1. JORNAL VALOR ECONÔMICO - 14/10/2013
Dilma ocupará metade do horário eleitoral
Por Cristian Klein | De São Paulo
A presidente Dilma Rousseff contará, em sua tentativa de se reeleger no ano que vem, com um tempo
de propaganda eleitoral por volta de 15% maior do que dispôs há quatro anos. O programa da petista
deverá ocupar metade do horário eleitoral de 25 minutos, caso se confirme a tendência de alianças.
Mesmo com o rompimento do PSB, um aliado histórico que lançará na disputa o governador de
Pernambuco Eduardo Campos ou a ex-ministra Marina Silva, o PT ampliará sua exposição no rádio e
TV, graças à provável adesão de legendas novatas, como o PSD, criado em 2011, e o Pros, neste ano,
ambos de perfil governista.
Em 2010, Dilma contou com um programa eleitoral de 10'38'', fruto de uma ampla coligação que
incluiu dez partidos (PT, PMDB, PDT, PCdoB, PSB, PR, PRB, PTN, PSC e PTC), contra os 7'18'' de seu
principal adversário, o tucano José Serra, cuja chapa foi composta por seis siglas (PSDB, DEM, PTB,
PPS, PMN e PTdoB), e os diminutos 1'23'', que não impediram Marina Silva (ex-PV, sem aliança) de
surpreender.
O latifúndio da petista em 2014 deverá ser ainda maior: 12'28'', praticamente a metade dos 25 minutos
do programa eleitoral. Esse seria o tempo à disposição caso o PT repita uma coligação com dez
partidos, entre eles PMDB, PSD, PP, PR, Pros, PTB, PDT, PCdoB e PRB.
Deste grupo, os mais incertos são PP e PTB. Mas mesmo se os petistas não contarem com o PP - que se
manteve neutro em 2010 e terá o quinto maior tempo - e o PTB, que apoiou os tucanos, e juntos
dispõem de 1'49'', Dilma Rousseff teria um programa um segundo maior que o de quatro anos atrás.
Sem contar a eventual adesão de legendas pequenas ou nanicas. Das três siglas com as quais Dilma se
aliou em 2010, PTN e PTC não agregariam qualquer segundo, e o PSC lhe traria mais 25''. O Partido
Social Cristão, no entanto, pode lançar candidato à Presidência, o que foi anunciado em abril, em meio
à polêmica que catapultou o nome do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP).
A estimativa do Valor leva em conta um cenário com oito concorrentes - a média de candidatos das
últimas cinco eleições presidenciais. Na última, foram nove. Um terço do programa eleitoral de 25
minutos (8'20'') é dividido de forma igualitária entre as candidaturas, mesmo as de partido sem
representação na Câmara. Com isso, o patamar mínimo de exposição gira em torno de um minuto.
A dificuldade de Eduardo Campos ou de Marina Silva pode ser medida pela proximidade com este
grupo. O PSB, caso se alie ao PPS, teria 1'59''. Seria pouco menos da metade dos 4'11 do PSDB, caso seu
provável candidato, o senador mineiro Aécio Neves, forme uma coligação com o DEM e o
Solidariedade (SDD).
A esperança dos pessebistas, no entanto, é quebrar a forte correlação entre voto e tempo de rádio e TV.
A própria Marina, em 2010, foi um ponto fora da curva. Com apenas 5,5% do horário eleitoral, a exministra alcançou 19,3% da votação. Serra ocupou 29,2% e amealhou 32,6% dos votos. E Dilma tinha
42,5% e terminou o primeiro turno com 46,9%.
O cálculo do tempo de propaganda eleitoral considera os dados mais atualizados sobre as recentes
trocas de partido na Câmara. Foram identificadas mudanças de 70 deputados. Destes, 63 são os
titulares do mandato. O Valor levantou o número de deputados federais - apenas os titulares,
excluindo os suplentes, que não contam para a distribuição do tempo de TV - no dia 15 de maio,
quando se iniciaram as trocas de legenda, e a situação atual das bancadas partidárias.
Para o cálculo do tempo de TV, no entanto, o tamanho das bancadas eventualmente difere da
quantidade de mandatos nos quais se baseará a distribuição da propaganda eleitoral. Isso ocorre
porque apenas os parlamentares que se transferiram para as novas legendas (Pros e Solidariedade) é
que carregam consigo o tempo de TV e também recursos do fundo partidário correspondentes ao seu
mandato e à votação que obtiveram em 2010.
2. O PSD, por exemplo, foi um dos partidos que mais se prejudicaram com o troca-troca. Ficou com um
saldo negativo de oito deputados ao ganhar três e perder 11. Mas apenas três deles foram para o Pros e
o Solidariedade, levando o tempo de TV. Agora, o PSD, que nasceu há dois anos com 51 parlamentares
titulares, tem apenas 42 (outro renunciou e deu lugar a um do PT, no Mato Grosso). Para efeitos do
cálculo do horário eleitoral, no entanto, o PSD tem 47 mandatos, o que representa 1'32''. É esse tempo
que deverá contribuir para o aumento da exposição de Dilma Rousseff em relação a seu programa de
2010. Boa parte destes segundos pertenciam ao oposicionista DEM, de onde vieram deputados que
passaram a votar com o governo federal. Desta vez, quem definhou com as trocas foi o PDT, que elegeu
27 parlamentares e agora conta com apenas 17, o que representa só 33 segundos.