O documento descreve a visita de um homem que se apresenta como filho de Luiz Carlos Prestes ao narrador, em busca de informações sobre a passagem da Coluna Prestes por Anápolis em 1925. No entanto, o narrador guarda mágoas do passado, já que Prestes roubou seus cavalos e quase matou seu pai. Ele acaba contando essa história ao visitante.
1. JORNAL ESTADO /5b
Anápolis, 5 a 11 de janeiro de 2013
Crônica
Ladrão de cavalos
JOÃO ASMAR
Jornalista
C
erta vez, inespera-
damente, recebi
em meu tugúrio a
visita de um moço
desconhecido, mas muito
bem vestido, de agradável
aparência física, que acio-
nouacampainha.
Ao abrir a porta, cumpri-
mentando-o,respondeuele,
sorridente, com semblante
descontraído. Perguntou,
logo, o meu nome e disse
que vinha ao meu encontro,
desejoso de colher algumas
informações, que dizia se-
remmuitoimportantespara
registrar, em livro, verdades
sobre a passagem da Co-
luna Prestes, por Anápolis,
nos idos do ano l925. Identi-
ficou-se como filho do líder
revolucionário, Luiz Carlos
Prestes, e justificava a sua
presença em minha casa,
porque uma pessoa idosa,
de grande prestígio e influ-
ência na cidade, o instruiu,
dizendoqueeueraum“his-
toriador” e poderia ajudá-lo
emsuaspretensões.
Ao convidá-lo para en-
trar, nesse momento, algo
estranhoseapossoudomeu
pensamento e, de repente,
senti-me atordoado com o
reavivar das lembranças de
um passado distante, quan-
do padeci e muito chorei.O
gentil e simpático visitante,
comvoz suaveeaprimorada
linguagem, ao pronunciar o
nome do seu pai, outrora
tão amaldiçoado, porque
causou grande mal à nossa
família, despertou em mim
estranha sensação, que me
deixouembaraçado.
Isso porque um ato de
violência praticado pelo Sr.
Carlos Prestes e seus com-
parsas, ficou, por muito
tempo gravado como fato
criminoso, contra nós, pra-
ticado pelos bandoleiros.
Além de nos arrebatar os
animais de estimação, que
representavam a nossa for-
tuna,agarbosaeimponen-
te mula “Boneca”, o bonito
e fogoso cavalo “Alecrim”,
que nos serviam, em todas
as horas, também, quase
provocaram a morte de
meu amado genitor.
Com a notícia de que
os revoltosos estavam to-
mando os animais dos
sitiantes, em volta da pe-
quenina cidade, meu pai,
acompanhado do meu ir-
mão Miguel, adolescente,
foram até a nossa chácara,
no “Catingueiro”, para “es-
conder” os nossos estima-
dos companheiros.
Ali foram surpreendidos
pela chegada do Sr. Prestes,
acompanhado do oficial
Siqueira Campos e de mais
cincohomensarmadoscom
fuzis. Um deles apontou a
armasobremeupai,noque
foi imediatamente impedi-
do pelo Sr. Siqueira Cam-
pos, que passou a merecer
de nossa família respeito e
gratidão. Ele morreu no dia
l0 de maio de 1930, em de-
sastre de avião, que caiu no
riodaPrata,noUruguai.
Ora, essa mula“Boneca”
era um animal raro. Nunca
vi outra igual ou parecida.
Era robusta, de cor cinzen-
ta,comasorelhaseaspatas
brancas. De porte acima da
média, tinha o pelo liso e
lustroso, era mansa, man-
sinha. Exibia majestade,
quando marchava. Lem-
bro-mequando,compouco
mais de dois anos, assenta-
dosobreumtravesseiro,co-
locadonacabeçadoarreioe
seguro pelo braço esquerdo
de papai, que a montava,
na viagem que me levaram
para “pagar a promessa” ao
Divino Pai Eterno, no Barro
Preto, (hoje Trindade),, por
mesalvardamorte,atacado
pelaparalisiainfantil,ficava
observandoassuasorelhas,
ora inclinadas para a frente,
ora voltando uma e outra
para os lados.
A escritora conterrânea
Haydée Jayme Ferreira
conta que um soldado da
Coluna Prestes matou, a
tiro, na fazenda “Engenho
de Serra” o seu proprietá-
rio, José Mendes, e na fa-
zenda “Cachoeira” do Sr.
José Gomes de Paula, aba-
teraml5capados,8vacase
levaram 35 animais, com
arreios e mantimentos.
Na época que o moço
pretendia conhecer o que
aqui aconteceu eu tinha
pouco mais de quatro anos,
mas, por alguns meses se-
guidos padeci com a tor-
tura do ódio que me fazia
choroso, rogando a Deus o
castigo para aquele homem
e seu bando, por nos causar
prejuízo emágoas.Também
sacrificaram outras pesso-
as, amigas da nossa família.
Todavia, tudo isso já era
passado. Graças aos pre-
ciosos ensinamentos de
mamãe, que nos inculcou
a bênção do perdão, nada
maisrestavaderancor,nada
contra Prestes e contra nin-
guém. A oração que Jesus
nos ensinou: “ Perdoai as
nossas ofensas como per-
doamos a quem nos tenha
ofendido”,recitada, diaria-
mente, fixou-se em mim a
convicção de que perdoar
é sublime.Liberta-nos do
martírio e nos eleva para o
estágio da paz, na graça de
Deus.Nãomaisdesejeiomal
paraoSr..LuizCarlosPrestes
eparamaisninguém.Passei
a ter pena dele quando foi
aprisionadoetantosofreu.
Interessante é que quan-
doanossaconversaestavase
encaminhando para o des-
fecho que eu não desejava,
relatar o que de fato aconte-
ceuentreopaideleeomeu,
apareceu, ali, como anjo
salvador, a minha amada e
saudosa mulher, Maria Lú-
cia, que nos convidou para
o costumeiro café, servido
nacopa.Comamudançade
ambiente parece que Deus
veio em meu socorro, por-
que,ao voltaràconversa,do
interesse do visitante, já na
sala, eu o presenteava com
o livro da Haydée e lhe dava
informes de quem melhor,
pudesse lhe fornecer subs-
tancioso manancial, em
Goiás, era o notável escri-
tor, o erudito e competente
Professor José Mendonça
Teles, possuidor de farta do-
cumentação, integrante do
seupreciosolivro:“AColuna
PrestesemGoiás”.
De tantas coisas ruins,
envolvidas, neste caso, so-
mente uma permaneceu
e ficou esquecida, da qual
não me preocupei em me
livrar, porque ela se aco-
modou no subconsciente.
No período áureo da
elevação do Sr. Prestes,
ovacionado e exaltado
pela multidão como o
“Cavaleiro da Esperança”,
do meu íntimo uma voz
irônica me respondia:
– Qual, nada! –
É...“LADRÃO DE CAVA-
LOS”.
Break, a dança que revela
o suor e o brilho das ruas
Uma das manifestações
artísticas que estiveram
presentes nesta coluna é o
Hip Hop, que em Anápolis
já ocupa um largo território
descentralizando o ensino e
o desenvolvimento da arte.
Sendo uma comunidade de
práticas, ou seja, composta
de diferentes linguagens,
a imagem mais populari-
zada do Hip Hop visualiza
somente um dos elementos
que compõem o movimen-
to. Entre diferentes grupos
que já expressam a arte, em
Anápolis um dos destaques
nos campeonatos traz a re-
alidade de um destes ele-
mentos que formam o Hip
Hop que é a dança, ou me-
lhor dizendo, o Break.
Para entender melhor a
porção de termos relativos
ao Hip Hop, tudo inicia no
conceito no qual é constitu-
ído de quatro elementos: o
Rap (letra com a mensagem
da música), DJ (mixagem
e composição da música),
Graffiti(linguagemvisualdo
grafite) e Break (dança). Jus-
tamente dentro do Break, se
encontram os breakers, em
tradução rústica os dança-
rinos, para homens breaker
boys (Bboys) e para mu-
lheres breaker girls (Bgirls).
O conjunto dos breakers
forma a crew, que em uma
tradução direta é a tripula-
ção, que denomina o grupo
ou a equipe que competem
numa batalha.
A crew anapolina BRE-
AKnãoPARA tem um ano
de formação e cada um dos
Bboys têm em média seis
anos de prática. Compõem
a crew Dalbert Louredo,
(Bboy Dálmata), de 24 anos;
Lucas Teles (Bboy Capper),
de 20 anos; Samuel Santana
(Bboy Pereba), de 19 anos;
Lucas Cosmo (Bboy Louqui-
nha), de 19 anos;Wellington
Teles (Bboy e DJ Alemão),
de 19 anos; Rodrigo Cos-
ta (Bboy Tchatcho), de 20
anos; Rogério Reis (Bboy Ni-
colau), de 22 anos, e Edson
Jr. (Bboy Crazy), de 22 anos.
Dentro da batalha, seja
de crews ou individual, se
encontra o ponto auge dos
esforços de disciplina e trei-
namento de cada Bboy e
Bgirl,alémdeapresentações
artísticas fora do contexto
da batalha. “O que conta
para o desempenho é juntar
dança e música; neste mo-
mento música e você tem
que ser um só”, relata Lucas
Cosmo, o Bboy Louquinha,
sobre o principal aspecto le-
vado em conta pelo júri nas
competições. A partir da en-
trada de cada Bboy ou Bgirl,
o jurado avalia atentamente
como cada performance se
apresenta em superação da
seguinte relacionando no
contexto coletivo da crew.
Entre os aspectos de va-
lor da performance não é
somente a técnica que con-
ta, a rixa entre os grupos é
outro elemento presente à
flor da pele dos competi-
dores, que no momento da
batalha provocam para que
cada entrada seja superada
pela outra, seja coletiva ou
individual. “Neste momen-
to a gente briga sem en-
costar nenhum dedo e logo
após somos todos amigos e
nos confraternizamos”, ex-
plica Rodrigo Costa, o Bboy
Tchatcho. Como a rixa é o
combustível para que haja
uma competição mais en-
carnada pelos participan-
tes, inclusive com troca de
vídeos entre as crews, em
que uma provoca a outra
antes da competição, mas
sem a finalidade da violên-
cia e sim de motivação da
expressão artística. Caso
haja o enfrentamento físico
e violento, a crew é automa-
ticamente eliminada nas
competições.
DIA A DIA
Os Bboys da crew BRE-
AKnãoPARA apontam como
as competições e o reconhe-
cimento deles e de outras
crews anapolinas traz res-
peito perante as pessoas de
sua convivência e a família.
Em um cenário atual de pro-
liferação dos elementos do
Hip Hop através do progra-
ma Escola Viva pela Prefei-
tura de Anápolis, os mesmos
são também professores da
expressão artística. “Antiga-
mente a cultura hip hop era
marginalizada e hoje as pes-
soas tem um conhecimento
do que é, porém ainda mui-
tas pessoas criticam com
maus olhos e pouco discer-
nimento”, enfoca Samuel
Santana, o Bboy Pereba.
A visão comum entre
culturas urbanas e o uso de
drogas tem uma relação no
Hip Hop dissonantes, ao
ponto em que se o Bboy, por
exemplo,fazerusodedrogas
pode comprometer sua saú-
de e prejudicar diretamente
no rendimento nas compe-
tições e na prática cotidia-
na. “Caso a gente quebre
um dedo sequer, não temos
o mesmo rendimento, en-
tão precisamos ter saúde de
ferro”, afirma Rodrigo Costa,
o Bboy Tchatcho. Em grupo
relataram que alguns Bboys
de grande desenvoltura nas
apresentações e campeona-
tos caem o rendimento de-
vido o uso de drogas, o que
faz com que caia o condi-
cionamento físico e mental
que o Break exige.
Para o cenário do Hip
Hop em Anápolis eles têm
a expectativa da criação da
Casa Hip Hop e a melho-
ria dos espaços que sejam
adequados para a dança
em pontos espalhados na
cidade. A Casa Hip Hop foi
apareceu pela primeira vez
no JE na edição 415, como
promessa da gestão atual
relatada em entrevista an-
terior com o produtor cul-
tural Luciano “Raga Luke”,
que apóia a crew na atual
competição. Outro quesito
para o crescimento do Hip
Hop apontado pelo grupo
é a adesão do empresariado
e das entidades públicas no
patrocínioparaqueascrews
anapolinas conquistem ain-
da mais vitórias dentro das
competições. Em uma com-
petição a nível latino ameri-
cano, a Master Crews 2012,
realizada em São Paulo, a
crew anapolina represen-
tou o Estado de Goiás em
uma categoria individual e
uma coletiva entre os dias
15 e 16 de dezembro.
CREW anapolina BREAKnãoPARA na Master Crews, edição 2012, onde representaram Goiás; busca de mais apoios
A. C. PICON