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JORNAL ESTADO /5b
Anápolis, 5 a 11 de janeiro de 2013
Crônica
Ladrão de cavalos
JOÃO ASMAR
Jornalista
C
erta vez, inespera-
damente, recebi
em meu tugúrio a
visita de um moço
desconhecido, mas muito
bem vestido, de agradável
aparência física, que acio-
nouacampainha.
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mentando-o,respondeuele,
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sobre a passagem da Co-
luna Prestes, por Anápolis,
nos idos do ano l925. Identi-
ficou-se como filho do líder
revolucionário, Luiz Carlos
Prestes, e justificava a sua
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gentil e simpático visitante,
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conta que um soldado da
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rio, José Mendes, e na fa-
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já ocupa um largo território
descentralizando o ensino e
o desenvolvimento da arte.
Sendo uma comunidade de
práticas, ou seja, composta
de diferentes linguagens,
a imagem mais populari-
zada do Hip Hop visualiza
somente um dos elementos
que compõem o movimen-
to. Entre diferentes grupos
que já expressam a arte, em
Anápolis um dos destaques
nos campeonatos traz a re-
alidade de um destes ele-
mentos que formam o Hip
Hop que é a dança, ou me-
lhor dizendo, o Break.
Para entender melhor a
porção de termos relativos
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conceito no qual é constitu-
ído de quatro elementos: o
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da música), DJ (mixagem
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grafite) e Break (dança). Jus-
tamente dentro do Break, se
encontram os breakers, em
tradução rústica os dança-
rinos, para homens breaker
boys (Bboys) e para mu-
lheres breaker girls (Bgirls).
O conjunto dos breakers
forma a crew, que em uma
tradução direta é a tripula-
ção, que denomina o grupo
ou a equipe que competem
numa batalha.
A crew anapolina BRE-
AKnãoPARA tem um ano
de formação e cada um dos
Bboys têm em média seis
anos de prática. Compõem
a crew Dalbert Louredo,
(Bboy Dálmata), de 24 anos;
Lucas Teles (Bboy Capper),
de 20 anos; Samuel Santana
(Bboy Pereba), de 19 anos;
Lucas Cosmo (Bboy Louqui-
nha), de 19 anos;Wellington
Teles (Bboy e DJ Alemão),
de 19 anos; Rodrigo Cos-
ta (Bboy Tchatcho), de 20
anos; Rogério Reis (Bboy Ni-
colau), de 22 anos, e Edson
Jr. (Bboy Crazy), de 22 anos.
Dentro da batalha, seja
de crews ou individual, se
encontra o ponto auge dos
esforços de disciplina e trei-
namento de cada Bboy e
Bgirl,alémdeapresentações
artísticas fora do contexto
da batalha. “O que conta
para o desempenho é juntar
dança e música; neste mo-
mento música e você tem
que ser um só”, relata Lucas
Cosmo, o Bboy Louquinha,
sobre o principal aspecto le-
vado em conta pelo júri nas
competições. A partir da en-
trada de cada Bboy ou Bgirl,
o jurado avalia atentamente
como cada performance se
apresenta em superação da
seguinte relacionando no
contexto coletivo da crew.
Entre os aspectos de va-
lor da performance não é
somente a técnica que con-
ta, a rixa entre os grupos é
outro elemento presente à
flor da pele dos competi-
dores, que no momento da
batalha provocam para que
cada entrada seja superada
pela outra, seja coletiva ou
individual. “Neste momen-
to a gente briga sem en-
costar nenhum dedo e logo
após somos todos amigos e
nos confraternizamos”, ex-
plica Rodrigo Costa, o Bboy
Tchatcho. Como a rixa é o
combustível para que haja
uma competição mais en-
carnada pelos participan-
tes, inclusive com troca de
vídeos entre as crews, em
que uma provoca a outra
antes da competição, mas
sem a finalidade da violên-
cia e sim de motivação da
expressão artística. Caso
haja o enfrentamento físico
e violento, a crew é automa-
ticamente eliminada nas
competições.
DIA A DIA
Os Bboys da crew BRE-
AKnãoPARA apontam como
as competições e o reconhe-
cimento deles e de outras
crews anapolinas traz res-
peito perante as pessoas de
sua convivência e a família.
Em um cenário atual de pro-
liferação dos elementos do
Hip Hop através do progra-
ma Escola Viva pela Prefei-
tura de Anápolis, os mesmos
são também professores da
expressão artística. “Antiga-
mente a cultura hip hop era
marginalizada e hoje as pes-
soas tem um conhecimento
do que é, porém ainda mui-
tas pessoas criticam com
maus olhos e pouco discer-
nimento”, enfoca Samuel
Santana, o Bboy Pereba.
A visão comum entre
culturas urbanas e o uso de
drogas tem uma relação no
Hip Hop dissonantes, ao
ponto em que se o Bboy, por
exemplo,fazerusodedrogas
pode comprometer sua saú-
de e prejudicar diretamente
no rendimento nas compe-
tições e na prática cotidia-
na. “Caso a gente quebre
um dedo sequer, não temos
o mesmo rendimento, en-
tão precisamos ter saúde de
ferro”, afirma Rodrigo Costa,
o Bboy Tchatcho. Em grupo
relataram que alguns Bboys
de grande desenvoltura nas
apresentações e campeona-
tos caem o rendimento de-
vido o uso de drogas, o que
faz com que caia o condi-
cionamento físico e mental
que o Break exige.
Para o cenário do Hip
Hop em Anápolis eles têm
a expectativa da criação da
Casa Hip Hop e a melho-
ria dos espaços que sejam
adequados para a dança
em pontos espalhados na
cidade. A Casa Hip Hop foi
apareceu pela primeira vez
no JE na edição 415, como
promessa da gestão atual
relatada em entrevista an-
terior com o produtor cul-
tural Luciano “Raga Luke”,
que apóia a crew na atual
competição. Outro quesito
para o crescimento do Hip
Hop apontado pelo grupo
é a adesão do empresariado
e das entidades públicas no
patrocínioparaqueascrews
anapolinas conquistem ain-
da mais vitórias dentro das
competições. Em uma com-
petição a nível latino ameri-
cano, a Master Crews 2012,
realizada em São Paulo, a
crew anapolina represen-
tou o Estado de Goiás em
uma categoria individual e
uma coletiva entre os dias
15 e 16 de dezembro.
CREW anapolina BREAKnãoPARA na Master Crews, edição 2012, onde representaram Goiás; busca de mais apoios
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Ao convidá-lo para en- trar, nesse momento, algo estranhoseapossoudomeu pensamento e, de repente, senti-me atordoado com o reavivar das lembranças de um passado distante, quan- do padeci e muito chorei.O gentil e simpático visitante, comvoz suaveeaprimorada linguagem, ao pronunciar o nome do seu pai, outrora tão amaldiçoado, porque causou grande mal à nossa família, despertou em mim estranha sensação, que me deixouembaraçado. Isso porque um ato de violência praticado pelo Sr. Carlos Prestes e seus com- parsas, ficou, por muito tempo gravado como fato criminoso, contra nós, pra- ticado pelos bandoleiros. Além de nos arrebatar os animais de estimação, que representavam a nossa for- tuna,agarbosaeimponen- te mula “Boneca”, o bonito e fogoso cavalo “Alecrim”, que nos serviam, em todas as horas, também, quase provocaram a morte de meu amado genitor. Com a notícia de que os revoltosos estavam to- mando os animais dos sitiantes, em volta da pe- quenina cidade, meu pai, acompanhado do meu ir- mão Miguel, adolescente, foram até a nossa chácara, no “Catingueiro”, para “es- conder” os nossos estima- dos companheiros. Ali foram surpreendidos pela chegada do Sr. Prestes, acompanhado do oficial Siqueira Campos e de mais cincohomensarmadoscom fuzis. Um deles apontou a armasobremeupai,noque foi imediatamente impedi- do pelo Sr. Siqueira Cam- pos, que passou a merecer de nossa família respeito e gratidão. Ele morreu no dia l0 de maio de 1930, em de- sastre de avião, que caiu no riodaPrata,noUruguai. Ora, essa mula“Boneca” era um animal raro. Nunca vi outra igual ou parecida. Era robusta, de cor cinzen- ta,comasorelhaseaspatas brancas. De porte acima da média, tinha o pelo liso e lustroso, era mansa, man- sinha. Exibia majestade, quando marchava. Lem- bro-mequando,compouco mais de dois anos, assenta- dosobreumtravesseiro,co- locadonacabeçadoarreioe seguro pelo braço esquerdo de papai, que a montava, na viagem que me levaram para “pagar a promessa” ao Divino Pai Eterno, no Barro Preto, (hoje Trindade),, por mesalvardamorte,atacado pelaparalisiainfantil,ficava observandoassuasorelhas, ora inclinadas para a frente, ora voltando uma e outra para os lados. A escritora conterrânea Haydée Jayme Ferreira conta que um soldado da Coluna Prestes matou, a tiro, na fazenda “Engenho de Serra” o seu proprietá- rio, José Mendes, e na fa- zenda “Cachoeira” do Sr. José Gomes de Paula, aba- teraml5capados,8vacase levaram 35 animais, com arreios e mantimentos. Na época que o moço pretendia conhecer o que aqui aconteceu eu tinha pouco mais de quatro anos, mas, por alguns meses se- guidos padeci com a tor- tura do ódio que me fazia choroso, rogando a Deus o castigo para aquele homem e seu bando, por nos causar prejuízo emágoas.Também sacrificaram outras pesso- as, amigas da nossa família. Todavia, tudo isso já era passado. Graças aos pre- ciosos ensinamentos de mamãe, que nos inculcou a bênção do perdão, nada maisrestavaderancor,nada contra Prestes e contra nin- guém. A oração que Jesus nos ensinou: “ Perdoai as nossas ofensas como per- doamos a quem nos tenha ofendido”,recitada, diaria- mente, fixou-se em mim a convicção de que perdoar é sublime.Liberta-nos do martírio e nos eleva para o estágio da paz, na graça de Deus.Nãomaisdesejeiomal paraoSr..LuizCarlosPrestes eparamaisninguém.Passei a ter pena dele quando foi aprisionadoetantosofreu. Interessante é que quan- doanossaconversaestavase encaminhando para o des- fecho que eu não desejava, relatar o que de fato aconte- ceuentreopaideleeomeu, apareceu, ali, como anjo salvador, a minha amada e saudosa mulher, Maria Lú- cia, que nos convidou para o costumeiro café, servido nacopa.Comamudançade ambiente parece que Deus veio em meu socorro, por- que,ao voltaràconversa,do interesse do visitante, já na sala, eu o presenteava com o livro da Haydée e lhe dava informes de quem melhor, pudesse lhe fornecer subs- tancioso manancial, em Goiás, era o notável escri- tor, o erudito e competente Professor José Mendonça Teles, possuidor de farta do- cumentação, integrante do seupreciosolivro:“AColuna PrestesemGoiás”. De tantas coisas ruins, envolvidas, neste caso, so- mente uma permaneceu e ficou esquecida, da qual não me preocupei em me livrar, porque ela se aco- modou no subconsciente. No período áureo da elevação do Sr. Prestes, ovacionado e exaltado pela multidão como o “Cavaleiro da Esperança”, do meu íntimo uma voz irônica me respondia: – Qual, nada! – É...“LADRÃO DE CAVA- LOS”. Break, a dança que revela o suor e o brilho das ruas Uma das manifestações artísticas que estiveram presentes nesta coluna é o Hip Hop, que em Anápolis já ocupa um largo território descentralizando o ensino e o desenvolvimento da arte. Sendo uma comunidade de práticas, ou seja, composta de diferentes linguagens, a imagem mais populari- zada do Hip Hop visualiza somente um dos elementos que compõem o movimen- to. Entre diferentes grupos que já expressam a arte, em Anápolis um dos destaques nos campeonatos traz a re- alidade de um destes ele- mentos que formam o Hip Hop que é a dança, ou me- lhor dizendo, o Break. Para entender melhor a porção de termos relativos ao Hip Hop, tudo inicia no conceito no qual é constitu- ído de quatro elementos: o Rap (letra com a mensagem da música), DJ (mixagem e composição da música), Graffiti(linguagemvisualdo grafite) e Break (dança). Jus- tamente dentro do Break, se encontram os breakers, em tradução rústica os dança- rinos, para homens breaker boys (Bboys) e para mu- lheres breaker girls (Bgirls). O conjunto dos breakers forma a crew, que em uma tradução direta é a tripula- ção, que denomina o grupo ou a equipe que competem numa batalha. A crew anapolina BRE- AKnãoPARA tem um ano de formação e cada um dos Bboys têm em média seis anos de prática. Compõem a crew Dalbert Louredo, (Bboy Dálmata), de 24 anos; Lucas Teles (Bboy Capper), de 20 anos; Samuel Santana (Bboy Pereba), de 19 anos; Lucas Cosmo (Bboy Louqui- nha), de 19 anos;Wellington Teles (Bboy e DJ Alemão), de 19 anos; Rodrigo Cos- ta (Bboy Tchatcho), de 20 anos; Rogério Reis (Bboy Ni- colau), de 22 anos, e Edson Jr. (Bboy Crazy), de 22 anos. Dentro da batalha, seja de crews ou individual, se encontra o ponto auge dos esforços de disciplina e trei- namento de cada Bboy e Bgirl,alémdeapresentações artísticas fora do contexto da batalha. “O que conta para o desempenho é juntar dança e música; neste mo- mento música e você tem que ser um só”, relata Lucas Cosmo, o Bboy Louquinha, sobre o principal aspecto le- vado em conta pelo júri nas competições. A partir da en- trada de cada Bboy ou Bgirl, o jurado avalia atentamente como cada performance se apresenta em superação da seguinte relacionando no contexto coletivo da crew. Entre os aspectos de va- lor da performance não é somente a técnica que con- ta, a rixa entre os grupos é outro elemento presente à flor da pele dos competi- dores, que no momento da batalha provocam para que cada entrada seja superada pela outra, seja coletiva ou individual. “Neste momen- to a gente briga sem en- costar nenhum dedo e logo após somos todos amigos e nos confraternizamos”, ex- plica Rodrigo Costa, o Bboy Tchatcho. Como a rixa é o combustível para que haja uma competição mais en- carnada pelos participan- tes, inclusive com troca de vídeos entre as crews, em que uma provoca a outra antes da competição, mas sem a finalidade da violên- cia e sim de motivação da expressão artística. Caso haja o enfrentamento físico e violento, a crew é automa- ticamente eliminada nas competições. DIA A DIA Os Bboys da crew BRE- AKnãoPARA apontam como as competições e o reconhe- cimento deles e de outras crews anapolinas traz res- peito perante as pessoas de sua convivência e a família. Em um cenário atual de pro- liferação dos elementos do Hip Hop através do progra- ma Escola Viva pela Prefei- tura de Anápolis, os mesmos são também professores da expressão artística. “Antiga- mente a cultura hip hop era marginalizada e hoje as pes- soas tem um conhecimento do que é, porém ainda mui- tas pessoas criticam com maus olhos e pouco discer- nimento”, enfoca Samuel Santana, o Bboy Pereba. A visão comum entre culturas urbanas e o uso de drogas tem uma relação no Hip Hop dissonantes, ao ponto em que se o Bboy, por exemplo,fazerusodedrogas pode comprometer sua saú- de e prejudicar diretamente no rendimento nas compe- tições e na prática cotidia- na. “Caso a gente quebre um dedo sequer, não temos o mesmo rendimento, en- tão precisamos ter saúde de ferro”, afirma Rodrigo Costa, o Bboy Tchatcho. Em grupo relataram que alguns Bboys de grande desenvoltura nas apresentações e campeona- tos caem o rendimento de- vido o uso de drogas, o que faz com que caia o condi- cionamento físico e mental que o Break exige. Para o cenário do Hip Hop em Anápolis eles têm a expectativa da criação da Casa Hip Hop e a melho- ria dos espaços que sejam adequados para a dança em pontos espalhados na cidade. A Casa Hip Hop foi apareceu pela primeira vez no JE na edição 415, como promessa da gestão atual relatada em entrevista an- terior com o produtor cul- tural Luciano “Raga Luke”, que apóia a crew na atual competição. Outro quesito para o crescimento do Hip Hop apontado pelo grupo é a adesão do empresariado e das entidades públicas no patrocínioparaqueascrews anapolinas conquistem ain- da mais vitórias dentro das competições. Em uma com- petição a nível latino ameri- cano, a Master Crews 2012, realizada em São Paulo, a crew anapolina represen- tou o Estado de Goiás em uma categoria individual e uma coletiva entre os dias 15 e 16 de dezembro. CREW anapolina BREAKnãoPARA na Master Crews, edição 2012, onde representaram Goiás; busca de mais apoios A. C. PICON