O documento descreve a evolução das tecnologias de comunicação e suas implicações políticas, analisando o surgimento de movimentos políticos emergentes mediados pelas redes sociais e plataformas de democracia direta na América Latina. Discorre também sobre o papel do comum no capitalismo e sobre experiências de democracia digital na região.
Redes Sociais e Monitoramento de Mídias DigitaisElvis Fusco
Semelhante a Das redes para as ruas, das ruas para as redes: cartografia preliminar das plataformas de participação política e ação coletiva na AL (20)
Das redes para as ruas, das ruas para as redes: cartografia preliminar das plataformas de participação política e ação coletiva na AL
1. Das redes para as ruas, das ruas para as redes: uma
cartografia preliminar das plataformas net-ativistas
de participação política e ação coletiva na AL
3. • Escrita: fundação dos estados burocráticos e da administração econômica
centralizada
• Alfabeto grego: aparecimento da moeda, da cidade antiga e,
principalmente, da democracia
• Imprensa: formação da opinião pública, a partir da circulação massiva de
livros e jornais, e Revolução Industrial
• Mídia audiovisual de massa: surgimento da sociedade do espetáculo e da
publicidade
4. Tecnologias de Informação e
Comunicação
• Desenvolvimento e consolidação do capitalismo
financeiro globalizado
• Novas formas de trabalho: trabalho imaterial
• Era da informação
• Sociedade em rede
• Nova forma de fazer política: Net-ativismo
5. “a última revolução comunicativa”
(...) alterou, pela primeira vez na história da humanidade, a própria
arquitetura do processo informativo, realizando a substituição da forma frontal
de repasse de informações (teatro, livro, imprensa, cinema, TV), por aquela
reticular, tecnologicamente interativa e colaborativa. Surge, portanto, não
somente uma nova forma de interação, consequência de uma inovação
tecnológica que altera o modo de comunicar e seus significados, mas também os
pressupostos e as características de uma nova arquitetura social que estimula
inéditas práticas interativas entre nós e as tecnologias de informação” (DI FELICE,
2012, p. 16).
6. Movimentos políticos emergentes
•Começam nas redes e continuam nas ruas (ou vice-versa)
•Usam email, redes sociais (Facebook, Twitter, Youtube, Instagram etc.), sites,
SMS, aplicativos de mensagens, fóruns de debates etc.
•Caráter informativo-digital: filmados, transmitidos, fotografados, postados e
comentados online
•Desvinculados de partidos políticos, ideologias e governos
•Operados de forma horizontal, sem lideranças e hierarquias
•Glocais – globais e locais
9. Movimentos políticos emergentes
• Movimento Zapatista
• Occupy
• 15M/indignados
• Primavera árabe
• Yo soy 132
• Jornadas de Junho
• Parque Gezi
• Nuit Debout
10. Plataformas de democracia direta
• Participação nas decisões sobre políticas públicas
• Esforço para influenciar parlamentares e governos
• Expressão de opinião e/ou decisão sobre temas de
interesse público/comum
• Busca da transparência político-administrativa
• Participação desvinculada de partidos ou movimentos
11. Plataformas de democracia direta
• Islândia
• Avaaz
• Change.org
• Anistia Internacional
• Colab
• Nossas Cidades
• Democracy OS
13. Panorama da América Latina
• 43,4% das residências têm internet em 2015 – dobrou em 5 anos.
• Acesso cresceu 20% entre 2010 e 2015 – chega a 54,4% da
população
• Banda larga móvel passou de 7% para 58% em 5 anos
• Desigualdades permanecem – de 24 países, apenas 3 têm acesso
superior a 60% à banda larga móvel (Chile, Costa Rica e Uruguai). E
3, inferior a 10% (Nicarágua, Haiti e Guiana)
• Brasil tem 88,6% e Uruguai, 77,7% de acesso à banda larga móvel.
Fonte: Cepal, 2016
14. Panorama da América Latina
• Mapeamento da ONG Update identificou pelo menos
700 iniciativas de inovação política no continente:
mobilização e democracia direta.
• 17 hubs de inovação em governo aberto – definição de
políticas públicas em cidades, parlamentos e governos
nacionais.
• Pelo menos 150 ONGs trabalham na promoção da
participação política, e a 41 as alianças e parceria com
estes objetivos
16. Esfera pública
• Estrutura de mediação e controle entre o sistema político e os
setores privados do mundo da vida (Habermas), onde a mídia tem
papel preponderante na formação de opinião
• Espaço público onde se dão os embates entre poder e contrapoder,
local de interação da sociedade, campo para ação e reação (Castells)
• “Autocomunicação de massa” tira supremacia da mídia corporativa
sobre o que o público deve conhecer e discutir, abrindo espaço para
autonomia dos cidadãos
• Espaço dos fluxos – virtual e real, local e global (glocal)
18. Novas perspectivas para democracia
• Redes como facilitadoras do debate e da tomada de decisão
• Transparência
• Maiorias se formam em torno de questões específicas
• Elaborações coletivas
• Minorias têm direito de expressão
• Expressão individual é possível
• Democracia em tempo real
19. O Comum
• Aquilo que não é público nem privado
• A riqueza material derivada da natureza (água, ar, frutos da terra),
que deve ser usufruída de forma compartilhada (Elinor Otrom,
“Governing the commons")
• Os saberes, as linguagens, os códigos, a informação, os afetos... -
aquilo que é necessário para a interação social e a vida em comum
junto à natureza (Hardt e Negri)
• Capitalismo financeiro globalizado está ancorado no comum –
códigos abertos, informações comuns, amplas conexões e
interatividade
20. O Comum
• Aquilo que não é público nem privado
• A riqueza material derivada da natureza (água, ar, frutos da terra),
que deve ser usufruída de forma compartilhada (Elinor Otrom,
“Governing the commons")
• Os saberes, as linguagens, os códigos, a informação, os afetos... -
aquilo que é necessário para a interação social e a vida em comum
junto à natureza (Hardt e Negri)
21. O Comum no capitalismo
•Capitalismo financeiro globalizado fundado em relações sociais em formas de
vida (biopolítica)
•Trabalho imaterial, feminização da mão de obra (jornadas mais flexíveis,
tarefas “afetivas”), imigração e mescla social
•Também stá ancorado no comum – códigos abertos, informações comuns,
amplas conexões e interatividade
•Ponto de partida e de chegada – a rqiueza que da comunicade brota –
linguagens, criações coletivas, produção imaterial – é a riqueza posta para
circular
22. Biopoder e Biopolítica
•Regimes disciplinares – biopoder, poder sobre a vida exercido pelo capital
(Foucault)
•Resistência, produção alternativa de subjetividades que busca autonomia em
relação ao poder – biopolítica, poder da vida de resistir por meio da
cooperação social e interação de corpos e desejos (Hardt e Negri)
23. Cidades rebeldes
O espectro do comum ronda as cidades, onde sua produção é mais intensa e
direta:
•Externalidades positivas - práticas culturais, circuitos intelectuais, redes
afetivas, instituições sociais
•Externalidades negativas - bens imobiliários e suas localizações, serviços e
facilidades, mas também violência, poluição, trânsito
As dualidades abrem caminho ppara que a cidade seja o palco de encontro e
de organização política
24. Rede Nossas Cidades
•Rede que conecta 10 cidades de 8 estados*
•Mais de 350 mil pessoas mobilizadas
•Cerca de 700 mobilizações desde 2011
•Reunião de comunidades de interesse
•Missão de lutar por cidades mais justas, inclusivas, sustentáveis e agradáveis
de viver
•Foco em temas que afetam a vida das pessoas nas cidades – mobilidade,
segurança, educação, saúde, lazer, meio ambiente, questões de gênero etc.
•Atua só ou em parceria com movimentos sociais e políticos
•Financiamento por fundraising e crowdfunding
26. Rede Nossas Cidades
•Mobilizações online e offline (a partir da
plataforma)
•Pressão de autoridades por email e telefone
•Abaixo-assinados
•Atos e performances públicas
•Eventos
•Contatos presenciais com autoridades
•Reuniões com outros coletivos e parceiros
27. Minha Sampa
• 140 mil cadastrados, 20 mil com atuação frequente
Campanhas vitoriosas:
• Abertura de CPI contra desvio de merenda – 1.339
pressões diretas, 21.279 assinaturas em petição
pública, ato público e vídeo com apoio de artistas
• Fechamento da avenida Paulista aos domingos –
envio de emails ao prefeito e ao Ministério Público,
que era contra; recolhimento de assinaturas, ato
público, reuniões em conjunto com outro coletivo
28. Hackeando a democracia
Rousseau:
"a soberania não pode ser representada”
"o povo inglês acredita ser livre mas se engana redondamente; só o é
durante a eleição dos membros do parlamento; uma vez eleitos estes, ele
volta a ser escravo, não é mais nada”.
"uma verdadeira democracia jamais existiu nem existirá"
29. Hackeando a democracia
• As Tecnologias de Informação e comunicação (TICs) e a crise de
representatividade inauguraram novas práticas democráticas
• A interação política e a prática da democracia direta incrementam o
poder simbólico e material do público, como eleitor e sujeito com
posições e vontades (Gomes)
• Um caminho sem volta – interação leva agentes públicos a alterarem
posições e muda a cultura política, permitindo o exercício da cidadania
e a obrigação de respeitá-la
30. Democracia en Red
• Fundação criada em 2011, em Buenos Aires, por um grupo de jovens
educadores, comunicadores, programadores e artistas para
“atualizar”o sistema de governo
• Democracy OS - Plataforma para dar voz a todos os cidadãos sem
necessitar de intermediários, que permite consultas e debates online
• Plataforma já usada na Argentina, Peru, Colômbia, Estados Unidos,
França e Espanha, entre outros
• Construída em código aberto, permite ampla utilização para consultas,
debates e votações.
32. Democracia en Red
Argentina
•Compromisso pela educação – Declaración
de Putamarca
•Consulta popular de julho a setembro de
2016
•8 mil visitantes – 520 visitas/dia
•1.346 cadastrados para participar do
debate
•Centenas de contribuições, comentários e
críticas ao plano
34. Democracia en Red
Peru
•Asociación Civil Transparencia – Plan 32
•32 propostas para fortalecer e melhorar a democracia no país,
incluindo administração pública, poder judiciário, Congresso e
sistema eleitoral
•Projeto de lei apresentado ao Congresso e à Presidência do
Conselho de Ministros
•Busca respaldo da população com divulgação das medidas
propostas e coleta de assinaturas como forma de pressão
36. Juntxs podemos
“Redes horizontais multimodais, tanto na internet quanto no espaço urbano,
criam sentimento de unidade; isso é importante porque é através da unidade
que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança. Unidade não é o
mesmo que comunidade, uma vez que esta última implica um conjunto de
valores comuns, que, dentro do movimento, é algo que está em processo, já que
a maior parte dos participantes chega com seus próprios objetivos e motivações
e, então, partem para descobrir o potencial comum na prática do movimento.
Dessa forma, a comunidade é um objetivo a se alcançar, enquanto unidade é o
ponto de partida e a fonte de empoderamento: Juntas podemos. (CASTELLS”
38. Referências
CASTELLS, Manuel. O poder da comunicação.
__________. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet.
DI FELICE, Massimo; LEMOS, Ronaldo. A vida em rede.
DI FELICE, Massimo; TORRES, Juliana C.; YANAZE, Leandro K. H.. Redes digitais e sustentabilidade: as
interações com o meio ambiente na era da informação
GOMES, Wilson. Participação política online: Questões e hipóteses de trabalho. In orgs. GOMES, Wilson;
MAIA, Rousiley Celi Moreira; MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida. Internet e Participação Política no
Brasil. LEVY, PIERRE. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço.
OSTROM, Elinor. Governing the Commons – The evolution of Institutions for Collective Action.
TRIVINHO, Eugênio. Glocal – Visibilidade mediática, imaginário bunker e existência em tempo real.
CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). Estado de la banda ancha en America Latina y
el Caribe 2016. Disponível em http://bit.ly/2cUoYQ8. Acesso em 26/09/2016.
UPDATE. A democracia na América Latina no século XXI. Disponível em http://updatepolitics.cc/. Acesso
em 25/09/2016.
39. Malu Oliveira
Mestranda do Promusp (EACH-USP) e pesquisadora Celacc
Twitter: @MaluOliveira
Facebook: MaluOliveira
maluoliveira@usp.br
Obrigada