de assentar na posição tônica.
Aí se deduzem todas as vogais distintivas em português, resultantes da
conjugação do movimento horizontal (para a frente da boca ou para trás) e
vertical (gradual elevação da língua em concomitância com um movimento
de distensão ou de arredondamento dos lábios). No movimento vertical, são
distintivas quatro posições da língua: baixa, média de 1º grau (timbre aberto),
média de 2º grau (timbre fechado) e alta. A essas elevações da língua
corresponde um avanço ou um recuo cada vez maior em movimento
horizontal. O recuo se articula com um arredondamento dos lábios e o avanço
com uma distensão” (CÂMARA Jr. apud VIEIRA 1994, p. 16)
Para esta posição Câmara Jr. (1970), elaborou um quadro formado por sete
vogais, como o observado a seguir:
27
Fig. 01: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica
Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 43)
Todos os sete fonemas vocálicos da língua portuguesa do Brasil são
realizados na posição tônica, por isso é possível identificarmos contextos vocálicos
como: m[a]la, m[ε]la, cam[e]lo, m[ ]la m[o]ço, m[i]la e m[u]la. Para ele quando diante
de consoante nasal na sílaba seguinte, tem-se um quadro formado por cinco vogais,
chamadas de nasais ou nasalizadas:
Fig. 02: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica diante de nasal
Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 44)
Obtém-se assim: m[ã]to, b[ẽ]to, m[õ]to, b[ĩ]go e m[ũ]ito. Enquanto que nas
posições átonas ocorre uma redução desse sistema vocálico de sete vogais, na língua
culta falada no Rio de Janeiro, decorrente do fato de atuarem sobre as vogais,
principalmente sobre as médias, certas regras fonológicas como a Harmonização
Vocálica, em posição pretônica e a Neutralização na posição postônica final e não-final.
Na posição postônica não-final, classificadas como as primeiras dos
vocábulos proparoxítonos, Câmara Jr. identifica um quadro não mais de sete e nem de
cinco, mas sim de quatro vogais: [u], [i], [e] e [a] como o demonstrado a seguir:
28
Fig. 03: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica não-final
Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 44)
Convém ressaltar que o estudo de Câmara Jr. sobre o dialeto do Rio de
Janeiro é considerado um dos pioneiros no Brasil que investiga o comportamento
vocálico das vogais médias postônicas não-finais. Nesse estudo, o autor observou que
ocorre uma regra de neutralização que apaga o traço distintivo entre as vogais médias
/o/ e /u/ da série posterior, mas não entre /e/ e /i/, o que resulta no PB, como visto
anteriormente, um quadro formado por quatro vogais /a/, /e/, /u/ e /i/, em posição
postônica não-final.
Isso segundo Câmara Jr. cria um subsistema assimétrico entre as vogais
médias /e/ e /o/, no qual esta última desaparece na fala. Assim tem-se sempre
abOb[u]ra e não abOb[o]ra, cOc[u]ras e não cOc[o]ras, e embora raro, mas possível,
fenôm[e]no > fenôm[i]no.
O autor concluiu a partir disso que a oposição entre os fonemas /o/ e /u/ é um
reflexo da representação gráfica, “mera convenção da língua escrita”. E para as vogais
postônicas finais diante ou não de /s/, Câmara Jr. identifica três vogais que se realizam
nessa posição:
Fig. 04: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica final
(CÂMARA JR., 1970, p. 44)
29
Assim obteríamos vocábulos como: bal[a], bol[u] e bul[i]. Vieira (1994)
citando Câmara Jr., argumenta que no dialeto da região Sul do país é possível verificar
“a utilização de um timbre mais aberto na articulação de /e/, salientando, uma posição
distintiva bastante precária com /i/ átono final, como no par júri – tribunal popular –
jure – do verbo jurar” (VIERA 1994, p. 19). De acordo com Câmara Jr. (1970), a
pronúncia padrão, movimenta-se no sentido de eliminar tal posição.
Bárbara Lopez (1979) em estudo realizado também sobre o dialeto carioca
propôs um sistema vocálico para o português brasileiro formado de quatro alturas, o
diferencial da proposta de Lopez foi a classificação da vogal baixa /a/ como vogal
posterior e não mais como central. O sistema proposto por Lopez em posição tônica para o
PB é o seguinte:
+alto –bx +lev
–alto –bx +lev
–alto –bx –lev
–alto +bx –lev
[-post]
[arred.]
i
[+post]
[-arred.] [+arred.]
u
e o
E O
a
(LOPEZ 1979, p. 50)
Na caracterização dos traços de cada segmento vocálico, Lopez incorpora
no sistema vocálico por ele proposto o traço [levantado], significando a elevação da
língua acima de sua posição neutra ou de ou descanso. No que diz respeito à posição
átona, na qual se encontram as complexidades da língua, Lopez não apresenta dissenso
da proposta de Câmara Jr. e argumenta que ocorre mesmo nessa posição um processo de
neutralização. Em posição final o /i/ e /u/ para a autora representam neutralização das
séries posterior e anterior, por isso nessa posição manifestam-se somente três fonemas
vocálicos.
Lopez, assim como Câmara Jr. estabelece uma pauta vocálica postônica
não-final formada apenas por quatro vogais. Contudo toma como corpus de estudo
somente o dialeto carioca e ignora dialetos falados em outras regiões do país, que
30
possuem um sistema vocálico postônico formado por cinco vogais, ou seja, onde a vogal
posterior /o/ também se realiza na fala.
Para Callou e Leite (2000, p.77) “quanto maior o grau de atonicidade, maior
a possibilidade de ocorrer neutralização” entre as vogais. É por esse motivo que as
vogais da posição tônica, tendem a ser mantidas e, as vogais átonas finais são as mais
suscetíveis à neutralização, estando as pretônicas e postônicas não-finais relativamente
preservadas.
O quadro de vogais do PB, baseado na linguagem falada do Rio de Janeiro
proposto por Câmara Jr. não encontrou dissensão na literatura lingüística no que diz
respeito à posição tônica e pretônica, enquanto que na posição postônica final e não-
final, autores como Bisol (1981/2002) apresentam idéias divergentes e demonstram que
não são três, mas quatro as vogais que se manifestam em posição postônica final, e em
posição postônica não-final são cinco. É claro também que este quadro vocálico
proposto por Bisol foi estabelecido a partir dos resultados encontrados em sua pesquisa
sobre o dialeto da região sul e parte do sudeste do Brasil.
Nesse contexto postônico não-final tomamos como exemplos: lâmp[a]da,
vésp[e]ra, abób[o]ra e cum[u]lo. Embora contrária à proposta de Câmara Jr. (1970),
Bisol (2003) não deixa de atribuir importância merecida aos estudos inovadores do
autor, que introduz o conceito de neutralização vocálica para explicar o alçamento das
vogais médias do PB. A autora também encontra argumentos fundáveis para o
estabelecimento do sistema assimétrico das vogais em posição postônica estabelecido
por Câmara Jr., pois ela verifica que a série posterior /o/ alça com maior frequência na
linguagem falada do que a série anterior /e/.
Partindo dessa análise, Bisol (2003) busca explicar também esse alçamento,
já identificado por Câmara Jr. (1970), através do efeito de frequência, pois é mais
recorrente o alçamento da série posterior (/o/ > /u/), do que da anterior (/e/ > /i/), em
posição postônica não-final. Mas é justamente nesse sistema vocálico assimétrico de
Mattoso de quatro /a, e, i, u/ e não cinco vogais /a, e, i, o, u/ na posição postônica é que
se encontra o problema da análise mattosiana que causa segundo a autora uma não
naturalidade da sentença, composta pelos fonemas /a, u, e, i/. Bisol (2003), utilizando
perspectivas fonológicas não lineares, argumenta que as vogais em posição postônica
não-final “flutuam”, como se estivessem atreladas a um pêndulo em movimento, entre
31
os subsistemas da átona final, composto por três vogais (/a, i, u/), e da pretônica,
composto por cinco vogais (/a, e, i, o, u/).
Partindo dessa análise, Ribeiro (2007) conclui que no Português Brasileiro,
têm-se duas regras de neutralização, uma responsável pelo alçamento das vogais médias
do subsistema da pretônica e outra que age no subsistema da postônica final e na
postônica não-final, por extensão.
Outro fenômeno lingüístico que pode ocorrer com as vogais médias ao
sofrerem alteamento é o processo de assimilação, observado por Cristófaro Silva (1999)
em seu estudo realizado sobre as vogais médias na região Nordeste do Brasil. A autora
verificou que a altura da vogal postônica não-final pode sofrer influências da unidade
fonológica tônica que a precede. Para a autora a qualidade da vogal tônica implica na
qualidade da vogal postônica não-final.
Oliveira (2008) observou também a existência do processo de assimilação
das vogais médias. Segundo Oliveira (2008) a presença de uma vogal tônica alta no
vocábulo favorece o alteamento, como em símb[u]lu e íd[u]lu. Nesse caso a vogal
postônica /o/ assimila o traço de altura da vogal alta /i/, realizando-se, portanto, como
[u].
Para Vieira (2002), esse processo pode ser interpretado como um processo
de assimilação progressiva, em que uma vogal alta tônica, localizada na sílaba
precedente à sílaba que contém uma vogal média influencia o comportamento da
mesma, diferentemente do que ocorre no processo de harmonização vocálica. Em outras
palavras “a assimilação é progressiva quando o “assimilado”, ou “fonema fraco”, segue
o “assimilador”, ou “fonema forte” (CÂMARA Jr. 2002, p. 62).
1.3.2.Abaixamento
O fenômeno do abaixamento vocálico (doravante BV) pode ser considerado
uma variação lingüística bastante comum na língua portuguesa, não apenas na do Brasil.
Fernandes apud Amaral (1996) testemunhou a existência de alternância vocálica já no
Cancioneiro Geral e em outros textos do português medieval, com a presença freqüente
de abaixamento das vogais médias.
O processo do abaixamento envolve a modificação do parâmetro relativo à
altura das vogais ou ao seu „ponto de articulação‟, em que vogais altas ou vogais médias
32
de 1° grau tendem a tornar mais baixo seu traço de altura. Alguns autores acreditam que
o processo de abaixamento vocálico por envolver a alternância de altura das vogais,
principalmente de vogais acentuadas, apresenta contextos e regras semelhantes às do
alteamento.
Sobre o abaixamento das vogais médias não acentuadas ou átonas são raros
os estudos existentes no Brasil. Os trabalhos mais expressivos que existem são aqueles
sobre o Abaixamento Datílico3
(AD) e o Espondeu de Wetzels (1991). De acordo com o
abaixamento datílico vogais médias altas /e/ e /o/ são impedidas de ocorrerem em sílaba
tônica de palavras proparoxítonas. Para Wetzels (1991 apud BATTISTI & VIEIRA
2005, p. 184) existe em português, “uma restrição de condicionamento prosódico que
proíbe vogais médias altas em sílabas tônicas de proparoxítonas”.
1.3.3.Síncope
Outro processo fonológico que pode ocorrer com as vogais médias
postônicas dos vocábulos proparoxítonos é a síncope. A síncope caracteriza-se como a
supressão de um ou mais segmentos na(s) sílaba(s) átona(s) postônica(s) de um
vocábulo. Ela decorre do enfraquecimento interno medial do fonema vocálico e,
algumas vezes também do fonema consonantal de menor soância na sílaba, de itens
lexicais, como em áspera > aspra; árvore > arvre; abóbora > abóbra; cócoras > coca.
A síncope é um fenômeno lingüístico presente não só na atualidade, já
perdura há bastante tempo na língua. Ela originou-se no latim vulgar e passou por todas
as fases do Português, disseminando-se em todo o país, na fala popular. No latim, por
exemplo, se a vogal penúltima postônica era e ou i, (lat.cl. ẽ ou ĩ) precedida de l, m, n
ou r, e seguida de c ou t, era suprimida (latim vulgar tardio ou no período primitivo do
português), assim tinha-se: alîquod > algo; pũlîcam (por pũlîcem) > Pulga; gallîcum >
galgo; amãtes > andis > andas (com mudança de declinação).
Sua ocorrência possui relações estreitas com o processo de desenvolvimento
da língua e obedece a princípios ou restrições que determinam a ordem de uso dos
segmentos na sílaba. Na língua latina a síncope afetava somente as vogais breves e
3
O pé (ou metro) datílico é uma das unidades de ritmo do verso. É formado por uma sílaba longa e duas
sílabas breves. (BATTISTI & VIEIRA 2005, p.184)
33
átonas, e, principalmente, aquelas situadas na vizinhança da sílaba tônica. Fato
observável também na língua portuguesa, nos vocábulos proparoxítonos.
Ainda que inúmeros fatores possam favorecer o processo da síncope, às vezes
até simultaneamente, como, por exemplo, “o comprimento do vocábulo, a maior ou
menor rapidez da elocução, a natureza dos fonemas circunvizinhos etc., a sua causa
preponderante é, sem dúvida, o acento intensivo” (FARIA 1955, p. 162).
Outro fator que pode interferir ou causar o processo de síncope na língua é a lei
do menor esforço ou da economia fisiológica, teoria também que abrange o universo da
linguagem humana. Tal lei consiste em “tornar mais fácil aos órgãos formadores a
articulação das palavras. Podemos deduzir, então, que as modificações e quedas de
fonemas deram-se obediência a esta lei, visando à eufonia e ao ritmo” (MIRANDA
2007, p. 29).
A síncope em proparoxítonas de acordo com Amaral (2002, p.102) “é
previsível, ou seja, o falante tem consciência das regras fonotáticas da língua ao reduzir
sílabas, apagar segmentos ou inserir outros”. Isso é explicado em detrimento das
restrições que ocorrem nas línguas, nas quais cada fonema só ocorre na seqüência que
lhe é permitida dentro da palavra, constituindo o que Trask (2004 apud RIBEIRO 2007)
conceitua de fonotática.
Na língua portuguesa, a sua fonotática, só permite a presença em posição de
coda silábica de consoantes soantes (líquidas e nasais) e as obstruintes /s/ ou /z/.
Enquanto que na posição de onset, admitem-se apenas dois elementos, obedecendo à
seqüência fricativas labiais/obstruinte + líquida (vibrante simples ou lateral), logo,
permite-se apenas estruturas do tipo br, gr, cl, tl, vr, fl, entre outras. Para Clements
(ANO apud AMARAL 2002, p. 102) os elementos que constituem a sílaba obedecem ao
Princípio de Seqüenciamento de Soância (PSS), que rege que a partir de uma escala de
soância, os segmentos com posição mais alta ficam no núcleo da sílaba, e os segmentos
com posição mais baixa ficam nas margens. Para o autor as vogais são fonemas mais
soantes e as obstruintes fonemas portadores de menor soância, por isso seqüências como
pr e fr, são permitidas na língua portuguesa, pois crescem em nível de soância para o
núcleo da sílaba (fonema vocálico), enquanto que rp e lf não constituem sílabas bem
formadas, uma vez que violam o princípio PSS. E é por obediência a esse princípio que
é considerado natural na língua portuguesa a previsibilidade pelo falante da supressão
de fonemas vocálicos, como o /o/ do vocábulo abóbora > abóbra.
34
Amaral (2002)4
apresenta alguns contextos em que pode ocorrer a síncope.
O mais favorecedor é o contexto silábico sucedido por uma consoante líquida. A vogal,
que se encontra nesse ambiente, tende a cair e a consoante que a precedia (oclusiva ou
labial) pode tanto acoplar-se à sílaba seguinte, se esta possuir um contexto favorecedor,
formando um novo ataque como em ár.vo.re > a.rvø.re > ar.vre, como também unir-se
a consoante precedente, vocalizando-se ao formar a coda, pi.lu.la > pi.lø.la > piw.la. A
síncope pode ocorrer também em outros contextos na língua e formar construções do
tipo:
1- diante de uma fricativa como em príns.pe < prín. sø.pe < prín.si.pe. Isso
ocorre porque a consoante flutuante por obediência ao PSS, não é licenciada
para formar ataque com sílaba seguinte /sp/, por isso é obrigada a migrar
para a sílaba precedente;
2- diante de uma oclusiva ou nasal a consoante que flutua, por não poder
formar coda com a consoante precedente, é suprimida juntamente com a
vogal postônica não-final, é o que ocorre em re.lâm.pa.go > re.lâm.pø.øo >
re.lâm.po, em que a oclusiva /g/ se permanecesse formaria a seqüência
re.lam.pgo, não permitida no PB;
3- a vogal que sucede a consoante nasal perde-se e, em compensação a isso,
é acrescido uma consoante homorgânica ao vocábulo, numbro e tumblu,
para número e túmulo;
4- há a formação da seqüência consoante nasal + lateral como em câmara >
câ.mra, esse tipo de construção, originária da síncope da vogal, viola o PSS,
que não aceita um fonema nasal em posição de coda na língua, mas Amaral
(2002) justifica esse agrupamento silábico argumentando que se a nasal
ficasse na coda (cam.ra), a posição natural da língua, o tepe passaria a
vibrante forte (= genro), o que não acontece na fala”, por isso a nasal migra
para a sílaba seguinte formando um onset complexo.
Portanto esses são os ambientes estruturais em que o processo de síncope
pode ocorrer na língua portuguesa. Há outros casos, como os encontrados nesta
pesquisa como, fOsfu, psicO, catalegu, folu, catala, fenome, entre outros que carecem
de uma atenção especial em um estudo mais detalhado sobre o fenômeno da síncope que
não será realizado neste momento por este trabalho.
4
Pesquisa realizada na zona rural do município de São José do Norte, com agricultores, no estado do Rio
Grande do Sul.
35
1.4. Estudos sobre as vogais médias postônicas no Brasil
Cabe aqui nesse item realizar breves explanações sobre os estudos já
realizados em algumas regiões do Brasil sobre o comportamento das vogais médias
postônicas final e não-final do português brasileiro. Tais estudos constituem-se de
dissertações, monografias e pesquisas que investigam o comportamento variável das
médias postônicas em alguns dialetos do país. No geral esses estudos seguem a teoria
variacionista de Labov que utiliza métodos quantitativos para a análise do fenômeno
investigado.
Não são muitos os estudos no Brasil que incidem sobre as vogais médias
postônicas, serão apresentados nesta pesquisa somente aqueles que até o presente
momento de elaboração desta dissertação foram-nos acessíveis, os quais são de Vieira
(1994), Bisol (2003), Ribeiro (2007) e Oliveira (2008).
1.4.1. A neutralização das vogais médias postônicas do Rio Grande do Sul (RS) -
Vieira (1994)
Viera (1994) analisou em sua pesquisa o processo de neutralização das
médias anteriores e posteriores tanto em posição não-final como final, embora tenha
centrado suas atenções mais nas postônicas finais. Sua pesquisa incidiu sobre os dialetos
de quatro regiões do Rio Grande do Sul. A autora realizou uma análise do fenômeno da
neutralização vocálica seguindo os pressupostos teóricos da Teoria Variacionista de
Labov de cunho quantitativo e qualitativo, e das teorias da fonologia Autossegmental de
Clements & Goldsmith (1976) e Lexical (KYPARSKY 1982, 1985).
Vieira (1994), parte do posto que a regra de neutralização (que incide sobre
o sistema tônico de sete vogais, reduzindo-o para cinco em posição postônica),
representa uma operação cujo efeito é desligar um ou mais traços do nó de abertura, não
podendo ser definida como um mecanismo de mudança de traços. E esse processo é
uma regra de neutralização.
Para a realização de seu trabalho Vieira (1994) utilizou os dados coletados
por Leda Bisol, em 1978, que fazem parte do projeto “Variação Linguística no Sul do
36
País”. A coleta dos dados foi feita através de entrevistas individuais composta de duas
partes: teste e fala livre, realizadas com habitantes da zona metropolitana, zona de
colonização italiana, zona de colonização alemã e zona na fronteira do Rio Grande do
Sul. Os informantes eram nascidos no Estado, e estavam na faixa etária de 25 e 55 anos
com formação primária completa ou incompleta. As entrevistas duravam em média 60
minutos, e eram feitas com um grupo de 15 informantes de cada uma das regiões da
pesquisa, os quais foram selecionados aleatoriamente sete por região, sendo que ao todo
a autora utilizou 28 informantes (quatro homens e três mulheres da zona alemã; três
homens e quatro mulheres da italiana; quatro homens e três mulheres da zona da
fronteira; e três homens e quatro mulheres da zona metropolitana). Vieira (1994)
argumenta que em virtude de a amostra já estar pronta, o critério utilizado para escolha
dos informantes foi simplesmente o sexo, buscando um mesmo número de informantes
masculinos e femininos.
Desse total de 28 informantes, são obtidos para análise de 7.131 contextos
da vogal /o/ e 5.487 contextos da vogal /e/. Na análise fonética dos dados Vieira (1994)
verificou somente a elevação ou não das vogais médias em posição postônica, sem levar
em consideração graus diferentes de alturas que estas vogais podem apresentar. Para
observar o comportamento variável das vogais médias /e/ > [i] e /o/ > [u], Vieira
controlou as seguintes variáveis dependentes: contexto vocálico (com harmonia
vocálica, com vogal alta no radical, sem vogal alta e outros contextos); segmento
precedente (nasal, líquida, sibilante coronal e outros); seguimento seguinte (sibilante,
nasal, vibrante, lateral, vogal, sem segmento seguinte e outros); tipo de sílaba (com coda
nasal, com coda lateral, com coda vibrante, com coda glide, com coda sibilante, sem
coda, por apagamento e sem coda); classe da palavra (verbos da 1ª, 2ª e 3ª conjugação);
posição da sílaba (sílaba final pesada, sílaba final leve de paroxítona, sílaba final leve de
proparoxítona, sílaba não-final leve de proparoxítona); e os fatores extralingüísticos:
etnia, sexo e tipo de entrevista.
Dessas variáveis ou grupos de fatores apenas seis foram selecionadas como
relevantes pelo Varbrul para explicar a regra de alteamento das médias posteriores em
posição postônica não-final como final. O fator “etnia” foi considerado pelo programa
como o primeiro em nível de relevância para a aplicação da regra de alteamento, e
apontou os informantes da zona de colonização italiana como os que mais preservam as
vogais médias em posição postônica com peso relativo de .26 para /o/ e .27 para /e/.
Enquanto os metropolitanos, opositivamente, são os que mais praticam a regra de
37
elevação tanto de /e/ como de /o/ apresentando o mesmo peso relativo de .85. Portanto
diante desses resultados observa-se que o fator extralingüístico no RS é um dos fatores
mais favorecedores do comportamento da variável das vogais médias postônicas.
Vieira constatou também que o “contexto vocálico”, segundo grupo em
relevância, influencia no comportamento da átona postônica. Concluiu que são as
palavras com vogal alta que oferecem um contexto mais favorável à elevação das vogais
médias do que palavras sem vogal alta, peso relativo .64 para /o/ e .58 para /e/.
Nesse sentido a autora aplica os pressupostos da teoria autossegmental
desenvolvida em seu trabalho, argumentando que as vogais médias /e/ e /o/ assimilam o
traço de abertura das vogais altas /i/ e /u/ em contexto postônico e caracteriza tal
fenômeno como um processo de assimilação progressiva de traços das vogais altas por
parte das vogais médias. Segundo a autora a regra de assimilação que se aplica nesse
tipo de contexto é uma regra que opera junto com a de neutralização, no sentido de que
aquela facilita ou motiva a elevação, conjugando-se, deste modo, os dois processos.
(VIEIRA 1994, p. 55)
A terceira variável em importância no processo de elevação das vogais
médias foi o “segmento precedente”, nesse a autora observou que o contexto precedente
caracterizado como outros foi o mais favorável ao alteamento tanto de /e/, peso relativo
de .70 como de /o/, peso relativo de .62. E são as sibilantes que desfavorecem a
aplicação da regra de alteamento de /o/, e as liquidas de /e/, peso relativo de .26. Para
este fator Vieira não encontrou evidências claras sobre o comportamento exercido do
contexto precedente sobre o alteamento das vogais médias, haja vista que a elevação
dificilmente poderá ser explicada como conseqüência de um processo de espraiamento
de traços da consoante precedente para as vogais /e/ e /o/, pois está em jogo a
abertura, nó de classe que a consoante não pode espraiar (VIEIRA 1994, p.57).
E em relação ao fator “tipo de sílaba” Vieira (1994) constata que para a
vogal /o/ o fator “sem coda por apagamento” é o que mais inibe a elevação desta vogal,
peso relativo de .36, já o fator “sem coda” não exerce qualquer tipo de influência sobre
elevação vogal média /o/, como demonstra o resultado de, peso relativo .50. Por ouro
lado, constata-se que a sílaba que contém /s/ na coda é a que mais favorece a elevação
das médias /e/ e /o/ com peso relativo de .86 e .64, respectivamente.
A “posição da sílaba” em que a vogal postônica se encontra é a sexta mais
relevante no conjunto das variáveis, e os resultados indicam que a posição que mais
favorece a elevação da vogal /o/ é a sílaba final pesada com /s/ na coda, com um peso
38
relativo de .61, seguindo-se a final leve, com o resultado .57. Enquanto que para a
média /e/ é a sílaba final pesada, com peso relativo de .71. Pode-se encontrar no Rio
Grande do Sul, vogais médias de vocábulos que terminam em silaba leve, como dente e
bordado, pronunciadas tanto como dent[i] ou dent[e] alternando-se entre si, e bordad[o]
ou bordad[u]. Em função disso Vieira (1994) finaliza que se tem um quadro vocálico
formado por cinco vogais /a/, /e/, /i/, /o/, e /u/ que podem, acrescenta a autora,
apresentar variação.
A autora também observa que vogais médias de palavras terminadas por
sílabas travadas tendem sempre a ser preservadas, não sofrendo, processo de
neutralização com as vogais altas. É o que ocorre com as vogais de palavras como
elétron e repórter, que dificilmente serão encontrados formas como eletr[u]n e
repórt[i]r.
A variável social “sexo” foi selecionada também como significativa no
processo de alteamento das médias, muito embora segundo a autora não apresente dados
muitos contrastantes, pois o que se observa é que existe praticamente uma equivalência
de pesos relativos entre homens e mulheres, quanto às duas vogais. Vieira (1994)
argumenta que apesar de os resultados situarem-se próximo ao ponto neutro, a
diferença favorece as mulheres .53 para a vogal /o/ e .52 para a vogal /e/. Em números
absolutos, ambos os sexos elevam mais a vogal /o/ do que a vogal /e/ (VIEIRA 1994, p.
50).
VIEIRA (1994) concluiu em seu trabalho que o quadro das vogais
postônicas finais estabelecido por Câmara Jr. (1988) para o dialeto carioca de apenas
três vogais /a/, /i/, /u/, resultante categoricamente do processo de neutralização que
ocorre entre vogais médias e altas, difere daquele encontrado no Rio Grande do Sul,
onde se verifica através dos dados que a neutralização nesta posição silábica não ocorre
categoricamente entre vogais médias e vogais altas.
Comparando ambos os estudos verificamos que a oposição entre /o/ e /u/
neutralizada em Câmara Jr. não é anulada na posição postônica não-final pelos estudos
de Vieira (1994) o que amplia o quadro de Câmara Jr. (1970) de quatro vogais para
cinco em posição postônicas não-finais.
39
1.4.2. As vogais médias postônicas: uma análise variacionista - Vieira (2002)
Semelhante aos estudos de Vieira (1994) tem-se os estudos de Vieira (2002),
realizados em algumas cidades do Paraná5
, Santa Catarina6
e Rio Grande do Sul7
. A
autora utilizou o banco de dados do VARSUL, utilizando 96 informantes selecionados
de acordo com a idade e o grau de escolaridade, sendo oito informantes de cada uma das
cidades citadas acima. Os dados coletados pela autora foram submetidos à análise do
pacote estatístico Varbrul, cuja mesma tinha como variáveis dependentes a elevação das
médias /e/ e /o/ em posição postônica não-final.
Os resultados obtidos através da análise permitem que Vieira (2002) chegue
a algumas conclusões relacionadas ao comportamento das vogais médias diferentes
daquelas indicadas por Câmara Jr. (1970). E aponta um sistema vocálico postônico que
ora é preservado ora é diminuído variavelmente em função da neutralização que opera
sobre ele. Seguindo sua análise Vieira observa que o comportamento variável tanto da
vogal /o/ como da /e/ é fortemente condicionado pelo contexto precedente. Verificando
que “as consoantes labiais favorecem a elevação de /o/, provavelmente em função do
traço de labialidade partilhado por esses segmentos” (Vieira 2002, p. 157). Enquanto
que a vogal postônica /e/, tanto em posição final quanto não-final, “o contexto
precedente que mais influencia a elevação é o contexto com as fricativas s/z (idem);
sendo que ambas as posições os segmentos coronais tendem a preservá-la.
A presença de uma vogal alta na sílaba tônica da palavra mostrou-se também
um fator determinante tanto na elevação de /e/ como de /o/. No que diz respeito a vogal
/e/, o fato de haver uma vogal alta na palavra, tanto em posição postônica não-final
quanto final, é fator relevante para sua elevação. E de uma maneira geral os falantes do
Rio Grande do Sul tendem a elevar ambas as vogais, enquanto que os falantes de Santa
Catarina teriam uma atitude quase neutra porque elevam praticamente na mesma
medida que preservam /e/ e /o/ e os falantes do Paraná tendem a preservar as vogais
médias. Bisol (2002) em uma análise do estudo de Vieira (2002) e com base nos dados
afirma que:
5
As cidades que compunha a amostra são Curitiba, Londrina, Pato Branco e Irati no Paraná.
6
Florianópolis, Blumenau, Lages e Chapecó.
7
Porto Alegre, Flores da Cunha, São Borja e Panambi.
40
a neutralização da átona final é, no português brasileiro, como um todo, um
processo de neutralização ainda em andamento no que diz respeito à opção
pela vogal alta. Note-se, todavia, que a neutralização entendida como perda
do traço distintivo entre vogais médias e altas é uma regra geral para toda
pauta postônica. (BISOL 2002, p. 307)
Segundo Bisol (2002) o alteamento que ocorre na postônica não-final
ocasionado pelo fenômeno da neutralização que reduz a pauta das vogais posteriores na
classificação de Câmara Jr. “cria um conjunto assimétrico, não-natural /a u e i/ que na
fonologia do português dificilmente se justificaria como contexto de regra e que não
corresponde a nenhuma mudança de registro”.
1.4.3. O alçamento das vogais postônicas não-finais no português de Belo
Horizonte (MG) - Ribeiro (2007)
Alçamento de vogais postônicas não finais no Português de Belo Horizonte
– Minas Gerais: uma Abordagem difusionista é outro estudo desenvolvido no Brasil
sobre as vogais médias postônicas. Ribeiro (2007) teve como objeto de estudo somente
os vocábulos proparoxítonos. Analisou o fenômeno de alteamento de acordo com as
técnicas da Sociolingüística, orientada pela ótica de duas grandes hipóteses: a
concepção de mudança lingüística do modelo da Difusão Lexical que prevê que a
mudança se propaga pelo léxico de forma gradual; e a segunda que encontra nas idéias
de Oliveira (1992, p. 39) o seu fio condutor de que “o comportamento [lingüístico] do
indivíduo tende a ser mais homogêneo que o comportamento do grupo” e por isso deve
ser medido separadamente.
Torna-se relevante voltarmos nossa atenção nesse momento, para a primeira
hipótese de Ribeiro (2007, p. 124) que é fundamentada no modelo difusionista da língua
que segue a seguinte proposição, “para uma mesma regra A → B / C___D, postula que
há, no mesmo item lexical, estruturas CBD, onde houve mudança, que co-ocorrem com
estruturas CAD, onde não houve mudança”. É isso que gera o alteamento em vocábulos
como pró[tez]e ~ pró[tiz]e, bió[log]o ~ bió[lug]o. Portanto são tais formas variantes
representantes da flutuação fonética que se caracterizam como os “casos legítimos de
variação” (Oliveira, 1992, p. 37-8).
41
Dessa forma Ribeiro verifica quais os processos graduais e a regra variável
que atua sobre o alteamento das vogais médias postônicas na região metropolitana de
BH, na tentativa de descrever os fatores estruturais ou lingüísticos (como segmentos
precedentes e seguintes, grau de altura da vogal tônica, posição da vogal na palavra,
velocidade de fala, item léxico) e os fatores sociais ou extralingüísticos (indivíduo, sexo
faixa etária, escolarização, classe social (e renda), Formalidade versus Informalidade),
tão importantes quanto os anteriores, que influenciam no alteamento da variável em
estudo.
O último fator acima exposto, o social, que relaciona língua e sociedade ou
indivíduo e comunidade refere-se à segunda hipótese do trabalho da autora que,
adotando as idéias de Oliveira (2002) argumenta que “a homogeneidade do
comportamento lingüístico do indivíduo se sobrepõe ao da comunidade em que ele
habita” (RIBEIRO 2007, p. 123).
A primeira conclusão de Ribeiro (2007) em sua pesquisa diz respeito à
primeira hipótese levantada em seu trabalho, de que a língua muda por difusão lexical.
A autora encontra evidências de DL nos resultados que obteve, e ampara sua conclusão
em comparações de palavras como vésp[e]ra, pouco freqüente na língua, que foi
pronunciada como vésp[u]ra por muitos falantes com menor escolaridade e
pertencentes à classe social mais baixa, com a palavra próspero que mesmo possuindo o
mesmo contexto lingüístico, não vira prósp[u]ro em nenhuma das ocorrências.
Ribeiro observou também que o quadro das vogais médias postônicas de
Belo Horizonte assemelha-se ao proposto por Vieira (1994) para o RS, realizando-se
todos os seguintes fonemas /a, e, i, o, u/ no dialeto belo-horizontino. Outra conclusão
mostra o alteamento das vogais médias altas posteriores [o] ~ /u/ é bem mais freqüente
do que o das vogais médias altas anteriores [e] ~ /i/, resultado este que não difere muito
das outras análises já realizadas em outras regiões do Brasil. Tal resultado leva Ribeiro
a concordar, até certo ponto com os estudos de Câmara Jr. (1970), que defende a idéia
da não existência da vogal /o/ entre as postônicas não-finais.
42
1.5. As vogais médias postônicas não-finais no português falado no município de
Cametá (PA) - Oliveira (2008)
A variação das vogais médias pós-tônicas não-finais no português falado
na área urbana do município de Cametá (PA): uma abordagem variacionista - de
Oliveira (2008)8
- constitui um estudo sem precedentes desenvolvido em toda a região
Norte do Brasil sobre as vogais médias postônicas, e é um desdobramento do projeto de
pesquisa desta dissertação, a qual engloba uma amostra maior de informantes, e abarca
também a área rural do município. O trabalho de Oliveira (2008) objetiva contribuir
para o levantamento do comportamento das vogais médias no português do Brasil e
integra-se ao projeto Vozes da Amazônia e aos estudos já realizados na região, cuja
finalidade de maior amplitude é caracterizar o comportamento de tais vogais na região
norte do país.
Oliveira (2008) investigou o processo de assimilação das vogais médias
pós-tônicas não-finais do município de Cametá (PA), a partir de uma amostra de 24
informantes, os quais foram estratificados de acordo com sexo, escolaridade, e faixa
etária. O corpus foi coletado a partir da aplicação de um teste9
(questionário dirigido)
em lugar da entrevista livre, haja vista que o estudo foi realizado somente com
vocábulos proparoxítonos e os mesmos são pouco freqüentes na fala espontânea.
Partindo dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística
Quantitativa, a pesquisa de Oliveira foi desenvolvida com auxílio do Programa
Computacional VARBRUL. Para a análise foram elencados 10 grupos de fatores
incluindo a variável dependente e suas variantes (presença e ausência de alteamento). A
análise computacional indicou entre os fatores elencados para explicar o alteamento (ou
não) das vogais postônicas, além da variável dependente, apenas seis fatores, os
lingüísticos: natureza da variável dependente; natureza da vogal tônica; natureza do
segmento precedente; natureza do segmento seguinte; e os não-lingüísticos:
escolaridade e faixa etária do informante.
O estudo de Oliveira (2008) verificou uma baixa ocorrência de elevação das
vogais médias na variedade do português falada na área urbana do município de Cametá
8
Trabalho de Conclusão do Curso de Letras, habilitação em Língua Portuguesa (UFPA).
9
Este procedimento metodológico será explicitado na metodologia desta dissertação, haja vista que é o
mesmo, como já mencionado.
43
(PA), uma vez que dos 739 dados obtidos na pesquisa, apenas em 272 dados houve a
presença de elevação da vogal média nesta posição, correspondente ao peso relativo de
.37, demonstrando assim uma baixa probabilidade de ocorrência, como demonstra
Oliveira, de realizações do tipo indíg[i]na e pér[u]la, em que o falante eleva o traço de
altura das médias / e / e / o / em posição pós-tônica não-final, para vogais altas [i] e [u].
Enquanto que nos 467 dados restantes a vogal média foi mantida, conforme mostra o
peso relativo de .64, por isso são mais freqüentes realizações do tipo indíg[e]na e
pér[o]la, em que as médias /e/ e /o/ são preservadas.
O primeiro grupo de fatores selecionado pelo programa por ser o mais
relevante para a caracterização do fenômeno de alteamento investigado por Oliveira
(2008) foi o que trata da natureza da variável dependente. Neste contexto a vogal média
posterior, figurou como a mais sensível ao alçamento seja quando precedida por tônica
alta ou tônica baixa, atingindo o maior peso relativo obtido para este grupo, de .86.
Enquanto que as vogais médias anteriores foram as que apresentam menor tendência à
elevação, conforme mostrou o peso relativo de .16.
Oliveira (2008) observou que o “contexto precedente” ocupado por onset
coronais favorecia o alteamento em estudo, com peso relativo .55, aparecendo logo em
seguida as consoantes labiais, peso relativo de .54. Para a natureza do “contexto
seguinte” foram os segmentos labiais que se mostraram favorecedores da regra variável
em estudo, com peso relativo de .67, logo após tem-se o onset ramificado, peso relativo
de .66, sendo que as coronais mostraram neutras para o processo de alteamento das
médias, com peso relativo de .50.
Em relação a influência dos fatores sociais tem-se a “escolaridade”, como
fator bastante expressivo para o alteamento /o/ > [u] e /e/ > [i], e de acordo com a
sequência de seleção dos grupos de fatores do programa, este fator figurou como o
terceiro grupo mais importante. Nesse grupo os “analfabetos” apresentaram-se como os
falantes que mais realizam o alteamento, com peso relativo de .79. Oliveira (2008)
observou que este valor vai sendo reduzido conforme aumenta o nível de escolaridade,
atingindo .61 no nível fundamental, .48 no médio, enquanto que os que estudaram até o
ensino superior são os que menos elevaram a altura das vogais médias postônicas não
finais com um peso relativo de apenas .35. O grupo de fatores que diz respeito à faixa
etária do informante foi o último a ser selecionado pelo Varbrul. Os resultados obtidos
pelos dados revelaram que os informantes mais jovens são os que mais elevam a vogal
44
média postônica não-final, peso relativo de .58. Para Oliveira (2008) os resultados os
resultados obtidos para o grupo de fator “faixa etária” sinalizam:
para uma “escola inovadora, a qual enfoca mais o uso e não mais a regra,
estando menos centrada em um padrão de língua, mas aberta as mudanças
lingüísticas, o que justificaria o maior índice de ocorrência de elevação entre
os mais jovens, os quais estão em maior contato com este tipo de ensino que
não prioriza a chamada língua padrão em detrimento do uso de dialetos.
(OLIVEIRA 2008, p. 38)
Oliveira (2008) concluiu a partir da análise de seus dados que o processo
que ocorre na fala da área urbana do município de Cametá (PA) seria mais um processo
de assimilação do que neutralização por parte das vogais médias pós-tônicas não-finais,
pois mesmo na presença da vogal baixa /a/ elas tendem a levar seu traço de altura, assim
sintetiza sua análise retomando o conceito de Câmara Jr. (2008) sobre neutralização:
não é possível falar em neutralização do sistema vocálico postônico não-final
como propôs Câmara Jr. (1970), pois o que se verificou na área urbana da
cidade de Cametá (PA) foi que tal redução e perda de oposição é facilmente
retomada caso o falante sinta a necessidade de estabelecer distinção entre
vocábulos. O que de fato parece ocorrer é uma assimilação tanto em / e / e / i
/, quanto entre / o / e / u /, embora o / o / tenha mostrado maior sensibilidade
em relação à / e /, a qual ocorre, especialmente, por motivação contextual.
Em decorrência disso, verificou-se a existência de um sistema vocálico
postônico não-final com cinco vogais que pode ser preservado ou reduzido
variavelmente em função da assimilação das vogais médias nesta posição.
(OLIVEIRA 2008, p. 42)
45
CAPÍTULO II: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS – METODOLÓGICOS
O referido capítulo resume as principais idéias correspondentes às teorias
fonológicas necessárias para a análise do processo de alteamento sofrido pelas vogais
médias postônicas no PB, objeto desta dissertação, as quais são: Teoria Auto-segmental,
de Goldsmith (1976), Geometria dos Traços, de Clements & Hume (1995) e Clements
(2004). Analisaremos brevemente alguns postulados dessas teorias, ressaltando as partes
relevantes de suas linhas fundamentais.
2.1. Introdução
Na tentativa de analisar e compreender como as línguas do mundo
estruturam os sons da fala internamente surgiu no decorrer da evolução dos estudos
sobre a fonologia das línguas, dois grandes modelos teóricos, os quais se subdividem
em dois modelos distintos: o modelo linear e o não-linear, que se voltam basicamente
para a natureza e o funcionamento das línguas humanas.
O primeiro modelo fonológico denominado linear foi apresentado por
Chomsky e Halle (1968), a partir da publicação de The Sound Pattern of English (SPE)
e constitui uma primeira apresentação compreensiva do que se denominou de fonologia
gerativa. Nesse modelo, a fala é analisada como uma combinação linear de segmentos,
isto é, como um conjunto de traços distintivos e não-ordenados, que se demonstram
numa relação de um-para-um entre segmentos e matrizes de traços, com limites
morfológicos e sintáticos.
Os traços para Chomsky e Halle são unidades mínimas, de caráter acústico
ou articulatório10
, que de forma co-ocorrente constituem os sons da língua, funcionando,
portanto como unidades de descrição e análises das mesmas. No nível fonológico, tais
traços possuem função distintiva e, por isso são tidos como binários, ou seja, cada traço
é determinado por dois pontos na escala física, representando um a presença, e outro, a
ausência da propriedade, isto é, são marcados positiva ou negativamente de acordo com
a característica que dominam.
10
Como “nasalidade”, “sonoridade”, “labialidade”, “coronalidade”.
46
De acordo com o modelo gerativo, um segmento fonológico só poderia
conter uma especificação para cada traço; que por sua vez, teria de pertencer a um só
segmento. Essa representação dos sons da fala constitui o Princípio da bijetividade11
.
Tal princípio rejeita a idéia de segmentos sonoros autônomos na cadeia da fala, e
argumenta que esta se constitui por segmentos combinados linearmente, cujos limites
dependem de critérios morfológicos e sintáticos.
O modelo fonológico proposto por Chomsky e Halle (1968) avançou nos
conceitos teóricos da fonologia das línguas na medida em que conseguiu explicar
plausivelmente o fato de que as regras fonológicas se aplicam a classe de sons e não
somente a sons individuais. Por isso tal modelo abriu caminhos para as fonologias não-
lineares, como a fonologia Auto-Segmental e a Fonologia Lexical. Desde então a teoria
fonológica foi passível de inúmeras alterações e reformulações em suas hipóteses, o que
ocasionou o desenvolvimento de um quadro conceitual e formal bem organizado,
constituído por diferentes subteorias conhecidas mais comumente como fonologia „não-
linear‟.
2.2. Modelo Autossegmental
Teorias fonológicas como a autossegmental e a métrica apresentam a idéia
de que os sons da fala são por natureza, constituídos por componentes que envolvem um
conjunto de traços que designa, por exemplo, a atividade da língua, dos lábios, da
laringe durante a produção dos sons, os quais são organizados hierarquicamente
(GOLDSMITH 1976, p. 29).
Dessa forma os movimentos articulatórios elementares, como os definidos
pelos traços, juntam-se em complexos movimentos, e estes em movimentos ainda
maiores e a “produção da fala exige a coordenação precisa destes vários componentes
como se fossem executadas seqüências sobrepostas de estágios de articulação”
(CLEMENTS 1989b apud VIEIRA 1994, p. 72).
O modelo fonológico não-linear opõe-se ao modelo da fonologia gerativa,
por acreditar que esta teoria é incapaz de expressar, o ato de que traços podem se
11
Bijectivity Constraint (BC)
47
estender por domínios maiores do que o segmento. A fonologia autossegmental
expressa a relativa solidariedade dos traços em termos de uma estrutura hierárquica e
permite que as regras fonológicas manipulem diretamente essa estrutura. É dessa forma,
por exemplo, que a assimilação é tratada, no modelo autoassegmental, como
espalhamento de traços ou feixes de traços e permite-se a ela criar estruturas nas quais
segmentos compartilham o mesmo conjunto(s) de traço(s).
Para o modelo fonológico não-linear a fonologia de uma língua é organizada
em traços dispostos hierarquicamente em diferentes “tiers” ou camadas, paralelas de
segmentos fonológicos, que podem estender-se aquém ou além de um segmento, ligar-
se a mais de uma unidade, como também funcionar isoladamente ou em conjunto
solidários, isto é, grupos menores são continuamente reagrupados em classes maiores
até que todos os traços formem um nó único, ou raiz, que domina todos os traços, os
quais são agrupados em estruturas arbóreas hierarquizadas.
Logo a fonologia autossegmental atua com auto-segmentos que permitem a
divisão em segmentos independentes de partes dos sons das línguas. Para esse modelo
não há uma relação “bijetiva” (de um-para-um), entre o segmento e o conjunto de traços
que o caracteriza, pois os traços podem estender-se além ou aquém de um segmento e o
apagamento de um segmento não implica necessariamente o desaparecimento de todos
os traços que o compõem.
Para Wetezls (1995) essa relação de bijetividade desautoriza também as
representações nas quais um único traço seja compartilhado por dois segmentos ou
aqueles em que um mesmo segmento esteja associado a dois traços, ou ainda casos em
que uma especificação de traço não esteja associada a segmento nenhum.
Portanto a teoria auto-segmental de Goldsmith (1976) é basicamente uma
versão desenvolvida da fonologia gerativa clássica, porque elimina a restrição de
bijetividade. Nesse modelo Wetzels (1995) propõe que:
a) alguns traços têm cada um, seu próprio nível de „segmentalização (ou
camada auto-segmental); b) o número de auto-segmentos não corresponde
necessariamente ao número de fonemas presentes em uma determinada
seqüência; c) os auto-segmentos estão ligados as suas unidades segmentais
por meio de linhas de associação. As associações devem observar a condição
mínima da boa formação segundo a qual as linhas de associação não se
podem cruzar (WETZELS 1995, p. 6-7).
Há, portanto a constituição de certas regras fonológicas, atuantes na
organização dos traços na estrutura arbórea, que obedecem a certos princípios que
impõe restrições a aplicação de determinadas regras em detrimento de outras. O
48
primeiro princípio é o de não-cruzamento de linhas de associação, proposto por
Goldsmith (1976) que pode ser formulado como se segue:
Figura 05: Condição de Boa-formação
Fonte: Goldsmith (1976, p.27)
Em uma representação bem formada de associações de traços, para cada
unidade x e y em um nível designado, se x precede y, então nenhuma unidade associada
a x pode vir depois de uma unidade associada a y. Logo as representações a e b podem
ser consideradas bem-formadas, enquanto c viola a proibição de cruzamento de linhas de
associação, sendo, então, malformada, não permitida na língua.
Segundo Bisol (2005), a efetivação desta regra é confirmada pelo
comportamento demonstrado pelos segmentos nasais, os quais assimilam o ponto de
articulação de uma consoante adjacente, mas não existem regras que expliquem que as
nasais tenham atravessado vogais para assimilarem o ponto de consoante não-
adjacentes.
Dessa forma ficou evidente que cada traço poderia exibir pelo menos algum
traço de independência fonológica, assim como todos os traços poderiam estar
individualmente envolvidos em processos de assimilação, dissimilação, epêntese,
apagamento, propagação harmônica, ou também poderiam proporcionar um efeito
bloqueador com relação a processos de espalhamento.
Para melhor especificar o valor funcional desempenhado pelos conjuntos de
traços desenvolveu-se uma representação arbórea do segmento denominada de
„geometria dos traços‟ (feature geometry) proposta por Clements (1985).
49
2.3. Geometria dos traços
Visando representar a hierarquia existente entre os traços fonológicos, assim
como evidenciar que os traços podem ser tanto manipulados isoladamente como em
conjunto solidários Clements (1985), Clements (1991) e Clements & Hume (1995)
propôs uma „geometria dos traços‟. A geometria de traços estuda a forma pela qual os
traços se agrupam em unidades funcionais e representa uma hipótese universal a
respeito da organização interna dos sons da fala. Clements (2004), em sua proposta
teórica aborda questões sobre as línguas do mundo como: Qual é a estrutura interna
dos sons da fala? Como é que os sons da fala interagem em sistemas fonológicos?
Quais são os processos fonológicos possíveis e impossíveis? (CLEMENTS 2004, p. 03).
Esse modelo teórico torna sistemático o fato de que as unidades funcionais,
geometricamente expressas como „nós de classes‟ exibem um comportamento
fonológico exatamente igual ao dos traços individuais. Essa configuração é interpretada
através de um diagrama arbóreo, como o seguinte:
Figura 06: Organização dos traços de forma hierárquica
Fonte: Clements & Hume (1995, p. 249)
Observa-se no diagrama arbóreo que o nó de raiz (r) domina todos os traços,
expressando a coerência do segmento “melódico” como unidade fonológica, e é a partir
dele que são gerados todos os outros traços do segmento. Os Nós de classes de nível
50
mais baixo na árvore (A, B, C, D) indicam agrupamentos de traços funcionais. Eles
dominam grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras
fonológicas. Os constituintes imediatos C e D desses agrupamentos são nós irmãos e
também filhos (dependentes) de B. Se C for (universalmente) dependente de B, a
presença de C numa representação exigirá a presença de B. E os nódulos das cadeias
terminais a, b, c, d, e, f, g são traços fonológicos.
De acordo com essa forma de organização dos traços torna-se admissível a
imposição de restrições fortes na forma e no funcionamento de regras fonológicas, é por
esse motivo que a geometria dos traços de Clements & Hume (1995, p. 250) assume o
seguinte princípio “as regras fonológicas constituem uma única operação”. Esse
princípio prediz, por exemplo, que uma regra fonológica possa afetar o conjunto de
traços d, e, f e g desempenhando uma única operação na constituinte C; no entanto,
nenhuma regra pode afetar os nós c, d, e e sozinhos em uma única operação, uma vez
que eles não formam um constituinte. Para Clements & Hume (1995, p. 250) esse
princípio implica que somente conjuntos de traços que tenham um nó de classe em
comum podem funcionar juntos em regras fonológicas.
Uma proposta inovadora apresentada pela geometria dos traços foi a
redução da quantidade dos traços articulatórios que caracterizavam os segmentos da
fala12
. O autor sugeriu apenas, um conjunto limitado de traços para caracterizar todos os
segmentos da língua, sejam estes vocálicos ou consonantais. E é nesse ponto que se
encontra a segunda inovação da teoria de Clements, o qual iguala traços de ponto
articulatório vocálico a traços de ponto de articulação consonantal, o que segundo
Wetzels (1995, p. 116) permite uma formalização elegante das condições de co-
ocorrência entre consoantes e vogais em termos de um mesmo articulador.
O conjunto de traços que caracteriza as consoantes e vogais foram
delimitados de acordo com os movimentos articulatórios da cavidade oral e são
classificados em: labial, coronal, dorsal e possivelmente traços da cavidade faríngea –
[radical]. Segundo Clements e Hume (1995) a representação da organização hierárquica
das consoantes e vogais é a seguinte:
12
Na teoria fonológica gerativa de Chomsky e Halle (1968), cada fonema da língua era caracterizado por
matrizes fonológicas completamente especificadas, compostas por traços ou seqüências de colunas de
traços, dispostos desordenadamente. Assim, a matriz elencada para [k], por exemplo, era constituída pelos
seguintes traços: consonantal, coronal, contínuo, anterior, nasal, sonoro, estridente, sendo que cada um
desses traços era marcado apenas por uma das propriedades [+] ou [-].
51
Figura 07: Representação arbórea da organização dos segmentos da fala
52
Fonte: Clements & Hume (1995, p. 292)
Os sons da fala, sejam estes vocálicos ou consonantais, podem ser
representados no diagrama arbóreo acima. Ele é formado por nós e traços terminais que
o caracterizam. O nó de raiz encontra-se em um nível hierárquico mais elevado, porque
é composto por traços maiores, soante, aproximante e vocóide. Enquanto os nós de
classe, laringal, Cavidade oral e Ponto de articulação (Ponto C), são considerados nós
intermediários; e os nós que se encontram entre colchetes, que estão nas camadas
terminais, são os traços propriamente ditos que caracterizam os segmentos sonoros da
fala.
Uma diferença existente entre os segmentos vocálicos e consonantais
encontra-se no ponto de articulação do trato vocal (Ponto C), no que diz respeito ao
domínio dos segmentos vocálicos, que na geometria dos traços, o nó vocálico domina as
classes de ponto e de abertura. Enquanto que os segmentos consonantais, apenas as de
Ponto. Para atribuir concreticidade a proposta de Clements & Hume (1995) tem-se a
seguinte estrutura arbórea para os segmentos [a] e [d]:
53
Figura 08: Representação arbórea do segmento vocálico.
Fonte: Matzenauer (2005, p. 51)
54
Figura 09: Representação arbórea do segmento consonantal.
Fonte: Matzenauer (2005, p.51)
Convêm ressaltar que esses traços caracterizadores dos segmentos sonoros
da fala, assim como a disposição em que os mesmos se encontram em uma estrutura
arbórea hierárquica servem para caracterizar qualquer língua do mundo e por isso são
considerados universais (CLEMENTS 2004, p. 03). Dessa forma a fonologia da
geometria dos traços (FGT) contribui para expressar a naturalidade dos processos
fonológicos que ocorrem nas línguas do mundo e busca sempre demonstrar que tais
processos seguem uma única operação, seja a de desligamento de uma linha de
associação ou de espraiamento de um traço. Em conseqüência a estrutura apresenta, sob
o mesmo nó de classe, traços que funcionam solidariamente em processos fonológicos.
2.3.1. As vogais na visão da Geometria dos Traços
No modelo fonológico gerativo desenvolvido por Chomsky e Halle (1968)
os segmentos vocálicos classificavam-se através de traços binários: [alto] e [baixo],
55
determinados com base na altura do corpo da língua. Dessa forma tinha-se a seguinte
representação para as vogais:
Essa classificação dos fonemas vocálicos objetivava dentro do modelo
gerativo a caracterização dos traços universais que compunha o conjunto dos segmentos
sonoros de uma língua, mas não era satisfatória para explicar o sistema vocálico de
línguas, por exemplo, compostas por quatro ou mais alturas. Na Fonologia da
Geometria dos traços, as vogais são, portanto, caracterizadas pelos traços de ponto e de
abertura, como já observado neste capítulo, e a existência de um nódulo de abertura
independente para as vogais é considerado, no âmbito das teorias fonológicas modernas,
uma inovação na proposta por Clements (1989, 1991). O nódulo de abertura das vogais
domina o traço [aberto], composto de uma ou mais fileiras de abertura, cujo número
preciso desse traço, depende das distinções de graus de altura que a língua possui em
seu sistema vocálico e por isso pode organizar-se em série de registros e sub-registros.
Wetzels (1991, p. 29) partindo da proposta de Clements (1991b), argumenta
que “somente as vogais apresentam o traço [aberto] constrativamente”, embora isso não
seja consenso na literatura. Dessa forma a altura dos segmentos vocálicos é especificada
como o traço [- aberto] para as vogais altas e o traço [+aberto] para a vogal baixa ou as
vogais baixas.
Assim, Clements (1989) passou a representar o sistema vocálico através de
traços, organizado hierarquicamente em fileiras ou tiers, sendo que cada traço, deveria
ser marcado positivo [+] ou negativamente [-], criando dessa forma dois registros de
altura vocálica. Para o autor “Sistemas simples com dois níveis de tom dividem a
seqüência total em dois registros primários, alto e baixo, enquanto sistemas mais
complexos com três ou mais níveis de tom criam sub-registros dentro dos registros
primários (CLEMENTS 1989 apud VIEIRA 1994, p. 81).
56
Wetzels (1991, 1992, 1995) introduz o traço Abertura para o PB, adotando a
teoria de Geometria dos traços de Clements (1989) e estabelece 4 alturas no PB como
abaixo. De acordo com o funcionamento das línguas do mundo, Wetzels (1991) insere a
noção de traço de abertura para o PB, adotando a teoria de Geometria dos traços de
Clements (1989) e estabelece o sistema de quatro de alturas, obtendo-se primeiro duas
alturas /i a/ e /i u a/, três alturas /i/, /e/ e /a/, e quatro /i/, /e/, /E/, e /a/. É importante
salientar que tal representação resulta do agrupamento dos fonemas vocálicos em
classes naturais. Assim tem-se respectivamente a seguinte divisão dos níveis de altura
para os segmentos vocálicos:
Fonte: Matzenauer (2005, p. 59)
Verifica-se na representação acima, que os diferentes traços que
caracterizam o grau de abertura das vogais, estão dispostos em um sistema hierárquico e
vinculados a um único nó de abertura, o que possibilita um espraiamento, como uma
unidade, dos diferentes graus de abertura.
57
2.3.2. A neutralização das vogais médias do português do Brasil: uma visão
autossegmental
Como já verificado neste trabalho o sistema vocálico do português proposto
por Câmara Jr. (1970) possui uma representação triangular de sete vogais em posição
tônica, que se reduzem a cinco em posição pretônicas, quatro vogais postônicas não-
finais e três postônicas finais. Essa redução vocálica nas posições átonas,
principalmente na postônica não-final, objeto deste estudo, dá-se pela perda do contraste
existente entre as vogais médias e as vogais altas. Câmara Jr. (1970) denominou isso de
neutralização.
Wetzels (1992) reinterpreta a proposta de Câmara Jr. (1970), levando em
consideração os princípios da teoria autossegmental e explica o processo de
neutralização das vogais médias como “definidas as vogais em termos da geometria de
Clements, com altura vinculada a traços de abertura, aberto1, aberto2 e aberto3, o traço
neutralizado é desligado e substituído pelo valor oposto” (WETZELS 1992 apud BISOL
2003, p. 274). Dessa forma, na passagem da posição tônica para a posição postônica
não-final as vogais médias sofrem, nos termos de Câmara Jr. (1970), uma neutralização,
pois o traço que as diferencia das vogais altas é apagado.
Bisol (2003) analisando o modelo de Clements (1991) para as línguas
românicas verifica que a língua portuguesa constitui-se como uma língua de registro
terciário, justamente por haver essa redução do sistema vocálico na passagem da
posição tônica para a posição átona. São sete vogais no registro primário, que se
reduzem a um subsistema de cinco na pretônica e postônica não-final, registro
secundário e de três no subsistema da átona final.
58
Figura 10: Níveis de altura das Línguas românicas
Fonte: Bisol (2003, p. 275)
Pelo modelo auto-segmental, a altura do sistema vocálico do português do
Brasil, é delimitada por traços de abertura, por conseguinte as vogais tônicas subdividem-se
hierarquicamente em um sistema de quatro alturas, formado por três níveis de abertura,
conforme a representação a seguir:
Figura 11: Sistema de quatro alturas do PB
Fonte: Wetzels (1991, p. 30)
Como observado na representação acima, os fonemas vocálicos do PB /e, o/
e /E, O/ possuem os mesmos graus de abertura e são agrupadas em uma mesma classe
natural por estarem mais estreitamente ligadas entre si do que com as vogais médias
altas, com as vogais altas e a vogal baixa. Línguas como o Francês que possuem quatro
graus de abertura para as vogais, tem uma representação diferenciada dos traços, pois
reúnem, em geral, em classes naturais, os fonemas /E, e/ como detentores dos mesmos
traços de abertura, em oposição a /i/.
Observa-se na figura 13 que a distinção realizada entre as vogais médias
altas e vogais médias baixas faz-se somente no tier [aberto 3], pois em [aberto 1] e
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Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de Cametá-PA

  • 1. 0 Raquel Maria da Silva Costa Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de Cametá-PA VOL. I UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 2010
  • 2. 1 Raquel Maria da Silva Costa Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de Cametá-PA VOL. I UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 2010
  • 3. 2 Universidade Federal do Pará Centro de Letras e Artes Curso de Pós-Graduação em Letras/Mestrado em Linguística Área de Concentração: Sociolinguística Raquel Maria da Silva Costa Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de Cametá-PA Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Letras/Mestrado em Linguística da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Linguística. Orientadora: Prof. Dra. Regina Célia Fernandes Cruz Belém 2010
  • 4. 3 Descrição sociolinguística das vogais médias postônicas não-finais /o/ e /e/ no português falado no município de Cametá-PA Raquel Maria da Silva Costa Dissertação defendida e aprovada, em 31 de Agosto de 2009, pela banca examinadora constituída pelos professores: ___________________________________________ Prof. Dr. Regina Célia Fernandes Cruz (UFPA) Orientadora __________________________________________ Prof. Dr. Abdelhak Razky (UFPA) Membro __________________________________________ Prof. Dr. Seung-Hwa Lee (UFMG) Membro UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 2010
  • 5. 4 Agradecimentos A Deus. Por senti-lo sempre presente em minha vida e permitir a aquisição de mais uma conquista importante ao lado de pessoas queridas. A Ele sempre. Obrigada! À professora Dra. Regina Célia Cruz, cuja convivência nesses dois anos fez aumentar minha admiração e respeito por ela, como profissional e pessoa; agradeço pela confiança, apoio e pela orientação densa e precisa deste trabalho. Ao professor Dr. Abdelhak Razky, pelas contribuições valiosas atribuídas ao longo do curso de mestrado para o desenvolvimento deste estudo. As professoras Dra. Marilúcia Barros de Oliveira e Dra. Marília Ferreira pelos comentários preciosos fornecidos para o enriquecimento deste trabalho, durante o Exame de Qualificação. Conhecimentos compartilhados generosamente. Ao MSc. Orlando Cassique Sobrinho Alves, que desde a graduação, vem incentivando-me a trilhar pelo universo da linguagem, principalmente da linguagem cametaense. Profissional dedicado ao fazer científico, modelo de mestre a ser seguido. Sua contribuição foi fundamental na elaboração desta dissertação. Obrigada pelo apoio, ensinamentos, dedicação e contribuição ao meu crescimento profissional. Ao professor MSc. Doriedson Rodrigues, por despertar em mim, nas aulas de lingüísticas, ainda na graduação, o gosto pela ciência da linguagem; e por ceder-me gentilmente parte do corpus desta pesquisa. Aos jovens pesquisadores que fizeram parte do projeto Vozes da Amazônia, pela contribuição valiosíssima dada a este: Daniele Oliveira, pelo auxílio significativo na coleta dos dados na zona urbana de Cametá; Marcelo Pires, que muito contribui na execução dos programas computacionais. Muito grata pela disponibilidade de cooperação; e Marivana dos Prazeres, pelos ensinamentos preciosos sobre as rodadas do Varbrul. Obrigada sempre! A professora Dinalva Pereira, diretora da EMEF. D. Romualdo de Seixas, pelo apoio constante a minha jornada acadêmica, demonstrando sempre compreensão à minha ausência na escola. Pessoas amigas assim merecem aplausos. A família Américo, Manoel Maurício Américo, Maurício Júnior e Maria José Américo que gentilmente acolheram-me em seu lar em Belém, fazendo-me sentir sempre em casa; pelo incentivo e presença constante nos momentos de alegrias e
  • 6. 5 tristezas vividas ao longo desses dois anos. Uma segunda família que o curso de mestrado proporcionou-me. Aos meus colegas do curso de mestrado, em especial Andréa, Claudia, Cintia, Ivanete, Jane, Josiane, Edinaldo e Renata pela ajuda na superação das dificuldades, principalmente das leituras dos textos em línguas estrangeiras. Pelos conhecimentos sempre partilhados. A minha mãe e amiga Guilhermina Silva, pela imensa dedicação, generosidade e incentivo atribuído não só durante o curso, mas em toda a minha vida. Ela é a peça fundamental de todas as minhas conquistas. A ela o meu imenso amor e gratidão. Ao meu pai Lindinho Costa (em memória) que compartilhou comigo o começo desta conquista. Sinto que sua torcida pelas minhas conquistas não se extingui através de sua ausência física. Aos meus irmãos Paulo (em memória), Ricardo, Sebastiana, Nonato, Elias e Claudia, que das mais variadas formas de ajuda, contribuíram para a concretização deste trabalho. Presenças sempre marcantes, estimuladoras e indispensáveis. Aos meus informantes, pela gentil colaboração para a realização desta dissertação; sem eles não haveria saber científico que pudesse ser concretizado. A todos os meus amigos que contribuíram, das mais diversas formas, na execução deste.
  • 7. 6 A Deus, À minha família – por tudo!
  • 8. 7 “língua é um conjunto heterogêneo, múltiplo e mutável de variedades, com marcas de classes e posições sociais, de gêneros e etnias, de ideologias, éticas e estéticas determinadas”. (ANGELA SOUTO)
  • 9. 8 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Plano da Amostra Estratificada em Faixa Etária, Sexo e Escolaridade 69 Tabela 02: Sinais utilizados na transcrição grafemática do corpus 75 Tabela 03: Itens lexicais identificados no corpus do português falado em Cametá, contendo as vogais médias /e/ e /o/ na posição postônica medial. 81 Tabela 04: População por Distrito do Município de Cametá 98 Tabela 05: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à Natureza da modificação da vogal postônica para a realização do fenômeno variacionista das médias postônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA) 107 Tabela 06: Os grupos de fatores selecionados para /e/ e para /o/ no stepup 109 Tabela 07: Freqüência, percentuais e pesos relativos do processo de alteamento das médias postônicas no português falado em Cametá (PA). 109 Tabela 08: Freqüência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a Natureza da Vogal Tônica Oral, a respeito da postônica /o/ sobre o fenômeno do alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá (PA). 116 Tabela 09: Freqüência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a natureza do segmento precedente da vogal posterior /o/ sobre o fenômeno do alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá (PA) 119 Tabela 10: Frequência de Ocorrência e Significância dos Fatores Relacionados a natureza do segmento precedente da vogal posterior /e/ sobre o fenômeno do alteamento das médias postônicas não-finais no português falado em Cametá (PA) 122 Tabela 11: Aplicação, percentuais e probabilidades de elevação das pretônicas /o/ em relação à natureza da sílaba seguinte. 124 Tabela 12: Aplicação, percentuais e probabilidades de elevação das postônicas /e/ em relação à natureza da sílaba seguinte. 127 Tabela 13: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à posição da variável dependente no vocábulo para a realização do fenômeno de alteamento das médias postônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA). 128 Tabela 14: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à natureza da entrevista para a realização do fenômeno de alteamento das médias postônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA). 130
  • 10. 9 Tabela 15: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados ponto de articulação da vogal que realiza a variável dependente das médias pós- tônicas não-finais no falar do município de Cametá (PA). 132 Tabela 16: Itens lexicais que se apresentaram categóricos na fala dos informantes para a vogal postônica /e/, com a manutenção da postônica. 134 Tabela 17: Item lexicais que se apresentaram categóricos na fala dos informantes para a vogal postônica /o/. 135 Tabela 18: Itens lexicais que apresentaram as quatro variantes para a vogal /o/ 136 Tabela 19: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à procedência do informante para a realização do fenômeno de alteamento da média postônica /o/ não-final no município de Cametá (PA). 137 Tabela 20: Frequência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à Escolaridade do informante para a realização do fenômeno de alteamento da média postônica /e/ não-final no município de Cametá (PA). 139 Tabela 21: Freqüência de ocorrência e significância dos fatores relacionados à Escolaridade do informante para a realização do fenômeno de alteamento da média postônica /o/ não-final no município de Cametá (PA). 139 Tabela 22: Itens lexicais que apresentaram abaixamento da vogal média /o/. 143 Tabela 23: Itens lexicais que apresentaram abaixamento da vogal média /e/. 144 Tabela 24: Vocábulos que apresentaram apagamento da vogal média posterior /o/. 145 Tabela 25: Vocábulos que apresentaram alteamento da vogal média posterior /o/. 148 Tabela 26: Vocábulos que apresentaram alteamento da vogal média posterior /e/ 151
  • 11. 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Significância da variação das médias postônicas não-finais no falar urbano de Cametá (PA) 106 Gráfico 02: Significância da variação das médias postônicas não-finais no dialeto do município de Cametá (PA) com enfoque no alteamento das médias postônicas não-finais. 110 Gráfico 03: Importância dos fatores relacionados à Natureza da Vogal Tônica Oral para a realização do alteamento da média pós-tônica não-final /o/ no falar do município de Cametá (PA) 116 Gráfico 04: A importância do segmento consonantal precedente para a variação da média postônica não-finais /o/ em Cametá (PA) 120 Gráfico 05: A importância do segmento consonantal precedente para a variação da média postônica /e/ não-finais em Cametá (PA) 123 Gráfico 06: Significância dos fatores relacionados à natureza do segmento seguinte para a realização do alteamento das médias postônica não-final /o/ no falar de Cametá (PA) 125 Gráfico 07: Significância dos fatores relacionados à natureza do segmento seguinte para a realização do alteamento das médias postônica não-final /e/ no falar de Cametá (PA) 127 Gráfico 08: Significância dos fatores relacionados à posição da variável dependente no vocábulo para a realização do alteamento da média postônica não- final /o/ no falar de Cametá (PA). 129 Gráfico 09: Significância dos fatores relacionados à natureza da entrevista para a realização do alteamento da média postônica não-final /e/ no falar de Cametá (PA). 131 Gráfico 10: Significância do fator ponto de articulação para a variação das médias pós-tônicas não-finais no dialeto do município de Cametá (PA). 132 Gráfico 11: Importância dos fatores relacionados à procedência do informante para a realização da variação da média postônica não-final /o/ no falar de Cametá (PA) 138 Gráfico 12- Probabilidade de alteamento da vogal média postônica /e/ em relação ao fator escolaridade. 139 Gráfico 13 - Probabilidade de alteamento da vogal média postônica /o/ em relação ao fator escolaridade 140
  • 12. 11 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica 27 Figura 02: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica diante de nasal 27 Figura 03: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica não- final. 28 Figura 04: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica final 28 Figura 05: Condição de Boa-formação 48 Figura 06: Organização dos traços de forma hierárquica 49 Figura 07: Representação arbórea da organização dos segmentos da fala 51 Figura 08: Representação arbórea do segmento vocálico 53 Figura 09: Representação arbórea do segmento consonantal 54 Figura 10: Níveis de altura das Línguas românicas 58 Figura 11: Sistema de quatro altura vocálica do PB 58 Figura 12: Neutralização da vogal não acentuada 59 Figura 13: Neutralização da vogal postônica não-final 60 Figura 14: Neutralização da postônica final 60 Figura 15: Códigos dos Informantes 68 Figura 16: Imagens feitas durante as entrevistas realizadas na cidade de Cametá (PA) durante o mês de maio de 2008 72 Figura 17: Imagens feitas durante as entrevistas realizadas não interior do município de Cametá (PA) ano de 2008 72 Figura 18: Ícone do Programa Sound Forge 7.0 e Janela principal do programa. 74 Figura 19: Sistema Vocálico do Português Brasileiro na Posição Postônica Medial, segundo Câmara Jr. ([1953]-1970). 134 Figura 20: Representação arbórea do apagamento de um segmento vocálico na posição postônica medial. 146 Figura 21: Representação árborea do apagamento da sílaba postônica não-final. 147
  • 13. 12 Figura 22: Representação arbórea da neutralização da postônica não-final, segundo Wetzels (1992). 149 Figura 23: neutralização da vogal que se encontra a borda direita de um pé métrico 150
  • 14. 13 LISTAS DE MAPAS Mapa 01: Mapa do Estado do Pará – e Mapa do Município de Cametá 93 Mapa 02 - Recorte do mapa do Estado do Pará situa Cametá e os municípios limítrofes e os distritos do município 94 Mapa 03: Mapa do Pará destacando as zonas dialetais, nas quais ainda há a presença do dialeto amazônico 113
  • 15. 14 SUMÁRIO Resumo Abstract Introdução 19 CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA 23 1.1. As vogais médias postônicas não-finais 23 1.2. Palavras Proparoxítonas 23 1.3. Processos Fonológicos 25 1.3.1. Alteamento e Assimilação 25 1.3.1.1. O sistema vocálico do Português Brasileiro 26 1.3.2. Abaixamento 31 1.3.3. Síncope 32 1.4. Estudos sobre as vogais médias postônicas no Brasil 35 1.4.1. Neutralização das vogais médias postônicas do Rio Grande do Sul (RS) - Vieira (1994) 35 1.4.2. As vogais médias postônicas: uma análise variacionista - Vieira (2002) 39 1.4.3. Alçamento das vogais postônicas não-finais no português de Belo Horizonte (MG) - Ribeiro (2007) 40 1.5. Estudo das vogais médias posteriores do português do Norte do Brasil - Oliveira (2008) 42 CAPÍTULO II: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS - METODOLÓGICOS 45 2.1. Introdução 45 2.2. Modelo Autossegmental 46 2.3. Geometria dos traços 49 2.3.1. As vogais na visão da Geometria dos Traços 54
  • 16. 15 2.3.2. A neutralização das vogais médias do português do Brasil: uma visão autossegmental 57 2.4. Teoria da Variação: um breve comentário 61 2.4.1. A sociolinguística: teoria e perspectivas 61 2.5. Procedimentos Metodológicos 66 2.5.1. A amostra 67 2.5.2. Coletas de dados 70 2.5.3. Digitalização dos dados 73 2.5.4. Processamentos dos dados 74 2.5.5. O tratamento estatístico 78 2.5.6. Definições das variáveis 82 2.5.6.1. Variáveis dependentes 83 2.5.6.2. Variáveis independentes 83 2.5.6.2.1. Variáveis Lingüísticas 84 2.5.6.3. Variáveis sociais 89 2.6. A Comunidade Investigada: o município de Cametá 92 2.6.1. Localização geográfica 93 2.6.2. Origem e história 95 2.6.3. Urbanização e aspectos Socioeconômicos 97 2.6.4. Educação e cultura 100 2.6.5. A linguagem cametaense 102 CAPÍTULO III: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 104 3.1. Análise Sociolinguística 104 3.1.1. Modificação vs manutenção da postônica não-final 105 3.1.1.2. Natureza da modificação da vogal postônica 107
  • 17. 16 3.1.2. O alteamento no português falado no município de Cametá 108 3.1.2.1. Alteamento vs manutenção da vogal postônica não-final 109 3.1.2.2. Grupo de fatores linguísticos selecionados 115 3.1.2.2.1. Natureza da vogal tônica oral – resultados somente para /o/ 115 3.1.2.2.2. Natureza do segmento precedente – resultados para /o/ e /e/ 118 3.1.2.2.3. Natureza do segmento seguinte – resultados para /o/ e para /e/ 124 3.1.2.2.4. Posição da variável dependente no vocábulo – resultados para /e/ 128 3.1.2.2.5. Natureza da entrevista – resultados para /o/ 129 3.1.2.2.6. Ponto de articulação da vogal da variável dependente 132 3.1.2.3. Grupo de fatores sociais selecionados 137 3.1.2.3.1. Procedência do Informante - resultados somente para /o/ 137 3.1.2.3.2. Escolaridade – resultados para /e/ e /o/ 138 CAPÍTULO IV: ANÁLISE FORMAL 142 4.1. Abaixamento 142 4.2. Apagamento 144 4.3. Alteamento 147 Considerações Finais 152 Referências bibliográficas 155
  • 18. 17 RESUMO Este trabalho verifica o comportamento das vogais médias /e/ e /o/ em posição postônicas não-finais de itens lexicais na área urbana e rural do município de Cametá, Nordeste do estado do Pará, Brasil. O estudo desse fenômeno colaborará para a caracterização do dialeto do município em questão. As vogais médias postônicas, ora se manifestam como [E/e] e [O/o], ora como /i/ e /u/, respectivamente. Como reflexo da posição silábica aqui focalizada, os itens tratados neste trabalho foram somente os vocábulos proparoxítonos. O corpus foi constituído por uma amostra estratificada de 96 informantes, selecionados de acordo com sexo, faixa etária, nível de escolaridade e procedência. A coleta dos dados foi realizada através de dois tipos de entrevista: a livre (48 informantes), em que os informantes discorreram livremente sobre suas experiências de vida; e o teste ou nomeação de figuras (48 informantes), que consistiu na identificação de desenhos pelos informantes (interpretados pelo falante como testes de memória). O corpus apresenta 2.177 dados, sobre o qual se observou a partir de uma análise estatística, no programa computacional Varbrul nos moldes labovianos, considerando variáveis lingüísticas e não lingüísticas, que o fenômeno de alteamento com peso relativo de .46 apresenta probabilidade menor de ocorrência do que sua ausência com peso relativo de .54. Examinou-se, também, que as vogais médias em posição tônica desempenham um papel bastante favorecedor do alteamento da média postônica /o/ em estudo. Dos fatores sociais estudados, a escolaridade e a procedência foram consideradas relevantes para explicar a regra variável de alteamento em Cametá. Palavras-chave: Vogais médias postônicas; Alteamento; Variação sociolingüística
  • 19. 18 ABSTRACT This work verifies the behavior of middle vowels / e / e / o / in non-final position poston of lexical items in urban and rural municipality of Cametá, northeaster of the state of Pará, Brazil. The study of this phenomenon collaborating for the characterization of the dialect of the municipality concerned. The vowels mean poston, sometimes manifested as /E / e] and [O / o] either as /i/ and /u/, respectively. Reflecting the position syllabic focused here, the items addressed in this work were the only words proparoxítonos. The corpus was composed of a stratified sample of 96 informants, selected according to sex, age, level of education and origin. data collection was conducted through two types of interview: free (48 informants), in which informants talk freely about their experiences of life; and the test or appointment of pictures (48 informants), which was the identification of drawings by the informants (as interpreted by the speaker tests of memory). The corpus presents 2177 data, on which was observed from a statistical analysis, in the computer program Varbrul out as labovianos, considering linguistic variables and non language, that the phenomenon of ride with relative weight of .46 presents lower probability of occurrence of that on his absence with relative weight of .54. It was, also, that the average position tonic vowels play a role in favoring very ride average poston / o / in study. Of the social factors studied, the origin and education were considered relevant to explain the rule of variable ride in Cametá. Key-words: Postons middles vowels; Alteamento; Sociolinguistic variation
  • 20. 19 INTRODUÇÃO O comportamento do sistema vocálico do Português do Brasil, em termos de língua falada, apresenta variação, quando se leva em consideração a posição ocupada pelas vogais em sílabas tônicas, pretônicas e postônicas, fato este observado desde Câmara Jr (1970). As regras fonológicas observáveis em algumas regiões do país, como o Norte, considerado em sua grande parte como processo de alteamento, harmonização vocálica (contexto pretônico) e neutralização (contexto postônico) que operam sobre as vogais, principalmente sobre as vogais médias, haja vista que estas apresentam um comportamento variável bastante significativo, alternando-se entre si mesmas ou entre si e as vogais altas, dependendo dos contextos lingüísticos e extralingüísticos nos quais se encontram. Como o fenômeno linguístico de alteamento vocálico entre as médias e altas em contextos postônicos não-final ainda não tinha sido sistematizado cientificamente, optou-se por demonstrar tal caráter variável na linguagem falada no município de Cametá (PA) à luz de referenciais teóricos apropriados, no sentido de identificar as regras subjacentes que norteiam a manifestação dessa variável linguística, levando em consideração que a substituição de uma forma por outra não ocasiona o contraste de significado entre os vocábulos. É realizada uma análise lingüística de cunho quantitativa e qualitativa, dos valores numéricos gerados pelo programa VARBRUL, isto é, das freqüências e dos pesos relativos necessários às inferências dos fatores que favorecem ou não as variantes que integram o fato em exame (variável dependente). Este plano de trabalho visa exatamente cumprir essa tarefa no projeto de pesquisa. Neste estudo, portanto, o processo em foco é aquele em que a vogal média posterior /o/ eleva o seu traço de altura de vogal média alta para vogal alta [u] (abób/o/ra → abób[u]ra) e a vogal média anterior /e/ eleva-se o traço de altura de vogal média alta para a vogal alta /i/, como em (hipót/e/se → hipót[i]se). As vogais médias classificadas de médias de primeiro grau /ε / e / / em contexto postônico (não-final) segundo Câmara (1970) e Bisol (1982) não se realizam nesta posição. Considerando que o objeto central desta Dissertação é somente a análise do alçamento das vogais médias altas de 2º grau /e/ e /o/ em contexto postônico não-final, e
  • 21. 20 como tal contexto lingüístico só poderá ser observado em palavras proparoxítonas da língua portuguesa, apenas esta categoria de palavras da língua é analisada nesta Dissertação. O objetivo principal do presente estudo é, portanto, caracterizar o fenômeno do alteamento vocálico no português falado no município de Cametá (PA), com base em uma amostra estratificada, sob análise da teoria sociolinguística variacionista e da Fonologia Autossegmental. Buscou-se particularmente: a) examinar quais os fatores linguísticos (estruturais) e os extra-linguísticos (sociais) que são neutros, favorecedores ou desfavorecedores do comportamento variável das vogais médias em contexto postônico não-final no português falado no município de Cametá (PA); b) verificar quais são os fonemas vocálicos que, no dialeto do município de Cametá (Pará) ocorrem em posição postônica não-final, adotando a hipótese de Vieira (1994) e Ribeiro (2007), em que tem um subsistema no qual realizam as seguintes vogais: a, e, i, o, u; c) identificar qual é a série das vogais médias aqui em estudo, anterior /e/ ou posterior /o/, que apresenta maior e menor freqüência de variação no município de Cametá e; d) investigar o grau de estabilidade ou de mutabilidade das variáveis em estudo, isto é, se o comportamento variável das vogais médias no português falado no município de Cametá, estado do Pará, apresenta-se em um estágio de mudança em progresso ou de variação estável.. Para comprovar as hipóteses levantadas e os objetivos elencados desta pesquisa, esta Dissertação foi norteada pelas vertentes da Teoria estruturalista de Câmara Jr. (1970, 1987); Teoria Autossegmental e Geometria dos Traços (Clements 1985, 1989, 1991; Clements e Hume 1995; Wetzels, 1991, 1992) e Teoria Sociolingüística (Labov 1983). Um estado da arte apresenta os estudos que abordam especificamente a variação das vogais médias postônicas, como o de Ribeiro (2007) e o de VIEIRA (1994, 2001). Esta Dissertação está organizada em três volumes, a saber: o volume I constitui o corpo da Dissertação; o volume II é composto pela transcrição na íntegra do corpus do projeto e o volume III contém os arquivos VARBRUL necessários ao tratamento lingüístico. O volume I que compreende o corpo desta Dissertação encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro capítulo volta-se para a caracterização do objeto de estudo: as vogais médias postônicas em posição não-final. Comenta-se a natureza dessas vogais e os itens lexicais em que elas se manifestam, assim como os processos
  • 22. 21 fonológicos que ocorrem com tais fonemas. Em seguida, é realizada uma revisão bibliográfica dos principais estudos já realizados no Brasil sobre as vogais médias postônicas não-finais. Ressaltam-se também neste capítulo os resultados de estudos anteriores realizados sobre a variedade linguística do falar paraense pelo projeto Vozes da Amazônia, ao qual esta Dissertação está vinculada. O segundo capítulo dedica-se aos pressupostos teórico-metodológicos que nortearam a elaboração deste estudo. Primeiramente faz-se uma resenha dos modelos Fonológicos da teoria Autossegmental e Geometria dos Traços. De forma concisa, ressaltam-se os pontos mais relevantes desta teoria, sua contribuição para o avanço dos estudos sobre a linguagem e os pressupostos teóricos pertinentes para a análise do objeto em estudo, assim como a justificativa da escolha desse modelo para descrição do comportamento variacionista das vogais em estudo. É exposta ainda, a regra de neutralização das vogais médias em termos não-lineares, e em torno dela são feitas as devidas considerações. Em seguida apresenta-se, em linhas gerais, um breve histórico da trajetória dos estudos lingüísticos até o advento da teoria variacionista de Labov (1983) de cunho quantitativo que inova ao inserir os fatores externos em análises de variação e mudança lingüística, assim como se demonstra os problemas das restrições apresentados por Weinreich, Labov e Herzog (1968). Em seguida, apresenta-se o município de Cametá, local onde ocorreu este estudo, seus aspectos históricos, sociais, econômicos, linguísticos e culturais mais importantes. Apresentam-se também os dados estatísticos relevantes da população e educação no município. Esses fatores são dignos de explanações neste trabalho, na medida em que este constitui uma análise de cunho sociolinguística variacionista. E por fim, demonstram-se os procedimentos metodológicos adotados para a constituição do corpus desta pesquisa. É explicitada a delimitação da amostra (seleção e caracterização dos informantes), os passos adotados para a constituição do corpus e o tratamento estatístico destinado ao mesmo para ser processado pelo programa VARBRUL, como também a definição das variáveis dependentes e independentes (lingüísticas e sociais) necessárias para a compreensão do objeto em estudo. No terceiro e último capítulo, será demonstrada a análise estatística realizada pelo programa computacional adotado na pesquisa, e a porcentagem de ocorrência de todas as realizações das vogais médias em posição postônica não-final. Apontam-se os resultados da pesquisa e as conclusões a que se chegou a partir da
  • 23. 22 interpretação dos mesmos, os quais nos levarão a verificar se os objetivos específicos elencados no inicio deste trabalho, foram alcançados ou não. CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA
  • 24. 23 1.1 - As vogais médias postônicas não-finais Ao contrário dos vastos estudos realizados sobre o alteamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ no português falado no Brasil, o alteamento das vogais médias postônicas não-finais, objeto de análise deste trabalho, é um campo de estudo linguístico muito pouco explorado no estado do Pará, principalmente no município de Cametá, que é uma região marcada linguisticamente pelo alteamento das vogais médias, seja em posição tônica, pretônica ou postônica. São poucas as pesquisas existentes acerca das regras fonológicas que atuam na elevação das vogais médias /e/ > [i] e do /o/ > [u] em posição postônica não-final, como o que ocorre em algumas regiões do Brasil com a pronúncia de vocábulos como abób[o]ra, em que a vogal média /o/ em posição postônica não-final dos vocábulos proparoxítonos realiza-se como [u] abób[u]ra. As vogais médias postônicas não-finais são assim caracterizadas porque se situam nos vocábulos proparoxítonos entre a vogal tônica e a vogal átona final. Nos vocábulos abóbora e prótese, as vogais médias /o/ e /e/ da sílaba que sucede a sílaba tônica dos vocábulos ocupam essa posição delimitada de postônica não-final. Observou- se, portanto que tais vogais nessa posição tendem a variar, alteando respectivamente na língua falada para [u] e para [i] De um modo geral os estudiosos que mais se detiveram aos estudos das vogais médias postônicas do Português Brasileiro (PB) foram Câmara Jr. (1970), Bisol (1981), Wetzels (1993). Antes de abordarmos alguns estudos já realizados no Brasil sobre o alteamento das vogais médias e o fenômeno da neutralização que ocorre com as mesmas em posição postônica final e não-final (Câmara Jr. 1970) convém tecer aqui um breve comentário sobre as palavras proparoxítonas, pois as vogais médias postônicas não-finais são observáveis somente nesse grupo de palavras. 1.2 - Palavras Proparoxítonas Em todo o Brasil são raros os estudos que envolvem as palavras proparoxítonas. Esse grupo de vocábulos (com acento principal na antepenúltima sílaba) possui traços peculiares na língua e constitui uma exceção às regra de acento. Na língua portuguesa, assim como na latina, o acento pode ocorrer em qualquer uma das três últimas sílabas da
  • 25. 24 palavra, o que gera as classificações conhecidas na gramática normativa de: oxítonas (o acento principal na última sílaba caFÉ), paroxítonas (acento na penúltima sílaba PORta) e proparoxítonas (acento na antepenúltima sílaba aBÓbora). Lee (apud Araújo et al 2007, p. 40) afirma que “na maioria das palavras do português, o acento cai na penúltima sílaba”, o que comprova a extensão desse grupo de vocábulos sobre as oxítonas e proparoxítonas. Faria (apud Amaral 2002, p. 100) atribui a seguinte justificativa para as palavras proparoxítonas do latim “as palavras de três ou mais sílabas têm sua acentuação determinada pela quantidade da penúltima: se for longa (salũte), sobre ela recai o acento, mas se for breve (domĬna), o acento incide sobre a sílaba precedente”. O grupo dos vocábulos proparoxítonos ainda é bem menor do que os das oxítonas, o que torna as proparoxítonas uma classe especial da língua portuguesa, na medida em que essa forma acentual demonstra-se avessa à ordem natural da língua de acentuar-se a penúltima sílaba. Na primeira edição do dicionário Aurélio, entre 120.000 mil verbetes ao todo da língua portuguesa, as proparoxítonas abrangem cerca de 8.520 palavras, um número bem reduzido de palavras diante da riqueza de termos de nossa língua. O grupo das proparoxítonas é formado principalmente por empréstimos do latim clássico e do grego, e entrou na língua portuguesa, pressupõe Araujo (2007) a partir do período da renascença, século XV, com o ressurgimento do interesse por parte de escritores, artistas e estudiosos em geral, pelo gênero clássico. Desde essa época os vocábulos proparoxítonos passaram a constituir um elemento principal das palavras eruditas, poéticas e cultas. Estudos demonstram que Luis Vaz de Camões, dentre os quinhentistas e os seiscentistas, foi o autor que mais se deteve ao uso de vocábulos eloquentes da língua e elevou a cultura pátria com elementos da antiga civilização e “já apareciam proparoxítonos como trêmulo, lúcido, rúbido, nítido, túmulo, diáfano, fatídico, belígero, entre outros” (AMARAL 1999 apud Silva 2006, p. 03). Mas a erudição inerente ao uso dos vocábulos proparoxítonos existentes no português do período renascentista ainda permanece no português moderno, haja vista que os termos que formam a classe das proparoxítonas são, em sua maioria, termos técnicos mais propícios à língua escrita e pouco frequentes na língua falada. Até os vocábulos mais populares em nossa língua, como árvore, fósforo, câmara, como já foi
  • 26. 25 observado em muitos estudos tendem a sofrer o processo de síncope1 ou como salienta Silva (2006) “pela lei de menor esforço2 , pelo princípio de economia ou por tendência a seguir o padrão da língua, são transformados pelos falantes em paroxítonos, como, respectivamente, arvre, estomo, cama”. (SILVA 2006, p. 3-4) 1.3. Processos fonológicos As vogais médias postônicas não-finais das palavras proparoxítonas podem sofrer várias realizações fonético-fonológicas, oriundas de naturezas distintas, na língua. Neste item serão analisados somente três processos: o alteamento, o abaixamento e a síncope. O alteamento, processo de maior recorrência na língua falada, é caracterizado pela elevação do traço de altura das vogais médias postônicas /e/ e /o/ para as vogais altas [i] e [u], respectivamente. Outro processo fonético-fonológico que ocorre com as vogais médias, o abaixamento, embora raro, é o procedimento inverso do que ocorre com o alteamento. O abaixamento manifesta-se quando as vogais médias altas /e/ e /o/ são realizadas ora como vogais médias baixas [ε] e [ ], ora como vogal baixa [a]. E o último processo fonológico observado no corpus é a síncope, fenômeno este bastante recorrente na Língua Portuguesa. Esse processo se caracteriza pela queda da vogal postônica não-final, como em abób[o]ra > abóbra. 1.3.1.Alteamento e Assimilação O processo de alteamento das vogais médias postônicas não-finais é interpretado por Câmara Jr. (1970) como neutralização vocálica. O termo neutralização é oriundo da Escola de Praga e consiste na perda de um traço distintivo, que reduz dois fonemas a uma só unidade fonológica. De acordo com Vieira (2002), nas posições átonas observa-se a ocorrência de um processo de neutralização, condicionado prosodicamente, que provoca a redução do sistema vocálico quando comparado ao 1 Supressão da vogal postônica não-final das palavras proparoxítonas 2 Quando o falante tende a reduzir um ou mais fonemas visando fazer um menor esforço músculo- articulatório.
  • 27. 26 sistema que se manifesta em posição tônica. Essa redução decorre da neutralização de vogais médias e vogais altas na posição postônica. Tal fenômeno provoca segundo Vieira (2002) “o apagamento do traço distintivo que estabelece a oposição entre as vogais médias e as vogais altas” (Vieira 2002, p. 129). Dessa forma é que obtemos pronúncias como (abób[u]ra) e (prót[i]se) em lugar de (abób[o]ra) e (prót[e]se) em algumas regiões do português falado no Brasil, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e a região sul do país, em que a vogal média anterior /e/ e a posterior /o/, como nos exemplos acima, elevam o seu traço de altura, alternando-se de vogais médias altas para vogais altas /i/ e /u/, respectivamente. Tal variação lingüística não acarreta alteração de sentido nos vocábulos. Para uma melhor compreensão do processo de neutralização das vogais médias postônicas da língua portuguesa, torna-se necessário retomarmos aos estudos de Câmara Jr. (1970), e o sistema vocálico triangular por ele proposto. 1.3.1.1. O sistema vocálico do Português Brasileiro Câmara Jr. (1970) estabeleceu, em sua pesquisa que incidiu sobre o dialeto formal culto do Rio de Janeiro, um sistema vocálico triangular de base articulatória formado por sete vogais, que representam os sete fonemas vocálicos em posição tônica nos vocábulos da língua portuguesa falada no Brasil. Para Câmara Jr. a posição tônica da sílaba é considerada a melhor posição para se caracterizar os traços distintivos vocálicos do português brasileiro. Por isso, é a partir da posição tônica que ele classifica as vogais do PB. “A classificação das vogais como fonema tem de assentar na posição tônica. Aí se deduzem todas as vogais distintivas em português, resultantes da conjugação do movimento horizontal (para a frente da boca ou para trás) e vertical (gradual elevação da língua em concomitância com um movimento de distensão ou de arredondamento dos lábios). No movimento vertical, são distintivas quatro posições da língua: baixa, média de 1º grau (timbre aberto), média de 2º grau (timbre fechado) e alta. A essas elevações da língua corresponde um avanço ou um recuo cada vez maior em movimento horizontal. O recuo se articula com um arredondamento dos lábios e o avanço com uma distensão” (CÂMARA Jr. apud VIEIRA 1994, p. 16) Para esta posição Câmara Jr. (1970), elaborou um quadro formado por sete vogais, como o observado a seguir:
  • 28. 27 Fig. 01: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 43) Todos os sete fonemas vocálicos da língua portuguesa do Brasil são realizados na posição tônica, por isso é possível identificarmos contextos vocálicos como: m[a]la, m[ε]la, cam[e]lo, m[ ]la m[o]ço, m[i]la e m[u]la. Para ele quando diante de consoante nasal na sílaba seguinte, tem-se um quadro formado por cinco vogais, chamadas de nasais ou nasalizadas: Fig. 02: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição tônica diante de nasal Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 44) Obtém-se assim: m[ã]to, b[ẽ]to, m[õ]to, b[ĩ]go e m[ũ]ito. Enquanto que nas posições átonas ocorre uma redução desse sistema vocálico de sete vogais, na língua culta falada no Rio de Janeiro, decorrente do fato de atuarem sobre as vogais, principalmente sobre as médias, certas regras fonológicas como a Harmonização Vocálica, em posição pretônica e a Neutralização na posição postônica final e não-final. Na posição postônica não-final, classificadas como as primeiras dos vocábulos proparoxítonos, Câmara Jr. identifica um quadro não mais de sete e nem de cinco, mas sim de quatro vogais: [u], [i], [e] e [a] como o demonstrado a seguir:
  • 29. 28 Fig. 03: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica não-final Câmara Jr. ([1970] 1991, p. 44) Convém ressaltar que o estudo de Câmara Jr. sobre o dialeto do Rio de Janeiro é considerado um dos pioneiros no Brasil que investiga o comportamento vocálico das vogais médias postônicas não-finais. Nesse estudo, o autor observou que ocorre uma regra de neutralização que apaga o traço distintivo entre as vogais médias /o/ e /u/ da série posterior, mas não entre /e/ e /i/, o que resulta no PB, como visto anteriormente, um quadro formado por quatro vogais /a/, /e/, /u/ e /i/, em posição postônica não-final. Isso segundo Câmara Jr. cria um subsistema assimétrico entre as vogais médias /e/ e /o/, no qual esta última desaparece na fala. Assim tem-se sempre abOb[u]ra e não abOb[o]ra, cOc[u]ras e não cOc[o]ras, e embora raro, mas possível, fenôm[e]no > fenôm[i]no. O autor concluiu a partir disso que a oposição entre os fonemas /o/ e /u/ é um reflexo da representação gráfica, “mera convenção da língua escrita”. E para as vogais postônicas finais diante ou não de /s/, Câmara Jr. identifica três vogais que se realizam nessa posição: Fig. 04: Sistema vocálico do Português Brasileiro na posição postônica final (CÂMARA JR., 1970, p. 44)
  • 30. 29 Assim obteríamos vocábulos como: bal[a], bol[u] e bul[i]. Vieira (1994) citando Câmara Jr., argumenta que no dialeto da região Sul do país é possível verificar “a utilização de um timbre mais aberto na articulação de /e/, salientando, uma posição distintiva bastante precária com /i/ átono final, como no par júri – tribunal popular – jure – do verbo jurar” (VIERA 1994, p. 19). De acordo com Câmara Jr. (1970), a pronúncia padrão, movimenta-se no sentido de eliminar tal posição. Bárbara Lopez (1979) em estudo realizado também sobre o dialeto carioca propôs um sistema vocálico para o português brasileiro formado de quatro alturas, o diferencial da proposta de Lopez foi a classificação da vogal baixa /a/ como vogal posterior e não mais como central. O sistema proposto por Lopez em posição tônica para o PB é o seguinte: +alto –bx +lev –alto –bx +lev –alto –bx –lev –alto +bx –lev [-post] [arred.] i [+post] [-arred.] [+arred.] u e o E O a (LOPEZ 1979, p. 50) Na caracterização dos traços de cada segmento vocálico, Lopez incorpora no sistema vocálico por ele proposto o traço [levantado], significando a elevação da língua acima de sua posição neutra ou de ou descanso. No que diz respeito à posição átona, na qual se encontram as complexidades da língua, Lopez não apresenta dissenso da proposta de Câmara Jr. e argumenta que ocorre mesmo nessa posição um processo de neutralização. Em posição final o /i/ e /u/ para a autora representam neutralização das séries posterior e anterior, por isso nessa posição manifestam-se somente três fonemas vocálicos. Lopez, assim como Câmara Jr. estabelece uma pauta vocálica postônica não-final formada apenas por quatro vogais. Contudo toma como corpus de estudo somente o dialeto carioca e ignora dialetos falados em outras regiões do país, que
  • 31. 30 possuem um sistema vocálico postônico formado por cinco vogais, ou seja, onde a vogal posterior /o/ também se realiza na fala. Para Callou e Leite (2000, p.77) “quanto maior o grau de atonicidade, maior a possibilidade de ocorrer neutralização” entre as vogais. É por esse motivo que as vogais da posição tônica, tendem a ser mantidas e, as vogais átonas finais são as mais suscetíveis à neutralização, estando as pretônicas e postônicas não-finais relativamente preservadas. O quadro de vogais do PB, baseado na linguagem falada do Rio de Janeiro proposto por Câmara Jr. não encontrou dissensão na literatura lingüística no que diz respeito à posição tônica e pretônica, enquanto que na posição postônica final e não- final, autores como Bisol (1981/2002) apresentam idéias divergentes e demonstram que não são três, mas quatro as vogais que se manifestam em posição postônica final, e em posição postônica não-final são cinco. É claro também que este quadro vocálico proposto por Bisol foi estabelecido a partir dos resultados encontrados em sua pesquisa sobre o dialeto da região sul e parte do sudeste do Brasil. Nesse contexto postônico não-final tomamos como exemplos: lâmp[a]da, vésp[e]ra, abób[o]ra e cum[u]lo. Embora contrária à proposta de Câmara Jr. (1970), Bisol (2003) não deixa de atribuir importância merecida aos estudos inovadores do autor, que introduz o conceito de neutralização vocálica para explicar o alçamento das vogais médias do PB. A autora também encontra argumentos fundáveis para o estabelecimento do sistema assimétrico das vogais em posição postônica estabelecido por Câmara Jr., pois ela verifica que a série posterior /o/ alça com maior frequência na linguagem falada do que a série anterior /e/. Partindo dessa análise, Bisol (2003) busca explicar também esse alçamento, já identificado por Câmara Jr. (1970), através do efeito de frequência, pois é mais recorrente o alçamento da série posterior (/o/ > /u/), do que da anterior (/e/ > /i/), em posição postônica não-final. Mas é justamente nesse sistema vocálico assimétrico de Mattoso de quatro /a, e, i, u/ e não cinco vogais /a, e, i, o, u/ na posição postônica é que se encontra o problema da análise mattosiana que causa segundo a autora uma não naturalidade da sentença, composta pelos fonemas /a, u, e, i/. Bisol (2003), utilizando perspectivas fonológicas não lineares, argumenta que as vogais em posição postônica não-final “flutuam”, como se estivessem atreladas a um pêndulo em movimento, entre
  • 32. 31 os subsistemas da átona final, composto por três vogais (/a, i, u/), e da pretônica, composto por cinco vogais (/a, e, i, o, u/). Partindo dessa análise, Ribeiro (2007) conclui que no Português Brasileiro, têm-se duas regras de neutralização, uma responsável pelo alçamento das vogais médias do subsistema da pretônica e outra que age no subsistema da postônica final e na postônica não-final, por extensão. Outro fenômeno lingüístico que pode ocorrer com as vogais médias ao sofrerem alteamento é o processo de assimilação, observado por Cristófaro Silva (1999) em seu estudo realizado sobre as vogais médias na região Nordeste do Brasil. A autora verificou que a altura da vogal postônica não-final pode sofrer influências da unidade fonológica tônica que a precede. Para a autora a qualidade da vogal tônica implica na qualidade da vogal postônica não-final. Oliveira (2008) observou também a existência do processo de assimilação das vogais médias. Segundo Oliveira (2008) a presença de uma vogal tônica alta no vocábulo favorece o alteamento, como em símb[u]lu e íd[u]lu. Nesse caso a vogal postônica /o/ assimila o traço de altura da vogal alta /i/, realizando-se, portanto, como [u]. Para Vieira (2002), esse processo pode ser interpretado como um processo de assimilação progressiva, em que uma vogal alta tônica, localizada na sílaba precedente à sílaba que contém uma vogal média influencia o comportamento da mesma, diferentemente do que ocorre no processo de harmonização vocálica. Em outras palavras “a assimilação é progressiva quando o “assimilado”, ou “fonema fraco”, segue o “assimilador”, ou “fonema forte” (CÂMARA Jr. 2002, p. 62). 1.3.2.Abaixamento O fenômeno do abaixamento vocálico (doravante BV) pode ser considerado uma variação lingüística bastante comum na língua portuguesa, não apenas na do Brasil. Fernandes apud Amaral (1996) testemunhou a existência de alternância vocálica já no Cancioneiro Geral e em outros textos do português medieval, com a presença freqüente de abaixamento das vogais médias. O processo do abaixamento envolve a modificação do parâmetro relativo à altura das vogais ou ao seu „ponto de articulação‟, em que vogais altas ou vogais médias
  • 33. 32 de 1° grau tendem a tornar mais baixo seu traço de altura. Alguns autores acreditam que o processo de abaixamento vocálico por envolver a alternância de altura das vogais, principalmente de vogais acentuadas, apresenta contextos e regras semelhantes às do alteamento. Sobre o abaixamento das vogais médias não acentuadas ou átonas são raros os estudos existentes no Brasil. Os trabalhos mais expressivos que existem são aqueles sobre o Abaixamento Datílico3 (AD) e o Espondeu de Wetzels (1991). De acordo com o abaixamento datílico vogais médias altas /e/ e /o/ são impedidas de ocorrerem em sílaba tônica de palavras proparoxítonas. Para Wetzels (1991 apud BATTISTI & VIEIRA 2005, p. 184) existe em português, “uma restrição de condicionamento prosódico que proíbe vogais médias altas em sílabas tônicas de proparoxítonas”. 1.3.3.Síncope Outro processo fonológico que pode ocorrer com as vogais médias postônicas dos vocábulos proparoxítonos é a síncope. A síncope caracteriza-se como a supressão de um ou mais segmentos na(s) sílaba(s) átona(s) postônica(s) de um vocábulo. Ela decorre do enfraquecimento interno medial do fonema vocálico e, algumas vezes também do fonema consonantal de menor soância na sílaba, de itens lexicais, como em áspera > aspra; árvore > arvre; abóbora > abóbra; cócoras > coca. A síncope é um fenômeno lingüístico presente não só na atualidade, já perdura há bastante tempo na língua. Ela originou-se no latim vulgar e passou por todas as fases do Português, disseminando-se em todo o país, na fala popular. No latim, por exemplo, se a vogal penúltima postônica era e ou i, (lat.cl. ẽ ou ĩ) precedida de l, m, n ou r, e seguida de c ou t, era suprimida (latim vulgar tardio ou no período primitivo do português), assim tinha-se: alîquod > algo; pũlîcam (por pũlîcem) > Pulga; gallîcum > galgo; amãtes > andis > andas (com mudança de declinação). Sua ocorrência possui relações estreitas com o processo de desenvolvimento da língua e obedece a princípios ou restrições que determinam a ordem de uso dos segmentos na sílaba. Na língua latina a síncope afetava somente as vogais breves e 3 O pé (ou metro) datílico é uma das unidades de ritmo do verso. É formado por uma sílaba longa e duas sílabas breves. (BATTISTI & VIEIRA 2005, p.184)
  • 34. 33 átonas, e, principalmente, aquelas situadas na vizinhança da sílaba tônica. Fato observável também na língua portuguesa, nos vocábulos proparoxítonos. Ainda que inúmeros fatores possam favorecer o processo da síncope, às vezes até simultaneamente, como, por exemplo, “o comprimento do vocábulo, a maior ou menor rapidez da elocução, a natureza dos fonemas circunvizinhos etc., a sua causa preponderante é, sem dúvida, o acento intensivo” (FARIA 1955, p. 162). Outro fator que pode interferir ou causar o processo de síncope na língua é a lei do menor esforço ou da economia fisiológica, teoria também que abrange o universo da linguagem humana. Tal lei consiste em “tornar mais fácil aos órgãos formadores a articulação das palavras. Podemos deduzir, então, que as modificações e quedas de fonemas deram-se obediência a esta lei, visando à eufonia e ao ritmo” (MIRANDA 2007, p. 29). A síncope em proparoxítonas de acordo com Amaral (2002, p.102) “é previsível, ou seja, o falante tem consciência das regras fonotáticas da língua ao reduzir sílabas, apagar segmentos ou inserir outros”. Isso é explicado em detrimento das restrições que ocorrem nas línguas, nas quais cada fonema só ocorre na seqüência que lhe é permitida dentro da palavra, constituindo o que Trask (2004 apud RIBEIRO 2007) conceitua de fonotática. Na língua portuguesa, a sua fonotática, só permite a presença em posição de coda silábica de consoantes soantes (líquidas e nasais) e as obstruintes /s/ ou /z/. Enquanto que na posição de onset, admitem-se apenas dois elementos, obedecendo à seqüência fricativas labiais/obstruinte + líquida (vibrante simples ou lateral), logo, permite-se apenas estruturas do tipo br, gr, cl, tl, vr, fl, entre outras. Para Clements (ANO apud AMARAL 2002, p. 102) os elementos que constituem a sílaba obedecem ao Princípio de Seqüenciamento de Soância (PSS), que rege que a partir de uma escala de soância, os segmentos com posição mais alta ficam no núcleo da sílaba, e os segmentos com posição mais baixa ficam nas margens. Para o autor as vogais são fonemas mais soantes e as obstruintes fonemas portadores de menor soância, por isso seqüências como pr e fr, são permitidas na língua portuguesa, pois crescem em nível de soância para o núcleo da sílaba (fonema vocálico), enquanto que rp e lf não constituem sílabas bem formadas, uma vez que violam o princípio PSS. E é por obediência a esse princípio que é considerado natural na língua portuguesa a previsibilidade pelo falante da supressão de fonemas vocálicos, como o /o/ do vocábulo abóbora > abóbra.
  • 35. 34 Amaral (2002)4 apresenta alguns contextos em que pode ocorrer a síncope. O mais favorecedor é o contexto silábico sucedido por uma consoante líquida. A vogal, que se encontra nesse ambiente, tende a cair e a consoante que a precedia (oclusiva ou labial) pode tanto acoplar-se à sílaba seguinte, se esta possuir um contexto favorecedor, formando um novo ataque como em ár.vo.re > a.rvø.re > ar.vre, como também unir-se a consoante precedente, vocalizando-se ao formar a coda, pi.lu.la > pi.lø.la > piw.la. A síncope pode ocorrer também em outros contextos na língua e formar construções do tipo: 1- diante de uma fricativa como em príns.pe < prín. sø.pe < prín.si.pe. Isso ocorre porque a consoante flutuante por obediência ao PSS, não é licenciada para formar ataque com sílaba seguinte /sp/, por isso é obrigada a migrar para a sílaba precedente; 2- diante de uma oclusiva ou nasal a consoante que flutua, por não poder formar coda com a consoante precedente, é suprimida juntamente com a vogal postônica não-final, é o que ocorre em re.lâm.pa.go > re.lâm.pø.øo > re.lâm.po, em que a oclusiva /g/ se permanecesse formaria a seqüência re.lam.pgo, não permitida no PB; 3- a vogal que sucede a consoante nasal perde-se e, em compensação a isso, é acrescido uma consoante homorgânica ao vocábulo, numbro e tumblu, para número e túmulo; 4- há a formação da seqüência consoante nasal + lateral como em câmara > câ.mra, esse tipo de construção, originária da síncope da vogal, viola o PSS, que não aceita um fonema nasal em posição de coda na língua, mas Amaral (2002) justifica esse agrupamento silábico argumentando que se a nasal ficasse na coda (cam.ra), a posição natural da língua, o tepe passaria a vibrante forte (= genro), o que não acontece na fala”, por isso a nasal migra para a sílaba seguinte formando um onset complexo. Portanto esses são os ambientes estruturais em que o processo de síncope pode ocorrer na língua portuguesa. Há outros casos, como os encontrados nesta pesquisa como, fOsfu, psicO, catalegu, folu, catala, fenome, entre outros que carecem de uma atenção especial em um estudo mais detalhado sobre o fenômeno da síncope que não será realizado neste momento por este trabalho. 4 Pesquisa realizada na zona rural do município de São José do Norte, com agricultores, no estado do Rio Grande do Sul.
  • 36. 35 1.4. Estudos sobre as vogais médias postônicas no Brasil Cabe aqui nesse item realizar breves explanações sobre os estudos já realizados em algumas regiões do Brasil sobre o comportamento das vogais médias postônicas final e não-final do português brasileiro. Tais estudos constituem-se de dissertações, monografias e pesquisas que investigam o comportamento variável das médias postônicas em alguns dialetos do país. No geral esses estudos seguem a teoria variacionista de Labov que utiliza métodos quantitativos para a análise do fenômeno investigado. Não são muitos os estudos no Brasil que incidem sobre as vogais médias postônicas, serão apresentados nesta pesquisa somente aqueles que até o presente momento de elaboração desta dissertação foram-nos acessíveis, os quais são de Vieira (1994), Bisol (2003), Ribeiro (2007) e Oliveira (2008). 1.4.1. A neutralização das vogais médias postônicas do Rio Grande do Sul (RS) - Vieira (1994) Viera (1994) analisou em sua pesquisa o processo de neutralização das médias anteriores e posteriores tanto em posição não-final como final, embora tenha centrado suas atenções mais nas postônicas finais. Sua pesquisa incidiu sobre os dialetos de quatro regiões do Rio Grande do Sul. A autora realizou uma análise do fenômeno da neutralização vocálica seguindo os pressupostos teóricos da Teoria Variacionista de Labov de cunho quantitativo e qualitativo, e das teorias da fonologia Autossegmental de Clements & Goldsmith (1976) e Lexical (KYPARSKY 1982, 1985). Vieira (1994), parte do posto que a regra de neutralização (que incide sobre o sistema tônico de sete vogais, reduzindo-o para cinco em posição postônica), representa uma operação cujo efeito é desligar um ou mais traços do nó de abertura, não podendo ser definida como um mecanismo de mudança de traços. E esse processo é uma regra de neutralização. Para a realização de seu trabalho Vieira (1994) utilizou os dados coletados por Leda Bisol, em 1978, que fazem parte do projeto “Variação Linguística no Sul do
  • 37. 36 País”. A coleta dos dados foi feita através de entrevistas individuais composta de duas partes: teste e fala livre, realizadas com habitantes da zona metropolitana, zona de colonização italiana, zona de colonização alemã e zona na fronteira do Rio Grande do Sul. Os informantes eram nascidos no Estado, e estavam na faixa etária de 25 e 55 anos com formação primária completa ou incompleta. As entrevistas duravam em média 60 minutos, e eram feitas com um grupo de 15 informantes de cada uma das regiões da pesquisa, os quais foram selecionados aleatoriamente sete por região, sendo que ao todo a autora utilizou 28 informantes (quatro homens e três mulheres da zona alemã; três homens e quatro mulheres da italiana; quatro homens e três mulheres da zona da fronteira; e três homens e quatro mulheres da zona metropolitana). Vieira (1994) argumenta que em virtude de a amostra já estar pronta, o critério utilizado para escolha dos informantes foi simplesmente o sexo, buscando um mesmo número de informantes masculinos e femininos. Desse total de 28 informantes, são obtidos para análise de 7.131 contextos da vogal /o/ e 5.487 contextos da vogal /e/. Na análise fonética dos dados Vieira (1994) verificou somente a elevação ou não das vogais médias em posição postônica, sem levar em consideração graus diferentes de alturas que estas vogais podem apresentar. Para observar o comportamento variável das vogais médias /e/ > [i] e /o/ > [u], Vieira controlou as seguintes variáveis dependentes: contexto vocálico (com harmonia vocálica, com vogal alta no radical, sem vogal alta e outros contextos); segmento precedente (nasal, líquida, sibilante coronal e outros); seguimento seguinte (sibilante, nasal, vibrante, lateral, vogal, sem segmento seguinte e outros); tipo de sílaba (com coda nasal, com coda lateral, com coda vibrante, com coda glide, com coda sibilante, sem coda, por apagamento e sem coda); classe da palavra (verbos da 1ª, 2ª e 3ª conjugação); posição da sílaba (sílaba final pesada, sílaba final leve de paroxítona, sílaba final leve de proparoxítona, sílaba não-final leve de proparoxítona); e os fatores extralingüísticos: etnia, sexo e tipo de entrevista. Dessas variáveis ou grupos de fatores apenas seis foram selecionadas como relevantes pelo Varbrul para explicar a regra de alteamento das médias posteriores em posição postônica não-final como final. O fator “etnia” foi considerado pelo programa como o primeiro em nível de relevância para a aplicação da regra de alteamento, e apontou os informantes da zona de colonização italiana como os que mais preservam as vogais médias em posição postônica com peso relativo de .26 para /o/ e .27 para /e/. Enquanto os metropolitanos, opositivamente, são os que mais praticam a regra de
  • 38. 37 elevação tanto de /e/ como de /o/ apresentando o mesmo peso relativo de .85. Portanto diante desses resultados observa-se que o fator extralingüístico no RS é um dos fatores mais favorecedores do comportamento da variável das vogais médias postônicas. Vieira constatou também que o “contexto vocálico”, segundo grupo em relevância, influencia no comportamento da átona postônica. Concluiu que são as palavras com vogal alta que oferecem um contexto mais favorável à elevação das vogais médias do que palavras sem vogal alta, peso relativo .64 para /o/ e .58 para /e/. Nesse sentido a autora aplica os pressupostos da teoria autossegmental desenvolvida em seu trabalho, argumentando que as vogais médias /e/ e /o/ assimilam o traço de abertura das vogais altas /i/ e /u/ em contexto postônico e caracteriza tal fenômeno como um processo de assimilação progressiva de traços das vogais altas por parte das vogais médias. Segundo a autora a regra de assimilação que se aplica nesse tipo de contexto é uma regra que opera junto com a de neutralização, no sentido de que aquela facilita ou motiva a elevação, conjugando-se, deste modo, os dois processos. (VIEIRA 1994, p. 55) A terceira variável em importância no processo de elevação das vogais médias foi o “segmento precedente”, nesse a autora observou que o contexto precedente caracterizado como outros foi o mais favorável ao alteamento tanto de /e/, peso relativo de .70 como de /o/, peso relativo de .62. E são as sibilantes que desfavorecem a aplicação da regra de alteamento de /o/, e as liquidas de /e/, peso relativo de .26. Para este fator Vieira não encontrou evidências claras sobre o comportamento exercido do contexto precedente sobre o alteamento das vogais médias, haja vista que a elevação dificilmente poderá ser explicada como conseqüência de um processo de espraiamento de traços da consoante precedente para as vogais /e/ e /o/, pois está em jogo a abertura, nó de classe que a consoante não pode espraiar (VIEIRA 1994, p.57). E em relação ao fator “tipo de sílaba” Vieira (1994) constata que para a vogal /o/ o fator “sem coda por apagamento” é o que mais inibe a elevação desta vogal, peso relativo de .36, já o fator “sem coda” não exerce qualquer tipo de influência sobre elevação vogal média /o/, como demonstra o resultado de, peso relativo .50. Por ouro lado, constata-se que a sílaba que contém /s/ na coda é a que mais favorece a elevação das médias /e/ e /o/ com peso relativo de .86 e .64, respectivamente. A “posição da sílaba” em que a vogal postônica se encontra é a sexta mais relevante no conjunto das variáveis, e os resultados indicam que a posição que mais favorece a elevação da vogal /o/ é a sílaba final pesada com /s/ na coda, com um peso
  • 39. 38 relativo de .61, seguindo-se a final leve, com o resultado .57. Enquanto que para a média /e/ é a sílaba final pesada, com peso relativo de .71. Pode-se encontrar no Rio Grande do Sul, vogais médias de vocábulos que terminam em silaba leve, como dente e bordado, pronunciadas tanto como dent[i] ou dent[e] alternando-se entre si, e bordad[o] ou bordad[u]. Em função disso Vieira (1994) finaliza que se tem um quadro vocálico formado por cinco vogais /a/, /e/, /i/, /o/, e /u/ que podem, acrescenta a autora, apresentar variação. A autora também observa que vogais médias de palavras terminadas por sílabas travadas tendem sempre a ser preservadas, não sofrendo, processo de neutralização com as vogais altas. É o que ocorre com as vogais de palavras como elétron e repórter, que dificilmente serão encontrados formas como eletr[u]n e repórt[i]r. A variável social “sexo” foi selecionada também como significativa no processo de alteamento das médias, muito embora segundo a autora não apresente dados muitos contrastantes, pois o que se observa é que existe praticamente uma equivalência de pesos relativos entre homens e mulheres, quanto às duas vogais. Vieira (1994) argumenta que apesar de os resultados situarem-se próximo ao ponto neutro, a diferença favorece as mulheres .53 para a vogal /o/ e .52 para a vogal /e/. Em números absolutos, ambos os sexos elevam mais a vogal /o/ do que a vogal /e/ (VIEIRA 1994, p. 50). VIEIRA (1994) concluiu em seu trabalho que o quadro das vogais postônicas finais estabelecido por Câmara Jr. (1988) para o dialeto carioca de apenas três vogais /a/, /i/, /u/, resultante categoricamente do processo de neutralização que ocorre entre vogais médias e altas, difere daquele encontrado no Rio Grande do Sul, onde se verifica através dos dados que a neutralização nesta posição silábica não ocorre categoricamente entre vogais médias e vogais altas. Comparando ambos os estudos verificamos que a oposição entre /o/ e /u/ neutralizada em Câmara Jr. não é anulada na posição postônica não-final pelos estudos de Vieira (1994) o que amplia o quadro de Câmara Jr. (1970) de quatro vogais para cinco em posição postônicas não-finais.
  • 40. 39 1.4.2. As vogais médias postônicas: uma análise variacionista - Vieira (2002) Semelhante aos estudos de Vieira (1994) tem-se os estudos de Vieira (2002), realizados em algumas cidades do Paraná5 , Santa Catarina6 e Rio Grande do Sul7 . A autora utilizou o banco de dados do VARSUL, utilizando 96 informantes selecionados de acordo com a idade e o grau de escolaridade, sendo oito informantes de cada uma das cidades citadas acima. Os dados coletados pela autora foram submetidos à análise do pacote estatístico Varbrul, cuja mesma tinha como variáveis dependentes a elevação das médias /e/ e /o/ em posição postônica não-final. Os resultados obtidos através da análise permitem que Vieira (2002) chegue a algumas conclusões relacionadas ao comportamento das vogais médias diferentes daquelas indicadas por Câmara Jr. (1970). E aponta um sistema vocálico postônico que ora é preservado ora é diminuído variavelmente em função da neutralização que opera sobre ele. Seguindo sua análise Vieira observa que o comportamento variável tanto da vogal /o/ como da /e/ é fortemente condicionado pelo contexto precedente. Verificando que “as consoantes labiais favorecem a elevação de /o/, provavelmente em função do traço de labialidade partilhado por esses segmentos” (Vieira 2002, p. 157). Enquanto que a vogal postônica /e/, tanto em posição final quanto não-final, “o contexto precedente que mais influencia a elevação é o contexto com as fricativas s/z (idem); sendo que ambas as posições os segmentos coronais tendem a preservá-la. A presença de uma vogal alta na sílaba tônica da palavra mostrou-se também um fator determinante tanto na elevação de /e/ como de /o/. No que diz respeito a vogal /e/, o fato de haver uma vogal alta na palavra, tanto em posição postônica não-final quanto final, é fator relevante para sua elevação. E de uma maneira geral os falantes do Rio Grande do Sul tendem a elevar ambas as vogais, enquanto que os falantes de Santa Catarina teriam uma atitude quase neutra porque elevam praticamente na mesma medida que preservam /e/ e /o/ e os falantes do Paraná tendem a preservar as vogais médias. Bisol (2002) em uma análise do estudo de Vieira (2002) e com base nos dados afirma que: 5 As cidades que compunha a amostra são Curitiba, Londrina, Pato Branco e Irati no Paraná. 6 Florianópolis, Blumenau, Lages e Chapecó. 7 Porto Alegre, Flores da Cunha, São Borja e Panambi.
  • 41. 40 a neutralização da átona final é, no português brasileiro, como um todo, um processo de neutralização ainda em andamento no que diz respeito à opção pela vogal alta. Note-se, todavia, que a neutralização entendida como perda do traço distintivo entre vogais médias e altas é uma regra geral para toda pauta postônica. (BISOL 2002, p. 307) Segundo Bisol (2002) o alteamento que ocorre na postônica não-final ocasionado pelo fenômeno da neutralização que reduz a pauta das vogais posteriores na classificação de Câmara Jr. “cria um conjunto assimétrico, não-natural /a u e i/ que na fonologia do português dificilmente se justificaria como contexto de regra e que não corresponde a nenhuma mudança de registro”. 1.4.3. O alçamento das vogais postônicas não-finais no português de Belo Horizonte (MG) - Ribeiro (2007) Alçamento de vogais postônicas não finais no Português de Belo Horizonte – Minas Gerais: uma Abordagem difusionista é outro estudo desenvolvido no Brasil sobre as vogais médias postônicas. Ribeiro (2007) teve como objeto de estudo somente os vocábulos proparoxítonos. Analisou o fenômeno de alteamento de acordo com as técnicas da Sociolingüística, orientada pela ótica de duas grandes hipóteses: a concepção de mudança lingüística do modelo da Difusão Lexical que prevê que a mudança se propaga pelo léxico de forma gradual; e a segunda que encontra nas idéias de Oliveira (1992, p. 39) o seu fio condutor de que “o comportamento [lingüístico] do indivíduo tende a ser mais homogêneo que o comportamento do grupo” e por isso deve ser medido separadamente. Torna-se relevante voltarmos nossa atenção nesse momento, para a primeira hipótese de Ribeiro (2007, p. 124) que é fundamentada no modelo difusionista da língua que segue a seguinte proposição, “para uma mesma regra A → B / C___D, postula que há, no mesmo item lexical, estruturas CBD, onde houve mudança, que co-ocorrem com estruturas CAD, onde não houve mudança”. É isso que gera o alteamento em vocábulos como pró[tez]e ~ pró[tiz]e, bió[log]o ~ bió[lug]o. Portanto são tais formas variantes representantes da flutuação fonética que se caracterizam como os “casos legítimos de variação” (Oliveira, 1992, p. 37-8).
  • 42. 41 Dessa forma Ribeiro verifica quais os processos graduais e a regra variável que atua sobre o alteamento das vogais médias postônicas na região metropolitana de BH, na tentativa de descrever os fatores estruturais ou lingüísticos (como segmentos precedentes e seguintes, grau de altura da vogal tônica, posição da vogal na palavra, velocidade de fala, item léxico) e os fatores sociais ou extralingüísticos (indivíduo, sexo faixa etária, escolarização, classe social (e renda), Formalidade versus Informalidade), tão importantes quanto os anteriores, que influenciam no alteamento da variável em estudo. O último fator acima exposto, o social, que relaciona língua e sociedade ou indivíduo e comunidade refere-se à segunda hipótese do trabalho da autora que, adotando as idéias de Oliveira (2002) argumenta que “a homogeneidade do comportamento lingüístico do indivíduo se sobrepõe ao da comunidade em que ele habita” (RIBEIRO 2007, p. 123). A primeira conclusão de Ribeiro (2007) em sua pesquisa diz respeito à primeira hipótese levantada em seu trabalho, de que a língua muda por difusão lexical. A autora encontra evidências de DL nos resultados que obteve, e ampara sua conclusão em comparações de palavras como vésp[e]ra, pouco freqüente na língua, que foi pronunciada como vésp[u]ra por muitos falantes com menor escolaridade e pertencentes à classe social mais baixa, com a palavra próspero que mesmo possuindo o mesmo contexto lingüístico, não vira prósp[u]ro em nenhuma das ocorrências. Ribeiro observou também que o quadro das vogais médias postônicas de Belo Horizonte assemelha-se ao proposto por Vieira (1994) para o RS, realizando-se todos os seguintes fonemas /a, e, i, o, u/ no dialeto belo-horizontino. Outra conclusão mostra o alteamento das vogais médias altas posteriores [o] ~ /u/ é bem mais freqüente do que o das vogais médias altas anteriores [e] ~ /i/, resultado este que não difere muito das outras análises já realizadas em outras regiões do Brasil. Tal resultado leva Ribeiro a concordar, até certo ponto com os estudos de Câmara Jr. (1970), que defende a idéia da não existência da vogal /o/ entre as postônicas não-finais.
  • 43. 42 1.5. As vogais médias postônicas não-finais no português falado no município de Cametá (PA) - Oliveira (2008) A variação das vogais médias pós-tônicas não-finais no português falado na área urbana do município de Cametá (PA): uma abordagem variacionista - de Oliveira (2008)8 - constitui um estudo sem precedentes desenvolvido em toda a região Norte do Brasil sobre as vogais médias postônicas, e é um desdobramento do projeto de pesquisa desta dissertação, a qual engloba uma amostra maior de informantes, e abarca também a área rural do município. O trabalho de Oliveira (2008) objetiva contribuir para o levantamento do comportamento das vogais médias no português do Brasil e integra-se ao projeto Vozes da Amazônia e aos estudos já realizados na região, cuja finalidade de maior amplitude é caracterizar o comportamento de tais vogais na região norte do país. Oliveira (2008) investigou o processo de assimilação das vogais médias pós-tônicas não-finais do município de Cametá (PA), a partir de uma amostra de 24 informantes, os quais foram estratificados de acordo com sexo, escolaridade, e faixa etária. O corpus foi coletado a partir da aplicação de um teste9 (questionário dirigido) em lugar da entrevista livre, haja vista que o estudo foi realizado somente com vocábulos proparoxítonos e os mesmos são pouco freqüentes na fala espontânea. Partindo dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Quantitativa, a pesquisa de Oliveira foi desenvolvida com auxílio do Programa Computacional VARBRUL. Para a análise foram elencados 10 grupos de fatores incluindo a variável dependente e suas variantes (presença e ausência de alteamento). A análise computacional indicou entre os fatores elencados para explicar o alteamento (ou não) das vogais postônicas, além da variável dependente, apenas seis fatores, os lingüísticos: natureza da variável dependente; natureza da vogal tônica; natureza do segmento precedente; natureza do segmento seguinte; e os não-lingüísticos: escolaridade e faixa etária do informante. O estudo de Oliveira (2008) verificou uma baixa ocorrência de elevação das vogais médias na variedade do português falada na área urbana do município de Cametá 8 Trabalho de Conclusão do Curso de Letras, habilitação em Língua Portuguesa (UFPA). 9 Este procedimento metodológico será explicitado na metodologia desta dissertação, haja vista que é o mesmo, como já mencionado.
  • 44. 43 (PA), uma vez que dos 739 dados obtidos na pesquisa, apenas em 272 dados houve a presença de elevação da vogal média nesta posição, correspondente ao peso relativo de .37, demonstrando assim uma baixa probabilidade de ocorrência, como demonstra Oliveira, de realizações do tipo indíg[i]na e pér[u]la, em que o falante eleva o traço de altura das médias / e / e / o / em posição pós-tônica não-final, para vogais altas [i] e [u]. Enquanto que nos 467 dados restantes a vogal média foi mantida, conforme mostra o peso relativo de .64, por isso são mais freqüentes realizações do tipo indíg[e]na e pér[o]la, em que as médias /e/ e /o/ são preservadas. O primeiro grupo de fatores selecionado pelo programa por ser o mais relevante para a caracterização do fenômeno de alteamento investigado por Oliveira (2008) foi o que trata da natureza da variável dependente. Neste contexto a vogal média posterior, figurou como a mais sensível ao alçamento seja quando precedida por tônica alta ou tônica baixa, atingindo o maior peso relativo obtido para este grupo, de .86. Enquanto que as vogais médias anteriores foram as que apresentam menor tendência à elevação, conforme mostrou o peso relativo de .16. Oliveira (2008) observou que o “contexto precedente” ocupado por onset coronais favorecia o alteamento em estudo, com peso relativo .55, aparecendo logo em seguida as consoantes labiais, peso relativo de .54. Para a natureza do “contexto seguinte” foram os segmentos labiais que se mostraram favorecedores da regra variável em estudo, com peso relativo de .67, logo após tem-se o onset ramificado, peso relativo de .66, sendo que as coronais mostraram neutras para o processo de alteamento das médias, com peso relativo de .50. Em relação a influência dos fatores sociais tem-se a “escolaridade”, como fator bastante expressivo para o alteamento /o/ > [u] e /e/ > [i], e de acordo com a sequência de seleção dos grupos de fatores do programa, este fator figurou como o terceiro grupo mais importante. Nesse grupo os “analfabetos” apresentaram-se como os falantes que mais realizam o alteamento, com peso relativo de .79. Oliveira (2008) observou que este valor vai sendo reduzido conforme aumenta o nível de escolaridade, atingindo .61 no nível fundamental, .48 no médio, enquanto que os que estudaram até o ensino superior são os que menos elevaram a altura das vogais médias postônicas não finais com um peso relativo de apenas .35. O grupo de fatores que diz respeito à faixa etária do informante foi o último a ser selecionado pelo Varbrul. Os resultados obtidos pelos dados revelaram que os informantes mais jovens são os que mais elevam a vogal
  • 45. 44 média postônica não-final, peso relativo de .58. Para Oliveira (2008) os resultados os resultados obtidos para o grupo de fator “faixa etária” sinalizam: para uma “escola inovadora, a qual enfoca mais o uso e não mais a regra, estando menos centrada em um padrão de língua, mas aberta as mudanças lingüísticas, o que justificaria o maior índice de ocorrência de elevação entre os mais jovens, os quais estão em maior contato com este tipo de ensino que não prioriza a chamada língua padrão em detrimento do uso de dialetos. (OLIVEIRA 2008, p. 38) Oliveira (2008) concluiu a partir da análise de seus dados que o processo que ocorre na fala da área urbana do município de Cametá (PA) seria mais um processo de assimilação do que neutralização por parte das vogais médias pós-tônicas não-finais, pois mesmo na presença da vogal baixa /a/ elas tendem a levar seu traço de altura, assim sintetiza sua análise retomando o conceito de Câmara Jr. (2008) sobre neutralização: não é possível falar em neutralização do sistema vocálico postônico não-final como propôs Câmara Jr. (1970), pois o que se verificou na área urbana da cidade de Cametá (PA) foi que tal redução e perda de oposição é facilmente retomada caso o falante sinta a necessidade de estabelecer distinção entre vocábulos. O que de fato parece ocorrer é uma assimilação tanto em / e / e / i /, quanto entre / o / e / u /, embora o / o / tenha mostrado maior sensibilidade em relação à / e /, a qual ocorre, especialmente, por motivação contextual. Em decorrência disso, verificou-se a existência de um sistema vocálico postônico não-final com cinco vogais que pode ser preservado ou reduzido variavelmente em função da assimilação das vogais médias nesta posição. (OLIVEIRA 2008, p. 42)
  • 46. 45 CAPÍTULO II: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS – METODOLÓGICOS O referido capítulo resume as principais idéias correspondentes às teorias fonológicas necessárias para a análise do processo de alteamento sofrido pelas vogais médias postônicas no PB, objeto desta dissertação, as quais são: Teoria Auto-segmental, de Goldsmith (1976), Geometria dos Traços, de Clements & Hume (1995) e Clements (2004). Analisaremos brevemente alguns postulados dessas teorias, ressaltando as partes relevantes de suas linhas fundamentais. 2.1. Introdução Na tentativa de analisar e compreender como as línguas do mundo estruturam os sons da fala internamente surgiu no decorrer da evolução dos estudos sobre a fonologia das línguas, dois grandes modelos teóricos, os quais se subdividem em dois modelos distintos: o modelo linear e o não-linear, que se voltam basicamente para a natureza e o funcionamento das línguas humanas. O primeiro modelo fonológico denominado linear foi apresentado por Chomsky e Halle (1968), a partir da publicação de The Sound Pattern of English (SPE) e constitui uma primeira apresentação compreensiva do que se denominou de fonologia gerativa. Nesse modelo, a fala é analisada como uma combinação linear de segmentos, isto é, como um conjunto de traços distintivos e não-ordenados, que se demonstram numa relação de um-para-um entre segmentos e matrizes de traços, com limites morfológicos e sintáticos. Os traços para Chomsky e Halle são unidades mínimas, de caráter acústico ou articulatório10 , que de forma co-ocorrente constituem os sons da língua, funcionando, portanto como unidades de descrição e análises das mesmas. No nível fonológico, tais traços possuem função distintiva e, por isso são tidos como binários, ou seja, cada traço é determinado por dois pontos na escala física, representando um a presença, e outro, a ausência da propriedade, isto é, são marcados positiva ou negativamente de acordo com a característica que dominam. 10 Como “nasalidade”, “sonoridade”, “labialidade”, “coronalidade”.
  • 47. 46 De acordo com o modelo gerativo, um segmento fonológico só poderia conter uma especificação para cada traço; que por sua vez, teria de pertencer a um só segmento. Essa representação dos sons da fala constitui o Princípio da bijetividade11 . Tal princípio rejeita a idéia de segmentos sonoros autônomos na cadeia da fala, e argumenta que esta se constitui por segmentos combinados linearmente, cujos limites dependem de critérios morfológicos e sintáticos. O modelo fonológico proposto por Chomsky e Halle (1968) avançou nos conceitos teóricos da fonologia das línguas na medida em que conseguiu explicar plausivelmente o fato de que as regras fonológicas se aplicam a classe de sons e não somente a sons individuais. Por isso tal modelo abriu caminhos para as fonologias não- lineares, como a fonologia Auto-Segmental e a Fonologia Lexical. Desde então a teoria fonológica foi passível de inúmeras alterações e reformulações em suas hipóteses, o que ocasionou o desenvolvimento de um quadro conceitual e formal bem organizado, constituído por diferentes subteorias conhecidas mais comumente como fonologia „não- linear‟. 2.2. Modelo Autossegmental Teorias fonológicas como a autossegmental e a métrica apresentam a idéia de que os sons da fala são por natureza, constituídos por componentes que envolvem um conjunto de traços que designa, por exemplo, a atividade da língua, dos lábios, da laringe durante a produção dos sons, os quais são organizados hierarquicamente (GOLDSMITH 1976, p. 29). Dessa forma os movimentos articulatórios elementares, como os definidos pelos traços, juntam-se em complexos movimentos, e estes em movimentos ainda maiores e a “produção da fala exige a coordenação precisa destes vários componentes como se fossem executadas seqüências sobrepostas de estágios de articulação” (CLEMENTS 1989b apud VIEIRA 1994, p. 72). O modelo fonológico não-linear opõe-se ao modelo da fonologia gerativa, por acreditar que esta teoria é incapaz de expressar, o ato de que traços podem se 11 Bijectivity Constraint (BC)
  • 48. 47 estender por domínios maiores do que o segmento. A fonologia autossegmental expressa a relativa solidariedade dos traços em termos de uma estrutura hierárquica e permite que as regras fonológicas manipulem diretamente essa estrutura. É dessa forma, por exemplo, que a assimilação é tratada, no modelo autoassegmental, como espalhamento de traços ou feixes de traços e permite-se a ela criar estruturas nas quais segmentos compartilham o mesmo conjunto(s) de traço(s). Para o modelo fonológico não-linear a fonologia de uma língua é organizada em traços dispostos hierarquicamente em diferentes “tiers” ou camadas, paralelas de segmentos fonológicos, que podem estender-se aquém ou além de um segmento, ligar- se a mais de uma unidade, como também funcionar isoladamente ou em conjunto solidários, isto é, grupos menores são continuamente reagrupados em classes maiores até que todos os traços formem um nó único, ou raiz, que domina todos os traços, os quais são agrupados em estruturas arbóreas hierarquizadas. Logo a fonologia autossegmental atua com auto-segmentos que permitem a divisão em segmentos independentes de partes dos sons das línguas. Para esse modelo não há uma relação “bijetiva” (de um-para-um), entre o segmento e o conjunto de traços que o caracteriza, pois os traços podem estender-se além ou aquém de um segmento e o apagamento de um segmento não implica necessariamente o desaparecimento de todos os traços que o compõem. Para Wetezls (1995) essa relação de bijetividade desautoriza também as representações nas quais um único traço seja compartilhado por dois segmentos ou aqueles em que um mesmo segmento esteja associado a dois traços, ou ainda casos em que uma especificação de traço não esteja associada a segmento nenhum. Portanto a teoria auto-segmental de Goldsmith (1976) é basicamente uma versão desenvolvida da fonologia gerativa clássica, porque elimina a restrição de bijetividade. Nesse modelo Wetzels (1995) propõe que: a) alguns traços têm cada um, seu próprio nível de „segmentalização (ou camada auto-segmental); b) o número de auto-segmentos não corresponde necessariamente ao número de fonemas presentes em uma determinada seqüência; c) os auto-segmentos estão ligados as suas unidades segmentais por meio de linhas de associação. As associações devem observar a condição mínima da boa formação segundo a qual as linhas de associação não se podem cruzar (WETZELS 1995, p. 6-7). Há, portanto a constituição de certas regras fonológicas, atuantes na organização dos traços na estrutura arbórea, que obedecem a certos princípios que impõe restrições a aplicação de determinadas regras em detrimento de outras. O
  • 49. 48 primeiro princípio é o de não-cruzamento de linhas de associação, proposto por Goldsmith (1976) que pode ser formulado como se segue: Figura 05: Condição de Boa-formação Fonte: Goldsmith (1976, p.27) Em uma representação bem formada de associações de traços, para cada unidade x e y em um nível designado, se x precede y, então nenhuma unidade associada a x pode vir depois de uma unidade associada a y. Logo as representações a e b podem ser consideradas bem-formadas, enquanto c viola a proibição de cruzamento de linhas de associação, sendo, então, malformada, não permitida na língua. Segundo Bisol (2005), a efetivação desta regra é confirmada pelo comportamento demonstrado pelos segmentos nasais, os quais assimilam o ponto de articulação de uma consoante adjacente, mas não existem regras que expliquem que as nasais tenham atravessado vogais para assimilarem o ponto de consoante não- adjacentes. Dessa forma ficou evidente que cada traço poderia exibir pelo menos algum traço de independência fonológica, assim como todos os traços poderiam estar individualmente envolvidos em processos de assimilação, dissimilação, epêntese, apagamento, propagação harmônica, ou também poderiam proporcionar um efeito bloqueador com relação a processos de espalhamento. Para melhor especificar o valor funcional desempenhado pelos conjuntos de traços desenvolveu-se uma representação arbórea do segmento denominada de „geometria dos traços‟ (feature geometry) proposta por Clements (1985).
  • 50. 49 2.3. Geometria dos traços Visando representar a hierarquia existente entre os traços fonológicos, assim como evidenciar que os traços podem ser tanto manipulados isoladamente como em conjunto solidários Clements (1985), Clements (1991) e Clements & Hume (1995) propôs uma „geometria dos traços‟. A geometria de traços estuda a forma pela qual os traços se agrupam em unidades funcionais e representa uma hipótese universal a respeito da organização interna dos sons da fala. Clements (2004), em sua proposta teórica aborda questões sobre as línguas do mundo como: Qual é a estrutura interna dos sons da fala? Como é que os sons da fala interagem em sistemas fonológicos? Quais são os processos fonológicos possíveis e impossíveis? (CLEMENTS 2004, p. 03). Esse modelo teórico torna sistemático o fato de que as unidades funcionais, geometricamente expressas como „nós de classes‟ exibem um comportamento fonológico exatamente igual ao dos traços individuais. Essa configuração é interpretada através de um diagrama arbóreo, como o seguinte: Figura 06: Organização dos traços de forma hierárquica Fonte: Clements & Hume (1995, p. 249) Observa-se no diagrama arbóreo que o nó de raiz (r) domina todos os traços, expressando a coerência do segmento “melódico” como unidade fonológica, e é a partir dele que são gerados todos os outros traços do segmento. Os Nós de classes de nível
  • 51. 50 mais baixo na árvore (A, B, C, D) indicam agrupamentos de traços funcionais. Eles dominam grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonológicas. Os constituintes imediatos C e D desses agrupamentos são nós irmãos e também filhos (dependentes) de B. Se C for (universalmente) dependente de B, a presença de C numa representação exigirá a presença de B. E os nódulos das cadeias terminais a, b, c, d, e, f, g são traços fonológicos. De acordo com essa forma de organização dos traços torna-se admissível a imposição de restrições fortes na forma e no funcionamento de regras fonológicas, é por esse motivo que a geometria dos traços de Clements & Hume (1995, p. 250) assume o seguinte princípio “as regras fonológicas constituem uma única operação”. Esse princípio prediz, por exemplo, que uma regra fonológica possa afetar o conjunto de traços d, e, f e g desempenhando uma única operação na constituinte C; no entanto, nenhuma regra pode afetar os nós c, d, e e sozinhos em uma única operação, uma vez que eles não formam um constituinte. Para Clements & Hume (1995, p. 250) esse princípio implica que somente conjuntos de traços que tenham um nó de classe em comum podem funcionar juntos em regras fonológicas. Uma proposta inovadora apresentada pela geometria dos traços foi a redução da quantidade dos traços articulatórios que caracterizavam os segmentos da fala12 . O autor sugeriu apenas, um conjunto limitado de traços para caracterizar todos os segmentos da língua, sejam estes vocálicos ou consonantais. E é nesse ponto que se encontra a segunda inovação da teoria de Clements, o qual iguala traços de ponto articulatório vocálico a traços de ponto de articulação consonantal, o que segundo Wetzels (1995, p. 116) permite uma formalização elegante das condições de co- ocorrência entre consoantes e vogais em termos de um mesmo articulador. O conjunto de traços que caracteriza as consoantes e vogais foram delimitados de acordo com os movimentos articulatórios da cavidade oral e são classificados em: labial, coronal, dorsal e possivelmente traços da cavidade faríngea – [radical]. Segundo Clements e Hume (1995) a representação da organização hierárquica das consoantes e vogais é a seguinte: 12 Na teoria fonológica gerativa de Chomsky e Halle (1968), cada fonema da língua era caracterizado por matrizes fonológicas completamente especificadas, compostas por traços ou seqüências de colunas de traços, dispostos desordenadamente. Assim, a matriz elencada para [k], por exemplo, era constituída pelos seguintes traços: consonantal, coronal, contínuo, anterior, nasal, sonoro, estridente, sendo que cada um desses traços era marcado apenas por uma das propriedades [+] ou [-].
  • 52. 51 Figura 07: Representação arbórea da organização dos segmentos da fala
  • 53. 52 Fonte: Clements & Hume (1995, p. 292) Os sons da fala, sejam estes vocálicos ou consonantais, podem ser representados no diagrama arbóreo acima. Ele é formado por nós e traços terminais que o caracterizam. O nó de raiz encontra-se em um nível hierárquico mais elevado, porque é composto por traços maiores, soante, aproximante e vocóide. Enquanto os nós de classe, laringal, Cavidade oral e Ponto de articulação (Ponto C), são considerados nós intermediários; e os nós que se encontram entre colchetes, que estão nas camadas terminais, são os traços propriamente ditos que caracterizam os segmentos sonoros da fala. Uma diferença existente entre os segmentos vocálicos e consonantais encontra-se no ponto de articulação do trato vocal (Ponto C), no que diz respeito ao domínio dos segmentos vocálicos, que na geometria dos traços, o nó vocálico domina as classes de ponto e de abertura. Enquanto que os segmentos consonantais, apenas as de Ponto. Para atribuir concreticidade a proposta de Clements & Hume (1995) tem-se a seguinte estrutura arbórea para os segmentos [a] e [d]:
  • 54. 53 Figura 08: Representação arbórea do segmento vocálico. Fonte: Matzenauer (2005, p. 51)
  • 55. 54 Figura 09: Representação arbórea do segmento consonantal. Fonte: Matzenauer (2005, p.51) Convêm ressaltar que esses traços caracterizadores dos segmentos sonoros da fala, assim como a disposição em que os mesmos se encontram em uma estrutura arbórea hierárquica servem para caracterizar qualquer língua do mundo e por isso são considerados universais (CLEMENTS 2004, p. 03). Dessa forma a fonologia da geometria dos traços (FGT) contribui para expressar a naturalidade dos processos fonológicos que ocorrem nas línguas do mundo e busca sempre demonstrar que tais processos seguem uma única operação, seja a de desligamento de uma linha de associação ou de espraiamento de um traço. Em conseqüência a estrutura apresenta, sob o mesmo nó de classe, traços que funcionam solidariamente em processos fonológicos. 2.3.1. As vogais na visão da Geometria dos Traços No modelo fonológico gerativo desenvolvido por Chomsky e Halle (1968) os segmentos vocálicos classificavam-se através de traços binários: [alto] e [baixo],
  • 56. 55 determinados com base na altura do corpo da língua. Dessa forma tinha-se a seguinte representação para as vogais: Essa classificação dos fonemas vocálicos objetivava dentro do modelo gerativo a caracterização dos traços universais que compunha o conjunto dos segmentos sonoros de uma língua, mas não era satisfatória para explicar o sistema vocálico de línguas, por exemplo, compostas por quatro ou mais alturas. Na Fonologia da Geometria dos traços, as vogais são, portanto, caracterizadas pelos traços de ponto e de abertura, como já observado neste capítulo, e a existência de um nódulo de abertura independente para as vogais é considerado, no âmbito das teorias fonológicas modernas, uma inovação na proposta por Clements (1989, 1991). O nódulo de abertura das vogais domina o traço [aberto], composto de uma ou mais fileiras de abertura, cujo número preciso desse traço, depende das distinções de graus de altura que a língua possui em seu sistema vocálico e por isso pode organizar-se em série de registros e sub-registros. Wetzels (1991, p. 29) partindo da proposta de Clements (1991b), argumenta que “somente as vogais apresentam o traço [aberto] constrativamente”, embora isso não seja consenso na literatura. Dessa forma a altura dos segmentos vocálicos é especificada como o traço [- aberto] para as vogais altas e o traço [+aberto] para a vogal baixa ou as vogais baixas. Assim, Clements (1989) passou a representar o sistema vocálico através de traços, organizado hierarquicamente em fileiras ou tiers, sendo que cada traço, deveria ser marcado positivo [+] ou negativamente [-], criando dessa forma dois registros de altura vocálica. Para o autor “Sistemas simples com dois níveis de tom dividem a seqüência total em dois registros primários, alto e baixo, enquanto sistemas mais complexos com três ou mais níveis de tom criam sub-registros dentro dos registros primários (CLEMENTS 1989 apud VIEIRA 1994, p. 81).
  • 57. 56 Wetzels (1991, 1992, 1995) introduz o traço Abertura para o PB, adotando a teoria de Geometria dos traços de Clements (1989) e estabelece 4 alturas no PB como abaixo. De acordo com o funcionamento das línguas do mundo, Wetzels (1991) insere a noção de traço de abertura para o PB, adotando a teoria de Geometria dos traços de Clements (1989) e estabelece o sistema de quatro de alturas, obtendo-se primeiro duas alturas /i a/ e /i u a/, três alturas /i/, /e/ e /a/, e quatro /i/, /e/, /E/, e /a/. É importante salientar que tal representação resulta do agrupamento dos fonemas vocálicos em classes naturais. Assim tem-se respectivamente a seguinte divisão dos níveis de altura para os segmentos vocálicos: Fonte: Matzenauer (2005, p. 59) Verifica-se na representação acima, que os diferentes traços que caracterizam o grau de abertura das vogais, estão dispostos em um sistema hierárquico e vinculados a um único nó de abertura, o que possibilita um espraiamento, como uma unidade, dos diferentes graus de abertura.
  • 58. 57 2.3.2. A neutralização das vogais médias do português do Brasil: uma visão autossegmental Como já verificado neste trabalho o sistema vocálico do português proposto por Câmara Jr. (1970) possui uma representação triangular de sete vogais em posição tônica, que se reduzem a cinco em posição pretônicas, quatro vogais postônicas não- finais e três postônicas finais. Essa redução vocálica nas posições átonas, principalmente na postônica não-final, objeto deste estudo, dá-se pela perda do contraste existente entre as vogais médias e as vogais altas. Câmara Jr. (1970) denominou isso de neutralização. Wetzels (1992) reinterpreta a proposta de Câmara Jr. (1970), levando em consideração os princípios da teoria autossegmental e explica o processo de neutralização das vogais médias como “definidas as vogais em termos da geometria de Clements, com altura vinculada a traços de abertura, aberto1, aberto2 e aberto3, o traço neutralizado é desligado e substituído pelo valor oposto” (WETZELS 1992 apud BISOL 2003, p. 274). Dessa forma, na passagem da posição tônica para a posição postônica não-final as vogais médias sofrem, nos termos de Câmara Jr. (1970), uma neutralização, pois o traço que as diferencia das vogais altas é apagado. Bisol (2003) analisando o modelo de Clements (1991) para as línguas românicas verifica que a língua portuguesa constitui-se como uma língua de registro terciário, justamente por haver essa redução do sistema vocálico na passagem da posição tônica para a posição átona. São sete vogais no registro primário, que se reduzem a um subsistema de cinco na pretônica e postônica não-final, registro secundário e de três no subsistema da átona final.
  • 59. 58 Figura 10: Níveis de altura das Línguas românicas Fonte: Bisol (2003, p. 275) Pelo modelo auto-segmental, a altura do sistema vocálico do português do Brasil, é delimitada por traços de abertura, por conseguinte as vogais tônicas subdividem-se hierarquicamente em um sistema de quatro alturas, formado por três níveis de abertura, conforme a representação a seguir: Figura 11: Sistema de quatro alturas do PB Fonte: Wetzels (1991, p. 30) Como observado na representação acima, os fonemas vocálicos do PB /e, o/ e /E, O/ possuem os mesmos graus de abertura e são agrupadas em uma mesma classe natural por estarem mais estreitamente ligadas entre si do que com as vogais médias altas, com as vogais altas e a vogal baixa. Línguas como o Francês que possuem quatro graus de abertura para as vogais, tem uma representação diferenciada dos traços, pois reúnem, em geral, em classes naturais, os fonemas /E, e/ como detentores dos mesmos traços de abertura, em oposição a /i/. Observa-se na figura 13 que a distinção realizada entre as vogais médias altas e vogais médias baixas faz-se somente no tier [aberto 3], pois em [aberto 1] e