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Zolpidem para matar a insônia e fazer o Bruxismo denunciar o estresse1
POR PEDRO CORREIA
Em meados da década de 80 do século passado, um movimento, derivado do Punk,
começou a se organizar na região de Washington capital. Formado por pessoas muito mais
preocupadas com a forma como nós, enquanto seres sociais, nos relacionamos e somos
honestos a respeito de nossos sentimentos e opiniões, tal movimento começou a se apropriar
da sonoridade do Punk Rock para tratar de temas totalmente alheios à ideologia Punk.
Iniciado por Guy Picciotto com a criação da banda Rites Of Spring, a primeira “onda” foi
batizada de “Revolution Summer”, por ter iniciado no verão de 1985. Após ganhar certa
notoriedade no cenário underground de Washington, a banda foi responsável por influenciar
uma série de outros músicos a criar seus próprios projetos – como Ian Mackaye, criador do
Embrace e mais tarde companheiro de banda de
Picciotto no Fugazi.
Esse impulso criativo no sentido de utilizar
um estilo de música na dosagem do Punk Rock,
assim como do Hardcore, fez crescer o estilo
denominado “Emotional Hardcore” – ou
simplesmente “emo”. Sua influência no
underground da geração foi tamanha que o estilo
ganhou vertentes das mais diversas (seja em
sonoridade mais agressiva e berrada do “screamo”
de Swing Kids ou nas composições “arquitetônicas”
da mistura de math-rock com emo do American
Football) o que facilitou a situação de diversas
bandas que almejavam uma maturidade tanto na
sonoridade quando no público alvo.
Mesmo que, tanto no Brasil quanto no exterior, tenhamos conhecimento, de modo
geral, do “Emotional Hardcore” como sendo um estilo composto por bandas mais interessadas
em expressar suas angústias e seguir um padrão estético, a influência do estilo naquilo que
conhecemos, mesmo no mainstream é inegável. Bandas como Brand New, Jimmy Eat World e
Dashboard Confessional são alguns dos nomes que saíram do undergound mesmo sendo bandas
“emo”, além de outras várias bandas influenciadas pelo movimento como Fugazi, La Dispute,
Circa Survive e Alexisonfire.
Mas, o que tudo isso tem a ver com a nossa realidade num contexto contemporâneo?
Desde a segunda metade da década passada, uma série de bandas vêm surgindo fazendo um
movimento de “renascimento” do cenário de “emocore”. Após o declínio de várias bandas do
undergound, o estilo parecia ter “morrido” e contava apenas com algumas bandas pertencentes
à indústria fonográfica já bem estabelecida e centralizada nos grandes selos (como Warner,
Universal, Sony e etc.). Esse renascimento do cenário conta com bandas que vêm fazendo
1
“Zolpidem” é o nome dado a uma substância usada para tratar a insônia e “Bruxismo” um hábito
parafuncional, relacionado ao estresse, onde o indivíduo range os dentes durante o sono. “Zolpidem” e
“Bruxismo” são músicas das bandas Máquinas e Amandinho, respectivamente
Img.1: Rites Of Spring ao vivo; Picciotto ao
fundo.
grande sucesso dentro e fora do undergound e que desenvolvem constantemente os conceitos
pertencentes ao estilo.
Influenciados pelas bandas mais recentes, um movimento em terras brasileiras vem se
mostrando cada vez mais relevante para a música nacional como um todo. A partir de bandas,
artistas, selos, produtores e mesmo de pessoas relacionadas aos eventos que não participam
ativamente da produção cultural a cena tem se consolidado dia após dia. Inicialmente, fazendo
parte de tal movimento de “renascimento”, a paulista Ludovic foi provavelmente a banda mais
popular no que diz respeito à sinceridade sonora e lírica dentro do movimento “emo” brasileiro,
o que determinou toda uma estética que seria seguida por músicos mais à frente.
A mineira Umnavio, diferente de Ludovic, apresenta uma sonoridade menos agressiva,
mais parecida com a mistura de math-rock e “emo” que a americana American Football
mostrava no final dos anos 1990. Essa pluralidade de voz (ou vertentes) nos coloca em níveis
iguais com o que é produzido fora do Brasil e muito disso se deve à internet, que possibilita uma
melhor comunicação com outros músicos e o consumo de diversos materiais.
Todos esses fatores influenciaram o desenvolvimento de selos para lançar dentro do
underground uma série de artistas com uma necessidade de expressão e que não tinham locais
para isso. Um dos mais importantes foi o selo Bichano Records do Rio de Janeiro, responsável
por lançamentos importantes dentro do cenário e que ajudariam a moldar a estética e
comportamento da cena, carinhosamente apelidada de “Rock Triste”.
Uma peculiaridade da cena é contemplar diversas vertentes, o que a transforma, de
fato, numa cena – e necessita da cooperação de diversas pessoas para funcionar de forma
efetiva. Apesar de uma das maiores características ser a união dos envolvidos para impulsionar
o desenvolvimento tanto sonoro quanto estrutural da cena, as desvantagens de fazer música
descentralizada no Brasil são grandes.
Para Gabriella Pompeu, da Banana Records, apesar do impacto cultural da cena ser
grande, há quem não enxergue tudo com bons olhos. “O impacto [cultural da cena] é, de fato,
grande sim. Pra mim basta tirar pelo quanto ele incomoda, sabe? Já fomos chamados de rolê
elitista, enquanto o que a gente faz é abrigar 13 pessoas em uma casa porque a galera não tem
grana e nem onde ficar e a estampa do merch das bandas vem de caras que fazem memes pro
Facebook”, explica.
Img2: Ludovic em um de suas caóticas apresentações.
Pompeu salienta também o fato de que, assim como outros nichos, a cena tem um papel
acolhedor para aquelas pessoas que não se encontram em outro lugar. “Se você parar para
conversar bem com quem faz parte do ‘movimento’, vai ver que são, em sua maioria, os que
não se encaixaram em lugar algum e ali encontraram um ‘abraço quentinho’. Não é só um
pessoal unido a esmo”, aponta.
O integrante da banda Amandinho e do selo Transtorninho Records, Smhir Garcia
concorda com Pompeu no que diz respeito ao acolhimento do “movimento”. Segundo Garcia,
só iremos ver tais mudanças dentro de alguns anos, mas, num curto prazo, a forma como artistas
e produtores se organizam já foi transformada.
“Assim como qualquer outro ‘rolê’ que cria algum tipo de unidade, e considerando que
é um role que envolve shows em
espaços culturais, o ‘rock triste’ tem
algum significado – por movimentar
espaços, criar nichos, difundir a cultura
alternativa” explica o também
integrante da banda Amandinho e do
selo Transtorninho Records, Felipe
Soares. Para ele, a cena apresenta um
impacto por difundir um tipo de
cultura, assim como outros fenômenos
culturais.
O desenvolvimento de uma
cena traz uma série de interpretações
para a forma como ele é desenvolvido;
nesse caso, o que mais se percebe, é
uma identificação dos artistas e do público com a juventude e como ela determina diversos
fatores na nossa vida, assim como a relação que o público tem com as letras e como elas se
tornam impessoais e conseguem falar o que diversas pessoas têm vontade.
“Acredito que primeiro é preciso levar em conta que o rock triste já inclusive se
reinventou. Já ouvi de algumas pessoas como sendo chamado de rock jovem. Não sei até que
ponto isso mudou mesmo, como essa identificação está se dando atualmente. Mas conheço
algumas pessoas que agitam uma cadeia produtiva e seriam dessa cena”, aponta Antônio
Oiticica, integrante das bandas Dof Láfá e responsável pelo projeto solo “Yo Soy Toño”. O artista
aponta uma questão também discutida por Soares no que diz respeito à tal identificação do
público jovem.
Para Soares, apesar de existirem necessidades de se manter unido, é importante seprar
as coisas e entender que muitas vezes cada iniciativa seja uma manifestação sem obrigações.
“Acho que se fosse pra denominar um movimento, seria um movimento jovem. E jovem na
modernidade, no século XXI e com acesso à internet e tudo o mais”, explica, concordando com
Oiticica.
Apesar de não fazer parte da cena, artisticamente falando, com seus projetos, Oiticica
reconhece a importância da cena para a movimentação cultural. Aponta Minas Gerais e o
Nordeste como sendo destaque na produção musical da cena de “Rock Triste” no ano de 2016.
“A cena underground ou independente é bem grande e abraça muita gente e movimentos. Mas
Img.3: Amandinho ao vivo, Soares ao fundo.
nesse ano acho que, principalmente, pela ação da Bichano [Records], da galera de MG, alguns
atores do Nordeste, essa cena apareceu bem”, observa.
Um ponto importante a ser comentado é o fato de que a grande maioria dos artistas
compõem em português, o que se difere de outros movimentos do undergound brasileiro –
como o de “Indie Rock” – que apresentavam músicas, na sua grande maioria, em inglês.
Coincidência ou não, para alguns, tal aspecto é parte importante para a construção da
identidade da cena enquanto forma de expressão. “Eu acho isso um dos fatores mais
importantes. Claro que nós temos bandas incríveis que fazem músicas em inglês, como a
Emerald Hill, mas se manter no
português e ter essa quebra do
padrão de que as coisas precisam
ser em inglês pra serem "cool" é
importante demais, sabe?”, aponta
Pompeu.
“Eu acho complicado até
falar em cena, não sei se trata de
uma cena especifica ou do
amadurecimento de um segmento
do independente brasileiro que
agora aprendeu a se organizar e
construir as coisas coletivamente.
[...] Ajuda muito nesse movimento
o fato de termos grandes letristas
no violins, ludovic, polara, dance of days, daí pelo menos pra mim acaba sendo uma influência
direta mesmo”, opina Garcia. Explica também que produções com letras em português
aumentam a possibilidade de identificação do público e criam uma capacidade de produzir
música para um público local.
Assim como Garcia, Oiticica concorda que tal desenvolvimento de letras em português
não se restringe a uma cena, mas é uma característica presente em toda a produção
independente no Brasil, sem falar no fato de artistas indo fazer apresentações no exterior com
composições em português.
O que se percebe, por fim, é um movimento cultural baseado numa necessidade de se
expressar de forma mais honesta, sem precisar que alguém produza um artista ou esperar verba
para ir de um estado a outro tocar para pessoas que têm a vontade de ver um show onde toda
a construção cultural dialoga muito mais com a sua realidade do que pagar caro em shows de
bandas de fora que não têm tal diálogo.
É interessante perceber o desenvolvimento de uma cena musical influenciada por
diversos estilos e artistas – seja pelo Noise Rock da Lupe de Lupe ou por uma primeira “onda”
do emo brasileiro do Polara – e onde as diversas bandas que terminam se desmembrando
continuam influenciando o movimento cultural, influenciando ou não o “Rock Triste”. Como o
caso da Ludovic onde o vocalista Jair Naves tem seu projeto solo, o guitarrista Eduardo Praça é
integrante da Quarto Negro e o baterista Hugo Falcão faz parte da Hierofante Púrpura.
Img.4: Os paraibanos da Emerald Hill
Isso, provavelmente, se dá pela grande cooperação dos artistas dentro do meio e pela
necessidade de expressão que não acaba com o fim de um determinado projeto. Talvez essa
seja a característica mais forte dessas cenas influenciadas pelo “emocore”: a necessidade de se
expressar superando as dificuldades financeiras, estruturais da indústria e sociais, o que
desenvolve uma grande capacidade lírica para denunciar diversos problemas sociais – como é o
caso da mineira Lupe de Lupe em diversas músicas de seu último trabalho “Quarup”, seja em “O
Futuro é Feminino”, “Eu Já Venci” ou “Carnaval”, as diversas mazelas da vida urbana são alvo de
denúncias pela banda.
Img.5: Os mineiros da Lupe de Lupe
REFERÊNCIAS
< http://www.last.fm/pt/music/Lupe+de+Lupe>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Bruxismo>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Zolpidem>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<https://bananarecords.bandcamp.com/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<https://bichanorecords.bandcamp.com/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<http://www.last.fm/pt/music/Ludovic>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
<http://www.last.fm/pt/music/Polara>. Acesso: 01 de outubro de 2016.
<https://web.archive.org/web/20100421022102/http://popfuzz.com.br/headline/the-
decline-of-midwestern-civilization/>Acesso: 01 de outubro de 2016.
Fig. 1:
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/d/d6/A_photo_of_the_band_Rites_of_Sp
ring_performing.jpg/220px-A_photo_of_the_band_Rites_of_Spring_performing.jpg>. Acesso
em: 01 de outubro de 2016.
Fig. 2: <https://miojoin.files.wordpress.com/2011/01/458261.jpg>. Acesso em: 01 de
outubro de 2016.
Fig. 3: <https://www.flickr.com/photos/pred00/29054962101/in/album-
72157669639662613/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
Fig. 4: <https://scontent.fssa1-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-
9/11205051_1750490241853756_7821004907772556543_n.jpg?oh=47eeaa5af04e0e9386da7
253a20762ad&oe=5877A469>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.
Fig. 5: <http://musicapave.com/wp-content/uploads/lupe-de-lupe.jpg>. Acesso em: 01 de
outubro de 2016.

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Como o Emo influenciou o desenvolvimento do Rock Triste no Brasil

  • 1. Zolpidem para matar a insônia e fazer o Bruxismo denunciar o estresse1 POR PEDRO CORREIA Em meados da década de 80 do século passado, um movimento, derivado do Punk, começou a se organizar na região de Washington capital. Formado por pessoas muito mais preocupadas com a forma como nós, enquanto seres sociais, nos relacionamos e somos honestos a respeito de nossos sentimentos e opiniões, tal movimento começou a se apropriar da sonoridade do Punk Rock para tratar de temas totalmente alheios à ideologia Punk. Iniciado por Guy Picciotto com a criação da banda Rites Of Spring, a primeira “onda” foi batizada de “Revolution Summer”, por ter iniciado no verão de 1985. Após ganhar certa notoriedade no cenário underground de Washington, a banda foi responsável por influenciar uma série de outros músicos a criar seus próprios projetos – como Ian Mackaye, criador do Embrace e mais tarde companheiro de banda de Picciotto no Fugazi. Esse impulso criativo no sentido de utilizar um estilo de música na dosagem do Punk Rock, assim como do Hardcore, fez crescer o estilo denominado “Emotional Hardcore” – ou simplesmente “emo”. Sua influência no underground da geração foi tamanha que o estilo ganhou vertentes das mais diversas (seja em sonoridade mais agressiva e berrada do “screamo” de Swing Kids ou nas composições “arquitetônicas” da mistura de math-rock com emo do American Football) o que facilitou a situação de diversas bandas que almejavam uma maturidade tanto na sonoridade quando no público alvo. Mesmo que, tanto no Brasil quanto no exterior, tenhamos conhecimento, de modo geral, do “Emotional Hardcore” como sendo um estilo composto por bandas mais interessadas em expressar suas angústias e seguir um padrão estético, a influência do estilo naquilo que conhecemos, mesmo no mainstream é inegável. Bandas como Brand New, Jimmy Eat World e Dashboard Confessional são alguns dos nomes que saíram do undergound mesmo sendo bandas “emo”, além de outras várias bandas influenciadas pelo movimento como Fugazi, La Dispute, Circa Survive e Alexisonfire. Mas, o que tudo isso tem a ver com a nossa realidade num contexto contemporâneo? Desde a segunda metade da década passada, uma série de bandas vêm surgindo fazendo um movimento de “renascimento” do cenário de “emocore”. Após o declínio de várias bandas do undergound, o estilo parecia ter “morrido” e contava apenas com algumas bandas pertencentes à indústria fonográfica já bem estabelecida e centralizada nos grandes selos (como Warner, Universal, Sony e etc.). Esse renascimento do cenário conta com bandas que vêm fazendo 1 “Zolpidem” é o nome dado a uma substância usada para tratar a insônia e “Bruxismo” um hábito parafuncional, relacionado ao estresse, onde o indivíduo range os dentes durante o sono. “Zolpidem” e “Bruxismo” são músicas das bandas Máquinas e Amandinho, respectivamente Img.1: Rites Of Spring ao vivo; Picciotto ao fundo.
  • 2. grande sucesso dentro e fora do undergound e que desenvolvem constantemente os conceitos pertencentes ao estilo. Influenciados pelas bandas mais recentes, um movimento em terras brasileiras vem se mostrando cada vez mais relevante para a música nacional como um todo. A partir de bandas, artistas, selos, produtores e mesmo de pessoas relacionadas aos eventos que não participam ativamente da produção cultural a cena tem se consolidado dia após dia. Inicialmente, fazendo parte de tal movimento de “renascimento”, a paulista Ludovic foi provavelmente a banda mais popular no que diz respeito à sinceridade sonora e lírica dentro do movimento “emo” brasileiro, o que determinou toda uma estética que seria seguida por músicos mais à frente. A mineira Umnavio, diferente de Ludovic, apresenta uma sonoridade menos agressiva, mais parecida com a mistura de math-rock e “emo” que a americana American Football mostrava no final dos anos 1990. Essa pluralidade de voz (ou vertentes) nos coloca em níveis iguais com o que é produzido fora do Brasil e muito disso se deve à internet, que possibilita uma melhor comunicação com outros músicos e o consumo de diversos materiais. Todos esses fatores influenciaram o desenvolvimento de selos para lançar dentro do underground uma série de artistas com uma necessidade de expressão e que não tinham locais para isso. Um dos mais importantes foi o selo Bichano Records do Rio de Janeiro, responsável por lançamentos importantes dentro do cenário e que ajudariam a moldar a estética e comportamento da cena, carinhosamente apelidada de “Rock Triste”. Uma peculiaridade da cena é contemplar diversas vertentes, o que a transforma, de fato, numa cena – e necessita da cooperação de diversas pessoas para funcionar de forma efetiva. Apesar de uma das maiores características ser a união dos envolvidos para impulsionar o desenvolvimento tanto sonoro quanto estrutural da cena, as desvantagens de fazer música descentralizada no Brasil são grandes. Para Gabriella Pompeu, da Banana Records, apesar do impacto cultural da cena ser grande, há quem não enxergue tudo com bons olhos. “O impacto [cultural da cena] é, de fato, grande sim. Pra mim basta tirar pelo quanto ele incomoda, sabe? Já fomos chamados de rolê elitista, enquanto o que a gente faz é abrigar 13 pessoas em uma casa porque a galera não tem grana e nem onde ficar e a estampa do merch das bandas vem de caras que fazem memes pro Facebook”, explica. Img2: Ludovic em um de suas caóticas apresentações.
  • 3. Pompeu salienta também o fato de que, assim como outros nichos, a cena tem um papel acolhedor para aquelas pessoas que não se encontram em outro lugar. “Se você parar para conversar bem com quem faz parte do ‘movimento’, vai ver que são, em sua maioria, os que não se encaixaram em lugar algum e ali encontraram um ‘abraço quentinho’. Não é só um pessoal unido a esmo”, aponta. O integrante da banda Amandinho e do selo Transtorninho Records, Smhir Garcia concorda com Pompeu no que diz respeito ao acolhimento do “movimento”. Segundo Garcia, só iremos ver tais mudanças dentro de alguns anos, mas, num curto prazo, a forma como artistas e produtores se organizam já foi transformada. “Assim como qualquer outro ‘rolê’ que cria algum tipo de unidade, e considerando que é um role que envolve shows em espaços culturais, o ‘rock triste’ tem algum significado – por movimentar espaços, criar nichos, difundir a cultura alternativa” explica o também integrante da banda Amandinho e do selo Transtorninho Records, Felipe Soares. Para ele, a cena apresenta um impacto por difundir um tipo de cultura, assim como outros fenômenos culturais. O desenvolvimento de uma cena traz uma série de interpretações para a forma como ele é desenvolvido; nesse caso, o que mais se percebe, é uma identificação dos artistas e do público com a juventude e como ela determina diversos fatores na nossa vida, assim como a relação que o público tem com as letras e como elas se tornam impessoais e conseguem falar o que diversas pessoas têm vontade. “Acredito que primeiro é preciso levar em conta que o rock triste já inclusive se reinventou. Já ouvi de algumas pessoas como sendo chamado de rock jovem. Não sei até que ponto isso mudou mesmo, como essa identificação está se dando atualmente. Mas conheço algumas pessoas que agitam uma cadeia produtiva e seriam dessa cena”, aponta Antônio Oiticica, integrante das bandas Dof Láfá e responsável pelo projeto solo “Yo Soy Toño”. O artista aponta uma questão também discutida por Soares no que diz respeito à tal identificação do público jovem. Para Soares, apesar de existirem necessidades de se manter unido, é importante seprar as coisas e entender que muitas vezes cada iniciativa seja uma manifestação sem obrigações. “Acho que se fosse pra denominar um movimento, seria um movimento jovem. E jovem na modernidade, no século XXI e com acesso à internet e tudo o mais”, explica, concordando com Oiticica. Apesar de não fazer parte da cena, artisticamente falando, com seus projetos, Oiticica reconhece a importância da cena para a movimentação cultural. Aponta Minas Gerais e o Nordeste como sendo destaque na produção musical da cena de “Rock Triste” no ano de 2016. “A cena underground ou independente é bem grande e abraça muita gente e movimentos. Mas Img.3: Amandinho ao vivo, Soares ao fundo.
  • 4. nesse ano acho que, principalmente, pela ação da Bichano [Records], da galera de MG, alguns atores do Nordeste, essa cena apareceu bem”, observa. Um ponto importante a ser comentado é o fato de que a grande maioria dos artistas compõem em português, o que se difere de outros movimentos do undergound brasileiro – como o de “Indie Rock” – que apresentavam músicas, na sua grande maioria, em inglês. Coincidência ou não, para alguns, tal aspecto é parte importante para a construção da identidade da cena enquanto forma de expressão. “Eu acho isso um dos fatores mais importantes. Claro que nós temos bandas incríveis que fazem músicas em inglês, como a Emerald Hill, mas se manter no português e ter essa quebra do padrão de que as coisas precisam ser em inglês pra serem "cool" é importante demais, sabe?”, aponta Pompeu. “Eu acho complicado até falar em cena, não sei se trata de uma cena especifica ou do amadurecimento de um segmento do independente brasileiro que agora aprendeu a se organizar e construir as coisas coletivamente. [...] Ajuda muito nesse movimento o fato de termos grandes letristas no violins, ludovic, polara, dance of days, daí pelo menos pra mim acaba sendo uma influência direta mesmo”, opina Garcia. Explica também que produções com letras em português aumentam a possibilidade de identificação do público e criam uma capacidade de produzir música para um público local. Assim como Garcia, Oiticica concorda que tal desenvolvimento de letras em português não se restringe a uma cena, mas é uma característica presente em toda a produção independente no Brasil, sem falar no fato de artistas indo fazer apresentações no exterior com composições em português. O que se percebe, por fim, é um movimento cultural baseado numa necessidade de se expressar de forma mais honesta, sem precisar que alguém produza um artista ou esperar verba para ir de um estado a outro tocar para pessoas que têm a vontade de ver um show onde toda a construção cultural dialoga muito mais com a sua realidade do que pagar caro em shows de bandas de fora que não têm tal diálogo. É interessante perceber o desenvolvimento de uma cena musical influenciada por diversos estilos e artistas – seja pelo Noise Rock da Lupe de Lupe ou por uma primeira “onda” do emo brasileiro do Polara – e onde as diversas bandas que terminam se desmembrando continuam influenciando o movimento cultural, influenciando ou não o “Rock Triste”. Como o caso da Ludovic onde o vocalista Jair Naves tem seu projeto solo, o guitarrista Eduardo Praça é integrante da Quarto Negro e o baterista Hugo Falcão faz parte da Hierofante Púrpura. Img.4: Os paraibanos da Emerald Hill
  • 5. Isso, provavelmente, se dá pela grande cooperação dos artistas dentro do meio e pela necessidade de expressão que não acaba com o fim de um determinado projeto. Talvez essa seja a característica mais forte dessas cenas influenciadas pelo “emocore”: a necessidade de se expressar superando as dificuldades financeiras, estruturais da indústria e sociais, o que desenvolve uma grande capacidade lírica para denunciar diversos problemas sociais – como é o caso da mineira Lupe de Lupe em diversas músicas de seu último trabalho “Quarup”, seja em “O Futuro é Feminino”, “Eu Já Venci” ou “Carnaval”, as diversas mazelas da vida urbana são alvo de denúncias pela banda. Img.5: Os mineiros da Lupe de Lupe
  • 6. REFERÊNCIAS < http://www.last.fm/pt/music/Lupe+de+Lupe>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bruxismo>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zolpidem>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <https://bananarecords.bandcamp.com/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <https://bichanorecords.bandcamp.com/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <http://www.last.fm/pt/music/Ludovic>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. <http://www.last.fm/pt/music/Polara>. Acesso: 01 de outubro de 2016. <https://web.archive.org/web/20100421022102/http://popfuzz.com.br/headline/the- decline-of-midwestern-civilization/>Acesso: 01 de outubro de 2016. Fig. 1: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/d/d6/A_photo_of_the_band_Rites_of_Sp ring_performing.jpg/220px-A_photo_of_the_band_Rites_of_Spring_performing.jpg>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. Fig. 2: <https://miojoin.files.wordpress.com/2011/01/458261.jpg>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. Fig. 3: <https://www.flickr.com/photos/pred00/29054962101/in/album- 72157669639662613/>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. Fig. 4: <https://scontent.fssa1-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0- 9/11205051_1750490241853756_7821004907772556543_n.jpg?oh=47eeaa5af04e0e9386da7 253a20762ad&oe=5877A469>. Acesso em: 01 de outubro de 2016. Fig. 5: <http://musicapave.com/wp-content/uploads/lupe-de-lupe.jpg>. Acesso em: 01 de outubro de 2016.